Fanfic: A Princesa da Escócia | Tema: Reign
Charlotte esperava do lado de fora, mais ansiosa do que queria aparentar.
Quando soube por Magot, sua criada, que uma carta da França havia chegado à Rainha, não hesitou em correr até aos aposentos de Elizabeth. Sequer foi até seu quarto limpar-se depois da cavalgada, as botas sujas deixavam rastros pela tapeçaria do castelo e certamente ouviria um sermão do Richard mais tarde.
Não importava. Uma carta da França só podia ter sido enviada por uma pessoa: sua irmã mais velha, A Rainha Mary Stuart.
Apesar de sentir que Mary era mais uma desconhecida do que sua família.
Quando pensava na palavra irmã seu coração sempre a associava a Elizabeth. A Rainha da Inglaterra na verdade era sua prima, e não deveriam ter criado uma afeição tão grande a outra pois seus países eram rivais há eras. Mas foi Elizabeth que cuidou de Charlotte no momento que foi roubada de sua casa pela Rainha Maria Tudor; a irmã mais velha de Elizabeth. Também foi a prima que a ensinou como ser inglesa e como sobreviver aquela terrível situação que foi imposta.
Charlotte tinha sete anos quando foi sequestrada de seu castelo em Linlithgow e arrastada à Inglaterra. Esperou por anos que algum resgate fosse pago para que pudesse voltar ao seu lar. Esperou que valentes guerreiros escoceses invadissem a Inglaterra e tomassem sua princesa de volta como nos contos que escutou desde bebê.
No momento que entendeu que isso não aconteceria, entendeu também que a Inglaterra seria seu lar. E tudo que viveu antes, tudo que envolvesse a Escócia, foi enterrado em sua mente e em seu coração. A esperança foi apagada tal quanto seu título real.
E agora, Mary Stuart ressurgia como um cadáver do tumulo para assombrá-la.
Charlotte se endireitou quando a porta se abriu, e os lordes começaram a se retirar dos aposentos de Elizabeth. Ela não podia ir diretamente a prima pois foi alertada pelo guarda que estavam em reunião. Suspirou aliviada quando finalmente a reunião acabou. Não era conhecida por ser paciente.
–Lady Charlotte –cumprimentou Lorde Deveron.
"Lady Charlotte" foi repetido pelos outros.
Ali ela não era uma princesa. Apesar do título real só poder ser destituído pela ordem do papa, pela rainha da Escócia ou se a mesma tivesse renunciado sua posição. Mas na Inglaterra ninguém a reconhecia como princesa.
Por ordem de Maria Tudor a Princesa Charlotte deveria ser chamada por "Lady Charlotte", já que no país ela não seria vista ou tratada como princesa. A corte inglesa acatou o pedido de sua rainha e assim a chamaram por anos. Quando queriam ser educados ao menos.
Outros nomes foram usados para nominar Charlotte, em sua maioria desagradáveis. Ingleses odiavam Escoceses, e vice-versa. Não tratariam bem um escocês, principalmente sendo ela maior competição a coroa. Charlotte era mais caçoada que um bobo da corte e escutou muitas, muitas risadas durante sua vida.
Tudo mudou quando Maria Tudor morreu e Elizabeth foi coroada rainha.
Ainda assim, "Lady Charlotte" nunca foi corrigido.
Isso não importa, ou era isso que Charlotte tentava se convencer. Estava com Elizabeth, estava feliz. Nada podia arruinar isso.
Exceto Mary Stuart.
–Charlotte –Dudley a olhou com censura. Ele foi o último lorde a passar. –Está suja e o cabelo...
Dudley não terminou, sabia que Charlotte era sensível quanto a aparência. Principalmente o cabelo.
Apesar de não ser ruiva, como muitos compatriotas escoceses, Charlotte tinha a rebeldia em seus cachos. Conseguia disfarçar em tranças e alguns penteados que Margot aprendeu com aldeões, mas se fosse cavalgar ou dançar logo o cabelo se tornava um redemoinho de cachos marrons.
E os ingleses não gostavam muito.
–Do que se trata a carta? –Charlotte perguntou com ansiedade. –É de Mary? É sobre mim?
–Não posso dizer. Mas Lizzie não está feliz.
Lizzie. Ninguém chamava a Rainha Elizabeth assim a não ser Charlotte e seu amante...
Charlotte não aprovava o romance de Elizabeth com Lorde Dudley; era ariscado e imprudente que a prima insistisse naquela relação depois de ter se tornado rainha. No entanto não queria atrapalhar a única pessoa, além dela, que deixava Elizabeth feliz.
–Entre, Charlotte! –Ordenou a rainha dentro da saleta.
Dudley lhe deu um olhar que dizia "boa sorte" e Charlotte se preparou para encarar a Rainha.
Elizabeth estava em sua cadeira dourada, com o papel entre os dedos enquanto apoiava a cabeça na outra mão, pensativa.
Charlotte esperou. A etiqueta dizia que ao ser convocada pela rainha precisava sempre esperar que Vossa Majestade lhe diria a primeira palavra.
Claro que a noite, enquanto conversavam sobre os lordes e riam das ladys ridículas da corte, Elizabeth tornava-se a Lizzie que conhecia e amava com todo o coração.
–Sua irmã me enviou uma nova carta –Elizabeth dobrou o papel e o jogou em sua mesa dourada.
–Me deixe escrever a ela, explicar que estou bem –Charlotte deu um passo a frente. –Ela ainda pensa que sou a mesma garota que foi tirada a força da Escócia.
–Ela não escreveu a você –Elizabeth usou um tom cheio de rispidez. –E deixou claro que o convite não é opcional.
–Bem, eu não vou –Charlotte cruzou os braços. –Não há nada que me interesse na Escócia.
–Creio que não posso brigar por você, não publicamente –Elizabeth alisou a testa. –Não estou a prendendo, e se não for ver sua irmã ela pode me acusar de estar a mantendo cativa, como minha irmã fez. A Escócia não precisa de uma razão para se revoltar contra nós neste momento.
–Espere... O que isso significa? –Charlotte prendeu a respiração.
–Precisa ir –Elizabeth se levantou e foi até ela. –Precisa convencer sua irmã que não quer ficar na França, nem na Escócia. Que sua felicidade está aqui, comigo.
–Mas não quero ir –a princesa choramingou.
–Um mês separadas, para uma vida juntas –Elizabeth juntou suas testas, um gesto carinhoso que faziam desde a infância. –Convença sua irmã que seu lugar é aqui e então voltará pra cá, seu lar. Voltará pra mim.
Charlotte sabia que não tinha outro jeito, ou então Elizabeth jamais a deixaria partir. Que precisaria convencer Mary a deixá-la, esquecê-la.
Precisava mostrar que apesar de ainda ser princesa, não era, e nunca iria ser, a Princesa da Escócia.
(...)
Charlote se arrumava em seu quarto depois do anúncio que retornaria. Elizabeth respondeu a carta e um jantar foi dado em sua homenagem. Em poucos dias, estaria em uma carruagem em direção a corte francesa.
Quanto mais chegava o dia de partir, mais nervosa todos ficavam
–França –Margot estremeceu. Sua criada, e amiga, uma senhora de sessenta anos com habilidosos dedos para arrumar os cachos de Charlotte –Dizem que recebem hereges e feiticeiros
–Pare –Charlotte pediu, sabendo que a criada iria divagar sobre tais assuntos.
–A Rainha-Mãe mantem um bruxo próximo de si -Margot ignorou o pedido de Charlotte. –E há histórias sobre jovens garotas que são amaldiçoadas, ou mortas, ou...
–Margot–Charlotte virou-se e segurou as mãos da mulher –Ficarei bem.
–Minha criança, você não sabe como aquele lugar pode ser perigoso para uma rosa como você –Margot tocou sua bochecha. –Quem te protegerá senão for Elizabeth? O que se tornará...
–Tenho certeza que minha irmã não me fara mal –Apesar do que disse, até mesmo Charlotte tinha suas ressalvas quanto a isso. –Não nos vemos desde criança, mas Mary nunca foi ruim ou cruel.
–Dizem que ela é linda –Margot divagou. –Ainda mais linda que nossa Rainha Elizabeth.
–Não diga isso –Charlotte foi dura e soltou-se da mulher. –Sabe que Elizabeth se ressente de sua aparência.
Não que a princesa concordasse. Charlotte achava a prima linda. Com o cabelo vermelho feito fogo, e os olhos azuis como o céu. Sempre quis se parecer mais como Elizabeth, assim as pessoas não a veriam como distintas e mais como irmãs. Mas apesar de terem o mesmo sangue nas veias Charlotte era abordada por se parecer mais com Mary da Escócia, sua verdadeira irmã. E como se não bastasse Elizabeth não superar Mary em beleza, também odiava por não superar a ligação entre as irmãs escocesas.
–Suas roupas estão prontas, Lady Charlotte –Anunciou Lena quando Margot terminou seu cabelo. Charlotte foi até as malas colocadas na cama e examinou suas roupas. Não eram seus vestidos habituais. Apesar das tiaras e coroas serem as mais caras que Elizabeth lhe deu, os vestidos eram medonhos. E Charlotte não conseguiu disfarçar a careta.
–Elizabeth não deseja que pareça feliz na corte francesa –Lena comentou enquanto arrumava os pertences da princesa. –Apenas vestidos cinzas, marrons ou pretos.
–Estou de luto por ficar longe dela? –Charlotte não disfarçou a risada.
Tudo bem que realmente estava desanimada a ir, mas aquela dramatização era exagerada. Tinha certeza que não demoraria duas semanas na França. A irmã veria a quão desinteressada estava no convívio das duas e a mandaria de volta pra Inglaterra.
Ou era assim que Charlotte torcia pra que acontecesse.
(...)
FRANÇA
–Acha que está bom? –Mary perguntou insegura.
–Acho que ficou até melhor que o nosso –Francis a abraçou por trás e beijou sua bochecha.
–Espero que sim –Mary deitou a cabeça em seu ombro. –O embaixador disse que Elizabeth proporciona uma vida luxuosa a Charlotte na corte. Não quero que pense que seu tratamento aqui será inferior.
–Vejo que está ansiosa pela chegada dela –Francis passou a acariciar seus braços.
–Faz tantos anos que não a vejo. Éramos meninas na Escócia, inseguras sobre nosso destino, mas unidas pelo carinho que tínhamos pela outra –Mary deu um sorriso sonhador. –Nós e James vivemos o melhor verão das nossas vidas antes de tudo mudar. Eu, vim pra França e Charlotte foi levada a Inglaterra.
A princesa sequestrada de seu país era a maior indignação dos escoceses. Ninguém que estava presente no dia esquecia os gritos de Charlotte e a história foi contata na Europa toda. Mary estava na corte francesa quando soube do que aconteceu. Chorou a noite toda e foi consolada por Francis, quando ele nem mesmo entendia os perigos e temores de ser levado de seu país.
Mary carregava o peso da culpa. Devia ter insistido que a irmã fosse com ela para a corte francesa. Agora tinha essa chance e queria que Charlotte se sentisse bem.
–Tenho certeza que ela irá adorar o quarto –Francis tentou acalmá-la. –Soube que é gentil e paciente.
–Não dizem isso de todas as princesas? –Mary brincou. –Além disso se Charlotte agora é assim a Inglaterra a mudou completamente. A menina que me lembro era tempestuosa, orgulhosa e o oposto de paciente.
–Então se parecia muito com você.
–Francis! –Mary deu um apertão no braço do marido.
–Você era assim –Francis brincou com a ponta de seus cabelos. –Tão competitiva e mandona. Uma perfeita escocesa.
–Me pergunto se ela também é assim –um sorriso triste surgiu em seus lábios. –Ou é mais inglesa. Será que me odeia pelo que a deixei passar...
–Mary, calma, por favor –O marido segurou seu rosto e concentrou-se nos olhos castanhos da esposa. –Não importa como ela esteja, ainda é sua irmã. A ligação entre vocês é eterna, pelo sentimento ou pela coroa. Esteja aberta a conhecê-la, e se mostre a mulher incrível por quem sou apaixonado. Tenho certeza que ela te amará também, se é que já não ama.
–Será, Francis? –Mary não conseguiu afastar a preocupação –Será que a Inglaterra não corrompeu o coração de minha irmã?
Era para ter a resposta que Mary se empenhou a trazê-la a França. Mesmo sem saber se aquilo ajudaria ou prejudicaria a relação delas.
(...)
INGLATERRA
O dia da partida de Charlotte chegou.
Poucas pessoas estavam ali: Margot, Lena e Lorde Dudley foram rapidamente até ela para se despedir. Alguns outros, lordes e ladys que fingiriam sentir sua falta, mas Charlotte sabia que estavam ali apenas para ficarem sob os bons olhos da rainha.
Logo Elizabeth surgiria para sua despedida e Charlotte esperava isso para poder partir.
Foi então a frente da carruagem, falar com aquele que tinha sido seu companheiro e a única exigência que fez para aquela viagem.
Ainda na Escócia, aos dois anos pelo que soube, ganhou um garanhão que foi deixado pelo seu pai antes dele morrer. Negro como a meia-noite, mas dócil com ela.
Foi ele quem a trouxe para a Inglaterra e era praticamente sua única memoria da Escócia.
Charlotte nunca o deixaria.
–Oi, garotão –Charlotte alisou a crina do garanhão. –Nós vamos conhecer um país novo.
–Não se deixe iludir, Faísca –Elizabeth surgiu ao seu lado e fez carinho no animal. –Os franceses são cheios de firulas e vai detestar cada segundo que estiver lá.
–Diz isso a ele ou pra mim?
–Serve pros dois, ambos são selvagens e rebeldes demais pra França –A atenção da rainha foi para a prima, e suas mãos apertaram sua cintura. –Capaz de sua irmã te devolver só pela dor de cabeça que dará a ela.
–Eu era uma garota amedrontada quando cheguei aqui –Charlotte sorriu com pesar, olhando ao redor e sentindo-se nostálgica. –Fico imaginando quem serei quando voltar.
–A mesma Charlotte de sempre –Elizabeth comentou abraçando a prima. –A minha Charly.
Para Elizabeth abraçá-la em público significava que sentiria a falta de Charlotte mais do que podia pensar. A Rainha não se permitida demonstrar afeto a ninguém, pra não passar a imagem de fraca aos seus súditos.
Mas naquele dia a pessoa mais próxima a ela estava partindo e Elizabeth permitiu-se ser a “Lizzie” por um momento.
Charlotte a apertou mais. O único tempo que ficou sem a prima foi quando Maria decidiu prender Elizabeth por quase um ano e não houve situação pior em sua vida.
Bem, até agora.
(...)
FRANÇA
Depois de semanas em um navio e dias em carruagem finalmente o castelo começou a surgir no horizonte, trazendo nervosismo a Charlotte.
Quando a carruagem parou, ela espiou pela cortina o lado de fora e ficou boquiaberta ao perceber que uma grande recepção a esperava.
Olhou para o seu vestido preto e sua cruz no pescoço. Parecia uma viúva rica, não uma princesa. Era terrível.
Desceu da carruagem com as bochechas vermelhas e um rosto fechado.
Reconheceu um casal a frente dos outros, os cabelos castanhos de Mary esvoaçados pelo vento, e o homem loiro com o braço ao redor da sua cintura.
Charlotte caminhou até eles, e não pode deixar de sentir-se cada vez mais envergonhada pela roupa preta destoar tanto da corte francesa.
A vergonha lhe deu um rubor nas bochechas e ao parar na frente dos reis da França, Charlotte fez uma mesura longa.
–Majestades – Saldou com um sorriso educado.
Mary se lançou sobre Charlotte assim que terminou a reverencia, apertando-a tão forte que poderia esmagar seus ossos.
–Pensei que nunca a veria novamente –Sua voz era carregada de emoção. Ela segurou a irmã e a olhou de cima abaixo. – Por Deus, você cresceu tanto!
–Você também –Charlotte sorriu encabulada. Não estava acostumada a ter um contato físico tão acolhedor na Inglaterra, principalmente em público. Elizabeth a tratava com carinho, mas não na presença de estranhos. – A última vez que a vi não tinha os dentes da frente.
–Eu me lembro –Mary apertou suas bochechas. –Você fez birra porque eu tinha que vir para cá, nem quis se despedir.
–Bem, se soube que seria levada eu determinadamente iria me despedir –Deixou escapar amargurada.
Charlotte sentiu que Mary se ofendeu, o que a fez sentir mal por dizer aquilo. Mary era uma criança tão incapaz quanto ela, não conseguiria impedir que aquele exército a arrancasse de seu quarto e levassem-na.
–Deixe-me apresentar meu marido –Mary puxou o Rei Francis para mais perto, a fim de disfarçar o incômodo entre as duas. A rainha exibiu um sorriso orgulhoso. –Este é Francis, seu cunhado.
–É um prazer conhecê-la, princesa – Francis assentiu com a cabeça – E cunhada.
Ele era bonito, Charlotte reconhecia isso. Alguns príncipes visitaram Elizabeth para propor-lhe em casamento e nenhum deles era tão bonito quanto o Rei da França. Mary foi uma sortuda.
–O prazer é meu, Rei Francis – Charlotte devolveu o sorriso. –Espero que esteja fazendo minha irmã feliz.
Aquele comentário era de verdade. Por mais que Mary e ela não fossem próximas, não queria que sua irmã estivesse nas mãos de um esposo frio. Infelizmente Mary tinha sido vendida aos seis anos pela mãe delas, ela escolheu seu destino tanto quanto Charlotte ao ser sequestrada pela Inglaterra.
–Esse vem sendo meu único objetivo todos os dias –Francis sorriu para Mary, seus olhos brilhavam com amor.
Sim, ele a amava muito. Era evidente. A princesa ficou feliz em ver isso.
–E você vem conquistado, meu amor –Mary acariciou o rosto do marido, retribuindo o mesmo olhar.
Charlotte se questionou se um dia alguém a olharia assim.
–Vamos, deixe-nos lhe apresentar a corte –Mary sinalizou para as pessoas as suas costas.
Charlotte sorriu sem animo, encabulada. Não era tratada como uma visita de honra na Inglaterra e tais formalidades nunca foram dirigidas a ela.
Ainda bem, pois achava tedioso. E aquele vestido quente e fechado não facilitava nada.
–Quero que conheça, Catherine Medici, Rainha-mãe da França –Francis ergueu a mão para apresentar sua mãe.
–Minha querida menina –Catherine segurou suas mãos e apertou levemente. –É melhor do que imaginava! Graças a família de sua mãe seus traços são delicados como os franceses. Um pouco diferente de sua irmã.
–Catherine! –Ralhou Mary.
–E este cabelo tão volumoso –Catherine acariciou os cachos de Charlotte. –Chamarei meus cabeleireiros de Paris. Certamente inovarão penteados e quando um príncipe vier nos visitar...
–Mamãe, Charlotte não está aqui para conquistar um príncipe –Francis alertou. –Muito menos para ser seu novo projeto de decoração.
–Além disso não ficarei tanto tempo –Charlotte resolveu intervir, para não ofender Catherine com uma recusa. –Minha visita será rápida, certo?
Ao olhar pra Mary e Francis percebeu uma certa hesitação do casal.
Aquilo a incomodou. Ela e Mary conversariam sobre isso mais tarde, não sob o olhar de tantas pessoas.
–Deixe-me apresentar minhas amigas –Mary mudou de assunto, a guiando pela cintura. –Elas são nossas compatriotas e estão ansiosas pra te ver. Conheça Kenna, Greer e Lola.
Três mulheres a aguardavam com sorriso nos lábios. Charlotte retribuiu o sorriso com hesitação. Fazia eras desde que falava com algum escocês.
–Bore da ferched. Mae'n anrhydedd cwrdd â nhw –Charlotte as cumprimentou em sua língua oficial.
–Seu escocês está engraçado –disse uma delas, segurando-se para não rir.
–Kenna! –Bronqueou a loira, dando uma leve cotovelada na amiga. –Perdoe-a, princesa, Kenna não tem controle de sua língua.
–E é compreensível que esteja desacostumada com a nossa língua –A outra morena, com os olhos azuis, lhe deu um olhar de compreensão. –Foi levada tão nova da Escócia. Eu estava no castelo quando aconteceu.
Charlotte engoliu seco. Fazia tempo que não pensava no dia que foi levada de sua casa pelo exército inglês e sua rainha maligna. Foi seu pesadelo constante na infância. O olhar desolado dos homens ao não poderem agir, sua própria mãe Marie de Guisé deixando-a ser arrastada sem sequer erguer um dedo, ou derrubar uma lagrima.
E agora, uma pessoa que assistiu ao pior momento da sua vida.
–Passei tanto tempo na Inglaterra que até mesmo esqueci que sou Escocesa –Charlotte comentou enfim –Certamente não esperava que voltaria a falar com um escocês ou então teria treinado mais a minha fala.
O humor das mulheres acabaram. E Charlotte não se mostrou arrependida. Odiava ser a chacota dos outros, foi tratada assim por anos na Inglaterra e não permitiria que ninguém a tratasse assim na França.
–Charlotte... –começou Mary.
–Estou cansada –A princesa virou-se para sua irmã e disse –Leve-me até meus aposentos ou algum lugar para descansar.
–Não conheceu o resto...
–Isso não me interessa, Mary –Os olhos azuis faiscaram. –Não tenho interesse algum de conhecer seus amigos, família ou quem quer que deseja me apresentar. Me leve até meus aposentos onde passarei meus dias trancada até que me permita voltar pro meu lar. Na Inglaterra.
O olhar magoado da irmã fez seu coração doer, mas Charlotte não tinha outra escolha.
Se queria ver Elizabeth de novo precisava ser o mais detestável e mesquinha que podia. Mesmo que pra ir embora tivesse que partir o coração de Mary.
Charlotte apertou os lábios para não dizer o quanto sentia por dizer aquilo.
–Entendo, Charlotte –Mary ofereceu sua mão –Levarei você, irmã. Podemos conversar mais tarde.
Charlotte ao menos esboçou um sorriso agradecido, passando pela multidão sem olhar para eles. Não queria ver o que pensavam dela, o que pensaram que seria. Era demais lidar com a expectativa de sua irmã.
No entanto seus olhos acabaram focando em uma pessoa. Um homem.
Ele era lindo, isso é inegável. Mais alto que os outros e o rosto mais marcante que os homens da corte da Inglaterra. Aqueles olhos, isso fascinaram Charlotte, tão azuis... Tão lindo.
O que ela estava fazendo? Ela não deveria se interessar por nenhum homem daquele lugar!
–Quem é aquele? –Charlotte sussurrou no ouvido da irmã.
–É Bash.
–O nome dele é Bash?
Mary riu alto.
–Não, o nome dele é Sebastian, mas todos o chamam de Bash. É meio irmão de Francis –Mary abaixou o tom de voz. –Ele é como James.
James, o meio-irmão mais velho delas. Filho de seu pai, mas não de sua mãe.
Um bastardo, Charlotte deduziu. Um belo bastardo francês.
Que Charlotte determinantemente ficaria longe.
Autor(a): blacksweetheart
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Mary tentava entender o que aconteceu com Charlotte. Ela e Charlotte eram unidas dês do nascimento da mais nova. O reino celebrou tanto o nascimento de Charlotte que o pai teve problemas para encerrar com as festas, já que o povo Escocês não entendia limites. Mary sempre protegia sua espoleta irmã de olhos azuis, olhos que herdara ...
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