Fanfic: Fique Comigo Dessa Vez | Tema: _ VonDy _
Uma manhã chuvosa de segunda feira se fazia anunciar com algumas trovoadas, quase paralelamente ao seu despertador.
Parecia melancólico como o frio e as gotas de água, escorrendo pela janela fechada de seu quarto, queriam levá-la de volta para a cama e seus sonhos com heroínas voadoras.
Riu.
Quantos anos ela tinham em sua cabeça, por tudo de mais sagrado, para sonhar com heroínas voadoras?
Como uma gatinha lânguida conseguiu se colocar para fora da cama, estava preguiçosa demais para trabalhar depois das "férias" de uma semana. Hoje teria que se apresentar no novo destrito para assumir o cargo de liderança na também nova equipe de investigação.
Maldita Anahí. Deveria ter ido com ela para São Francisco.
Tinha que inventar de se casar? Agora que pensava em um futuro a dois, logo muito provavelmente a três, a ideia de ganhar a vida correndo atrás de bandidos para salvar alguns ou honrar a morte dos que não foram salvos, não era mais uma ideia atraente para a loira.
Mas precisava assumir que por dentro, mesmo sem admitir, estava contente pelo desfecho da amiga.
Tudo bem, sua parceira lhe deixou por um par de alianças douradas, chocolate quente e romance no inverno, quando nem mesmo uma bala no braço a assustou para longe dela, uma bagunça vermelha num galpão de traficantes perfurada para morrer.
Logo ela que era tão contra romances!
Se tivesse que apostar, diria que seria mais fácil ela se casar com prostituto do que a amiga se casar algum dia.
Aquela lembrança, no entanto, sobre ser baleada a acompanhou durante o banho.
Havia sido a pior experiência de sua vida se parasse para pensar, com apenas cinco anos de carreira nunca havia sido baleada como foi naquela emboscada, há quase três.
Lembrava bem como aconteceu...
Uma ligação anônima denunciou um cheiro forte vindo de uma antiga fábrica de biscoitos desativada, próxima de uma fazenda de plantações e gado. Os animais não estavam bem.
Pela localização ficou óbvio para todos da força tarefa que se tratava do cartel saleziano, de acordo com fontes seguras um grupo da organização estava na região negociando uma carga pesada com um novo tipo de droga, mais viciante e tóxico que heroína, e não era nada improvável que o próprio Ricardo Salécio também estivesse por lá. Aquele que era alvo pessoal de Devon, o comandante da equipe.
— Eu não sei não, Dulce.. — Anahí começou, alguns minutos depois da reunião com a equipe tática, enquanto se preparavam no vestiário para a abordagem no galpão.
A ruiva a olhou com estranheza.
— O que foi?
— Eles não iriam cometer um deslize desses, de processar drogas próximo de uma fazenda habitada. E além do mais, qual a necessidade de produzir na hora da negociação?
— Ah.. devem estar querendo mostrar a receita, não? Brincar de mastercheff das drogarias — ela lembrou de zoar, em sua empolgação por pegar o grupo. — Vai por mim, mana. Esses caras não vão ficando muito inteligentes depois de consumir tantas substâncias, acabam errando hora ou outra e nosso trabalho é estar por perto quando errarem. É isso que estamos indo fazer agora, inclusive.
Devon Brook, o líder da equipe na época, tinha servido ao exército em alguns combates exaustivos, liderado alguns ataques e ganhado várias medalhas de honra antes de decidir a carreira como investigador. Ele estava tão decidido e certo do que deveriam fazer quanto Dulce também estava, e aquilo a motivava.
Se ele fosse apenas alguns anos mais velho o veria como um pai...
Certo, quem queria enganar? Ele era como um pai e não só para ela, para todos.
Foi movida a esse pensamento que não pensou duas vezes antes de atirar no pescoço do cara que queria tirar a vida do comandante, sem pensar no cara que a perseguia por trás. O momento em que o corpo despencou desviou a atenção deles dois do outro capanga vindo pelas costas até que foi tarde demais para notar.
O momento seguinte foi seguido de um sonoro "Cuidado!" vindo de Anahí, na retaguarda, disparos, formigamento, dor aguda e visão turva, antes de cair no chão ensanguentada.
Anahí havia atingido o homem no braço para que ele soltasse a arma e o mesmo caiu no chão, enquanto ela corria para perto da amiga caída.
O comandante disse algo sobre proteger e maldito, saiu correndo para algum lugar que ela não lembrava de ter visto e Anahí que também estava ferida, no braço esquerdo, ficou ali do seu lado ignorando a dor.
Havia alguns sons apavorantes como correria e gritos dos malditos colombianos, ordens de comando animadoras que fizeram a espinha de Dulce gelar.
Eles eram doze ao todo, os inimigos mais de trinta e a S.W.A.T não estava nada perto. Iriam morrer.
Pelo visto, seu informante estava comprometido. Ele não diria seis ao todo se houvesse mais.
Se sentia culpada...
— Ei, para ta? Conheço essa cara. A culpa não é sua. Se fosse eu já estava te xingando até em mandarim.
Anahí a arrastou até um contêiner meio aberto e se colocou lá com a amiga semiconsciente, apoiando a cabeça ruiva no colo e tirando o colete e a blusa de manga para rasgar e tentar estancar o sangue.
— Vai.. embora, Anahí. O..o Alfonso p..precisa de voc..cê mais.
— Cala a boca, sua vagaba de merda! — soava brava, mas pela voz se percebia o medo e aflição. — Eu não rasguei minha blusa favorita por nada, e quer saber? Nem ouse me deixar, ta ouvindo?! Eu vou te caçar nem que tenha que descer no inferno para trazê-la de volta à tempo do meu casamento — a loira a olhou, de olhos semicerrados — e eu ainda não aceitei direito o noivo.
Dulce quis rir, mas a mera tentativa lhe trouxe lágrimas aos olhos.
— Você ama ele... para..de fazer... cu doce.
— Ele não sabe o que é amor, Dulce. — a loira resfolegou, agora cuidando de tentar estancar o próprio sangue. Ao menos havia sido de raspão. — Se soubesse.. — ela retornou, exaurindo-se contra o contêiner e levando a amiga para mais perto, a fim de transmitir calor. Ela ficava fria.. — estava aqui comigo e com você, não liderando uma força tarefa voluntariamente no sul.
— Eu amo você, loira. M..mas a..as vezes você... é muito f..fria. Ele..suportou bem seus foras...
— Ele mereceu meus foras, é diferente. — se defendeu, ressentida.
— Você é quem? O S..Stive Mac..Garret da cinco zero?
A loira riu. Era o seriado favorito delas.
Nem de perto retratava a realidade que elas experimentavam no dia a dia da vida policial, mas era um refresco para a alma o desenvolvimento dos personagens.
Menos no final da série, claro.
— Stive era sensato até o final da série. Na verdade, gosto de pensar que ele é tão sensato que não vai reatar com a tenente Rollins, como o final da a entender.
— Você as..assistiu errado. A..a mensagem é que...as vezes.. o amor.. vale mais q..que a sensatez.
— O que acha que estou fazendo aqui então, sua tonta, se entendi errado?
— N..não ame aos mortos. A.. a série ensina.. isso também.
Anie riu.
— Você não está morta. Nem estará tão breve. Só se você me deixar, ai sim eu vou matar você.
— Isso..não tem sentido.
— Você tem sentido? Que mania de querer salvar o comandante essa que você tem. O que é? Tá apaixonada?
Ela estava chorando. Dulce sabia que estava, sentia o corpo agitar-se abaixo do seu.
— Olha, se você ficar bem, eu prometo que vou ligar pra ele e deixar de ser tão bruta. Com os dois. — aquilo era claramente desespero. Anahí nunca fazia promessas. — .. e eu vou com você ao cinema também, ver aquelas baboseiras românticas que você gosta. Está me ouvindo?
— Co..com pipoca d..do combo romance?
— Porra, sim. Com todas as malditas porcarias que carregue o nome romance na descrição, eu juro. Mas fique comigo.
Dulce sorriu.
— Estou com son..no... liga p..para a minha mãe?
E tudo ficou preto.
Ela não lembrava de mais nada depois disso, então acordou num quarto frio de hospital.
A mãe estava lá e foi a primeira que viu, estava rezando alguma prece, mas largou o terço quando viu que a filha acordava.
— Oi amor, como você está? Algo dói? Quer o doutor? Eu vou chamar.. eu já vou.. — ela atropelava um pouco as palavras mas não fazia gesto algum de que iria sair de perto dela, tão cedo.
O doutor chegou rápido.
Ela entendeu depois que havia um botão ao lado da cabeceira da cama que chamava a atenção de alguém do lado de fora rapidamente, por isso não demorou.
Descobrir que passou duas semanas de molho na cama hospitalar não foi animador, mas algumas visitas depois foi ficando melhor.
O aconselhado foi que ela tirasse alguns meses de folga.
O cartel havia sido quase todo abatido naquela tarde com a chegada da S.W.A.T, minutos após seu desmaio pelo que lhe contou a parceira, mas Ricardo foi capturado vivo e levado ao julgamento. Felizmente (ou infelizmente) apenas ela havia se ferido gravemente, o resto fora de raspão ou algo superficial.
Bem.. O que podia dizer? Era chamariz de problemas as vezes, sua mãe sempre dissera.
Quando tiveram privacidade, Dulce lhe recordou a Anahí das promessas feitas e a outra quase arrancou seu couro com o olhar. Mas, no final, acabou gostando da programação no cinema.
Alguns meses depois Alfonso voltou, quando Dulce já retornava sua rotina na divisão.
Anahí era porre atrás de love e assim por diante, talvez nem ela se suportasse mais enquanto fingia indiferença com o moreno.
Durou mais ou menos dois anos e meio antes do moreno finalmente fazer a cabeça de sua amiga para convencê-la a se casarem, deixar o trabalho em campo e se mudarem para o centro, onde a vida agitada era até calma no apartamento grande e espaçoso.
Anahí montou o próprio negócio desenvolvendo softwares empresariais, uma vez que havia se formado em programação antes de ingressar na academia de polícia com ela. Foi na faculdade que se conheceram, inclusive.
— Que cobertura hein, garota? Pegou um peixe grande com essas pernas de stripper. — havia dito alguns dias atrás, quando foi visitar a amiga.
Ela trabalhava de blusão e coque.
Fodidos blusão e coque alto!
Era sério aquilo??
Anie deu o dedo para a ruiva, quando a mesma entrou e se virou para a amiga.
— Poncho até tenta me bajular, mas eu tinha uma grana guardada. Você sabe, ainda queria abrir um restaurante quando me aposentasse.
Dulce rira.
— Você com certeza é Danno, não tenho mais dúvidas.
A loira a guiou até a cozinha, dizendo.
— Isso te faz o Stive? Não fofa, nem ferrando.
— Eu sou uma mistura de Grover, Danno e MacGarret, mas você ainda não está pronta para essa conversa. — declarou, achando um lugar na bancada da cozinha para sentar.
Anahí lhe serviu uma xícara de café com creme e biscoitinhos amanteigados, havia marcado o encontro para fazer um favor em um caso da antiga parceira antes que ela mudasse de destrito. Um caso importante para as duas, na verdade. Talvez mais para Anie, o que fazia tecnicamente importante para a outra.
Mas agora aquele caso também era o que alguns do grupo chamavam de "ultimo caso com a família".
— Está bem, senhora Danno Grover MacGarret. O que a senhora acha de verificar alguns nomes antes de ir para São Francisco? Eu tenho uma lista quente.
— Amo suas listas quentes, Anie. O que tem aí?
A loira foi pegar o computador, havia levado a noite toda mas conseguiu quebrar um código de segurança que dava acesso a algumas informações preciosas. Eram os grandes nomes por trás da rede de tráfico humano que tanto quiseram pegar, de alguma forma.
Figuras do alto escalão quase santificadas pela mídia.
Aquela lista seria como a cereja do seu bolo de despedida...
Poderia finalmente pegar com provas suficientes os deputados, empresários e médicos famosos que destruíram a vida de milhares de pessoas, que ignoravam seus juramentos e aceitavam se juntar com quem fosse por dinheiro, que não se importavam nem um pouco com quem iria sofrer para encherem seus bolsos desde que estivessem protegidos.
Mas agora iriam cair. Um por um.
Anahí estava feliz, como há muito tempo não estava depois que entregou o pendrive para a amiga.
O abraço na porta não foi uma despedida, elas sabiam que ainda iriam se ver em breve, mas não deixou de causar uma pequena dor.
— Sei que a Mai vai estar por lá, então já vou avisando que não me troque por ela, entendeu? Qualquer fofoca me liga primeiro, ou eu vou t..
— Me bater por telepatia. Já sei.
— Está debochando de mim? Logo eu, que fiquei do seu lado quando estava morrendo?! Dulce, você me magoa.
Dulce secou uma lágrima rápida antes dos olhos arderem.
— Nós pegamos eles, Anie. Nós realmente pegamos. — disse, depois de um tempo.
— Espero que Vick esteja feliz em algum lugar, por isso. Eu realmente espero. — a loira murmurou, com um nó na garganta.
Vick era a irmã mais nova de Anahí, que fora enganada pelo deputado ao qual era secretária antes de ser aliciada para o bordel clandestino, e que morrera após uma tentativa de aborto mal sucedida.
Anahí ficou arrasada, a irmã só tinha dezoito anos na época e estava tão feliz com o estágio, tão esperançosa pela faculdade que poderiam pagar...
Ela jurou que ele seria pego, demorasse o quanto fosse ele iria cometer algum deslize ou seria associado de alguma forma ao crime, nenhum crime é tão perfeito ao ponto de não deixar rastros...
Inicialmente quase acreditou que era cisma sua, pela empolgação da irmã ao falar do homem como se ele fosse mais que um chefe. Aquilo incomodou Anie, ele era estranho com ela, dava presentes caros mas ela nunca teve como provar ou interligar nada entre eles de forma concreta, do tipo que seria aceito pela promotoria, mas sempre soube que o chefe de sua irmã tinha culpa desde a primeira vez que o interrogou.
Como as câmeras de segurança "estraviadas" convenientemente não puderam mostrar na época, ela ficou irritadiça pela desconfiança sem embasamento comprobatório, isso levou a loira a fuçar como louca por meios de obter a fita de segurança do gabinete. Não conseguiu ter acesso a ela, mas certa vez lhe ocorreu de repente que a câmera de vigilância do restaurante em frente poderia ter gravado algo do beco ao lado do gabinete.
Inicialmente achou que não daria em nada, afinal o que poderia ter gravado de importante uma câmera externa se provavelmente o que acontecera de importante a ser gravado foi dentro do gabinete?
Céus, como esteve equivocada. A resposta para suas noites não dormidas estava na câmera lateral de um restaurante barato. É ali tinha provas de que ele foi mesmo o último a vê-la com vida, próximo ao carro que sumiu com ela e fora descrito por algumas parcas testemunhas. Apesar de o deputado negar veementemente.
Anie não tinha provas antes. Mas agora tinha mais do que o suficiente, então sentia que sim, agora sim seu trabalho acabou.
Ela fez sua missão.
— Ela está, Anie. Eu sei.
Deram um último abraço. Dulce estava quase saindo quando lembrou de algo que queria indagar, então, voltou-se para a loira, vagarosamente.
— Você não bebeu vinho ontem...— ela pareceu não entender. — Na minha receptação de despedida, no bar do Malcon. Você adora vinho do porto vagabundo mas não bebeu. — a ruiva apontou, por fim.
Anie deu de ombros.
— Talvez eu queira parar.. por um tempo.
— Quero um SMS detalhado quando você estiver certa que vai parar, okay? E Dulce é um nome lindo, Mário também, a propósito.
— Vai pro inferno, sua louca. Mário é horrível!
Dulce saiu rindo. Aquela coelha safada..
— Maria, então!
Autor(a): Tia_Lalau
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Sua mãe mandou uma mensagem... Ela só viu quando já estava descendo da moto, bem em frente ao departamento de polícia de São Francisco. Iria responder logo. A viagem durou quase duas horas no dia anterior, quando veio de moto atrás do pessoal da mudança. As caixas ainda estavam abarrotadas no apartamento e esperando algumas ...
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Comentários da Fanfic 5
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candy1896 Postado em 09/02/2023 - 23:33:17
Continuaa
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candy1896 Postado em 09/02/2022 - 20:36:26
Continuaa
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candy1896 Postado em 08/02/2022 - 01:47:51
Aguardando capítulo
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candy1896 Postado em 05/02/2022 - 14:45:25
Continuaa
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candy1896 Postado em 04/02/2022 - 14:48:37
Continuaa