Fanfics Brasil - FRUSTRADA & CONSTERNADA Lost & Found (Faberry)

Fanfic: Lost & Found (Faberry) | Tema: Glee


Capítulo: FRUSTRADA & CONSTERNADA

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QUINN


Tenho que finalmente reconhecer que não sou nada pontual.


Meti o pé no acelerador e liguei a sirene. É contra as regras, mas que se dane, era uma emergência e quando se é a pessoa que cuida dos delitos de trânsito ninguém mais se atreveria a reclamar pra ninguém.


Moro Wood Valley, uma cidade minúscula com dez mil habitantes, e diminuindo, no interior da California. Conhecida por ter grandes casarões na orla da praia, mais ao meio muitas casas de classe média e então bem na divisa com Arizona morava as pessoas de classe baixa. Em sua maioria pessoas boas, trabalhadores que estavam satisfeitos com seu trabalho, gostavam da tranquilidade do local para cuidar dos seus filhos e continuar em suas vidas até o final delas. Porém dentre dessas pessoas existia uma família com muitos membros e muitos problemas: Os Berrys.


E um deles me fez atrasar pra buscar Beth,minha filha, na escola.


Respirei fundo, a poucas quadras da escola da minha família. Cuidar da papelada era trabalho de Figgins, não meu. Sou só a sub-xerife, que na maior parte do dia patrulha a cidade e separa briga de adolescentes. Mas depois da morte de sua esposa, Figgins, o xerife não foi mais a delegacia e de repente tudo está nas minhas costas.


Trabalhei no turno da noite e durante a patrulha flagrei Jake Berry Puckrmann tentando assaltar o mercadinho da Sra.Chang. Após a prisão em flagrante quem deveria cuidar da papelada pra mantê-lo era o xerife, com sua assinatura. Mas ele não atendeu, e a papelada que é preciso para manter o garoto preso ficou todinha pra mim.


Terei que conversar com ele, uma conversa séria. Argh eu odeio esse tipo de conversa.


Sendo honesta eu teria terminado antes da hora se aquele preso em particular não tivesse os olhos castanhos dos Berrys.


Os olhos castanhos dela.


Merda. Eu tinha que parar de ser tão emotiva quando se tratava de lidar com a família dela. Prender um Berry ou dois era quase uma regra pra todo policial em Wood Valley.


Mas o que não era comum para os outros era ter sido apaixonada por Rachel Berry a vida toda.


Minha história com Rachel não é a mais mirabolante, nem mesmo a mais feliz. Mas era a nossa história e eu sempre a trataria com carinho.


Nos conhecemos aos seis anos, quando sua mãe trabalhava de cozinheira na minha casa. Aquela altura eu já deveria ter ido pra escola primaria, conhecer crianças da minha idade e viver um pouco além da mansão da minha família. Só que minha mãe, mais protetora do que qualquer mãe, colou na sua cabeça que Shelby roubou um conjunto de talheres da cozinha e infelizmente a demitiu. 


E então, sem amigos e já louca surge uma garota de cabelo castanho e um sorriso tão brilhante quanto o sol em dias de verão. E foi assim que senti quando Rachel Berry entrou na minha vida: era um eterno verão.


E ela era um sol poderoso demais pra ficar obscura nessa cidade de merda.


Wood Valley nunca foi pra Rachel. O lugar onde morava, o complexo Berry, era uma favela. Não tem modo delicado de escrever um amoutado de casas pequenas de madeira, em uma rua sem saída. Alguns carros velhos, certamente roubado de outros bairros e desmantelando para venderem por todo o país. A situação dos Berrys hoje não é nada comparada ao que era na infância de Rachel. Eles eram uma gangue perigosa e muito protetora -pra não dizer obcecada- com suas mulheres.


O pai de Rachel morreu na prisão, ela só tinha nove anos. Cresceu sob os comandos de seu avó Tony Berry, conhecido como Papa Berry. Sua mãe pode ficar em uma casa minúscula de dois cômodos e como os Berrys não conheciam a palavra "favor" sua estadia era paga com seu trabalho no Vale do Inferno -o famoso bar da Família Berry. 


Rachel odiava aquele lugar, odiava sua família e a forma como tratavam ela e a mãe. Nunca me contou muito sobre o modo que era tratada, mas quando uma criança preferia ficar horas em uma pracinha, desenhando em um gazebo, em vez de retornar pra casa era claro que não se sentia segura naquele lugar.


Foi um período de seis meses que sua mãe trabalhou para os meus pais. Por alguma razão não deu certo, suspeito que minha mãe tenha achado um motivo fútil assim como fez com as outras empregadas.


Mas isso não me impediu de ir atrás de Rachel. Sempre fui conhecida por minha determinação, e com sete anos e internet ao meu favor foi fácil nos juntar novamente.


Procurei o nome dela no registro da cidade e encontrei a escola que ela estudava. Passei a ser péssima na escola particular e sem escolha minha mãe foi obrigada a me mandar pra única escola pública da cidade. Claro que não foi tão fácil, minha mãe me obrigou a estudar direto por semanas, usando internet apenas pra sites educacionais e supervisionando cada passo. Com um esforço quase sobrenatural errei o suficiente pra ela não desconfiar que era proposital.


Fingi que era totalmente infeliz na nova escola, só pra minha mãe acreditar que estudar em escola pública era um castigo merecido. Rachel soube conduzir a situação com maestria, até mesmo fingia me detestar toda vez que nos encontrávamos na presença da minha mãe.


Foi nosso primeiro segredo. E nada era tão magico do que sentir que estávamos unidas contra o mundo todo.


Afastei o sentimento de nostalgia. Eu não vejo Rachel há sete anos, e também não tenho nenhuma notícia dela.


Agora preciso focar na pessoa que eu recebia notícia até demais: minha filha.


Que em vez de me esperar na frente da escola na verdade entrava no carro da minha mãe.


Beth, sentada na cadeira da frente, arregalou os olhos assim que viu a viatura estacionar.


Nem cem trombadinhas era capaz de tirar do sério como minha filha.


Sai do carro praguejando. Esse dia está só a merda.


–Você tem que ter prioridades –Mamãe me recebeu assim que desci do carro. –Sua filha é mais importante do que você passeando pela cidade no seu carro.


–Esse passeio que você diz por acaso se chama patrulha, que é uma coisinha que eu faço quando estou trabalhando –Debati me aproximando delas.


–Nossa, mas é mesmo necessário tanta patrulha em Wood Valley? Nosso índice de crime subiu álbum decimal este mês?


Minha mãe é formada em sarcasmo, com doutorado em humilhação filial. Não perdia uma única chance pra rebaixar meu trabalho, minha casa ou qualquer escolha que eu tenha tomado sem sua aprovação.


–Mamãe, dá um tempo. Eu estou cansada e preciso de um banho...


–Percebe-se –Judy franziu o nariz.


–Beth, vamos –Chamei minha filha, antes que eu gastasse minha última energia discutindo com minha mãe.


Beth saiu do banco da frente da MUV da minha mãe, emburrada.


–Não seria melhor Beth ir pra minha casa hoje? Assim você pode descansar em paz.


–É dia da semana. Ela não pode –Essa regra já tinha sido discutida entre nós, no entanto tanto minha mãe quanto minha filha se juntavam pra tentar burlá-la.


–Mamãe, eu quero ir! –Beth insistiu com um beicinho e me dando um olhar pidão.


–Beth, não.


–A menina pode ficar doente, Lucy. Além disso seu pai está na cidade, sabe como ele adora tê–la em casa.


Meu pai advogava pelo país todo. Raramente passava mais de dois dias em casa então suas aparições relâmpagos era motivo de minha mãe declarar um feriado pra família toda, onde todos devem endeusá-lo e fingir que seu dinheiro compra toda felicidade do mundo.


Agora que se aposentou o motivo de todas suas viagens importantes não era tão claro. Suspeito que seja pra evitar minha mãe, mas ele nunca me diria isso.


E eu me interessava muito menos por ele.


–Você está mesmo precisando descansar, mamãe –Beth insistiu, recebendo um olhar muito feio como resposta.


–Está bem, mas eu a levo mais tarde –Escolhi o meio termo, porque sabia que Beth não me deixaria em paz.


–Eu já estou aqui –Minha mãe argumentou.


–Já disse que levo! –Descontei minha frustração batendo a porta. Ela nunca ficava satisfeita com o meio termo. Sempre, sempre a última palavra tinha que ser dela!


Exatamente por isso que nunca nos daríamos bem. Costumo lutar pra ter as rédeas da minha vida.


–Está bem –Consternada, Judy virou-se pra Beth e acariciou seus cabelos – Nos vemos mais tarde, querida.


Beth beijou-a no rosto e depois entrou no carro, com um semblante tão triste que quase me senti culpada por ser tão dura com minha decisão.


Quase. Porque tinha motivos suficiente para não querer Beth tão próxima de minha mãe e aquela menininha passou por cima das minhas ordens.


Dei partida no carro e ficamos em silencio por um bom tempo. Preferia discutir o assunto em casa.


–Eu liguei pra você –Beth argumentou.


–Esqueci meu celular na delegacia –respondi vagamente.


–Então como vou saber se você não está por aí baleada, sangrando... –Beth começou a listar todos os possíveis casos policiais que ela assistiu no CSI.


–Chega, chega dessa historinha toda –a interrompi balançando a mão direita no ar. –Você sabe que está errada.


–Mas já tinha passado uma hora!


–E nos combinamos de que isso acontecer você pode ligar pra delegacia, ou pra tia Santana. Liga até para os bombeiros, mas não ligue pra sua avó! –Enfatizei pela quinta vez.


–Por que demorou? –Beth cruzou os braços.


Claramente queria despistar sua culpa pra que a bronca não continuasse. Mal sabe ela que também estou cansada de broncas e que um castigo talvez fosse mais eficaz.


Pensaria em um naquela noite.


–Estava resolvendo um caso –respondi sua pergunta.


–Você prendeu alguém?


–Não.


–Então salvou um gato de uma arvore?


–Quem faz isso são bombeiros e...


–Então o que era mais importante do que buscar sua filha na escola?! –Com toda sua dramaticidade aumentou sua voz em um grito tortuoso.


Me lembrou tanto a Rachel, e sua qualidade pra dramas nunca foi uma das minhas características favoritas.


–Beth, tá complicado na delegacia sem o Figgins –Antes de deixar que ela me colocasse como culpada por sua ação imprudente retornei ao meu discurso –E esse não é ponto. Você já é uma mocinha, sabe bem que se ligar pra sua vó numa situação dessa ela vai acabar com o meu juízo!


–E o meu juízo? –Beth rebateu estridente –Todo mundo foi embora e eu estava entediada! A vovó tem razão, eu deveria ser sua prioridade.


–Elizabeth, agora chega! –Bati a mão no volante.


Amo a minha filha mais do que tudo, mas ela realmente sabe como irritar. Apesar de me esforçar o máximo pra não mimá-la minha mãe conseguiu anular todo meu esforço nos poucos momentos que passaram juntas. Desde pequena Beth sempre gostou de tudo que é considerado "coisas de menina". Já aos três anos ela escolhia a própria roupa e chorava toda vez que eu fazia um penteado.


E minha mãe encontrou nela a filha que sempre quis ter. O que a impedia de tornar Beth sua completa bonequinha era que eu nunca permiti que minha mãe controlasse plenamente nossas vidas. E claro, pra minha mãe eu era a vilã


Algumas vezes Beth também parecia querer isso.


–Desculpe, mamãe –Beth apertou meu ombro, e através do espelho pude ver o arrependimento em seus olhos.


–Me desculpe também, Beth –Coloquei a mão direita em cima da dela, e apertei seus dedinhos.


Minha filha é uma boa menina. Sei disso porque conheci meninas terríveis e Beth não se iguala a elas. Mas é sempre um tormento tentar educa-la da maneira correta quando minha mãe nos ronda como urubu, e bagunçava a cabecinha influenciável da minha filha com a vida de luxo que o resto dos Fabray tinha. 


Eu tinha mais essa vida. Reneguei tudo. 


Passamos então pelo centro da cidade, e fui obrigada a parar no sinal. A direita estava o velho cinema da cidade. 


O lugar favorito de Rachel. 


 


Rachel não sabia o que era andar.


Deveria perguntar pra mãe dela, mas acho que em vez de engatinhar, depois dar passinhos pequenos e assim andar normalmente como estudamos na aula de biologia, ela já saiu correndo, pulando e dançando pelo mundo. Pois era exatamente assim que estava fazendo na calçada até o cinema.


–Então ela não sabe quem é o pai, e manda carta pros três ... –Rachel contava, gesticulando bastante enquanto andava em ziguezag na minha frente.


–Se vai me contar o filme por que eu preciso ver?–questionei agarrando a mão dela pra fazê-la parar um pouco.


As pessoas que passavam por nós já estava encarando–a de maneira estranha.


E ela sequer percebia porque estava envolvida demais na história do filme que iriamos ver.


–Porque é muito legal!


–Tem quantas músicas? –Sendo escolha de Rachel é claro que assistiríamos um musical.


E duas músicas eu até consigo aturar. Mas quando se tratava do filme todo era difícil manter acordada.


–Algumas...


–Rachel!


–Mas não é todo o filme, eu juro!


–Já ouvi isso antes. –Resmunguei. –E você vai assistir pela segunda vez?


–É a terceira. Vim uma vez com a minha mãe, quando ganhou o ingresso no sorteio, depois sozinha e com você.


–Como entrou sozinha? –Ergui uma sobrancelha.


–Fingi que era um trabalho de escola e precisava muito realizar aquele resumo. O velho da bilheteria ficou com pena de mim.


–Você e suas histórias –Revirei os olhos. E desconfio que o velho deixou–a passar apenas por pena.


–Promete que não vai dormir, Quinnie! –Rachel sacudiu meu braço com força.


–Eu prometo se parar de me chamar assim –Tentei me afastar daquela louca.


–No fundo você bem gosta –Rachel só se aproximou mais, e passou a esfregar o nariz em minha bochecha –Quinnie, Quinnie, Quinnezinha.


 


Não sei porque pensei em Rachel agora.


Ou melhor, não sei porque eu nunca consigo esquecê-la.


Era como se cada canto dessa cidade estivesse sua marca: Rachel tentou criar um coral pra crianças no parque Sloan, Rachel corria pela avenida Velvet todo sábado de manhã,


Rachel marcou minha alma com sua presença brilhante... E eu nunca seria capaz de apagá-la.


O amor passa pra algumas pessoas, é esquecido, superado.


Agora por Rachel... Era como se eu fosse sentir sua falta pra sempre.


–Mamãe! –Beth me sacudiu.


–Sim, Beth?


–O sinal –Ela apontou pro semáforo acesso na luz verde.


–Estou indo.


–Você vai jantar na casa da vovó hoje? Acho que não tem nenhuma comida em casa –Beth piscou seus olhos verdes através do espelho, claramente me manipulando pra fazer sua vontade.


E como tudo que pode piorar: pioria, quando olho o céu nuvens escuras começam a se juntar, anunciando uma tempestade.


Será que esse dia consegue ficar pior?


 


RACHEL 


Droga de chuva. Droga de cidade.


Sinceramente eu queria saber quem da minha família era o responsável por se instalar em Wood Valley. Um tataravô muito perturbado, ou uma tataravó desesperada pra fugir de alguém encontrou aquele fim de mundo e pensou: aqui é o lugar perfeito pra ser esquecido.


E depois, como pobres fodidos que somos, a família começou a proliferar e crescer como coelhos. E os coelhos procriaram. E os filhos deles... Agora o nome "Berry" é um dos mais conhecidos deste maldito lugar.


Na verdade, sequer pensava que um dia voltaria pra cá. Deus sabe que jamais existiu essa vontade em meu coração. Mas por amor eu estava disposta tudo.


Por amor ao meu irmão.


Minha mãe morreu no ano passado. Uma longa batalha contra o câncer, e no final ele foi o vitorioso. E antes que eu pudesse superar perder minha mãe recebo a ligação do médico da minha avó com a notícia de que ela também partiu. Por um momento desejei ir junto delas.


Porém além de filha e neta, também sou irmã mais velha. E esse cargo foi tudo que me restou. Nicholas, meu irmão de dez anos, morava com a minha avó até o momento de sua morte. E agora estava prestes a ir parar nas mãos do meu avô:


E só por cima do meu cadáver eu permitiria que isso acontecesse.


Não conseguia imaginar Nick crescendo com meu avô, com meus primos, se tornando um homem que seria entregue ao sistema carcerário pouco tempo depois de atingir a maioridade.


Ir pra cadeia na minha família era quase uma validação do que significava ter "sangue Berry". Um processo de iniciação. Depois


Meu irmão não seria assim.


Por ele eu precisei voltar. Guardei toda a dor que aquele lugar me causava e me revesti de coragem.


Pelo rosto lindinho que me encarava com suspeite enquanto chegávamos até sua babá.


–Tem certeza de que quer trabalhar com a tia April? –Nick apertou os olhos.


–Claro que sim –Ergui os ombros enquanto terminava de estacionar –Eu adoro a tia April.


–Mas odeia o Vale do Inferno! Nunca te vi em nenhuma foto lá –Ele sustentou seu argumento.


Vale do Inverno, o bar da família. Frequentado por motoqueiros, caminhoneiros e algumas prostitutas. Distante o suficiente do centro para ser discreto e distante o suficiente do "complexo Berry" para não se tornar perigoso.


Era uma tradição que os frequentadores tivessem uma foto no mural, mostrando sua preferencia aquela espelunca.


Jamais permitiria que minha imagem fosse associada aquele lugar.


–Claro que não, quando estava aqui eu não queria perder tempo naquele bu... Espera, como


sabe das fotos?


Nenhuma criança era autorizada a entrar.


–Bem... –Nick fez careta. –Puck me levo uma vez.


–Uma vez? –Desconfiei. Toda vez que Nick mentia ele mordia o canto inferior da boca.


E ele estava fazendo isso naquele instante.


–Tá bom, foram três! –admitiu jogando as mãos no ar.


Aquele irresponsável. Meu queixo quase tremeu de raiva. Como ele se atreveu a levar um garoto de dez anos a um bar?


–Nicholas!


–Foi a tarde! Só almoçamos e eu tomei coca. Juro pela nossa mãe –o garoto ergueu a mão esquerda e posicionou no lado direito do peito.


O pior juramento de todos. Mas quando envolvia nossa mãe sabia que podia confiar em sua palavra.


–Não te quero naquele lugar. Tem que prometer que não vai mais.


–Mas Rach...


–Não me olhe com olhos de gatinho, não mudarei de ideia.


–Tá –Nick revirou os olhos  –Aceito não ir ao Vale do Inferno. Mas sou mesmo obrigado a ficar com Tina e o irmão dela? Aquele moleque é um nerd!


–Claro, e você é muito descolado pra andar com um nerd.


–Ninguém fala descolado, Rach.


–Fique você sabendo que eu era uma nerd –Enchi o peito pra falar aquilo, porque eu me orgulho de ter sido uma boa estudante.  –Fui campeã no campeonato de debate.


–Puck diz que estudar é pra fracotes.


–Se Puck tivesse estudado saberia que o melhor que ele faz é calar aquela maldita boca –Resmunguei com raiva. 


Paramos o assunto pois chegamos a porta de Tina. Bati levemente e não demorou muito até Tina me atender. 


–Oi, Rachel –Tina sorriu com simpatia. –Oi rapazinho.


–Oi –Nick respondeu malcriado.


Belisquei suas costas com o mínimo de força. Apesar de relutante, consegui arrancar um sorriso do seu rosto.


–Obrigada mesmo por me ajudar, Tina. Prometo que te pago assim que receber o primeiro salário –Era a terceira vez que eu dizia isso a ela. Mas queria que entendesse que jamais passaria a perna nela, principalmente se tratando da única pessoa confiável a cuidar do Nick.


–Fica tranquila, Rachel. Além disso Nick e James tem se dado tão bem.


–Você que pensa –Nick deixou escapar.


Tina e eu nos encaramos, minhas bochechas já vermelha pela vergonha.


–Ele fala isso agora, mas eu sei que depois fica pedindo pro James te ensinar a jogar Free Fire –provocou Tina.


–Nick, se comporte –Me ajoelhei na sua frente e olhei seriamente. –Eu te pego na escola amanhã, tá bem?


Meu turno duraria a noite toda, então eu não conseguiria colocar Nick no ônibus escolar. 


–Se cuida, Rach –O aviso de Nick era carregado de preocupação, assim como o alerta em seus olhos.


–Pode deixar.


Eu sou a única que dará uma vida decente ao meu irmão, e não iria deixar nada acontecer a nós dois.


(...)


–Parece cansada, Rach –Tia April notou depois de me ouvir bocejar pela quarta vez.


–Ainda estou terminando de organizar as coisas, tia. Mal consegui dormir três horas –Pra confirmar minha história o quinto bocejo escapou dos meus lábios.


–Não precisava ir pra um flat minúsculo. Poderia ter ficado conosco no complexo. Você e Nick são muito bem-vindos.


Claro, porque já me sinto tão radiante voltando pra Wood Valley. Morar no complexo dos Berrys seria como o ultimo prego em meu caixão.


–Não, obrigada –Respondi, me segurando pra não dizer o que eu pensava sobre seu convite.


Tia April era a única que eu ainda podia contar naquela cidade. Quando cheguei a uma semana atrás, com o dinheiro de apenas duas noites no hotel barato foi ela quem me ofereceu emprego e ainda me ajudou a encontrar um pequeno flat barato.


–Não dá pra dar as costas a família, Rachel. Sei que temos falhas, mas somos unidos até o fim –Tia April insistiu.


Claro que são. Minha família, se é que posso chamá-los assim, é uma gangue. Não das mais famosas, nem tão perigosas, mas com o voto de união e envolvimento com todo tipo de ilegalidades.


–Sei bem qual é o preço dessa união –Não deu pra evitar o tom crítico –E não quero que Nick tenha essa vida. Vim pra tirá-lo daqui.


–Acha mesmo que seu avô vai permitir que saia daqui com Nick? Ele adora esse garoto.


–Ele não tem que permitir nada. Sou a parente mais próxima de Nick.


–No entanto não é a guardiã legal. –Tia April comentou. Não escondi meu desgosto com aquela informação.  –Querida, não falo isso por maldade. Também gostaria de dar uma vida diferente pros meus meninos se pudesse. Mas sabe que seu avô tem essa cidade nas mãos. Nenhum juiz irá contra um Berry, nenhum advogado ira pegar a causa.


–E o que quer que eu faça? Deixe Nick e siga com minha vida?


–Querida... 


Tia April não conseguiu terminar, pois um dos clientes praticamente correu em direção ao balcão. 


–April, April!


–Calma, Sr. Earl, o que aconteceu? –Tia April largou o copo em cima do balcão e foi até o homem.


–Um tira –Respondeu o velho já sem folego. –Um tira no bar.


–Um tira? O que eles querem? Ninguém nos avisou que teria inspeção –April encarou Rachel cheia de preocupação.


Naquela manhã um dos meus primos (que são tantos e eu não faço a mínima questão de guardar o nome – deixou um carregamento de maconha na cozinha. O infeliz burro devia ter buscado na hora do almoço, mas com certeza 


Se meu avô soubesse disso o idiota levaria uma surra de madeira, com certeza. E até fiquei tentada em fazer um esforço pra que o velho descobrisse.


Infelizmente se o policial soubesse da carga iria complicar pra todos, inclusive a mim. Tinha que cuidar disso já que Tia April estava nervosa demais pra falar com qualquer policial.


–Calma. Talvez esteja só de passagem –Desamarrei o avental e arrumei meu cabelo –Vou ver o que ele quer.


Andando calmamente, com a arrogância que se adquire quando mora em New York, avistei o policial a procura de uma boa mesa. Os cabelos longos até o ombro e um corpo feminino. A policial. Isso por só já era estranho porque nunca houve uma policial em Wood Valley.


Com uma bunda muito bonita por sinal.


–Olá, posso te ajudar? –Forçando simpatia, coloquei minha mão delicadamente sob o ombro da loira.


Ela virou-se quase em câmera lenta, com um par de olhos verdes reconhecível e exibindo choque.


–Quinn? –Escapou dos meus lábios.


E assim aquele dia conseguiu se tornar ainda pior. 


 



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Autor(a): blacksweetheart

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