Fanfic: Jiyuuni | Tema: Free!
Nagisa se olhava no espelho enquanto terminava de domar seus cabelos rebeldes. Ele já vestia o uniforme do Colégio Iwatobi com suas calças escuras e pulôver cor de creme. Por último, faltava a gravata vermelha com poás brancos. Ele fez o nó com esmero, e prendeu a ponta dentro do pulôver. Depois de pronto, seus dedos se demoraram um pouco sobre a gravata. A gravata que havia ganhado de Rei.
Fazia algumas semanas desde que havia ganhado aquela gravata na sala do clube de natação. Depois de dias se privando da companhia de Rei, na vã esperança de que alguma distância entre eles pudesse aplacar aqueles sentimentos que tinha pelo amigo, foi quando aconteceu. Naquele dia, descuidado pelo cansaço de noites sem dormir, remoendo a culpa e a dor, ele acabou falando em voz alta os pensamentos que guardava com tanto cuidado. Em poucos instantes, sua mente havia simulado todas as reações que Rei poderia ter ao ouvi-lo, mas todas elas eram pessimistas e infelizes. Em nenhuma delas Rei o acolheria em seus braços e corresponderia aos seus sentimentos despedaçados como havia feito.
Nagisa já havia abraçado Rei tantas vezes, mas nunca havia sido daquela forma. O modo como a mão de Rei pousou sobre seu ombro e ele depositou um beijo em seus cabelos. O coração de Nagisa batia enlouquecido, como se quisesse escapar do peito. E então, Rei lhe deu a gravata, fazendo o nó com carinho.
Era difícil acreditar que tudo aquilo era verdade, que Rei era realmente seu namorado. Nagisa ainda estava inseguro naqueles dias de começo de namoro, enquanto tentava não se questionar se Rei não havia apenas se deixado levar depois dos dias de silêncio entre eles, se não havia o aceitado apenas para não perder sua amizade ou por ter se comovido.
— Bom dia, Nagisa-kun!
Nagisa estava perdido em meio a esses pensamentos quando Rei se aproximou dele dentro do vagão do trem a caminho da escola.
— Ah! Bom dia, Rei-chan!
Rei arqueou uma sobrancelha.
— Aconteceu alguma coisa? Você parecia distraído.
— Não aconteceu nada! — respondeu Nagisa, afastando aquelas sombras que rondavam seus pensamentos para longe.
Depois de alguns instantes de silêncio, Nagisa olhou furtivamente para Rei. Rei também estava usando a gravata de Nagisa. Um segredo apenas deles.
Uma onda de emoção percorria Nagisa sempre que pensava nisso, Rei agora era seu namorado. Seus olhos subiram da gravata para o rosto de Rei. Só então percebeu que ele também o observava. As bochechas de Nagisa ficaram rosadas e Rei sorriu.
— Gostaria de sair no fim de semana? — perguntou Rei.
Os olhos de Nagisa brilharam.
— Um encontro?
— Sim. Eu pensei que pudéssemos aproveitar enquanto não começou o período de provas. Ficará praticamente inviável sairmos com frequência depois, então...
Rei começou a ruborizar enquanto balbuciava uma justificativa para o convite, ele perdia sua objetividade quando estava encabulado.
— Eu também quero te ver no fim de semana. — disse Nagisa, as palavras que Rei não teve coragem de expressar.
Rei ficou surpreso com o que ouviu, empurrou os óculos sobre a ponte do nariz antes de falar.
— Estamos parecendo o Makoto-senpai e o Haruka-senpai, lendo os pensamentos um do outro.
— Não é? — Nagisa deu risada.
— O que você gostaria de fazer?
— Ah! Eu quero ir ao karaokê box!
— Karaokê?
— A única vez que fomos você acabou não cantando.
Certa vez, os quatro garotos do clube de natação haviam marcado de saírem juntos, mas Nagisa viu o horário errado, e por isso, ele e Rei acabaram chegando cedo demais. Para matar o tempo foram ao karaokê box, a primeira vez de Rei. Porém, mesmo com toda a empolgação, eles acabaram não cantando, pois Rei confundiu o menu com a lista de músicas e o que receberam foi uma avalanche de doces e bebidas.
— Eu quero ouvir você cantar. Sua voz é tão bonita, Rei-chan!
Rei ficou tão encabulado ao ouvir o elogio de Nagisa como havia ficado na primeira vez que havia ouvido aquelas palavras.
— Obrigado.
— Então pode ser o karaokê?
— Claro!
— O fim de semana não vai chegar rápido o suficiente. — resmungou Nagisa, e Rei respondeu com um sorriso.
* * *
— Ryugazaki-senpai e Hazuki-senpai, vocês têm um minuto?
— Sim, Sakuya-kun? — respondeu Rei.
Rei estava junto de Nagisa, perto dos armários onde os alunos guardavam seus sapatos, quando foi abordado por Sakuya logo cedo. Com sua visão periférica, Rei pôde ver que Hikari estava parado perto da porta de entrada, mas não se aproximou.
— Eu sei que isso pode parecer um pouco abrupto, ainda mais depois de ter negado isso com tanta veemência, mas eu gostaria de participar do clube como nadador também.
Sakuya fez uma reverência após o pedido, seus ombros tensos de um modo que Rei não costumava vê-lo. Sakuya sempre tinha uma atitude calma e composta, mas agora estava visivelmente nervoso enquanto falava sobre nadar. Rei se lembrou do apelo que a irmã de Sakuya, Shun, havia feito a ele e a Gou semanas antes e em como Sakuya havia negado categoricamente os pedidos para considerar essa possibilidade. Mas agora, ele estava voltando atrás em sua decisão. O que o teria feito mudar de ideia? A presença silenciosa de Hikari só poderia indicar que ele tinha algum envolvimento em tal mudança. Rei trocou olhares com Nagisa, e ambos sorriram.
— É claro que sim — respondeu Rei —, na verdade, eu fico muito feliz em ouvir isso.
Sakuya endireitou sua postura com um sorriso no rosto e Rei também ficou feliz ao ver que sua última preocupação havia, por fim, se resolvido por si só.
Em breve eles teriam que fazer as inscrições para o torneio municipal e este ano poderiam participar de mais provas, já que o clube tinha mais membros. No entanto, era estranho pensar na equipe de revezamento. Rei tinha sentimentos contraditórios sobre a nova equipe que se formaria. Ao mesmo tempo em que parecia errado ter outras pessoas nos lugares que pertenceram a Haruka e Makoto, ele sabia que essa era a ordem natural das coisas e também não queria abrir mão da chance de nadar com Nagisa, afinal, esse seria o último ano em que nadariam juntos. Agora, Rei conseguia entender a fixação que os amigos tinham pela equipe que haviam formado na infância, quando ele ainda não os conhecia.
Rei queria aproveitar ao máximo seu último ano do colegial. Sabia que no ano seguinte iria para universidade, mas ainda não tinha certeza do que Nagisa faria. Quando eles falavam de planos para o futuro, o que Nagisa dizia não parecia ter um tom sério ou realista. Rei não havia pensado muito nisso por enquanto, mas aquilo o preocupava.
* * *
— Desculpe a demora, Nagisa-kun! — disse Rei depois de se aproximar correndo, assim que viu que Nagisa já está no ponto de encontro deles.
Nagisa balançou a cabeça enquanto respondia:
— Não, Rei-chan, você não demorou. — Então, olhou o relógio antes de prosseguir. — Você ainda está dez minutos adiantado. Eu que cheguei cedo.
— Ah, não queria ter deixado você esperando.
— E eu não podia esperar para ver você.
Os dois trocaram um sorriso, e por um instante se esqueceram de que estavam parados no meio da calçada.
— Então, vamos indo? — disse Nagisa por fim.
— Sim!
A primeira música que Rei escolheu foi uma música romântica, porque essa foi uma das coisas que Nagisa tinha dito que queria ouvi-lo cantar na primeira vez que foram ao karaokê. Nagisa o assistiu com os olhos brilhando, pois além de Rei ter se lembrado do seu pedido feito há tanto tempo, ele cantava o olhando, cantava especialmente para ele.
Passaram a tarde revezando o microfone. Nagisa começou pedindo algo doce para beber, e Rei escolheu algo que fosse refrescante. Depois dividiram um parfait gigantesco que Nagisa insistiu que compartilhassem. Não era tão diferente como costumavam fazer antes de serem namorados. Trocando beijos indiretos, Nagisa não hesitava em oferecer colheradas de sorvete e frutas com creme enquanto Rei cantava, fazendo-o se atrapalhar, mas Rei ria e aceitava sem reclamar.
Saíram do karaokê embriagados de açúcar e felicidade. Nagisa ria como bobo quando chegaram à calçada, e só então percebeu que Rei havia ficado sério. Nagisa também tentou ficar sério e limpou a garganta antes de falar.
— Hum... Você quer ir para outro lugar, Rei-chan? Ou... Vamos embora...? — Nagisa terminou a frase tentando esconder o desapontamento caso ele quisesse ir. Ainda não queria que o encontro acabasse.
— Podemos passear na orla. O que acha?
— Sim! Podemos andar na areia! — concordou com entusiasmo.
— E ver o pôr do sol. — completou Rei com um sorriso terno.
Nenhum deles poderia negar que aquilo era o máximo de um clichê romântico, mas qual problema havia nisso? Tiveram que pegar o trem para chegar até a praia, sentados lado a lado, seus braços se tocavam, e Nagisa recostou a cabeça sobre o ombro de Rei. Sempre andavam de trem juntos no caminho da escola, mas era estranho demonstrarem carinho em público no vagão apinhado de estudantes. Agora, eles estavam relaxados. Rei sentia a cabeça de Nagisa oscilar com o balançar do trem, a ponta dos seus dedos tocaram o rosto dele quase involuntariamente, e Nagisa se aconchegou contra sua mão.
Ao descer na estação eles estavam de mãos dadas. A praia estava deserta como Rei esperava. Desceram correndo até perto das ondas, então, tiveram que soltar as mãos para tirar os sapatos. A sensação da água fria nos pés dava vontade de nadar.
Em outra época, Nagisa teria feito alguma traquinagem, como espirar água em Rei, mas agora a única coisa que ele tinha vontade era de abraçá-lo.
A água salgada já havia molhado a barra da calça de Rei, mesmo que ela estivesse dobrada até quase o joelho, quando voltaram para apanhar seus sapatos para caminharem onde as ondas se deitavam sobre a praia. Rei estendeu sua mão e Nagisa a segurou. Tudo era sensação. A brisa da maré tinha gosto de mar, e bagunçava os cabelos. As ondas batiam em suas pernas, para depois voltar ao mar, levando a areia sob seus pés. Os últimos raios de sol se derramavam sobre eles, dando-lhes um brilho alaranjado como se fossem feitos de algo etéreo. Os dedos entrelaçados faziam Nagisa se perguntar como chegou a achar que poderia viver sem isso. Como poderia viver sem esse calor no peito e as borboletas que viviam felizes em seu estômago sempre que Rei o tocava daquele jeito?
— Nagisa-kun, tem uma coisa que eu preciso conversar com você. — disse Rei enquanto caminhavam.
— Hum?
— Você já pensou o que vai fazer no ano que vem?
Os pés de Nagisa pararam quando ouviu essa pergunta. Rei deu mais um passo antes de perceber, e suas mãos se soltaram. Rei também parou e se virou para olhar para Nagisa.
— Desculpe-me por perguntar assim de repente, mas você não fala dos seus planos seriamente. Nós vamos nos formar esse ano, então ano quem vem...
— Ah! Eu ainda não me decidi! São tantas coisas que podemos fazer que é difícil escolher uma só! — Nagisa interrompeu, falando rápido e com um sorriso fingido no rosto. — Eu sei o que o Rei-chan vai fazer, você vai para a universidade, não é?
— Sim, eu pretendo continuar os estudos.
— Como era de se esperar do Rei-chan! — disse com orgulho.
Meio sem jeito, Rei arrumou os óculos antes de prosseguir.
— Nagisa-kun, eu gostaria de saber se...
— Eu não vou fazer faculdade. — disse Nagisa, interrompendo pela segunda vez. — Eu ainda não sei o que vou fazer, mas eu não quero continuar estudando.
— Você tem certeza?
— Sim. Estudar se tornou um fardo para mim durante o ginásio. Eu não quero passar mais quatro anos fazendo isso. Quando era mais novo eu achava que meu pai queria que eu assumisse os negócios da família, por isso fui para a escola preparatória. Mas, sinceramente, minha irmã mais velha é muito melhor nisso do que eu, e quando ela disse que tinha interesse em suceder meu pai eu fiquei tão feliz! Eu não tenho que ser o sucessor só porque sou o único filho homem. Além disso, é isso que ela deseja, enquanto eu não tenho interesse algum. Eu quero começar a trabalhar. É só isso que sei por enquanto.
Rei pareceu surpreso com as palavras de Nagisa, ele nunca havia falado tanto e tão objetivamente sobre o futuro como agora.
— Eu entendo. É que pode parecer um pouco cedo, mas eu gostaria de falar sobre a nossa situação. Ou melhor, como ela ficará no ano que vem.
— Hum. Acho que seria uma relação à distância...? — Nagisa disse hesitante.
— Eu não sei se conseguiria manter esse relacionamento à distância. — respondeu Rei.
— Ah.
Nagisa não conseguiu pensar em nada para falar diante das palavras de Rei.
Seria assim? Seu namoro teria um prazo de validade que não ultrapassaria a formatura deles? Ou Rei já terminaria tudo agora, visto que não fazia sentido ficarem juntos se aquilo não tinha futuro?
As mãos de Nagisa começaram a ficar geladas, mas ele não sabia se era por causa do vento frio que vinha do mar, agora que o sol estava se afundando na água. Seu rosto devia estar pálido. Repentinamente sentiu a boca seca e as pernas fracas.
— Nagisa-kun, você está bem?
A voz de Rei o trouxe de volta a realidade, e só então percebeu a preocupação no rosto dele e que ele se aproximava, a mão estendida, prestes a tocá-lo.
Sem pensar, Nagisa se afastou abruptamente. Se Rei o tocasse agora, ele sentia que se despedaçaria.
— Ah. É melhor irmos embora. Está ficando escuro.
Os pés de Nagisa começaram a se afastar enquanto ele ainda falava, depois ele se virou e começou andar rápido, seus pés afundando na areia enquanto tentava deixar a praia.
— Espere, Nagisa-kun! Aonde você vai?
Rei correu atrás dele, mas Nagisa se virou antes que ele pudesse alcançá-lo, os braços estendidos com a palma das mãos em direção a Rei, seus sapatos caíram na areia.
— Não toque em mim!
Rei congelou no mesmo instante.
— Não toque em mim... — ele repetiu quando as lágrimas começaram a embaçar a sua visão, mas ele piscou várias vezes para impedi-las de caírem. — Eu quero ir embora.
— O que aconteceu? Nós estávamos conversando.
— Eu já entendi, Rei-chan. Só me deixe ir embora. Depois a gente conversa, tá?
— Entendeu o quê? Por que você está fugindo? — disse Rei aflito.
— Você não quer um relacionamento a distância. Eu entendo isso. — Só não achei que nós dois fossemos durar tão pouco tempo, Nagisa quis dizer.
— O quê? Você está achando que eu estou terminando?!
Nagisa tentou se afastar de novo quando Rei se precipitou em sua direção, mas antes que pudesse escapar, Rei foi mais rápido e conseguiu segurar suas mãos. Nagisa desmoronou. Como se suas pernas não puderam sustentar seu corpo, e ele ruiu na areia. Abaixou a cabeça para que Rei não visse suas lágrimas. Rei caiu de joelhos diante dele, ainda segurando suas mãos com seus dedos entrelaçados.
— Você está entendendo tudo errado! Eu não quero mesmo um relacionamento à distância, porque eu não quero ficar longe de você! Eu não quero ficar sem você! — Rei apertou as mãos de Nagisa com força. — Vem comigo? Ainda não decidi para qual universidade eu vou, podemos escolher juntos. O que você acha?
Nagisa ergueu o rosto lentamente, e viu o olhar cheio de expectativa no rosto de Rei.
— Ir com você? — perguntou Nagisa com o rosto molhado de lágrimas, ainda sem entender direito.
— Sim. Nagisa-kun, vamos morar juntos?
Os olhos de Nagisa voltaram à vida, enchendo-se se esperança.
— Sério...?
— Certamente!
— Assim parece que você está me pedindo em casamento...
— Sim, eu estou — disse Rei, olhando-o nos olhos —, eu não consigo mais imaginar a minha vida sem você.
— Rei-chan... — Nagisa disse baixinho, antes que novas lágrimas enchessem seus olhos.
Nagisa abraçou Rei, chorando em seu ombro. Rei o envolveu em seus braços, afagando as costas e os cabelos dele.
— Nagisa-kun, qual é a sua resposta? Você pode pensar um pouco se quiser. — disse gentilmente no ouvido dele.
— Eu quero ficar com você! Não preciso pensar mais. Fiquei com tanto medo que você estivesse terminando comigo, que estivesse me deixando...
— Eu não vou te deixar enquanto você ainda me quiser.
— Eu sempre vou querer você!
— Eu também, eu sempre vou querer você.
Rei se afastou apenas o suficiente para que pudesse olhar nos olhos de Nagisa.
— Como eu fui tolo de um dia dizer que o amor é irracional. Eu tenho todas as razões do mundo para amar você. Meu amor por você deu lógica à minha vida e a deixou mais bonita.
Rei afagou o rosto de Nagisa, onde as lágrimas deixaram seus rastros. Seu rosto se aproximou dele como as ondas que chegavam à areia da praia.
— Eu amo você, Nagisa-kun. — Rei sussurrou sobre os lábios de Nagisa.
— Eu também amo você, Rei-chan. — respondeu Nagisa pouco antes de Rei beijá-lo.
A penumbra do fim da tarde jogava seu véu sobre eles, enquanto o barulho do mar embalava a dança que seus lábios faziam um sobre o outro, em um beijo salgado de lágrimas e maresia.
Autor(a): hokutoritsuka
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