Fanfics Brasil - O que quer que aconteça Jiyuuni

Fanfic: Jiyuuni | Tema: Free!


Capítulo: O que quer que aconteça

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Rin se deitou em sua cama no quarto que dividia no alojamento da universidade, e apoiou a cabeça sobre as mãos. Estava pensando em alugar um apartamento e morar sozinho no próximo ano. Morar no campus da universidade era prático e econômico, além de permitir que ele focasse a sua atenção no treino e não em trivialidades cotidianas, mas tinha suas desvantagens: a falta de sossego nos fins de semana, além da pouca privacidade.


Aos pés da cama estava sua mochila já pronta e fechada para a semana que passaria no Japão.


Quando esteve morando na Austrália anteriormente, ele se limitou a voltar para casa nos fins do ano, mas agora tentaria voltar durante o verão também, mesmo que fosse por apenas uma semana. Ficar o ano inteiro longe de casa não havia feito bem para ele naquela época.


A última vez que esteve de volta ao Japão durante um torneio, mal conseguiu conversar com seus amigos. No entanto, ele pôde se encontrar com Sousuke, depois de meses sem ter contato algum com ele. Os dois conversaram, se entenderam. E mesmo que por pouco tempo, eles ficaram juntos, desfrutando da companhia um do outro.


Nos dias que ficaria no Japão agora, queria ver a mãe e a avó, dar um pouco de atenção à irmã, rever os amigos e o namorado.


Era triste que Sousuke e ele tivessem demorado tanto tempo para perceberem que seus sentimentos eram mútuos. O ano que haviam passado juntos, dividindo o mesmo quarto, havia os reaproximado como amigos, ao menos. Agora, Rin pensava em como seria se tivessem começado a namorar ainda no Samezuka. Poderiam ter aproveitado melhor o tempo juntos, mas por outro lado, novamente, tinha o problema da falta de privacidade. As paredes do dormitório não tinham isolamento acústico algum. Quantas vezes Momotarou havia invadido o quarto deles ao ouvi-lo falar sobre Gou? Às vezes, era difícil até ter uma conversa em paz.


Rin nunca havia tido muita disposição para pensar em relacionamentos até então. Quando morou na Austrália anteriormente, tudo que queria era treinar e deixar para trás suas frustrações. Mas isso não significava que ele era completamente inexperiente.  Lá pelos seus 15 anos, teve um affair com um garoto que havia conhecido na pista de skate. Um garoto de olhos azuis e cabelos escuros. Na época, não sentia uma gota de remorso por usar aquele garoto, ele também não queria nada sério com Rin, era apenas alguém conveniente que estava por ali, alguém que poderia beijar num canto escondido do parque nos fins de tarde. Tinha uma satisfação quase sádica em como conseguia beijá-lo sem sentir nada por ele, virar as costas e ir embora, como se fosse outra pessoa que ele deixava para trás. Agora, ele se sentia envergonhado por essa vontade que tinha de magoá-lo.


Em que momento Rin havia se tornado esse tipo de pessoa?


Quando criança, ele era romântico e sonhador, e sua inocência misturava as cores da paleta chamada amor. Qual era a diferença entre o amor que ele sentia por amigos diferentes? Não deveria amar a todos eles do mesmo modo? Havia algo que diferia entre o que ele sentia por Kisumi e o que sentia por Sousuke. Eles eram seus melhores amigos, não deveria ser tão discrepante assim. Então, por que havia aquela necessidade de ter Sousuke sempre por perto? De convencê-lo de suas ideias, de desafiá-lo a cada momento?


Eles eram tão parecidos. Não havia mais ninguém no mundo que fosse assim para Rin. Apenas Sousuke.


Quando Sousuke se recusou a nadar o revezamento, Rin sentiu como se ele rejeitasse não apenas ao seu desejo de participarem da prova juntos, mas toda a essência do que Rin acreditava, o companheirismo, a vontade de compartilhar com ele todos os aspectos da sua vida. Rin queria tudo com ele, mas Sousuke não.


Então, seus olhos se voltaram para Haruka.


Queria ter com Haruka o mesmo relacionamento que tinha com Sousuke, ou melhor, queria mais, queria ir até onde Sousuke nunca teria permitido. Quis ser para Haruka o que Makoto era.


Foi justamente por causa de Makoto que Rin começou a entender, em partes, esse sentimento que passou a ter por Haruka. Makoto que sempre esteve ali, ao lado de Haruka. Sua presença calma e cuidadosa, seus olhos que sempre seguiam Haruka. Sua afeição por Haruka era fácil de entender, até a criança que Rin era pôde perceber a grandeza dos sentimentos dele. E quanto ao próprio Rin? Quanto daqueles mesmos sentimentos havia dentro dele? Queria capturar Haruka como um passarinho e prendê-lo em uma pequena gaiola imaginária que pudesse levar para onde fosse.


Por fim, Haruka correspondeu aos seus sentimentos em relação ao revezamento. Até aquele garoto de aparência fria podia ter um olhar quente e uma presença arrebatadora. Rin conseguiu ter seu olhar e sua atenção, apenas para deixá-lo logo em seguida.


E depois houve aquele dia, quando se reencontraram na linha do trem.


Projetou suas frustrações em Haruka. Todas aquelas pessoas que ele não conseguia vencer, como poderia se nem mesmo conseguia ganhar de Haruka? Um garoto de uma cidade pequena que nem ao menos nadava para ser rápido. Sentia-se perdido enquanto buscava um objetivo que parecia cada vez mais longe. E havia a solidão. Também havia a solidão que pesava sobre suas costas como se fosse um manto negro, ficando mais denso a cada dia, curvando seus ombros. Nunca havia se sentido tão solitário e perdido, nem quando se mudou para Iwatobi, nem quando Sousuke o rejeitou.


Algo se quebrava nele, dia após dia. Era seu coração que se quebrava lentamente. Estava vulnerável demais, fraco demais. E a culpa era dele. Era de todos eles, mas principalmente de Haruka. Estava definhando, e a culpa era dele. Quando tudo que ele conseguia pensar era nele, as doces lembranças passaram a ser amargas. Se não sentisse tanta saudade, aquilo não doeria tanto. Se destruísse aquele Haruka que havia dentro dele, talvez Rin pudesse ser mais forte.


Rin tinha consciência, agora, de como a sua presença havia sido nociva para a maioria dos seus amigos. Seu egoísmo havia deixado uma trilha de vítimas por onde passou. Haruka havia parado de nadar por sua causa, e de certo modo, Sousuke também. Com sua rispidez havia magoado Makoto, Nagisa e Aichirou.


Durante o segundo revezamento que nadou com Haruka, Makoto e Nagisa, ele havia renascido não apenas como atleta, mas como pessoa também. Nunca mais seria negligente, nunca mais magoaria seus amigos, nem os culparia por seus próprios problemas. Seus amigos não eram de modo algum a sua fraqueza, mas sim a sua verdadeira força.


Iria revê-los nos próximos dias. Todos estariam em Iwatobi para o obon e havia conseguido se programar para ter uma folga ao mesmo tempo. Seria uma boa semana.


* * *


— Oniichan! — gritou Gou, acenando, assim que Rin saiu da estação. Do lado dela estava a mãe deles.


— Gou, mãe, não precisavam ter vindo me buscar.


— Rin, meu menino! Olha como você cresceu!


— Mãe, eu não cresci desde a última vez que estive aqui... — Rin respondeu enquanto sua mãe o puxava para um abraço. — Tudo bem com vocês?


— Estamos ótimas! — respondeu sua mãe — Ainda mais agora que você está aqui!


— Ai, mãe...


— Sua avó também está com saudades!


— Ela não estava acreditando que você viria para o ­obon. — disse Gou, dando risada.


— Aff... — Rin nem tinha como protestar pela falta de confiança da avó.


A mãe de Rin havia vindo buscá-lo de carro, apesar da casa deles não ser longe da estação. Conversaram sobre as novidades durante o curto trajeto.


— Nagisa e Rei disseram que vocês conseguiram classificar o revezamento medley para as regionais esse ano, também. Parabéns!


— Obrigada! Sim, nós conseguimos! Classificamos quatro eventos. Nagisa-kun e Rei-kun se classificaram individualmente, além da Shun-san.


— Shun é a garota que você disse que havia entrado este ano?


— Isso! Nagisa-kun esteve a ajudando com o bure e ela melhorou bastante! Pena que não conseguimos o mesmo número de classificações que tivemos no ano passado.


— Isso é natural. A maioria dos alunos do clube é do primeiro ano, e ano passado vocês tinham o Haru e o Makoto.


— Tem razão.


— Falando neles. Sabe se eles já estão em Iwatobi?


— Sim, eles chegaram no começo do feriado. — Gou se inclinou em direção a Rin, que estava no banco da frente, e falou um pouco mais baixo em seu ouvido. — Eles tinham uma coisa para conversar com os pais deles. Acho que eles têm uma novidade para contar para você, também.


— O que vocês dois estão segredando aí? — perguntou a mãe deles com um sorriso.


— Nada, mãe. Só as novidades do clube. — respondeu Gou.


— Não achei que até você acabaria entrando em um clube esportivo, Gou-chan. — ela comentou, apenas deixando o assunto passar.


— Culpa do Oniichan!


Ou talvez seja influência do nosso pai, pensou Rin.


— O Sousuke-kun também veio de Tokyo para o feriado. — disse a mãe dele.


Rin ficou meio encabulado, fazendo sua mãe e irmã rirem. Então, Rin se lembrou de como havia ligado para a mãe para contar que estava em um relacionamento. Em um relacionamento com seu amigo de infância. Ela ficou surpresa, obviamente, mas também feliz por eles.


Assim que chegaram, fizeram um lanche, todos sentados na mesa da cozinha, uma cena doméstica e tão rara. Gou e a mãe deles conversavam como melhores amigas, entusiasmadas com a volta de Rin. E Rin não pôde deixar de pensar em como as duas eram fortes. Gou havia perdido o pai quando ainda era tão pequena, e sua mãe havia perdido o marido tão jovem, aquele que era o amor da sua vida. Agora, conseguiam sorrir como se já não tivessem passado por tanta dor em suas vidas.


— Você não quer ir ver se o Sousuke-kun está em casa? — perguntou sua mãe, interrompendo seus pensamentos.


— Ah... Mas eu acabei de chegar...


— Não tem problema, Oniichan! Vai lá! — incentivou Gou, cheia de entusiasmo.


Rin ficou sem graça com a torcida das duas, mas era menos embaraçoso ir do que argumentar.


Quanto tocou a campainha da casa de Sousuke, se deu conta de que não ficava diante daquela porta desde que havia ido morar com a avó, quando se transferiu para a Escola Iwatobi. Isso parecia ter acontecido em outra vida.


Quem abriu a porta foi o próprio Sousuke, usando roupas confortáveis para ficar em casa, uma calça de malha e uma camiseta de algodão que marcava seu torso definido.


— Rin! — Sousuke o puxou para um abraço quase imediatamente, pegando-o de surpresa. — Quando você chegou?


— Cheguei agora. Só dei uma passada na casa da minha mãe.


— Estava assim ansioso para me ver? — perguntou Sousuke, soltando-o do abraço, com um sorriso cheio de charme no rosto.


 — Seu convencido!


Sousuke deu risada, algo que era tão raro no ano anterior. Era bom vê-lo mais leve e descontraído.


— Vamos, entre!


Sousuke estava sozinho em casa, então subiram para o seu quarto. Enquanto ele foi buscar algo para tomarem, Rin ficou observando o quarto dele. Não era de se admirar que não houvesse mudado quase nada desde a última vez que havia estado ali, já que Sousuke ficou boa parte da adolescência morando fora de casa. Os antigos pôsteres de nadadores nas paredes ainda estavam lá, sobre a escrivaninha livros que não eram abertos há anos. E um porta cartas cheio de envelopes aéreos.


Sousuke retornou com uma bandeja com dois copos de chá gelado enquanto Rin observava os envelopes com as bordas listradas em vermelho e azul.


— Essas cartas são...?


— Sim, são as cartas que você me enviou da Austrália.


— Então você as guardou...


— Quando voltei de Tokyo, eu as deixei aqui. Todas, menos uma. A sua última carta, eu a entreguei para o Haru.


— Quando foi isso? — perguntou Rin, surpreso.


— Logo que a recebi. Achei que era isso que você queria. Você escreveu aquela carta para ele, e não para mim, não é?


Rin desviou o olhar envergonhado.


— Você me conhece bem demais.


— Então, eu acertei.


— Sim.


— Você devia ter escrito para ele. Ele teria respondido.


— Eu acho que não.


— Ainda acha isso? Não aprendeu a confiar nos seus amigos?


— Tsk... — Rin suspirou. — Talvez você esteja certo.


— Eu sempre estou certo.


— Exceto quando está errado. — respondeu Rin, rindo.


Sousuke também riu, mas logo ficou sério.


— Talvez se você tivesse enviado a carta para o Haru, ele teria conseguido manter o seu foco, e você não teria parado de nadar. — Rin também ficou sério ao encarar Sousuke. — Afinal, ele é a sua maior motivação.


Rin franziu o cenho.


— E você estaria bem com isso?


— Eu preferiria que você não tivesse passado por tudo o que passou, que você não tivesse ficado tão infeliz.


Rin não soube o que responder.


— Mas isso não quer dizer que eu não lutaria por você. — disse Sousuke depois de um breve silêncio. Então, puxou Rin para um abraço, seus dedos mergulhando entre nos cabelos sedosos da nuca de Rin, enquanto ele o aninhava em seus braços, a outra mão em suas costas.


— Eu sei.


Seja lá o que tivesse acontecido, Rin sabia que eles se encontrariam. Rin acreditava nisso. Não importava quantos obstáculos tivessem que superar ou quanto tempo levasse. Eles ficariam juntos.


Tudo havia começado com ele, afinal, com seus sentimentos por Sousuke. Foi a tristeza e a desilusão de ser rejeitado por ele que fez Rin perseguir Haruka, depositar suas esperanças e frustrações nele, usando-o como um substituto para Sousuke. De algum modo, o que sentia inicialmente por Sousuke havia permanecido intocado em algum lugar do seu coração por todos aqueles anos, sem ser profanado por seus dias sombrios. Amava Sousuke com o mesmo sentimento puro que fora seu primeiro amor.


Rin apertou seu abraço em torno do namorado, seus dedos se fechando sobre o tecido da camiseta nas costas dele, o rosto escondido na curva do seu pescoço. Era seu modo de dizer o quanto ele queria estar com Sousuke, independente do que havia acontecido no passado.


Sousuke, por sua vez, aninhou o rosto de Rin em uma das mãos e o trouxe para perto, para o aconchego dos seus lábios, como se dissesse “está tudo bem”.


O beijo de Sousuke era suave e ao mesmo tempo intenso, veludo quente e irresistível. Com tão pouco, Rin já sentia seu corpo perder as forças, os batimentos acelerando em seu peito, era algo que ele nunca havia sentido antes. Nunca havia provado beijos mais intensos do que os de Sousuke. Ofegou ao sentir a língua dele deslizando para dentro de sua boca, provando seu gosto, o devorando, inflamando seus sentidos. Sua mente ficava turva, enquanto aconchegava mais seu corpo ao dele, sentindo o peito largo e firme, a cintura estreita e o quadril tão próximo que era tentador. A única coisa que conseguia pensar era que queria mais daquilo, muito mais. Queria tudo.


E então um som vindo sabe-se lá de onde cortou a paz do silêncio do quarto de Sousuke, atravessando sua mente confusa.


— Rin, é o seu telefone. — disse Sousuke, depois de conseguir de afastar o suficiente para articular essas palavras.


— Ignore. — Rin respondeu, tentando voltar para a boca de Sousuke.


Sousuke soltou uma risada suave como música.


— Vai, Rin, atende.


— Tsk, tá bom.


Rin pescou o celular de dentro do bolso da calça sem tirar os olhos de Sousuke, relutando em ter que perder até o contato visual. Deslizou o celular e aceitou a chamada sem nem olhar.


— Al...


Oi, Rin-chan!! — interrompeu a voz alegre de Nagisa, sem dar a chance de Rin dizer sequer “alô”. — Você já chegou?


— Oi Nagisa. Sim, acabei de chegar.


Como foi a viagem?


— Normal.


Ei, Rin-chan, você vai ao festival da lula?


— Hum, não sei ainda.


Ah, vamos, por favor! O Haru-chan e o Mako-chan já disseram que vão!


Antes que Rin respondesse, houve um farfalhar do outro lado da linha, então ouviu a voz grave de Rei.


Olá, Rin-san! Como você está?


— Ah, oi, Rei. Estou bem e vocês?


Estamos ótimos! Rin-san, o que o Nagisa-kun estava tentando dizer é que vamos nos reunir no festival da lula. Você gostaria de vir? Ainda vamos ligar para o Aichirou-san, o Momotarou-kun, e o...


Rin-chan, pede para o Sou-chan vir também! — Nagisa voltou a falar no telefone.


Espere, nós não íamos ligar para o Yamazaki-san?


Uê, provavelmente o Rin-chan vai falar com ele antes, e é mais fácil ele aceitar se o Rin-chan pedir...


Rin deu um suspiro enquanto ouvia os dois discutindo como se não o tivessem deixado esperando na linha.


Então, Sousuke segurou o pulso de Rin que segurava o telefone e se aproximou para falar com os dois do outro lado da linha, mas sem afastar o aparelho do ouvido de Rin.


— Oi, pessoal. Obrigado pelo convite.


Yamazaki-san?! Você estava aí?!


Hã?! Sou-chan?! Ah! Vocês estavam namorando agora?


O quê?! Nós interrompemos alguma coisa? — Rei perguntou, afoito.


Sousuke deu uma risadinha e se afastou ao que Rin estreitou os olhos.


— Você fez de propósito? — Rin disse, apenas movendo os lábios, sem emitir som.


Sousuke respondeu com um sorriso de lado que ao mesmo tempo era muito sensual e muito irritante. Enquanto isso, Nagisa e Rei continuavam falando do outro lado da linha.


— Vocês dois se acalmem. E esperem um momento, por favor. — Ao dizer isso, Rin cobriu o celular com a mão. — O que acha de ir ao festival, Sousuke?


— Parece interessante.


— Nós vamos, sim. — confirmou Rin.


Legal!! — disse Nagisa.


Então nos vemos mais tarde! — Rei falou antes de terminar a ligação.


Rin deslizou o telefone de volta para o bolso da calça e coçou a nuca antes de falar. A interrupção havia arruinado o clima e agora ele se sentia meio envergonhado e excessivamente consciente da presença de Sousuke.


— Bem, acho que vou para casa. Estou cheirando a aeroporto e precisando de um banho.


— Mais tarde eu passo na sua casa para irmos para estação juntos, tudo bem?


— Ok.


Rin tentava não pensar demais na situação enquanto Sousuke o acompanhava até a porta, ou sabia que ficaria constrangido.


— Até mais tarde, Sousuke.


Rin estava prestes a abrir a porta quando ouviu passos descendo para o genkan, logo atrás dele.


— Rin.


Ele se virou institivamente ao ouvir seu nome sendo chamado, sem se dar conta de como a voz estava próxima.


Os dedos de Sousuke pousaram suavemente em seu rosto e ele se inclinou para lhe dar um beijo de lábios fechados.


— Até mais tarde, Rin.


Demorou alguns instantes para que Rin recuperasse a sua capacidade de pensar e se mover, para então poder tomar o caminho de sua casa. O rosto em chamas. O que Sousuke estava fazendo com ele?


* * *


Não haviam marcado um ponto de encontro na feira que se estendia pelo porto de Iwatobi, afinal o lugar nem era tão grande assim, e não demorou para que Rin e Sousuke fossem encontrados pelos meninos de Iwatobi.


— Rin-chan! Aqui! — Era Nagisa que acenava de uma barraca ali perto. — Uê? Cadê a Gou-chan?


— Ela vem depois, disse que não ia ficar segurando vela de todo mundo. — respondeu Rin.


— Ela não quis andar com a gente?! Que maldade! Mas nós chamamos o Ai-chan e o Momo-chan, também.


— Talvez seja por isso que ela não quis andar em grupo. — comentou Sousuke, e todos deram um sorriso amarelo, lembrando-se da paixonite que Momotarou tinha por ela.


 — Vocês querem ir ao templo primeiro? — perguntou Makoto para saírem daquele clima estranho. — Ou vocês preferem esperar o Momotaru-kun e o Nitori-kun?


— Talvez seja melhor esperar. — concluiu Rin.


— Ah, o que acham de ir àquela barraca de tiro ao alvo ali? Como fica aqui perto da entrada, eles vão nos ver assim que chegarem. — disse Nagisa.


— Parece interessante. — disse Rin, e todos os outros concordaram.


Acabaram disputando entre si quem seria o melhor atirador, e portanto, acumularia mais pontos, quem errava era eliminado da competição. Rin não foi muito bem e foi o primeiro a errar; Rei estava explicando a sua teoria infalível sobre tio ao alvo, quando, para seu horror, também errou; depois Makoto cometeu um deslize e foi eliminado. Rei permaneceu ao lado de Nagisa, torcendo por ele, enquanto Makoto e Rin se afastaram um pouco, já que a disputa entre os outros três parecia que ia demorar.


— É bom ver todos reunidos assim, mesmo depois de termos nos separado ano passado. — disse Makoto com os olhos ternos.


— Sim, mas não estamos exatamente separados — Makoto olhou interrogativamente para Rin, então ele continuou —, estamos todos ligados pela nossa amizade, não é?


— É verdade. — respondeu com um sorriso.


Ficaram em um silêncio breve, mas confortável, antes de Makoto voltar a falar.


— Como vão as coisas na Austrália, Rin?


— Tudo vai bem. É incrível como está sendo uma experiência tão diferente de quando fui lá pela primeira vez.


— Que bom!


— E você e o Haru? Se adaptaram à Tokyo?


— Sim, mas foi um pouco difícil no começo. É uma cidade tão grande e tão diferente de Iwatobi! Mas sabe, sempre que pensávamos que você havia enfrentado coisa mais difícil quando era bem mais jovem do que nós dois, tentávamos ser fortes, também.


Rin ficou surpreso com as palavras de Makoto, e isso fez com que corasse de vergonha.


— Bem, não fui tão forte assim, você sabe.


Makoto não respondeu, mas isso não mudava o fato de que achava Rin incrível por ter enfrentado tantas dificuldades sem medo.


— Sabe, às vezes, penso naquela época — Rin voltou a falar —, quando vim para Iwatobi. Na verdade, tenho pensado um bocado nisso ultimamente. Acho que eu fui uma criança muito ardilosa. — disse meio sem jeito, olhando para o lado.


— Por quê? Eu sempre te achei tão focado.


— Hunf, você sempre vê o melhor das pessoas, não é, Makoto? — disse Rin, e depois fez uma pausa. — Eu... Eu usei você para chegar até o Haru, usei o Nagisa para comovê-lo, e usei o Haru para tapar o buraco que Sousuke havia deixado em mim.


— Eu não acho que você fez isso.


— É claro que fiz. Você vai me dizer que quis nadar o revezamento, eu sabia disso e usei a meu favor, também. Era óbvio que a ideia de nadar com o Haru te seduziria. E se fosse um pedido seu, ele atenderia. Eu pedi para você falar com ele, lembra?


— Mas eu ia falar independente disso...


Rin riu de um jeito de quem sabe das coisas ao ouvir as palavras de Makoto.


— Eu não teria conseguido me aproximado do Haru se você não estivesse lá. Ele não teria permitido que eu me aproximasse. Acho que você já sabe disso, mas nada foi por acaso.


Makoto se limitou a assentir.


— Depois que Sousuke se recusou a nadar comigo, eu fiquei desolado. Eu esperava tanto dele, e ele simplesmente disse que aquilo era bobagem. Nossa amizade não era o suficiente para fazê-lo querer nadar comigo, mas assim que eu vi o Haru e você, eu soube que a amizade de vocês seria e eu invejei isso. Eu mudei de escola por causa do Haru. — Rin fez uma pausa para olhar para Makoto de um jeito muito franco. — Eu queria ser para ele o que você era e quis que ele fosse para mim o que Sousuke era. No fim, não consegui nenhuma das duas coisas.


— Eu nunca consegui que ele me olhasse como olha para você. — desabafou Makoto.


Rin ficou surpreso.


— E como me ele olha?


— Ele te olha com intensidade. Você o faz nadar para valer. Ele não me vê como um rival.


— Isso é diferente. Eu demorei em perceber que a relação que você tem com ele é muito diferente da que eu tenho com o Sousuke. Nós vivíamos nos desafiando, essa era a nossa natureza, sabíamos como lidar caso qualquer um nós perdesse. Você e Haru são diferentes, faz parte da natureza de vocês não se enfrentarem. Sabe por que ele não gostou de ser desafiado por você? Porque ele tem medo da sua reação caso perca e isso é minha culpa. Ele achou que me magoou quando me venceu naquele fim de ano e ele nunca se perdoaria se visse você no estado em que eu estava. — disse Rin com tristeza. — Ele pode até me olhar com intensidade, mas é com amor que ele te olha.


As sobrancelhas de Makoto se ergueram de surpresa.


— Ele se preocupa muito com você. — Rin continuou, serenamente. — E você não teria desejado desafiá-lo se não fosse por mim. — Rin completou a frase com sorriso convencido e cheio de si, mas ainda mais cheio de ironia e sarcasmo. Depois voltou a ficar sério. — Desculpa, Makoto.


— Por que está se desculpando?


— Porque abalei o mundo em que vocês viviam em paz, só porque não consegui lidar com meus próprios problemas sozinho. — Rin ficou em silêncio, ponderando se deveria dizer as próximas palavras, mas ele estava tentando, finalmente, ser completamente honesto, não é? Era nisso que ele esteve pensando havia muito tempo. — Eu desejei roubá-lo de você. — Aquela nem era uma revelação, estava mais para uma constatação. — Você sabe que eu gostava dele, não?


Novamente, Makoto apenas assentiu. Era claro que ele sabia.


— Acho que me apaixonei pelo nado dele. — Rin disse com a expressão serena, mas aquela frase fez um choque percorrer o corpo de Makoto. Uma coisa era saber, outra era ouvi-la em voz alta. — Eu sabia que ele era difícil de aproximar, mas depois de estudar na mesma escola, na mesma turma, e ir ao mesmo SC, eu percebi como ele era inacessível para mim. Desde aquela época, ele só tinha olhos para você.


— As coisas não eram assim naquela época.


— Talvez ele não tivesse percebido ainda, mas era, sim. Sempre foi. Acho que percebi a besteira que estava fazendo quando já tinha interferido demais, e ainda assim, meu desejo de nadar o revezamento me fez passar por cima de tantas coisas. Você se lembra daquele dia em que o Haru caiu no rio?


— Sim, eu me lembro. — respondeu Makoto sem conseguir esconder o tremor que percorreu sua voz.


É claro que você se lembra. Nem por um instante eu achei que você se esqueceria daquele dia, pensou Rin antes de continuar.


— Eu também fiquei preocupado com o Haru, é claro, mas de algum modo eu sabia que ficaria tudo bem com ele. Mas quanto a você... O que mais me assustou naquele dia não foi o acidente do Haru, foi a intensidade do seu medo. O seu medo de perder o Haru.


Makoto estava com o cenho franzido, algo tão raro em sua expressão sempre leve. Ele engoliu em seco ao ouvir as palavras de Rin.


— Me senti culpado por desejar tirá-lo de você, quando para mim, apesar do meu carinho genuíno, ele era apenas um substituto.


Makoto só conseguiu balançar levemente a cabeça, Rin não precisava se desculpar.


— Quando voltei da Austrália, eu só olhava para meu próprio umbigo, não percebi como o Haru estava diferente. Se o Rei não tivesse me dito, talvez eu nunca termia me dado conta. Sabendo como ele ama nadar, saber que ele havia parado depois daquele dia foi um choque. Eu nunca achei que aquilo tivesse afetado ele tanto assim.


Ambos ficaram em silêncio. Pessoas caminhavam ao redor deles, e ao longe, podiam ouvir a voz estridente de Nagisa por cima do vozerio.


— Foram dias difíceis. — disse Makoto, por fim. Ele mesmo raramente se permitia pensar naquela época. — Ele não me disse nada, mas eu sabia que havia acontecido alguma coisa. Ele saiu do clube de natação e disse que não queria mais nadar. — Makoto não conseguiu continuar. Sabia como Rin estava arrependido do que havia acontecido entre ele e Haru, qualquer coisa que dissesse apenas o magoaria. Fechou os olhos ao se lembrar daquele Haru, tão pequeno dentro do uniforme, os ombros arqueados como se tivesse um peso brutal sobre eles, o peso da culpa. A cabeça baixa, às vezes, debruçada sobre a carteira, o rosto escondido. Até a sua expressão triste foi morrendo aos poucos, e o que restou foi o silêncio.


— Entre todos os erros que cometi, das mancadas que dei, se eu tivesse o poder de concertar um delas, mudaria o que aconteceu aquele dia. — disse Rin, interrompendo os pensamentos de Makoto.


— Mas você se redimiu, Rin. Se não fosse por você, o Haru teria parado de nadar ano passado.


— Isso não apaga o sofrimento dele. E nem o seu.


Makoto ergueu as sobrancelhas, surpreso.


— Eu aprecio os seus sentimentos, Rin. — disse com um sorriso. — Obrigado por se preocupar conosco.


Makoto era assim. O sorriso bondoso e compreensivo mesmo quando Rin tentou levar parte de sua própria vida, mesmo depois de Rin magoar todos eles. Talvez não merecesse um amigo tão benevolente.


— Obrigado, Makoto.


Não era mais uma questão de merecer ou não, mas de valorizar. Rin poderia não merecer os amigos que tinha, mas cuidaria bem deles dali para frente.


— Se não fosse por vocês eu também não teria voltado a nadar. — Rin continuou. — Não teria tido coragem de voltar a erguer a cabeça de novo. — Dito isso, Rin olhou para as costas dos amigos que estavam na barraca de tiro ao alvo, para os ombros largos de Sousuke. Não teria tido coragem de voltar a encarar Sousuke.


— Uau! Haru-chan! Você foi incrível! — A voz de Nagisa soou particularmente alta, chamando a atenção dos dois que conversavam.


Os quatro finalmente deixavam a barraca do tiro ao alvo. Haruka trazia nos braços uma enorme pelúcia preta, Sousuke tinha uma menor nas mãos e Nagisa tinha uma caixinha com alguma guloseima. Só de olhar era claro quem havia conseguido mais pontos entre eles.


— Então, Sousuke, perdeu para o Haru, também? — provocou Rin com um sorriso de lado quando eles se aproximaram.


— Olha quem está falando, você foi eliminado na primeira rodada.


— Eu demorei para errar, mas também não acertava no centro do alvo de jeito nenhum! — resmungou Nagisa, fazendo bico.


— Não se preocupe, Nagisa-kun! Você resistiu bravamente!


— Incrível, Haru! Parabéns! — disse Makoto.


Haruka ficou meio sem jeito e em vez de responder, apenas estendeu a pelúcia gigante que havia ganhado. Makoto olhou para ela sem entender, até perceber que era uma orca.


— Para você, Makoto.


Makoto abriu um sorriso enorme e pegou a pelúcia, abraçando-a com carinho, como uma criança que ganha um presente.


— Obrigado, Haru-chan!


O uso do conhecido sufixo só deixou Haruka ainda mais encabulado. Enquanto Rin pensava consigo mesmo como o casal de amigos conseguia ser tão meloso em público, o que era surpreendente se tratando de duas pessoas tão reservadas, ele se lembrou de que Gou havia dito que os dois tinham algo para contar para ele.


— Ah, Makoto, Haru, a Gou disse que vocês tinham uma novidade.


Os dois coraram levemente e se entreolharam, então sorriram um para o outro e Makoto tomou a palavra, como sempre.


— Nós decidimos morar juntos a partir da primavera.


— Oh! É sério?! Meus parabéns! — disse Rin entusiasmado.


— Parabéns aos dois!  — Sousuke ecoou as congratulações de Rin, também feliz pelos dois.


— Que sorte a sua, Mako-chan! O Haru-chan é um ótimo cozinheiro! Falando nisso, eu nem sei se o Rei-chan sabe cozinhar!


— Eu nunca tentei de fato. Pelo menos nada sofisticado, mas certamente eu me sairia bem depois de estudar a teoria e com alguns livros de receita...


— Ah, não, Rei-chan! Se você começar a falar sobre dominar a teoria isso vai te dar azar!


Makoto ia dizer que ele também estava aprendendo a cozinhar e que não deixaria essa tarefa exclusivamente para o Haruka, mas não conseguiu encontrar oportunidade, quando Nagisa e Rei passaram a conversar sobre os dotes culinários de ambos. Makoto e Haruka já haviam combinado que dividiriam as tarefas domésticas, enquanto divagavam em como seria a vida de casados.


 — Oniichan! — chamou Gou, interrompendo a conversa que já havia fugido completamente do assunto.


— Finalmente apareceu, Gou. — respondeu seu irmão.


— Boa noite! — cumprimento Hana-chan e as outras pessoas que estavam com elas.


— Ah, acho que vocês já tinham se encontrado no torneio, mas deixe-me apresentá-los! Esses são os novos membros do clube de natação de quem eu havia falado: Shun-san, o irmão dela, Sakuya-kun e o Hikari-kun. Meu irmão Rin e nosso amigo de infância Sousuke.


— Amigo de infância e namorado. — completou Sousuke.


— Eu devia te chamar de Oniichan também? — perguntou Gou com um sorriso provocador, mas Sousuke apenas desviou o olhar como se não fosse com ele.


— Sakuya-kun e Hikari-kun nadaram o revezamento com o Nagisa-kun e comigo no torneio da prefeitura. — disse Rei.


— E vamos nadar juntos de novo no torneio regional, né? — completou Nagisa.


— Ah, parabéns ao cinco pela classificação! — disse Rin.


Os membros do clube de natação do Colégio Iwatobi estavam prestes a responder quando foram interrompidos por uma voz que se aproximava rapidamente.


— Gou-san!!! — Momotarou vinha correndo com Aichirou em seu encalço.


— Momo-kun, não fique correndo no meio das pessoas desse jeito!


— Há quanto tempo que eu não te vejo, Gou-san!


— Mas nós nos vimos no treino conjunto, semana passada...


— O que... O que você acha de andarmos juntos pela feira, Gou-san? S-só nós doi...


— Momo! — Rin não queria nem que ele terminasse o convite. Um calafrio percorreu sua coluna só com a ideia da sua preciosa irmã andando à noite com aquele garoto com os hormônios à flor da pele. — Que história é essa?! Você não veio para andar com a gente?!


— Ah! Mas eu prefiro andar com a...


— Nem vem com essa!


— É, bem, acho que já vamos indo. — disse Gou, se esquivando antes que Momotarou tivesse oportunidade de terminar o convite.


O grupo se despediu e saiu o mais rápido possível, enquanto Rin segurava Momotarou.


— Como você é cruel, Rin-senpai! — choramingou Momotarou.


— Pare de reclamar.


— Vocês já comeram alguma coisa? — perguntou Aichirou, tentando mudar o foco da discussão.


— Ainda não. Não querem ir ao templo antes? — perguntou Makoto.


Os dois recém-chegados concordaram e como só estavam esperando por eles, o grupo todo foi para o templo que sediava o festival e era dedicado a uma divindade da água. Depois de fazer suas orações pelas competições que estavam por vir, voltaram à feira para escolher qual comida provariam primeiro.


Rin estava pensando na conversa que havia acabado de ter com Makoto. Coisas que ele queria dizer há tempos e, finalmente, o pedido de desculpas que havia demorado tanto tempo.


— O que foi, Rin? — perguntou Sousuke, percebendo que tinha algo diferente nele.


— Hum? Não é nada. Eu estava conversando com o Makoto mais cedo, estava pensando nisso agora. Ele também foi muito influenciado pelas decisões que tomei. Quando fui para a Austrália com o Haru, conversamos bastante, mas acho que nunca tive a oportunidade de ter uma conversa franca com o Makoto. Ano passado ele estava preocupado com tantas coisas.


— Entendo.


— Acho que agora eu sei quais coisas eu mudaria no meu passado. Eu não teria desafiado o Haru naquele inverno. Se eu não tivesse feito isso, não teria dito para ele que estava deixando a natação e ele não se sentiria culpado por isso. E outra coisa, eu não teria deixado de escrever para você.


Sousuke ficou surpreso com a última frase de Rin, mas sua expressão logo se suavizou com um de seus sorrisos encantadores e que antes eram tão raros.


— Eu também fiquei um tempo sem dar notícias, então estamos quites. E agora você me escreve direitinho.


— Não só escrevo, né? Tem as nossas chamadas de vídeo. — disse com um sorriso de lado.


— Por que você está falando isso com esse sorriso obsceno? Ou melhor, por que uma frase inocente parece tão pervertida na sua boca?


— Isso é um elogio, namorado?


Sousuke ficou sério com a palavra.


— Hum, Rin, você não ficou constrangido quando eu disse que somos namorados na frente daquelas pessoas, não é?


— Claro que não! Por que ficaria? Eu quero é mais que todo mundo saiba o namorado atraente que eu tenho!


Rin achou que Sousuke responderia à sua provocação com outra a altura, mas em vez disso ele corou um pouco. O que era lindo de se ver. E então empurrou a pelúcia que segurava para Rin.


— O que é isso?


— É para você. Eu me esqueci de entregar.


Rin não havia reparado que a pelúcia era um tubarão vermelho escuro, isso o surpreendeu. Não poderia culpar Makoto e Haruka por serem melosos. Sousuke e ele também eram. E sinceramente, essa era uma sensação maravilhosa.


* * *


Sousuke abriu a porta do seu apartamento e entrou primeiro, continuavam a conversa enquanto Rin tirava os sapatos no genkan. Quando ele subiu o degrau, Sousuke o puxou para cima, para perto dele, uma mão segurou seu rosto, e depois de esperar por isso o dia todo, ele o beijou.


— Eu estava com tanta vontade de beijar você. — disse Sousuke.


Depois ele soltou Rin e foi deixar as sacolas sobre a bancada da cozinha, deixando um Rin estupefato para trás. Era um mistério como Sousuke podia manter sua postura calma e confiante, e simplesmente continuar como se não tivesse acabado de juntá-lo em um beijo de tirar o fôlego.


Rin passaria a noite no apartamento de Sousuke. Seu voo para Austrália era no dia seguinte, então seria mais cômodo do que viajar durante a noite e ficar esperando no aeroporto.


Mas também havia a clara vantagem de ficarem um tempo juntos.


Rin havia se divertido muito nos dias que havia passado com sua família e seus amigos, mas sentia falta de ter algum tempo para ficar apenas com Sousuke.


— Vem, vamos comer antes que esfrie — disse Sousuke —, pode deixar a sua mochila no sofá, depois eu vou arrumar o quarto.


Haviam passado em uma lanchonete no caminho para o apartamento de Sousuke e pegado lanches para o jantar, e uma coca para cada um. A última regalia antes de voltarem para suas dietas rigorosas.


Rin tentava não pensar muito, não esperar demais pelo o que estava por vir, mas estava ficando cada vez mais difícil não imaginar os dois no mesmo quarto. Isso acabava irritando-o um pouco, aquilo não era novidade. Havia divido um quarto com ele por um ano inteiro, oras! Porém, tudo parecia tão diferente agora. Estava muito consciente da presença de Sousuke, de cada detalhe seu, da sua voz profunda e do seu olhar quente. Nunca havia se permitido pensar em Sousuke dessa forma, em reparar na beleza da sua pele ou no seu corpo que Rin não tinha nem palavras para definir.


Ao mesmo tempo ficava consciente de si mesmo, menor do Sousuke, mas não menos definido. O que Sousuke pensaria ao tocar em seu corpo duro, tão diferente do corpo macio e delicado de uma mulher? Se Sousuke quisesse uma mulher não estaria comigo agora. Isso era verdade, Sousuke havia deixado claro que era Rin quem ele queria, quem ele sempre quis, e o mesmo valia para Rin. Aquele sentimento que ele não conseguia entender quando era pequeno havia tomado contornos muito bem definidos, mesmo que tivesse demorado mais tempo para entender tudo isso, e depois dos desvios que seu coração havia tomado, só havia um lugar para retornar.


No apartamento silencioso, a voz de Rin parecia mais alta.


— Eu sei que vou me arrepender depois, mas isso é tão bom. — disse Rin, seguindo um murmúrio de satisfação.


— Não me culpe por isso, porque eu não estou te obrigando a nada.


— Não, mas você está sendo uma má influência, o que dá no mesmo.


— Eu poderia dizer o mesmo.


Os dois riram, encerrando a discussão, e voltando a se concentrarem no que estavam fazendo.


Rin deu outra mordida no seu sanduíche enorme, sentindo o sabor da carne suculenta se espalhando pela boca. Seu treinador teria uma sincope se o visse se entupindo de carboidratos assim, mas era a primeira vez em muito tempo em que se dava ao luxo de comer esse tipo de junk food.


— Você quer tomar banho primeiro? — perguntou Sousuke, depois de engolir outra bocada de comida.


— Você pode ir primeiro. Meu celular não para de vibrar no meu bolso, tenho que ver quem está enchendo a minha caixa de entrada.


— O meu está no mudo. — Sousuke sacou o aparelho do bolso da calça. — Hum, tenho uma mensagem do Ai e outra do Momo. E duas da minha mãe.


Rin fez o mesmo e puxou seu celular.


— O quê?!


Ele nem reparou no número de notificações, mas devia ter umas vinte mensagens, do Momo e do Ai, mas também da Gou, do Nagisa, do Rei, várias do Makoto e até uma do Haruka.


— O que foi, Rin?


— Todos estão mandando mensagens, será que aconteceu alguma coisa?


— Você pode olhar agora se quiser.


— Desculpa, mas isso está me preocupando.


Rin nem sabia por onde começar, ou qual mensagem poderia esclarecer o que estava acontecendo. Achou que era melhor começar pelo começo, e a primeira que abriu era da sua irmã.


Boa viagem! Já estamos com saudades!


Ele também já estava com saudades, mas tentaria escrever uma resposta depois.


A próxima mensagem também era de Gou.


Ah, Nagisa-kun pediu para colocar um pacote na sua bolsa. Ele fez muito mistério, mas disse que você ia gostar do presente.


Que estranho, por que Nagisa não entregou pessoalmente? Pensou Rin, torcendo para que não fosse algo que pudesse ser detido no aeroporto. Se o pacote fosse do Momotarou, ele certamente ficaria preocupado.


Depois de abrir mais algumas mensagens desejando boa viagem, Rin deixou o celular sobre a coxa e voltou a comer.


— Não parece que aconteceu nada. Depois eu leio e respondo tudo. Desculpa ficar mexendo no celular agora.


— Tudo bem. Que bom que não foi nada.


Os dois terminaram de comer, conversando entre uma mordida e outra, e então Sousuke foi para o banho primeiro.


Rin se acomodou no sofá e aproveitou para começar a responder as mensagens. Na segunda mensagem de Nagisa, ele falou sobre o tal pacote.


Você encontrou o pacote, Rin-chan?


Rei-chan e eu achamos que talvez isso fosse útil. Mako-chan e Haru-chan também ajudaram.


Agora Rin estava curioso. A mochila estava ali do lado, era só procurar. Começou pelos bolsos laterais, depois foi procurando entre as roupas, mas o pacote, que não era muito pequeno, e estava cuidadosamente embrulhado com papel de presente, havia sido deslizado pela lateral, provavelmente depois que suas coisas já estavam arrumadas ali dentro, e estava quase no fundo. Deu uma leve chacoalhada ao lado do ouvido e percebeu que tinha algo líquido ali dentro.


— Será que eles não sabem que não posso entrar com líquido na bagagem de mão no avião? — resmungou para ele mesmo, esperando que, seja lá o que houvesse dentro do pacote, estivesse dentro dos limites permitidos.


Abriu o pacote com cuidado e sentiu as vistas escurecerem quando viu o que havia dentro. No mesmo instante, pegou o celular e ligou para Nagisa.


Oi, Rin-chan! — atendeu a voz sempre animada do outro lado.


— Nagisa, você ficou maluco?! Como você pôde pedir para a Gou colocar esse tipo de coisa dentro da minha bolsa?!


Eu disse que era um presente, ela não sabe o que tem dentro, pode ficar tranquilo!


Rin não sabia o que responder, mas pelo menos essa informação lhe trouxe um pouco de alívio. Como ele estava sem palavras, Nagisa voltou a falar.


Foi o Mako-chan quem mais ajudou, já que ele tem experiência e conhece as melhores marcas, mas o livreto foi ideia do Rei-chan, ele disse que tem informações interessantes. Para dizer a verdade eu nem olhei. — Nagisa deu uma risada meio encabulada. Pelo menos um pouco de vergonha parecia que ele ainda tinha.


Rin estava com uma mão no rosto enquanto ouvia o tagarelar de Nagisa.


— Vocês perderam o juízo?


Ah, não precisa ficar envergonhado! Isso é só a ordem natural das coisas! Eu já conversei bastante com o Rei-chan sobre isso, apesar da gente ainda não...


— Para, para! Que eu não quero ouvir isso!!


Nagisa deu uma gargalhada.


Desculpa, desculpa!


Rin respirou fundo, aspirando pelo nariz e soltando o ar lentamente pela boca para se acalmar.


— Eu realmente agradeço a preocupação de todos vocês, mas isso não era necessário.


Oh! Então quer dizer que vocês já...


— Para, Nagisa, por favor! Eu não quero discutir isso com você!


Ah, que chato, Rin-chan!


— Obrigado, ok? Depois eu respondo as mensagens.


De modo nenhum Rin ia continuar aquela conversa ali, na sala de Sousuke. Além disso, ter esse tipo de imagem mental de seus amigos era perturbador demais para pensar.


O que tem na cabeça desses caras? Era um questionamento razoavelmente recorrente a Rin, mas eles tinham passado o nível do compreensível escondendo uma caixa cheia de preservativos, lubrificante e até um livreto com posições sexuais dentro da sua bolsa de viagem. Agora, Rin estava até com receio de ver o que havia escrito nas outras mensagens que estavam em sua caixa de entrada.


Seu celular vibrou mais uma vez, com outra mensagem de Nagisa.


Ok, vamos acabar logo com isso, pensou Rin. Era melhor ver o que haviam escrito para ele e responder devidamente do que ficar pensando nisso depois.


O que encontrou foi mensagens e mais mensagens com conselhos estranhos. Nagisa e Rei claramente nem sabiam o que estavam falando direito, e tinham a pretensão de querer ensinar alguma coisa. Rin deu uma fungada. Depois vieram as mensagens do Makoto. Dava para perceber só de ler o esforço que foi para ele escrever. Provavelmente havia sofrido pressão do Nagisa, Rin teve pena dele. E depois a mensagem do Haruka.


Boa sorte.


— Boa sorte, o caramba!!! — disse Rin, contendo-se para não gritar e defenestrar o celular.


Rin ainda estava se recompondo, quando Sousuke saiu do banheiro, ainda secando o cabelo com a toalha.


— O banheiro está livre. Hum, aconteceu alguma coisa, Rin? Dava para ouvir você falando ao telefone lá do banheiro.


— Ah desculpa! Eu não percebi que estava falando alto.


— Tudo bem.


Sousuke continuou passando a toalha pelos cabelos, esperando que Rin dissesse mais alguma coisa, mas pelo jeito isso não ia acontecer. Foi então que reparou no papel de presente rasgado e a caixa aberta sobre o sofá, ao lado de Rin. Sousuke se limitou a erguer as sobrancelhas.


Quando Rin percebeu para onde estava direcionado o olhar de Sousuke, ele ficou vermelho como um tomate, fechou a caixa e a enfiou de qualquer jeito dentro da sua mochila com papel de presente e tudo.


— I-Isso foi só uma brincadeira do Nagisa!


Sousuke respondeu à fala constrangida de Rin com uma gargalhada,


— O pessoal de Iwatobi não tem limites mesmo.


Era inevitável que Rin se sentisse meio irritado por Sousuke achar aquela situação ridícula engraçada.


Rin apenas pegou as roupas que havia separado para dormir e foi para o banheiro, constrangido e contrariado.


Quando saiu do banho, encontrou Sousuke lendo um livro na sala, sentado ao lado da sua mochila. Rin se aproximou para pegar seu secador de cabelo portátil, que havia comprado especialmente para levar nas viagens. Além de não conseguir dormir com o cabelo úmido, ia parecer um ninho de rato pela manhã se ele não o secasse direito.


— Hum, onde posso usar uma tomada? O banheiro está muito úmido para usar o secador lá.


— No quarto. — respondeu Sousuke, enquanto se levantava para mostrar as tomadas disponíveis para Rin.


No quarto de Sousuke não havia muita decoração, apenas peças funcionais. Uma escrivaninha embaixo da janela, o guarda-roupa embutido na parede, uma cama de solteiro com uma mesinha de cabeceira, e havia um futon estendido no chão. A decoração era ocidental, assim como o resto do apartamento.


— Sente-se no futon. Eu vou secar o seu cabelo.


Rin gritou Como é?! dentro da sua cabeça, mas em vez de responder ficou parado, como se Sousuke tivesse falado para ele que porcos sabiam voar. Depois de alguns segundos sem que Rin se movesse, Sousuke se sentou na cama e indicou para que Rin se sentasse no futon, entre suas pernas.


Rin queria parecer calmo, mas seus pensamentos estavam em curto, então ele espirou fundo e se sentou.


Sousuke pegou o secador de suas mãos e o ligou na tomada. Logo depois, o barulho do aparelho encheu o quarto. Os cabelos de Rin esvoaçavam com o ar quente e ele se perguntou se Sousuke sabia o que estava fazendo, caso contrário, seu cabelo fino poderia virar um emaranhado por causa da turbulência do ar.


Sousuke começou secando a raiz no topo da sua cabeça, nem muito longe, nem perto demais. Depois foi descendo para os fios, então passou os dedos entre eles, para separá-los, onde havia sido entrelaçado pelo secador. Rin sentiu um arrepio diante da sensação dos dedos dele em seus cabelos, e seus pelos se eriçaram quando a ponta deles roçou em sua nuca. Fechou os olhos para se concentrar naquela mão que o tocava tão levemente, vez ou outra, esbarrando na sua orelha ou tocando com a ponta dos dedos no seu couro cabeludo. Era uma sensação muito boa. Poderia ficar assim a noite toda.


Depois, Sousuke se inclinou para secar a parte da frente do seu cabelo, e quando o aparelho foi finalmente desligado, Rin abriu os olhos e Sousuke estava olhando para ele com um sorriso satisfeito.


— Obrigado.


— Não há de quê.


— Hum, como você sabe usar um secador assim? Não me lembro de vê-lo usando quando estávamos no Samezuka. — Rin perguntou, mas ao mesmo tempo se arrependeu. Talvez ele não gostasse da resposta.


— Eu vi você usando vezes o suficiente para aprender.


Aquilo surpreendeu Rin. Então, ele o esteve olhando em todos esses momentos, observando seus movimentos a ponto de aprender até o modo como ele secava os próprios cabelos.


— Seu cabelo é tão macio.


Aquilo era um elogio? Devia ser.


— O-Obrigado.


— Bom, você quer dormir agora? Amanhã vai ser um dia cansativo para você com a viagem para Austrália. Você prefere a cama ou o futon? Ou quer tirar no jan-ken-po?


— Ah... Eu vou ficar com o futon.


Não vai querer disputar quem fica com a cama?


— ...Acho que não.


— O que foi, Rin? Nem parece você.


— Não enche. Só não vejo problema algum em dormir no futon.


— Tá bom, então.


— Hum, acho que tenho que colocar o celular para carregar. — disse Rin, levantando-se para ter algum espaço entre ele e Sousuke, então foi buscar o carregador.


Quando voltou ao quarto, para colocar o celular na tomada da mesa, caso Sousuke precisasse usar a tomada perto de sua cama, Sousuke ainda estava parado o mesmo lugar, apenas observando enquanto Rin andava de um lado para outro. Mais alguns minutos, e os dois estavam deitados. O quarto em silêncio e apenas a luz do abajur ao lado da cama de Sousuke ainda estava acesa. Rin se remexeu sobre o futon algumas vezes, inquieto demais para se sentir confortável.


— Sabe, Rin, você não precisa ficar nervoso. Não vai acontecer nada. Não precisa acontecer nada. — Sousuke falou depois de algum tempo.


Rin suspirou antes de falar.


— Desculpa, Sousuke. Eu não queria me comportar de modo estranho, mas às vezes, eu não sei como agir perto de você. Ah, não me entenda mal. Você ainda é você. O mesmo Sousuke que eu conheço desde pequeno, mas agora tudo parece diferente.


— Eu entendo.


— E eu acabo ficando meio nervoso. — Rin falou ainda olhando para o teto do quarto.


— Eu também fico.


— Até parece! — Rin se ergueu sobre os cotovelos para olhar o perfil de Sousuke que estava deitado na cama.


Sousuke se virou para ele e se apoiou em um braço.


— Você acha mesmo que ter você por perto não me abala nenhum pouco?


Rin franziu o cenho em vez de responder, então Sousuke lhe estendeu a mão. Rin olhou para ela e logo correspondeu ao pedido, embora aquilo fizesse seu coração acelerar um pouco mais. Sousuke tomou sua mão e a levou ao próprio peito. Rin pôde sentir o coração dele, batendo apressado. Seus olhos, que estavam focados onde sua mão tocava o peito dele, segura no lugar pela mão de Sousuke, então, olhou para o rosto dele.


— Está sentindo?


Rin assentiu.


— Não é diferente comigo. — completou Sousuke.


Os dois deveriam ser adultos agora, mas eram tão inexperientes no amor, eram apenas meninos.


Rin ficou sentindo o calor do peito de Sousuke na palma da sua mão, o tum-tum que parecia fazer seu próprio coração sincronizar com o dele, sincronizar suas  respirações. Havia, também, um calor dentro dele que todas aquelas sensações preciosas despertavam, que parecia irradiar de um ponto abaixo do seu pescoço e se espalhar até a ponta dos seus dedos, um nó na garganta de emoção que poderia fazê-lo chorar a qualquer momento. Aquele seu amor que um dia pareceu sem esperanças era recíproco, era correspondido com a mesma intensidade.


Em vez de chorar, Rin se aproximou de Sousuke, então seus lábios se encontraram. Suaves e úmidos, o beijo que ele provou era feito de todas as coisas boas que seu coração podia sentir naquele momento. Um carinho, um afago, e todo o amor do mundo.


O beijo terminou sem que Rin quisesse que acabasse, e Sousuke sorriu para ele, um daqueles sorrisos devastadores que Rin sabia que sentia tanta falta assim que ele estivesse longe dos seus olhos.


— Vamos dormir, Rin. Você precisa descansar para a viagem.


Sousuke voltou a se deitar e Rin fez o mesmo.


A luz ainda estava acesa, então Rin pôde ver quando Sousuke se virou, ficando na borda da cama, olhando para ele.


— O-O quê?


— Vou ver você dormir.


— Eu não vou conseguir dormir com você me olhando!


Sousuke deu uma risada “lide com isso” e Rin teve vontade de fazer uma cara emburrada.


Ficaram em silêncio, apenas se olhando. Como se estivessem tentando guardar cada detalhe do rosto um do outro, desenhando em suas memórias cada traço que fazia daquele rosto tão especial.


Rin ofereceu sua mão, pedindo pelo toque de Sousuke. Ele a segurou e suas mãos unidas repousaram sobre o peito de Rin. Subindo e descendo com a sua respiração. Podia sentir os batimentos de Sousuke e sabia que ele podia sentir os seus muito bem.


Aqueles olhos verdes que Rin já havia visto vestindo tantas emoções e tantas expressões, agora pareciam despidos. Podia ver a alma de Sousuke através deles, poderia se perder neles.


— Eu te amo. — Rin sussurrou em meio ao silêncio, então levou a mão de Sousuke aos lábios e a beijou.


— Eu também te amo, Rin.


Sousuke soltou suas mãos para tocar o rosto de Rin, uma carícia gentil. Rin aconchegava o rosto na palma de sua mão, correspondendo e pedindo por seu carinho. Ele queria poder ronronar como um gato para demonstrar como aquilo era bom. Acidentalmente, seus lábios roçaram no polegar de Sousuke e aquela sensação o fez arrepiar. Sousuke o tocou outra vez, acariciando lentamente o lábio inferior de Rin com o polegar. A carícia terna lentamente havia se tornado tão íntima, aquilo estava fazendo coisas incríveis dentro dele, um calor que ele sabia bem o que era, um tremor que o fez ofegar. Rin entreabriu os lábios e nunca pensou que aquele simples roçar de pele pudesse ser tão erótico.


Sem que tivesse percebido, seus olhos estavam fechados, e quando os abriu viu os olhos verdes de Sousuke escuros, as pupilas dilatadas. Sousuke o desejava, assim como ele desejava Sousuke.


Por que havia hesitado? Tudo era tão simples.


Num impulso, Rin se levantou, e ao mesmo tempo, Sousuke abriu espaço para ele, para que pudesse se encaixar um nos braços do outro na estreita cama de solteiro. Rin o abraçou, seus braços o envolveram e então o beijou. Um beijo de lábios abertos, faminto e quente. Tão irresistível como todos os beijos de Sousuke eram. Suas línguas se tocaram e Rin se sentiu como um homem sedento cuja única fonte de água que ele queria no mundo era a boca de Sousuke, o corpo dele colado ao seu, o calor de suas ereções juntas.


Sousuke se moveu na cama, cobrindo o corpo de Rin com o seu, suas pernas entrelaçadas.


 — Rin, o que está fazendo comigo? — Sousuke sussurrou.


— Até agora? Te beijando.


— E daqui para frente?


— Eu quero tudo.


— Tudo?


Rin se ergueu indo de encontro a ele voltou a beijá-lo, não poderia suportar nem mais um segundo longe dos beijos dele. Queria ser envolvido na presença dele, se perder nela.


— Rin. — Sousuke voltou a falar. Enquanto escolhia as palavras, Sousuke tirou uma mecha de cabelo do rosto de Rin e a ajeitou atrás da orelha dele, como se desejasse clarear sua visão. — Como vamos fazer isso?


— Espero que você não vá sugerir para tirarmos no jan-ken-po.


— De modo algum. — respondeu ele sério. — Rin, eu faço como você quiser.


Rin estendeu a mão para tocar no rosto de Sousuke, os olhos dele tão sérios como quando havia falado do seu desejo de nadar o revezamento. Rin sentia o coração batendo contra as costelas, o frio na barriga. Trouxe Sousuke para si, para beijá-lo de novo, acariciando os lábios dele com os seus, entreabrindo-os, convidando a língua dele para sua boca.


Era isso que Rin queria. Queria ter Sousuke dentro dele. E foi o que ele disse em sussurros entre beijos.


— Tem certeza?


— Sim.


Sousuke voltou a beijá-lo, devastando sua boca. Seus beijos se espalharam pelo rosto de Rin, descendo pelo pescoço. Suas mãos passaram pela barra da camiseta, buscando sua pele como se desbravasse uma terra desconhecida, cada curva dos músculos do seu abdômen, uma imagem em três dimensões que até então seus olhos só poderiam imaginar qual seria a sensação de tocá-lo.


Precisava se livrar da camiseta, deixar que Sousuke tivesse acesso à sua pele que queimava de desejo, ansiando por mais beijos e pelos toques dele.


— Tire a sua camiseta, também, eu quero te ver. — disse Rin, depois despir a sua e jogá-la de lado.


— Você já não me viu tantas vezes? — perguntou Sousuke, provocando-o enquanto tirava a camiseta como Rin havia pedido.


— Sim. E na maioria das vezes na beira da piscina. Não seria um lugar apropriado para olhá-lo, pensando as coisas que estou pensando agora.


— É mesmo? E no que você está pensando? 


Rin levou as suas mãos à barriga de Sousuke, sentido a delícia que era seus músculos sob a pele macia, subindo-as pelo peito dele. Levou um delas para se enrolar na nuca dele, trazendo-o novamente para perto.


— Eu quero tocá-lo, senti-lo. Quero beijar o seu corpo inteiro e provar cada pedaço da sua pele.


— Outro dia. — disse Sousuke, seguido de um beijo estalado sobre a boca de Rin. — Hoje, sou eu que vou fazer isso. — E voltou a beijá-lo. A fazer exatamente o que havia dito, distribuir mais beijos pelo seu pescoço, deslizar por sua clavícula. Levar a boca até seus mamilos e endurecê-los sob sua língua exigente. As mãos ainda mapeando o seu corpo. Tocando, acariciando, sentindo.


As mãos de Rin também passeavam pelas costas de Sousuke, subiam pela nuca e se enroscavam no seu cabelo curto, enquanto os beijos de Sousuke deixam uma trilha cada vez mais abaixo.


Rin sentiu seu pênis pulsar quando Sousuke roçou os lábios sobre o tecido que o cobria. A espera era enlouquecedora. As mãos agora desciam por suas coxas, enquanto ele puxava o elástico da calça com os dentes, o olhar fixo em Rin, o desafiando a ser paciente.


Rin quis protestar contra toda aquela provocação, mas tudo que conseguiu foi ofegar quando Sousuke puxou o elástico da calça apenas o suficiente para que pudesse beijar seu pênis ainda preso em sua roupa íntima.


Sousuke olhou para seu rosto novamente, apenas para conferir sua reação. Rin estava ofegante, o rubor de excitação se espalhando pelo seu rosto e pescoço. Sousuke assistiu a reação de Rin quando puxou a roupa íntima e depositou um beijo muito leve em sua glande, fazendo Rin arquejar.


A língua de Sousuke provava a pele sensível, circulando a cabeça e mergulhando na sua fenda, sorvendo seu sabor. Depois, Sousuke terminou de despir Rin, puxando o que restava de suas roupas, deslizando-as por suas pernas. Continuando sua doce tortura, beijando e lambendo toda a extensão do seu pênis, e então, engolindo-o de uma vez. Quando a cabeça do pênis de Rin tocou o fundo da garganta de Sousuke, a sensação foi quase demais. Rin sentiu Sousuke controlando seu reflexo, depois chupando. Rin não aguentaria muito tempo assim, sentia seu orgasmo se construindo. Mesmo que aquela fosse a melhor sensação que Rin já tivesse sentido, ele não queria que terminasse assim. Tentou afastar Sousuke delicadamente, já que sua voz havia fugido para algum lugar.


Sousuke entendeu seu gesto e libertou seu pênis duro e molhado. Voltou aos beijos e lambidas, agora descendo para suas bolas e tomando-as na boca, uma de cada vez, antes de beijar a pele da parte interna de suas coxas.


Rin abriu as pernas, dando passagem para onde Sousuke quisesse. A boca dele foi escorregando por seu períneo até chegar ao anel de músculos apertado. A língua dele acariciou delicadamente aquele lugar tão sensível, esperando que Rin relaxasse o suficiente para forçar a ponta dela para dentro. Sousuke empurrou as pernas de Rin para cima, enquanto sua língua o abria, num processo lento que tirava o fôlego de Rin. Aos poucos, Sousuke foi empurrou um dedo após o outro para dentro de Rin, entrando fundo e procurando por algo que Rin soube exatamente quando foi encontrado pela sensação devastadora que fez estrelas ofuscarem sua visão.


— So... Sousuke...


Era um aviso. Sousuke parou relutantemente, limpou o rosto com a costa da mão. Ele estava tão ofegante quanto Rin.


Sousuke se debruçou sobre Rin para alcançar a gaveta da mesinha de cabeceira. Ele também estava preparado. Tirou lubrificante e preservativos, fazendo Rin soltar um sorriso fraco. Já Sousuke correspondeu com um sorriso obscenamente sensual.


— Tudo bem?


— Melhor impossível.


— Tem certeza?


— Vem.


Sousuke terminou de se despir. E se posicionou de joelhos entre as pernas de Rin. Ele já havia visto Sousuke nu inúmeras vezes no banheiro coletivo do dormitório, mas nunca em toda a sua glória, com sua ereção pronta e úmida. Ele era simplesmente maravilhoso.


Sousuke deslizava o preservativo por sua extensão sob o olhar atento e faminto de Rin. Derramou o lubrificante antes de puxar o quadril de Rin gentilmente para cima de suas coxas. Seu olhar se prendeu ao de Rin, enquanto o penetrava lentamente, atento a cada reação de Rin, esperando calmante para que ele se acostumasse a cada pedacinho dele que tomava o corpo de Rin.


Suas respirações sincronizavam.


Rin queria se mover, mas suas pernas estavam suspensas, trêmulas. Ele não tinha forças. A sensação de ser preenchido o subjugava.


Finalmente, Sousuke passou a se mover, uma leve ondulação de seu quadril, até se tornar um movimento mais amplo e vigoroso. Rin o sentia profundamente, o preenchendo e atingindo sua próstata a cada movimento.


Seus dedos se fecharam, segurando o lençol da cama estreita. Os gemidos que escapavam de sua boca enchiam o quarto, enquanto seu corpo arqueava, indo de encontro ao de Sousuke. Rin se perdia no delírio que era estar em seus braços, quando Sousuke se inclinou sobre ele, unindo suas bocas e o trazendo para junto de si. Derramando-se entre ele, enquanto Sousuke estremecia, segurando-o com todo o cuidado e ardor.


Rin usou o que restava de suas forças para se segurar em Sousuke também, como se estivesse prestes a despencar de um precipício, como se ao afastar dele seu coração pudesse parar de bater. Nunca imaginou que pudesse haver um sentimento assim, um amor tão simples e arrebatador, o desejo era apenas um reflexo, um meio de se chegar a um fim. Uma forma de se unirem, de se doarem e de pertencerem um ao outro.


O beijo voraz foi se acalmando junto com suas respirações, até se tornar lento e delicado. As testas unidas, seus suspiros colidiram em sorrisos.


Sousuke voltou a deitar Rin sobre a cama, retirando-se cuidadosamente.


— Tudo bem?


— Eu mal sinto meu corpo, mas acho que isso é uma coisa boa. — Rin respondeu quase num sussurro, um sorriso sonolento se espalhando por seu rosto.


Sousuke não pôde deixar de sorrir.


Cuidou de se livrar do preservativo, e limpar a bagunça feita com o sêmen de Rin neles dois, então o cobriu cuidadosamente com a coberta fina de verão.


Rin parecia ter adormecido e Sousuke ia se deitar no futon quando o ouvi chamando.


— Sousuke... Fica comigo.


A cama era estreita demais para acomodar confortavelmente dois homens adultos, mas isso não era problema. Acomodou-se atrás de Rin, encaixando seus corpos. Rin puxou seu braço para que o envolvesse e entrelaçou seus dedos junto ao peito. Então adormeceram assim, embalados no calor um do outro.



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Autor(a): hokutoritsuka

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Lentamente, Makoto deslizou do seu estado de sonolência, abrindo os olhos enquanto despertava. A luz do sol se infiltrava suavemente por uma fresta da cortina, deixando o quarto imerso na penumbra, salvando-o da completa escuridão. Já era dia, mas era domingo, e ele não tinha pressa para se levantar. Havia sonhado com alguma coisa, mas Makoto não conseguia se lembrar do que ...


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