Fanfic: Jiyuuni | Tema: Free!
Quando o clube de natação do Colégio Iwatobi conseguiu a sonhada classificação para o torneio nacional, a notícia se espalhou como fogo sobre palha pelos corredores, salas de aula e clubes. Na verdade, seria estranho se fosse de outro modo, a faixa enorme preparada pela diretoria estava pendurada no prédio principal do colégio. Ela não poderia surtir outro efeito além desse.
O clube de natação havia conseguido um feito extraordinário. No entanto, antes disso, no começo daquele ano havia falhado miseravelmente em atrair novos membros. Em parte, devido à sua excentricidade. Na apresentação do clube no palco da escola, demonstraram os estilos de nado de seus competidores em trajes de banho; e de novo apenas com seus trajes participaram na corrida entre clubes. Mesmo que fizesse parte das regras, vê-los correndo com o peito nu e aquela roupa colada só serviu para causar comoção. Não que isso tudo não fascinasse as meninas, mas era terrivelmente intimidante para os meninos. Como alguém se atreveria a entrar no clube com a perspectiva de ter que se expor assim? Além da inevitável comparação que sofreriam com aqueles garotos.
Para completar a excentricidade do clube de natação, eles haviam sido desclassificados no torneio regional do ano anterior, depois da sandice de participar do revezamento com um aluno de outra escola em sua equipe. Era um mistério a razão de todos eles estarem se enterrando naquele clube sem esperanças.
Mas não havia dúvida de que essa imagem duvidosa havia dado lugar a uma de um clube que realmente produzia resultados.
Com o começo daquele novo ano letivo, o clube, agora reduzido a três membros, precisava urgentemente de novos integrantes para não perder o reconhecimento como clube oficial. Nem o sexto lugar no campeonato nacional os salvariam se não houvesse a inclusão de novos estudantes naquele ano letivo que se iniciava.
Gou andava pelo corredor, tentando delinear uma estratégia de recrutamento caso a apresentação do clube falhasse de novo, quando ouviu uma voz a chamando entre os alunos.
Uma garota vinha correndo pelo corredor, segurando uns papeis em uma mão e arrastando um garoto com ela com a outra.
— Matsuoka-senpai! Matsuoka-senpai! Você é a gerente do clube de natação, não é? Já estão recebendo as fichas de inscrição de novos membros?
Não havia nada que pudesse deixá-la mais feliz naquele momento do que ter novos membros para o clube. Depois de ler os nomes, ergueu os olhos para avaliar a dupla: uma garota alta com cabelos longos e grandes olhos atentos, e um garoto um pouco mais alto do que ela com um rosto desenhado com traços suaves. Eles claramente compartilhavam algum material genético.
— Asaba Sakuya como gerente e Asaba Shun como nadador. Isso é ótimo! Venham conhecer o clube depois da apresentação! São muito bem-vindos! — disse, se dirigindo à garota, depois ao garoto.
— Ah, Matsuoka-senpai, eu sou Shun, e meu irmão é o Sakuya. — disse a garota com naturalidade, logo percebendo o equívoco que estava acontecendo.
* * *
— Não é para rir! Eu quase morri de vergonha!
Nagisa continuava rindo incontrolavelmente, enquanto Rei tentava disfarçar e engolir o próprio riso que teimava em escapar. Depois de algum tempo, Gou simplesmente desistiu de ficar zangada e apenas permaneceu com as bochechas infladas, meio emburrada. Afinal, não adiantava se aborrecer com Nagisa. Depois do ataque de riso, Nagisa começou a falar enquanto enxugava as lágrimas que havia derramado de tanto rir.
— Olhe pelo lado bom, Gou-chan! Já temos novos inscritos mesmo antes da apresentação do clube e o fato de ser um garoto com nome feminino e uma garota com nome masculino só pode ser um bom sinal!
— Lá vem você de novo com essa conversa, Nagisa-kun. — disse Rei, sentindo um dèjá vu.
— Mas combina perfeitamente com nós três!
— O que você quer dizer com isso? — Gou perguntou, ficando irritada com o rumo daquela conversa.
— A verdade, oras!
— Tá bom, chega de conversa! Logo será nossa vez de fazer a apresentação! Precisamos atrair novos membros! Muitos membros! Nossa meta precisa ser alta!
— Sim!! — responderam os dois em uníssono, enquanto os três levavam seus punhos para o alto.
* * *
Depois do período de teste, tiveram sete inscrições confirmadas, uma marca impressionante até para os outros clubes mais populares. Finalmente os esforços e bons resultados estavam dando frutos. Entre todos os novos membros, Shun parecia ser a mais audaciosa, mas havia outras pessoas com alguma experiência em natação.
Enquanto Rei passava instruções para os calouros, Gou mantinha sua prancheta em punho, anotando informações que seriam usadas para o preparo da rotina de treinamento individual. Nagisa observava o novo funcionamento do clube, ainda não estava acostumado com a ausência de Haruka e Makoto. Quando propôs o retorno do clube não havia imaginado tão longe, não havia imaginado como seria o clube depois da partida deles. Era como se tivesse imaginado que os três, depois os quatro, ficariam juntos para sempre.
Apesar do jeito alegre e descontraído que atraía as pessoas, Nagisa já teve muita dificuldade em fazer amigos, principalmente na infância.
Nagisa tinha quatro irmãs mais velhas. Quando ele nasceu, elas ficaram totalmente encantadas quando sua mãe lhes apresentou o irmãozinho, que era simplesmente o bebê mais lindo do mundo. Elas o encheram de mimos e atenções, gostavam de escolher suas roupas, elas o vestiam com se fosse uma boneca, apenas para deixá-lo ainda mais fofo. Nagisa, que cresceu acostumado com as brincadeiras das irmãs, nunca se importou com as fitas que elas prendiam em seus cabelos, ou nos vestidos cheios de rendas e outros ornamentos que elas pediam para que ele experimentasse. Porém, um dia ele acabou indo para a escola com um laço no cabelo. As meninas davam risadinhas e apontavam, e ele achou que aquela reação fosse normal. Os meninos se reuniram nos cantos e cochichavam, mas o problema foi quando se aproximaram.
— Que ridículo!
— Seu maricas!
— Vai vir com o uniforme das meninas agora?
— Credo! Ele tem cara de menina!
— Vai começar a chorar? É uma menininha mesmo!
Eles puxaram seu cabelo tantas vezes, até que o laço se desfez, e quando ele caiu no chão, os garotos começaram a pisá-lo. Nagisa não sabia por que estava sendo agredido, e nunca havia pensando que ser chamado de menina pudesse ser uma ofensa. “Você é lindo como uma garota.” Era isso que ele estava acostumado a ouvir, e isso sempre pareceu um elogio, mas agora, ser chamado de menina era usado para insultá-lo. Infelizmente, essa hostilidade não se limitou a único dia. Com o tempo, Nagisa percebeu que quanto mais ele chorava, pior as coisas ficavam, por isso, ele tentava não demonstrar que estava triste ou ofendido, apenas tentava ficar calado, o mais discretamente possível. Nagisa tinha dificuldade em entender porque as pessoas estavam fazendo isso com ele, afinal, nada do que ele fazia estava prejudicado ou interferido na vida de alguém. Ele estava sendo julgado e massacrado por causa de um laço. O que ele não sabia era que as pessoas eram condenadas e arrasadas por muito menos do que aquilo, por motivo algum, por banalidades, apenas por ser quem eram.
Ele não contou para as suas irmãs ou seus pais o que acontecia na escola, mas não usou mais as roupas que elas queriam que ele vestisse. Elas ficaram chateadas, achando que seu irmãozinho apenas não queria mais brincar, então começaram a provocá-lo, às vezes até forçando-o a colocar os vestidos, o que fazia Nagisa chorar.
Preocupados por verem o filho abatido, os pais de Nagisa decidiram colocá-lo em um curso extracurricular, talvez isso o ajudasse a fazer novo amigos, já que ele não parecia ter nenhum na escola. E foi no Iwatobi Swimming Club que seus pais o inscreveram.
A mudança de atmosfera foi boa para Nagisa, havia crianças de várias escolas, e por sorte, nenhuma de sua classe. As outras crianças o tratavam com naturalidade e ele podia conversar normalmente. Ele estava feliz indo ao SC, aprendendo vários estilos de nado, até pouco tempo ele nem sabia que havia tantos! Era bom estar na água, ele se sentia em paz, treinava duro e via os resultados do seu esforço.
Era mais fácil suportar as horas na escola se ele podia ir para o SC quando elas acabassem. Então, ele passou a esperar por isso com grande ansiedade.
No entanto, suas irmãs ficaram com ciúmes por ele se divertir mais no SC do que com elas e um dia resolveram pregar uma peça.
Quando Nagisa abriu sua bolsa no vestiário, o sangue fugiu de seu rosto: seu short de natação havia sido trocado por uma tanga cheia de babados. O que aconteceria se os outros garotos vissem aquilo? Nagisa entrou em pânico ao pensar nisso, seria como foi na escola, ele seria ridicularizado e humilhado novamente. Depois de esperar ansiosamente para que a tarde chegasse e ele pudesse ir ao treino, ter que desistir e voltar para casa era frustrante. Sem que percebesse os dedos que haviam fechado a bolsa com desespero começaram a tremer, e mesmo lutando contra elas, lágrimas ameaçavam escapar de seus olhos, fazendo-o se sentir ainda mais humilhado e impotente. Aquilo não era justo.
— Aconteceu alguma coisa, Hazuki?
Um garoto mais velho havia se aproximado, ele era sempre calado e haviam se falado pouquíssimas vezes até então. Aquele garoto sério que era respeitado por todas as outras crianças pelo seu modo de nadar era Haruka Nanase.
— Nanase-san... — Nagisa não conseguiu mais segurar as lágrimas e começou a chorar. — Nanase-san, minhas irmãs aprontaram comigo, elas trocaram meu calção de banho por um biquíni, agora vou ter que ir embora sem nadar. — Por alguma razão ele achou que poderia dizer isso para Nanase, ele não parecia ser o tipo de pessoa que ridiculariza os outros. — Eu queria tanto nadar...
— Qual o problema em usar esse que você trouxe?
— É cheio de babados! Vão rir de mim como fizeram na escola! — disse Nagisa, soltando a bolsa que apertava com força, deixando que Haruka vislumbrasse os babados da tanga.
— Não chore, Hazuki. Eu te empresto o meu.
— Sério?! Você trouxe dois, Nanase-san?
— Não. Eu vou usar o seu.
— Não! Eles vão rir de você!
— Eu não me importo.
Nagisa também queria não se importar, mas ele não sabia como fazer isso.
Relutantemente, Nagisa trocou seu traje de banho com Haruka, e depois de vesti-lo, foi apreensivo com ele até a piscina, onde o treino estava prestes a começar. O treinador perguntou para Haruka sobre a tanga.
— Eu trouxe por engano. — respondeu, indiferente.
— Apenas tome cuidado para não acontecer de novo.
— Sim, senhor.
O coração apertado de Nagisa relaxou depois de ouvir os comentários que vinham das outras crianças.
— Ficou tão bonitinho nele! — diziam as garotas
— Como Nanase é corajoso! — diziam os garotos.
A admiração que Nagisa sentia por Haruka só aumentou com esse gesto. Além de ser maduro e um ótimo nadador, Haruka também tinha um coração bondoso e gentil. Logo acabou se tornando amigo de Haruka e do melhor amigo de Haruka, Makoto. Conversava com eles sempre que tinha uma oportunidade. Depois chegou o garoto ruivo, Rin, que também era ótimo nadador e gostava de desafiar Haruka.
Assim que Nagisa ouviu Rin falando que formaria um revezamento com Haruka, ele teve certeza que também queria participar.
— Eu também quero nadar no revezamento com o Haru-chan!
— Você não pode, Nagisa. Nós vamos competir para ganhar! — respondeu Rin de forma orgulhosa.
— Mas eu também quero ganhar! Eu sou bem rápido, viu? — disse Nagisa enquanto apertava a touca entre as mãos, ansioso para ter o aval de Rin.
Rin acabou estipulando uma meta para ele, uma meta alta, que talvez o próprio Rin achasse que Nagisa não seria capaz de alcançar, mas Nagisa tinha convicção. Se essa era a barreira que ele precisava ultrapassar para nadar com Haruka, então ele a transporia. Não havia espaço para hesitação. E ele acabou sendo admitido no revezamento medley.
Aquele revezamento, aquela equipe, marcou sua infância como sua lembrança mais preciosa. Foi por ela que ele foi para o Colégio Iwatobi, para reencontrar Haruka e Makoto, para voltar a nadar com eles.
Nagisa finalmente encontrou-os no segundo dia de aula, juntos, como sempre. No entanto, não havia um clube de natação no qual participar, uma complicada e incompreensível situação em que Haruka se recusava a nadar competitivamente. Mas Nagisa era bom em insistir, Haruka acabou aceitando e Makoto sempre aceitava o que Haruka queria.
Não demorou muito para que Nagisa percebesse que a relação deles havia mudado sutilmente se comparada ao que era na infância. Talvez isso tivesse lhe ocorrido quando Makoto se aproximou tão suavemente de Haruka para lhe oferecer um lenço, a mão passando sobre o ombro dele. Um gesto simples, mas que dizia muito sobre o quão íntimo eles eram.
Ele não poderia afirmar que aquilo era de todo surpreendente, mas também não poderia negar que fosse extraordinário. Seus dois amigos de infância estavam juntos. Provavelmente Nagisa sempre soube que as coisas evoluiriam assim, então, aquilo nem chegou a doer, como se supõe que doeria quando se descobre que seu primeiro amor já tem seu próprio amor. Ele apenas ficou feliz pelos dois.
Concentrou-se na busca pelo quarto nadador, afinal, sem ele o clube não existiria. E teve certeza de quem ele seria quando leu o nome no armário da escola: Rei Ryugazaki. Um nome feminino em um belo rosto masculino, mas seu dono continuava declinando resolutamente às investidas de Nagisa. Ele já era do clube de atletismo, mas isso não seria o suficiente para fazer Nagisa desistir, afinal, ele era bom em insistir.
O que Nagisa não esperava era o efeito que aquele garoto lhe causaria.
O rosto sério e concentrado, enquanto segurava firmemente a vara de salto, os olhos aguçados e os movimentos limpos sem a menor perturbação. Tudo era minimamente calculado, não havia desperdício na forma como se movia, era tudo otimizado. E incrivelmente belo.
Seu corpo se ergueu no ar, passando perfeita e elegantemente sobre o sarrafo. Aquilo arrebatou o coração de Nagisa. Suas batidas dispararam e seus olhos brilharam. O sorriso se formou em seus lábios e ele soube que aquilo era especial. Imaginou como seria vê-lo mergulhar, vê-lo nadar, como seria nadar com ele.
Logo, Nagisa percebeu que além do lado sério e perfeccionista de Rei, ele tinha um lado um tanto desastrado. A sua parte racional era a primeira a ser notada, mas ele era bastante passional, também.
Sentiu seu peito se aquecer quando o ouviu chamando o seu nome pela primeira vez, com aquele jeito tímido, porque Rei também tinha um lado tímido, o rosto meio corado e a expressão envergonhada. O que Nagisa retribuiu com o primeiro de muitos abraços.
Não era mais apenas ele, Haruka e Makoto, a partir daquele momento, Rei fazia parte do grupo e entrou definitivamente em sua vida. Eles estavam na mesma turma, no mesmo clube e voltavam para casa no mesmo trem. Nagisa às vezes imaginava como teria sido encontrar Rei antes. Esse tipo de especulação que se faz com a nostalgia do que poderia ter sido. Haruka e Makoto sempre tiveram um ao outro e talvez não soubessem o quanto eram sortudos por isso, já Nagisa vagou sozinho por muito tempo. Quando Rin partiu e o grupo desmoronou ele foi o primeiro a ficar sozinho, mas não era culpa dos seus amigos, um ano faz muita diferença quando se tem 11 anos. Mas se Rei estivesse lá, como teria sido?
Nagisa acreditou que poderia levar seus sentimentos por Rei da mesma forma que havia levado seus sentimentos por Haruka. Apenas algo precioso guardado no peito sem nunca ganhar a luz do sol, um sentimento só seu. Assim, ninguém seria magoado e a vida poderia continuar como era. Com Rei ele desfrutava de um novo privilégio, ele havia se tornado seu melhor amigo, poderia ficar do lado dele e ter sua atenção. Qual seria a diferença se em vez de serem melhores amigos eles fossem namorados? Beijos, talvez. Nagisa ainda não sabia como eram beijos, então poderia viver sem eles, poderia viver sem os beijos de Rei. Tinha a proximidade, tinha um certo toque sobre a pele, e por enquanto isso bastava, era o suficiente para alimentar aquele sentimento puro.
Agora, ele olhava para Rei que diligentemente cuidava das tarefas de capitão, com tantas pessoas ao redor. Rei conversava com Shun, que ouvia as instruções atenciosamente. Não havia nada de errado na interação deles. Rei falava como o capitão e ela ouvia como sua kouhai, mas ver aquela garota bonita ao lado de Rei o fez pensar.
Mesmo que Rei dissesse que nunca seria tomado por algo irracional como o amor, e mesmo que aquilo tivesse lhe doído quando ouviu, Rei poderia apenas estar dizendo isso porque a pessoa certa ainda não havia surgido em sua vida. Não que essa pessoa fosse Shun, mas ela existia, e estava em algum lugar esperando ser encontrada. E quando Rei a encontrasse, ela o levaria de Nagisa.
Pensar nisso fez seu peito apertar. Um sentimento tão diferente de quando percebeu a relação de Haruka e Makoto, e isso fez Nagisa entender que não conseguiria torcer por Rei e seu amor, nem poderia ficar feliz por eles.
Talvez tivesse chegado a hora de libertar aquelas borboletas que viviam revirando seu estômago, as borboletas causadas pelo nadador do nado borboleta.
Autor(a): hokutoritsuka
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Para alguém que nunca havia morado fora da pequena e pacata Iwatobi, não foi fácil se acostumar com a agitada vida de Tokyo. E pensar que Sousuke havia morado sozinho ali quando ainda era um colegial, e que Rin havia ido para outro país quando havia acabado de sair do primário. A coragem deles em se entregar aos seus sonhos e mergulhar no d ...
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