Fanfics Brasil - Conversa no almoço Jiyuuni

Fanfic: Jiyuuni | Tema: Free!


Capítulo: Conversa no almoço

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Para alguém que nunca havia morado fora da pequena e pacata Iwatobi, não foi fácil se acostumar com a agitada vida de Tokyo. E pensar que Sousuke havia morado sozinho ali quando ainda era um colegial, e que Rin havia ido para outro país quando havia acabado de sair do primário. A coragem deles em se entregar aos seus sonhos e mergulhar no desconhecido era algo admirável.


Até então Makoto nunca havia tido tal ambição que o impelisse, talvez tivesse levado a adolescência com muita calma.


Mas ele sempre teve um sonho. Ele sonhava estar sempre junto de Haruka, desde muito pequeno, era isso que ele sonhava. A primeira vez que percebeu que isso poderia não acontecer foi quando Rin chegou à Escola Primária Iwatobi. Rin sabia o que queria e ele queria Haruka. Não da mesma forma que Makoto queria, mas ainda assim, esse querer poderia implicar em muitas coisas e uma delas poderia levar Haruka para longe. A chegada de Rin não trouxe apenas isso, mas também a ciência de que existia um mundo lá fora, com pessoas diferentes deles, com desejos e ambições diferentes. Esse mundo poderia engoli-los um dia e separá-los, e isso era algo que Makoto evitava pensar. Naqueles dias, ele se permitia viver naquela bolha particular que era apenas deles.


Makoto e Haruka eram namorados de longa data, mas agora estavam separados. Em suas novas vidas em Tokyo não podiam se ver com tanta frequência e saudade era algo com a qual não estavam habituados. Seus corações estavam juntos, mas fisicamente estavam separados. Makoto sabia que as coisas estariam longe de melhorarem com o tempo. Os estudos exigiriam cada vez mais e as competições de Haruka ficariam em lugares mais distantes, e mais viagens significaria menos tempo livre. A vida que levavam agora durante a graduação era provisória, mas o que viria a seguir?


Falar pelo telefone ou pela internet nunca substituiria uma interação real.


Makoto andava pelo campus, pensando na próxima janela do treinamento de Haruka que os permitiria se encontrar dali algumas semanas para algo mais do que uma refeição rápida. Após um torneio local eles teriam finalmente o fim de semana juntos.


Ele estava saindo da aula e indo para a biblioteca, quando ouviu seu nome sendo chamado:


 — Makoto!


A voz que o chamava era uma velha conhecida.


— Oi Kisumi! Tudo bem?


— Olá! Eu estou bem! E você? Eu vi você outro dia, mas parecia com pressa e nem me viu.


— Ah, desculpa, Kisumi! Ainda estou me adaptando, parece que todo dia tem um trabalho novo para fazer ou uma pilha de coisas para estudar e eu não quero deixar as coisas acumularem para as provas.


— Você sempre foi tão diligente, né, Makoto?


— Não é isso, mas eu sinto que se eu perder o controle isso vai virar uma bola de neve. E você? Parece tão tranquilo.


Kisumi parecia tão radiante como sempre.


— Que nada! Você vai ver as olheiras horríveis que eu vou ter logo logo. — disse ele com um gesto de mão, como se afastasse a ideia de que ele estivesse tão tranquilo quanto parecia, mas seu sorriso de capa de revista só transparecia sua personalidade afável. — E o Haru? Como ele está?


— Ele está indo bem. Quando decide fazer alguma coisa, ele fica muito focado.


— Ah, é uma pena que não estamos todos na mesma universidade. Seria como nos velhos tempos!


Makoto sorriu com um pouco de melancolia e nostalgia. Quando ele e Haru começaram o ginásio, haviam ficado em salas separadas pela primeira vez. Tiveram que se acostumar a não ter o outro sempre ao lado, tiveram que expandir seu círculo de amizades. Os primeiros dias foram estranhos, e ao mesmo tempo em que queria deixar que o amigo crescesse por conta própria também queria ele o mantivesse junto de si. Era conflitante e confuso. Agora, tantos anos depois, certamente ele gostaria que estivessem estudando na mesma universidade, mas infelizmente isso não foi possível. Eles ainda eram jovens e estavam se tornando adultos, aprender a lidar com a distância física fazia parte disso, e ele tinha a certeza que isso não era algo que abalaria a relação deles, eles eram mais fortes do que isso.


— Está ocupado agora, Makoto? — Kisumi voltou a falar.


— Eu não tenho nenhuma aula agora. Por quê?


— Estou indo para o treino de basquete, você não quer vir assistir?


Makoto hesitou, mas antes que pudesse fugir ou recusar o convite de Kisumi, ele o levou consigo.


Nas lembranças de Makoto, Kisumi era um bom jogador, era empenhado e não desistia frente a um adversário difícil. Havia jogado mano-a-mano algumas vezes com ele depois que se reencontraram por causa de Hayato, o irmãozinho de Kisumi que havia feito aula de natação com Makoto na sua rápida passagem com instrutor no Iwatobi Swimming Club Return. Mas nada se comparava a sua presença agora dentro de quadra. O rapaz de jeito suave dava lugar ao jogador ágil como um felino, que driblava, passava e arremessava sem perder a elegância.


No primeiro intervalo do treino, Kisumi veio correndo com sua garrafa de água nas mãos.


— E aí, Makoto? O que achou do treino?


— O time parece forte. — Como Makoto suspeitava, o nível universitário era algo impressionante.


— E é! — respondeu Kisumi com orgulho. — Makoto, o que acha de entrar para o clube de basquete?


* * *


Makoto e Kisumi se encontravam quase diariamente pelo campus. Era bom ter um rosto amigo naquele ambiente novo. Às vezes, Kisumi contava coisas da época em que estudou na mesma turma que Haruka, contava coisas que Haruka fazia quando Makoto não estava por perto. Logo, Makoto percebeu que aquele Haru que Kisumi descrevia era levemente diferente do Haru que ele mesmo conhecia, o que era meio lógico, afinal, era o Haru que interagia com outras pessoas e que ele não podia ver. Makoto gostava de ouvir essas histórias sobre o lado desconhecido de Haruka, mas por vários motivos, acabou não contando sobre Kisumi e as conversas que tinha com ele naquele fim de semana que logo se aproximou e recebeu a visita de Haruka. Havia algo a esconder além das histórias cheias de nostalgia.


— Acho que o que mais me surpreendeu no Haru foi o interesse que ele tinha por culinária. — comentou Kisumi uma vez quando estavam almoçando juntos.


— Haru começou a cozinhar cedo e sempre foi muito habilidoso. Às vezes, ele tentava me ensinar alguma coisa, mas eu não levo jeito. — Makoto riu depois dessa frase, pensando nas tardes na cozinha de Haru. — Mas não sabia que ele mostrava interesse sobre isso na escola.


Kisumi riu divertido, se deliciando com a conversa.


— Ele sempre perguntava o que tinha no meu almoço. — depois completou, pegando uma porção da sua refeição com o hashi e reproduzindo o gesto. — Uma vez eu ofereci um pouco e ia dar na boca dele, as meninas fizeram um alvoroço!


Makoto quase engasgou com a comida quando ouviu isso.


— Você fez o quê?! — perguntou sem esconder como aquilo o havia abalado.


— Calma, calma, Makoto. — Kisumi mal conseguia falar em meio ao riso. A reação de Makoto era impagável. — Ele não pegou, e depois eu só coloquei na tampa do bentou dele. — Kisumi não pôde evitar o sorriso malicioso que se formou em seus lábios e a vontade que teve de provocar Makoto. — Não é como se ele estivesse traindo você.


Makoto corou até as orelhas como Kisumi havia previsto que faria, o que o fez cair na gargalhada novamente.


— Traindo?! — Makoto repetiu com a voz subindo algumas oitavas.


— Vocês já namoravam naquela época? — perguntou suavemente, mas Makoto simplesmente não conseguia responder. — Bom, eu acho que não. Mas é sério, Makoto. Haru não fez nada, — Kisumi afirmou cuidadosamente. Uma coisa era uma provocação inocente, outra era mexer com coisa séria.


Makoto apenas o fitou com seus olhos verdes cheios de agitação. O namoro deles não era de conhecimento geral, poucas pessoas sabiam de fato e ele achava que era um segredo bem guardado, no entanto, Kisumi o desvendou muito rápida e facilmente.


— Como você sabe? — perguntou afinal.


— O quê?


— Sobre nós dois. Alguém contou?


— E quem contaria? Rin? — Isso só fez Kisumi rir de novo. — Rin não é o tipo de pessoa que sai contando esse tipo de coisa, só para você saber. Eu percebi, e para ser sincero, nem foi tão difícil assim.


— Desculpe, eu só não esperava. — Makoto encarou sua comida encabulado.


— No começo daquele ano vocês pareciam confusos. Pareciam perdidos. Vocês não eram como eu esperava.


— Como? Você esperava? — repetiu confuso.


— Rin nunca disse que vocês tinham esse tipo de relação, mas falou sobre o nado livre de Haru e que ele tinha um amigo. Você.


— Ah... — Aquilo fazia sentido.


— Ele disse que vocês eram inseparáveis — Kisumi fez uma pausa, omitindo outras coisas que Rin dizia que seria comprometedor demais para o amigo —, mas você estava sempre arrumando algo para fazer e deixando o Haru de lado.


— Era essa a impressão que dava?


— Era. Por quê? Não era isso? — perguntou sem maldade.


— Eu só queria dar um pouco de espaço para o Haru.


— Acho que ele não queria tanto espaço assim. Vocês começaram a namorar logo depois, não foi?


A percepção de Kisumi era algo assombroso para Makoto, ele não sabia dentre as suas duas últimas frases qual o deixou mais surpreso. Makoto só conseguiu sussurrar um sim envergonhado.


— Eu acho tão bonito o relacionamento de vocês. — disse Kisumi com um sorriso doce e um olhar terno.


— Obrigado. — Makoto conseguiu murmurar, de algum modo.


— Ah, acho que fui meio malvado com o Haru naquela época, mas eu não conseguia evitar! Era tão divertido vê-lo com ciúmes!


— Ciúmes de quem? — Makoto perguntou, erguendo as sobrancelhas interrogativamente.


— De você, é claro! — respondeu Kisumi como quem confirma que dois mais dois são quatro.


— De mim?! Haru tem ciúmes de mim?!


— O quê? Depois de tanto tempo você não percebeu como ele é ciumento? — Agora, foi a vez de Kisumi ficar surpreso.


— Haru não é ciumento.


A resposta de Makoto provocou a risada mais alta de Kisumi daquele dia.


— Está brincando, né? Makoto, o Haru morre de ciúmes de você! — O olhar incrédulo de Makoto convidou Kisumi a continuar. — Vou mostrar para você do que estou falando. — E terminou a frase com seu melhor sorriso.



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Autor(a): hokutoritsuka

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