Fanfics Brasil - Um instante da eternidade Jiyuuni

Fanfic: Jiyuuni | Tema: Free!


Capítulo: Um instante da eternidade

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Não havia muita coisa fora de sua rotina que não fosse treinar e estudar, mas havia as horas de lazer, é claro. Rin, às vezes, saía com alguns colegas ou sozinho, visitava Russel e Lori, seus “pais” do intercâmbio, tentando não passar muito tempo confinado no seu quarto. Mas o que ele mais gostava era de ter notícias dos seus amigos de Iwatobi e de sua família.


Recebia e-mails diariamente, sua caixa de entrada nunca estava vazia. Era interessante como a personalidade deles ficava tão clara no tipo de e-mail que enviavam.


Nagisa escrevia e-mails animados, contando sobre os novos membros do clube, mas era evidente como sentia falta de Haruka e Makoto, embora ele tentasse não demonstrar.


Já os e-mails de Rei eram formais demais, basicamente, falando as mesmas coisas que Nagisa. Às vezes, Rin falava com os dois juntos pelo Skype, embora isso tivesse se tornado menos frequente ultimamente. Havia algo entre os dois que estava deixando Rin apreensivo, mas ele confiava que Rei saberia lidar com a situação seja ela qual fosse. Afinal, se não fosse por Rei, o próprio Rin não teria se reconciliado com seus amigos de infância.


Aichirou escrevia e-mails um tanto longos, falando de como estava sendo sua experiência como capitão, além de perguntar sobre cada coisa que Rin deixava escapar sobre sua vida na Austrália.


Momotaru escrevia e-mails estranhos, perguntando sobre a vida selvagem australiana, falando coisas irritantes de quando encontrava Gou e perguntando sobre ela muito mais do que Rin suportaria pessoalmente. Também falava com ele e Ai pelo Skype, mas isso sempre deixava Rin exausto (e provavelmente, o mesmo acontecia com Ai).


Makoto era animado até em seus e-mails, comentava sobre a sua nova vida em Tokyo, como tudo era novo e fascinante. E praticamente era por meio dele que tinha notícias de Haruka, além de estar sempre muito preocupado se tudo estava bem, o que não era de modo algum surpreendente se tratando de Makoto.


Haruka escrevia esporadicamente, essencialmente agradecendo alguma mensagem recebida por parte de Rin, mas também perguntando como estava sua situação na Austrália, sua preocupação ficando subentendida em suas parcas palavras.


E havia Kisumi, que insistia em escrever em todos os e-mails que não perderiam mais contato. Ele também estava morando em Tokyo, e mantinha contato com Makoto e Haruka.


Obviamente, Rin também recebia notícias das mulheres de sua vida: sua avó, sua mãe e sua irmã.


Mas havia uma pessoa de quem Rin não recebia notícias, por mais que mandasse e-mails, mensagens e telefonemas.


Rin pegou o celular depois de se jogar na cama. Olhou a hora: 9:23 p.m., então no Japão era 7:23 p.m. Buscou o contato em suas últimas ligações, todas para aquele número, perdidas. Ele ficou ouvindo o toque de chamada até cair, depois ainda tentou outra vez, também sem sucesso.


Franziu o cenho enquanto olhava frustrado para a tela do celular, onde o nome “Sousuke” continuou brilhando até que a luz de fundo da tela se apagasse.


— Tsc. — Rin estalou a língua, mal humorado, mas mais do que isso, preocupado.


Rin desejava profundamente que aquele fosse apenas mais um dos desencontros que já tiveram, quem sabe o último deles, e não que esse fosse o último capítulo da história que existia entre os dois.


* * *


Havia sido o pai de Rin quem o levou ao Sano Swimming Club para aprender a nadar quando ele era pequeno demais para que esse fato se fixasse claramente em sua memória. Naquele dia, ele aprendeu a nadar seu primeiro estilo, e aprendeu o que era competir na água. E também ganhou sua primeira disputa, contra o filho de um amigo de seu pai. Seu pai e ele eram amigos há muito tempo, haviam nadado um revezamento, e naquele dia, levaram seus filhos para que aprendessem a nadar juntos.


E foi assim, de um modo inconsciente, que a natação havia se enraizado na mente de Rin junto com o espírito competitivo e o desejo de ser rápido, desde o primeiro instante em que soube o que era nadar. A emoção de nadar ficou profundamente entrelaçada com a emoção de competir, era como se fossem uma só.


Não foi diferente quando conheceu Sousuke no mesmo Sano SC. Os dois logo se identificaram, tinham muito em comum. Ambos amavam nadar, amavam competir. Eram rivais naturais. Era impossível não serem amigos, assim como era impossível não serem rivais. Competiam sobre tudo, competiam para chegar primeiro ao portão da escola, competiam pelo último sorvete daquele sabor que era o preferido de ambos, porque eles eram tão similares que tinham até os mesmos gostos.


Rin teve uma infância feliz. Quase feliz, pois havia uma nuvem negra sobre ela, uma sobra que pairava vinda do mar.


O mar imenso que trazia alegrias, mas também trazia tristezas. O mar havia levado seu avô, e numa noite de tormenta, o mar também levou seu pai.


Ainda se lembrava do dia em que andou com aquela fila de pessoas vestidas de branco. Caminharam até a costa onde seria o funeral simbólico, já que o mar não havia nem lhes devolvido um corpo sobre o qual chorar. As únicas cores entre o cortejo eram as suas roupas e as de sua irmã. Duas crianças pequenas de mãos dadas perdidas naquela dor. Então, ele viu outras duas crianças assustadas que olhavam para eles de longe. Como seria vê-los dentre aquele mar de vultos brancos? Que aparência eles deveriam ter? Pareciam abatidos, tristes, dilacerados?


Demoraria muito tempo até que Rin se lembrasse daqueles rostos, ele se lembrava das expressões, mas não particularmente das suas feições.


Quando ele estava dentro da água, podia sentir a presença de seu pai. Porque a natação também havia se entrelaçado àquela sensação do primeiro dia na piscina, o barulho da água e a presença do seu pai. Haruka procurava a cura para sua solidão dentro da água, e dentro dela, Rin procurava preencher o vazio que a morte de seu pai havia deixado.


Rin quis viver o que seu pai viveu e sonhar o que ele sonhou. Quem sabe assim se tornaria mais próximo dele. Foi por isso que o sonho de seu pai, de se tornar um nadador olímpico, também havia se tornado o seu sonho. E o desejo de nadar em um revezamento havia tomado forma, tornando-se seu próprio desejo. Mas aquele não era um sonho para se sonhar sozinho e ele desejou que Sousuke fizesse parte dele, que o sonhasse junto de Rin.


No entanto, a natação não significava para Sousuke o mesmo que significava para Rin.


Para Sousuke, a natação era um esporte solitário, e embora ele acreditasse que não houvesse qualquer talento natural que não pudesse ser superado através de esforço e dedicação, assim como Rin acreditava, ele achava que essa diligência não envolvia outras pessoas, mas apenas si mesmo.


Ele ganharia com seu próprio esforço e perderia se isso não fosse suficiente, mas perder por causa de outra pessoa o irritava imensamente. Quando perderam a primeira e única prova que fizeram juntos foi uma confirmação daquilo que acreditava. A natação era uma experiência para se viver sozinho.


Sousuke era um garoto sincero e direto, e ele também sabia que Rin não o deixaria em paz a menos que lhe dissesse sua opinião verdadeira sobre aquele assunto, mesmo que o ruivo não a aprovasse. Aos olhos de Sousuke, Rin era um garoto cheio de ideias românticas, tanto que chegava a ser tolo. Toda essa história de revezamento, de serem amigos até dentro da água, ele não entendia nada daquilo.


Os olhos chocados de Rin quando ouviu suas palavras ficaram queimados em sua retina. O ruído suave da toalha dele deslizando para o chão no vestiário vazio. Só havia os dois ali, e logo só sobrou Rin, pois Sousuke o deixou sozinho, não suportando o peso daquele olhar magoado e perdido.


Aquelas palavras arrasaram Rin.


Ele nunca havia parado para pensar que Sousuke pudesse recusar, e só percebeu o quanto desejava nadar com ele quando Sousuke o dispensou.


A mágoa que sentiu o ensinou mais sobre seus próprios sentimentos do que teria imaginado. Queria nadar com Sousuke, queria estar com ele, queria que algo os unisse de algum modo. Um sentimento sem nome para um garoto romântico e sonhador.


Talvez tenha sido movido por essa mágoa e pela solidão que os olhos de Rin se voltaram para outra direção. Seus olhos passaram a seguir aquele garoto incrível, que havia ganhado dele numa prova em que acreditava dominar absolutamente.


Haruka Nanase do nado livre.


Ele não pôde deixar de observar aquele garoto durante o torneio depois de ter sido derrotado. Um nadador tão talentoso que vinha do mesmo Swimming Club que seu pai havia frequentado. Por algum motivo sentiu orgulho dele. Nanase tinha o tipo de nado que Rin desejava alcançar, e antes que percebesse, se tornar como ele havia se transformado em seu objetivo.


Nanase nunca estava sozinho quando estava fora da piscina, sempre acompanhado daquele garoto alto, Rin se lembrava dele, pois se destacava entre os garotos da sua idade pela altura. Makoto Tachibana sempre tinha um sorriso gentil no rosto. Era claro como ele e Nanase eram próximos, mais próximos do que Rin e Sousuke jamais seriam. Será que ele também poderia se tornar próximo do nadador do crawl? Como seria nadar com o garoto que admirava?


Era uma ideia audaciosa, mas sua família sabia como ele era dedicado a natação e que estava trabalhando duro para alcançar seu sonho. Já havia ganhado uma bolsa de estudos na Austrália. Passaria anos morando em outro país, mas fez um pedido extravagante, que acabou sendo atendido, porque esse era um assunto muito sério para Rin.


Depois de superarem o mal estar do revezamento frustrado, Rin e Souske continuaram sendo amigos como sempre, e Sousuke foi a primeira pessoa para quem Rin falou de seus planos, voltando para casa, juntos sob a neve.


— Eu vou morar na casa da minha avó até a viagem. — disse Rin como quem comenta sobre algo banal. Não havia nada de especial na sua voz.


— Mas assim de repente? E nessa época do ano? — Sousuke ficou surpreso, como não poderia deixar de ser. O ano letivo estava prestes a terminar.


— Não é de repente. Já conversei muito sobre isso com a minha família e elas concordaram que eu poderia passar uns tempos na casa da minha avó.


— Por que isso, Rin? — Sousuke tentava encontrar alguma informação que fizesse sentido.


— Tem uns garotos lá em Iwatobi com quem eu quero nadar. — respondeu com sorriso melancólico que fez o peito de Sousuke apertar.


Então, tudo fez sentido. Foi Sousuke quem afastou Rin, mas ele nunca imaginou que o ruivo chegaria a uma atitude tão extrema para nadar seu revezamento. Apesar de esse ter sido o objetivo de Sousuke, ele não pensou que Rin desistiria dele, mas era isso que estava acontecendo. Rin estava deixando-o. Mas que direito ele tinha para impedi-lo de ir?  Para dizer que não queria que ele fosse, que queria que Rin ficasse com ele no pouco tempo que restava antes da viagem para além mar? Não tinha direito algum sobre Rin, e muito menos de pedir para que ficasse.


Os outros alunos só ficaram sabendo no último dia de aula de Rin. Incluindo Kisumi.


— Como assim, Rin? Você vai mudar de escola? — perguntou Kisumi depois da aula.


— Sim, vou passar uns tempos com a minha avó. — disse calmamente.


— Você sabia disso, Sousuke? — perguntou para o garoto alto que permanecia calado com uma expressão fechada.


— Sabia. — ele se limitou a responder apenas isso, desviando o olhar de Kisumi.


— Por quê? Justo agora? — inquiriu Kisumi novamente.


— Kisumi, lembra que eu disse que meu pai ganhou uma medalha nadando o revezamento medley? Isso foi no Iwatobi SC. Estou indo para o mesmo swimming club nadar o revezamento com uns garotos que conheci no torneio — como Kisumi estava sem palavras, Rin prosseguiu —, você deve se lembrar de que perdi o 100m nado free no último torneio. Quero nadar o revezamento com o garoto que me derrotou, Nanase Haruka-san. Ele tem o nado free mais lindo que já vi, e ele é muito rápido! Fiquei imaginando como seria nadar com ele. — terminou com um sorrio se formando em seus lábios, o carinho em suas palavras por aquele desconhecido surpreendendo Sousuke e Kisumi.


— E se ele não quiser nadar com você? — Será que Rin havia considerado essa possibilidade?


— Nanase-san tem um amigo, Tachibana-san, ele também é um bom nadador. Eu sei que se eu disser para Tachibana-san sobre o revezamento, ele vai querer nadar com Nanase-san, porque é esse o tipo de relação que eles têm. — Rin explicou, olhando para os próprios sapatos, evitando manter contato visual com seus amigos. Aquele sorriso triste voltando às suas feições. Rin sabia que estava abandonando seus próprios amigos para correr atrás de um garoto que provavelmente nem iria querê-lo por perto. Enquanto isso dizia a si mesmo que era atrás de seu sonho que ele estava indo.


Kisumi se recusava a aceitar isso, mas o que ele poderia fazer? Nem mesmo poderia nadar com Rin e preencher o espaço que Sousuke havia deixado. Não havia nada que Kisumi podia fazer. Tudo acontecia diante de seus olhos, mas o poder de mudar essa situação não pertencia a ele.


No dia seguinte, Rin mudou de escola.


E Haruka se mostrou ainda mais inacessível do que havia julgado. Se não fosse por Makoto e por Nagisa, nunca conseguiria fazer Haruka participar do revezamento. Mas, apesar do seu jeito reservado, Haruka tinha um bom coração e era uma pessoa muito responsável.


Vendo a pureza daqueles meninos, Rin se sentia sujo.


Tinha medo que os olhos sinceros e transparentes de Nagisa pudessem ver através dele. Havia usado a fraqueza de Haruka aos apelos de Nagisa. Havia subestimado o garoto mais novo.


Um dia, Haruka desmaiou perto do rio devido a uma gripe, foi quando viu nos olhos de Makoto o medo que ele tinha de perder Haruka. Mesmo depois do susto, suas mãos tremiam enquanto ele forçava um sorriso. Perguntou-se o quão errado era interpor-se entre eles. Ainda assim, ele não conseguia deixar de querer ter a atenção de Haruka para si.


E Haruka que havia resistido tanto à sua aproximação, ao revezamento, foi quem o trouxe de volta e lhe deu forças quando sua própria convicção estava se perdendo. Tanto esforço para conquistar Haruka apenas para deixá-lo logo depois, e mesmo com aquele olhar magoado, ele nadou magnificamente na prova final.


Nos tempos difíceis que se seguiram na Austrália, Rin se perdeu do seu caminho. E por não conseguir seguir em frente sozinho, culpou quem já esteve ao seu lado. Era injusto, é verdade, mas quando a falta que seus amigos fazia era tamanha que o sufocava, ele só quis ter força para se manter erguido. Ele demorou em descobrir que não precisava ficar de pé sozinho.


Sousuke também se perdeu em seu caminho, enquanto tentava alcançar Rin e recuperar o que havia negligenciado. Quando as cartas pararam de chegar ele sentiu o último fio que os unia se partindo. Lutou com todas as suas forças, perseguindo seu objetivo obstinadamente para que seu caminho convergisse com o que Rin, até que ele mesmo ficasse em pedaços. Quando o sonho de voltar a nadar contra Rin pareceu perdido, ele pôde presenciar o renascimento do amigo, e com isso um novo sonho também ganhou seu coração. O que haveria de tão extraordinário em nadar com alguém importante para ele? Sousuke também queria saber. Queria descobrir como seria nadar com Rin e não contra ele. Para isso guardou um segredo, escondeu sua dor e pôde recuperar, mesmo que por um momento efêmero, o direito de estar ao lado de Rin e descobrir a coisa tão valiosa que havia desprezado em sua ignorância. Não era Rin um tolo, e sim ele mesmo.


O que lhe restava agora era arcar com as consequências de suas escolhas. Seu futuro destruído, seu ombro ferido. Mas o mais difícil não era nada disso. Era ver a dor nos olhos de Rin.


— Sousuke. — chamou Rin depois de muito tempo em silêncio na última noite no quarto que dividiam.


— O que foi, Rin? — Sousuke respondeu ainda arrumando seus pertences, as costas largas viradas para cama onde Rin havia acabado de se sentar.


— Você não vai mesmo me dizer o que vai fazer agora?  


Aquilo não era irônico? Há quase um ano, Rin havia pressionado Haruka e Makoto para que tomassem uma decisão sobre seu futuro, e Sousuke parecia fugir disso ainda agora.


— Eu disse que vou voltar para casa.


— E depois disso?


— Eu não sei, Rin. Há muitas coisas que eu posso fazer.


— Você vai mesmo parar de nadar?


— Já conversamos sobre isso. — disse Sousuke, finalmente se virando. Mas ele logo se arrependeu, ao ver a expressão magoada no rosto do amigo. — Rin, não. Está tudo bem, estou feliz assim. Eu realizei meu sonho. — Sorriu para tentar acalmá-lo.


— Mas você pode continuar sonhando!


— Eu vou, mas vou sonhar com outras coisas. Não fale como se eu estivesse morto. — disse soltando um suspiro.


— Não sou eu que estou falado como se você estivesse morto, é você quem está agindo como se sua vida tivesse acabado! — Rin desabafou com o rosto baixo e o timbre de voz subindo. Não se atreveria a erguer seu olhar quando sentia que estava prestes a chorar.


Sousuke sabia que seria assim, sempre soube. Sabia que no momento em que Rin compreendesse o que lhe havia acontecido, como Sousuke havia sido imprudente, ele se culparia por isso. Nada disso teria acontecido se Rin não o tivesse abandonado, se pelo menos as cartas não tivessem parado de chegar. Mas Sousuke tinha plena consciência que havia sido ele a abandonar Rin primeiro. Nada daquilo era culpa de Rin, e ele tampouco o culparia por sua própria insensatez.


Sousuke sentou na cama ao lado Rin, seu ombro encostado no dele. Sentiria tanta falta daquela proximidade, de tê-lo por perto como nunca havia tido antes.


— Rin, não chore.


— Eu não estou chorando! — respondeu aborrecido, mas sua voz embargada o denunciava completamente.


Então, Sousuke puxou a cabeça de Rin, para que ele a apoiasse em seu ombro. Seus dedos tocavam seu cabelo sedoso, fazendo um carinho muito suave. Aquela era a despedida deles.


Depois de quase um ano dividindo aquele quarto, Sousuke pôde sentir como era ter o amigo de volta. Via de perto suas preocupações, chegou a sentir certo ciúme dos outros amigos que ele havia feito. Rin havia se tornado um amigo muito mais fiel do que fora na infância. Era dedicado. Amizade para ele tinha outro significado agora.


Por que fora preciso tanto tempo para que chegassem onde estavam? Se tivessem a maturidade que possuíam agora quando eram crianças, muitos erros não teriam sido cometidos. Mas eles eram quem eram por causa do longo caminho que haviam percorrido, por terem se perdido e se reencontrado.


Rin precisou ser dispensado por Sousuke para saber que sentia algo por ele, e precisou interferir no relacionamento de Haruka e Makoto para entender o que sentia por Haruka. Por muito tempo ele foi apaixonado por Haruka, mas foi para suprir sua carência, e fazê-lo ocupar o lugar que havia sido de Sousuke.


E agora, novamente haveria uma despedida. Rin não queria mais despedidas, desde que Sousuke havia voltado para Iwatobi para encontrá-lo, desde que tudo aquilo que havia julgado como superado havia voltado com a força de uma tempestade. Só não queria feri-lo mais. Só queria que ele sorrisse, que ele fosse feliz, mesmo que não fosse com Rin.


O sonho de nadar com Sousuke havia sido realizado, mas o sonho que havia originado esse era inalcançável, o sonho de tê-lo ao seu lado.


As lágrimas finalmente começaram a escapar e Rin tentou escondê-las, o rosto no ombro de Sousuke, mas só as tornaram mais evidentes ao molhar a camiseta dele com elas.


— Rin... — ele chamou seu nome numa tentativa de consolá-lo, mas ouvi-lo só fazia Rin ter ainda mais vontade de chorar.


Sousuke passou seus braços ao redor dos ombros de Rin, abraçando-o.


No fundo, Rin achava que seus amigos tinham razão, ele não passava de um idiota romântico. Dividir o quarto com Sousuke havia sido suficiente durante esse último ano, senti-lo o abraçando ultrapassava suas expectativas. Seu coração acelerou e suas mãos se agarraram ao tecido da camiseta dele. Estando tão perto assim, podia até sentir o cheiro dele, o banho recém tomado com o pós barba amadeirado, fazia suas mãos transpirarem. Sentiu as mãos de Sousuke acariciando seus cabelos num gesto terno, tentando reconfortá-lo.


— Rin... — ele o chamou novamente com sua voz grave e rouca.


Rin se afastou para olhar para ele, esquecendo que tinha o rosto molhado de lágrimas. Sousuke o olhou nos olhos, e limpou suas lágrimas com uma carícia. Aquele gesto só fazia Rin ter mais vontade de chorar, não queria imaginar o que ele nunca teria, não queria que sua imaginação fosse longe demais, mas a simples ideia de afastar seus olhos dos dele fazia seu peito doer tanto que parecia sufocar. A mão dele permaneceu pousada em seu rosto, parecendo querer evitar que se afastasse. Rin sentia se perder em seus olhos verdes escuros, aquela cor melancólica parecia estar tragando sua alma. Mais lágrimas molhavam seu rosto, descendo soltas, na espera de lavar sua tristeza. As palavras que não eram ditas sobre aquela tênue linha que os prendiam e que sentia se rompendo, como se uma parte dele mesmo estivesse se perdendo com a separação, enquanto desejava se agarrar a esse fiapo de esperança, suas próprias escolhas o levavam para longe do seu amigo querido, do seu amor uma vez perdido, e que estava prestes a perder pela segunda vez.


Aquele momento se cristalizava como uma joia, parecendo que até as respirações ficavam mais lentas sob a ação do tempo que se congelava. O mundo já não existia. Havia apenas a próxima batida de dois corações no silêncio do quarto, aquele olhar terno no qual se perdia, o calor da mão que o amparava, uma eternidade que se estendia.


O movimento foi imperceptível, natural e fluido. Seus olhos se fecharam, então, seus lábios se tocaram. Apenas um toque, uma leve pressão, como se animado pela brisa que agita as pétalas sem levá-las consigo, uma sensação doce que subjugava seus sentidos.


Foi assim que Sousuke o beijou pela primeira e última vez.



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Autor(a): hokutoritsuka

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