Fanfics Brasil - Um sonho para viverem juntos Jiyuuni

Fanfic: Jiyuuni | Tema: Free!


Capítulo: Um sonho para viverem juntos

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Quando se é jovem, o mundo parece se abrir um em leque de infinitas possibilidades. Há tanto para fazer, para sentir, para realizar, para viver. Com o passar dos anos, as próprias escolhas feitas guiam por caminhos, adentrando nesse labirinto. Algumas possibilidades vão deixando de serem opções. Alguns caminhos levam para bons lugares, outros, não.


Sousuke Yamazaki nunca teve medo de tomar decisões, e as tomava com convicção. Sempre soube que a natação era o queria para seu futuro, isso também esteve muito claro para ele desde sempre. Um esporte solitário e silencioso. A água não permitia que a torcida fosse ouvida, nem mesmo se seu nome fosse chamado.


Quando Rin o convidou para participar de uma prova de revezamento com um brilho nos olhos, ele não entendeu o motivo de tanta empolgação. Não entendia a fixação de Rin. É claro que isso estava ligado ao pai de Rin, o desejo dele de nadar em tal modalidade, mas aquela era a vida de Rin e não a do pai dele. Rin deveria viver sua vida como ele mesmo e não como outra pessoa, mas Sousuke não diria isso a ele, pois sabia que magoaria o amigo.


A prova que fizeram juntos estava fadada ao fracasso, pura e simplesmente. Eles eram apenas quatro garotos agrupados e não uma equipe. Rin parecia desesperado para criar laços que não existiam, e Sousuke não fazia a mínima questão de criá-los. Para Sousuke, o fracasso foi apenas uma constatação, mas para Rin foi uma frustração. E para que Rin não continuasse alimentando aquela esperança infundada, Sousuke deixou claro o que pensava disso tudo, porém não esperou que ele reagisse com tanto choque.


Sousuke teve medo da expressão que viu no rosto de Rin. Além do choque e da consternação, a decepção e algo que se quebrava. Quase poderia ouvir o som dos estilhaços se espalhando pelo chão do vestiário vazio.


Depois disso Rin o deixou.


Ele sabia que se tivesse dito o que Rin queria ouvir ele não teria ido atrás daquele garoto frio, Haruka Nanase. Kisumi não estaria triste no canto da sala, olhando para a neve do lado de fora. E ele não se sentiria tão miserável. Mas agir de outro modo não seria verdadeiro, seria uma encenação que logo fracassaria. E Sousuke não mentia.


Mas havia algo que não tinha mudado, seu sonho era ainda o mesmo, e que também era o mesmo sonho de Rin. Apenas precisava seguir seu caminho que ele inevitavelmente se encontraria com o de Rin. Então, Sousuke jurou para si mesmo que daria tudo de si para que esse sonho se tornasse realidade, mostraria como o fruto de seu esforço era superior ao talento nato de Nanase que Rin tanto admirava. E voltaria a nadar com seu amigo.


Um dia, ao abrir a caixa do correio, ela estava vazia. E no dia seguinte também. E no dia depois desse.


Sousuke foi tomado por um sentimento de urgência. Havia algo errado, mas ele não sabia o que era. Rin não escrevia, e as cartas se tornaram unilaterais. Sousuke tinha pressa. Precisava encontrar Rin o quanto antes, mas só sabia de um jeito para fazer isso, por isso ele treinou com ainda mais paixão.


Até que aquele caminho se fechou, e aquele futuro se perdeu.


Foi, derrotado, tentar encontrar Rin no torneio quando soube que ele estava de volta ao Japão, e o que viu o chocou profundamente. Seus pés ficaram presos no chão e se viu incapaz de se mover. O que ele poderia fazer por aquele Rin que agonizava sem esperanças? Se ele pudesse tomar aquela dor para si ele o faria, mas o que ele tinha para oferecer? Ele havia, sozinho, destruído seu próprio futuro, com que cara poderia olhar nos olhos de Rin?


Queria ser digno o suficiente para oferecer seus braços para ele, para acolhê-lo e secar suas lágrimas, mas não era.


Viu, de longe, outras pessoas fazerem o que ele não pôde fazer. Rin reviveu como o esplêndido nadador que era.


O ginásio todo ficou em chamas com a prova, era impossível não olhar, não se emocionar. Um revezamento poderia ser tão poderoso assim? Vendo a alegria de Rin ao abraçar seus antigos colegas, ele desejou poder sentir aquela alegria. Ser o responsável por fazer Rin sorrir.


Um novo sonho surgiu em seu coração. Um sonho modesto que estava longe de chegar ao topo do mundo, mas que em si tinha sua própria grandeza. Ele apenas queria nadar um revezamento num clube de escola. Desejou nadar um revezamento com Rin.


Sousuke faria as coisas do jeito certo, e não com a irresponsabilidade de Nanase e seus amigos que os fizeram serem desclassificados do torneio regional sem ir às nacionais, e provavelmente, causando problemas para Rin em sua escola.


Sousuke tinha um ponto a seu favor, podendo contar com Gou como sua informante, além da discrição dela. Ele não avisou Rin, apenas contou com um pouco de sorte e ele estava bem ali, quando entrou na sala de aula. Seus olhos vagaram esperançosos e um sorriso se abriu em seus lábios ao ver a surpresa no rosto de Rin em descobrir que ele era o aluno transferido de Tokyo. Dentro daquela sala, mesmo com o uniforme, Rin era descolado, diferente de todos aqueles garotos que nasceram e cresceram numa cidade do interior.


Sua intenção era contar a verdade para o amigo, mas simplesmente não teve coragem. Rin estava tão animado de se encontrarem de novo, quando percebeu a mentira escapava de sua boca. Ver a expressão que Rin faria ao saber da verdade era exatamente o que ele não queria, ele iria chorar, iria se desesperar, e por fim, culpar-se. Rin estava tão feliz! Nunca se perdoaria se manchasse sua felicidade. Ter o sorriso de Rin era o suficiente para esquecer todos os problemas, nada daquilo tinha importância, já que agora ele podia ver aquele sorriso que havia se tornado ainda mais bonito com o tempo. Então, pela primeira vez, Sousuke mentiu.


Foi difícil esconder suas idas ao fisioterapeuta, esconder a dor durante os treinos, mas o pior foi continuar mentindo enquanto Rin falava de seus planos para o futuro. Até que se tornasse impossível sustentar sua encenação e Rin descobrisse. Ironicamente, uma lata de refrigerante como a que havia perdido no jan-ken foi jogada deliberadamente, sabendo que ele seria incapaz de apanhá-la. A prova mais clara, a trajetória baixa para que não o atingisse, havia sido usada para encurralá-lo e impedir que continuasse mentindo.


Rin agarrou sua jaqueta e chorou exatamente como havia imaginado que ele faria. Conhecia aquele ruivo tão bem, a ponto de saber a trajetória que tomaria cada lágrima que ele derramava.


Como teria sido a vida deles se Sousuke tivesse sido capaz de enxergar aquilo que Rin havia se esforçado tanto para lhe mostrar quando ainda eram crianças? Se ele não tivesse afastado Rin, teria sido capaz de evitar que ele se perdesse? Teria sido capaz de trazê-lo de volta como haviam feito os meninos de Iwatobi?


Teria percebido antes o quanto o amava?


Agora não se sentia no direito de falar sobre os seus sentimentos, não se sentia no direito de amar Rin.


Uma parte dele se arrependeu no momento em que seus lábios tocaram os dele, enquanto a outra, que havia ansiado anos por isso, sorvia a doçura do primeiro beijo deles. Surpreendeu-se ao perceber que havia sido muito diferente do que havia imaginado. Havia imaginado um beijo com Rin como algo desesperado e faminto, como seus próprios sentimentos eram. Mas avesso a isso, foi suave e terno. Ainda sentia as lágrimas dele sob seus dedos, o rosto molhado, o beijo doce, mas salgado. O coração acelerado no silêncio do quarto onde tantas vezes adormeceu embalado pelo som do ressonar de Rin, vindo da cama de baixo. O beijo só durou um instante, mas esse breve instante valeria sua vida inteira.


E então, terminou.


Sousuke levantou depressa, sem conseguir olhar para Rin. Sabia que ele o olhava, podia sentir. Seus olhos deviam estar confusos enquanto fitavam as costas de Sousuke ao vê-lo fugir do quarto.


No banheiro, jogava água no rosto para se certificar que estava acordado. Depois de dividir o quarto com seu primeiro e único amor por um ano inteiro, nunca se atreveu a tentar tocá-lo, muitas vezes se limitando a assistir sua vida da cama de cima. E agora um deslize que finalmente o acordava para a realidade dos fatos. Foi como quando viu Rin nadando com Haruka, Makoto e Nagisa. Isso havia plantado um novo sonho dentro dele, aquele beijo o fez sonhar mais alto do que achou que ainda fosse capaz.


Ainda não estava pronto para desistir de Rin.


* * *


— Rin, eu... Rin... Não faz sentido se você está assim. Rin, tem uma coisa que eu preciso dizer.


Rin ergueu os olhos marejados e encarou a expressão culpada de Kisumi sem entender.


— Sousuke está aqui.


— O quê?! — disse o ruivo quase agarrando Kisumi pelo colarinho como havia feito anteriormente.


— Rin, seja paciente e espere. — pediu Kisumi com a voz suave.


— O que quer dizer com isso?! Esperar por quê?! Onde ele está?


Quando Rin viu que Kisumi não deixaria as coisas mais claras para ele, simplesmente desistiu e resolveu sair para procurar o amigo, mas antes que passasse por ele, Kisumi o segurou pelo antebraço.


— Rin, só estou pedido para esperar, não vai ser muito tempo.


Rin ficou impressionado com a força com que Kisumi o segurava. O rapaz parecia apenas um tipo magricelo, talvez como um modelo com seu sorriso brilhante e cabelo macio, mas então, lembrou-se que ele também era um atleta.


Haruka estava de costas e não via a cena toda, mas Makoto estava alerta e quase foi auxiliar Kisumi na tarefa de segurar Rin, mas logo viu que não seria preciso, pois o outro daria conta sozinho.


— Eu não deveria nem ter te contado, mas eu não aguento mais ver você assim, isso está te fazendo mal!


— Sousuke esteve em contato com você? — perguntou Rin tão diretamente que deixou Kisumi meio desnorteado com a mudança de assunto.


— Ah, sim.


Rin franziu o cenho ao ouvir a resposta.


— Rin, você não faz ideia de como isso é importante para o Sousuke, então, apenas espere, está bem?


Rin continuava com uma expressão magoada e isso fez Kisumi suspirar.


— Não cabe a mim explicar. — disse por fim, fazendo Rin encará-lo de novo. Kisumi o olhou em silêncio e depois disse com um jeito casual. — Eu devo ser muito atraente para todo mundo ter ciúmes por minha causa.


Aquilo tirou o resto da paciência de Rin, que voltou a tentar escapar, e voltou a ser impedido por Kisumi.


— Eu só estou tentando ajudar. — Kisumi tentou se justificar.


Depois de um tempo, Rin pareceu relaxar, mas Kisumi não o soltaria tão facilmente.


— Rin, escute. Depois disso, vocês vão conversar e vão se entender. Eu não sei o que acontece com vocês que vivem se desencontrando apesar de tudo! — disse Kisumi meio exasperado. — Vocês são muito teimosos! — completou fazendo bico e olhando com o canto dos olhos.


— Você sabe que eu tenho uma prova logo mais, não sabe?


— Fique calmo, eu sei disso.


Rin continuou impaciente, mas esperou quieto. Enquanto isso, Aichirou e Momotaru olhavam desconfiados para a cena suspeita, pensando se deveriam interferir, mas Makoto os acalmou discretamente.


Rin estava com uma cara emburrada quando ouviu a voz de Kisumi o chamando, antes até do que esperava.


— Ei, Rin. Olhe. — disse com a voz mais leve, finalizando as poucas palavras com um sorriso.


— Espere, mas essa prova é...


— Que bom que ficou pelo menos um pouco surpreso. — completou, agora, rindo.


Rin segurou o parapeito com as duas mãos, enquanto via Sousuke se alinhar ao bloco de largada.


* * *


Agora, estava prestes a descobrir se seria capaz de cumprir a nova promessa que havia feito para si mesmo. Só seria livre depois que tirasse essa prova.


Havia se esforçado, mas seguindo estritamente a recomendação do seu fisioterapeuta. Além disso, sempre fora um bom aluno, e isso o ajudou a seguir em frente. Não precisava de uma recomendação, e as oportunidades ele mesmo criaria dali para frente.


Entrou no palco em que defenderia a sua universidade, e diante do bloco de larga encarou o limite que ele mesmo havia se imposto. Foi como o seu primeiro dia de aula no Samezuka, mesmo agora o espaço sendo maior, pelo menos sabia em qual direção olhar. Kisumi havia cumprido sua promessa. Rin estava lá.


Sousuke deixou um sorriso fluir pelos seus lábios quando seus olhos se encontraram. Ver Rin lhe deu forças, pois nunca deixaria que ele visse sua desgraça. Para Rin dedicaria sua glória. E então pulou na água ao ouvir o sinal de largada.


Uma nova chance em um estilo novo.


Se, e apenas se, saísse-se vitorioso libertaria seus sentimentos, diria a Rin tudo que havia guardado e aceitaria de bom grado sua resposta, fosse ela qual fosse. Com esse espírito, Sousuke colocou a sua vida na prova dos 100 metros nado peito.


* * *


Haruka achou estranho o modo como Kisumi permanecia segurando o braço de Rin, então olhou para Makoto, que apenas sorriu, tranquilizando-o.


Embora Kisumi fosse mais alto do que Rin, não teria força física para conter o ruivo se ele mesmo não fosse titular do time de basquete.


Kisumi havia prometido a Sousuke que faria Rin assistir a sua prova, mas que impediria que os dois se encontrassem antes dela, do mesmo modo como havia feito com Makoto e Haruka. Dessa vez a ideia havia sido de Sousuke, depois de ele comentar a ideia divertida que havia tido para surpreender Haruka com o retorno de Makoto às piscinas.


Kisumi sabia que repetir a brincadeira seria difícil, mas esse dia significava que o silêncio que Sousuke havia imposto a Rin finalmente chegaria ao fim. Kisumi havia sido veementemente contra a atitude do amigo, mas Sousuke disse que seria melhor assim, que organizaria suas ideias nesse tempo e que, principalmente, evitaria dar falsas esperanças ao amigo em comum. Kisumi o alertava o quanto Rin estava preocupado, e mesmo que isso pesasse em sua consciência, Sousuke se esforçava para que a espera de Rin valesse a pena.


O fisioterapeuta de Sousuke havia sido muito claro desde o primeiro momento, o nado borboleta já não era algo que fazia parte de sua realidade, o estilo mais difícil e que também era o que mais exigia do físico do atleta. Sousuke até poderia voltar a nadar, mas não o borboleta. Um estilo que pudesse ser executado mesmo por alguém com o seu tipo de lesão, tão bem a ponto de participar em competições. Foi então que adotou o nado peito.


Sousuke havia voltado a ter contado com Kisumi por intermédio de Makoto, a quem havia encontrado em um torneio amistoso, ambos muito surpresos com a volta um do outro. E no fim, a ideia de todos se reunirem naquele evento havia se firmado entre eles.


Agora, Rin assistia cheio de expectativa e ansiedade, depois de quase sair correndo, sua energia gasta vibrando e chamando o nome de Sousuke.


* * *


— E agora, eu posso ir? — perguntou Rin.


— Claro — respondeu Kisumi com um sorriso e, enfim, soltando o braço do ruivo que logo disparou, descendo as arquibancadas —, só não vá esquecer o horário da sua prova, hein! — gritou fazendo uma concha com a mão, meio provocando e meio falando a verdade.


Rin tinha pressa para ir ao encontro de Sousuke, deixando para trás seus amigos que comemoravam, principalmente Aichirou e Momotaru, que haviam visto de perto a tristeza que havia consumidos os dois amigos nos últimos dias de aula.


— Sousuke! — Rin gritou assim que viu o rapaz no vestiário, assustando várias pessoas que estavam ali, pois sua voz foi amplificada pelas paredes do espaço confinado.


— Rin. — Sousuke apenas disse o nome dele, seguido de um sorriso como o que havia lhe dado antes do início da prova.


Rin, então, se deu conta que não havia pensado no que dizer para ele, ou o que quer que tivesse pensado já não estava acessível em sua mente. Ele demorou alguns segundos para se recompor, depois aproximou-se de Sousuke dando um chute de leve  em sua perna.


— Por que demorou tanto? — Rin percebeu que já não tinha importância o silêncio que havia durado meses, além disso, ele era a última pessoa que poderia fazer algum tipo de crítica sobre esse tipo de coisa.


— Desculpe por fazê-lo esperar. — disse sinceramente.


O pedido de desculpas inesperado emocionou Rin, que era muito fácil de abalar, mas que fungou engolindo o choro. Assim que o viu mais calmo, Sousuke continuou:


— Rin, precisamos conversar.


— Podemos falar agora.


— Não, talvez isso leve algum tempo. Eu estou morando aqui em Tokyo agora, podemos conversar depois do torneio? Se não tiver problema, você poderia vir comigo à minha casa?


Naquele instante a imagem do beijo voltou à memoria de Rin, que acabou corando involuntariamente.


— Para conversar? — falou para disfarçar sua falta de jeito.


— Sim, uma conversa de amigos. Só quero deixá-lo a par do que tem acontecido enquanto não mantive contato. — disse Sousuke para tranquilizá-lo, só agora percebendo como seu convite poderia soar suspeito.


— Eu... Eu preciso falar com o treinador. Nos vemos depois da minha prova?


— Sim. Estarei esperando.


Rin se dirigiu para a porta do vestiário um pouco rápido demais, mas ao chegar à porta virou-se novamente.


— Sousuke, parabéns! — E abriu um sorriso.


— Obrigado, Rin. — respondeu Sousuke, também sorrindo.


* * *


— Sousuke-senpai!! — gritaram Aichirou e Momotaru em uníssono ao verem Sousuke chegar. Rin já havia voltado para sua delegação e não acompanhou Sousuke até a parte da arquibancada onde estavam seus amigos.


 — Ai. Momo. Imaginei que também estariam aqui.


— Por que não contou que estaria participando do torceio? — inquiriu Momotaru, fazendo bico.


— Era para ser uma surpresa.


— E foi! Meu coração ainda está disparado! Agora estamos competindo com o mesmo estilo! — respondeu Aichirou com sua empolgação habitual.


— Sim, isso torna as coisas mais fáceis para mim. — Então, voltou-se para seu cúmplice. — Obrigado, Kisumi.


— Não há de quê. — respondeu com um sorriso. — Segurar o Rin foi mais difícil do que eu pensava, — completou limpando o suor da testa —, achei que ele fosse me morder!


— Eu teria interferido se fosse preciso. — disse Makoto, entrando na conversa.


— Argh, foi melhor não, alguém poderia acabar chamando os seguranças. — disse Kisumi, o que fez os outros rirem, imaginando a cena.


— Olá Makoto, Haru.


— Oi Sousuke! — respondeu Makoto, enquanto Haruka fazia uma reverência inclinando a cabeça. — Como foi com o Rin?


— Temos muita coisa para conversar ainda. — comentou Sousuke.


— Sim, acho que a reunião vai ficar para outro dia. O pessoal precisa voltar para Iwatobi... — disse Makoto com certo pesar.


— Eu preciso levar meu irmão, também. — disse Kisumi.


—Sim, e... — Makoto começou a falar, então, olhou para Haruka.


— Vocês também precisam conversar. — disse Sousuke, entendendo o que se passava entre eles.


Makoto sorriu sem graça e Haruka desviou o olhar. Depois voltou a olhar diretamente para Sousuke.


— Parabéns, Sousuke.


— Obrigado. — ele agradeceu depois de um breve instante de admiração.


Sua relação com Haruka havia melhorado muito no último ano. Sousuke sempre se aborreceu com Haruka por ele parecer se recusar a seguir o caminho, que obviamente, era o que ele queria. Não conseguia entender por que ele hesitava tanto, mas cada pessoa tem suas próprias convicções e apenas Haruka saberia suas próprias razões, assim como apenas Sousuke sabia dos motivos que o faziam agir do modo como ele agia. Depois que conheceu o lado responsável de Haruka, Sousuke passou a respeitá-lo muito mais. Depois que reencontrou Makoto, ele passou a entender o que havia de tão fascinante no relacionamento de Makoto e Haruka que havia atraído Rin, toda aquela cumplicidade e dedicação. Tudo isso era claro para quem quisesse ver, bastava olhar para eles agora, lado a lado. Também sabia que existia algo a mais entre eles, mesmo que ninguém tivesse lhe dito isso explicitamente.


Será que um dia, Rin e ele seriam assim como eles dois?


* * *


— Entre. — disse Sousuke depois de destrancar a porta do seu apartamento e empurrá-la para que abrisse, dando passagem ao seu convidado.


— Desculpe o incômodo. — disse Rin, passando pela porta.


Rin achou que conversariam sobre tantas coisas, mas passaram o caminho de metrô quase todo em silêncio depois da despedida cheia de choradeira no ginásio. Ficou preocupado com Gou indo embora, mas Rei e Nagisa prometeram cuidar dela (Momotaru também havia prometido, mas ele esperava que Nagisa e Rei a protegessem dele). Ficou feliz ao perceber que o clima estranho que tinha sentido nas últimas conversas com eles já não estava lá e que os dois estavam bem como nunca.


Tirou os sapatos enquanto Sousuke voltava a trancar a porta.


— Você quer um chá? — ofereceu Sousuke, depois de tirar seus sapatos também.


— Então é aqui onde você mora. — disse Rin em vez de responder a pergunta que havia sido feita por seu anfitrião, contendo-se no último instante para não dizer “então é aqui onde que você se escondeu de mim”.


— Sim, é pequeno, mas para quem passou os últimos anos em dormitórios chega a ser grande.


— Tem razão. Eu estou morando em um alojamento novamente, às vezes a falta de privacidade é enervante, mas tirando isso, não tenho problemas.


— Privacidade... — repetiu em voz baixa.


O apartamento consistia de uma sala-cozinha, um banheiro e um quarto. Apenas o suficiente para um estudante solteiro. A decoração tinha mais traços do estilo ocidental, com um sofá pequeno, um rack com uma televisão, um bancada que separava os ambientes da cozinha e da sala, provavelmente, onde Sousuke fazia suas refeições quando estava em casa. Ficou imaginando-o ocupando todos os espaços que podia ver, cozinhando no fogão, abrindo a geladeira, sentado relaxado no sofá, sentado em uma das cadeiras da bancada. Podia sentia a presença dele emanando daquele espaço, como sentia do quarto que dividiram no dormitório do Samezuka.


Sousuke indicou que se sentasse no sofá. Rin obedeceu, mas Sousuke puxou uma cadeira e sentou-se diante dele, em vez de dividir o sofá.


— Então, Sousuke, o que você tem para me falar?


— Desde quando você ficou tão direto, Rin? — perguntou Sousuke.


— Aprendi com um amigo que isso pode ser uma virtude. — respondeu, fazendo Sousuke imaginar de qual amigo ele estava falando. Provavelmente era Rei, o rapaz de óculos que Rin ensinou a nadar os outros estilos além do borboleta, e quem o havia ajudado a reatar com Haruka e os outros. — Estou esperando.


Em vez de responder, Sousuke se levantou e foi buscar uma coisa em sua mochila. Aquilo estava deixando Rin impaciente. Sousuke voltou e sentou-se novamente.


— Aqui. — disse Sousuke, entregando a medalha dourada que havia ganhado mais cedo. Rin a pegou sem entender o que aquilo significava, e o olhou interrogativamente. — Eu jurei para mim mesmo que só falaria com você quando tivesse algo a oferecer.


Rin a segurou e a rolou pelos dedos, era idêntica a sua medalha do nado borboleta. Depois olhou para Sousuke.


— Foi por isso que não estava retornando meus telefonemas?


— Eu não queria mais decepcionar você.


— Você nunca me decepcionou.


— Tem certeza? Nem quando eu disse que não nadaria o revezamento com você?


— Aquilo não me decepcionou. Eu apenas fiquei... abalado.


— Então, Rin, você me disse para continuar sonhando. E eu continuei.


— Foi uma ótima surpresa, mas eu ainda preferiria que você tivesse me dito antes.


— Você não vai deixar isso passar, vai? — Sousuke sabia que Rin estava certo por ter ficado magoado, afinal ele esteve preocupado esse tempo todo sem ter notícias dele, mas não pôde deixar de soltar um suspiro. — Eu disse que queria ter algo para lhe oferecer.


— Você não faz ideia de como estou feliz que você tenha voltado a nadar, mas eu realmente não preciso disso! Eu só queria... — Rin se interrompeu, ainda inseguro sobre o quanto poderia falar.


Estavam andando em círculos, como haviam feito a vida toda. Um correndo atrás do outro sem nunca se alcançarem. Já estavam cansados disso.


— Sousuke, naquele dia, no dormitório...


Antes que Rin terminasse de falar, Sousuke se inclinou para frente e envolveu a mão de Rin que segurava a medalha com a sua mão. Olhando-o nos olhos com uma intensidade que parecia arrebatar a alma.


— Rin, eu amo você.


O ruivo ficou sem reação ao ouvir uma declaração à queima-roupa. O rubor subiu rapidamente ao seu rosto, enquanto seus lábios se abriam de surpresa, mas sem emitir som algum.


Sousuke soltou uma leve risada nasal diante do estado petrificado de Rin.


— Bem, não foi a pior reação que eu imaginei — depois deu um suspiro —, por isso eu queria conversar em particular e não antes da sua prova. Por isso eu queria voltar dignamente à natação primeiro, não quero que você me aceite por pena. Você não precisa me dar uma resposta e eu não espero que as coisas mudem entre nós.


Permaneceram em silêncio por algum tempo, até que Sousuke percebeu que ainda segurava a mão de Rin, então a soltou e se levantou.


— Precisamos decidir o que vamos comer no jantar. Podemos sair para comer, ou podemos pedir para entregar. Posso preparar alguma coisa, mas isso demoraria um pouco. Você está com fome? — começou a falar como se a conversa em que estiveram até poucos instantes não fosse tão importante a ponto de mudar suas vidas.


Quando sentiu o calor da mão de Sousuke se afastar, aquilo finalmente fez Rin despertar. Ele não queria que Sousuke se afastasse, não queria que ele fosse para longe, onde não pudesse alcançá-lo. Sabia que ter o calor da mão dele sobre a sua era exatamente o que ele queria, o que quis durante muito tempo.


Rin se levantou num rompante e estendeu a mão, alcançando e segurando a mão de Sousuke com força. Nunca mais deixaria que ele partisse.


— ...mou tanto?


— O quê? — Sousuke não pôde ouvir as palavras murmuradas de Rin, que estava de cabeça baixa.


— Por que demorou tanto?! — ele repetiu a plenos pulmões, agora, erguendo o rosto.  — Eu estive esperando por tanto tempo!


Sousuke se virou no mesmo instante e puxou Rin para os seus braços, envolvendo-o junto ao peito, uma mão entre as suas omoplatas e a outra com os dedos perdidos entre o cabelo liso. Podia sentir o cheiro do cabelo de Rin, podia senti-lo retribuindo o abraço, agarrando o tecido da sua jaqueta, o rosto enterrado na curva do seu pescoço.


— Desculpe fazer você esperar. — disse Sousuke com um sorriso bobo no rosto, seu hálito soprando os fios finos do cabelo de Rin.


Podia perceber que Rin estava chorando, mas não poderia culpá-lo, o próprio Sousuke sentia os olhos umedecerem com as lágrimas que brotavam da sua felicidade, e que finalmente escaparam, rolando por seu rosto. Rin continuava agarrado a ele, sentindo seus braços envolvendo-o.


— Eu também amo você. — disse Rin com a voz embargada.


Sousuke o afastou o suficiente para que pudessem se olhar nos olhos. Rin tocou o caminho marcado pelas lágrimas no rosto de Sousuke com a ponta dos dedos, vendo cada detalhe de seu rosto como se fosse a primeira vez. Os dedos desenhando a linha do maxilar suavemente até chegar ao queixo, e depois subir aos lábios. Sua boca se abriu levemente, em um movimento delicado, ergueu o rosto, então Sousuke se inclinou e o beijou pela segunda vez. Os lábios se tocaram ternamente, primeiro, apenas o toque, e como se através dele lhes fosse soprada a vida, animaram-se em uma sútil agitação. Lábios sobre lábios, o hálito, a respiração, os batimentos que retumbavam em seus ouvidos, os braços que envolviam e as mãos que tocavam. Mais um beijo no lábio inferior, e a língua invadiu sua boca, cuidadosamente, tocando sua língua, acariciando-a. Foi só então que Rin percebeu que havia fechado os olhos, preso naquele encanto, arrebatado e absolutamente feliz.


O beijo terminou naturalmente em um sorriso que eles sorriram juntos. Ainda haveria o terceiro, e tantos outros beijos que até seria difícil contá-los. Entre eles, a conversa, a escolha do que comer no jantar, mais risadas e mais beijos.


Kisumi estava certo, por que eles haviam demorado tanto para se acertarem? De um momento pra outro aquilo se tornou apenas uma lembrança distante e amarga do tempo que tinham perdido. Mas isso não importava, o que importava era o tempo que eles teriam juntos daqui para frente. Do sonho perdido que havia reencontrado, de terem seu futuro juntos.



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Autor(a): hokutoritsuka

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