Fanfic: Decisão | Tema: Spy x Family
Apesar de finalmente comprovar que ninguém da minha família veio me ver na cerimônia de formatura, um calor preenche meu coração ao estar em pé ao lado de Anya, enquanto aguardamos nossos nomes serem chamados lá no palco para recebermos os diplomas.
Nossas mãos roçam nas laterais do corpo, tentando deixá-las escondidas na grande manga da beca preta que usamos por cima da roupa de gala. Estamos provocando um ao outro e percebo que ela dá umas risadinhas dessa nossa “brincadeira”.
Não me surpreende que, quando o nome “Anya Forger” é chamado no palco, inúmeras pessoas assoviam e aplaudem. Afinal, ela é muito querida por muitos. Já faz muitos anos que ela deixou de ser aquela garotinha que era o pesadelo dos professores.
Meu coração jubila ao vê-la desfilando até o palco com um belo sorriso, seus cabelos esvoaçando atrás como uma capa. Enquanto recebe o canudo de diploma e aperta elegantemente a mão do professor Henderson, olho para o lado e vejo que seus pais estão… Chorando.
Chorando de emoção, de felicidade, de orgulho.
Pressiono os lábios, pois sinto um incômodo na garganta. Longe de mim ter inveja da Anya, mas cara… Como essa sensação deve ser boa…
Levo um susto quando vejo que Yor, ao longe, acena para mim com um sorriso otimista, e até mesmo Loid faz um aceno com a cabeça. Fico um pouco sem reação por um momento, mas acabo acenando de volta, um pouco tímido.
Quando volto a me virar para frente, me pego sorrindo para mim mesmo, com a mão agarrando a beca em meu peito, pensando em como os pais da Anya são gente boa.
Anya volta a ficar ao meu lado e a parabenizo. Becky e algumas outras amigas a abraçam e dão pulinhos de felicidade. Sinto Ewen e Emile me cutucarem com um sorrisinho malandro, pois obviamente já sacaram que eu e a Anya estamos mais próximos. Não consigo evitar sorrir de volta. Eles me dão alguns soquinhos em comemoração.
E então, depois de alguns minutos, ouço meu nome ser chamado e sinto meu corpo inteiro formigar.
Praticamente todos os alunos que já tinham sido chamados receberam aplausos e assovios vindos de seus amigos e familiares, e eu temia o que poderia acontecer quando chegasse minha vez.
Eu esperava que somente Emile e Ewen fossem fazer barulho quando chamassem meu nome.
Enquanto eu andava um pouco cabisbaixo em direção ao palco, reconheci sim, as vozes e aplausos dos meus melhores amigos.
Entretanto, tinha mais gente me celebrando.
Ouço Anya gritando meu nome em incentivo, sua voz misturando com as de Ewen e Emile. Até mesmo Becky estava aplaudindo disfarçadamente. Sinto uma alegria invadir meu coração.
Porém, eu fui surpreendido.
Ouço mais vozes.
Olho rapidamente para trás e levo um grande susto ao ver que Loid e Yor estão me aplaudinho, sem vergonha alguma. Yor até mesmo assovia alto com os dedos e Loid bate palmas acima da cabeça.
Meus olhos ardem ao ver aquela cena.
Pego meu canudo de diploma, aperto a mão do professor, tiro uma foto e desço do palco, novamente sendo aplaudido por aquelas pessoas.
Sinto tudo se movimentar em câmera lenta.
Vejo meus melhores amigos, com um sorriso de orelha a orelha e pulando em euforia.
Vejo Anya praticamente brilhar, com sua expressão de felicidade e carinho.
E, vejo os pais dela ao longe, parecendo tão orgulhosos de mim, como se eu fosse o próprio filho deles.
Naquele momento, penso que faria de tudo para fazer parte daquela família.
♦♦♦
Saboreio o delicioso jantar que estão nos servindo após a cerimônia de formatura.
Estou sentado em uma mesa redonda, num enorme salão chique, com lustres de cristais e uma banda tocando no palco principal algumas músicas lentas, baixinho. Garçons e garçonetes não param por um minuto, servindo as melhores iguarias para as famílias do Colégio Éden.
- Amor - ouço Yor chamar o marido - Tem como pedir mais um filézinho de peixe pra mim? Tô morrendo de fome!
- Meu Deus, querida - responde Loid, arregalando os olhos - Mas já é o quarto filé em menos de quinze minutos!
- Deixe a mamãe comer o que ela quiser, pai - diz Anya, rindo dos dois - Senão, o bebê vai nascer com cara de atum!
Rio da situação. Os pais de Anya me convidaram para sentar junto deles à mesa e confesso, me senti muito feliz, pois provavelmente eu ficaria meio deslocado por aí, já que não teve nenhuma mesa reservada para minha família e eu acabaria jogado em uma mesa aleatória, com gente que nem conheço.
De repente, sinto um arrependimento amargo surgir em meu peito por ter demorado tanto tempo para me aproximar de Anya. É claro que já eramos meio que amigos, mas nada muito íntimo como está sendo agora. Nunca imaginei que ela e sua família pudessem ser tão… Maravilhosos.
Apesar de eu ainda estar um pouco tímido e envergonhado, os três me fazem sentir muito à vontade. Conversamos sobre assuntos diversos e tudo parece fluir tão bem… Eu nunca havia experimentado um tipo de relacionamento como esse.
A cada segundo que eu passava na presença dos Forgers, sabia que tinha feito a decisão correta.
Então, percebo que Loid e Yor estão um pouco entretidos com o barrigão do bebê, como se estivessem conversando com ele (aparentemente, o bebê estava feliz da vida com a comida boa e chutava bastante).
Preciso muito fazer uma coisa, ainda hoje a noite, e percebo que chegou o momento para isso. Sinto meu coração começar a acelerar.
Devagar, por debaixo da mesa, pego na mão de Anya de maneira delicada e me inclino em seu ouvido.
- Vamos dar uma volta? - sugiro. Ela está tomando um suco pelo canudinho e ergue as sobrancelhas em consentimento, animada.
Pedimos licença e saímos. Mal passamos pela porta do salão e automaticamente, entrelaçamos nossas mãos, a caminho dos jardins do Colégio.
Está uma noite linda. Tudo está decorado com luzinhas amarelas pelos postes, parecendo vagalumes dançantes. O clima está agradável e não tem muita gente aqui fora, apenas alguns casaizinhos aqui e ali, e umas crianças brincando por aí na companhia dos pais.
Ao longe, ouvimos a banda tocar uma música muito agradável.
Em silêncio, levo Anya até uma área daquele jardim em que eu costumo ir para ficar sozinho e espairecer, que é um pouco mais reservada. A lua brilha bem acima de nós.
Sentamos em um banquinho de pedra, não largando nossas mãos por um segundo sequer. Ela deita a cabeça em meu ombro e respira fundo em contentamento. Começamos a conversar sobre coisas da escola, eventos que aconteceram quando éramos menores e rimos de nossas travessuras e provocações.
Quando nos recordamos da última vez que ela me deu um soco, anos atrás, digo:
- Acho que no fundo, eu te provocava porque era meu jeito de chamar sua atenção…
- E funcionava, viu! - responde Anya, rindo - Você sempre me deu nos nervos, Segundinho…
Então, viro-me para ela e pego suas duas mãos, fazendo ela olhar para mim.
- Me perdoe… - digo, soltando um suspiro cansado e com uma expressão melancólica.
- Por que você diz isso? - Anya também adquire um semblante triste.
Engulo em seco.
- Por eu ter sido um idiota durante todos esses anos… Por ter sido um babaca com você, te provocado ou até mesmo, te magoado em algum momento…
Meu corpo estremece quando sinto a mão de Anya em meu rosto. Ela o levanta e me encara.
- Damian… Se tem uma coisa que eu aprendi na minha vida é que… - ela olha para o lado, como se estivesse pensando em algo, depois volta a me olhar - Não importa de onde você veio, ou o que você fez no passado. O que importa, é quem você é agora. Nada mais.
Franzo um pouco o cenho, surpreso. Nunca na minha vida imaginaria Anya Forger falando algo desse tipo.
- Se eu pudesse - continuo - Faria tudo tão diferente…
- Acho que todos nós pensamos assim… - Anya ri, baixinho, e eu acompanho.
Então, assim como ela havia feito comigo, pego delicadamente em seu rosto e a olho profundamente, me permitindo mergulhar naqueles olhos verdes. Dou um sorriso triste, enquanto balanço a cabeça em negação.
- Como pude ser tão cego? - digo, quase para mim mesmo, num sussurro.
Os olhos de Anya brilham e parecem refletir todas as estrelas que pairam sobre nós. Meu coração pulsa forte e sinto as batidas do coração dela em seu pescoço.
Devagar, me inclino e Anya fecha os olhos. Sinto sua respiração quente e agradável em meu rosto, misturada com seu perfume. Meu coração bate mais forte.
Nossos lábios se tocam, num selinho longo, profundo e macio. Ela segura atrás de minha cabeça, e nos puxamos para mais perto. Lentamente, abrimos nossas bocas e sentimos o gosto do outro. Juntos, respiramos fundo e entrelaço ela em meus braços.
Nossas cabeças se movimentam, conforme mudamos de posição. Seguro atrás do seu pescoço com uma das mãos e com a outra, passo em seus cabelos rosados, finalmente podendo sentir sua textura suave. Anya também acaricia atrás de meus cabelos e gosto demais. Me dou conta de que nunca havia recebido um cafuné em toda minha vida.
Tudo é feito de maneira lenta, aproveitando cada segundo.
Não faço ideia de quanto tempo ficamos nos beijando. Quando terminamos, encostamos nossas testas, um pouco ofegantes. Não sei porquê, mas me deu uma imensa vontade de rir. Ao me ver rindo, Anya também começou a fazer o mesmo, um pouco confusa.
- O-O que foi?
Pego em seu rosto e a faço olhar para mim mais uma vez. Sinto meus olhos lacrimejarem.
- Eu te amo, Anya Forger - digo, sorrindo para ela - Te amo desde a primeira vez em que te vi.
Na mesma hora, me inclino e lhe dou mais um longo selinho, que parece assustá-la um pouco, mas logo Anya se entrega.
- Olha… - diz ela, agora dando uma risadinha atrevida - Eu demorei um pouco mais… Mas no fim, eu não consegui resistir - Anya acaricia meu rosto, analisando cada detalhe meu - Eu também te amo, Damian Desmond.
Arregalo um pouco os olhos. Posso jurar que é a primeira vez que ela me chama pelo nome, e não por “Segundinho”. Meu coração infla e a puxo para mais um beijo apaixonado.
Quando nos afastamos, pego nas duas mãos de Anya e as aperto gentilmente. Apesar da emoção que estou sentindo agora, sinto um grande frio na barriga e molho os lábios.
- Anya… - dou meu melhor para encarar aqueles imensos olhos verdes - Desde o momento em que te convidei para esta festa, eu sabia que somente esta noite ao seu lado não seria o suficiente.
Ela me olha com muita atenção. Respiro fundo e tento o máximo não parecer que estou tremendo.
- Então, tomei uma decisão. Uma decisão muito importante - meu semblante era sério agora - E com isso, eu quero te fazer uma pergunta. Talvez a mais importante de toda a minha vida.
- Você está me deixando um pouco nervosa… - diz ela, com um sorrisinho ansioso.
Pressiono os lábios e por um segundo, olho para o chão, mas logo volto a encará-la.
- Eu demorei muito tempo para finalmente fazer algo pra mim, sabe? - coloquei a mão em meu peito - Tudo o que fiz durante minha vida inteira, foi para tentar agradar meu pai, para ter apenas um por cento da atenção que eu vi seus pais demonstrando pra mim hoje, e olha que eles nem me conhecem direito.
Anya assente com a cabeça, compreensiva.
- Chegou o momento de eu dar um basta nisso - continuo - A partir de agora, não vou mais viver em função para agradar pessoas que não me querem bem, ou melhor, que nem ao menos me querem. A partir de agora, eu só vou me dedicar àqueles que realmente querem compartilhar uma vida comigo.
Seguro no rosto de Anya com uma das mãos, a acariciando com o polegar.
- E é por isso, Anya Forger, que hoje estou aqui em sua companhia. Porque eu quero me dedicar à você.
Ela abre um pouco a boca, parecendo surpresa.
- E eu quero saber se você quer compartilhar uma vida comigo - digo, a olhando profundamente.
- O-O que você quer dizer com isso? - pergunta ela. Respiro fundo mais uma vez, tomando toda a coragem que existe dentro do meu ser.
- Eu quero saber se você se casaria comigo - respondo, convicto.
Anya arregala os olhos e fica um tanto quanto petrificada. Me mantenho firme.
- Sei que posso estar até mesmo sendo precipitado. Mas, acredito que este é o momento perfeito para isso. Também sei que ainda não sou um adulto de fato, mas não sou mais um garoto - aponto para o salão - Essa formatura simboliza que é um momento de fazermos decisões importantes para o nosso futuro - lhe dou um sorriso triste - Posso não estar certo da profissão que irei seguir quando sair daqui, mas de uma coisa eu tenho plena certeza, de que, não importa o futuro que eu tenha, eu quero que você esteja nele.
Estou praticamente ofegante e assisto Anya me encarar com uma expressão de perplexidade. Ficamos alguns segundos em silêncio, um olhando para o outro. Escuto a música no salão. Decido perguntar mais uma vez:
- E então? Você aceita ser minha esposa? - tenho um olhar esperançoso.
Anya começa a esboçar um sorriso, ao mesmo tempo que ainda continua com uma expressão de muita surpresa e balança a cabeça, como se tentando processar tudo aquilo. Ela cobre a boca e vejo que seus olhos começam a se enxer de lágrimas. Não estou conseguindo identificar se é uma reação positiva ou negativa e sinto meu coração começar a acelerar em ansiedade e medo.
Então, o sorriso de Anya se abre mais um pouco e por um segundo, achei que um “sim!” sairia de sua boca, mas para a minha surpresa, o que sai dela é um lamento.
Anya simplesmente começa a chorar. E muito. E não era um choro de alegria.
Me inclino para trás em total confusão. Eu definitivamente não estava esperando esta reação. Num turbilhão de pensamentos, dúvidas começam a rodear minha cabeça, de que eu, talvez, tinho sido muito precipitado.
Será que cometi um erro?!
- A-Anya… - a chamo, delicadamente colocando a mão em seu ombro, que sacudia cada vez mais enquanto chorava - Anya, por favor… Fale comigo… E-Eu não sabia que voc–
- É c-claro que eu quero ser s-sua esposa, Damian! - de repente ela me encara, lágrimas escorrendo por suas bochechas, seus olhos agora vermelhos.
Fico mais confuso ainda. Se ela realmente então queria se casar comigo, sua reação não tinha que ser mais… Digamos… Alegre?! Por que ela estava chorando, droga?!
- Eu não estou entendendo… - digo, e tento me aproximar para segurar seu rosto, mas ela se afasta.
- Você não merece isso, Damian! - Anya exibe um semblante de muito sofrimento - Não posso fazer isso com você! - ela começa a soluçar - Não era pra ter chegado nesse ponto… Eu devia ter te contado antes… M-Mas, eu não consegui e… Estraguei tudo!
Agora, eu estava definitivamente muito preocupado. Meu corpo inteiro treme e minha garganta seca por completo.
- Anya! - a chamo novamente, dessa vez com um tom de voz mais alto e pego em sua mão para chamar sua atenção - Por favor, me explique o que está acontecendo!
Em meio às lágrimas, ela olha para mim com uma expressão que quase me destrói. É uma mistura de dor, medo, aflição e muita angústia. Anya se levanta do banquinho num supetão, virando-se para mim.
- Damian… - diz ela, quase num sussurro - Eu não sou quem você pensa que eu sou…
Franzo o cenho e balanço a cabeça em negação. Meu coração está prestes a sair pela boca. Anya então solta o maior lamento até agora, num choro alto e sofrido.
- Fui eu, Damian… A culpa é toda minha…
- De quê?! - exclamo e dessa vez, minha voz beira o desespero - Por favor, me diga de uma vez, o que você fez?!
Anya arregala os olhos para mim e pesadas lágrimas saem deles. Ela me encara fixamente, seu queixo tremendo. E então, as palavras que saem de sua boca me fazem perder o chão:
- EU SOU A CULPADA PELA MORTE DO SEU PAI!
Autor(a): NathaliaCroft
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Ouço pequenos soluços vindos da garganta de Anya. Ela está em pé à minha frente, apoiando as mãos nos joelhos, como se tivesse acabado de percorrer uma maratona. Eu a encarava de olhos arregalados. Com certeza, meu rosto estava sem cor. E-Eu ouvi direito? Anya acabou de me dizer que… Foi a c ...
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