Fanfics Brasil - Atípico Estocolmo

Fanfic: Estocolmo | Tema: Naruto


Capítulo: Atípico

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Ele não fazia ideia de que horas eram. 


  Haviam duas janelas baixas cobertas por persianas grossas de onde escapavam escassas frestas de luz quando era dia; o que não era o caso naquele momento, o pequeno espaço de ar frio estaria mergulhado na escuridão se não fosse pelo abajur derrubado em um canto no chão; a iluminação que emitia projetava as sombras de um jeito estranho, deixando o quarto com um ar fantasmagórico. 


  Estava deitado no chão gelado de porcelana, com nada além de suas roupas o protegendo. Rolou para o lado e conteve o gemido entre os dentes, estava completamente dolorido pela noite passada e a garganta estava em brasas pela falta de água. 


  Ergueu o corpo e levantou com cuidado, procurou a cama com o pequeno monte de tecidos que repousava em um outro canto do quarto. E ali, embalada e aconchegada em uma confusão de cobertas e travesseiros ela dormia serenamente. 


  Daquele jeito, tão pacifica e relaxada, nem parecia que era o demônio que destruiu a sua vida. 


  Ignorando o arrepio que percorreu o seu corpo inteiro ele se permitiu chegar mais perto, equilibrando seu peso na ponta dos pés e quase que prendendo a respiração. Seu coração falhou uma batida quando se abaixou para olhar ela mais de perto. O cabelo longo e rosado escorria por cima do travesseiro e seu rosto estava quase todo tapado pelo lençol escuro, que ela havia puxado enquanto dormia. Podia ver um dos olhos fechados com cílios longos e grossos, e o nariz pequeno que ressonava baixinho. 


  Naruto refreou o impulso de tocar em uma mecha da moça que estava em cima de sua face e pôr atrás de sua orelha. Se tocasse nela e ela despertasse seria um alarde terrível, ela esbravejaria com ele e tentaria agredi-lo. Dispararia impropérios contra ele e talvez, se ela fosse rápida o suficiente para atravessar o quarto antes que ele conseguisse segurá-la o abajur voaria para cima dele de novo. 


  Se apressou para sair do quarto e fechar a porta atrás de si em silêncio. Andou pelo corredor de sua casa e desceu as escadas até chegar à cozinha, pegou um grande copo d´água e o bebeu de uma vez, o líquido fez sua garganta encandecer. Pegou o relógio de pulso que estava sobre a bancada e conferiu: 4:23 da manhã, bem na hora. 


  Se espreguiçou levando as mãos para o alto da cabeça e estalando a coluna. Foi andando pela casa que conhecia bem, tocando no lugar dos interruptores e cantarolando uma melodia em sua cabeça. Desceu por mais uma pequena escada, até a garagem. Passou por dois de seus "pequenos" bens que sua carreira de comissário de polícia lhe permitia, seu Audi rs6 preto e seu xodó, uma Harley Davidson Breakout que havia conseguido em um leilão. 


  Foi até um canto da garagem e começou a sua rotina; Alongamento para o corpo dolorido, algumas séries de hipertrofia com peso para o desenvolvimento dos músculos, exercício cardio vascular pulando corda e um tempo treinando com o saco de pancadas para alívio do estresse. 


  Pôs as bandagens para proteger as mãos e começou; Era como uma terapia, sua mente divagava e o levava a outro lugar em que podia ver os seus problemas de longe. 


  Jab com a mão esquerda seguido de jab com a mão direita. Sua mente foi até o último caso, tinham finalmente achado o desgraçado que raptou aquela menininha. 


  Dois jabs com a esquerda e um jab com a direita. Pensou na mãe e principalmente no pai. Ele teria orgulho ou ficaria decepcionado com ele? 


  Mais rápido. 


  Jab seguido de direto. Sasuke Uchiha; A imagem do homem surgia a cada vez que acertava o saco com mais força. 


  A sequência de socos se intensificou; mais certeiros, mais rápidos. Ele tinha feito o certo ao ceder o cargo de delegado a ele? Se quisesse poderia voltar atrás da decisão? Ele poderia consertar as coisas e seguir por um novo caminho? 


  E então pensou em Sakura Uchiha, a mulher que dormia serenamente em sua cama. Embalada em seus lençóis, vestindo as roupas que ele havia comprado para ela, comendo a comida que ele preparava, tão indefesa em seu lar que ele poderia chamá-la de sua; reivindicar o seu sobrenome. 


  Sakura Uzumaki. 


  Deixou o nome inventado serpentear pela sua língua. Era sonoro, tão certo que parecia um anagrama. Seu corpo agia sozinho investindo contra o saco de pancadas quando ele a imaginou no dia de seu casamento, com as cores de sua casa ao invés do vermelho e preto Uchiha. Se imaginou dizendo sim para ela e recebendo um sonoro sim como resposta. 


  Sakura... Ela poderia voltar atrás? Reescrever o passado e ter feito escolhas diferentes? Poderia ter voluntariamente escolhido ele e ter sido feliz? As coisas poderiam ter sido mais simples? Ele sabia a resposta para todas as perguntas, e não gostava nada delas. 


  Finalizou o exercício com um jab seguido de gancho, olhou para o relógio, o corpo suado pelo processo cansativo. Passou a mão pelos cabelos molhados e se apressou subindo as escadas enquanto desenrolava as bandagens das mãos, indo em direção do banheiro. Iria se atrasar para o trabalho, estava na hora. 


  Enquanto a água fria do chuveiro escorria pelo seu corpo ele só conseguia pensar: "Como caralhos vou sair dessa situação... Vivo, pelo menos?!"  


  


  


... 


  


  


  Dia 30 de março. Dois dias desaparecida. 


  Foi vista pela última vez no dia de seu aniversário, em que estava com o seu marido, Sasuke Uchiha. Quem seria louco o suficiente para sequestrar a esposa de um dos maiores delegados da cidade?  


  Ainda mais uma pessoa como Sasuke; mexer com um Uchiha era como marcar o nome no livro da morte. Uma família rica, com um passado obscuro no crime organizado em que estavam tentando limpar o seu nome. Vários boatos e pistas falsas já haviam surgido: 


  Seria um sequestro para arrancar uma grande bolada da família? Porém ainda não tinham recebido nenhum pedido de resgate ou prova de vida. 


  Um homicídio motivado por vingança, talvez? Mas não havia nenhum corpo. Reviraram a cidade de cabeça para baixo, cada beco, viela e terreno afastado foi revistado, e nenhum sinal da Uchiha. 


  Ou até mesmo um desafeto de Sakura, mas nada disso fazia sentido.  


  Neji passou a mão pelos cabelos longos e os prendeu com um elástico que tinha no pulso. Estavam sujos, ele estava a três dias na delegacia. Faltavam duas horas para o seu plantão acabar, quando no dia 28 de março Sakura sumiu, desde então estava na delegacia a mando do próprio Sasuke. Todos estavam envolvidos no caso do desaparecimento, e a cidade estava em polvorosa, o telefone não parava de tocar com supostas pistas ou avistamentos. 


  A esposa do delegado era muito querida pela cidade, era uma médica excepcional e estava envolvida com várias obras de caridade e movimentos sociais, inclusive a obra do novo hospital estadual que seria situado na cidade. 


  Sem contar a recompensa milionária pelo paradeiro da Uchiha, então todos queriam dar uma ajudinha. 


  Estava exausto, sentia a sua barriga roncando, não lembrava a última vez que tinha feito uma refeição decente. Seus olhos ardiam com a luz da tela do computador a sua frente e pela ausência de sono, se esticou na cadeira sentindo os músculos doerem.  


   — Avenida Omotesandō sexto cruzamento com a Honoka, avistaram movimento suspeito de um sedam preto, placa UBC7J71. - Tenten anunciou apressada, o coque alto preso na cabeça lhe dava uma aparência mais velha do que os seus vinte e dois anos. Um camalhaço de arquivos bateu na mesa de Neji o fazendo dar um sobressalto. 


  — Mas que porra, Tenten! - Neji esbravejou, fazendo a mulher recuar um passo. No mesmo instante ele se sentiu culpado, estava cansado, mas não era justo descontar na novata. Ainda mais sabendo que ela nutria sentimentos por ele. — Rock Lee e Ino já foram checar essa denúncia. Desculpe, eu... 


  — Não, tudo bem. Todo mundo está uma pilha de nervos. - A mulher se aproximou novamente e se curvou para ficar na altura dele sentado. — Além do mais, dá pra ver as suas olheiras do outro lado da sala. - A morena soltou um riso abafado ao encarar a cara séria e cansada. — Juro por Kaguya que se não estivesse acostumada com essa sua cara feia iria até o Sasuke pedir um aumento pela insalubridade dos sustos que tomo com você. 


  E ali estava, pequeno e tímido, mas ela havia conseguido arrancar um sorriso de Neji. 


  "Será que Sasuke também pensaria isso?" Ele Afastou o pensamento tão rápido quanto surgiu, balançando a cabeça de um lado para o outro em negativa. 


  — O que são esses papéis? - Esticou a mão para conferir os documentos que a mulher trouxe. 


  — Denúncias falsas sobre o desaparecimento, para colocar no sistema e não mandarem nosso pessoal pra lá. - Tenten ajeitou a postura e andou até a janela da sala, levantou uma brecha da persiana com um dedo e observando a sala comum da divisão. 


  Não eram nem seis da manhã e a delegacia já estava agitada, uma parte do contingente estava focada nos crimes da cidade, que apesar de grande e movimentada, parecia que tinha parado por conta do desaparecimento de Sakura. O resto do pessoal, escolhido a dedo pelo próprio Sasuke, estava integralmente dedicado a encontrar a mulher. 


  Os telefones faziam uma sinfonia infernal. Todas as linhas estavam congestionadas a três dias, a grande maioria com informações falsas ou repetidas, algumas histórias mirabolantes de conspirações e até relatos de que avistaram a mulher fora do país. 


  — Onde está o chefe? - Perguntou Neji fechando a pasta com os papéis. 


  — Foi a região leste da cidade, verificar uma denúncia com Gai. 


  — Que Kami o ajude. - Disse o homem se levantando a cadeira e coçando os olhos. 


  — Gai-sensei sabe a gravidade da situação, ele está se comportando. 


  — É justamente ele quem precisa de ajuda, Sasuke está a um passo de explodir com isso tudo. 


  Tenten suspirou e recolheu a pasta de cima da mesa. — Mais alguma coisa? 


  — E Naruto? - A mulher deu de ombros. — Alguém viu ele? 


  — Ainda não. Mas quando ele chegar provavelmente todos do quarteirão vão ouvir a explosão. - Brincou a morena, abrindo a porta da sala para sair, quando viu da entrada da delegacia surgir o homem de cabelos loiros. — Falando no Diabo... - Disse Tenten olhando pra trás e sorrindo para Neji antes de fechar a porta. 


  


  


... 


  


  


  — Naruto! NARUTO! 


  O sangue parecia que tinha estancado em suas veias quando ouviu gritarem o seu nome do lado de fora da delegacia, se apressou para entrar e o que o esperava do lado de dentro era pior. Quase pode ouvir o barulho de trinta cabeças virando ao mesmo tempo para ver a sua chegada, olhares surpresos e ansiosos. Todos atentos para saberem o que faria a seguir, qual seria a atitude dele depois de não ter aparecido no final de semana mais tenso da delegacia em anos? 


  Fez o melhor que pode e abriu um grande sorriso — Bom dia pessoal! Bom começo de semana! 


  Um silêncio mortal caiu sobre o lugar, até as ligações que pareciam intermináveis cessaram por alguns segundos fazendo os telefonistas ficarem imóveis com os telefones entre a mão e o gancho. Conseguiu ouvir até mesmo Chouji boquiaberto derrubar uma caneta em um canto da sala. 


  — Naruto! ­- Uma mão alcançou seu ombro por trás e a sala pareceu ganhar vida novamente, com todos retornando as suas funções e os telefones voltando a tocar. 


  Naruto virou pra trás e viu Shikamaru que o estava chamando segundos atrás, estava suado e o casaco desarrumado por ter corrido até ele. 


  — Além de maluco tá surdo? Não me escutou te chamar!? - Esbravejou ele carrancudo por ter siso ignorado. 


  — Foi mal, estava com pressa. - Falou o loiro coçando a nuca e abrindo um sorriso. — Fiquei sabendo do que aconteceu enquanto estava fora, queria me adiantar pra ajudar no caso. 


  — Cara. Onde. Você. Estava? - Shikamaru inquiriu devagar. — Tá tudo virando um caos. Sasuke está prestes a matar alguém. a Sakura simplesmente sumiu. Sem pistas. Sem bilhete. Sem resgate. 


  Naruto fez uma pausa, sabia que seu amigo não era burro. Sua mente estava correndo a mil por hora, cada palavra sua tinha que ter fundamento e ser convincente; pelos seus anos de experiência sabia que qualquer ato falho poderia custar sua carreira e até mesmo a sua vida.  


  Abriu a boca para começar a falar quando viu uma viatura cantar pneu ao entrar e estacionar rápido no pátio da delegacia; conhecia bem o carro e não precisava olhar duas vezes para saber que era Gai dirigindo, de dentro dele saiu o Uchiha do banco de passageiros, elegante e bem vestido com um terno e um sobretudo. 


  Assim que seus olhos encontraram os dois homens á porta, começou a marchar a passos largos em sua direção. Shikamaru estava certo. 


  Sasuke realmente parecia prestes a matar alguém. 


  Só esperava conseguir manter a história que estava planejando e ficar longe da mira de sua arma por mais algum tempo. 


 


 


 



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Autor(a): laresssa

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