Fanfics Brasil - um ultimato Um novo começo - Ponny.

Fanfic: Um novo começo - Ponny. | Tema: RBD,Anahi,Alfonso Herrera


Capítulo: um ultimato

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ANAHI POV


 


Alfonso dirige compenetrado no caminho de volta para casa. Depois que saímos do hospital,pouco conversamos, tornando o silêncio no interior do veículo quase ensurdecedor. 


Avalio seu perfil por alguns instantes, ainda no uniforme de socorrista, muito sério, prestando atenção no trânsito à nossa frente e… mantendo certo distanciamento de mim. 


Ele ficou no hospital,esperando o efeito da glicose comigo, ao meu lado, por mim. Isto é uma prova do quanto se importa…e só me faz sentir-me como uma fraca por fugir.


Limpo a garganta, pensando no que dizer para quebrar o silêncio.


— Este carro não é seu…


Impressionante,quanta sagacidade,Anahi, me repreendo.


— É do Derrick. Ele levou ao hospital para mim.


Enrugo meu lábio para o lado, desconcertada pela resposta sem emoção. Estamos sem jeito um com o outro. 


Até alguns dias atrás, tudo fluía tão bem entre nós, e agora mal sei como puxar um assunto decente.


— Derrick de que?Qual sobrenome dele…? — mando a próxima questão estúpida em que consigo pensar.


Alfonso tira a atenção da direção, brevemente, e estreita seus olhos verdes, olhando-me com atenção.


— Por que o interesse? — apesar da fachada tranquila, sinto o território familiar em sua fala.


Quero rir, feliz por este pequeno pedaço dele.


— Ciúmes, doutor?


Um meio sorriso corta o canto de seus lábios quando volta seu rosto para a avenida.


— Alguns hábitos não mudam, Anahi.


Deus, eu amo isso, a energia, a vibração que sinto em sua presença.


— É reconfortante saber que não sou a única, apesar de tudo. Por falar nisso, encontrou sua amiguinha no hospital? — não escondo a ironia na palavra “amiguinha”, mesmo não tendo qualquer direito sobre ele. 


Eu o perdi no momento em que me afastei.


O que era para ser uma provocação altera seu semblante. 


Noto o pulsar do músculo de sua face ante o aperto da mandíbula, até mesmo o caroço em sua garganta move-se de maneira diferente, parecendo engolir algo ruim.


Mas que raio…?


— Diana não é uma amiga, Anahi.Acho que nunca foi. Eu apenas demorei a descobrir— a secura me surpreende.


Meu rosto formiga, não gostando nada de como ele parece incomodado a respeito disso.


— O que ela te falou, Poncho? — é a única explicação que encontro. 


Provavelmente a mulher lhe disse aquilo de eu ser uma distração… Mas não sei se explicaria a forma rígida como se corpo de repente se estabeleceu, parecendo guardar a ferocidade para si.


— A pergunta certa é o que você me falou—olha-me novamente, de maneira intensa.


Oh, merda. 


O que foi que eu disse?


— E-eu…


— Por que não me contou antes?


— Contar o que, Alfonso?


— Sobre as coisas que ela fez e disse a você enquanto Ana estava no hospital — seu timbre é muito controlado, até demais.


Certo, como é mesmo aquele ditado? 


Ah, sim: “Fez a cama, agora deite-se nela!”.


Se eu mesma contei tudo a ele no momento de embriaguez, não há mais o que esconder agora.


— Não contei porque seria uma fofoca sem importância perto do fato de Ana estar lá e precisar do apoio de todos nós.


— Ela te pedir para se afastar de mim e você acatar é “sem importância” para você, Anahi?


Fico sem resposta imediata.


 Observo minhas mãos unidas e volto a olhá-lo.


— Não foi por ela, Poncho. O que aquela cobra infeliz diz é tão importante quanto nada para mim.


É por você, pela Matraquinha, pela segurança de vocês…


O silêncio retorna por alguns instantes. 


Sei que Alfonso está se controlando para não trazer à tona o elefante branco que é a minha atitude.


Acompanho seu peito tomar uma respiração profunda.


— Você fugiu, teve seu tempo, agiu como queria sem sequer ter uma conversa decente comigo. Eu estou te levando para casa e nós conversaremos, goste você ou não.


— É justo… — resmungo.


Por seu ânimo, sei que a conversa não será fácil. Olho pela janela, assistindo aos prédios passarem em velocidade… e decido tirar mais uma dúvida.


— Você não considera mais Diana uma amiga pelas coisas que ela me disse? — questiono em voz baixa.


— Também. Mas principalmente por ela mexer com as pessoas que eu amo.


Este é um dos muitos motivos por eu amá-lo tanto, a honestidade com seus sentimentos.


— Ela não mexeu comigo, Poncho, apenas tentou…


Ele me corta.


— Te deixou para o lado de fora do quarto,fez pensar que eu não a queria lá — bufa.


Viro-me para fitar seu perfil outra vez. 


E,contra o meu desejo, me pego na obrigação de interceder pela peçonhenta de jaleco.


— Ainda assim, ela só estava tentando proteger sua filha. A Diana pode não gostar de mim, e eu nem a julgo por isso. Na verdade, eu também não gostava dela antes mesmo de ouvir aquelas coisas no hospital, pelo simples fato de que vocês já estiveram juntos, Poncho. Aquela mulher te ama e isso eu posso entender, afinal, sofro do mesmo mal… — reconheço o que não é segredo—Mas, acima de tudo, ela mostrou que se importa com a Ana e, só por este motivo, eu acho que suas ações são perdoáveis.


Tenho a impressão de ouvir o som de um grunhido sair de seu peito.


— Se importa tanto que se referiu à minha filha como aleijadinha…


Como é?


Oh, filha de uma cadela! 


Aquela… aquela…aquela desgraçada não disse isso…


— Cobra cretina. Eu deveria ter batido nela pra valer.


E, pela primeira vez desde que nos reencontramos no início da tarde, ele sorri, de verdade, não aquela coisa de canto de lábios.


— Sim, você deveria.


Sorrio também e me viro de volta para a janela, mais confortável pela conversa. 


De qualquer forma, isto não vai ficar assim. A médica duas caras receberá uma visita muito em breve.


 


ALFONSO POV


 


Terminamos o trajeto tal qual começamos:em silêncio. Mas sei que estamos perto de um entendimento.


 De tudo o que foi dito no veículo,prevalece para mim sua confissão de que me ama.


É o que realmente vale, no final das contas. 


Subo com ela para seu apartamento e, diante de sua porta, apenas espero, testando a reação da mulher.


— Você está com sua chave? — indaga naturalmente — As minhas estão no carro…aliás, não faço ideia de onde meu carro foi parar.


— Sim, eu tenho as minhas — afirmo em voz baixa.


Anahi aguarda.


Tirando do meu molho, pego a de sua fechadura e abro. Entro em seguida a ela, quase conseguindo respirar mais aliviado por finalmente estarmos aqui de novo, ambos. 


Enquanto irritantemente fugia de mim, estive neste apartamento todas as noites, na esperança de que.ela voltasse para casa, para enfim termos uma conversa como dois adultos. Ela não o fez.


Anahi caminha alguns passos e para no exato espaço que tanto pode nos guiar para os sofás quanto para seu quarto, e lentamente se gira para mim. 


Tiro um momento para avaliá-la melhor,depois de todos estes dias: está mais magra parecendo não se alimentar corretamente há algum tempo, os olhos fundos rodeados por manchas escurecidas.


Tenho de travar o ar nos pulmões diante da imagem.


— Onde você quer… conversar? — indaga baixinho, obediente ao fato de haverá uma conversa entre nós.


Eu não sou desumano para fazê-la passar por isto neste momento. Não quando ela teve um dia de bebedeira e hospital.


A mulher precisa urgentemente de repouso… e ela me ama, porra.


Isto é o que importa.


— Vamos para o seu quarto — declaro, com timbre mais rouco pela emoção.


Não perco o brilho bonito que atravessa seus olhos, um tipo malicioso, apesar do temor.


— Eu vou te colocar na cama e você dormirá algumas horas, Anahi. Você precisa disso.Teremos bastante tempo para esta conversa.


Antes dela protestar ou recusar, apanho sua mão e a levo para o quarto. 


Estou cuidando da minha mulher, antes de qualquer coisa. Seu bem-estar vem em primeiro lugar.


Ajeito sua cama, retiro as almofadas intocadas por todo esse tempo em que ela não dormiu aqui. 


Afasto o edredom macio repleto do seu cheiro e aponto para que se deite.


E ela o faz, não sem antes me lançar uma maldita provocação, despindo-se das roupas e caindo na cama apenas de lingerie. 


Isto, para um homem que a deseja há dias a fio sem sequer poder tocá-la, é uma tortura.


Durma,Anahi.


Em breve, nós resolveremos toda esta bagunça e vou me certificar de fazê-la pagar por me manter longe.


 Meu corpo anseia por isto.


Deixei a mulher em seu quarto, chequei as coisas em minha casa e voltei para sua sala, esperando por quantas horas forem necessárias até ela estar pronta para passarmos a limpo toda essa situação. 


Não vou lhe dar a oportunidade de fugir de novo. Ela já teve, agora as coisas serão do meu jeito. 


Minha vida está uma zona, o processo, as exigências de Belinda, a ameaça de tirar minha filha de mim e agora a situação da venda do apartamento. 


Eu não preciso de mais caos, eu preciso de estabilidade para criar Ana Carolina e protegê-la, estando ao lado da mulher que amo. 


Se Anahi quer isto também, podemos lutar juntos contra o que quer que ela tema… se não, tenho de seguir em frente com a minha vida.


Do jeito que está não pode continuar.


Sentado no sofá, encarando o teto, sou surpreendido pelo barulho da fechadura na porta da frente.


Mas que porra…?


No escuro da sala, apenas aguardo e assisto a um homem entrar.


 Num primeiro momento, a cólera por imaginar que outro tenha suas chaves me atinge; num segundo, busco a racionalidade. E, pela luz vinda de fora, do corredor entre nossas portas, reconheço a silhueta do irmão dela.


 O tal Diego, que a tem escondido de mim por todo esse tempo.


Ele dá um passo para dentro do apartamento.


— Annie? — chama alto.


Acendo a luz do abajur ao meu lado,pegando-o desprevenido.


— Ela está dormindo — digo num timbre inexpressivo. 


Ainda não tirei nenhuma conclusão sobre o sujeito.


— Porra, cara! Você me assustou, inferno! —ele leva a mão ao peito.


Bem, fico feliz por isso.


— Anahi está repousando em seu quarto,depois de se envolver em um pequeno acidente de trânsito — aviso, mantendo meu tom impassível.


O sujeito acende a luz. 


E a preocupação em seu rosto é o que me faz recuar desta postura, mas não tanto. 


Ele ainda é o cara que a encobriu longe de mim.


— Não foi nada sério, ela não se machucou, precisa apenas dormir. Mas é bom que você esteja aqui, acho que nós dois temos um assunto para conversar.


E o imbecil apenas sorri, zombeteiro,provavelmente imaginando que tipo de papo teremos.


— Você deveria pedir isso a Daniel, ele é o irmão mais velho e substitui nosso pai na hierarquia, Alfonso — o imbecil tem senso de humor, não se pode negar.


Elevo o queixo num movimento deliberativo,propositalmente.


— Talvez sim, mas ele não é o irmão que está ajudando ela a se afastar, não é?


— Touché.


Indo para a cozinha dela, sem dizer nada, ele pega duas cervejas e volta para a sala, entregando me uma.


— Eu não concordo com esta fuga, se é isto o que pensa — a honestidade tranquila do cara faz com que eu relaxe um pouco.


Bebo um gole da cerveja.


— Imagino que não. Neste lado, sou consciente de que aquela mulher tem uma grande personalidade. Ela quer o que ela quer.


— Sim, desde pequena — ri, orgulhoso,sorvendo sua cerveja.


— O que eu quero saber, Diego — dirijo-me pelo seu nome pela primeira vez —, é se você ficará em nosso caminho, ajudando-a a fugir a cada vez que a situação estiver difícil.


Observo a seriedade assumir seus traços.


— Eu sempre ficarei ao lado dela, Alfonso. Essa mulher é uma parte da minha família. Mas eu sei o que talvez ela ainda não tenha se dado conta: você é o melhor pra minha irmã, em todos os cenários.


Encho o peito em toda a capacidade,derrubando minhas barreiras contra ele de uma vez.


— Sim, eu sou — não me envergonho de concordar. 


Eu sempre serei o melhor que eu puder para Anahi.


— Ela te contou sobre o bebê… — não é uma pergunta — Ela nunca contou a ninguém.Apenas Daniel e eu conhecemos os fatos. Minha irmã confiou isto a você. Ambos sabemos o motivo real que a fez se afastar de vocês. Ela ama sua filha pra caralho, e tem medo de que outra merda daquelas aconteça.


Ouvir isto não é exatamente uma surpresa, mas ouvir da boca de alguém a quem ela tenha confiado se abrir é importante. 


Preciso entender o mecanismo dos pensamentos da mulher, entender o que se passa em sua mente e ela não me fala de fato.


— Anahi tem medo de não ser uma boa mãe. Ela ainda se culpa, mesmo sabendo que aquilo aconteceria de qualquer forma. A criança nasceu com um problema no coração que não foi diagnosticado corretamente, era uma questão de tempo.


— Sim, eu sei — minha fala soa abafada.


— Dê a ela esta confiança então, cara. Mostre o quanto ela é boa para vocês. Eu nem deveria dizer, mas vocês três juntos parecem um daqueles ridículos comerciais de margarina, de tão perfeitos.


Meneio a cabeça, sinalizando que estou ouvindo. 


Não tenho aptidão de formar um diálogo coerente agora. Quanto mais eu penso no assunto,mais chego à conclusão óbvia de que somos certos juntos, incluindo minha filha na equação.


 O que essas duas têm uma com a outra é mais forte do que o próprio elo de sangue. 


Contudo, um primeiro passo precisa ser dado:expandir os horizontes da mulher e dar-lhe uma escolha.


— Sei que ela está em boas mãos. Apenas continue cuidando de minha irmã, Poncho — Diego se levanta, terminando sua cerveja — Não ficarei no caminho de vocês.


— Valeu… — levanto-me também, dando um tipo de cumprimento a ele, nossas mãos e ombros se chocam.


— E fique sabendo: pedir a mão dela é direto com o pior dos irmãos, não comigo — o imbecil ainda debocha antes de se despedir.


 


ANAHI POV


 


Acordo no quarto escuro. 


Busco por meu celular no criado-mudo, mas não o encontro. 


Sim, eu tranquei a porcaria na gaveta.


 Viro-me na cama,sem sono para voltar a dormir e… me deparo com Poncho, escorado contra a porta do quarto, me observando.


Sua expressão não revela o que se passa em sua mente.


— Oi…


— Olá — responde, muito sério.


Ante seu tom, sento-me na cama, preparada para o que está por vir.


— Como você se sente? — caminha para mais perto, bem devagar.


— Muito bem, cochilar ajudou… — mordo o lábio, ansiosa.


— Quer conversar agora? — a fala é baixa.


Expiro pela boca e aceno um sim com a cabeça. É chegada a hora de colocar as coisas no lugar. 


Me afastar dele foi muito difícil… evitá-lo foi ainda mais. Nós não tivemos um encerramento.


Tampouco a distância me fez bem. 


Talvez conversando, chegaremos a um consenso. Eu só preciso deixar claro que meu impedimento é o ponto mais delicado de todos: a segurança de sua filha.


— Sim. Vamos conversar.


A pouca iluminação do ambiente não nos impede de olharmos um de frente para o outro, olho no olho, quando ele se senta na minha cama.


— Bem, então vamos lá. Não gosto de rodeios, você também não. Aliás, sua objetividade é uma das coisas que sempre me atraíram em você,Anahi.Ambos somos adultos e sabemos exatamente o que queremos.


— Sim… — concordo com cabeça — Nós sabemos.


— Eu te amo. É importante que você saiba disso para que todas as outras questões sejam regradas a partir deste ponto.


— Eu também te amo, mas…


— Você tem medo de ser prejudicial à minha filha, por acreditar que é incapaz de cuidar de Ana— ele complementa meu raciocínio.


Desvio de seu olhar.


— Eu te contei como as coisas com ela aconteceram, Poncho. Minha bebê morreu agarrada ao meu seio, enquanto eu cochilava.Por muito pouco não aconteceu algo assim com Ana também. E se eu tivesse dormido, e se ela não tivesse conseguido pedir ajudar para mim? O fim teria sido exatamente o mesmo. Você quer alguém assim ao lado dela?


— Você criou o problema de coração da sua filha, Anahi? — indaga mais duro.


— Não.


— Você criou a alergia na minha?


Seguro meu lábio trêmulo entre os dentes por um segundo antes de responder.


— Também não.


A intensidade como ele me pressiona para o ponto, as questões, é tudo como se eu não tivesse nenhuma relação com os fatos… E eu já nem sei como elaborar de uma maneira lógica para que ele consiga entender.


É um carma, ou azar, ou destino…


— Antes que sua mente tente associar coisas fantasiosas aos fatos como eles são, eu quero te revelar uma coisa.


Encaro-o com mais atenção, sei que é importante o que virá, sinto por seu tom.


— Há uma semana, eu estive na Central de Emergências.—conta, esperando que a informação, sozinha, faça algum sentido para mim,mas não faz — Eu ouvi a gravação, Anahi —permaneço em branco — De como você salvou a vida da minha filha, aplicando uma técnica de RCP que poucas pessoas leigas poderiam realizar instruídas através do telefone. Eu devo a vida de Ana a você. Ela só está lá dormindo em sua cama de princesa agora, graças a você. A mãe de sangue dela não teria feito isso por minha menina, pelo contrário, a mulher arrancou uma perna dela fora.Você, por outro lado, lhe devolveu a vida.


— Poncho… — gemo, num soluço, e só então me dou conta de que tenho lágrimas escorrendo por meu rosto.


— Queira você estar comigo ou não, perto de minha filha ou não, nós temos esta dívida com você, Anahi. Para sempre.


Sinto o ardor na garganta e palavras me faltam para tentar verbalizar o tumulto em meu peito.


— Se há algum culpado na morte de sua bebê é somente o destino. Pediatras, que estudaram anos para isto, não detectaram a doença dela. O que você poderia ter feito sozinha contra o destino?


— E-eu não sei… eu deveria estar acordada…


— No fundo, você sabe que não foi sua culpa— a profundidade de sua afirmação, somada ao seu toque em meu rosto, impedindo-me de desviar meus olhos, tenta quebrar o que para mim é uma certeza incontestável — Você só não quer admitir, mas sabe que não havia alternativa para ela.


Fecho os olhos, numa fuga para algum lugar dentro de mim, protegida das íris esverdeadas.


Por que Deus me daria uma criança para morrer? Qual é o sentido?


— Porque Ele tem seus próprios planos para nós. Não nos cabe julgar, apenas viver a vida como Ele nos concedeu — Poncho responde à pergunta que eu nem mesmo percebi ter feito em voz alta —Você sabe quantas pessoas já morreram em minhas mãos, Anahi? Mais do que você poderia supor.Se eu me culpasse por cada uma delas, como eu poderia seguir em frente, salvar outras tantas, cuidar da minha própria filha?


— Não poderia… — respondo por ele.


— Exatamente. Você salvou a Ana, e provavelmente já salvou muitas outras pessoas em seu caminho sem nem perceber. Já é hora de enxergar as coisas como são… — Alfonso recua seu toque em mim e esfrega o rosto com as duas mãos,acalmando a densidade de todas estas emoções —Se você me ama, se ama minha filha, siga em frente para nós, Anahi, por nós.


Assisto, imóvel, a ele se levantar da cama.


Subo meus olhos para seu rosto e sei que chegamos ao ponto crucial de nossa situação. Ele quer uma definição, é justo, está dentro de seu direito.


— Eu vou te dar um tempo para pensar, realmente pensar sobre tudo isso. Sobre todos nós.Minha filha faz parte do pacote, mas isto você já sabe. Agora, a decisão é sua: se você quer continuar em frente com a gente ou seguir seu caminho sem nós — tão direto como ele pode, está sendo. 


Mais lágrimas me obrigam a limpar os olhos com os pulsos.


— Dois dias. Eu te darei dois dias para pensar. E só te peço, em troca, a consideração de me deixar saber, sem mais fugas, seja lá o que você decidir. Você é uma parte boa da minha vida,mas eu não posso deixar tudo de lado e te seguir como um animalzinho implorando que enxergue razões pra ficar. Eu já te dei uma e talvez a mais importante delas: eu te amo. Minha filha te ama. Agora cabe a você decidir se isto te basta — não há acusação ou cobrança, apenas o pedido honesto de um homem franco, com o peso do mundo sobre si.


Por fim, após me encarar com visceral intensidade uma última vez, ele se vira e caminha em direção à porta, pronto para sair e me deixar a sós com a desordem que me cerca por todos os lados, sufocante, urgente.


 Meu coração bate feito um louco contra a caixa torácica.


E-eu… ele… o que ele está me pedindo…


— Poncho, espere! — seu nome em meus lábios contém impressionante desespero.


E talvez isto o faça parar.


Acompanho o enrijecer de suas costas, o modo como seus músculos retesam, a tensão fluindo por seu corpo opulento no uniforme, de forma quase tangível.


 Esta situação o fere, fere a todos nós.


Recebo seu olhar por cima do ombro.


— Não, Anahi. Eu quero que tome este tempo para pensar e, independente do que decidir, estarei esperando sua resposta… — noto-o fazer uma pausa, como se as próximas palavras fossem me ferir e eu devesse me preparar—Apenas tenha em mente que será definitivo, seja para ficar comigo, seja para se afastar. Se optar por se afastar, eu prefiro que você faça de uma vez. Ana é forte o suficiente para entender e superar. Você não tem de dar a ela uma despedida em pequenas doses, como vem fazendo. Talvez você nem tenha se dado conta, mas este seu modo não funciona. Se for para nos deixar, que seja de uma vez.


E, posto isso, suas costas novamente são tudo o que tenho dele, indo para fora, cabeça baixa, porém determinado.


Sento-me na cama, os pés no chão, em uma mistura de choque e inércia. 


O homem que eu amo está me dando duas opções: a de ser feliz ao lado dele e da criança ou a de me afastar e continuar vivendo como tenho feito até aqui.


Eu quero me mover. 


Quero levantar, quero gritar, botar para fora a tempestade presa aqui dentro.


Sem ter maneira de evitar, derrubo meu rosto entre as mãos e me entrego ao pranto, num maldito choro inesgotável. 


Minha bebê estava destinada a morrer. 


Ana agora é minha outra filha e, por Deus, a ideia de ficar longe dela e de Poncho é excruciantemente dolorosa.


Como eu vou viver sem eles? 


Sem os olhares aquecidos, as palavras, o toque dele? Sem as risadinhas, as deixas inteligentes, o encanto da Matraquinha, que me envolveu em seu papo furado no minuto em que coloquei meus olhos nela?


Invadindo minha casa, este quarto, se apresentando como Luz do Sol, roubando maquiagens,pensamentos e meu coração?


Ela é a minha luz da manhã, o motivo dos dias serem mais claros, mais vivos.


Ele é a razão para minhas noites serem aquecidas, intensas.


Eu pertenço a eles, e eles a mim.


Tateando pelo quarto, vou até o armário em busca de algo, de qualquer coisa que me permita cruzar o corredor e ir para junto deles, das pessoas que eu verdadeiramente amo – de um jeito tão puro e extraordinário que nem cabe em mim.


Visto uma camiseta longa, de qualquer jeito,


saio pela casa escura me batendo contra os móveis, em direção à porta, e então volto para a bandeja de porcelana sobre o aparador de entrada e apanho o objeto que Max me deu, mas nunca de fato usei: a chave de sua casa.


 Eu sempre apertei a campainha ou bati à porta, nunca me senti à vontade para entrar como se lá fosse meu espaço. 


Onde quer que eles estejam será meu também, pois eles são meus.


Era o que ele tentou me transmitir ao me dar acesso a isto.


Abro sua porta da frente.


 O apartamento está escuro. Caminho pelo corredor, silenciosamente.


Minha primeira parada é o quarto dela, da minha princesa em sua carruagem num sono tranquilo.Entro à surdina e beijo-lhe o topo da cabeça,atendendo ao que meu coração exige.


— Você é minha filha, Ana. Minha filha.


Com cuidado, me afasto dela e sigo para o quarto dele. Sua cama está arrumada, vazia.


 O barulho do chuveiro revela a localização de Alfonso.


Tremendo, ainda com muitas lágrimas, dispo-me e entro em seu banheiro.


 O vapor me esconde por alguns segundos, contudo, eu não quero me esconder, quero que ele me veja, saiba que estou aqui, para ele, para Ana, por nossa família.


Nua, afasto a porta de vidro do box, e só então é que ele se dá conta de minha presença.


Seus lábios se separam, num formato de “oh” lindo de viver.


— Anahi… — rosna baixo, surpreso,feroz, embargado.


— Alfonso… — paro diante de seu corpo,olhando diretamente em seus olhos.


— Você tomou sua decisão? — há tanta intensidade, selvageria e paixão que minhas pernas fraquejam.


— Tomei — estufo o peito, lúcida — Eu vou ficar.


Ele meneia a cabeça, atordoado, talvez assimilando as palavras.


— Certo. Isto é definitivo — dá um último aviso, que não sai em todo áspero.


Dou de ombros, sorrindo feito uma tola.


— Eu sei. Família sempre é.


 



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Autor(a): ItsaPonnyWorld

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 86



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  • cxlucci Postado em 04/11/2024 - 10:06:19

    voltando aqui depois de mais de ano ver se teve update 😭😭😭

  • mileponnyforever Postado em 16/10/2023 - 00:14:09

    Cadê você?!

  • mileponnyforever Postado em 15/06/2023 - 08:34:04

    Pelo amor de Deus, volta a postar!

  • beatris_ponny Postado em 03/06/2023 - 02:56:34

    Cadê vc????

  • mileponnyforever Postado em 31/05/2023 - 11:41:45

    Cadê você?

  • mileponnyforever Postado em 01/05/2023 - 21:48:54

    Cadê você?

  • beatris_ponny Postado em 16/04/2023 - 16:33:12

    Continua....

  • beatris_ponny Postado em 16/04/2023 - 16:33:01

    Que bom que voltou, já tinha desistido kkkk

  • mileponnyforever Postado em 10/04/2023 - 01:03:59

    Meu Deus que capítulo cheio de emoção. Não some assim, você ainda vai nos matar de ansiedade!

  • mileponnyforever Postado em 16/03/2023 - 13:49:54

    cade voce? Posta pelo amor....


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