Fanfics Brasil - resolvendo com as próprias mãos Um novo começo - Ponny.

Fanfic: Um novo começo - Ponny. | Tema: RBD,Anahi,Alfonso Herrera


Capítulo: resolvendo com as próprias mãos

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ANAHI POV 


 


Estar nesta sala, assistindo à Ana com uma peruca enorme na cabeça jogar a trança de um lado para outro – fingindo que é realmente seu cabelo –, enquanto desliza por seus lábios um de meus melhores batons, sem nenhuma piedade, me preenche com uma plena sensação de…satisfação.


Sim, de estar em casa e não desejar outro lugar no mundo que não este.


Entre uma passada do produto e outra, ela sorri para mim, dentinhos manchados, boca completamente borrada, e jorra fofurices do tipo


“Eu adoro esta cor”.


A criança tem bom gosto, por sinal.


— Bem, eu acho que já é hora de uma mocinha ir para o banho. O que você acha, Anahi? — Alfonso caminha para nós, pés descalços, camiseta e jeans, num tipo relaxado que eu amo ver. 


Seu semblante tranquilo, apesar da ruga no cenho, enriquece meu peito de um enorme alívio por tê-lo de volta em minha vida.


Eu não suportaria não ter.


— Ahhh, papai… — a espertinha reclama,olhos piedosos, de um jeito difícil de ignorar.


Levanto-me do chão onde estamos, limpando as mãos na calça.


— Hum, eu acho que seu pai tem razão, princesa. Mas eu posso te ajudar nisso, se quiser…


E, como sempre, sou contemplada por aquele olharzinho cheio de admiração, de interesse, parecendo que tudo o que envolve nós duas é uma aventura para ela. 


Se Ana soubesse o quanto me faz feliz… O quanto traz uma parte do meu coração de volta à vida…


A Matraquinha marcha para o quarto com vigor. 


Sorrindo para o cara que me tem sob seu olhar intenso, eu a sigo. 


Quando passo por Alfonso, ele prende meu cotovelo e se aproxima um pouco mais,encostando seus lábios em meu ouvido.


— Se você quiser, eu posso te ajudar com o seu banho mais tarde também.


Dou um tapa de leve em seu estômago,mascarando a reação de meu corpo diante de sua voz sussurrada roucamente contra minha pele.


Não controlo o suspiro baixo, ofegante,.


— Promessas, promessas… — provoco.


— Um fato, Annie.— morde meu lóbulo,dizendo em voz baixa — Encare como um fato.


— Por Deus, homem… — reclamo.


E, antes de fraquejar, marcho para o banheiro da menina.


Depois de quase meia hora entre banho e brincar na água com as bonecas, finalmente consigo tirar Ana de dentro da banheira. 


Seu pé e mãos chegam a estar enrugados. 


Seco-a e a visto no pijama cor-de-rosa de princesa. O esforço de erguê- la no colo provoca uma picada leve de dor no machucado em meu supercílio.  


Ana percebe e toca meu rosto, bem próximo ao local, enquanto a levo para seu quarto.


— Dói? — indaga baixinho, um bracinho envolvendo meu pescoço.


— Um pouquinho só, mas já passa.


— Você quer que eu fique em casa amanhã para cuidar de você,Anahi?


Mordo o sorriso. 


Muito sagaz, apesar de tão pequena.


— Hum… — finjo pensar na ideia — Eu acho que não… sabe o que pode ajudar? Eu me deitar um pouquinho com você — coloco-a em cima da cama.


Ela se ajeita mais para o lado, oferecendo-me espaço. 


Cubro-a e me deito na borda.


— Como está a escola? — pergunto,dissimulando meu interesse.


Noto seus olhinhos enormes vacilarem.


— Está bem. Lá todos são muito legais comigo.


Não respiro por alguns segundos. 


Esta é exatamente a mesma resposta que eu a vi dando a Serafim, o porteiro do prédio, há alguns meses. Um aperto muito discreto se acomoda no meu peito.


Este mecanismo que ela criou para se adaptar às situações não lhe faz bem. 


Ana vai crescer e, em breve, descobrirá que nosso mundo é ainda mais impiedoso do que as crianças ignorando sua presença na nova escola, ou aquelas que a agrediam na anterior. 


Apesar de tão pequena, já recebendo uma dose disso, ela não faz ideia de como os seres humanos têm o dom de serem bárbaros. 


Os olhares, as palavras de falsa preocupação, a discriminação,mesmo que velada, são atitudes que abrigam a crueldade.


É minha obrigação torná-la mais forte.


Fortalecer sua autoestima, a capacidade de não se deixar atingir, de combater. E eu vou fazer isto.


Todos os dias, como uma missão, trabalharei sua confiança. 


Ana é especial e terá uma vida assim, é uma promessa que eu me faço.


Com essa determinação, volto a especular.


— E aquele menino, o Gabriel?


Ela sorri, tímida.


— Ele é legal.


Um começo.


— Sabe o que eu pensei? — cochicho.


— O que, Anahi? — questiona, com interesse expectador.


— Faz muito tempo que eu não conto uma história para alguém dormir.


Grandes esferas de cor verde levantam-se para mim.


— Você sabe contar história? — o sussurro é altamente reverenciador.


Toco a pontinha de seu nariz.


— Sei sim. Posso te contar uma?


— Claro, Anahi!


Ajeito-me, deitando a cabeça sobre a curva de meu braço dobrado, sem desconectar nosso olhar.


— Era uma vez uma menina chamada… —tento pensar rápido num nome — Heroína… — é,eu nunca fiz isto antes.


— Heroína… — Ana repete, interessada,testando o som da palavra.


— Isto mesmo. A Heroína era uma garotinha muito linda, doce, e ela era especial… —sussurro a próxima parte como se fosse um segredo — Ela nasceu diferente das outras crianças.


— Ah… — exprime um sonzinho de entendimento.


— Mas o que ninguém sabia é que, dentro dela, havia o maior de todos os poderes: a Heroína tinha uma luz. Muito, muito forte, brilhante e poderosa. As pessoas à sua volta, por não conhecê-la direito, sentiam medo, sabe, e se afastavam dela.Isto deixava a Heroína um pouco triste, ela não entendia direito — faço uma pausa na história —Às vezes, algumas pessoas têm medo do diferente,Ana, porque sabem que o diferente é muito poderoso, então elas tentam magoar, fogem,evitam.


Sua atenção está completamente em mim.


— A Heroína, muito inteligente e generosa como era, descobriu isso, com o tempo, e tomou uma grande decisão: daquele dia em diante, ela tentaria ser amiga das pessoas, se aproximaria mais delas e mostraria que, apesar de ser tão poderosa, ela poderia ser igual a todos eles. E assim ela fez.Conquistou o maior número de amigos possível. E para aqueles que ainda a ofendiam por causa do medo, ela decidiu sentir compaixão deles e não permitir que o que eles dissessem a magoasse mais.Deu certo. Ela cresceu e se tornou ainda mais forte e poderosa, e viveu feliz para sempre...


Tecnicamente, este é o fim da história. No entanto, vendo sua expectativa, sei que só este final não será o bastante, então o floreio um pouco.


— E a Heroína abriu uma grande fábrica de batons, vestidos, joias e todas as coisas mais lindas de princesa.


As piscadinhas deslumbradas aquecem meu coração de uma forma extraordinária. 


Deus, eu quero apertá-la contra mim, cobrir seu rosto de beijos, me envolver à sua volta e me transformar em seu escudo protetor.


— Eu gosto da Heroína — ela comenta num suspiro.


Avalio seu rostinho observando o meu com uma expressão pensativa. Não demora, as piscadelas se tornam mais pesadas.


 Afago seus cabelos, assistindo ao sono fazer o trabalho na menina. Beijo o topo de sua cabeça,cubro-a melhor e saio, passo a passo, do quarto, apagando a luz atrás de mim e encostando a porta, permitindo apenas uma fresta de claridade.


Encontro com Poncho encostado à parede no final do corredor.


 Pela chama em seus olhos, não preciso ser inteligente para saber que ele estava nos ouvindo. 


Sem palavras, o beijo que recebo abriga diretamente minha alma. É forte, é possessivo, é grato. 


E eu devolvo com a mesma gratidão de alguém que acaba de receber uma segunda oportunidade na vida.


Sem fôlego, me afasto uma polegada para mirar seus olhos nublados.


— Eu te amo, Poncho…


— Eu jamais te deixaria ir, Anahi. Jamais—reforça, como se as semanas anteriores ainda estivessem pairando em sua mente.


— Obrigada por isso, então… — sorrio,afetada demais pela energia entre nós.


O ruído baixo de seu celular vibrando no bolso quebra minimamente o clima. 


Mas seu olhar permanece fixo ao meu por mais alguns instantes,antes de retirá-lo.


Desviando-os para a tela do celular, seu cenho se franze.


— É meu advogado,eu tenho de atender—explica, sereno.


Meneio a cabeça em apoio.


— Sim… — escuta algo — Claro, cara,estou,suba… eu falo com ele — mais silêncio —Sim, Severino, deixe-o subir.


O advogado está lá embaixo…?


Aliso minha roupa e prendo o cabelo num coque alto, no topo da cabeça.


— Você quer que eu vá para o meu apartamento enquanto fala com ele?


— Não — responde, enfático — É claro que te quero aqui. Comigo.


Orgulhosa, aceno, concordando.


Amo esta forma de me incluir em sua vida. Amo muito.


O advogado, um homem negro, alto, muito atraente, entra quando Alfonso oferece espaço, após cumprimentarem-se. 


Poncho me apresenta como sua namorada. O som é doce, gostoso de ouvir.


— E aí, cara, o que te traz aqui a esta hora?—meu namorado vai direto ao ponto.


— Más notícias, Poncho,infelizmente — ele puxa de sua valise uma folha — Isto foi acrescentado ao processo e um pedido de medida protetiva foi submetido ao juiz. Sei porque tenho um amigo no fórum que estava de plantão. O juiz ainda não o recebeu.


Alfonso pega o papel e, conforme vai lendo, seu corpo inteiro se torna mais duro, mais lívido. O aperto firme na folha chega a destacar a veia em seu pulso. 


Seja o que for, não é nada bom.


Aproximo-me um passo e toco seu ombro.


— O que é isso, Poncho? — pergunto com cuidado.


Seu olhar sai do papel para mim. 


Em seu semblante, eu vejo o assombro, incredulidade e


indignação.


— Diana emitiu um laudo médico alegando que negligenciei o estado de saúde de minha filha, ignorei uma alergia severa, e que não obteve meu contato imediato porque não me encontrou na cidade.


Um sabor muito amargo vem até a ponta da minha língua, acompanhado de um nó na base da garganta.


— O advogado de Belinda vai usar para dizer que Ana precisa de um lar estável e um pai presente — o advogado explica.


— Mas que história é essa de lar estável e pai presente? Isto é exatamente o que a menina tem aqui! — interpelo, quente de emoções.


— Belinda se casou e… — o advogado diz.


— Com um maconheiro que não vai conviver com a minha filha — Alfonso rosna, cortando-o.


— Sim, Poncho. Nós sabemos, o juiz não.


— Então conte ao juiz — me atravesso.


— Não é assim que funciona, Anahi.Vamos ver o que o juiz responderá sobre este pedido. Solicitamos então uma inspeção do lugar onde eles moram.


— Você não pode usar a má fé dela sobre o dinheiro da venda da casa?


— Eles ainda eram casados, perante a lei, quando Alfonso comprou este apartamento.


— Casados porque nosso divórcio foi litigioso e ela se recusou a assinar os papéis antes,até que esse maconheiro apareceu.


— Que justiça ridícula… — bufo.


O advogado acede.


— Eu lamento trazer más notícias para vocês,Poncho. Mas você entende, eu precisava vir.


Poncho desliza os dedos impacientes sobre o cabelo.


— Claro, cara. Eu te agradeço. Agora me diga, você acha que este laudo — aperta o papel em sua mão — vai mudar alguma coisa?


O doutor desvia os olhos para outro lugar.


— Ainda não há como saber. Ajudar não vai, isto é certo.


O ar da sala se torna mais denso, nenhum de nós satisfeito com a situação. E eu? Com uma raiva muito grande fervilhando em minhas veias. Mal consigo raciocinar direito, mas sei que o foco aqui é Alfonso. 


Tenho de manter a mente sã, tranquila, para apoiá-lo. Tudo o que ele menos precisa é de uma carga de raiva adicional.


Quando o advogado sai, a energia de antes de sua chegada se esvai.


Trato de levá-lo para o quarto e passo a noite agarrada em seus braços. Apoiando-o, dizendo, sem a necessidade de palavras, que estou aqui com ele.


Na verdade, estou muito ansiosa para o dia amanhecer de uma vez e eu resolver uma questão entalada na garganta.


 




 


No café da manhã, Alfonso permanece mais sério, mais fechado, e nossa atenção fica toda na Matraquinha. 


Noto que a disposição dela para ir à aula parece um pouco melhor hoje.


Aliás, disposição não é bem a palavra certa.


Colocando em correta perspectiva: de todos os dias,hoje é a primeira vez que ela não tenta criar alguma justificativa para se “oferecer” a não ir. Talvez a história de ontem tenha mudado algo em sua mente,talvez não. Seja o que for, é só o começo de minha missão com ela.


Quando Ana vai para o banheiro escovar os dentes e pegar a mochila, levanto-me, pronta para retirar a mesa e levá-la à escola.


— Obrigado por ir com ela, Anahi, mas você tem certeza de que não te atrapalhará?


Apanho as xícaras e ele alguns itens a serem guardados na geladeira.


— Eu não tenho nada para fazer hoje, Poncho e… — caramba! Paro no meio do caminho e olho para ele — Hum. Eu acabei não te contando…—Pego seu olhar curioso em mim, ainda segurando a caixa de leite.— Estou desempregada.


Seu cenho se franze. Mesmo com semblante sério, noto um repuxar leve em seus lábios, um Sorriso discreto.


— As tequilas — aponto para o curativo sobre meu olho — foram logo depois de eu arremessar um troféu contra a testa do meu chefe.Ex-chefe, aquele babaca aproveitador — resmungo o xingamento.


O sorriso se torna mais evidente.


— Mulher, você me dá medo.


— Lembra as coisas que te contei sobre ele, não é? Demitir Chris (Christian, a quem te apresentei lá em casa) por puro ciúmes foi a gota d'água…Agora, estou desempregada…


Alfonso deixa o leite sobre a bancada, retorna até mim e apanha minha cintura.


— Bem, agora você pode pensar em ter sua própria marca… — o tom suave, encorajador, é exatamente a opinião que eu esperava dele.


Aliso seu peito, num agradecimento pelo homem ser quem é, para mim, para sua filha, para seus pacientes.


— Eu meio que estou pensando nisso, na verdade… Mas é só uma ideia — revelo em voz baixa.


— Fico feliz por você, Anahi — diz, sério— Sei que, seja lá o que estiver pensando, será bom, você é muito aplicada — roça seus lábios nos meus.


Deixo a xícara atrás de mim e envolvo seu pescoço.


— Obrigada, bom doutor… — brinco sedutoramente.


Traçando os lábios no caminho para meu pescoço, sinto sua risada baixa.


— O que foi? — questiono como uma boba.


— Por favor, lembre-me de passar longe quando você estiver num momento de fúria, minha senhora — provoca contra minha pele.


Mordo a bochecha, parcialmente envergonhada.


— Tentarei… eu prometo.


Ana retorna com a mochila nas costas e fica paradinha observando nossa interação. Afasto-me vagarosamente de seu pai e me encaminho para ela.


— Pronta, princesa? — ajeito sua franja de lado.


— Sim, Anahi.


— Ok. Então vamos lá.


Ana se gira para irmos; Alfonso a impede.


— Ei, mocinha, não está se esquecendo de nada?


Uma risadinha gostosa vibra da menina, que logo corre para os braços dele. Ele a aperta num abraço bom e a coloca de volta no chão,despedindo-se com um beijo no topo de sua cabeça.


— Tchau, papai…


— Tchau, filha…


A menina volta para mim. Pego sua mão.


— Anahi? — o homem me chama, o tom insondável.


— Sim, Poncho? — olho-o por cima do ombro.


— E você, não está se esquecendo de nada?


Faço um beicinho pensativo.


— Acho que não.


Ele Estreita os olhos,num desafio. Irredutível.


— Eita… — resmungando, me aproximo dele.


Recebo também um abraço, gostoso, quente e malditamente cheiroso. E então seus lábios deslizam, macios, até os meus. 


O beijo é rápido,mas de tirar o fôlego.


— Tchau, Anahi — fala muito satisfeito,quente, cheio de paixão.


— Até mais, Poncho… — bufo, mal contendo o sorriso.


Atravesso a ilha e volto para Ana.


— Anahi?


De novo?


Mas o que ele está…?


Viro-me, muito rebelde por receber sua provocação umedecendo-me quando estou prestes a sair.


— As chaves — sorrindo, parece ler a minha mente, e aponta para as chaves de seu carro, sobre o balcão.


Ah, sim.


— Eu vou levá-la no meu — aviso,presunçosa — Acabei esquecendo de te dizer, mas mandei instalar uma cadeirinha para ela no meu carro. É da mesma marca que a sua… — dou de ombros.


Antes de sair, olho mais uma vez para ele, que me encara aquecido, pego de surpresa. 


Em sua expressão, consigo enxergar toda aquela intensidade que eu adoro.


Como a boa menina que sou, não menti para Alfonso bem, na verdade, estou parcialmente cumprindo minha promessa. 


Poncho não passará perto no meu momento de fúria, que está muito perto de acontecer.




 


Deixei Ana na escola e vim dirigindo para o hospital o mais rápido que pude.


Tão ansiosa que eu não via a hora de estar aqui. 


Avisei na recepção que eu gostaria de falar com a doutora Diana e, como eu sabia que ela não me receberia, menti meu nome. 


Ao me apresentar como Belinda, intuitivamente, fui instruída a esperar por ela diretamente em sua sala. 


Por aí se pode ver o grau de intimidade das cachorras.


Encosto-me na parede ao lado de sua porta,dentro da sala. 


Não demora muito, passos no corredor, cada vez mais perto, dão a indicação de que ela está vindo. 


Feito. 


Assim que a mulher atravessa a porta de sua sala, eu a surpreendo, trancando atrás dela.


—Mas o que…?— grita baixo,surpreendida.


— Como vai, Diana? — sorrio,guardando a chave no bolso da calça jeans.


— O que você está fazendo? — o medo e a surpresa, juntos, arregalam seus olhos, apontando com o queixo para meu gesto.


Deixo de sorrir.


— Dando a você exatamente o que merece…Aliás, talvez você mereça coisa pior — vou falando e me aproximando. Ela recua passo a passo —Você é uma maldita cobra sem nenhuma ética ou humanidade.


— Saia daqui ou eu vou chamar os seguranças, estou te avisando… — ameaça, retirando um celular do bolso do jaleco.


Pego-o dela com rapidez, e estatelo contra uma parede.


Esta sala mórbida fica no final de um corredor praticamente vazio, tenho a sensação de que, dificilmente, alguém irá escutá-la.


 Acho que ela sabe disto também.


— Você é maluca? Olhe o que fez!


— Quebrei seu celular. E você, o que fez?Vingou-se do cara que não te quer. Não te quer —enfatizo — Forjando um documento mentiroso, sua infeliz? Que tipo de pessoa faz isto? Que tipo de monstro se dispõe a ajudar uma irresponsável como aquela a tirar Ana de um pai igual ao Alfonso?


— Fiz o que tinha de fazer, pensando no bem-estar da criança… — fala com uma superioridade irritante.


Cerro meus punhos, aplicando (com um esforço quase sobre-humano) toda a calma que me é permitida diante desta situação.


— Sua cobra ressentida — acuso, muito controlada — Você não se atreva a se esconder atrás desta mentira. Você não quer o bem-estar de Ana, Poncho ou qualquer pessoa! Você quer se vingar de um cara por ele não te querer!


Seu rosto se eleva, maldoso.


— E se eu fiz isso? E seu eu achar que Alfonso merece perder Ana e qualquer coisa que ele ame porque é um ingrato?


Sorrio friamente.


— Você só demonstrará que não tem ética nenhuma. Nenhuma.


— Apenas dei minha opinião profissional,Anahi — gaba-se.


— Profissional uma ova. O que fez foi baixo demais, Diana, até para uma cobra rastejante como você…


— Olhe, eu não admito que… — ela tenta me interromper, elevando a voz.


— Dane-se o que você admite ou não! —perco um pouco da forçada paciência, apontando um dedo acusatoriamente contra seu rosto — Você sabe que aquele laudo é uma mentira. Um monte de mentiras. Alfonso nunca foi um pai ausente. Não o puna por rejeitar você, Diana. Deixe eles em paz! Deixe ele continuar cuidando daquela menina como sempre fez!


Ela tenta afastar meu dedo de seu rosto,empurrando minha mão.


— Não vou retirar porcaria nenhuma! E vou testemunhar para um juiz confirmando cada palavra.


— Cada mentira, você quer dizer —debocho.


A expressão ressentida, mal-intencionada, se torna mais acentuada.


— Que seja, que seja mentira. Ele não merece ser feliz. Ele é um ingrato que nunca reconheceu tudo o que eu fiz por ele!


— O que você fez por ele? Abriu as pernas?— provoco.


A ira em sua face é surpreendente. 


Hoje, tenho a plena constatação que esta mulher é um poço de rancor.


— Eu amei aquele homem! Amei mais do que vadias interesseiras como você e a Belinda jamais vão amar! E sabe o que ele me deu em troca? Ingratidão. Ele é um ingrato! No que eu puder, vou ajudar a arrancar aquela bastardinha aleijada dele.


Meu sangue vai todo para o rosto.


—Você chamou Ana Carolina de aleijadinha? —pergunto muito sóbria.


— Sim, bastardinha aleijada! Vou rir quando Alfonso perder a guarda dela!


Respiro profundamente, não uma, mas duas vezes. 


Retiro meu celular do bolso da frente do jeans, confiro o gravador e interrompo a gravação.


A mulher se cala sem ainda entender o que eu estou fazendo. 


Deslizo o dedo pelo ícone de tempo do som, somente para me certificar que deu tudo certo.


A voz dela gritando a última parte, onde chama a Matraquinha de bastardinha aleijada soa estridente.


Lívida, Diana perde a expressão.


 Eu sorrio, cheia de gana.


Guardo o celular de volta no bolso, então subo meu olhar tranquilamente por seu rosto assombrado.


— Além de uma cobra mentirosa, sem ética… você também é uma burra, Didi — assinalo muito calma; seu apelido soa como uma música docemente cantada em meus lábios.


— V-você…? — balbucia sem coesão.


Meu sangue fervilha, mais quente do que nunca.


— Sim, isso mesmo. Agora duas coisas vão acontecer. Primeiramente, você, de muito boa vontade, vai fazer outro relatório, desqualificando aquele e alegando que estava sob coerção de Belinda para escrever aquela mentirada toda.Revelará que tudo ali não é…


— E-eu não posso… — mal ouço sua voz.


— Ah, pode. Pode sim. Você mente muito bem, Didi —pego o cartão em meu bolso traseiro— E, como eu sou uma pessoa justa, te darei até as cinco da tarde para este novo laudo estar na mesa deste advogado aqui — entrego-lhe o cartão do advogado de Alfonso — Nem um minuto a mais. Do contrário, esta gravação estará na mesa do diretor deste hospital, no conselho de medicina, na internet, na mesa do juiz e em qualquer hospital que você pretenda trabalhar novamente. Eu serei seu pior pesadelo, acredite em mim.


Num movimento traiçoeiro, ela tenta pegar o telefone do meu bolso.


Apanho seu pulso no mesmo momento e encaro diretamente seus olhos.


— Você se recorda da parte que acabei dedizer sobre duas coisas acontecerem? Pois a segunda delas é que eu te farei pagar cada palavra asquerosa saída de sua boca. Por trair a confiança deles. Por ofender Alfonso. E, principalmente, por ofender à Ana. Depois que eu sair daqui hoje,Diana, você certamente pensará duas vezes antes de abrir sua boca peçonhenta para prejudicar qualquer pessoa.


— Sa-saia de perto de mim…


Calo-a com um tapa.


“Vou ajudar a arrancar aquela bastardinha aleijada dele” é a frase que me guia nos momentos seguintes. Eu a empurro para o chão, ela se desequilibra e cai. Monto nela e… Deus do céu, só consigo lembrar que a mulher tentou prejudicar as pessoas mais importantes da minha vida.


A infeliz não me ataca de volta, somente tenta de todo o modo bloquear meus tapas, que são muitos. 


Sua resistência logo acaba e, talvez, talvez por isso, volto a mim.


Ela não vale a pena. 


O ser diante de mim é oco.


Ainda em cima dela, eu a encaro, encaro de verdade. Alguém que poderia ter tudo, uma bela mulher, com uma boa profissão, mas se limitou a viver à sombra de um amor não correspondido.


Alfonsol não é de todo inocente, eu sei disto. De alguma forma, ele errou com ela também.


Alimentou,mesmo que sem querer,esse sentimento. 


Mas nada justifica você ferrar com alguém, da forma como ela tentou fazer, colocando a vida de uma criança em jogo por puro despeito.


— Seu problema é consigo mesma,Diana. Eu tenho pena de você…


Ela tapa os olhos com o antebraço.


— Saia daqui — pede sem energia,envergonhada, derrotada apesar do orgulho.


— O que você fez não tem justificativa. E eu te juro, se você tentar qualquer coisa contra Alfonso ou Ana novamente, sua carreira será o menor de seus problemas. Eu te juro. Se afaste deles…


— Saia daqui! — ela eleva a voz, a raiva presente no timbre choramingado.


Equilibro-me de volta em pé, enrolo o cabelo num coque no alto da cabeça e me preparo para sair.


— Cinco horas é seu limite de tempo. — de costas, aviso, antes de colocar a chave de volta na fechadura. Então olho-a uma última vez —Esqueça deles,Diana, é o melhor que você faz.


Saio de sua sala esvaziada. 


Sem o sentimento de vitória, no entanto. 


A desgraçada é só uma coitada sem amor-próprio.


Caminho pelo corredor fantasma do hospital, onde fica o consultório dela. Virando ao final dele, trombo contra um corpo muito duro. Subo meus olhos dos pés, passando pela calça e camisa do uniforme de… Chego ao rosto de Alfonso, que me encara com surpresa.


Pega no flagrante.


— Oi… — murmuro, sem jeito.


— Oi — diz, confuso — O que você está fazendo aqui?


Desvio meu olhar para seu peito.


—Ponchito… você de uniforme é um pecado.


— Anahi — exprime em tom de aviso.


Enfrento-o.


— Não se preocupe mais com ela e aquele laudo. Seu advogado receberá um novo,desmentindo tudo aquilo, ainda hoje — assim eu espero.


Seus olhos se semicerram, desconfiados.


— O que você fez?


Expiro pesadamente… e lanço uma olhadela


para minha mão ainda ardida.


— Dei a ela o que merecia…


— Jesus, Anahi! — me corta, áspero,impaciente — Onde você está com a cabeça? Ela vai te acusar de...


— Não, não vai — revelo calmamente — Eu tenho uma garantia disso — deslizo as mãos sobre seu peito — Confie em mim, Diana vai acabar é prejudicando sua ex nesse processo.


Poncho rosna, exasperado (acho que sem saber o que falar). 


Olha para o teto, desliza os dedos pelo cabelo, e, por fim, me fita intensamente, parecendo buscar alguma coisa em mim (possivelmente a lucidez). Mantenho seu olhar, e, talvez, algo que ele vê faz com que sua expressão suavize, pouco,mas sim.


— Mulher, eu nem sei o que eu faço com você…


— Case-se comigo — digo de súbito,surpreendendo até mesmo a mim. 


A cabeça do homem se inclina de lado, os


lábios se separam, os olhos alargam. Não sei bem o que se passa em sua mente, mas agora ele parece convencido pra valer de que há algo de errado comigo.


Sustento todas as reações.


A ideia surgiu agora, de supetão, mas quer saber? Por que não? Me parece tão… certa.


É certo. Sinto isto em cada fibra e osso do meu ser.


Sorrio, confiante.


— Vamos fazer assim — apoiada em seu peito, fico na ponta dos pés e beijo seu pescoço de leve — Pense bem no meu pedido e me responda mais tarde. Eu tenho uma… — escolho a palavra— reunião daqui a pouco — inalo o cheiro de sua pele e me afasto para seus lábios, num beijo casto— Mas, por favor, seja lá o que decidir, saiba que é definitivo — brinco, imitando suas palavras de ontem — Até mais tarde,Ponchito.


Antes de conseguir minha fuga, no entanto,ele me apanha pelo braço e me empurra contra a parede do lugar vazio. E me beija. Tão intensamente, tão cruamente, que incinera meu discernimento em questão de segundos.


— Você é maluca, Annie… — ele alisa cuidadoso o curativo no meu supercílio.


— E você é um socorrista muito gostoso.Deveria ser proibido alguém assim sair salvando vidas pela cidade.


Beijo de novo seus lábios e me afasto rapidamente. 


Se ele me acha maluca por vir até aqui, nem quero pensar no que ele dirá se souber o que estou indo fazer agora.


 



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Autor(a): ItsaPonnyWorld

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 86



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  • cxlucci Postado em 04/11/2024 - 10:06:19

    voltando aqui depois de mais de ano ver se teve update 😭😭😭

  • mileponnyforever Postado em 16/10/2023 - 00:14:09

    Cadê você?!

  • mileponnyforever Postado em 15/06/2023 - 08:34:04

    Pelo amor de Deus, volta a postar!

  • beatris_ponny Postado em 03/06/2023 - 02:56:34

    Cadê vc????

  • mileponnyforever Postado em 31/05/2023 - 11:41:45

    Cadê você?

  • mileponnyforever Postado em 01/05/2023 - 21:48:54

    Cadê você?

  • beatris_ponny Postado em 16/04/2023 - 16:33:12

    Continua....

  • beatris_ponny Postado em 16/04/2023 - 16:33:01

    Que bom que voltou, já tinha desistido kkkk

  • mileponnyforever Postado em 10/04/2023 - 01:03:59

    Meu Deus que capítulo cheio de emoção. Não some assim, você ainda vai nos matar de ansiedade!

  • mileponnyforever Postado em 16/03/2023 - 13:49:54

    cade voce? Posta pelo amor....


ATENÇÃO

O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.


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