Fanfic: Improvável | Tema: Stranger Things
~Billy~
Max deixou bem claro que não queria falar comigo. Eu ia pedir desculpas, mesmo sem entender totalmente por que ela estava brava; eu finalmente estava disposto a conversar sobre o que tinha acontecido entre nós nos últimos dias. Seria uma conversa difícil e ia admitir que sentia um pouco mais do que só atração; ia dizer que precisávamos pensar no que fazer e como continuar essa relação estranha e proibida.
Olhei no fundo daqueles olhos, que estavam me assombrando há dias, pronto pra pedir desculpas, dizer que ela não merecia todas as merdas que eu falava, que ela não era inútil, nem toda a merda que eu costumava dizer... porque agora eu estava me arrependendo de tudo isso. Queria que parássemos com essas brigas e que pudéssemos nos resolver de uma vez por todas.
Mas Max não quis ouvir nada. Ela simplesmente passou por mim e bateu a porta do quarto.
Eu tinha certeza que tinha algo a ver com a pessoa que passou mais cedo em casa; Max falou que eram mórmons, mas quando chequei, não tinha ninguém na rua. E ela ficou muito tempo lá fora. Mas quem mais poderia ter sido? Alguém da festa que esqueceu alguma coisa? Mas por que Max mentiria para mim?
Tive que arrumar a casa inteira sozinho. Eu até entendia ela não querer ajudar, era compreensível. Irritante, mas compreensível... A ideia da festa foi minha, eu organizei tudo sozinho e era justo que acabasse sobrando para mim. O que não era justo era ela ter me ignorado. E agora eu estava remoendo todas as palavras que não disse... Max poderia, ao menos, ter me escutado.
Passei o resto do dia pensando sobre isso. Não custava nada ela me ouvir, já tivemos discussões bem piores antes... o que foi que eu fiz para ela ficar assim tão irritada? Tudo bem, talvez eu não devesse ter expulsado ela do banheiro, mas eu também estava confuso e nós dois tínhamos bebido.
Já estava na quinta lata de cerveja e continuava sóbrio. Meus pensamentos não paravam... só queria poder pensar sobre qualquer outra coisa que não fosse aquilo.
A música da televisão estava no volume máximo, eu estava levantando um peso muito maior do que estava acostumado e fumei um maço inteiro de cigarro; esperava que qualquer uma daquelas coisas fosse me distrair do que estava sentindo. Era uma mistura de raiva e angústia e confusão e desespero.
Eu só queria que isso parasse... e só tinha um jeito. Concluí que, se Max não queria falar comigo, ela que se foda.
Não ia perder meu tempo insistindo nela, nem ia arriscar manchar minha reputação por estar com uma garota mais nova que, convenientemente, era enteada do meu pai. Não importava o que eu sentia, não importava o que tínhamos feito nos últimos.
Max foi muito categórica ao dizer que não queria conversar e eu não ia correr atrás e implorar nada. Se ela não tinha mais interesse, outras tinham. E era delas que eu ia correr atrás; só assim eu ia me desligar da realidade, ao menos por um tempo.
Eu ia sair com uma das líderes de torcida da escola, seria até bom se Max visse que não era a prioridade ali e que eu não ia ficar abalado só por causa dela; mas ela passou o dia todo trancada no quarto. Tomei um banho, coloquei uma camisa e, antes de sair, acendi outro cigarro, me olhando no espelho.
– Billy? – escutei a voz abafada de Susan do lado de fora do meu quarto, batendo na porta.
– Oi, eu estou meio ocupado aqui, Susan – ocupado me arrumando para sair com uma vadiazinha do colegial pra tentar esquecer sua filha, que dormiu comigo ontem e que não quer falar comigo hoje.
Eles tinham voltado antes do previsto... Mas eu não estava nem um pouco surpreso. Era típico do meu pai cancelar planos de última hora; ainda bem que a casa já estava exatamente como antes e que a festa tinha sido na noite anterior. Ainda assim, era um saco precisar dar satisfações de para onde eu iria.
– Abre essa porta – ouvi meu pai gritar. Saco. – Abre agora! – merda... Ele eu tinha que obedecer.
Apaguei o cigarro e o coloquei no cinzeiro do criado-mudo.
– Qual é o problema? – perguntei quando abri a porta; os dois me encaravam. Susan parecendo preocupada e meu pai irritado, como de costume.
– Por que você não diz?
– Porque eu não sei – falei, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. O único problema que eu via até então era os dois terem chegado antes do combinado.
– Não estamos achando a Maxine... – disse Susan. Porra, Max não podia deixar de ser o centro de tudo só por um minuto? Eu já tinha passado o dia inteiro pensando nela, estava prestes a sair justamente para tirá-la da cabeça só um pouco e agora eles voltavam e ela era o foco de novo...
– E a janela estava aberta – meu pai disse.
Desviei o olhar. Inferno... se ela não estava no quarto e a janela estava aberta... Merda, merda, merda.
Ela tinha fugido? Por que? Seria porque estava irritada comigo? Ou tinha algo a ver com a visita de mais cedo? Isso não era nada bom... Max estava dificultando cada vez mais; ela tinha parar que ser impulsiva assim... Agora ia ser culpa minha.
– Cadê ela? – meu pai perguntou como se fosse obrigação minha saber. Bem que eu gostaria.
– Eu não sei...
– Você não sabe?
– Bom, eu aposto que ela... Sei lá, foi brincar no fliperama – ela adorava aquele lugar, claro que tinha ido para lá... Mas eu não podia contar o motivo de ela querer sair. Se bem que estava tarde, então o fliperama devia estar fechado.
Me afastei e fui até o armário. De repente, a ideia de que ela poderia ter saído para se encontrar com aquele merda do Lucas Sinclair me ocorreu. E isso me deixou com raiva; Max fugiu de casa para encontrar com ele? Foda-se. Eu não ia mais pensar nisso, não ia mais pensar nela.
– Aposto que ela está bem – falei, tentando acreditar nisso também.
Definitivamente, não era responsabilidade minha ir atrás dela, eles que se resolvam, a filha não é minha. Nem do meu pai. Ele devia deixar a Susan se virar ou simplesmente esperar Maxine voltar. Ela certamente voltaria, só estava fazendo birra... Ou me evitando. Ou se divertindo com Lucas Sinclair. E agora eu ia me divertir com outra pessoa, mais do que decidido a não me importar com o que Max estivesse fazendo.
Peguei uma jaqueta no armário.
– Você devia cuidar dela – meu pai falou. E eu cuidei muito mais do que devia, agora pelo visto ela não queria ser cuidada por mim, eu não ia atrás de ninguém.
– Eu sei pai, eu cuidei... – não ia dar detalhes, mas esperava que ele acreditasse. Coloquei uma jaqueta de couro. – Só que agora eu tenho um encontro. Me desculpa, tá? – desculpa por não querer me envolver ainda mais com a Max; o que estava acontecendo entre eu e ela já era suficientemente confuso e tinha quase certeza de que foi por isso que ela fugiu.
– É por isso que ficou olhando no espelho que nem um boiola, em vez de cuidar da sua irmã, é isso?
Rangi os dentes. A palavra “irmã” foi o suficiente para me tirar do sério.
– Eu já cuidei dela a semana toda, pai! – porra, era ela quem estava me evitando e fugindo de mim, a culpa não era minha... Ele não tinha ideia da merda que estava falando, eu fiz o que pude para me entender com ela. – Olha só, se ela quer fugir, isso é problema dela! – mesmo que o motivo fosse por minha causa, eu não forcei ela a fugir. Na verdade, eu só tentei revolver tudo. – Ela não é uma criança, não devia precisar de babá 24 horas – apesar de eu não me importar mais de ficar tomando conta dela... Mas, nessa noite, especificamente, eu queria distância; já tinha cuidado mais do que o bastante por uma vida. – E ela não é minha irmã – completei. Max nunca seria minha irmã e eu odiava o fato de Susan e do meu pai tentarem enfiar isso goela abaixo.
Além disso, eu também iria querer fugir daquele inferno se pudesse.
Desliguei o rádio do quarto, esperando que aquele assunto, enfim se encerrasse para eu poder sair logo.
Mas de repente meu pai me colocou contra a estante de novo, segurando na gola da minha jaqueta. Fiquei surpreso de ele não estar segurando o meu pescoço dessa vez; talvez estivesse sóbrio o bastante para não me matar ou talvez só me quisesse consciente o bastante para me fazer ir procurar a enteada dele. Senti uma dor aguda nas costas quando ele me pressionou mais contra a estante.
Eu conhecia aquele olhar.
– O que foi que conversamos? – conversamos? Era um monólogo, nós não conversávamos sobre nada, só ele falava. Não respondi. Ele acertou um soco na lateral do rosto, depois outros três nas costelas; eu me contorci, mas ele segurou meu rosto para me fazer encará-lo. – O que foi que nós conversamos? – ele repetiu a pergunta pausadamente.
– Respeito e responsabilidade – respondi com a voz trêmula; respeito e responsabilidade... duas coisas que meu pai jamais tivera nem comigo, nem com a minha mãe e muito menos com a nova esposa dele. Mas era isso que ele exigia de mim.
– É isso mesmo – senti meu corpo tremendo de novo; eu podia facilmente nocauteá-lo... Podia, mas não fiz. – Agora, peça desculpa para a Susan – eu continuei parado, imóvel, olhando para ele. Não conseguia falar. E nem queria. Pelo que eu tinha que me desculpar? Por que a Maxresolveu que não queria mais ficar em casa? Meu pai me acertou de novo, dessa vez no estômago. – Peça desculpas.
– Me desculpa, Susan – falei, sem tirar os olhos dele, me controlando para não me contorcer de novo.
– Está tudo bem, Neil, calma... – não sei o que era pior. Meu pai ser um babaca, controlador e abusivo ou a esposa dele aceitar tudo calada, agindo como se isso fosse normal e falando daquele jeito, numa tentativa hipócrita e nada verdadeira de apaziguar a situação.
– Não, não está tudo bem. Nada no comportamento dele está bem – meu pai apontava o dedo para mim.
Fiz várias lutas por anos, sabia as estratégias; fazia musculação, eu era mais forte... Mas eu só conseguia tremer e sentir a dor latejante nas costelas, enquanto meus olhos começavam a marejar, como todas as vezes. Seria tão simples só aplicar o mínimo de conhecimento em luta que eu tinha... meu pai era amador, era só um golpe, não precisava de muito.
– Mas ele vai compensar agora – senti uma onda de alívio quando meu pai me soltou e se voltou para Susan; respirei fundo. – Ele vai ligar para a vagabunda que ia sair com ele e cancelar o encontro. Depois, ele vai achar a irmã dele, como o irmão bom, gentil e muito respeitoso que ele é. Não é mesmo, Billy? – a única coisa que eu queria era uma noite sem pensar em Max, sem me sentir culpado ou idiota, sem ficar confuso em relação a tudo sobre nós. E sem que ninguém dissesse que ela era minha irmã. Eu só queria um tempo disso tudo... – Não é mesmo, Billy? – meu pai repetiu gritando, se aproximando de mim de novo.
– Sim, senhor – ouvia minha voz fraca, ainda tentando controlar para não desabar ali mesmo.
– Eu não escutei – precisava mesmo disso?
– Sim, senhor – tentei parecer mais firme, mas duvido que tenha funcionado.
– Ache a Max, seu merda – dito essas palavras, ele e Susan saíram do quarto.
E me ajoelhei no chão; o soco que ele deu no rosto foi fraco, mas os da costela e do estômago foram mais fortes. Tossi, sentindo a dor mais intensa do lado esquerdo.
Eu só queria que tudo isso parasse, queria ir embora dali... Eu não conseguia parar de pensar nela e em tudo que estava acontecendo; meu pai não me dava sossego, o único momento em que eu me sentia bem ou, pelo menos, mais leve era quando estava com Max... E mesmo assim, seria mal visto aos olhos de todos e ela não queria estar comigo. Ela fugiu para se afastar e provavelmente para ficar com aquele merdinha... O tempo todo, todo mundo se afastava... As pessoas ao meu redor queriam distância de mim. Sempre. Desde que eu era uma criança.
Eu tentei ser diferente... Eu era carinhoso, amável... E ainda assim, me afastavam; meu pai me afastava. Em certo momento, minha personalidade não importava mais. Eu estava fadado a ficar sozinho, viver sozinho e morrer sozinho. E estava cansado de tentar ser alguém melhor, então foda-se. Os cigarros, o álcool e os gritos pelo menos faziam eu me sentir melhor, mesmo que por pouco tempo.
Só queria que Max entendesse que não era fácil para mim. Comecei a sentir algo bom por alguém, pela primeira vez em muitos anos e essa pessoa fugiu de mim. Ela não podia ficar brava comigo por isso, ela quem não quis conversar.
Não sei o que estava doendo mais naquele momento... As pancadas ou a dor de saber que teria que encontrar Max, olhá-la nos olhos e saber que ela fez o que fez porque não queria mais nada comigo e, ainda assim, teria que fazê-la voltar.
O único jeito de tudo isso parar de doer era transformar essa angústia em raiva.
~Max~
Nós quatro estávamos caminhando por uma trilha na mata, saindo do ferro velho e indo na mesma direção em que aquelas criaturas monstruosas foram. Steve e Dustin iam na frente, segurando lanternas; Lucas e eu, atrás.
– Tem certeza de que era o Dart? – Lucas perguntou.
– Tenho – Dustin respondeu. – Tinha o mesmo desenho amarelo na bunda.
– Ele era pequeno há dois dias... – falei lembrando de quando Dustin levou Dart para a escola.
– Ele já passou por três ecdises.
– Ecdises? – Steve perguntou confuso.
– Ecdise. Trocou de pele para crescer mais, que nem lagartas.
– E quando vai passar por outra? – perguntei. Já era bem bizarro aquilo do tamanho de um rato, assustador do tamanho de um cachorro... Imagine quando ficasse enorme?
– Deve ser logo. Quando passar, vai estar no tamanho adulto ou quase isso. E os amigos também... – Dustin falava com a maior naturalidade.
– É e vai comer bem mais do que só gatos...
– Espera, gato? – Lucas parou e segurou Dustin. – O Dart comeu um gato?
– Não... O que? Não... – Dustin estava claramente escondendo algo.
– Do que está falando? Ele comeu a Miau – Steve disse, agora ao meu lado.
– Miau? Quem é Miau? – perguntei.
– A gata do Dustin.
– Steve! – Dustin gritou.
– Sabia! Você ficou com ele! – Lucas falou, irritado, batendo no peito de Dustin.
– Não! – Dustin negou.
– Não?
– Não, eu... – ele gaguejou. –Não, eu... Ele estava com saudade e queria ir para casa...
– Mentira!
– Eu não sabia que ele era um Demogorgon!
– Ah tá, agora você admite – aquilo era ridículo, estávamos perdendo tempo.
– Pessoal, quem se importa? Temos que ir – interrompi.
– Eu me importo! – Lucas falou, voltando a atenção para Dustin. – Você botou o grupo em perigo, você violou a nossa regra.
– Você também! – Dustin gritou.
– Que?
– Contou pra essa estranha a verdade – Dustin apontou a lanterna para a minha cara.
– Que? “Pra essa estranha”? – então eu não era mais parte do grupo? Pensei que Dustin também me queria como amiga.
– Você queria contar também! – Lucas respondeu e eu me aproximei dos dois; eles se encaravam.
– É, mas não contei, Lucas, ok? Não contei para ela. Nós dois violamos a nossa regra, ouviu? Estamos quites. Quites!
– Não, não. Não estamos quites, nem tenta fazer isso. O seu bicho idiota quase jantou a gente!
– Aquilo não foi culpa minha! – Dustin estava mesmo com raiva; e, apesar de eu achar que contar a verdade para mim era menos perigoso do que adotar uma criatura sobrenatural, ainda assim aquela discussãozinha era desnecessária – Ele não ia jantar a gente!
– Ah, ele só estava avançando para dar um “oi”?
– Nada disso, ele não ia...
– Pessoal! – de repente Steve interrompeu; olhamos para ele, que estava mais distante, apontando a lanterna para algum lugar.
Ouvimos um som estridente; então Steve começou a andar e os meninos foram atrás.
– Não, não, não... – chamei. – Ei, gente, por que estão indo na direção do barulho? – perguntei. Eu era a única sensata que achava que tínhamos que ir na direção oposta? Era como nos filmes de terror, quando as vítimas vão na direção do assassino e eu sempre achei que fosse burrice e agora aqueles três estavam fazendo o mesmo. – Oi? Oi? – gritei, mas já os tinha perdido de vista – Merda...
Estava escuro e eu estava no meio do mato, sem lanterna, sem nada e nem sabia voltar para casa... Não tinha outra opção além de segui-los. Não demorei para alcançar os três; paramos no que parecia ser um mirante, no qual eu supus que poderíamos ver a cidade, se não fosse pela névoa espalhada na escuridão.
– Não estou vendo nada... – Dustin falou.
– É o laboratório – Lucas apontava com o binóculo; aquele laboratório do qual ele tinha me falado, do qual Eleven, a garota misteriosa teria vindo? Era esse laboratório que ele estava falando? – Eles voltaram para casa – Lucas concluiu.
Bela casa.
Steve disse que era melhor descermos da “montanha” e só depois pensar no próximo passo.
– Oi? – escutamos uma voz masculina chamar; não respondemos. – Quem está aí?
Steve e Dustin pararam e apontaram as lanternas para uma garota e um garoto que pareciam ter a mesma idade de Steve.
– Steve? – eles perguntaram ao mesmo tempo.
– Nancy? – Steve perguntou.
Então aquela era Nancy Wheeler? Ao contrário de Mike, ela era bonita. Bonita mesmo.
– Jonathan? – Dustin perguntou. Todos ali se conheciam?
– O que você está fazendo aqui? – Nancy perguntou, surpresa.
– Eu é que te pergunto... – Steve respondeu.
– Estamos procurando Mike e Will – Nancy respondeu. Nós todos nos aproximamos.
– Eles não estão lá dentro... Estão? – Dustin gesticulando para o laboratório de Hawkins.
– A gente não sabe – Nancy disse.
– Por que? – Jonathan tinha acabado de perguntar quando ouvimos um rugido vir de dentro do laboratório; aí estava a resposta.
Nos viramos para o enorme prédio escuro; as luzes piscavam, parecia um cenário mal assombrado de algum filme de terror macabro e, no final, tudo ficou apagado de vez.
Eu tinha um péssimo pressentimento de continuar andando ali.
Todos entraram numa discussão quase infinita sobre quando tinham visto Will e Mike, sobre o plano para atrair os Demogorgons, Dart na história, como eu tinha vindo parar ali, onde os garotos poderiam estar, o que poderíamos fazer... E eu continuei dizendo que era loucura irmos direto até a boca do lobo.
Até que Nancy saiu da rodinha.
– A energia voltou – ela disse olhando para o laboratório, que agora estava iluminado.
Por algum motivo, que eu com certeza não entendia, todos resolveram correr até a entrada do laboratório; me sentia definitivamente como uma personagem burra de filme... Por que será que nessas situações ninguém nunca chama a polícia? Ou vai para casa pra salvar a própria vida? Ou liga para o FBI, para o exército ou sei lá? Todo mundo vai correndo na direção do prédio que estava escuro, depois iluminado, de onde ouvíamos rugidos e sons estranhos, o centro de todo o problema, onde aqueles malditos Demogorgons deviam estar...
Jonathan e Dustin tentavam abrir o portão de entrada, mas sem sucesso. Até que, magicamente, o portão começou a se arrastar para o lado e eu só conseguia olhar para aquilo e me perguntar como me meti nisso.
– Não vamos entrar assim... não é? – questionei.
– Vamos buscar o carro – Nancy sugeriu para Jonathan. – Talvez seja mais seguro se entrarmos de carro.
– Tá bem – Jonathan concordou.
– Vocês ficam aqui – disse Nancy para o resto de nós; Steve tentou discutir, mas ela não deixou.
Dustin, Lucas, Steve e eu ficamos um tempo ali na frente, andando de um lado para o outro, num silêncio perturbador e desconfortável; ninguém tinha ideia do que dizer.
– Pessoal... – alertei identificando carros vindo em alta velocidade, buzinando.
– Saiam da frente! – Steve disse.
Nós quatro nos jogamos para o lado bem a tempo de um dos carros passar por nós em alta velocidade; uma Kombi da polícia de Hawkins parou e o homem lá dentro nos mandou entrar.
Eu realmente queria acreditar que aquele homem era um conhecido deles, já que ninguém nem hesitou em pular dentro do veículo em meio à gritaria. Se bem que eu não duvidava de mais nada àquela altura.
Seguimos viagem numa velocidade relativamente alta, mais uma vez num completo silêncio; eu sentia minha respiração ofegante e meu pulso acelerado, ainda tentando decifrar o que tinha acontecido naquele dia atípico e por que eu era a única que estava achando aquilo uma loucura?
Chegamos na casa de Jonathan, que descobri ser o irmão mais velho de Will. Era uma casa de um andar só, feita de madeira, com uns desenhos estranhos espalhados pelos cômodos.
Will estava apagado, com roupa de hospital, deitado no sofá; Jonathan chorava, ao lado dele, Nancy o consolava, Steve olhava com um ciúme mais do que óbvio, de braços cruzados e o policial – que me disseram que era o delegado Hopper, que nos deu carona – gritava no telefone, impaciente, tentando contatar o serviço de emergência. Até então era a primeira coisa sensata que alguém estava fazendo.
Mike, Lucas, Dustin e eu estávamos sentados à mesa, esperando Hopper sair da ligação para ver o que faríamos a seguir. Aqueles cachorros grotescos tinham atacado o laboratório e matado um tal de Bob, que aparentemente era o namorado da Joyce, mãe do Will e do Jonathan.
Esse Bob, pelo jeito, foi um herói, já que foi graças a ele que os outros conseguiram escapar com vida.
– Não acreditaram em você, não é? – Dustin perguntou melancólico.
– Vamos ver – Hopper disse.
– “Vamos ver”? – Mike repetiu, levantando a voz. – Não podemos ficar parados com aquelas coisas a solta!
– Vamos ficar aqui e esperar ajuda – Hopper disse firme, virando de costas para nós.
Mais uma vez, mergulhamos num silêncio horrível, todos em volta da mesa... Joyce estava no quarto, ela não tinha dito uma palavra a nenhum de nós. O clima estava bem pesado. De repente, Mike levantou e se afastou de nós.
– Sabiam que o Bob fundou o Clube de Audiovisual de Hawkins? – ele quebrou o silêncio, de costas para nós.
– Sério? – disse Lucas.
– Ele fez o pedido para a escola começar, depois fez uma arrecadação para o equipamento – Mike voltou para a mesa, segurando um cubo azul. – O Sr. Clarke aprendeu tudo com ele. Bem bacana, não é?
– É – Lucas e Dustin concordaram.
– Não podemos deixar ele morrer em vão.
– E o que você quer fazer? – Dustin falou mais alto. – O delegado está certo nessa. Não dá para vencer aqueles Demodogs.
– Demodogs? – franzi o cenho.
– Demogorgon, – Dustin ergueu uma mão – cães, – ergueu a outra – Demodogs – uniu as duas, – É composto, uma brincadeira... – ele falava como se eu fosse uma retardada.
– Eu entendi – falei.
– Assim, quando era só o Dart, talvez...
– Mas tem um exército agora – Lucas interrompeu.
– Exatamente.
– O exército dele – Mike falou enigmático; todos olhamos para ele.
– Como assim? – Steve entrou na conversa.
– O exército dele – Mike repetiu, o que não esclareceu nada. – Talvez, se vencermos ele, a gente vença o exército junto – ele falou empolgado.
Mike correu até uma mesinha; todos nós fomos atrás e ele nos mostrou um desenho que parecia ser uma aranha enorme e preta no meio de uma floresta, com o céu carregado de nuvens escuras.
– O Monstro das Sombras... – Dustin falou.
– Ele pegou o Will naquele dia do gramado. O médico disse que era algum tipo de vírus que infectou ele... – Mike continuou.
– Espera aí – interrompi tentando fazer a ligação de tudo. – Então esse vírus é o que conecta ele aos túneis?
– Aos túneis, aos monstros, ao Mundo Invertido, tudo – Mike respondeu.
– Espera um pouco, devagar, devagar – Steve também parecia meio perdido nisso.
– Olha só, o Monstro das Sombras está dentro de tudo... E se os cipós sentem alguma dor, o Will também sente.
– E o Dart também... – Lucas disse.
– É. É o que o Sr. Clarke ensinou. Mente colmeia.
– Mente colmeia? – perguntou Steve.
– Uma consciência coletiva, é um superorganismo – Dustin esclareceu.
– E essa é a coisa que controla tudo – Mike apontou para a figura preta no desenho. – É o cérebro.
– O Devorador de Mentes – Dustin disse.
– O que? – perguntei.
– Como é que é? – Steve pareceu confuso, como eu.
Dustin, Lucas e Mike pareceram entender bem aquela “referência”, mas Steve e eu não.
Dustin pegou um livro e o abriu na mesa.
– O Devorador de Mentes – Nancy e Hopper se juntaram a nós, na mesa, em volta do livro.
– E que merda é essa? – Hopper quis saber.
– É um monstro de uma dimensão desconhecida – Dustin parecia saber bastante sobre o assunto. – É tão antigo que nem conhece seu verdadeiro lar. Ele escraviza raças de outras dimensões, dominando os cérebros delas com seus poderes psiônicos avançados – ele falava rápido.
– Ah, por favor – Hopper disse. – Isso não é real, é um jogo de criança.
– Não é, é um manual... E não é de criança – Dustin pareceu ofendido. – E a manos que você saiba de algo que a gente não sabe, essa é a melhor metáfora.
– Analogia – Lucas corrigiu.
– Analogia? Essa é a sua preocupação? – Dustin repreendeu de novo – Ok! Analogia. Para entender a merda que está acontecendo!
– Opa, espera aí! – Nancy interrompeu. – Então esse Destruidor de Mentes...
– Devorador. Devorador de Mentes... – ela revirou os olhos.
– O que que ele quer?
– Conquistar a gente, resumindo. Ele acha que é a raça superior.
– Ah, tipo os alemães? – disse Steve.
– Os nazistas? – perguntou Dustin.
– É, é... Os nazistas.
– Ah... Se os nazistas fossem de outra dimensão... É, com certeza... Ele vê outras raças, como a nossa, como inferiores à dele.
– Ele quer se espalhar e dominar outras dimensões – disse Mike.
– Estamos falando da destruição do mundo que nós conhecemos – Lucas falou; olhei para ele.
– Ah que legal! Legal! Muito legal! – Steve virou de costas, provavelmente entrando em desespero, como eu estava prestes a entrar. – Que merda...
– Tá bom – Nancy assumiu o rumo da conversa, surpreendentemente tranquila. – Então essa coisa é tipo um cérebro que está controlando tudo... Se nós matarmos ele...
– Nós matamos tudo que ele controla – Mike completou.
– Ganhamos – Dustin acrescentou.
– Teoricamente – Lucas falou.
– Ótimo. E como se mata essa coisa? – Hopper pegou o livro das mãos de Nancy. – Jogamos bolas de fogo?
– Não – Dustin sorriu. – Não, não. Sem bola de fogo. Invoca um exército de zumbis, porque... Porque zumbis, sabe? eles não... Eles não têm cérebro... E o Devorador... O Devorador de Mentes... Ele... Ele gosta de cérebros – olhamos para Dustin – É só um jogo...
– Ah, o que que é isso! Meu Deus! – Hopper fechou e jogou o livro na mesa.
– Pensei que estivéssemos esperando o seu reforço militar!
– E estamos!
– Mesmo que venham, como vão deter o monstro? – Mike interrompeu Dustin e Hopper. – Não dá para atirar nele com armas!
– Você não sabe disso! A gente não sabe de nada! – Hopper gritou.
– A gente sabe que ele matou todo mundo no laboratório! – Mike gritou de volta.
– E a gente sabe que os monstros vão passar pela ecdise – Lucas falou.
– E a gente sabe que é só questão de tempo até os túneis chegarem na cidade – Dustin completou.
– Eles têm razão – de repente Joyce apareceu na sala. – Temos que matar ele. Eu quero matar ele – Hopper foi na direção dela. Joyce parecia bem irritada e chateada, a voz trêmula e olhar marejado...
– Eu também quero, eu também. Joyce, escuta, como vamos fazer isso? Não sabemos com o que estamos lidando.
– Não, mas ele sabe – Mike apontou para o Will. – Se alguém sabe como destruir essa coisa, é o Will. Está conectado a ele... Ele conhece a fraqueza dele.
– Pensei que não desse para confiar nele... Ele não é um espião do Devorador de Mentes? – perguntei, me dando conta do quanto isso parecia loucura.
– É, mas... Não dá para espionar se não souber onde está.
Mike teve uma ideia nada convencional, mas que poderia funcionar se tudo desse certo; nós meio que nos dividimos em duplas e cada um foi fazer algo diferente. Ironicamente, fiquei com Mike para ajudá-lo; ele parecia não estar mais tão fechado quanto à minha entrada no grupo, embora ainda não me tratasse exatamente bem.
Ele estava mexendo nos canos da pia, enquanto eu desenrolava a fita isolante e pensava na conversa que tive com ele na quadra, quando perdemos o Dart.
– Agora eu sei porque a Eleven era a maga – sorri ao pensar numa garota que controlava tudo com a mente.
– O que?
– O Lucas me contou sobre ela.
– É, ele não devia. E só porque sabe a verdade, não quer dizer que é do grupo... Você sabe disso, não é? – falei cedo demais.
– É, eu sei – na verdade, não sabia; pensei que depois de tudo, ele me aceitaria, afinal; mas claro, fazia todo sentido. Era ilusão minha pensar que eu finalmente tinha feito amigos. Talvez Billy estivesse certo no final de tudo, eu não tinha amigos. – Assim, para quê iam querer uma zoomer idiota no seu grupo, não é? Só queria dizer que a El... Ela parece ser uma garota incrível – e paciente, porque para aguentar esses meninos chatos e infantis, não era fácil.
– É, ela era – a tristeza em sua voz era bem clara. – Até que aquela coisa levou ela... Que nem levou o Bob – eu não podia imaginar o quanto devia ser difícil perder pessoas de quem se gosta daquela maneira... Por mais que eu tenha deixado meu pai na Califórnia, ele ainda estava vivo e bem, não estava preso em nenhuma outra dimensão, embora o fato de ele não falar mais comigo era quase como se ele tivesse morrido.
Mike bateu o armário da pia, levantou e saiu.
Todos ajudamos a colar pedaços de papelão e alumínio no galpão da casa do Will; íamos colocá-lo lá, para que o Devorador de Mentes não soubesse onde estávamos.
Era meio assustador; um garoto apagado, com roupa de hospital, amarrado numa cadeira, com luzes apontadas para ele. Onde eu fui parar? Joyce estava mantendo o filho desacordado usando seringas de sedativo vindas sabe-se lá de onde...
Mas só Hopper, Joyce, Jonathan e Mike ficaram no galpão; o resto de nós voltou para dentro da casa. Lucas e eu ficamos sentados um de frente para o outro em um dos corredores.
– Se ele descobrir onde a gente está, vai mandar os cachorros atrás da gente? – perguntei, sentindo calafrios ao pensar nessa ideia.
– Ele não vai descobrir – Lucas garantiu.
– Tá, mas... Mas e se ele descobrir? – não tinha como termos certeza de nada.
– Dia do Julgamento – ele quis dizer morte? Íamos todos morrer? Por que todo mundo estava tão calmo?
As luzes começaram a piscar e todos ficaram alerta; algo ruim estava acontecendo...
Os quatro entraram em casa, Hopper na frente, pegando um pedaço de papel e uma caneta; ele sentou na mesa e ficamos ao redor dele.
– O que houve? – Dustin perguntou.
– Acho que ele está falando, mas não com palavras... – ele começou a fazer pontinhos e linhas no papel.
– O que é isso? – Steve perguntou.
– Código Morse – Dustin, Lucas, Mike e eu respondemos.
Hopper estava decifrando o Código Morse.
– Aqui – dissemos ao mesmo tempo quando lemos o que Hopper tinha escrito.
– Will ainda está lá – Hopper concluiu. – Está falando com a gente.
Novo plano. Nancy, os meninos e eu ficaríamos responsáveis por traduzir o que Will dizia em código, com Hopper nos passando as coordenadas pelo rádio.
– “Selar portal” – era o que dizia a mensagem de Will.
O telefone de repente tocou, tirando nossa concentração daquelas palavras.
– Merda... Merda, merda! – Dustin correu e bateu no telefone; aquilo significava que o Devorador de Mentes nos acharia? Pelo toque do telefone?
Ele tocou de novo, então Nancy o arrancou da parede e arremessou no chão.
– Será que ele ouviu isso? – perguntei, prevendo a resposta.
– É só um telefone... Pode ser de qualquer lugar... Não é? – Steve sugeriu, mas infelizmente não parecia que acreditava no que estava dizendo.
Ouvimos um barulho alto lá de fora. É, aparentemente não era só um telefone...
– Isso não é legal – disse Dustin.
Mike, Lucas, Dustin e eu subimos no sofá, tentando espiar algo pela janela, mas não tinha nada – por enquanto.
– Ei, ei, saiam de perto das janelas! – Hopper gritou para nós, entrando em casa; ele estava com duas armas nas mãos e ofereceu uma a Jonathan. – Sabe usar isto?
– O que?
– Você sabe usar isto?
– Eu sei – disse Nancy. Hopper jogou a espingarda para ela.
Hopper, Nancy e Steve formaram uma linha de frente, como uma barreira de proteção; duas armas, um estilingue, um taco de beisebol e um troféu que Mike segurava resolveriam o problema? Contra aqueles... Demodogs?
Nada acontecia, por que nada acontecia? Aquela espera era ainda pior, eu estava angustiada e ansiosa.
– Cadê eles? – perguntei atrás de Lucas, que segurava um estilingue.
Só um grunhido alto lá fora como resposta.
– O que estão fazendo? – Nancy perguntou, virando-se na direção de onde vinha o ruído.
A criatura rugiu de novo, depois de novo... e mais uma vez. Engoli em seco.
Então uma das janelas quebrou e um Demodog foi arremessado para dentro.
Mas ele continuou atirado no chão; Hopper o chutou, nenhum sinal de vida.
– Ele está morto? – perguntei.
A boca estava escancarada, ele não se mexia.
De repente, a tranca da porta virou; todos olhamos para lá, aguardando o que entraria. Senti meu coração disparando e a boca seca... Eu estava certa de que ia morrer ali mesmo...
Mas nenhum Demodog entrou... Na verdade, foi uma garota. Com uma roupa preta, uma maquiagem escura embaixo dos olhos, os cabelos penteados para trás e uma gota de sangue escorrendo pelo nariz. Ficamos todos boquiabertos.
Se eu estivesse certa, aquela era...
Autor(a): nirvana666
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
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~Max~ – Eleven! – Mike disse, se aproximando dela. – Mike... – os dois se abraçaram, com lágrimas nos olhos; era uma cena realmente emocionante. – Ela é... – comecei, olhando para Dustin e Lucas, que assentiram antes mesmo de eu terminar a pergunta; mas eu nem precisava perguntar para saber. Aquela era Eleven, a ga ...
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