Fanfic: Improvável | Tema: Stranger Things
~Billy~
Depois de deixar Harrington e os outros na casa do Byers, comecei a dirigir mais devagar. Seria um longo caminho até em casa e eu estava me preparando para outro sermão.
Apertei as mãos no volante, sentindo uma dor aguda por causa dos dedos inchados; tinha dado uma bela surra no Harrington... ao menos um ponto positivo.
– Billy... – Max começou, a voz baixa. – Quer conversar sobre isso?
Não olhei para ela.
– Sobre o que quer conversar, Max? Sobre você ter fugido de casa? Ou ter ido encontrar o Harrington, o Sinclair e mais dois moleques? Ou sobre ter me drogado, me enfiado num porta-malas e dirigido o meu carro até a boca do inferno? Ah, talvez queira falar sobre essa história de portal e outra dimensão... ou sobre ter arriscado a sua vida por causa do Harrington...
– Podemos falar sobre tudo – ela respondeu. Suspirei.
– Não, eu não quero falar sobre nada disso.
– Mas eu posso explicar essa coisa do portal...
– Não quero saber de nada. Essa história acabou, não quero nenhuma explicação.
Max ficou em silêncio por um tempo, então voltou a falar.
– Precisava mesmo ter feito aquilo com Steve? – ela perguntou.
– Não. Mas quer saber? Foi muito bom. Ele merecia uma boa surra desde o Halloween.
– Por que fez isso?
– Por que fugiu de mim?
– Eu não fugi de você... Meus amigos precisavam de mim, eu tinha que ajudá-los... isso não tem a ver com a gente ou com o que aconteceu ontem...
– Você é inconsequente, Maxine.
– Mas eu estou bem! Não aconteceu nada... – não aconteceu nada porque eu impedi. Poderia ter acontecido, mas essa não era a questão.
– Nem tudo é sobre você.
– Você está bem também! Deu tudo certo no final, não deu?
– Deu para você.
– O que quer dizer?
– Quer dizer, Max, que é a mim que meu pai vai matar quando chegarmos.
– Seu pai? – ela pareceu surpresa.
– É. Ele e a sua mãe resolveram voltar antes de viagem. E estão muito putos comigo porque você fugiu.
– Desculpa... se eu soubesse que eles...
– Não age como se fosse fazer diferente. Nós dois sabemos que você teria feito exatamente a mesma coisa.
– Billy, eles são meus amigos, você tem que entender que...
– Não, eles não são! E, mesmo se fossem, você precisa começar a pensar antes de fazer as coisas, porque as suas ações têm consequências e não só para você.
– Eu não sabia que eles tinham voltado!
– Claro que não! Você nunca sabe de nada, não é? – gritei. – Porque nada nunca é culpa sua... Porque tudo o que você faz sou eu quem levo a culpa.
– Não é assim! – ela gritou também.
– Não, Max? – finalmente olhei para ela, irritado. – Me diz, quantas vezes eles gritaram com você? Quantas vezes você ficou de castigo ou apanhou por alguma coisa que fez?
– Isso não é justo, Billy.
– Bem-vinda ao mundo real, Max. A vida não é justa – ela suspirou.
– Então você me odeia – revirei os olhos. Quanto drama.
– Eu não odeio. Só estou pedindo para se comportar, porque toda vez que você faz merda, eles colocam a culpa em mim.
Nenhum de nós disse mais nada até chegarmos. Estacionei ao lado da caminhonete do meu pai, mas não desci do carro; não ainda. Já sentia meu corpo começar a fraquejar só de pensar no meu pai me esperando.
– Sei que fui babaca com você mais cedo... se ainda quiser falar sobre aquilo...
– Não quero – interrompi.
– Billy, desculpa. Desculpa mesmo. Se eu tivesse a menor ideia de que eles iam voltar antes, não teria saído – respirei fundo, encarando a casa, mas não respondi. – Você não pode deixar ele continuar fazendo isso.
– E o que sugere que eu faça, Max? – minha voz estava mais fraca agora; eu já não sentia a coragem de antes.
– Revida – olhei para ela. – Você é maior, já mostrou que ótimo numa briga... você matou um demodog, um bicho de outra dimensão... o que ele é comparado ao que fez hoje?
– Ele é meu pai.
– E isso não dá a ele o direito de fazer o que faz com você...
– Não posso revidar.
Eu já tinha pensado sobre isso. Pensava todas as vezes em que ele me colocava contra a parede e segurava a minha garganta até que eu perdesse a consciência. Mas não conseguia. Simplesmente não conseguia. Eu ficava paralisado, alguma coisa na minha mente desligava.
– Ele não pode continuar te tratando desse jeito, você precisa...
– Não posso enfrentar ele, tá bom? Não dá.
– Então... fala com a polícia ou algo assim. Eu posso ir com você...
– Não, Max. Esquece isso. Não é problema seu. Só... tenta não fazer mais nenhuma merda – desliguei o carro, tirei a chave e desci.
Max veio atrás de mim.
Entramos; Susan e meu pai estavam sentados no sofá. Ela correu para abraçar Max assim que passamos pela porta e as duas foram para o corredor dos quartos; eu sabia o que aquilo significava.
Meu pai levantou do sofá e lentamente veio até mim.
~Max~
– Você está bem? Se machucou? – minha mãe me olhava preocupada, analisando se eu tinha algo diferente em mim e me abraçando desesperadamente como se eu tivesse sumido há dias.
– Estou bem – empurrei-a de leve para que parasse de me esmagar.
– Tem certeza? Para onde você foi? Por que saiu desse jeito? Ficamos tão preocupados…
– Mãe… – revirei os olhos; estão ouvi um barulho alto vindo da sala. – O que foi isso? – comecei a andar naquela direção, mas minha mãe me puxou.
– O Neil vai resolver as coisas com Billy – então aquele barulho tinha sido… Billy caindo no chão? Fiquei atordoada.
– Não, ele não tem que fazer nada com o Billy, fui eu que fugi! – tentei mais uma vez sair do corredor.
– Max, não é culpa sua. Seu irmão devia ser mais responsável e cuidar melhor de você. Deixe o Neil falar com ele...
– Ele não é meu irmão!
Eu não ia deixar que Billy se machucasse por algo que eu tinha feito; apesar de ter sido por uma boa causa e nós termos ajudado o Will e a Eleven, não era justo que o Sr. Hargrove punisse Billy pela minha fuga.
Me desvencilhei das mãos da minha mãe e corri para a sala; Billy estava encolhido no chão, tossindo, enquanto o pai dele dava um chute, falava algo como “seu merda irresponsável” e dava mais um chute... e outro... e outro... E continuava. Era pior do que assistir aos demodogs. Era desesperador. Senti as lágrimas começarem a surgir nos olhos.
– Para! – gritei fazendo-o olhar para mim. – Eu que fugi, não é culpa do Billy. Se quer punir alguém, tem que ser eu.
O Sr. Hargrove rapidamente mudou de expressão, passando de furioso, para alguém se divertindo com a situação. Aquele homem era louco. Eu ainda podia ver a raiva em seu olhar; julgando pela garrafa de bebida na mesa da sala, podia apostar que ele estava bêbado. Ouvi os passos da minha mãe atrás de mim; eu estava apavorada, mas não podia deixar que o Sr. Hargrove continuasse.
– Maxine... – sua voz era áspera e arrastada. – Você é uma criança. Não tem nada a ver com isso.
– Não sou criança. Posso responder pelas minhas próprias decisões e fui eu que saí sozinha sem avisar.
Ele começou a andar calmamente na minha direção, cambaleando um pouco; me controlei para não correr dali. O Sr. Hargrove podia ser assustador, mesmo quando não estava gritando. Ele não podia continuar fazendo aquilo; alguém precisava fazer alguma coisa e, como nem a minha mãe, nem o Billy pareciam dispostos a isso, eu ia fazer.
– Olha... parece que sua irmãzinha resolveu te proteger – ele olhou para Billy e riu; era uma risada gélida, de dar calafrios.
– Sai... daqui, Max... – Billy disse com dificuldade, tossindo; sangue escorria de sua boca e seu nariz. Ele parecia péssimo. Senti meu peito apertar, mas mantive a cabeça erguida.
– Escuta seu irmão, Maxine; ele é inteligente quando quer.
– Fui eu que fugi, não machuca ele. O que tiver que fazer, faz comigo – pedi. Eu estava morrendo de medo. O Sr. Hargrove sempre me assustou, eu sempre soube do que ele era capaz. Mas não podia deixar Billy pagar por algo que eu tinha feito; nunca tinha me dado conta de que era sempre ele quem precisava lidar com as consequências do que eu fazia... até agora.
– Max, sai... – a voz de Billy estava fraca, não olhei para ele.
Eu estava tremendo, meu coração errava as batidas, mas não desviei o olhar dos olhos do Sr. Hargrove. Ele se aproximou ainda mais de mim.
– Mas você é uma garota, é mais frágil... Não aguenta o que ele aguenta. E, como você disse, não é mais criança... Seu castigo vai ser diferente – ele deu outro sorriso assustador; engoli em seco. O que ele queria dizer? – No seu quarto.
Então o Sr. Hargrove pegou meu braço com uma força desnecessária; resmunguei baixo e tentei me livrar do aperto, mas ele segurou ainda mais forte.
– Quer ficar no lugar do seu irmão, não quer? – ele perguntou, com o rosto próximo do meu; fiz que sim, agora sentindo as lágrimas escorrendo pela minha bochecha. – Então aguenta.
Ele começou a me arrastar na direção do quarto; olhei para minha mãe, que estava encostada na parede do corredor, observando tudo. Ela encarava o chão, não demonstrava nada, sequer levantou os olhos quando passamos por ela.
O Sr. Hargrove me arrastou até o quarto e soltou meu braço, mas agarrou meu cabelo, puxando-o com força; eu gritei. Ele tirou minha jaqueta e jogou no chão.
O que ele estava planejando? Me bater, como fazia com Billy? Não... ele disse que ia ser diferente. O que ia ser diferente?
– O que vai fazer? – perguntei entre lágrimas.
– Cala a boca! – ele gritou.
Então, de repente, ele me soltou. Olhei para trás; Billy, com o rosto coberto de sangue, o segurava pela jaqueta e começou a puxá-lo para fora do meu quarto, colocando-o contra a parede e batendo suas costas com força.
Billy começou a acertá-lo várias vezes, como tinha feito com Steve; no rosto, nas costelas, no estômago. O Sr. Hargrove gemia de dor, tentando se proteger inutilmente com as mãos. Billy o derrubou e continuou batendo.
– Você nunca mais vai chegar perto dela de novo! – Billy berrava. – Nunca mais! Entendeu? – eu estava boquiaberta, sem ter ideia do que deveria fazer. – Diz que entendeu! Diz! – Billy parou de bater e o encarou, agora de pé.
– Entendi… – o Sr. Hargrove sussurrou.
– Eu não te ouvi.
– Entendi – ele repetiu mais alto e fechou os olhos, caído no chão, sangrando.
– Ótimo.
Billy se afastou dele e olhou para mim.
– Max...
– Vocês dois – minha mãe interrompeu. – Vão embora.
– O que? – perguntei perplexa, sem digerir o que tinha acabado de acontecer.
– Vocês têm que ir. Neil vai ficar com raiva quando acordar, ele vai querer matar os dois... Vão embora. Só por enquanto... eu ligo quando a poeira abaixar.
– Mas... – comecei.
– Max, arruma as suas coisas – Billy disse, sem olhar para mim. – Nós vamos embora.
Resolvi que não era um bom momento para discutir. Eu ia fazer o que ele pedia. Talvez, no final das contas, fosse uma boa ideia.
Eu estava apavorada com aquela situação... o Sr. Hargrove estava muito pior do que qualquer outro dia, ele estava fora de si... E Billy finalmente tinha revidado, mas foi retaliação. Foi horrível e... E minha mãe estava certa. O Sr. Hargrove ia querer nos matar; precisávamos ir embora.
Coloquei algumas peças de roupa numa mochila, funcionando totalmente no automático, perdida.
~Billy~
Eu não podia acreditar que meu pai ia mesmo fazer aquilo com ela... era muita covardia, até para alguém como ele. Não que isso me surpreendesse... Ele era um lixo. Susan também... ela não se mexeu um centímetro para impedir nada. Cada parte do meu corpo doía, mas eu não podia deixar ele continuar. Max não ia passar por isso. Nunca.
Eu estava cego de raiva... enojado só de pensar no que meu pai faria com ela. Eu queria matá-lo, agora mais do que nunca... agora eu não podia ficar paralisado porque outra pessoa dependia de mim. Uma pessoa com quem eu me importava.
Max e eu precisávamos ir embora dali; meu pai não ia perdoar isso tão cedo. Nós dois precisávamos nos afastar o mais rápido possível, tínhamos que sumir.
Susan me entregou as chaves da nossa antiga casa na Califórnia; era para lá que iríamos. Era o mínimo que ela podia fazer depois de ser uma vaca escrota... Inacreditável. Ela ia deixar aquele filho da puta fazer o que quisesse com a Max... Que tipo de mãe era ela?
Entramos no carro. Merda, por que é que nos mudamos para Hawkins? Não era para nada disso estar acontecendo. Se tivéssemos ficado na Califórnia...
Senti o gosto metálico do sangue na boca, eu sabia que estava com uma cara péssima. Harrington não tinha acertado tantos socos, mas meu pai sim e ele era muito mais forte.
E minhas mãos doíam, os dedos sangrando e inchados por causa dos socos que eu tinha dado... estava acostumado com brigas, mas dessa vez peguei pesado demais.
Meu pai era um merda e eu sempre soube... Agora tinha passado dos limites. E isso desencadeou um gatilho em mim, talvez uma coisa que devia ter ativado há muito tempo... eu devia ter reagido há muito tempo, então Max nunca teria que passar por algo assim.
Eu era parecido com ele em alguns aspectos e detestava isso, mas nunca, jamais, em nenhuma circunstância, eu estupraria uma garota. Esse era um limite que eu não ultrapassaria.
Max não era mais criança, isso era óbvio... mas pensar no que ele ia fazer me dava vontade de vomitar. Eu devia ter batido mais, tirado mais sangue, quebrado ossos, como ele fez comigo por tantos anos. Ele merecia. Merecia pior.
Eu queria matá-lo... matá-lo só por ele ter cogitado tocar nela.
– Billy – Max chamou enquanto eu acelerava mais.
– O que foi?
– Você não parece nada bem... – não respondi. Não estava mesmo; minha cabeça latejava, eu sentia várias partes doerem, o gosto e o cheiro do sangue estavam me deixando tonto, fora as lembranças de tudo o que tinha acabado de acontecer me atormentando. – Para onde estamos indo?
– Califórnia – respondi mecanicamente.
– É muito longe para você dirigir nesse estado... – ela tinha razão, merda. Olhei para ela. Max parecia assustada e preocupada.
Droga... tudo isso porque ela tinha tentado me defender. Quis gritar e questionar por que tinha feito isso... dizer que ela devia ter ficado quieta, que eu podia lidar com a situação...
Mas não podia ficar irritado por causa disso. Eu tinha acabado de dizer que a culpa de tudo que ela fazia caía sobre mim. Não devia ter dito nada.
Eu não estava mesmo bem para dirigir, nem para fazer qualquer outra coisa. Meu sangue ainda fervia de raiva e a única coisa que eu conseguia pensar era em matar o desgraçado do meu pai.
Não me importaria em bater o carro, não ligaria de capotar, ficar preso entre os estilhaços e até morrer. Não me importaria mesmo, não com tudo que estava sentindo naquele momento. Mas Max estava no carro também.
Respirei fundo, sentindo dores nas costelas, ainda mais intensas. Eu tinha que ficar bem, tinha que dirigir com cuidado. Precisava fazer isso, por ela.
– A gente para num hotel – falei.
– Tudo bem – ela concordou, parecendo um pouco mais tranquila.
Parei no primeiro hotel antes da estrada. Hotel 6, na Cornwallis. Não era bem cinco estrelas, mas dava para o gasto. Max foi quem falou na recepção, resolveu tudo e pegou a chave; ela disse que eu ia acabar assustando as pessoas se entrasse na recepção com sangue pingando.
Nós entramos em um dos quartos; olhei para Max ao ver que só tinha uma cama de casal no quarto.
– Era a única opção disponível – ela falou, corada. – E... não é como se nunca tivéssemos dividido a cama, não é?
– Tá... – suspirei. Não era algo ruim, na verdade, eu não me importaria nada em dividir a cama com ela. De novo.
Alguém bateu na porta.
– Pedi um kit de primeiros socorros – Max explicou – e gelo... Você precisa.
Não respondi. Estava começando a sentir o cansaço pesar sobre mim; sentei na cama, enquanto Max pegava as coisas com um funcionário do hotel e fechava a porta de novo. Estava cansado demais para discutir e dizer a ela que não precisava daquilo, que já estava acostumado com esses machucados.
~Max~
Sentei na cama, de frente para o Billy. Já estava acostumada com ferimentos e sangue, dadas todas as vezes em que caí de skate, então tinha uma ideia de por onde começar.
– Sinto muito por isso – ele estendeu uma das mãos e tocou meu braço; não tinha reparado até então que estava com marcas arroxeadas e vermelhas, no formato da mão do Sr. Hargrove, exatamente onde ele tinha me segurado.
– Não é nada. Você está muito pior... – na verdade, aquilo nem estava doendo mais. E, apesar de ser meio incômodo, tirando esse detalhe, eu saí ilesa de tudo.
– É diferente. Eu estou acostumado.
Peguei suas mãos e comecei a limpar o sangue delas. Era triste pensar que Billy estava habituado a essas situações. Não conseguia nem imaginar quantas vezes o Sr. Hargrove tinha feito aquilo; mas dessa vez parecia muito pior... era uma mistura de tudo. Eu sabia que ele estava magoado comigo por eu ter fugido, com raiva também, e cansado... eu estava cansada e olha que nem tinha feito tanta coisa assim.
Coloquei o gelo em cima dos nós de seus dedos; ajudaria com o inchaço.
Passei a gaze úmida pelo seu rosto, fazendo o melhor que podia para tirar o excesso de sangue.
– Está doendo? – perguntei. Billy não olhava nos meus olhos, ele parecia meio perdido em seus pensamentos; eu não queria perturbá-lo.
– Não.
Como é que aquilo podia não doer? Tinha um corte em seu lábio, outro na bochecha e outro ao lado do olho e seu nariz ainda sangrava bastante. Seus olhos, porém, não estavam roxos, nem inchados, o que era surpreendente, já que o Sr. Hargrove tinha sido bem agressivo...
Mas eu me lembrava de Billy estar no chão e ele chutá-lo nas costas e nas costelas, então eram essas regiões que deviam estar piores.
Terminei de passar antisséptico nos cortes e, finalmente, seu nariz parou de sangrar. Respirei fundo antes de começar a desabotoar sua camisa.
– O que está fazendo? – ele perguntou.
– Vou ver como estão os outros machucados – falei, sentindo o rosto esquentar; sabia que não era muito convencional fazer isso e que Billy era instável, podia surtar comigo e me mandar ficar longe a qualquer momento...
Mas ele só assentiu. Ele parecia exausto... exausto demais até para brigar ou discutir comigo. Aproveitei o momento; Billy era teimoso e orgulho e não ia me deixar cuidar dele se estivesse num dia normal, mesmo que, claramente, precisasse de cuidados.
– Isso... está horrível – falei, boquiaberta, ao ver a quantidade de hematomas em seu peito e abdômen depois de tirar a camisa. Os hematomas eram avermelhados e roxos, fora os cortes.
– Não é nada demais, Max– ele murmurou.
– Nada demais? Billy... isso é... – não fui capaz de terminar a frase; não tinha palavras para descrever o que sentia ao ver aquilo.
Continuei limpando o sangue e desinfetando os cortes; dessa vez Billy fez uma careta, mas não reclamou.
– Tudo bem? – perguntei depois de terminar na parte da frente.
– Eu estou bem. Sério, Max, não precisa se preocupar tanto...
Revirei os olhos e o ignorei. Como é que não podia me preocupar com Billy coberto por hematomas e cortes daquele jeito? Me confortava saber que talvez o Sr. Hargrove tivesse ficado bem pior, considerando a agressividade de Billy em cima dele.
Dei a volta e olhei suas costas; não estava tão ruim. Tinha menos cortes e só três hematomas roxos, menores em comparação aos outros.
– Entendo porque sua mãe foi embora – falei, passando a gaze por um corte no ombro dele. – Seu pai... ele é um monstro, Billy. Ele é uma pessoa horrível. Mas nunca vou perdoar sua mãe por não ter levado você com ela.
Billy não respondeu. Ele soluçou; eu sabia que estava chorando... merda, devia ter ficado quieta.
Eu o abracei por trás, tomando cuidado para não esbarrar em nenhuma das feridas e encostei meu queixo em seu ombro.
– Desculpa, Billy... – sussurrei. – Eu não devia ter me metido na briga com o seu pai... Sinto muito mesmo.
– O que aconteceu não é culpa sua. Eu não devia ter dito aquelas coisas antes – ele falou, numa voz fraca.
Eu não sabia o que dizer; sentia que a cada palavra que eu pronunciava, só piorava a situação... Ao mesmo tempo, gostava de ficar daquele jeito com Billy. Era a primeira vez em que eu o via assim e ele não me mandava embora, nem gritava comigo. Mas era de partir o coração vê-lo assim.
Ele enxugou as lágrimas e levantou, se desvencilhando de mim.
– Acho melhor irmos dormir. Amanhã temos uma longa viagem – fiz que sim.
Billy tirou o kit de primeiros socorros e o gelo da cama e, em seguida, deitou.
~Billy~
Eu estava com raiva, confuso e triste. Com raiva ao pensar no meu pai, confuso quanto ao que eu sentia pela Max e triste quando ela falou sobre a minha mãe.
Como é que ela sabia que minha mãe tinha ido embora e me abandonado? Nunca tínhamos falado sobre isso...
Não contive as lágrimas ao pensar nela. Era uma lembrança dolorosa da qual eu queria esquecer.
Ainda doía saber que minha mãe simplesmente sumiu e se esqueceu de mim; ao mesmo tempo, não podia imaginar o que meu pai faria com Max se não tivesse a mim para descontar seu ódio, então, de certa forma, eu não desejava ter ido embora com ela. Não se isso significasse que Max ia passar pelo que eu passei; eu preferia passar por isso um milhão de vezes de novo.
Max apagou a luz e deitou ao meu lado, um pouco mais distante do que eu gostaria.
– Max? – chamei depois de um tempo.
– O que? – ela sussurrou em resposta.
– Por que está longe?
– Eu... ah... eu não sei... eu só...
Não deixei que ela completasse a frase, só a puxei para mais perto; mesmo com a luz do banheiro sendo a única acesa, pude enxergar bem seus olhos. Coloquei uma mecha de seu cabelo atrás da orelha e toquei sua bochecha; com o polegar, podia sentir que ela estava corada.
– Acho que te devo desculpas – falei.
– Você não fez nada, Billy...
– Fiz – e estava na hora de termos a conversa que adiamos tanto. – Eu falei muita merda para você, por anos... O jeito que eu te tratei... isso foi imperdoável. E, ainda assim, você está aqui. Não entendo o porquê, mas gosto. Não quero que vá embora, Maxizinha.
Ela deu um sorriso, se aproximou mais de mim e, com uma suavidade extraordinária, encostou os lábios nos meus.
– Não vou embora, prometo.
Eu a puxei para um abraço; mesmo que meu corpo inteiro doesse, não havia nada no mundo que pudesse me impedir de ficar perto dela.
Fechei os olhos e, pouco tempo depois, mergulhei num sono profundo, calmo, com a certeza de que Max estava ali comigo, segura, longe daquelas coisas de outra dimensão, do Harrington, do Sinclair... e, acima de tudo, longe do meu pai.
Nós dois íamos para a Califórnia, ficaríamos bem, longe de toda essa merda.
Autor(a): nirvana666
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
~Max~ Billy não estava na cama quando acordei, nem em lugar algum do quarto. Comecei a ficar um pouco desesperada, me perguntando se ele teria voltado para a Califórnia ou ido embora para qualquer outro lugar sem mim. Porém, a mochila ainda estava no quarto e o carro continuava na mesma vaga no estacionamento. Talvez ele só tivesse saído ...
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