Fanfics Brasil - Car ride Improvável

Fanfic: Improvável | Tema: Stranger Things


Capítulo: Car ride

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~Max~


Billy não estava na cama quando acordei, nem em lugar algum do quarto. Comecei a ficar um pouco desesperada, me perguntando se ele teria voltado para a Califórnia ou ido embora para qualquer outro lugar sem mim. Porém, a mochila ainda estava no quarto e o carro continuava na mesma vaga no estacionamento.


Talvez ele só tivesse saído para tomar café da manhã ou algo assim. Respirei fundo.


Resolvi que, antes de sair para procurá-lo, ia tomar um banho e trocar de roupa; o dia anterior tinha sido uma confusão e passou num piscar de olhos, ainda tinha fuligem e suor nas minhas roupas e eu definitivamente precisava de um banho.


Billy aparentemente já tinha tomado, julgando pelo box embaçado. Ele podia, ao menos, ter me acordado...


Saí do banheiro pouco tempo depois e estava tentando decidir se devia esperar por ele ou sair do quarto quando a porta abriu.


Billy estava usando uma bermuda vermelha e óculos escuros, sem camisa, o cabelo molhado pingando pelo chão e uma toalha ao redor do pescoço. Ele parecia nitidamente melhor, mal dava para ver os cortes no rosto, embora os hematomas do peito e das costas fossem visíveis e seus dedos ainda estivessem feridos.


– Bom dia – falei. Billy passou por mim, sem me olhar.


– Pega suas coisas, tem muitas horas de estrada pela frente. Paramos para comer no caminho.


Billy largou a toalha na cama, colocou uma camiseta, pegou a mochila e saiu, sem dizer mais nada. Fiquei boquiaberta.


Como é que, num momento, ele estava de bem comigo, me pedindo para não ir embora e me abraçando e, no outro, simplesmente agia assim, como se mal nos conhecêssemos?


E onde é que ele estava? Na piscina? Como é que poderia ficar tão tranquilo assim com a vida a ponto de nadar na piscina do hotel e, no instante seguinte, nem olhar para a minha cara?


Peguei minha mochila e saí quase correndo atrás dele; entrei no banco do passageiro e bati a porta. Billy acendeu um cigarro; aparentemente ele tinha comprado outro isqueiro, já que o antigo tinha sido usado para incendiar a toca do Devorador de Mentes.


– Por que você fuma? – perguntei. Podia ser que aquele fosse um péssimo momento; ele não parecia de bom humor e nada disposto a conversar, mas sempre tive essa dúvida e talvez não tivesse a oportunidade de perguntar de novo, já que, assim que chegássemos na Califórnia, eu ia ligar para o meu pai e pedir para passar uns dias com ele.


Se Billy ia fazer esse joguinho de babaca, eu não ia entrar; ia ficar com meu pai até minha mãe dizer que era seguro voltar para Hawkins. Eu não queria ir embora definitivamente de lá, gostava da cidade e gostava dos meus amigos.


– Isso me desestressa. É o efeito da nicotina – ele respondeu, ainda sem olhar para mim e deu partida no carro.


– Posso experimentar? – se tinha alguém que precisava desestressar, esse alguém era eu. Não aguentava mais essas mudanças repentinas de humor dele.


– De jeito nenhum.


– Por que não? – Billy bufou.


– Porque faz mal.


– Mas você fuma há anos...


– E pareço um bom exemplo a ser seguido pra você? 


Não respondi. É, naquele momento, Billy estava longe de parecer um bom exemplo em qualquer coisa.


Encostei a cabeça na janela e fiquei olhando para o lado de fora; o volume da música no rádio estava mais baixo do que o de costume e Billy dirigia mais devagar, como se não tivesse pressa nenhuma.


Eu não podia negar que sentia falta da Califórnia; passei minha vida toda lá, estava acostumada com as ruas, as praias, os fliperamas... E até com a escola, mesmo que essa fosse a pior parte.


Hawkins era um lugar legal, até com o idiota do Mike e agora toda essa história de Devorador de Mentes e demodogs... Eu tinha feito amigos lá. Dustin, Lucas, Steve... eles podiam ser meio babacas, mas tratavam bem. Esperava que isso não fosse mudar, depois da surra que Billy deu no Steve... Ele tinha nos ajudado, no final, torcia para ser o suficiente para que não desistissem de falar comigo.


Nós ainda voltaríamos para Indiana assim que tudo se acalmasse; eu me sentia bem lá.


Essa viagem seria boa. Eu ia ficar um tempo com o meu pai, esfriar a cabeça, digerir tudo o que tinha acontecido no dia anterior... e nos últimos dias também.


Apesar de tudo, não conseguia parar de pensar em Billy e no porquê ele estava me tratando daquele jeito. Eu gostava dele, já tinha deixado bem claro mais de uma vez... até com essas brigas à toa.


Não trocamos uma palavra durante horas, nem quando paramos para comer. Eu o encarei fixamente, esperando que, assim, ele ficasse incomodado o bastante para fazer algum comentário. Mas Billy continuou fazendo de conta que eu não existia.


O caminho era longo e parecia ainda mais demorado com o silêncio desconfortável entre nós; tive bastante para refletir e concluir que não ia mais deixar as coisas ficarem daquele jeito.


Sim, eu tinha decidido que, se Billy não queria conversar, eu não iria também; mas mudei de ideia. Já estava cansada dessas idas e voltas, dessa incerteza, da dúvida, das discussões...


Nós íamos falar sobre isso, goste ele ou não. Não tinha para onde fugir, não tinha como evitar, não com nós dois trancados no carro no meio da estrada. Billy ia ter que me ouvir e falar.


 


~Billy~


Eu tinha pensado sobre tudo. Max e eu não podíamos ter nada; ela não podia gostar de mim e eu definitivamente não estava disposto a gostar dela.


Max se colocou em risco por minha causa, ela entrou na frente do meu pai e o desafiou porque sentia alguma coisa. Essa história não podia continuar, era perigoso.


E eu sabia que estava começando a sentir algo também, estive muito perto de dizer isso a ela, mas só na noite anterior percebi o quanto eu ficava vulnerável de quem eu deveria considerar uma irmã. E só quando Max trouxe a questão da minha mãe, me dei conta.


Não queria gostar dela. Não queria, porque, em algum momento, Max iria embora também e eu não ia aguentar passar por todo aquele inferno de novo.


Tentei não pensar muito no que ia fazer quando chegássemos à Califórnia. Eu não podia deixá-la voltar para Hawkins, principalmente sozinha e com a fúria do meu pai à solta... também não podia deixá-la sozinha. Tentei evitar esse pensamento ao longo da viagem; deixaria para resolver os problemas quando estivesse de frente com eles.


Surpreendentemente, Max estava lidando bem a situação. Eu não estava falando com ela, assim criaria uma distância entre nós e não deixaria nada ir para frente, seria mais seguro para nós dois. Ainda assim, conhecendo Max como eu conhecia, imaginei que ela ia fazer um milhão de perguntas, querer discutir ou algo assim. No entanto, ela ficou quieta. Horas de silêncio absoluto no carro, exceto pela música que tocava baixo no rádio.


Isso era bom. Seria muito mais fácil me afastar e manter a cabeça fixa nessa ideia se ela não insistisse. Querendo ou não, Max, de certa forma, mexia comigo. Era muito difícil não parar para ouvi-la e ainda mais não ceder quando ela pedia; eu estava ficando fraco, precisava parar, precisava exterminar qualquer sentimento que pudesse ter por ela. Como é que as coisas tinham chegado nesse ponto? No início era só uma atração idiota, eu podia me conter, ainda a achava irritante, ainda a detestava. E agora... agora eu tinha enfrentado meu pai por ela. Exatamente como fiz com a minha mãe quando tinha uns dez anos. Era isso que me assustava


Eu nunca enfrentava o meu pai, nem todas as vezes em que ele me batia ou gritava comigo... Mas no dia em que ele levantou a mão para minha mãe, eu tentei. Levei cinco pontos na testa e ele quebrou meu pulso. Eu era novo demais, inexperiente, pequeno e fraco. Mas mesmo quando cresci, nada mudou.


Agora eu tinha o tamanho, a força e a habilidade para brigar de volta, mas continuava calado, de cabeça baixa. Não conseguia fazer nada, estava paralisado.


Então ele tocou nela. Meu pai tinha a mim, tinha a vaca da esposa dele... podia ter quem quisesse no mundo, por que a Max? A verdade era que eu não ligava a mínima se ele me machucava e não me importava com a Susan...


Mas com a Max sim. E a única outra pessoa no mundo, durante toda a minha vida, com quem eu me importei a ponto de enfrentar o meu pai foi a minha mãe. E ela foi embora quando mais precisei, me deixou com um monstro psicótico.


Max faria a mesma coisa um dia; ela já estava começando a dar esses sinais, tinha fugido de casa porque preferia estar com outras pessoas. Eu precisava cortar esse mal pela raiz antes que ele saísse de vez do meu controle e esse era o começo.


O sol estava começando a se por quando paramos de novo para comer. Levei um energético para o carro; ainda tinham boas horas até chegarmos, eu tinha que ficar acordado. Sentei no banco do motorista e abri a latinha, enquanto olhava o sol se por no horizonte; era uma bela vista. Pensar que dali a um tempo eu veria essa cena no mar, numa praia da Califórnia me animava.


– Você está bravo comigo por causa de tudo o que aconteceu ontem? – de repente, após horas de silêncio, Max perguntou.


– Não – respondi, tentando não me aprofundar no assunto para que essa conversa acabasse logo.


– Então por que?


– Não estou bravo – dei um longo gole no energético.


– Não é o que parece – não respondi, ainda olhando para o céu a nossa frente. – Billy, o que está te incomodando? Por que está me tratando desse jeito? Ontem estava tudo bem e agora...


– Estava tudo bem? Por isso fugiu para encontrar o Harrington, o Sinclair e um bando de moleques? – finalmente olhei para ela; não consegui decifrar aqueles olhos azuis. É, seria impossível evitá-la.


– Não foi exatamente o que aconteceu. Você mesmo viu o porquê eu precisava ir... você ajudou...


– Ajudei porque não tive outra escolha, Max. Ou era isso ou você ia morrer... Arriscou a sua vida por causa deles – virei toda a lata de uma vez e a amassei, colocando-a na porta do carro.


Max suspirou.


– Por que é que eu estar com eles incomoda tanto você?


– Porque eu sei no que eles pensam quando olham para você; não gosto sequer de imaginar você com outra pessoa, entendeu?


– Não entendo... você fica com várias garotas o tempo inteiro... qual é o problema de eu fazer o mesmo? – encostei a cabeça no carro e respirei fundo. Seria uma conversa complicada... eu não queria tê-la, mas Max parecia ter algum tipo de poder sobre mim para me fazer fala, mesmo que já tivesse concluído que ia afastá-la.


– É diferente – falei. – É uma coisa casual, só para passar o tempo – e, eventualmente, me distrair do que sentia por ela, o que não era muito útil, já que, a partir de um certo momento, só transava pensando nela.


– E eu não posso ter algo casual também? – eu não conseguia nem imaginá-la do lugar de qualquer uma daquelas garotas, sempre com um cara diferente. Tirei os óculos de sol e voltei a olhar para ela.


– Você não é como essas vacas do colegial, Max. Não combina com você manter relações casuais, além disso você é muito nova para isso – mas era mais pessoal; mesmo que Max quisesse, e ela tinha essa liberdade, eu não ia ficar nada feliz. Quis matar o Harrington só porque ele a beijou e quase matei meu pai pelo que ele pensou em fazer com ela.


– Eu acho que posso lidar. Queria ser assim.


– Por que? – ela estava falando sério ou só tentando me irritar? Eu não estava gostando do rumo que essa conversa levava.


– Porque parece legal, você parece gostar de ser desse jeito, parece gostar de garotas assim – não era bem como se eu gostasse desse estilo de vida, eu só estava acostumado... ajudava a controlar o estresse frequente.


– Não gosto. Não me importo com elas, Max.


– Se não se importa, por que não para?


– Desde quando você liga? Nunca se importou com isso antes... – ela deu de ombros.


– Me incomoda também, Billy. Não parece justo que eu não fique com ninguém porque você fica bravo, mas eu continue vendo você cada dia com uma garota diferente! – Max aumentou o tom de voz.


Falando assim, eu parecia mesmo um merda meio controlador. Talvez, no final das contas, ela estivesse certa.


– O que você quer, Max? – perguntei, sério.


– Que diferença faz o que eu quero? – ela virou para a janela e cruzou os braços. – Você nunca me escuta.


Me inclinei na direção dela e segurei seu queixo, fazendo-a olhar para mim de novo.


– Maxine, tem noção de que eu dei uma surra no meu pai porque ele ia machucar você? Acha mesmo que não me importo com a sua opinião? Eu gosto de você, mesmo que eu não entenda bem. Então me diz, o que você quer?


Ela levou um tempo para responder.


– Queria que parasse de ficar com essas garotas, como a gente tinha combinado na festa... – tinha me esquecido totalmente desse “acordo”.


– Aquilo não contou, nós dois tínhamos bebido e... – Max se esquivou de mim.


– Viu? Você não se importa com o que eu quero.


Pensei um pouco. Eu achava que não era uma ideia tão ruim... estava na Califórnia, tinha muito mais garotas à disposição, mas Max também podia achar pretendentes e isso me incomodava. Além do mais, não tinha razões para eu ficar com alguém; com meu pai longe, achava que teria muito menos momentos de raiva... E sabia que esse não era um bom método para esquecer Max, então era meio inútil.


– Tudo bem – respondi; Max me encarou, seus olhos pareceram quase brilhar. – Você quer que aquele trato seja sério? Ótimo, então está feito. Mas isso não quer dizer que você e eu vamos ter alguma coisa. Sua expressão, mais uma vez, mudou drasticamente. Agora ela parecia meio irritada e chateada ao mesmo tempo e eu odiava essa situação, mas era a melhor decisão a tomar.


– Seria tão ruim assim ficar só comigo? – mesmo que tivesse a resposta na ponta da língua, não respondi no mesmo momento, o que foi um erro. Max voltou a olhar para frente.


– Max... – chamei.


– Já entendi, Billy. Eu não devia ter perguntado nada.


– Não seria ruim ficar só com você, não é esse o problema.


– Então, me diz, qual é o problema? – ela estava perdendo a paciência. Como é que eu poderia começar a explicar? Tinha, ao menos, mil motivos para essa ser uma péssima ideia.


– Eu não posso... – limpei a garganta. – ... fazer algumas... coisas com você.


– Que coisas? Por que não? – merda... não estava nada afim de ter essa conversa.


– Você... é virgem, não é? Sabe o que é isso?


– É, eu sei – ótimo, pelo menos eu não teria que explicar nada. – Então é isso? Você quer fazer sexo com outras garotas?


– Não é essa a questão, é que... – parei. – Espera aí, como é que você sabe o que essas coisas significam? Aliás, no banheiro...


Max ficou vermelha, ainda sem olhar para mim e começou a estalar os dedos.


– Bom... minha mãe tem umas revistas... e eu meio que li... – ela respondeu em voz baixa.


– Você... Ai, Deus – comecei a rir. Eu não sabia se ficava aliviado por essa ser a fonte de pesquisa dela, ao invés da prática, ou preocupado, porque revistas pornográficas não eram exatamente muito instrutivas. – Tá, primeiramente, não é como nas revistas, ok? Sério, não leia mais aquelas coisas. E, em segundo lugar, o sexo não é a questão, também conta, mas não é o principal.


Era uma grande questão, na verdade. Max era virgem, isso era óbvio; e eu tinha gostos e preferências que podiam assustar uma garota como ela. Não sabia até que ponto seria capaz de me controlar; não se ela começasse a me provocar de novo... com as fantasias sexuais que eu já andava tendo e com o tesão que sentia por ela... As coisas podiam não terminar bem e eu não queria isso.


– O principal – continuei – é que você e eu moramos na mesma casa. Sua mãe e o meu pai são casados, lembra?


– E daí? Não somos irmãos, você mesmo vive falando isso...


– Não somos. Mas é assim que as pessoas nos veem... é o que pensam de nós. Imagine como seria estranho dois irmãos... juntos.


– Mas nós não temos parentesco nenhum!


– E ainda tem o fato de você ser mais nova que eu...


– Qual o problema? Isso é um tremendo tabu, não é nenhum crime.


– Eu sei. Mas o que acha que as pessoas vão pensar? A sua mãe, por exemplo, se descobrir...


– Não me importo com o que as pessoas vão pensar, Billy. E você também não deveria...


É, as minhas justificativas estavam acabando. Eu não podia dizer a verdade, a razão pela qual eu não queria mesmo me envolver com ela... Mas Max estava insistente, parecia realmente querer aquilo. Talvez., só talvez, eu pudesse dar uma chance.


Mais de uma vez, ela ficou ao meu lado, mesmo quando a mandei embora, mesmo depois de tudo... Tudo bem, Max tinha fugido... só que talvez eu não estivesse sendo justo. Vi com meus próprios olhos aquelas coisas cheias de dentes, que aparentavam mesmo ser de outra dimensão.


Podia ser que aqueles merdinhas só precisassem mesmo da ajuda dela... e, mesmo depois disso, Max ainda se ofereceu para ficar no meu lugar enquanto meu pai gritava comigo, me chutando.


– Então vamos tentar – cedi. Era impossível não ceder... Max sabia ser convincente.


– Mas e essas suas mudanças de humor, as explosões, os gritos...? Odeio quando age assim – respirei fundo; eu também odiava agir assim.


– Estou tentando mudar – era verdade. Eu não gostava de como me sentia nesses momentos e queria evitá-los, mas toda vez que via um sinal de melhora, alguma coisa acontecia que desencadeava essa raiva em mim.


Agora eu acreditava que ia ser mais fácil. Estávamos indo juntos para a Califórnia, o lugar de onde eu nunca quis ter saído. Meu pai estava a quilômetros de distância, Max estava ali, deixando claro que queria ficar comigo e só comigo. Não tinha nada que pudesse estragar os planos.


De repente, Max agarrou meu pescoço e me abraçou; senti o cheiro doce de seu perfume e, meio instintivamente, a abracei de volta.


Uma parte de sua blusa caiu, deixando seu ombro à mostra, assim como uma parte de seu braço, onde eu podia ver a marca de mão que meu pai deixou ao arrastá-la pela casa; fiquei atordoado. Como odiava aquele homem.


– Max – falei, me afastando dela. – Me promete que nunca mais vai se envolver numa briga entre eu e meu pai? – isso se é que voltaríamos a nos ver, porque eu já estava com o plano de nunca mais voltar para Hawkins.


– Prometo – ela disse. Assenti.


Toquei seu braço, no lugar onde estava roxo; a ideia de qualquer pessoa, especialmente o meu pai, machucando Max me fazia querer gritar.


– Está doendo? – perguntei.


– Não – Max puxou a blusa, cobrindo a marca de novo e se aproximou de mim, as mãos no meu pescoço e nuca.


Ela me beijou lenta e profundamente; senti sua língua deslizar pelos meus lábios até encontrar a minha.


Também não estava esperando por isso, mas gostei.


 


~Max~


Eu não sabia como as coisas iriam ser dali para frente entre Billy e eu, mas estava feliz. Não podia acreditar que, finalmente, ele tinha admito em voz alta que gostava de mim.


E nem podia acreditar que ele concordou, agora sóbrio e lúcido, em não ficar com outras garotas.  Billy falava como se quisesse mesmo agir diferente, deixar de ser aquele babaca comigo... apesar de ter me ignorado de ter me ignorado durante o dia, agora parecia que estava, sem dúvida, tudo bem entre nós.


Billy continuou dirigindo, ocasionalmente olhando para mim com um sorriso e eu retribuía. Meu humor tinha acabado de ficar cem vezes melhor.


A única coisa que faltava era conseguir falar com o meu pai; eu poderia passar uma ou duas noites na casa dele e as outras com Billy... talvez ele até o deixasse ficar na casa dele também, Billy podia ficar no colchão.


Tudo fluía bem; eu estava mais tranquila, mais esperançosa.


Chegamos na Califórnia no começo da noite e, pouco tempo depois, Billy já estava estacionando na frente da nossa antiga casa. Parecia fazer tanto tempo que nos mudamos... às vezes, com todos os acontecimentos recentes, eu me esquecia que só alguns dias se passaram.


Billy e eu descemos, ele entrou primeiro e eu o segui; a casa era muito maior que a de Hawkins e parecia ainda maior agora que estava sem a maioria das coisas. Algumas caixas de papelão ainda estavam espalhadas pelo chão. Nós saímos com pressa, levando só o que era absolutamente necessário. Duvidava que aquelas coisas iriam para Hawkins algum dia... Talvez minha mãe vendesse a casa e os novos moradores jogassem tudo fora.


– É estranho voltar – falei. Billy olhou para mim.


– É bom voltar. Eu gosto daqui – eu também gostava, mas já não sentia mais como se aquela fosse a minha casa...


Me acostumei muito rápido com Hawkins, mesmo com todos os problemas do lugar. Gostava mais de lá agora.


Billy subiu para deixar a mochila no quarto e eu corri para a sala; o telefone fixo ainda estava na parede, ao lado do porta-chaves. Coloquei na orelha, rezando para que ele ainda funcionasse e sorri, radiante, quando escutei o “bip”.


Disquei o número do meu pai o mais rápido que pude e esperei, ansiosa, para ouvir a voz dele. Talvez ele não estivesse atendendo antes por causa do identificador de chamada... um número de Indiana ligando e deixando recados poderia ser trote, mas ele sabia o número da Califórnia, sabia que era eu.


Ainda assim, o telefone tocou várias e várias vezes antes de cair na caixa postal, mas agora eu não ouvia mais a voz do meu pai dizendo para gravar um recado.


– Esta caixa postal está cheia, favor tente novamente mais tarde – uma voz robótica falou e, no instante seguinte, a ligação caiu.


Não podia ser. Disquei o número de novo. A mesma coisa. Meu coração começou a disparar; por que ele não estava atendendo? Conferi no relógio. Ainda eram nove da noite, ele não estava dormindo.


– Max... – escutei Billy chamar, atrás de mim; não respondi, continuei discando os números e colocando o telefone na orelha. – Max, ele não vai atender.


Billy gentilmente pegou o telefone das minhas mãos e o colocou de volta no gancho. Virei para ele, irritada.


– Por que fez isso?


– Seu pai não vai atender.


– Do que está falando? Como assim não vai atender? – senti as lágrimas começarem a surgir; Billy estava dizendo uma coisa que fazia sentido. Ele estava dizendo o óbvio...


O que eu não queria admitir nos últimos dias. Meu pai não queria falar comigo, ele não ia me atender.


– Vem cá – Billy me puxou para o sofá; eu ainda estava irritada, magoada e confusa, mas não relutei. – Escuta, você sabe por que fomos para Hawkins?


– Eu... – minha voz falhou. – Minha mãe queria ficar longe do meu pai e... – senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto; Billy colocou o polegar sobre a minha bochecha, seus olhos verdes me encaravam com certa preocupação.


– Quase isso. Seu pai queria a sua guarda, Max. Sua mãe não ficou feliz com essa notícia e meu pai... bom, você sabe que meu pai é um maníaco possessivo, ele já não gostava do seu e depois disso... Foi uma loucura.


Comecei a soluçar. Meu pai era a única pessoa da família que se importava comigo, que me tratava bem e realmente me escutava. E agora eu descobri que ele queria a minha guarda; ele queria me tirar daquela casa. O que tinha acontecido? Por que não me atendia?


– Seu pai descobriu algumas coisas sobre o meu pai e ameaçou usar isso no tribunal. Ele ia conseguir sua guarda, Max... sem dúvida. Meu pai não gostou nada disso... ele decidiu que a melhor maneira de resolver era indo embora da Califórnia.


– Por isso você disse que a culpa era minha... – falei entre soluços, agora chorando como uma criança. Billy segurou meu rosto com as duas mãos, tentando enxugar as lágrimas e caíam sem parar.


– Eu estava com raiva quando falei isso, mas não é culpa sua – ele disse, olhando no fundo dos meus olhos.


– Por que meu pai não atende?


– Eu... acho que meu pai fez alguma coisa. Escutei ele dizer que o problema estava resolvido, que o Sam não ia mais procurar você – arregalei os olhos.


– Seu pai matou ele? – perguntei, em estado de choque.


– Não, não... claro que não. Se fosse o caso, não precisaríamos nos mudar para Hawkins, seria muito suspeito – respirei, um pouco mais calma. – Eles devem ter feito um acordo ou algo assim.


Aquilo era pior.


– Um acordo? Meu pai não fala mais comigo por causa de um acordo? Não. Eu não acredito nisso. Sou filha dele, como é que ele poderia não falar mais comigo?


Comecei a chorar ainda mais; por mais que não quisesse acreditar, a história soava bem verídica. Meu pai não dava notícias tinha dias, não me atendia, não retornava, nem respondia aos meus recados... E o Sr. Hargrove parecia mesmo capaz de fazer algo assim... mas não podia acreditar que meu pai tinha concordado.


– Eu sei que é difícil – Billy passou os braços ao meu redor e me abraçou forte; enterrei o rosto em seu ombro. – Max...


– Por que ele fez isso?


– Porque as pessoas são ruins – senti suas mãos no meu cabelo, tentando me acalmar. – Vai ficar tudo bem.


Eu devia respirar fundo e parar de agir como uma criança... mas estava mal. A ficha tinha caído. Meu pai tinha mesmo problemas financeiros, não era nada sério, mas, ainda assim, tinha dívidas...


Ele queria que eu fosse morar com ele... ia lutar por mim... e o Sr. Hargrove ofereceu dinheiro. Meu pai aceitou dinheiro para desistir de mim... para se afastar.


Não me mexi. A única coisa que eu queria agora era continuar ali, nos braços de Billy, sentindo seu cheiro, aproveitando os dedos dele no meu cabelo. Sua voz me acalmava, mesmo que eu prestasse atenção em uma palavra.


Fechei os olhos.


 


~Billy~


Deixei que Max ficasse pelo tempo que quisesse apoiada em mim. Eu sabia que meu pai tinha feito um acordo com Sam Mayfield e garantido que ele não atrapalhasse mais os planos dele e de Susan; em troca, iríamos embora da Califórnia. Meu pai foi baixo ao fazer isso.


Ele tinha magoado Max profundamente. Eu não queria contar a ela, queria evitar... mas talvez fosse pior se ela simplesmente ficasse pensando que tinha feito algo de errado, como eu pensei por muitos anos.


Sabia como era difícil receber essa notícia; e fiquei com ainda mais raiva de Sam por ter aceitado esse maldito acordo. Aquilo não se fazia com ninguém, especialmente com uma garota como Max.


Não existia dinheiro no mundo capaz de me comprar para ficar longe dela, não importava qual era minha situação. E nenhum pai devia fazer isso.


Aliás, Max e eu éramos dois fodidos com pais problemáticos e negligentes. Meu pai me batia, era alcoólatra e violento, gritava com todo mundo e ia abusar da própria enteada. O pai dela tinha aceitado dinheiro em troca de nunca mais chegar perto da filha e da nova família da ex esposa.


Minha mãe foi embora e me largou com um pai psicopata quando eu ainda era uma criança, fez duas ligações e depois desapareceu. A mãe de Max ia deixar que o marido abusasse da filha, fechava os olhos e obedecia calada, cegamente, como um cachorro.


Max era muito nova para entender tudo aquilo e para conseguir sair desse ciclo vicioso e perturbador; mas eu não. E era minha responsabilidade agora protegê-la.


Eu não tinha ideia de quanto tempo tinha passado, mas pareceram horas infinitas... ouvir Max chorando daquele jeito acabava comigo. Então, finalmente, ela parou. Max estava deitada no meu colo, os olhos fechados, a respiração profunda, encolhida.


Tirei as mechas de cabelo que estavam grudadas em seu rosto por causa das lágrimas secas. Suas bochechas estavam geladas; tirei a jaqueta que estava usando e coloquei em cima dela. Até pensei em carregá-la para o quarto e colocá-la debaixo das cobertas, mas não queria correr o risco de acordá-la e trazê-la de volta para essa realidade de merda. Max estava bem sem se lembrar do que tinha acontecido, num sono profundo e tranquilo.


Encarei seu cabelo ruivo e passei um bom tempo assim até me render de vez ao sono, encostado no braço do sofá, com a minha mão em cima das mãos dela.


 



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Autor(a): nirvana666

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~Max~ Billy e eu acordamos no sofá na manhã seguinte; eu comecei a me desculpar quase instantaneamente. Minha intenção não era, de maneira alguma, dormir ali, daquele jeito... ainda mais porque Billy parecia ter dormido numa posição desconfortável, já que eu estava deitada no colo dele, o que o impedia de deita ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • merophe Postado em 13/08/2022 - 19:52:52

    Boa sorte com os ADMS da plataforma!


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