Fanfic: Improvável | Tema: Stranger Things
~Billy~
Eu estava sentado no balcão da cozinha enquanto Max colocava torradas na torradeira; meu pai e Susan tinham deixado mais da metade da casa intacta... estavam mesmo com pressa de ir embora.
Encarei Max por um tempo; ela tinha marcas sutis de chupões no pescoço e nos ombros; talvez eu tivesse me empolgado um pouco demais. Não gostava de ver a pele dela marcada daquele jeito, mesmo que ela não tivesse reclamado, ainda me dava calafrios pensar que eram hematomas causados por mim.
– Vamos sair? – Max perguntou, me entregando uma das torradas.
– Sair? – arqueei as sobrancelhas. – Sair para onde?
Ela deu de ombros, com um sorrisinho.
– Não sei... poderíamos ir à praia. O que acha?
– Você nem gosta de praia... – se bem que soava como uma boa ideia... Eu sentia falta do mar, das ondas, do surfe... Era como se fizesse uma eternidade que tínhamos ido embora da Califórnia.
– Eu gosto da praia... não sei nadar, mas gosto.
– E por que quer sair? – apesar de ser um bom plano, eu não estava com tanta vontade assim de sair de casa... na verdade, preferia passar o dia deitado com ela, sem preocupações, sem outras pessoas...
– Ah... não temos nada melhor para fazer.
– Temos a casa inteira para nós... o que pode ser melhor que isso?
Max tinha razão, seria muito melhor sair, sentir a brisa do mar, o sol quente da Califórnia do que passar a tarde inteira deitado no sofá assistindo programas idiotas.
– Você quer ficar o dia inteiro trancado aqui? – não, eu já tinha decidido que íamos sair, mas agora queria ver até onde ela ia... adorava ver Max irritada, isso não mudou.
– Exatamente.
– E, por acaso, tem alguma razão para isso?
– Pode ser... – ela cruzou os braços.
– Tem algum compromisso?
– Talvez – Max levantou, me encarando sério; mordi a língua para não rir.
– Olha, se não quer sair comigo, é só dizer – ela passou por mim, mas coloquei o braço na frente.
– Eu vou com você, Max... – falei, rindo.
– Não. Agora não precisa mais... – ela estava vermelha e com a testa franzida. Eu a puxei para mais perto e enrolei uma mecha de seu cabelo no dedo.
– Estou só brincando, Maxizinha – coloquei meu polegar sobre uma das marcas roxas em seu pescoço. – Vou trocar de roupa e podemos ir.
Antes que ela respondesse, provavelmente pronta para entrar em uma discussão, cobri sua boca com a minha e Max cedeu pouco tempo depois.
Eu não pretendia voltar a gritar com ela ou brigar, como costumávamos fazer... mas também não ia perder a oportunidade de provocá-la sempre que possível. Max ficava linda quando estava brava.
~Max~
Billy sempre teve uma personalidade forte, nunca tivemos uma convivência fácil e harmoniosa... Mas agora as coisas pareciam começar a mudar entre nós e eu estava gostando.
Ainda achava complicado lidar com o gênio forte, mas era bom saber que, se eu insistisse um pouco, ele fazia o que eu queria. Billy não gritava comigo já tinha um tempo, nem acelerava mais o carro para me assustar... e eu não o via fumando desde que chegamos à Califórnia.
Eu estava feliz, achava que agora nós finalmente poderíamos ter algum tipo de relacionamento tranquilo. Fora o que ele tinha feito na noite anterior... foi simplesmente incrível. Eu queria de novo, queria mais... nunca tinha sentido nada nem parecido antes.
Billy e eu tínhamos dormido juntos de novo. Estava virando um hábito e eu não ia negar, estava adorando; dormir e acordar ao lado dele era um paraíso...
Ainda assim, mesmo que tudo estivesse correndo bem, estava começando a sentir falta de Hawkins. Não que fosse exatamente legal morar com a minha mãe e o Sr. Hargrove... nesse quesito, estava muito melhor sem eles. Mas eu gostava da cidade. Nunca pensei que fosse me adaptar tão bem e tão rápido ao lugar... tinha me acostumado com o fliperama e com as ruas para andar de skate. E até sentia saudade daqueles nerds idiotas... Lucas e Dustin, principalmente... e das merdas em que entrávamos e toda essa história de demodogs e mundo invertido. Também estava curiosa para conhecer mais Eleven, mesmo que ela parecesse não ter gostado muito de mim.
Eles eram meus amigos, meus amigos de verdade... nunca tive pessoas assim por perto e não queria perder.
Mesmo com esse sentimento e mesmo que não me sentisse mais em casa, tentei aproveitar a companhia de Billy; em algum momento iríamos voltar a Hawkins, então, por hora, eu ia curtir.
A praia não era meu lugar favorito no mundo, mas sabia que Billy gostava; e fazia muito tempo que eu não via o mar... mesmo antes da mudança, não ia à praia já tinha uns meses, não sabia nadar e não gostava de ficar sozinha na areia. Billy, porém, vivia lá... ele gostava de surfar, sempre voltava bronzeado, com o humor muito melhor. Pensei que seria um passeio interessante, muito melhor do que ficar enfurnada dentro da nossa antiga casa. Eu não me sentia mais tão confortável lá quanto na casa de Hawkins.
Billy relutou, claro, típico, mas no final aceitou sair.
Coloquei outra roupa e peguei óculos escuros cor de rosa. Antigamente eu tinha uma coleção de óculos assim, mas não teria espaço para guardá-los no novo quarto, então tive que doá-los e fiquei só com um.
Eu estava sentada no sofá quando Billy desceu as escadas, usando uma camisa aberta até metade do peito e óculos escuros na cabeça. Ele era lindo, isso era óbvio, mas agora estava particularmente ainda mais... só consegui pensar em como queria as mãos dele em mim de novo...
– Max – ele disse se aproximando, levantei do sofá –, essa camiseta é minha...
Não era bem isso que eu estava esperando. Olhei para baixo; era uma camiseta cinza escuro da banda AC/DC.
– Não é – rebati.
– Eu tenho certeza que é... Aliás, estava procurando ela há dias...
– Estava no meu armário – e eu lembrava perfeitamente bem de tê-la pego antes de sairmos correndo de Hawkins.
– É, a sua mãe gosta de colocar as minhas roupas no seu armário.
Tudo bem, eu precisava admitir que não tinha tanta certeza assim de que a camiseta era minha... Na verdade, tinha uma grande probabilidade de ser mesmo dele; era muito maior do que o meu tamanho e eu não lembrava de ter comprado, mas, para ser justa, eu não prestava muita atenção nas roupas que usava e minha mãe que comprava a maioria... E ela às vezes colocava as roupas de Billy misturadas com a minha. Suspirei.
– Posso ficar com ela por enquanto? – dei um sorriso amarelo. Billy revirou os olhos.
– Pode... não é a primeira que usa as minhas coisas – ele pegou as chaves do carro. – Mas vou querer de volta depois. Vamos.
Nós saímos; estava um dia bonito, apesar de algumas nuvens no céu. Fizemos o mesmo percurso que costumávamos fazer um tempo atrás... parecia que fazia séculos... Billy costumava me levar à praia às vezes porque o pai dele mandava. Ele ficava surfando e flertando com qualquer garota que passasse e eu lia revistas em quadrinhos e caminhava na beira do mar.
Era meio... Nostálgico. E, mesmo assim, tinha um quê de melancolia. Lembrei de quando morei em Vancouver, nos meus primeiros anos de vida, de quando meu pai, minha mãe e eu brincávamos na neve, no jardim de casa, o frio reconfortante... Sentia falta do Canadá. Não. Eu sentia falta de quando achava que éramos uma família perfeita, quando tinha meus pais juntos, ao meu lado.
Não sei bem quando tudo desandou de vez... Acho que foi quando saímos de Vancouver... Minha mãe precisava mudar constantemente por causa do trabalho, as brigas entre os meus pais começaram... Passamos por Ottawa, depois Boston, Colorado, Texas e, finalmente, Califórnia. Então minha mãe conheceu outra pessoa e decidiu pedir o divórcio de uma vez; ficamos um tempo razoável em Irvine, achei que ia ser estável. Não estava 100% satisfeita ali, detestava a escola, não gostava do clima quente o tempo inteiro e a convivência com o meu padrasto, minha mãe e Billy naquela época era complicada... Mas eu não tinha que ficar mudando de escola a cada seis meses e podia ver meu pai, antes de descobrir que ele era um babaca que não se importava comigo.
Agora já não tinha certeza se queria que Irvine fosse a cidade em que eu passaria um tempo maior, onde criaria laços... Não. Essa cidade era Hawkins. Eu gostava de lá, gostava do clima, das pessoas... agora nada me prendia à Califórnia. Queria me estabilizar em Indiana, de uma vez por todas.
Mesmo com essa coisa da Eleven e do mundo invertido... de certa forma, trouxe uma coisa diferente para a vida que eu costumava levar... sempre foi tão monótona, dentro da rotina, fazendo as mesmas coisas, sozinha... Então, de repente, enfrentei seres de outras dimensões com um grupo de pessoas que poderia considerar meus amigos. É, Hawkins foi um marco para mim e eu estava louca para voltar... até mesmo estava começando a ficar ansiosa para aquela merda de baile.
– Feliz agora? – Billy perguntou quando saímos do carro, debaixo de um sol escaldante. Ele ajustou os óculos escuros e começou a caminhar na direção do mar.
– Obrigada por vir – falei, andando ao lado dele.
Billy carregava a prancha de surfe embaixo do braço e encarava sério o mar.
– Eu volto daqui a pouco, tá? – falei.
– Aonde você vai?
– Buscar sorvete – não era bem verdade... eu só precisava de um tempo sozinha, como costumava fazer antes quando vínhamos à praia. Precisava pensar em tudo. E, apesar de eu estar gostando dessa nova versão do Billy, precisava ficar um pouco sem ninguém.
– Fala sério... só vim por sua causa e você vai me largar aqui?
– Tenho certeza que você vai sobreviver – sorri. – E pode ir surfar enquanto isso... sabe que eu não entro no mar...
Ele não parecia muito contente com a ideia, mas não discutiu.
~Billy~
É, surfar seria uma ótima ideia, se o mar não estivesse tão calmo. Resolvi esperar um pouco até a maré começar a subir, quem sabe as ondas ficariam mais agitadas.
Fui para o quiosque mais próximo dali e sentei no balcão, lembrando de como era encontrar alguns conhecidos ali, beber, surfar, beber mais e ficar até a noite conversando; cabulando as aulas, flertando com literalmente qualquer garota que passasse por nós… Não tinha nem um mês que fomos embora e, mesmo assim, parecia que eu tinha deixado essa vida toda para trás.
– Olha só... o filho pródigo retorna. Bem-vindo de volta, Hargrove! – eu conhecia muito bem aquela voz. Virei para ver.
– Rhys!
Rhysand e eu éramos amigos há anos; era a única pessoa que eu realmente conseguia chamar de amigo, o único em quem eu confiava, no meio de tantos babacas da Irvine...
Uns anos atrás, eu estava surfando, como de costume; o mar estava bravo, ondas altas, correnteza forte. Rhys estava bêbado, no meio do dia e quis se exibir para uma garota. Ele entrou no mar, nadou até o fundo, a correnteza o levou para longe, ele bateu a cabeça num recife de corais e quase morreu afogado. Por pura coincidência eu estava lá e salvei a vida dele. Desde estão somos grandes amigos, o tipo de relação em que um fala verdades na cara do outro, sem sair na porrada.
Os últimos anos que morei na Califórnia só se tornaram suportáveis por causa dele, o papinho de terapeuta, em certos momentos, me ajudou a não surtar com meu pai, mesmo que fosse irritante às vezes...
Rhys tinha mudado para a Austrália há uns meses, resolveu desbravar o mundo...
– Posso dizer o mesmo – falei. – Achei que estava em Melbourne, tentando a vida...
– É, irmão, acho que no final todos acabamos voltando para esse inferno que chamam de paraíso... Lar doce Califórnia – Rhys sentou no banco ao meu lado.
– Por que voltou?
– Não tenho um papai rico para me bancar, playboy – mostrei o dedo do meio. – E você? Não estava enfiado numa cidadezinha de merda em Indiana?
Rhys colocou um cigarro na boca e me ofereceu o maço; recusei.
– É... os planos mudaram.
– Uma cerveja para acompanhar a história?
– Não tem história. O papai rico me expulsou. Temporariamente, eu acho.
Rhys me observou por um tempo, tragando o cigarro e, lentamente, soltando a fumaça.
– Vai me contar quem é ela? – arregalei os olhos.
– Do que você...
– Para – ele interrompeu. – Você e eu já conversamos sobre a sua personalidade duvidosa, o comportamento transgressor e a origem disso... além das razões que te levam a usar certos tipos de válvulas de escape... A nicotina, o álcool, o sexo...
Bufei. Rhys ia começar a bancar o psicólogo de novo. Ele era um bom amigo na maior parte do tempo, mas de vez em quando eu bem que gostaria de acabar com a raça dele...
– Nos últimos minutos você recusou cigarro e bebida... – Rhys continuou. – Nem está com o seu isqueiro, nem está de ressava... E não olhou para a bunda da bartender que está te secando desde que sentou aqui. Ou você está apaixonado ou ficou maluco.
– Você não trancou psicologia, sei lá, no terceiro período? – ele riu.
– É. E até o terceiro período a gente estuda Freud. Você é o clichê da psicologia, Hargrove... Se for para adivinhar, diria que está comendo a sua madrasta.
– Que merda você... – de repente, Rhys olhou para trás; olhei na mesma direção. Max estava vindo até nós.
– Quando foi que a Max ficou tão gostosa? – cerrei os punhos. – Tem só três meses que viajei e... uau... ela cresceu...
– Cala a boca...
– Você dormiu com a minha irmã, me parece justo retribuir o favor... – fuzilei-o com o olhar.
– Ela não é minha irmã...
– Oi, Maxizinha – Rhysand interrompeu, com um sorriso de orelha a orelha agora que Max estava perto de nós. Desde quando ele chamava ela assim?
– Oi, Rhys... não sabia que tinha voltado de viagem – como é que ela sabia que ele tinha viajado?
– Sabe como é... Não tem garotas tão bonitas na Austrália quanto aqui... – aquele olhar, aquele sorriso, aquele tom de voz... Rhysand estava flertando com a Max na minha frente e a única razão pela qual eu não tinha dado uma surra nele ali mesmo era por consideração aos anos de amizade.
– Max – interrompi. Ela olhou para mim. – Será que podemos nos encontrar daqui a pouco?
– Claro... só vim entregar isso – ela estendeu o picolé de chocolate na minha direção e eu peguei.
– Obrigado – ela deu um sorrisinho e saiu.
O céu estava começando a ficar mais escuro; uma tempestade ia chegar em breve. Voltei minha atenção para Rhysand.
– Por que a chamou de “Maxizinha”? – esse era um apelido que euusava.
– Ai, caralho... – Rhys começou a rir, batendo a mão no balcão. – Você está pegando a sua irmã, não a sua madrasta!
– Quer falar baixo? – sibilei; ele parecia se divertir com a situação. – A Max não é minha irmã, quantas vezes vou ter que explicar isso?
– Cara, eu retiro o que disse... você não é um clichê da psicologia.
– De que merda você está falando, Rhysand?
– Segundo Freud, você devia gostar de uma figura materna já que tem toda aquela questão com a sua mãe e tal... – eu gostava de Rhys, o que era muito, considerando que eu odiava a maioria das pessoas, mas ele estava começando a abusar da minha paciência. – Mas a Max? Tudo bem, ela ficou gostosa do dia para a noite, mas...
– Sugiro que pare de falar assim.
– Está com ciúme! – ele gritou, ainda rindo.
– Não. Só não gosto que fale desse jeito dela...
– Você não só está pegando a Max... está gostando disso. Não está?
– Você está imaginando coisas.
– Você está tomando sorvete na praia. acho que nunca te vi tomando algo que não fosse alcoólico ou comendo algo que não fosse uma menina no banheiro químico...
– Para de falar merda.
– Está com ciúme, Hargrove. E, na verdade, parece um cãozinho domesticado... Entendi porque não precisa mais dos cigarros, nem das bebidas, nem das outras garotas... Finalmente algum sentimento preencheu esse seu coração de pedra. Ou estou errado?
– Está.
– Se vocês dois estão aqui... Aposto que seu pai expulsou porque pegou vocês na cama...
– Não, não foi nada disso – perdi a paciência; imaginei que, se explicasse a situação logo, esse assunto acabaria. – É, a Max e eu ficamos algumas vezes, sim, mas não foi nada demais. Não transamos nem nada do tipo.
– Ela deve ser virgem... por isso não quer.
– Sou eu que não quero.
– Você não quer? – Rhys ficou boquiaberto.
– Não... quer dizer, eu quero, mas... É, ela é virgem e, estranhamente, ela quer transar comigo... Mas, sabe, tirei a virgindade de uma garota uma vez que me disse que foi péssimo. Eu não me importei muito na época, mas com a Max... – Rhys abriu um sorriso malicioso. – Pode parar.
– Eu não disse nada... você é quem está percebendo sozinho.
– Não tem nada para perceber – eu gostava sim da Max, um pouco mais do que gostei de outras pessoas, mas era só isso.
– Agora estou curioso. Por que foi expulso de casa então?
– A Max fez merda, meu pai, como de costume, veio descontar a raiva dele em mim... só que dessa vez ela entrou na frente e... – parei de falar. Me dava asco pensar naquilo.
– E o que?
– Meu pai ia machucar ela – Rhys me olhou, como se esperasse uma continuação; suspirei. – Aí eu parti pra cima dele.
– Você o que? – agora Rhys parecia genuinamente surpreso e sério. – Você nunca enfrentou seu pai antes... – dei de ombros.
– Tudo tem uma primeira vez.
– E ainda se recusa a admitir que está louco pela Max...
– Vai começar com isso de novo?
– Pensa um pouco, idiota. Há quanto tempo está sem fumar? – desde que Max e eu tínhamos chegado à Califórnia... Não respondi. – Quem está usando a camiseta que você tanto idolatra? – merda, ele tinha reparado nisso... – Quantas garotas pegou desde que esse lance com a Max começou?
Algumas, mas, para ser franco, em todas as vezes era nela que eu pensava, era ela que eu imaginava...
– Com quantas garotas você se preocupou sobre virgindade ou de quantas delas sentiu ciúme? Billy, você enfrentou seu pai. Nós dois sabemos que sempre teve a capacidade, mas todos os seus traumas causavam um bloqueio, você nunca tinha levantado a mão para ele até...
– Até ele chegar perto dela – completei.
– Parabéns, gênio. E, se eu investigar por mais cinco minutos, garanto que te entrego mais umas três situações para você refletir sobre ela.
– Isso não quer dizer nada – Rhys apagou o cigarro, balançando a cabeça.
– Tudo bem, eu desisto de você, Hargrove. Se quer ignorar o óbvio, é problema seu.
– Que bom que entramos num acordo. Vai parar de bancar o terapeuta agora?
– Vou. Um último conselho: vai falar com ela – ele levantou e eu fiz o mesmo. – A gente se fala... vê se não faz nenhuma merda. E não some de novo...
Apertamos as mãos.
Fui atrás da Max. Ela não estava muito longe do quiosque; estava sentada na areia, olhando para o mar. O céu agora estava carregado de nuvens escuras, cobrindo totalmente o sol; sentei ao lado dela.
– Oi, Maxizinha – fiz questão de dizer; só eu podia falar com ela assim.
– O Rhys já foi? – Max olhou para mim.
– Por que o interesse repentino nele? – ela riu.
– Interesse? Por acaso está com ciúme? – de novo essa história de ciúme...
Naquele momento eu comecei a refletir, enquanto olhava para aquele sorriso enorme, seus olhos azuis se divertindo com a situação, o cabelo ruivo se destacando do céu acinzentado… Eu costumava me sentir mal o tempo todo, quando estava aqui, com a energia tóxica do meu pai; eu fumava para sentir um minuto de prazer e tentar me livrar do estresse; bebia para esquecer das merdas que ele falava, para esquecer que minha mãe foi embora e desistiu de mim; e, às vezes, me drogava pra sair da realidade e ver se, pelo menos num universo alternativo eu teria um pouco de paz de espírito. Eu entrava em brigas porque a dor física era mais tolerável do que a dor de saber que eu estava sozinho, que não tinha ninguém ali por mim.
Eu afastava as pessoas para não me decepcionar com ninguém; eu transava feito um ninfomaníaco para parar de pensar que estava sozinho. Eu era contraditório, perturbado e problemático. Rhysand tinha razão, as drogas me tiravam, temporariamente, dessa merda que me rodeava. Mas há dias eu não sentia essa vontade... Não tinha a necessidade de fumar ou beber ou usar qualquer coisa; porque agora eu não estava sozinho, eu não me sentia mal. Eu não queria me colocar em risco e nem colocá-la em risco.
Lembrei de quando aquela garota, Robin, estava na festa em casa e disse que eu olhava para Max de um jeito... E como eu odiei saber que ela tinha beijado Max...
Pensei em todas as vezes que alguém se aproximou dela, em como isso me irritou... Sinclair, Harrington, Robin, Rhys... Ciúme? Aquilo não era cabível para mim. Eu não queria que Max estivesse com outra pessoa que não fosse eu. E também não queria estar com outras garotas; não mais.
E quando meu pai insinuou que encostaria nela... Foi o meu limite. Meu pai era a pior pessoa que eu conhecia, era um desgraçado, covarde e violento e eu aceitei que ele me machucasse por anos... Mas ele não ia encostar um dedo nela. Nem ele, nem ninguém.
Max demorou para entender o que acontecia dentro de casa; em Hawkins ela cuidou de mim, ela me defendeu. Ela merecia o melhor.
E o melhor, com certeza não era eu. Mas sou egoísta o suficiente para admitir que não fui sincero com Rhys; o que eu sentia pela Max não era uma simplesmente afinidade, não era algo comum. Era algo a mais. E que eu queria estar com ela, mesmo que não fosse certo.
Foi aí que eu percebi. E se Rhys tivesse razão? E se eu estivesse apaixonado? Se apaixonar era assim? Querer alguém toda hora, só pensar nessa pessoa e odiar que outra chegue perto dela?
O que eu sentia agora ia muito além de uma atração, ia além de qualquer coisa que eu já senti. Não sei como cheguei onde cheguei, como, de repente, coloquei as vontades dela acima das minhas... Como eu queria que ela estivesse bem e feliz. Como eu só queria ela. E só para mim.
Não sei quando tudo começou, não sei quando nem porque as coisas mudaram entre nós... Mas eu queria ser uma alguém melhor, queria ser a pessoa certa pra ela, mesmo que fosse difícil; eu ia provar que ela não era só mais uma na lista, não era só uma garota aleatória com quem eu passava o tempo para não me sentir sozinho.
Eu não respondi, apenas a beijei, diferentemente das outras vezes, sem nenhuma intenção por trás. Coloquei as duas mãos no pescoço dela, sentindo as gotas de chuva começarem a pingar, numa garoa leve.
Me afastei um pouco. Max pareceu um pouco surpresa com a minha atitude.
– Isso foi um “não”? – ela brincou; eu dei um sorriso. Pela primeira vez eu poderia dizer, com tranquilidade, que estava feliz.
– Isso foi um “acho que mereço mais atenção que o meu melhor amigo”.
– Tudo bem... merece mesmo – ela passou os dedos na minha bochecha, depois encostou os lábios nos meus e se afastou de novo, com os olhos brilhando. – Acho melhor irmos embora, vai começar a chover forte.
Assenti.
Autor(a): nirvana666
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
~Max~ Tivemos que sair por causa da chuva. E, apesar de termos passado pouco tempo juntos na praia, foi bom, eu tinha gostado; sentia falta do ar fresco da Califórnia, do barulho das ondas quebrando, das pessoas rindo despreocupadas, da brisa oceânica, dos turistas tirando fotos sem parar... Ainda assim, mesmo que eu gostasse dessas coisas, poderia viver ...
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