Fanfics Brasil - Malibu Improvável

Fanfic: Improvável | Tema: Stranger Things


Capítulo: Malibu

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~Max~


A luz do sol começou a me incomodar demais; virei para o lado. Foi nesse momento que senti um espaço vazio e frio do meu lado. Abri os olhos, me acostumando com a claridade. Eu estava na cama, já que tinha passado a noite no quarto de Billy, mas ele não estava mais ali


Tive um pressentimento ruim; da última vez que Billy levantou antes de mim e me deixou sozinha na cama, ele tinha decidido não falar mais comigo. Eu estava com um certo receio de isso estar acontecendo de novo, principalmente porque o dia anterior foi simplesmente perfeito e eu não conseguia pensar em nenhum motivo para ele agir desse jeito.


Desci as escadas, ainda um pouco aflita e com medo de como seria a reação de Billy, se é que ele estaria em casa.


– Bom dia, Maxizinha – fiquei boquiaberta; ele estava na cozinha, apoiado no balcão, com um sorriso enorme no rosto. Não era nada habitual encontrá-lo assim...


– Bom dia... – não fui capaz de responder com a mesma animação que ele, ainda estava meio ansiosa com a situação, sem entender direito o que estava acontecendo e o porquê desse bom humor repentino. Fui até a cozinha, olhando para a mesa do café mais organizada do que o normal; olhei para ele um pouco desconfiada. – Eu perdi alguma coisa?


– Nada – Billy continuava sorrindo.


– Por que isso? – apontei para as duas xícaras de café; nem sabia que o Billy fazia café.


– Queria que o dia começasse bem – nós sentamos, um na frente do outro; ele estava estranho. Estranho não, diferente dos outros dias; mais... Iluminado? Com um ar mais simpático, talvez mais brincalhão e eu fiquei me perguntando o motivo. Era a primeira vez na vida que o via assim.


Olhei para o relógio da cozinha; eram quase onze da manhã, eu mal tinha acordado ainda. E ele parecia bem agitado. Tomei um gole do café que, surpreendentemente estava muito bom; nunca o tinha visto fazendo qualquer coisa na cozinha que não fossem ovos mexidos e bacon.


– Então... O que está acontecendo? – perguntei.


– Nada.


– Achei que ia começar a ser mais sincero comigo... – ele deu de ombros.


– Não é nada mesmo. Só decidi que hoje vamos sair da rotina – nem sabia que ainda tínhamos uma rotina... Desde que nos mudamos para Hawkins e eu acabei me envolvendo com esse negócio de Devorador de Mentes e mundo invertido, nunca consigo prever o que vai acontecer no outro dia. Ainda assim, o jeito que ele estava agindo fugia do nosso normal. – Vamos para Malibu.


– Malibu? Essa era a surpresa?


– Sim.


– Fazer o que lá? – Billy deu um sorriso de lado, enquanto eu continuava tentando entender onde ele queria chegar com o café, e essa ideia de ir para Malibu...


– Essa parte ainda é surpresa.


– Você está estranho... mais do que o normal.


– Ah, confia em mim, Max. Você não vai se arrepender, prometo – mesmo com algumas coisas que ainda martelavam na minha cabeça a respeito do comportamento do Billy, precisava ser justa, ele estava melhorando, cumprindo tudo que me prometeu, estava mudando. Não tinha razão para eu duvidar do que quer que ele estivesse planejando.


– E o que você tem em mente?


– Ainda é surpresa. Mas adianto que vamos passar a noite fora; então leva mais de uma roupa.


Passar a noite fora? Isso significa que íamos... Não, ele não seria tão direto assim. Seria? Há uns dias eu queria sim, transar com ele e estava fazendo qualquer coisa para que isso acontecesse, mas aí eu concluí que se a gente transasse... Ele voltaria a ser o mesmo de antes. E eu estava gostando desse novo jeito dele, não queria que tudo voltasse “ao normal”.


– Aliás – Billy chamou minha atenção. – Eu achei isso – ele levantou uma das mãos e eu arregalei os olhos, empolgada ao reconhecer aquele pequeno e tão significativo objeto.


– Uma polaroid! – sempre quis ter uma dessas. – Onde você achou?


– No meio das minhas coisas. Não lembrava que tinha.


– Desde quando você tem?


– Faz um tempinho, eu só nunca usei – me inclinei para pegar a câmera das mãos dele, mas ele se esquivou. – Não tem a menor chance de você ser a primeira a usar – então ele a ligou e a apontou para mim.


– O que você... Nem pense nisso. Eu acabei de acordar.


– Sorria! – revirei os olhos. – Você vai mesmo sair com essa cara na primeira foto? – a chance de mais alguém ver aquela foto era muito baixa, então, para encerrar de vez o assunto, dei um sorrisinho. Ouvi o “clic” da câmera e o quadrado escuro saindo dela logo em seguida.


– Ficou horrível – falei olhando a foto.


– Acho que descobri um novo hobby: fotografar você – Billy parecia mesmo contente... Algo me fez pensar que aquele dia seria bom; ele tinha começado da melhor maneira possível. Veríamos como ia acabar.


 


~Billy~


– Vai me dizer porque estamos indo pra Malibu? – Max perguntou depois de uma hora de viagem. Eu estava com a mão sobre sua perna, confortavelmente; passei a gostar de dirigir com ela do meu lado.


– Eu morava no centro de Malibu antes do meu pai conhecer a sua mãe e decidir que tínhamos que mudar para Irvine.


– Ah... eu não sabia. Gostava de lá?


– Tinha pontos positivos e negativos... mas, no geral, gostava sim – passei mais da metade da vida em Malibu, eu conhecia bem o lugar, mas depois de um tempo as lembranças dolorosas da minha mãe nos lugares que costumávamos frequentar começaram a ficar constantes e cada vez piores.


Claro, as praias ainda eram incríveis, eu tinha amigos e o lugar era calmo. Ainda assim, mudar para Irvine foi uma coisa boa, apesar de sentir falta dos lugares em que minha mãe costumava me levar, especialmente um; depois que aprendi a dirigir e comecei a participar de rachas, às vezes ainda ia à Malibu, só para relembrar os velhos tempos.


– Espero que esteja me levando a um dos pontos positivos...


– É uma praia secreta – falei.


– Praia secreta?


– Sempre tem milhões de turistas em Malibu, tirando fotos, perturbando os locais... As praias lotadas... Mas essa, em específico, está sempre vazia. Aliás, nunca vi outra pessoa nas vezes que fui, mesmo que tenha trilhas por lá...


Eu achava genuinamente que as pessoas responsáveis por demarcar aquelas trilhas tinham morrido e não contado a mais ninguém o paradeiro da praia... ou a apenas uma outra pessoa.


– Uma praia inteira para nós? Parece... interessante – Max sorriu. Parei o carro na rua. – Não é aqui, é? – ela perguntou, olhando ao redor.


– Não. Você quer dirigir? – seus olhos faiscaram.


– Está falando sério?


Faltava cerca de meia hora para chegarmos até a trilha que levaria à praia, o caminho era tranquilo, contornava a cidade de Malibu, então tinha poucos carros e àquela hora do dia, pouca fiscalização nas ruas. Além disso, Max parecia ter dirigido bem até aquele buraco de Hawkins, então achei que não teria nenhum problema.


– Se você prometer que vai fazer exatamente o que eu disser e não vai acelerar muito...


– Prometo – ela respondeu, radiante.


Trocamos de lugar e Max seguiu as instruções que dei a ela quando dirigiu pela primeira vez; ela parecia mesmo feliz em estar no volante. Se eu soubesse que ela gostava tanto de dirigir, teria ensinado antes.


Max brilhava quase tanto quanto o sol enquanto dirigia, os olhos atentos fixos na rua, as duas mãos no volante... tão cuidadosa, tão diferente de mim... Os cabelos ruivos numa cor vibrante por causa da luz do dia voavam com o vento das janelas abertas. Era uma cena linda de se ver; eu poderia passar o dia todo olhando.


O percurso foi calmo, Max fez tudo o que eu disse para fazer, seguiu o caminho que indiquei e, menos de meia hora depois, já estávamos na entrada do bosque.


– Tudo bem, já pode parar. Embreagem e freio – falei. Max estacionou quase perfeitamente bem e desligou o carro.


– Fui bem? – ela perguntou esperançosa. Ri.


– Foi ótima.


– Acha que é o bastante para conseguir uma licença?


– Não. Ainda precisa aprender algumas coisas antes disso, não é só a direção, são as leis de trânsito também... e a baliza, marcha ré, dar partida com o carro na subida...


– Vai me ensinar?


– Talvez – eu me lembrava de ter aprendido tudo por conta própria, não tinha certeza se teria muita paciência para ensinar Max... mas não custava tentar.


 


~Max~


Eu estava feliz. Tinha conseguido dirigir sem nenhum problema e sem aumentar a velocidade mais do que o permitido, num percurso maior do que os outros dois que fiz em Hawkins.


E Billy também parecia satisfeito. Porém, para chegar nessa tal praia secreta – que eu não podia nem imaginar como era, já que nunca vi uma praia vazia –, precisávamos passar por um tipo de floresta ou sei lá e Billy assumiu a direção. Dadas as circunstâncias, eu nem ousaria tentar dirigir ali... Eram tantas curvas, subidas, descidas e árvores no caminho que eu não tinha coragem de me arriscar.


Finalmente, qualquer vestígio de civilização pareceu desaparecer.


Billy parou o carro na areia e eu observei o lugar, embasbacada. Era simplesmente lindo. Ele não mentiu quando disse que a praia era vazia, só não comentou o quanto era maravilhosa...


O mar azul quebrava com suavidade na areia fina; a praia era cercada por uma pedreira alta de um lado, alguns morros verdes do outro e a floresta no centro. Estávamos isolados do mundo lá fora, sozinhos. E eu nunca me senti tão bem quanto naquele momento.


– Gostou? – Billy perguntou, batendo a porta do carro; eu já tinha descido e estava boquiaberta olhando ao redor.


– É lindo... simplesmente lindo...


– A vista é ainda mais impressionante lá de cima – ele apontou para a pedreira. – Tem uma trilha que leva ao topo, quer ir?


– Não sei se sou muito boa com trilhas...


– É fácil, vem – ele me puxou, com um sorriso no rosto. – Carrego você, se precisar – ri e tentei acompanhar seu ritmo.


– Tudo bem... mas se tiver qualquer animal selvagem nessa trilha, saiba que não vou hesitar em usar você como distração.


Billy revirou os olhos e nós nos enfiamos no meio da floresta de novo, mas, dessa vez, a pé. Ele estava certo, não era uma trilha difícil, mesmo que fosse uma subida, não era nada cansativo.


Nós conversávamos e ríamos durante o percurso, acho que isso facilitou também. Me perguntei como um lugar como aquele podia ser assim tão vazio... era de se imaginar que as pessoas fossem descobri-lo rapidamente e dominar a praia, como todas as outras, mas não. Era um paraíso deserto e quase intocado.


– Uau – falei, assim que chegamos ao topo. Como podia ser ainda mais admirável visto de cima? A espuma branca do mar delineada sobre a imensidão azul infinita, a areia ocre parecia quase perfeitamente desenhada em curvas pelas ondas.


Era uma obra arte...


– Sabia que você ia gostar – Billy comentou, sorrindo. – Agora a melhor parte.


– Dá pra ficar melhor? – seu sorriso aumentou.


– Assim que a gente pular – ele se aproximou da beirada da pedreira.


Olhei para baixo, sem sair do lugar e senti calafrios.


– Billy, eu não sei nadar... E aqui é muito alto.


– Não precisa se preocupar. É só segurar em mim – ele estendeu a mão e eu dei dois passos para trás.


– Não vou pular.


De repente, Billy correu na minha direção e me pegou no colo, ainda com sorrindo.


– Acho que não te dei opção – ele começou a correr de novo para beirada e eu gritei, fechando os olhos com força.


Billy não ia parar... ele ia mesmo pular e me levar junto. Eu não tinha outra alternativa além de segurar seu pescoço e rezar para que ele fosse capaz de sustentar nós dois na água, porque, se dependesse de mim, morreríamos afogados.


Eu estava com medo. Não sabia nadar, não sabia se as correntezas nos arrastariam e nos matariam, nem se tinha pedras lá embaixo ou corais ou tubarões... Não sabia nada sobre aquele lugar.


Senti o impulso e a rajada de vento quando Billy pulou; prendi a respiração, ainda de olhos fechados enquanto esperava o impacto.


Atingimos a água fria logo em seguida e, por um instante, entrei em pânico. Parecia muito mais fundo do que eu esperava, não conseguia sentir a areia. Por que não estávamos voltando à superfície? O que estava acontecendo?


Não soltei Billy nem por um segundo, aliás, me agarrei ainda mais a ele e passei as pernas ao redor de sua cintura; claro que ele sabia nadar melhor do que qualquer um, já surfava há anos e tinha nascido e crescido na Califórnia...


Senti o ar finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, invadir meus pulmões. Inspirei várias vezes e abri os olhos; Billy estava na minha frente, o rosto próximo do meu, rindo e, claramente, adorando aquela situação.


– Está com medo?


– O que você acha?


Ele me envolveu com os braços.


– Relaxa, Maxizinha. É só um pouco de água – seu sorriso era impecável.


– Um pouco? – olhei ao redor; parecíamos cercados pela água salgada do mar. Ainda estávamos um pouco perto da pedreira, mas muito longe da costa.


Não tinha percebido o quanto andamos para chegar ao topo. Então o meu medo começou a se transformar em raiva.


– Por que fez isso? – eu estava ficando irritada com ele por ter nos jogado daquela altura no meio do mar e mais irritada por não ter coragem de soltá-lo e ficar à deriva. A água batia no pescoço de Billy, o que significava que eu não daria pé ali de jeito nenhum e teria que nadar para voltar. Além disso, a correnteza parecia forte.


– Para dar um pouco de emoção na sua vida... – como é que ele podia estar tão calmo? Senti meu rosto esquentando por causa da raiva, mesmo em contraste com a água fria.


– Emoção? O que passamos em Hawkins esses dias já não foi emoção mais do que suficiente? – ele ficou um pouco mais sério.


– Não quero falar de Hawkins agora. Quis dizer uma emoção boa...


– E cadê a parte boa? – falei mais alto.


– Nós dois assim... – Billy deslizou as mãos até as minhas costelas e aproximou ainda mais o rosto do meu; tentei continuar séria e não demonstrar o quanto estava afetada. – Está brava de verdade?


– É, estou – e a única coisa que eu queria era saber nadar para poder ir para bem longe.


– Para... sabe que eu não ia deixar nada acontecer com você...  – algo naquele tom de voz me fez querer acreditar nisso. – Só estava brincando...


– Não é justificativa, não devia ter me forçado a pular – senti suas mãos me pressionando cada vez mais. Desviei o olhar, sabendo exatamente que ele estava me encarando com aquele sorrisinho presunçoso, como se fosse dono da razão.


– E você vai ficar emburrada assim por muito tempo ou vai aproveitar?


– Não tem o que... – Billy me interrompeu, colando os lábios nos meus; senti o gosto salgado de sua língua, quente no meio de um mar gelado... Não consegui não retribuir, por mais irritada que estivesse.


Billy se afastou um tempo depois, os olhos num verde mais intenso por causa da luz do sol.


– Melhor? – ele perguntou. Não respondi. Eu não estava mais tão brava e, se evitasse pensar na água ao nosso redor, também não sentia tanto medo; Billy tinha mesmo o dom de me fazer pensar em outra coisa, mesmo que eu estivesse cercada de algo que me apavorava. – Vai ficar mais tranquila se voltarmos para a praia? – respirei fundo.


– Sim...


 


~Billy~


Eu sabia bem que Max não sabia nadar e morria de medo da água... O que significava que, se eu pulasse da pedreira – como fazia todas as vezes que ia nessa praia –, ela iria ficar mais próxima ainda de mim, me sufocando, para não correr nenhum risco de se afogar. Tinha que ser sincero, era exatamente isso que eu queria.


E sabia que ela ia acabar ficando irritada também, eu gostava de vê-la vermelha e com raiva para, no momento seguinte, eu provocá-la e acabar com essa graça...


Mesmo que eu estivesse gostando do desespero e até da irritação dela, resolvi que seria melhor voltarmos para a praia; em parte, porque eu conhecia a Max e sabia que ela estava mesmo brava. E seria muito mais fácil virar o jogo em terra firme. E também estava na hora de termos uma conversa.


Fomos nos aproximando do raso; ela saiu do meu colo, mas não soltou meu braço até estarmos totalmente na areia.


– Não vai ficar brava comigo por causa disso, não é? – perguntei. Max suspirou, ainda meio séria.


– Não... mas se fizer de novo...


– Não vou.


Nós comemos salgadinhos que tínhamos levado e deitamos em toalhas em cima da areia, debaixo do sol quente, esperando que as roupas secassem.


Era agradável, mesmo que Max ainda estivesse um pouco afetada por causa do mergulho, aos poucos ela foi voltando a conversar comigo normalmente. Estava sendo um dia agradável, eu estava feliz.


– Como achou esse lugar? – Max perguntou depois de um tempo; o céu estava começando a ficar alaranjado.


Sentei sobre a toalha e Max fez o mesmo, tirando os óculos escuros para me observar. Nós dois já estávamos completamente secos.


– Minha mãe costumava me trazer aqui.


– Você se importa de me falar sobre isso?


– Sobre o que?


– Sobre a sua mãe... a sua vida, sua infância aqui em Malibu... Sinto que quase não te conheço... – esse era um assunto bem delicado, sobre o qual eu não gostava de falar com ninguém ou, sequer, pensar a respeito; mas talvez fosse um bom momento para conversarmos sobre.


– Você já sabe o principal, minha mãe foi embora. Quer mesmo saber detalhes? Não é uma história nada bonita...


– Quero – ela falou em voz baixa. Respirei fundo.


– Minha mãe era uma pessoa doce e gentil... Ela costumava passear comigo nos parques, no shopping... me levava para tomar sorvete e assistir filmes – senti o peito começar a apertar. – Era bom. Ela me inscreveu nas aulas de surfe, mesmo quando meu pai foi contra, e sempre me levou à praia para treinar, principalmente nessa, que era mais vazia e ninguém se incomodava.


Max escutava atentamente cada palavra.


– Meu pai nunca foi fácil; ele gritava com ela sempre, pelos motivos mais idiotas... A carne fora do ponto, um atraso de cinco minutos, uma nota baixa minha... – lembrei de como costumava me culpar por todas aquelas coisas quando os escutava brigando. – No começo eram só os gritos, os xingamentos, as humilhações... minha mãe ficava quieta, tentava não deixá-lo mais irritado; quando ela respondia, ele quebrava coisas. Depois começou a ser físico; um empurrão, um tapa... Aí ficou violento de verdade.


– Se não quiser falar sobre isso...


– Tudo bem – interrompi antes que perdesse a coragem. – Nos outros dias em que ele não surtava, meu pai dizia o quanto nos amava e que só queria o melhor para nós; naquela época eu achava que todos os filhos tinham medo dos pais, que era normal e todas as famílias eram assim. Até o dia em que eu presenciei uma dessas brigas, ao invés de só escutar no meu quarto. Ele foi para cima dela e... e eu tentei impedir. Não preciso dizer que não acabou bem, eu tinha só uns dez anos e ele era maior e muito mais forte e estava com raiva...


Desviei o olhar; o que vinha a seguir era ainda pior para mim.


– Depois desse dia, eu nunca mais a vi. Ela foi embora, levou todas as coisas e não olhou para trás. Ela me ligou para dizer que sentia muito, mas que não ia mais voltar. Eu não parava de perguntar o porquê. Porque ela não poderia me levar junto, eu prometi que ia me comportar, podia arrumar minhas coisas rápido... Minha mãe disse que o melhor seria continuar com o meu pai, disse que ele cuidaria de mim.


Olhei para o céu, agora num misto de laranja e vermelho, poucas nuvens sobre nós.


– Meu pai já bebia antes, mas, nessa época foi pior. Ele bebia quase todas as noites e gritava comigo e, depois de um tempo, começou a ser um ataque físico também. Uma vez uma professora da escola chegou a denunciá-lo depois de me ver machucado... Não deu em nada. Ele alegou que eu era agressivo na escola e sempre arrumava briga; não tinha como negar, eu tinha mesmo um comportamento explosivo... Então continuei morando com ele e as coisas foram piorando. Meu pai dizia e ainda diz que é culpa minha, que se eu não fosse tão inútil, minha mãe não teria abandonado nós dois.


Max colocou a mão sobre a minha e, por um momento, cogitei em tirar, mas não consegui; o toque dela, de alguma forma, me acalmava.


– Sabe que não é culpa sua... nada disso é culpa sua.


– Mesmo que indiretamente, é sim. Eu nunca devia ter insistido naquelas aulas de surfe... nem entrado na frente dele naquela noite...


– Billy, mesmo se não tivesse feito essas coisas, ele acharia outros motivos para fazer o que fazia e ainda faz.


Eu não tinha tanta certeza, continuava pensando em tudo o que eu poderia ter feito de diferente para ser um filho melhor; quem sabe minha mãe tivesse me levado com ela.


Mas eu não ia mais falar sobre isso; Max não merecia escutar toda aquela história horrível e lidar com os meus problemas.


– O que importa – falei, voltando a encarar seus olhos azuis – é que agora estamos aqui, longe dele, longe de toda essa merda.


Me aproximei dela e a beijei lentamente, tocando seu rosto, as bochechas ainda quentes e coradas por causa do sol; os raios vermelhos sobre o mar ainda incidiam em nós. Aquele dia tinha ficado melancólico demais, eu queria acabar com esse clima.


Max, porém, apesar de inicialmente ter retribuído, se afastou um pouco depois.


– O que foi? – perguntei. 


– Nada – não tinha como ser “nada”.


– Max... – ela levantou.


– Só estou cansada – Max começou a andar na direção do carro.


Cansada? Passamos a tarde deitados na areia, do que ela poderia estar cansada? Levantei e fui atrás dela.


– Me diz o que está acontecendo – pedi.


– Quantas garotas já trouxe aqui? – Max repentinamente virou de frente para mim e me encarou, aguardando uma resposta.


– Está falando sério? 


– Estou – ela cruzou os braços. – Desculpa, mas não paro de pensar nisso. Por anos vi você tratar várias garotas muito bem... você é atencioso, sorri, fala com essa voz melosa, leva para sair... E, no momento seguinte, despreza e as manda embora como se fossem lixo. Toda vez que a gente se aproxima, a sensação que eu tenho é que vai fazer o mesmo comigo... então eu me afasto primeiro, assim eu evito me machucar.


Suspirei. Talvez eu merecesse esse tratamento, porque, de fato, tinha esse hábito horrível... não que eu me orgulhasse, só não conseguia ser diferente... Não até a Max aparecer.


– Max, você não é mais uma, não é como elas... e eu não sei mais o que fazer para te convencer disso.


– Não precisa me convencer – ela virou de costas de novo; se eu a deixasse entrar naquele carro, as coisas não voltariam a ser como eram antes. Por outro lado, eu evitaria me envolver ainda mais e quebrar a cara depois.


Mas fui mesmo assim. Eu a encurralei contra o capô do carro e segurei seu braço, fazendo-a olhar para mim.


– Billy, o que está... – ela começou, surpresa com a minha atitude.


– Maxine, escuta. Acha que escolhi gostar de você? Você é mais nova, é enteada do meu pai... Tem ideia de quantos problemas tive e ainda vou ter por sua causa? Essa escolha não foi minha. Eu acabei de dizer que a única pessoa que já amei foi embora e me largou com um doente, o mínimo que eu esperava era que você entendesse o porquê é tão difícil eu me aproximar de qualquer um – falei cada palavra olhando nos olhos dela. – Eu não fiquei com outras garotas, fiz tudo o que você me pediu, quase matei meu pai porque ele chegou perto de você, te contei coisas sobre o meu passado que não contaria a mais ninguém, nunca. Isso não significa nada para você? – mas não dei tempo para que ela respondesse, continuei vomitando as palavras rapidamente. – Não sei se isso significa que estou apaixonado, não sei mesmo... mas você é a primeira e vai ser a última pessoa que vou trazer nessa praia. A única coisa que eu quero, Max, é que você fique bem, quero estar perto de você o tempo inteiro, quero cuidar de você... Eu nunca te machucaria, nunca faria com você o que fazia com elas, porque me importo com o que você sente. E, se ainda não acredita em mim, me diz, Max, me diz o que eu posso fazer para provar e eu faço!


Max não respondeu, apenas continuou com os olhos fixos nos meus provavelmente processando todas aquelas informações; eu faria qualquer coisa para estar nos pensamentos dela naquele momento.


A verdade era que eu não esperava mesmo uma resposta, mesmo que ela tivesse uma na ponta da língua; eu já estava cansado de conversar. Não dei tempo para que ela pensasse em tudo o que tinha acabado de dizer, só a beijei.


Apertei sua cintura contra mim, ela não se afastou, só colocou os braços ao meu redor e me puxou.


Senti meu coração disparar freneticamente, muito mais do que qualquer outro dia que pudesse me lembrar. Tentei lutar contra aqueles instintos, sabendo o quanto estava errado fazer o que estava prestes a fazer, mas falhei. Já tinha me contido por tempo demais e não estava me importando com mais nada.


Tirei sua camiseta; Max não se afastou, não questionou, nem pensou duas vezes.


Eu a coloquei sentada no capô do carro; suas coxas pressionavam meu quadril, suas mãos passavam do meu cabelo para o meu peito alternadamente... Segurei seu pescoço, tentando não apertar tanto, muito diferente do que eu já estava acostumado, enquanto fazia com que ela deitasse.


Já não me importava se ela era virgem, se era minha irmã postiça, se era mais nova... Ver seus cabelos ruivos espalhados no capô do meu carro me fez perceber o quanto eu ardia por ela, o quanto eu tinha me segurado nos últimos dias... e como aquilo parecia me consumir agora. Eu queria, Max queria e eu não ia mais pensar em como seria depois ou nas consequências.


 


~Max~


Eu ainda estava digerindo o que Billy tinha acabado de falar. Bom, ia começar a pensar no que responder, mas ele não deixou. Não vou mentir, foi bem melhor do que ter que encarar a conversa... Mesmo que ainda tivesse muito a dizer e pensar.


Senti seus lábios no meu pescoço, ao mesmo tempo que ele, habilidosamente, tirava meu sutiã. Billy tinha experiência, ele sabia exatamente o que estava fazendo e como fazer e, ao mesmo tempo que isso me incomodava por terem sido muitas e muitas garotas antes de mim, também me tranquilizava, porque, querendo ou não, era bom. Era muito bom...


Senti um arrepio percorrendo meu corpo, um calor em cada centímetro de mim, começando aos poucos e crescendo à medida que Billy voltava a me beijar, um beijo intenso e rápido, sedento... Sua barba arranhava deliciosamente minhas bochechas, seu corpo se grudava ao meu, podia sentir seus músculos se contraindo, sua respiração começando a ficar ofegante; suas mãos pressionavam minhas coxas contra o capô gelado do carro. Entrelacei minhas pernas nele, impedindo-o de se afastar, não que ele demonstrasse o menor sinal de que poderia fazer isso. 


Só algumas linhas de tecido nos separavam, exatamente como da última vez, mas agora eu duvidava que Billy fosse me impedir. Sabia que ele queria, sentia que ele estava excitado e com muito mais vontade do que vi nas outras vezes. Aquele volume, com o qual eu estava me acostumando, roçava na parte interna da minha coxa, enquanto ele corria os dedos pelo meu corpo, me apertando, instigando cada parte minha a querer ainda mais... Billy estava debruçado em cima de mim; estava de um jeito totalmente diferente... Era diferente de qualquer beijo anterior... Era muito mais desesperado, possessivo e dominador.


Ele deslizou as mãos dos meus seios até a minha barriga e parou no cós do short.


– Olha só, eu quero, mas se você... – ele começou.


– Cala a boca – puxei-o de volta, interrompendo qualquer possível obstáculo. Dessa vez, Billy não ia começar com aquela conversa sobre virgindade, eu já tinha tomado a minha decisão.


Eu queria transar com ele, minha única dúvida era em questão ao que ele faria depois, a como ele agiria... Mas eu não estava com a menor vontade de ponderar isso agora, tentava me prender ao que ele disse minutos antes, sobre gostar de mim, sobre estar realmente mudando...


Naquele momento, eu só queria ele, independentemente se aquela historinha era verdade ou não, eu ia correr esse risco.


Billy desabotoou meu shorts e o tirou.


Depois passou os dedos suavemente pela minha virilha; arfei baixo quando ele encostou lá, como fez uns dias atrás, mesmo que ainda fosse só por cima da calcinha... Já estava começando a delirar, ainda mais do que da última vez, por que agora tudo parecia tão diferente? Mais intenso, mais instigante...


Ele movia os dedos e passava a língua no meu mamilo ao mesmo tempo, com uma prática surreal... Minha mente foi ficando vazia de novo, eu só conseguia pensar em seus olhos verdes, me olhando com um desejo ardente, me querendo, pensando em mim... Não importava quantas garotas vieram antes, hoje era eu. Era comigoque ele tinha conversado sobre a infância, fui euquem ele trouxe à praia de Malibu, foi por mimque ele enfrentou o pai.


Billy mordeu meu pescoço. Quase que instintivamente, ainda sem raciocinar direito, passei a mão pelo seu membro enrijecido, ainda por cima da bermuda; ele arfou e, em seguida, começou a tirar.


Devo admitir que uma parte de mim estava incerta, com um pouco de medo do que estava para acontecer... pensei sobre como ele disse que podia doer e que eu deveria pensar mais a respeito... E outra parte, só queria que acontecesse logo, só queria que aquele prazer tomasse conta de mim de novo, mesmo que doesse, eu não ia me importar.


Billy tirou a cueca e praticamente arrancou minha calcinha; ele me olhou nos olhos, o rosto a milímetros do meu, respirando com dificuldade.


– Você tem certeza? – ele perguntou, com a voz fraca.


– Tenho – falei decidida.


Billy se aproximou de mim. Comecei a sentir uma pressão leve; doeu um pouco, mas era o tipo de dor confortável, com a qual se acostuma rápido, não era ruim, como ele tinha dito antes. Billy me segurou pela cintura, observei bem sua expressão, fechando os olhos ao mesmo tempo que entrava em mim, com um suspiro e um gemido.


Foi meio estranho. Só no início, porque logo voltei a ter aquela sensação de prazer, o formigamento, a vontade de continuar... enquanto ele continuava me tocando e beijando o meu pescoço.


– Max... – ele sussurrou, investindo contra mim de novo, com um gemido baixo e profundo. Fiquei arrepiada de novo; estava gostando daquilo, muito mais do que imaginei que gostaria.


Olhei para o céu alaranjado, sentindo como se literalmente estivesse nele.


 


~Billy~


Não era a primeira vez que eu tirava a virgindade de uma garota, mas sem dúvida, era a primeira vez que eu me preocupava. Sabia o quanto podia ser desconfortável. Só que assim que eu a penetrei pela primeira vez, me perdi... E não conseguia pensar em mais nada. E foi tão simples; Max estava claramente excitada, o que facilitou muito... E eu só enxergava aquele corpo, macio, quente, molhado... Era tudo que eu queria, tudo que eu precisava... eu não conseguia parar...


Comecei devagar, mas não ia manter esse controle por muito tempo... Seria impossível com as mãos dela me puxando mais, os quadris dela se movendo na minha direção, quase como se pedisse para eu continuar... Acelerei o ritmo, mas só um pouco para que ela se acostumasse.


Max soltou um gemido baixo; abri os olhos; ela estava com a boca entreaberta, os olhos fechados, os braços estendidos. Não resisti em segurar seus pulsos acima da cabeça, colados ao capô do carro. Nossa, como eu desejei esse momento, como fantasiei com isso tantas e tantas vezes... Ela já me fez gozar antes, mas transar era uma fantasia à parte... E era muito melhor do que qualquer coisa que eu poderia ter imaginado, melhor do que qualquer outra garota, até das que eu tinha tirado a virgindade. Deslizar dentro dela era tão fácil, tão bom... apertada e molhada... quente... Mal conseguia raciocinar direito.


Eu gostava da ideia de que eu era o primeiro. Ninguém nunca mais ia ter esse prazer.


Ela desvencilhou os pulsos das minhas mãos e enterrou os dedos no meu cabelo, me puxando para beijá-la. Essa era outra coisa com a qual eu não estava acostumado...


Eu separava beijo e sexo. Eram duas coisas diferentes na minha cabeça, que não combinavam juntas... Mas sentir a língua dela se entrelaçando na minha enquanto suas pernas me esmagavam e eu latejava dentro dela... Era quase tão bom quanto gozar.


Agarrei firmemente sua coxa, sentindo sua respiração ofegante e seu corpo suado, apesar do vento frio que chegava com a escuridão, agora que o sol tinha desaparecido por completo; Max passou as unhas pelas minhas costas gemendo, dessa vez, mais alto, o que me fez gemer também, mal conseguindo respirar.


Aquilo tudo misturado... Nunca tinha sido desse jeito com ninguém, tudo era diferente, nem mesmo quando eu perdi a virgindade foi assim tão bom... Eu podia passar horas transando sem gozar, mas senti que, se as coisas seguissem aquele ritmo, não duraria tanto assim. O que significava que dava para fazer várias e várias vezes... E eu ia ensinar tudo para ela.


Voltei a beijar seu pescoço, mordendo, sentindo o gosto salgado do mar.


– Você é gostosa pra caralho, Max – murmurei; ela cravou ainda mais forte as unhas em mim.


– Billy... – ela sussurrou meu nome, arfando.


E ficava cada vez mais difícil de ir com calma... Aumentei ainda mais o ritmo, ouvindo os gemidos sufocados dela. Aquilo me deixava ainda mais excitado... Seus seios roçando no meu peito, as pernas me enlaçando, parecendo que não soltaria nunca... As ondas do mar quebrando e começando a bater nos meus pés por causa da maré alta, seus olhos azuis virando, o ar fugindo dos meus pulmões... Eu já tinha perdido de vez controle dos meus gemidos, das minhas palavras... E eu nem era do tipo que falava muito durante o sexo. Mas estava totalmente fora de mim, sem pensar em nada... nada além dela. E seu rosto não me deixava dúvidas de que tinha sido tão bom para ela quanto para mim.


Era a primeira vez que uma garota me faria gozar sem o mínimo de esforço... E eu nunca tinha gozado de um jeito tão bom...



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Autor(a): nirvana666

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~Max~ Billy tinha tombado o banco de trás do carro e colocado um travesseiro e um cobertor para deitarmos – ele tinha planejado tudo perfeitamente. Embora a temperatura tivesse caído a noite, ele estava só de bermuda e eu só com a camisa dele. Respirei fundo, enquanto olhava o céu estrelado pela janela, pensando no que tinha acabado ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • merophe Postado em 13/08/2022 - 19:52:52

    Boa sorte com os ADMS da plataforma!


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