Fanfics Brasil - Aquelas três palavras Improvável

Fanfic: Improvável | Tema: Stranger Things


Capítulo: Aquelas três palavras

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~Max~


De repente, alguém bateu na porta; eu dei um pulo, movendo as cordas que me prendiam e tentei olhar para trás. Mesmo que eu quisesse acreditar que era o Billy, tinha que ser realista e ponderar que poderia ser qualquer outra pessoa, alguém pior que aquele tal de Rio... Comecei a tremer de novo, apavorada com a ideia.


Rio colocou o indicador sobre a boca, gesticulando para que eu ficasse em silêncio, o que significava que, quem quer que fosse, não era alguém que ele estava esperando... Eu não sabia se isso era bom ou ruim.


Lentamente, Rio caminhou até a porta e abriu; girei a corda para ficar de frente para a porta, ansiosa para saber quem era.


Rio começou a rir e eu arregalei os olhos.


Billy entrou e, quase imediatamente, olhou para mim. Dei um suspiro. Nunca estive tão feliz em vê-lo.


– Max... – Billy pareceu prestes a correr até mim, mas Rio apontou a arma para ela.


– Calma, Hargrove. Primeiro o dinheiro, depois sua irmãzinha.


– Não sabia que era traficante e agiota, Christopher – Billy cruzou os braços; como ele sabia esse nome?


– Meus negócios não dizem respeito a qualquer um... O dinheiro, Hargrove.


– Aqui – estava esperando que Billy jogasse uma sacola de dinheiro ou qualquer coisa parecida, mas, ao invés disso, ele empurrou, para a minha surpresa, Rhys, amarrado e amordaçado, no chão; ele estava coberto de sangue, com hematomas pelo rosto.


– Acha que estou brincando? – a voz de Rio ficou mais sombria e seu sorriso desapareceu. Engoli em seco, agora ficando realmente com medo dele.


Rio veio até mim e apontou a arma para a minha cabeça. Prendi a respiração.


– A dívida é dele, não minha – Do que ele estava falando? – Estou entregando quem realmente deve a você, já chega.


Rio respirou fundo.


– Vocês não são mais unha e carne?


– Não – Billy respondeu. Rio olhou para Rhys por um momento e deu um sorrisinho.


– Vai entregar seu melhor amigo para salvar uma princesinha em perigo? – ele virou para mim. – Eu disse, ruiva, você é importante...


– Christopher, solta ela. Já resolvemos isso.


– Eu aceito esse inútil como uma oferta de paz... Mas vocês ainda me devem. Rhysand é um idiota, não pagou antes e não vale nada agora; já você, Hargrove...


– Eu não tenho nenhuma dívida com você.


– Não me interessa quem foi que começou essa história, eu saí no prejuízo. Alguém vai ter que pagar... Pela sua oferta generosa de paz, posso dar mais vinte e quatro horas, mas a Max fica comigo nesse tempo – Billy não respondeu... O que é que ele estava pensando? – Mas... se quiser entregar outra pessoa para pagar a dívida, aceito com prazer a sua irmã...


– Não.


Eu estava boquiaberta; Rhys se debatia no chão, tentando gritar, enquanto Rio e Billy conversava de um jeito que beirava à civilidade e eu estava amarrada.


– Então traz o dinheiro – Rio falou, a voz firme e decidida.


Eu não fazia ideia de quanto era essa dívida, nem se tínhamos esse dinheiro ou se Billy conseguiria pagar em vinte e quatro horas... não sabia o que Rhys tinha a ver com essa história e comecei a me preocupar seriamente com o que aconteceria comigo.


Billy me olhou de novo antes de sair... e eu estava com medo de aquela ser a última vez que nos veríamos


 


~Billy~


Olhei para Max mais uma vez antes de sair. Ela estava com medo, dava para ver as lágrimas nos olhos, enquanto tremia e me implorava silenciosamente para tirá-la dali. Eu sabia o quanto essa situação devia ser desesperadora para ela... Não conseguia nem imaginar o que aquele psicopata podia ter feito. Eu precisava tirar Max dali o mais rápido possível.


Para nossa sorte, eu já tinha imaginado que Christopher não ia aceitar só o Rhys como pagamento e já tinha um plano B... e um C, caso esse falhasse também.


– Sua vez – puxei Kate pelo braço, tirando-a do carro; soltei seus tornozelos e tirei a fita de sua boca.


– Billy, para. Ele vai matar você... Você e sua irmã.


– Cala a boca – fechei o porta-malas.


– Você tem esse dinheiro, por que não paga logo? 


– Essa dívida não é minha.


– Não importa quem contraiu a dívida, não é hora para ser orgulhoso... Só entrega o dinheiro, Billy.


– Não.


– Meu irmão é perigoso, ele vai te matar... – parei e a observei, me dando conta do que estava acontecendo ali.


– Você não está preocupada comigo. Está com medo do seu irmão preferir o dinheiro ao invés de você.


– O que? Não! – arqueei a sobrancelha e ela deu um longo suspiro. – Christopher não é um exemplo de irmão mais velho... Ele não moveria montanhas para me ver bem, como você faz com a Max. Ele...


– O que eu faço por ela não tem nada a ver com amor fraternal, não somos irmãos e não é por isso que estou fazendo o que estou fazendo.


– Você gosta dela, não é? Rhys me falou que estava apaixonado... por isso não ficou comigo?


Não respondi.


– Esquece esse drama familiar. É simples, se acontecer alguma coisa com a Max, mato você. Então seja convincente – voltei a andar, puxando-a comigo. Eu não ia sentir pena de Kate; ela parecia muito disposta a apoiar o irmão antes.


– Billy, ele não vai aceitar esse acordo...


– Então que pena para você.


Bati na porta de novo.


– Já voltou? Isso foi rápido! – ouvi a risada de Christopher vinda do lado de dentro, um segundo antes de ele abrir a porta e ficar sério de novo ao colocar os olhos em Kate.


– É, – falei. – deixei o pagamento no carro.


– Você é tão burra... – ele murmurou para ela. – Como fez essa merda? Eu te dei uma arma caralho!


Com uma mão, eu segurava os braços dela, e com a outra apontava uma arma para sua cabeça, exatamente como ele tinha feito com Max antes.


– Entrega ela, Christopher – seu sorriso sínico retornou.


– Uma irmã pela outra... Eu não sei se parece muito justo, visto que a minha é... é isso – ele olhou para Kate com desprezo.


Por um momento, pensei que ele não fosse aceitar. Passei o dedo pelo gatilho; eu ia atirar se precisasse, não importava mais nada. 


Christopher foi até Max, soltando seus pulsos. Ela caiu no chão, mas, no instante seguinte, ele a segurou, colocando-a em pé, na frente dele, com uma faca contra o seu pescoço.


Merda.


– Você é muitas coisas, Billy Hargrove, mas não é assassino – Max fechou os olhos, chorando. – Já eu... não vou hesitar. Você tem uma chance.


– Quer apostar? – mesmo que eu estivesse com medo do que ia acontecer, mesmo que não duvidasse que Christopher poderia matar Max, tentei manter a respiração calma e não tremer. Preparei a arma para atirar, era só um movimento.


Nós nos encaramos por poucos segundos, que pareceram uma eternidade; eu não podia fraquejar, tinha que mostrar que estava firme. Kate tremia, também chorava e olhava para o irmão.


– Chris, por favor... – ela pediu. – Por favor... você não sabe do que ele é capaz... – sua voz estava fraca e trêmula.


Christopher desviou o olhar de mim para ela e sua expressão mudou. Ele era um agiota, traficante, assassino, cafetão, sádico e frio, mas não ia deixar a irmã morrer e eu sabia disso; principalmente se ela implorasse; até criminosos têm pontos fracos e Katerina era o dele. Bingo. Eu não ia ceder, não ia ser o primeiro a abaixar a arma.


– Que se foda – Christopher murmurou, bufando e largou a faca.


Ele empurrou Max na minha direção e ela praticamente correu até mim.


Eu fiz o mesmo com Kate, ainda apontando a arma para Christopher, caso ele pensasse em atirar.


 


~Max~


Meu coração batia desordenadamente, meu pescoço ainda sentia a lâmina fria da faca, mesmo depois que Rio me empurrou para longe. Não tinha percebido que não conseguia nem respirar até estar perto de Billy novamente.


Eu tinha um milhão de perguntas... por que ele estava com Kate? Que arma era aquela?


Billy me colocou atrás dele, ainda encarando Rio.


– Eu vou deixar essa passar – Christopher disse, encarando a irmã. – Porque a minha irmã estúpida fodeu com tudo! – ele gritou e ela se encolheu. – Nunca mais quero ver sua fuça nessa cidade, Hargrove.


– Vai ser um prazer – Billy falou.


Billy fez menção de se virar para sairmos dali, mas Rio o chamou de volta.


– Mais uma coisa – nós dois olhamos o que pareceu ser câmera lenta quando ele deu um três tiros em Rhys, que ainda estava amarrado, no chão; eu nunca me esqueceria daquele momento.


Gritei.


O barulho ensurdecedor dos tiros, o sangue se espalhando numa poça, o corpo dele imóvel, os olhos virados para cima, sem vida, ainda com hematomas no rosto e uma fita isolante na boca, amarrado, sem a menor possibilidade de escape ou defesa... Enquanto Rio sorria, olhando para mim.


– Vamos – Billy entrou na minha frente, bloqueando a minha visão daquela cena mórbida; eu estava em choque absoluto, paralisada, não sentia minhas pernas. – Vem, Max.


Ele me puxou e me colocou dentro do carro, enquanto eu ainda estava com os olhos arregalados, a boca escancarada e aquela imagem horrível na cabeça. Queria gritar, chorar... mas simplesmente não conseguia.


– Está tudo bem? – Billy perguntou depois de um tempo dirigindo; sua voz soava extremamente calma. Como ele podia estar calmo?


– Rhys está morto... – falar aquilo em voz alta me deixou mais apavorada ainda, mas era só nisso que eu conseguia pensar, só isso que conseguia dizer. – Ele está morto, Billy!


– É...


– Por que você está tão tranquilo? – as lágrimas corriam pelo meu rosto, cada centímetro de mim tremia, agora o pavor me invadia com tudo.


– Eu sabia que isso ia acontecer, sabia que ele ia morrer.


– Sabia? Por que trouxe ele para cá, então? Por que ele estava daquele jeito? Por que você não está assustado? E aquela garota... o que aconteceu com ela?


– Max, Rhysand colocou a gente em perigo, eu precisava entregar ele.


– Ele era seu melhor amigo! – gritei.


– Era. O que ele fez foi imperdoável, nenhum amigo de verdade faz isso... Rhys entregou você para aquele doente.


Billy parou o carro na frente da nossa antiga casa.


Comecei a soluçar e ele me puxou para um abraço. Senti sua mão no meu cabelo, tentando me acalmar, enquanto eu revivia a morte de Rhys um milhão de vezes, sem entender o porquê de ele ter feito isso.


–  Sinto muito que tenha visto aquilo – Billy sussurrou e eu o afastei.


– Você ia atirar nela? – lembrei dele apontando uma arma para Kate, desafiando Rio. Eu não gostava muito da garota, mas sabia o quanto era assustador estar naquela posição.


– Claro que não...


– A arma... Por que você tem uma arma? Billy, por que é que você anda com uma arma?


– A arma era dela... Max, se acalma...


– E se ele ainda quisesse o dinheiro? Você ia matar ela? Ia deixar ele me matar? – comecei a respirar com mais dificuldade. – E se ele não... e se... – não consegui terminar a frase.


– Não! Se nada desse certo, eu ia entregar o dinheiro...


– Você tem o dinheiro? – Billy olhou para o banco de trás e eu acompanhei; tinha uma notável bolsa preta, enorme, de couro, que parecia lotada. – Você estava essa merda o tempo todo?


– Eu preferi não entregar assim...


– Preferiu matar seu melhor amigo e me colocar em risco? – gritei. – Preferiu apontar uma arma para aquela menina e...


– Deu tudo certo, não deu? – ele chamava aquilo de “dar tudo certo”? Uma pessoa morreu. Rhys tinha morrido, bem na minha frente... E poderia muito bem ter sido eu... ou Kate, ou Billy ou até o maldito Rio... Nada tinha dado certo.


– Espera aí – olhei de novo a bolsa. – Por que você tem tanto dinheiro? – ele não respondeu. – Billy? De onde veio esse dinheiro?


– Eu juntei por anos, por isso não entreguei. É importante.


– Importante por que? – de repente, tive um estalo. Foi como se todas as peças finalmente tivessem se encaixado na minha mente...


Billy fazia trabalhos ocasionais nas férias, sempre juntava dinheiro, deixava claro para o pai que iria embora assim que pudesse... ele não pareceu surpreso quando Rio disse que não queria mais vê-lo na cidade, mesmo que gostasse de Irvine... Isso significava que...


– Olha, Max, eu...


– Meu Deus! Você ia fugir!


 


~Billy~


Max estava transtornada, perturbada, abalada e traumatizada; tudo tinha acontecido muito rápido, chegado como um maremoto, arrastando todas as emoções e eu não podia culpá-la por estar agindo desse jeito. E agora tudo estava prestes a piorar; eu não podia esconder mais nada dela.


– É, eu ia– falei.


– E planeja isso há anos...


– Sim.


– Eu não acredito. Você me trouxe para a Califórnia, você me fez confiar e acreditar em você para depois ir embora sem se explicar? Ia fugir e me deixar aqui?


– E precisava tanto assim de uma explicação? Achei que o motivo já fosse bem claro.


– Seu pai...


– Claro que é o meu pai... e não, eu não ia largar você aqui. Ia te levar comigo. Sempre foi o plano.


– Como é que é? – respirei fundo.


Óbvio que, no começo, eu queria distância dela, queria sair, sem olhar pra trás, sem me envolver... Mas, com o passar do tempo, concluí que seria pior deixá-la em casa. Mesmo antes de nos mudarmos para Hawkins, mesmo quando ainda a detestava – ou achava que sim –, não desejava a convivência com meu pai para ela. Nem para ninguém, mas eu via Max só como uma criança, não podia deixá-la ali sozinha e nem confiava na Susan para cuidar dela.


– Quando eu saísse, você ia se tornar alvo do meu pai. Eu não queria isso, ia te levar junto.


– Ia me sequestrar?


– Max...


– Eu acho que merecia saber o que você estava planejando para mim. Acho que devia ter me perguntado se eu queria ir, não me arrastar para cima e pra baixo! Devia ter me contado... Ao invés disso, escondeu por todo esse tempo...


– Eu estou contando agora...


– Está pensando em fugir agora?


– Não estamos fugindo... Caso não tenha percebido, já fomos expulsos de casa. Sua mãe ligou e disse que podíamos voltar, mas acho melhor irmos para outro lugar, se não se importar...


– Eu me importo! – ela gritou de novo. – É claro que eu me importo! Porra, Billy! Eu não quero ir, não quero ficar andando por aí como uma mochileira...


– Quer ficar na Califórnia? Podemos voltar para Malibu e...


– Não! Eu quero voltar pra Hawkins! Eu quero ir para Indiana e ficar lá...


– Fora de cogitação – tirei o cinto.


– Billy!


– Max, você não entende. A gente não pode voltar...


– Você é que não está entendendo... Eu não gostava da Califórnia, só tolerava por causa do meu pai e nem ele eu tenho mais! – ela chorava, inconsolável. – Gosto de Hawkins, gosto da cidade, da escola, das pessoas...


– Max, você tem alguma ideia do que meu pretendia fazer com você? – ela respirou fundo antes de responder.


– Sim, ele ia me bater, como faz com você. E eu já estava pronta para lidar com isso – ela não tinha ideia da merda que estava falando.


– Você não tem noção nenhuma do que ele ia fazer – e eu não sei se isso é melhor ou pior. – Só que não ia te bater, ia ser pior. Muito pior e você não está pronta para lidar com isso.


– Quem tem que decidir sou eu!


– Vai por mim, Max, ninguém está pronto para o que ele estava prestes a fazer – senti náusea e raiva só de imaginar. – E se ele estava prestes a fazer algo, enquanto eu ainda estava bem ali... Se eu não estiver mais, não quero nem pensar no que ele pretende. E, mesmo que fosse só bater em você, não tem que estar preparada para isso, Max... não é sua responsabilidade.


– E que diferença faz agora? Você já acabou com ele, seu pai não vai mais nos incomodar, podemos voltar...


– Não conte com isso. Se voltarmos, vai ser pior que antes.


Eu sabia que ela estava com raiva e confusa, os sentimentos misturados. Max era uma garota intensa e sentimental, mesmo que escondesse isso, mas as vezes não entendia o que estava acontecendo. Não podíamos voltar.


Era minha função mantê-la bem longe do imbecil do meu pai e, principalmente, daquela cidade de merda.


– Billy... – sua voz estava mais calma depois de um tempo em silêncio. – Morar aqui era um inferno; a escola era horrível... Eu não tinha amigos, as garotas me trancavam no banheiro e jogavam meus livros no lixo – olhei de relance para ela.


– Como é que é? – estudávamos na mesma escola desde que nossos pais se casaram e eu nunca tinha ouvido falar nisso.


– Era ruim... eu odiava... as pessoas não gostavam de mim, tinham boatos que eu nunca soube como surgiam, quebravam meu skate, me empurravam quando eu passava...


– Como assim?


– Você sabe, Billy. Não eram só as pessoas do meu ano; seus amigos, as garotas com quem você saía... Você sempre esteve no meio deles, você estava lá – franzi o cenho. – Me diziam que você era quem deixava todo mundo fazer essas coisas...


Merda.


– Você era a Zoomer?


– É claro que eu era! – eu lembro de todo mundo zoando com uma tal de Zoomer, fazendo todas aquelas merdas e me contando depois, enquanto eu ria e incentivava tudo... Mas eu não tinha noção que era a Max. Nunca poderia nem imaginar que era ela.


– Se eu soubesse...


– Não importa. Isso passou – ela interrompeu. – Só que sempre foi assim aqui... E quando estávamos em Hawkins foi diferente. Eu fiz amigos... As pessoas gostam de mim lá.


Eu quis acreditar com todas as minhas forças que isso não tinha nada a ver com o Sinclair. Se o que ela estava falando era sério, então, quem sabe, Hawkins tivesse sido bom para Max, mesmo que, por alguma razão que nem eu compreendia, eu detestasse aquele lugar.


Então Max era a Zoomer. Era compreensível ela querer correr daquela escola... Só queria que ela tivesse me contado antes o que estava acontecendo. Eu acabaria com isso num piscar de olhos.


– Eu não posso voltar, Max... meu pai...


– Escuta, Billy, estou cansada... Tudo o que aconteceu hoje foi uma bagunça, eu só quero ir para a minha casa, quero abraçar a minha mãe e ver meus amigos – rangi os dentes. – Eu não quero mais ficar aqui.


– E se eu não quiser ir?


– Então não vai! Me deixa na rodoviária, eu volto sozinha.


– Max...


– Não. Eu não vou ficar fugindo com você como Bonnie e Clyde, não é essa a vida que eu quero para mim... Estar com você não é a vida que eu quero para mim.


Essas palavras me atingiram de um jeito que eu não pude explicar. Eu nunca diria isso a ela, nunca a descartaria assim, falando que não preciso dela... E foi o que ela fez comigo, mesmo tendo prometido que não faria.


– Você prometeu que não ia embora... – falei.


– Eu quero voltar e quero que vá comigo, mas se escolher ir para outro lugar, é você quem está indo embora.


Olhei no fundo de seus olhos azuis.


– Se você quer mesmo voltar – comecei –, então eu volto – não tinha a menor chance de eu deixá-la sozinha com meu pai, mas nem fodendo, mesmo que eu passasse o resto dos meus dias tendo cada osso do corpo quebrado. – Saiba que essa cidade vai acabar com a gente. Vai acabar comigo. Mas eu vou voltar com você, porque eu te amo, Maxine – eu nunca sonhei em dizer essas palavras para alguém e muito menos para ela, simplesmente disse... sem pensar, sem planejar. Foi automático e, surpreendentemente.


Ela arregalou os olhos e abriu a boca, sem emitir um único ruída. Eu não sabia bem o que esperar, tinha alguma expectativa, claro, mas esperava mesmo que ela fosse me abraçar e dizer que poderíamos ir para outro lugar, seguir viagem para longe... Viver juntos.


– Vamos voltar – Max falou, por fim. – Não importa o que vai acontecer, quero voltar.


– O que? – estava terminantemente longe de qualquer coisa que eu estivesse esperando.


– Muita coisa aconteceu desde que nos mudamos pra Hawkins, muita coisa aconteceu quando voltamos pra Califórnia e... Eu preciso pensar nisso tudo. Estou confusa, Billy... e o que aconteceu hoje me fez repensar em que tipo de pessoa você é, quais são os seus objetivos de vida e honestamente acho que não combinam com os meus.


– Mas...


– Fora que, quando voltarmos, seu pai vai estar lá, minha mãe também, vamos sentar para jantar como uma família e... E se o que estivermos fazendo for mesmo errado? Devíamos ser irmãos, irmãos não fazem isso.


– Só pode estar de brincadeira...


– Billy, isso nunca ia funcionar, vamos ser realistas. Você entregou alguém a sangue frio, ia me levar embora contra a minha vontade...


– Não é assim...


– Fora que... eu não quero passar meus dias num carro, na estrada, sem saber o destino de amanhã.


– A gente pode achar um lugar e...


– E eu nunca mais vou ver minha mãe? Nem meus amigos? Não vou voltar para a escola?


– Max...


– Não quero isso, Billy. Quero estar em Hawkins... e você e eu não podemos ficar juntos lá. A gente nunca ia poder andar de mãos dadas ou ir ao cinema ou dizer que estamos juntos ou fazer coisas de casal... você tinha razão, as pessoas vão comentar. Não sei se estou pronta para lidar.


– É isso que você quer? Um relacionamento? – por mais que eu quisesse, realmente não podia fazer nada disso em Hawkins. E pensar em Max fazendo isso com qualquer outra pessoa, principalmente Lucas Sinclair me fazia perder o ar.


– É, Billy. Pode achar ridículo e infantil, eu não me importo, mas é isso que eu quero. E com você, nunca vai dar certo... somos pessoas diferentes demais e você deixou isso claro hoje.


Max estava mesmo me criticando por eu ter salvado a vida dela?


– Eu acabei de dizer que amo você.


– E isso não muda nada! – senti uma pontada no peito e comecei a me arrepender amargamente de cada minuto que passei com ela, de cada palavra ou gesto... – As pessoas ainda vão nos ver como irmãos...


– Se não estivermos em Hawkins, não vai ser assim. Seria um recomeço.


– Mas você já mostrou que não é o tipo de pessoa que namora ou fica com uma garota só – não era verdade, Max não estava sendo justa. – Você sequestrou duas pessoas... Rhys era o seu melhor amigo e você o matou... indiretamente, mas matou. Não quero ficar aqui... preciso de um tempo para pensar, para entender o que estou sentindo e tudo o que aconteceu. Um tempo distante de você, com outras pessoas... sem ficar dependendo só de você.


– Então você pode lidar com seres de outra dimensão mas fica confusa quando entrego um traidor para resgatar você?


– Foi mais do que isso, Billy! Você apontou uma arma e ia atirar numa garota que estava com tanto medo quanto eu... essa frieza com a qual você lida com tudo... Não dá, não aguento. Seria ótimo se as circunstâncias fossem outras e as nossas escolhas coincidissem... mas não é assim.


Respirei fundo e ignorei qualquer pontada que tenha sentido, sufoquei qualquer sinal de dor, arrependimento ou decepção. Por que é que eu já previa que isso ia acontecer? Por um segundo, achei mesmo que Max seria diferente, que ia me apoiar em qualquer situação e ficar do meu lado sempre, como tinha prometido... Bem, eu estava errado. Era exatamente por esse motivo que eu nunca me envolvia demais com ninguém.


Devia ter transado com ela naquele Halloween e depois seguido normalmente, como fazia sempre com qualquer outra garota. Nunca devia ter dado tanta importância a ela.


– Como você quiser. Pega as suas coisas.


Nós dois pegamos as mesmas mochilas que levamos com algumas roupas e eu levei a polaroid, ainda com a foto dela guardada. Queimaria essa foto assim que tivesse a oportunidade.


Antes de sairmos, acendi um cigarro e olhei pela janela do quarto; Max já estava no carro, pronta para ir e não olhar para trás. De novo.


Traguei uma vez; uma sensação passageira de paz percorreu meu corpo e traguei de novo. Como sentia falta disso... Guardei o maço no bolso da camisa; seria uma longa viagem e eu precisava da nicotina para aguentar.


O que quer que tenha acontecido comigo nesses dias, ficava para trás, junto com Irvine. Com a volta para Hawkins, o antigo eu voltaria também; pelo menos eu não me sentia mal agindo daquele jeito.


Max e eu tínhamos acabado. E, com esse término, foi embora qualquer sentimento que eu poderia ter tido por ela... era nisso que eu ia acreditar, era o que eu ia repetir até se tornar verdade.



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Autor(a): nirvana666

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~Max~ Eu sabia que tinha exagerado; fui dura demais nas palavras, falei muita coisa sem pensar... Billy estava certo, eu tinha prometido que não ia deixá-lo e agora falei com todas as letras que preferia ir para Hawkins a ficar com ele. É claro que eu preferia voltar para Hawkins; os dias na Califórnia foram bons, mas ainda sentia falta daquela ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • merophe Postado em 13/08/2022 - 19:52:52

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