Fanfic: Improvável | Tema: Stranger Things
~Max~
Eu sabia que tinha exagerado; fui dura demais nas palavras, falei muita coisa sem pensar... Billy estava certo, eu tinha prometido que não ia deixá-lo e agora falei com todas as letras que preferia ir para Hawkins a ficar com ele.
É claro que eu preferia voltar para Hawkins; os dias na Califórnia foram bons, mas ainda sentia falta daquela cidadezinha minúscula no meio do nada. Talvez eu não devesse ter falado daquele jeito com ele, devia ter sido mais sutil, para convencê-lo a voltar... Mas Billy precisava entender que eu estava com medo. Tinha acabado de ver uma pessoa ser morta e não era qualquer pessoa, era o Rhys, o melhor amigo dele... Alguém que eu conhecia há anos e, de certa forma, tinha um vínculo.
Aquilo me abalou profundamente.
E saber que foi Billy quem o entregou, sabendo que ele ia morrer, mesmo tendo o dinheiro... isso acabava comigo. Fora a garota que ele sequestrou e a arma, as ameaças... Eu não sabia mais do que Billy era capaz e isso me assustava muito.
Além desse plano maluco de fugir comigo, antes mesmo de irmos para Hawkins... ele juntava esse dinheiro há muito tempo, planejava me levar embora há muito tempo e nem ia perguntar o que euqueria...
Estava apavorada. Precisava de uma zona de conforto, um lugar onde eu pudesse respirar e chorar, pensar em tudo e me recuperar daquela merda... o único lugar que conseguia pensar era Hawkins. Eu gostava de lá. Precisava da minha mãe, do meu quarto, dos meus amigos... Lucas era uma pessoa compreensiva, ele ia me escutar e dizer que ia ficar bem, depois me fazer rir com alguma besteira...
Fora que Billy nunca ia poder dar o que eu queria. Podia parecer idiota, mas sempre quis namorar, casar e formar uma família... e ele não queria nada daquilo. Queria passar a vida cruzando o país de carro... poderia ser divertido por um mês, talvez nas férias, mas não viver assim.
Billy não era do tipo que namorava, nunca íamos andar de mãos dadas pela rua ou rir juntos, como um casal de verdade. Ainda assim, nada justifica o jeito que falei com ele e eu sabia.
Ainda ia conversar com ele quando chegássemos em Indiana e esfriássemos a cabeça... ia pensar no que dizer. Não precisávamos voltar a brigar daquele jeito de antes, nem nos odiar... Queria resolver tudo com ele. Podíamos ter algum tipo de amizade e, quem sabe, dali a uns anos, o que ia acontecer?
A única coisa que eu tinha certeza era que, por hora, não queria me comprometer a nada com ele. As atitudes dele naquela noite me fizeram repensar tudo o que pensei que sabia.
Billy dirigia rápido, mas não parecia ser para me assustar dessa vez, só parecia querer fugir dali o mais rápido que pudesse. Então fiquei quieta, considerando que eu tinha o mesmo sentimento... me afastar do Rio e de toda aquela loucura da Califórnia para voltar para a loucura de Indiana.
~Billy~
Max e eu não trocamos uma palavra durante o longo e cansativo caminho de volta; inclusive, tinha motivos para acreditar que Max dormiu no banco ao meu lado, mas não tive coragem de olhar para ela para verificar. Eu sabia que se a visse, mudaria de ideia, a levaria para bem longe daquele lugar, longe do meu pai, do lar problemático, dos amiguinhos dela, daquelas criaturas grotescas, de qualquer merda... Poderíamos ir pra Nova York, Texas, Oregon, Carolina do Sul... Tínhamos um país inteiro. Poderíamos recomeçar.
Flórida era uma ótima opção... tinha praias, mas também outras opções para ela. Poderia ensiná-la a nadar e a surfar e ficaríamos bem... arrumaria um emprego, talvez até como professor de surf. E, se Max quisesse, poderíamos nos estabelecer permanentemente em algum lugar, não tínhamos que passar a vida viajando de carro...
Mas não. Ela queria voltar para o buraco negro, o centro de tudo. Eu odiava Hawkins e era muito mais do que “apenas por ser uma cidade pequena”; não gostava daquele lugar, me sentia mal quando estava lá... tinha a impressão de que continuar em Indiana nos levaria à ruína. Aquela cidade não tinha nada de bom a oferecer, nada.
Respirei fundo. Cada vez que eu acelerava, meus pensamentos gritavam mais alto para que eu pegasse o primeiro retorno e fosse para outro lugar... Segui a estrada. Max queria voltar e eu voltaria, por ela, mesmo que eu só quisesse uma vida diferente. Eu voltaria porque eu nunca seria capaz de deixá-la sozinha naquele inferno
Fui. Ainda tinha a esperança de que em alguns dias, Max se daria conta do erro que tinha cometido.
Senti um calafrio assim que li a placa de madeira “Hawkins” na entrada da cidade.
“Sua última chance de sair desse merda” algo sussurrou dentro de mim. Ignorei o que quer que fosse; não importava mais o que eu queria.
Estacionei o carro na garagem de casa. Meu pai não estava e eu tive sérias dificuldades em concluir se era algo bom ou ruim; ele não iria fazer nada com a gente quando entrássemos, mas, se voltasse bêbado... Seria um problema enorme.
Ao mesmo tempo, eu meio que estava esperando por isso, estava esperando que ele chegasse, gritando, socando as paredes e, em seguida, fazendo o que quisesse comigo, até cansar. Eu queria. Precisava me livrar do que realmente estava sentindo, tinha que tirar da cabeça tudo o que aconteceu entre mim e a Max e não tinha jeito melhor de fazer isso do que lidando com a dor física.
– Vocês voltaram! – Susan correu até a Max para abraçá-la assim que passamos pela porta. – Isso é tão bom... Como foi a viagem? Vocês estão bem?
Como eu sentia repulsa dessa mulher... como ela podia ser tão cínica e falsa?
– Estou bem – Max falou, retribuindo o abraço. – Só estou cansada.
– Tudo bem, filha. Seu quarto está arrumado, pode ir descansar...
Então ela não ia contar o que tinha acontecido naqueles dias. Não que eu estivesse esperando algo do tipo “fui sequestrada pelo nosso antigo vizinho que é traficante de drogas por causa de uma dívida do amigo do Billy”, mas pensei que ela faria algum comentário. Nada... Isso soava ainda pior, quase como se ela nem se importasse com os últimos dias.
Susan e eu observamos enquanto Max se afastava e, quando finalmente a perdemos de vista e ouvimos a porta bater, Susan se voltou para mim, com um sorriso amarelo.
– Obrigada por cuidar dela, Billy. E por... Você sabe... – cruzei os braços.
– Por ter feito o que você não teve coragem de fazer? – ela estreitou os olhos. – Por fazer o seu trabalho?
– Olha...
– Para – falei, firme. – Ia mesmo deixar ele continuar?
– Não é tão simples...
– Discordo – interrompi. – É uma pergunta muito simples. Ia deixar ou não?
– Era eu ou ela! – ri, com um gosto amargo na boca.
– Quanta nobreza, Susan. Achei que as mães sempre colocassem os filhos em primeiro lugar – a minha mãe foi uma exceção e agora ela também; estava começando a achar que não era bem assim. – Pelo visto, eu estava errado.
– Você não sabe como é.
– Não? Ele é meu pai. Eu convivo com ele há muito mais tempo do que você poderia sequer sonhar. Não pense que sabe mais do que eu.
– O que queria que eu tivesse feito nessa situação? Não tinha saída.
– Você não devia ter deixado ele chegar nem perto dela. Devia sentir nojo só de ter cogitado em deixar ele continuar aquele joguinho doentio... Devia ter ido embora na primeira oportunidade e levado ela junto.
– Eu não faria isso... O Neil...
– Sorte sua que a Maxine não percebe o lixo de mãe que você é.
– Mas...
– Não devia ter vindo para essa cidadezinha de merda só por causa dele – me aproximei e abaixei o tom de voz. – Devia ter batido a porta no primeiro grito, no primeiro tapa – percebi uma lágrima começando a surgir no olho esquerdo dela; ótimo, era isso o que eu queria. – Você fez uma escolha ruim e agora a sua filha está pagando o preço... – balancei a cabeça. – Nunca devia ter se casado com ele, Susan – passei por ela e fui direto até o meu quarto, disposto a esquecer tudo, esquecer Max e rezar para que Susan tivesse um choque de realidade e fosse para bem longe.
Mas, no fundo, não acreditava que ia, de fato, acontecer.
~Max~
O Sr. Hargrove não estava em casa quando chegamos, o que foi um alívio para mim e imaginava que para Billy também. Minha mãe me abraçou e eu abracei de volta, feliz por, finalmente, me sentir em casa. Mas ainda com um milhão de coisas passando pela minha mente.
Fui para o meu quarto na primeira oportunidade que tive, fechei a porta e me joguei na cama, deixando todos os últimos acontecimentos me rondarem.
Billy tinha dito que me amava. Esse era um pensamento que eu estava particularmente evitando durante a viagem, tentando me convencer de que não era real e que não tivemos aquela conversa... agora, porém era inevitável.
Billy me tratava que nem lixo até pouco tempo atrás e, sim eu sabia que tinha acontecido muita coisa, que ele tinha motivos para ser um babaca e, no geral, não o culpava; mas, mesmo assim, foi tudo tão rápido... Não podia lidar com isso. Eu nunca devia ter me envolvido com ele de algum jeito, para começo de conversa.
Não éramos irmãos; pelo menos, não de sangue, mas, na teoria, era assim que todos nos viam, irmãos postiços. Eu queria que desse certo, antigamente acreditava que podia, estava vendo que ele tinha mudado, se tornado uma pessoa melhor, me tratando bem...
Mas agora ele disse aquelas três palavras no pior momento... eu não sabia mais o que sentia, não sabia mais se podia confiar nele... Respirei fundo.
Claro que podia confiar nele. Apesar de tudo, ainda era o Billy de sempre, era a pessoa de quem eu gostava, ele cuidava de mim e, mesmo que tenha entregado Rhys para o Rio... fez isso por mim. Não que justificasse essa atrocidade, só que eu podia entender um pouco o lado dele...
Mas estávamos em Hawkins e não poderíamos ter nada, nada podia acontecer entre nós. Minha mãe ficaria uma fera se descobrisse, o pai dele... nem sei o que seria capaz. Na escola, tinha certeza que toda aquela merda ia voltar, Lucas e Dustin e os outros garotos não entenderiam... eles achavam que Billy era meu irmão e nada tirava isso da cabeça deles.
Eu queria ficar naquela cidade e, naquela cidade, não poderia ficar com Billy. Eu não tinha certeza se queria continuar com ele, depois de tudo... precisava mesmo pensar. Quem sabe, dali uns anos, quando fôssemos mais velhos e as pessoas finalmente aceitassem que não éramos irmãos...
Ou não. Mesmo que as coisas tivessem melhorado, minha relação com Billy ainda era muito conturbada e eu não podia viver num relacionamento com medo do temperamento dele...
Preferi voltar para Hawkins e ficar perto dos meus novos amigos.
Mike ainda tinha uma certa resistência comigo, porém tinha certeza que, com o tempo, poderíamos ser bons amigos; Dustin era fofo, engraçado e companheiro, a gente se dava bem, mesmo que ele tenha me chamado de “estranha”... E tinha o Will... Ele era meio perturbado com todo esse lance dos militares, demogorgons e mundo invertido, mas achei que, quando as coisas voltassem ao normal, ele seria legal. Também tinha a Eleven, alguém que eu tinha esperanças de me aproximar e, quem sabe, fazer amizade, ainda que ela não parecesse gostar muito de mim...
E o Lucas. Talvez ele fosse meu favorito daquele grupinho... Era meio infantil as vezes, como os outros, mas, geralmente, me ouvia e fazia coisas para me agradar, me tratava bem. Era um garoto paciente, fácil de lidar, que se esforçava para me entender e não me julgava.
Eu sabia que ele tinha uma queda por mim e, por mais que não fosse exatamente recíproco, eu ainda podia usar isso a meu favor; estar com ele seria bom, ter outro foco, outra pessoa para passar meu tempo, não ficar pensando vinte e quatro horas no Billy. Além do mais, seria uma desculpa perfeita para passar menos tempo em casa; não ia ser tão difícil. Talvez eu até acabasse conseguindo gostar dele do mesmo jeito que gostava de Billy, se insistisse um pouco... aí sim todos os problemas estariam resolvidos.
Eu só precisava ir com calma. Lucas provavelmente nunca tinha namorado e, talvez, nunca tenha nem beijado alguém, o que era ótimo, já que seria ainda mais fácil de chegar onde eu queria.
Me enfiei embaixo das cobertas, esgotada, revivendo tudo o que tinha acontecido nos últimos dias. Não dava para negar que foi bom, com exceção de ter sido sequestrada por um traficante e visto o Rhys morrer, foram dias tranquilos, nos quais eu não precisei me preocupar com a opinião de ninguém, não tive que fingir que estava tudo perfeito, porque realmente estava... mesmo que ainda sentisse saudades de Hawkins.
Mas esse conto de fadas tinha acabado e eu voltei pra vida real, onde tinha experimentos do governo, garota telecinética, monstros num portal e drama familiar. E um quase romance improvável...
Fechei os olhos e deixei que o cansaço tomasse conta de mim, sabendo que, no dia seguinte, teria que voltar para a escola e encarar Billy.
~Billy~
– Então voltou das férias? – era por volta das duas da manhã quando meu pai entrou no quarto, com a voz arrastada, segurando uma garrafa de cerveja e cambaleando.
– Oi, pai – suspirei. Ainda não tinha dormido, estava simplesmente esperando por esse momento; precisava disso, sabia que ia acontecer.
– Não ouse me chamar de pai – ele apontou o dedo na minha cara e eu desviei o olhar. – Agora que voltou... – de repente ele me acertou no rosto, o que me fez dar uns passos para trás. – Vamos esclarecer algumas coisas, seu merda – outro soco, na boca do estômago; agora ele estava muito perto de mim. – Está pensando em me desafiar de novo?
– Não, senhor – respondi baixo.
– Ótimo.
– Desde que não chegue perto dela de novo – meu pai soltou uma risada histérica.
– Você é mesmo mole.
– Estou te deixando fazer o que quiser comigo, mesmo eu podendo te derrubar com um golpe e sabe disso... sabe que posso te vencer, já deixei claro. Mas não vou fazer nada, desde que não encoste na Max.
Ele ponderou por um tempo, ainda sorrindo, depois se afastou e foi até a porta.
– Não se esqueça de que sou eu quem manda nessa casa – dito isso, ele jogou a garrafa de cerveja na minha direção e eu coloquei a mão na frente, para impedir que acertasse a minha cabeça.
A garrafa quebrou, espalhou uma quantidade razoável de sangue, cerveja e cacos de vidro. Merda. Eu tinha que dar um jeito nisso.
~Max~
Billy já estava me esperando no carro quando saí de casa, apressada; acabei dormindo uns minutos a mais.
Ele usava óculos escuros e virou a cabeça lentamente quando bati a porta do carro e coloquei o cinto. Vi uma faixa branca enrolada em sua mão esquerda.
– O que aconteceu com a sua mão? – perguntei.
– Não é da sua conta – ele deu partida e acelerou. Observei seu rosto e, mesmo com os óculos dele, consegui ver o início de um hematoma roxo.
– E sua bochecha?
– Também não é da sua conta – ele falou friamente.
– Mas...
– Resumindo, Max, nada do que acontece comigo é da sua conta. Vê se para de encher o saco.
– Billy, podemos conversar?
– Não.
– Por favor, só me escuta...
– Que parte do “não” você não entendeu, porra? – ele gritou. – Você fez uma escolha, agora lide com as consequências.
Eu conhecia bem esse tom. Billy não ia falar comigo tão cedo e não dava para culpá-lo. Não precisava pensar muito para saber que o que quer que tivesse acontecido na noite anterior tinha a ver com o pai dele. Eu me sentia culpada... ao mesmo tempo, me perguntava porquê Billy não podia enfrentar o pai, como tinha feito antes... era simples.
Pensei mesmo que depois do que aconteceu antes de irmos para a Califórnia as coisas melhorariam, que o Sr. Hargrove o deixaria em paz e ficaríamos bem, mas, pelo visto, eu estava enganada. Eles deviam ter brigado ontem a noite e as coisas não terminaram bem.
Aquela parte de culpa estava começando a me corroer... Eu fui uma escrota quando Billy disse que amava e eu simplesmente acabei qualquer coisa entre nós, depois, ele implorou para não voltarmos e eu insisti para virmos para Hawkins... E agora o maldito pai dele estava o atormentando de novo...
Eu queria mesmo conversar com Billy quando estivéssemos mais calmos, esclarecer as coisas, dizer que eu não fui sincera quando falei algumas coisas na noite anterior... que o problema não era ele, como, sem querer, acabei insinuando. Max Billy estava muito irritado e com razão, então eu ia esperar até que ele estivesse pronto para me ouvir.
– Max! – Dustin e Lucas correram até mim assim que passei pela porta da escola; os dois me abraçaram.
– E aí... – falei, meio desconfortável com o excesso de toque físico.
– A gente não sabia quando você ia voltar... – Dustin disse, me olhando com um sorriso de orelha a orelha. – Estou feliz que esteja aqui agora.
– Nós estamos – Lucas pigarreou. – Enfim, você está bem?
– É, está tudo bem? Seu irmão parecia bem irritado da última vez que nos vimos... mesmo depois de... você sabe... – suspirei, sentindo ânsia ao pensar na palavra “irmão”. Não importava qual seria nossa relação dali para frente, nunca seríamos irmãos.
– Sim, tudo ótimo – passei pelos dois e sentei no meu lugar; era bom estar de volta. – O Steve está bem? Ele se recuperou?
– Depois da surra que ele levou do seu irmão? – Dustin falou e Lucas o cutucou para que ficasse quieto. – Ah desculpa... A gente sabe que não é culpa sua.
– O Steve está bem – Lucas forçou um sorriso. – Os hematomas ainda vão ficar por um tempo, mas ele vai sobreviver. Ele também pediu para agradecer por você ter salvo a vida dele...
– Foi o Billy quem matou o demodog... – falei, sentindo um nó na garganta quando lembrei que Billy partiu para cima daquela coisa só porque eu estava em perigo. – E a Eleven? Ela está bem?
– Eu diria que sim – Lucas respondeu e sentou na mesa na minha frente.
– Ela está ótima, ficou feliz por ter conseguido fechar... aquilo... sabem? – Dustin falou mais baixo.
– Ela vai começar a frequentar a escola ou...? – perguntei.
– Não temos ideia... – Lucas respondeu.
– Mudando de assunto – Dustin sentou atrás de mim. – Você vai para o baile de inverno com a gente, não vai? – olhei para ele.
– Como assim “com a gente”?
– Nós costumamos ir aos bailes de escola todos juntos, não em pares, igual a maioria – Lucas interviu. – Se bem que esse ano...
– Esse ano seria legal se você fosse com todos nós – Dustin interrompeu. – Topa?
– Nosso baile é junto com o do ensino médio – o que significava que Billy também estaria lá... e com alguma garota. Eu não duvidava que ele fosse fazer isso só para me irritar. E eu meio que merecia.
– Não sei... Não sou fã de bailes, vestidos e essas coisas idiotas – mas era uma boa oportunidade para me aproximar do Lucas; e eu finalmente tinha companhia para ir num desses bailes estúpidos de escola, diferente de como era na Califórnia. – E o Mike... Ele ainda não gosta de mim. E o Will...
– Mike está ocupado demais pensando na Eleven. E o Will... Ele gosta de você. Ou, pelo menos não desgosta... E você não precisa usar vestido se não quiser, só queremos muito que você vá, como nossa companhia – Lucas falou, com um sorriso apelativo.
– Eu vou pensar – concluí, sem muita expectativa; se pudesse ter a certeza que Billy não iria, eu iria sem pensar duas vezes.
~Billy~
Max ia ficar uma fera comigo assim que visse que eu a deixei para voltar sozinha, de skate para casa. Mas eu avisei que se ela se atrasasse era isso que ia acontecer e eu não ia tolerar nem mais um minuto; e, de qualquer forma, não era tão longe assim.
Jody, uma garota morena, de grandes olhos negros estava no meu quarto, com um sorriso largo e esperançoso. Ela estudava na sala ao lado da minha e foi literalmente a primeira menina, além da Max, em que eu coloquei os olhos hoje. E foi com ela que resolvi voltar para casa.
– Vai me contar com quem brigou? – ela fez menção de que tocaria meu rosto, mas eu segurei seu pulso com força. A garota fingia uma preocupação excessiva, grudenta e irritante; por que todas eram assim?
– Não – eu só precisava enrolar mais um pouco; sabia que a Max chegaria logo e iria correr até o meu quarto para tirar satisfação por eu ter ido sem ela e eu queria que visse essa cena.
– E o que vamos fazer então? – ela se aproximou e eu a beijei, puxando seus quadris para perto.
Claro que eu podia transar com ela, podia aproveitar uns minutos da minha vida, tirar a cabeça de toda a merda de Hawkins, mas não ia fazer aquilo, embora Jody estivesse esperando que eu fizesse.
No fundo, se dependesse de mim, até faria. Antes, eu ficava excitado só pensando ou dizendo o nome dela, gozava com facilidade, mas agora, beijar outra garota tinha perdido a graça... não tinha nem porquê eu continuar. Eu simplesmente não conseguia sentir atração por alguém que não fosse a Max. E odiava isso.
– Caralho – falei me afastando assim que senti uma dor aguda na mão, no lugar onde meu pai tinha quebrado a garrafa; tinha esquecido desse detalhe e, acidentalmente, apertado a garota um pouco mais do que devia.
– Isso parece feio... Tem certeza que está tudo bem, Billy? – revirei os olhos.
Na noite anterior, eu improvisei um curativo rápido, não perdi muito tempo analisando se os cortes eram profundos nem nada assim; estava torcendo para que cicatrizasse logo, mas o sangue não parava de manchar a faixa e estava me irritando.
Ouvi uma batida forte na minha porta e esbocei um sorriso. Finalmente, Max...
– Fica aí – falei para a garota.
Assim que abri a porta, vi Max suada, segurando o skate, bem puta comigo.
– O que você quer?
– Está brincando? Você voltou para casa sem mim!
– Você atrasou.
– Dois minutos, Billy, dois minutos, porra! – dei de ombros. – Eu sei que está com raiva, mas essa sua implicância está insuportável! Quero que pare.
– Acha que eu me importo com o que você quer?
– Billy...
– Não, Max, eu não me importo. Quer mais alguma coisa? Eu estou ocupado agora – abri um pouco mais a porta, sabendo que Jody ia aparecer; Max fixou os olhos nela, pouco antes de olhar para mim de novo.
Arqueei as sobrancelhas, quase como se a desafiasse a me encarar, convidando-a a fazer um escândalo sobre como eu era um babaca, sobre como foram nos últimos dias e como eu estava sendo escroto pegando outra garota bem ali, no quarto ao lado. Surpreendentemente, ao invés de levantar o tom, me xingar ou dizer qualquer coisa, Max só saiu do corredor, foi até o quarto dela e bateu a porta, sem olhar para trás. Bufei. Não era bem a reação que eu queria, mas meu objetivo foi parcialmente atingido.
Assim que me virei de novo, Jody se pendurou em cima de mim, pronta para voltar a me beijar, mas eu a afastei.
– Acho melhor você ir embora – falei.
– Por causa da sua irmã?
– Ela não é minha irmã. E não é por ela – na verdade, era sim, mas ela não tinha que saber – é porque minha intenção não é transar com você.
– Não entendi.
– Não quero ficar com você. Sai daqui.
– Por que isso do nada? A gente não estava...
– A gente tesava. Agora não estamos mais. Só estava usando você e, agora não tem mais utilidade.
– Eu não ligo de estar me usando – que falta de amor próprio, coitada dessa garota –, mas se quer fazer ciúme em alguém, faça direito – ela se aproximou mais, de um jeito bastante sedutor.
– Não estou interessado, Jody.
– Vou falar para todo mundo – cruzei os braços –, você não vai conseguir o que quer, ninguém vai acreditar que a gente transou, vou fazer questão de espalhar para escola toda que você me trouxe até aqui e me mandou embora depois de um beijo.
– Beleza, pode falar.
– Não vai fazer ciúme em ninguém.
– Isso é problema meu – Max já a viu no meu quarto, já pensou merda e as fofocas de ensino médio não chegariam nos ouvidos dela.
– Não entendo... Você é Billy Hargrove, pode ter a garota que quiser na sua cama – normalmente eu perderia a paciência.
– Aparentemente, não a garota que eu quero.
– Então ela deve ser esperta. Ficar longe de você é o melhor que ela poderia fazer – estreitei os olhos. – Uma garota que presta, nunca ficaria com você... Ela, com certeza é boa, merece mais que um idiotinha como você... – sem raciocinar direito, pressionei minha mão contra o seu pescoço, deixando-a colada na parede, ardendo de raiva.
Eu sabia que ela estava certa, Max era esperta, estava tomando a melhor decisão ao se afastar de mim, merecia bem mais, mas ouvir outra pessoa dizendo isso acabava comigo.
– Agora que tenho sua atenção... – Jody deu um sorriso malicioso enquanto eu a segurava – E que está irritado... Me diz, o que vai fazer comigo? – era um jogo para ela, Jody queria que eu fosse agressivo, queria usar isso a seu favor.
Cheguei mais perto, olhando no fundo de seus olhos.
– Faça um favor para si mesma e vai embora – eu a soltei, e ela me encarou, perplexa.
Autor(a): nirvana666
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
~Max~ Eu não sabia o que sentia pelo Billy, não podia dizer que era amor ou que estava apaixonada... E também não podia negar isso, já que eu não tinha a menor ideia do que era. Só que eu era nova demais para lidar com qualquer paixão estranha desse nível, nova demais para qualquer coisa que envolvesse ele. E er ...
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