Fanfic: Improvável | Tema: Stranger Things
~Max~
Eu não sabia o que sentia pelo Billy, não podia dizer que era amor ou que estava apaixonada... E também não podia negar isso, já que eu não tinha a menor ideia do que era. Só que eu era nova demais para lidar com qualquer paixão estranha desse nível, nova demais para qualquer coisa que envolvesse ele. E era essa uma das razões pela qual eu não podia perder a calma e surtar quando vi aquela garota no quarto dele.
Eu o dispensei no minuto em que vi que as coisas ficariam mais sérias e isso ainda me deixava confusa... mas ver aquela menina com Billy, logo depois de ele ter me largado na escola e me feito voltar pra casa sozinha, de skate... De algum jeito, mexeu comigo. Meu estômago revirava a cada vez que eu pensava na frieza com que ele estava me tratando; até pouco tempo, não estava nem aí, era só ignorar, fazia isso desde que nossos pais tinham se casado... Mas, depois de experimentar, de ver como ele podia ser incrível quando se importava, essa indiferença estava começando a doer. Antigamente, eu não tanto ligava para quem ele trazia, com quem ele transava ou não, se ele não queria falar comigo sobre os problemas com o pai, se ia brigar, gritar ou me deixar sozinha caso eu me atrasasse... Agora era diferente. Eu queria que ele se importasse de novo e, ao mesmo tempo, tinha em mente que não podíamos ter nada... Queria falar e sabia que ele não ia ouvir.
Saco.
Evitei sair do quarto por bastante tempo, sem querer correr o risco de esbarrar em Billy, mas chegou um momento que não dava mais para fugir, eu tinha que sair, comer, beber água, respirar um pouco... Infelizmente, não podia passar o dia enfiada no quarto.
Assim que pisei para fora, dei de cara com ele, mas antes, que eu tivesse tempo de reclamar, vi o sangue pingando na faixa em sua mão. Arregalei os olhos.
– Billy, isso está feio... – falei me aproximando, encarando o sangue.
– Não enche – ele virou de costas.
– Deixa eu ver... – insisti.
– Não.
– Para de agir como uma criança mimada! – gritei. – Se não quer conversar comigo, que se foda, mas deixa eu ver como está sua mão ou procura um médico, porque, sério, está horrível e pode ficar pior! – Billy me encarou por um tempo e eu pensei mesmo que ele fosse gritar de volta ou ficar com mais raiva ou começar a me xingar... Mas, ao invés disso, ele simplesmente bufou e assentiu.
– Se for pra você calar a boca... que seja – ele foi até a cozinha e eu o segui; sentamos em cadeiras, uma de frente para a outra; ele estendeu o braço esquerdo, deixando a mão pousada sobre o meu colo; lentamente desenrolei a faixa.
– O que foi que aconteceu? – perguntei boquiaberta; tinha cacos de vidro coloridos, muito sangue e parecia prestes a infeccionar.
– O que você acha? – merda, eu não queria ter razão.
– Seu pai...
– É, Max, meu pai – me perguntei como ele tinha feito isso, mas não queria saber a resposta só para ficar remoendo depois.
– Espera um pouco – levantei rápido e fui até o quarto da minha mãe para pegar uma caixa de primeiros-socorros e uma pinça, e voltei.
– O que acha que vai fazer? – Billy olhou desconfiado.
– Você devia ter tirado esses cacos antes... E limpado... E passado alguma coisa... E feito literalmente o contrário do que você fez.
– Como você é chata... Ai! – puxei o primeiro caco sem aviso, depois de ter esterilizado a pinça.
– Está doendo? – puxei outro.
– Claro que está doendo, cacete! – ótimo; não era exatamente a minha intenção, mas tinha que admitir que estava gostando. Billy merecia um pouco de dor, depois de me tratar como estava tratando... Além de eu ter odiado vê-lo com aquela garota. Desnecessário.
– Sua amiga já foi? – sua expressão mudou e eu me arrependi imediatamente de ter perguntado.
– Talvez ela volte.
– Que bom, vocês ficam lindos juntos.
– Está com ciúme? – não pude deixar de notar um sorrisinho presunçoso em seus lábios.
– Não – respondi tirando outro caco, um pouco maior.
– Ai! – ele gritou de novo. – Max, você está fazendo de propósito!
– Por que eu faria de propósito? – ele estreitou os olhos, mas não respondeu.
Continuei colocando os cacos de vidro ensanguentados em um pedaço de papel.
~Billy~
Era incrivelmente irritante como, mesmo que eu a desprezasse, dissesse para me deixar em paz e até ficasse com outra garota bem na frente dela, Max não deixava de se importar e querer tomar conta de mim. Mas também não podia negar que gostava dessa certa atenção vinda dela. Era a única garota que parecia genuinamente preocupada comigo, ao invés de fingir, achando que isso somaria pontos comigo.
– Você tem sorte – ela declarou por fim, depois de, cuidadosamente retirar os cacos, jogar álcool, passar algum remédio que não fiz questão de ler o nome e colocar um curativo, bem melhor do que o que eu fiz às pressas na madrugada anterior. – Poderia ter sido muito pior... Mas acho que nenhum corte foi tão profundo para levar pontos, então vai cicatrizar rápido. Só não fica pegando peso, nem forçando a mão. E troca o curativo para não infeccionar.
– Mais alguma coisa, doutora Mayfield? – ela revirou os olhos; eu fiz menção de levantar, mas, antes que eu tivesse a chance, Max colocou a mão sobre o meu pulso esquerdo.
– Espera.
– Que foi? – embora eu quisesse retirar a mão dela dali, gritar e tentar manter a maior distância possível, não movi um músculo.
– Podemos conversar?
– Não temos nada para conversar.
– Tudo bem, você não precisa falar nada, só me escuta... – antes que eu pudesse questionar. Max começou a vomitar as palavras em cima de mim. – É sobre o que falamos no carro, no caminho da Califórnia para cá – desviei o olhar; aquele com certeza era o último assunto no qual eu gostaria de tocar. – Quero dizer que sinto muito pelo que eu disse e pelo que... Não disse. E talvez devesse ter dito – arqueei a sobrancelha, cravando meus olhos naqueles globos azuis, intensos e cheios de mistério. – Billy, eu gosto de você, gosto muito e acho até que bem mais do que eu deveria, do que seria aceitável e tudo o que aconteceu nesses últimos dias foi... Bem incomum – não era a palavra que eu usaria para definir.
Nunca imaginei que fosse gostar assim de alguém, a ponto de dizer que amo... Ainda mais alguém que eu deveria considerar como irmã caçula. Nunca sequer cogitei em me apaixonar por qualquer pessoa.
E, apesar de toda essa complicação, Max ainda conseguia mexer comigo de um jeito que não pensei ser possível, as palavras que ela dizia naquele momento – e as que não parecia disposta a dizer – me machucavam. Eu preferia ter levantado e ido fazer qualquer outra coisa, dirigir, beber, fumar, socar um saco de pancadas ou ficar de frente para o meu pai bêbado... Mas, por alguma razão, meu corpo e minha mente não estavam conectados e eu simplesmente continuei imóvel, assistindo ao que parecia ser minha própria ruína.
~Max~
Tentei ser o mais cuidadosa que pude em cada frase minha; sabia que o Billy era meio instável e qualquer vírgula fora do lugar poderia fazer com que ele perdesse o controle.
– Mesmo assim – continuei calmamente –, não acho boa ideia continuarmos com o que quer que seja. Não estou pronta para lidar com isso agora... Pelo menos, não com você. E, quem sabe, um dia, as coisas sejam diferentes entre nós, mas eu não sei... Vamos tentar manter uma relação normal, como se fôssemos... – me controlei para não dizer “irmãos” – amigos. Ou, sei lá, conhecidos, que se respeitam. Pode ser?
Dei um sorriso fraco. Billy permaneceu em silêncio, me encarando com uma frieza surreal, sem demonstrar absolutamente nada... Fui incapaz de sequer imaginar o que se passava na mente dele naquele momento.
Ainda sem dizer nada, Billy se levantou muito devagar, caminhou até o corredor que levava para os quartos e fechou lentamente a porta do quarto dele. Achei que aquilo tivesse sido um “não”.
Fiquei sentada, contemplando a cadeira vazia no mais absoluto silêncio. Preferia que ele tivesse gritado, quebrado alguma coisa, ficasse furioso, ou mesmo chateado... Mas aquela reação... A falta de emoção naqueles olhos verdes, com os quais eu já tinha me acostumado a ver tanto ódio e uma intensidade de sentimentos... Não tinha nada pior que isso.
Respirei fundo e levei alguns minutos até finalmente me recompor e organizar a mesa. Billy não queria falar comigo, não tinha mais nada que eu pudesse fazer a respeito e eu precisava pensar nas provas e no baile que iria com os meninos. A vida tinha que seguir. Ele tomou uma decisão e eu precisava respeitar, mesmo que isso doesse em mim.
Os dias passaram com uma velocidade anormal; eu até tentei falar com Billy casualmente, dizer “bom dia” e “tchau”, o que não fez diferença nenhuma, ele continuou em voto de silêncio, me levando e trazendo da escola, sem nem me olhar. O lado bom era que os roxos do rosto dele estavam sumindo e, depois de um certo tempo, não usava mais nenhum curativo na mão, o que significava que já tinha melhorado... uma notícia positiva, ao menos. Eu não ligava mais para o meu pai, mas ainda sentia o coração disparar toda vez que o telefone de casa tocava. E ainda usava o relógio amarelo de pulso que ele tinha me dado; era difícil deletar alguém que esteve presente em todos os anos da minha vida.
– E então, filha? – no primeiro dia de dezembro, minha mãe entrou no meu quarto, com ares superiores e extremamente animada. – Já sabe com qual vestido você vai ao Baile de Inverno da escola? – fechei a cara no mesmo instante.
– Vestido? – larguei a folha, na qual estava desenhando uma caveira em cima de um skate, um modelo para, quem sabe, pintar no meu skate algum dia.
– Sei que não gosta muito, mas é um baile... Podemos sair para comprar algum vestido que seja a sua cara, o que acha?
– Fora de cogitação – afirmei veemente, voltando a atenção ao desenho; eu concordei em ir nesse baile idiota porque me daria um tempo com o Lucas e, como já tinha planejado mentalmente, seria legal começar algo com ele. Mas usar um vestido não ia rolar. Eu tinha outras formas de conseguir o que queria.
– Escuta, Max, sou sua mãe. Se eu disser que você vai de vestido, você vai – seu tom mudou drasticamente para autoritária e eu já não estava no melhor dos humores e previa uma bela discussão, o que tinha acontecido com frequência nos últimos dias.
– Vai me obrigar a ir de vestido então? – desafiei, soltando o lápis e a encarando. Minha mãe deu um suspiro e, de novo, mudou para um tom mais ameno.
– Vamos combinar uma coisa. Deixo você ir com a roupa que quiser se me deixar fazer seu cabelo.
Eu até discutiria, teimaria para ela deixar essa ideia de lado, mas vi Billy passar pela porta naquele exato segundo; como de costume, nem olhou ou falou nada, mesmo assim, preferi não começar um escândalo.
– Que seja – falei e a vi abrir um sorriso imenso; tinha a impressão de que minha mãe, na adolescência, era o tipo de garota extremamente popular, que ia deslumbrante para os bailes, rodeada de garotos, que provavelmente faziam fila para ser par dela. E, sem dúvidas, mesmo adulta, ainda atraía olhares... Infelizmente, não os das pessoas certas.
~Billy~
– Já tem par para o baile? – um dos caras da sala me perguntou; estávamos no banheiro, cabulando alguma aula que, naquele momento, não tinha ideia de qual. Enrolei um baseado e acendi.
– Vou sozinho – traguei uma vez e passei para ele.
– Sozinho? Você, Billy Hargrove, vai para o Baile de Inverno sozinho? – não entendi por que ele pareceu tão surpreso.
– Nenhuma dessas piranhas de ensino médio me interessa – senti uma onda forte de tontura; eu estava brincando com fogo com maconha e outras drogas nas últimas semanas, tentando evitar ao máximo a Max.
Ela nem percebia meus olhos constantemente vermelhos, nem quando eu dirigia chapado; talvez ela tivesse razão quando dizia que dirigia como louco, mesmo sóbrio.
Assim, ao menos, eu tinha uns segundos de paz.
– Mas...
– Além disso – tossi, sentindo a fumaça queimar minha garganta –, o baile não vai ser o ponto alto da noite. Meu velho vai viajar com a esposa dele, vai ter uma festa depois. Das grandes.
E, de quebra, Max ia ficar irritada. Ela não ia aprovar uma festinha ilegal pós-baile e seria mais uma boa chance de ignorá-la... Eu sabia que ela se incomodava com esse gelo e queria que ficasse incomodada.
– Saquei... – ele falou encostando a cabeça no azulejo. – Isso vai ser memorável...
A verdade era que eu não estava nem aí se ia ser memorável ou não, a única coisa que eu queria era esquecer por mais um momento da Max. Esquecer completamente dela e de qualquer outra coisa, beber até esquecer meu nome, me drogar com qualquer coisa que me fizesse perder os sentidos e o senso de realidade...
Precisava me distanciar de toda essa merda sem sair fisicamente de lá.
Traguei de novo, mais forte e mais rápido. Minha visão embaçou e pisquei várias vezes, mas minna cabeça foi tombando para o lado, numa sensação que eu já estava começando a me acostumar.
– Eu tenho coca. Topa? – perguntei.
– Cara, você já está muito chapado, melhor não.
– Está com medo? – ri. Porém, antes que eu alcançasse o bolso, tive uma onda de fraqueza e desabei, provavelmente pela quinta vez na semana.
~Max~
Chegou o dia do baile e eu estava começando a me arrepender seriamente de deixar minha mãe arrumar meu cabelo; tivemos uma longa discussão sobre maquiagem e, no final, consegui convencê-la que eu nem tinha idade para me maquiar – se ela soubesse outras coisas que eu tinha feito e definitivamente não eram para a minha idade...
Eu estava sentada de frente para o espelho, minha mãe atrás de mim, tentando fazer uma trança ou sei lá o que nos fios ruivos.
– Ai, mãe, para! Está doendo! – reclamei pela milésima vez quando senti um puxão na parte de cima da cabeça; no entanto, ela parecia radiante.
– Vai valer a pena, eu prometo – em que mundo toda aquela frescura valia a pena?
De repente, Billy apareceu. Diferentemente dos últimos dias, os cabelos estavam arrumados, ele usava uma camisa azul e a corrente de sempre. Ele parou por um segundo e nossos olhares se cruzaram, enquanto minha mãe continuava a cismar com meu cabelo.
Foi estranho encará-lo diretamente assim, depois de dias sem nos falarmos; ele, obviamente, continuou quieto, mas seus olhos percorreram meu rosto. Pensei em um milhão de coisas para dizer, mas apenas o encarei de volta e, com a mesma rapidez em que chegou, ele saiu.
Billy que me levaria ao baile, no carro dele, porque minha mãe e o Sr. Hargrove iam viajar para algum lugar, aparentemente, a negócios... Só para variar.
Voltei minha atenção para o espelho, encarando o reflexo do meu cabelo bem mais arrumadinho do que eu gostaria que estivesse.
– Viu? – minha mãe disse, aparentemente encerrando de vez o penteado. – Está bonita – falou com um sorriso; revirei os olhos.
Poderia ser pior; ela poderia ter inventado um daqueles coques de princesa ou coisa parecida, mas era só uma trança com um prendedor, nada extravagante, embora eu ainda preferisse o cabelo solto ou, no máximo, num coque ou em tranças simples.
Pelo menos, ainda podia ir de calça e blusa, o que era bem mais o meu estilo do que um vestidinho idiota.
– Achei que as garotas usassem vestidos nos bailes – sério? Billy passou semanas sem falar comigo para fazer esse comentário idiota quando estávamos no carro? Que babaca.
– Achei que você estivesse sem falar comigo.
– Estou – ele não tirou os olhos da pista; estava dirigindo bem, considerando o normal... Mas devia ser porque tinha muitos carros na nossa frente, aparentemente, todos indo para o baile também. – Só quero te avisar para não atrapalhar na festa em casa hoje a noite.
– Festa? Mas, Billy...
– Cala a boca. Não estou pedindo sua opinião, nem sua autorização; simplesmente não se meta, como na última vez – é... a última vez não acabou muito bem.
Vi que não ia adiantar nada bater boca com ele, então, a contragosto, me calei, tentando me concentrar no meu único objetivo naquela noite: Lucas.
Quando cheguei, ele foi o primeiro a vir falar comigo, com um sorriso de orelha a orelha, parecendo nervoso; ia ser muito fácil ficar com ele, só precisava ser cautelosa para não assustá-lo. Apesar de todo o lance com o mundo invertido e essa história do governo, ele ainda agia como uma criança quase sempre.
Mike, Will, Lucas e eu nos sentamos juntos em uma mesa.
– Dustin vem? – perguntei bebendo um gole do ponche enquanto observava as pessoas no salão, inclusive, Billy, num canto mais afastado, conversando com um grupo de garotas do colegial; essa merda de fazer o baile junto com o colegial era um inferno; me deixava com uma bela vista da última pessoa que eu queria ver naquela noite.
– Por que quer saber do Dustin? – Lucas perguntou de volta, com uma cara muito estranha para mim.
– Só quero saber se ele vem... Pensei que viríamos todos juntos...
– Ele está vindo ali – Will apontou para a porta de entrada, por onde Dustin, elegantemente, caminhava em nossa direção; ele usava uma gravata borboleta e o cabelo estava arrumado de uma maneira incomum, o que me lembrava muito o penteado de Billy, embora o cabelo de Dustin fosse mais escuro e definitivamente não estava combinando com ele. Nós quatro nos levantamos quando ele se aproximou.
– Cacete! O que houve com você? – Mike indagou. Me segurei para não rir.
– Como assim “o que houve”? – Dustin pareceu não entender; os três garotos o encaravam.
– Cara! – Lucas exclamou.
– Olha o seu cabelo! – falei rindo.
– Tem um ninho de passarinho aí ou o que? – Lucas fez menção de tocar no cabelo de Dustin, que rapidamente o afastou.
– Qual é! O que é que tem meu cabelo? E não tem ninho de passarinho aqui... – rimos mais.
– Tá legal – murmurei rindo.
– E eu me esforcei – Dustin parecia mesmo orgulhoso do cabelo, mas infelizmente não ficava tão bem nele quanto em Billy ou até em Steve.
De repente, começou a tocar uma música lenta. Claro que eu sabia que em qualquer baile tinha o momento da dança lenta e era o momento de por o meu plano em ação, mas achei que seria mais tarde e, entre todas as músicas, tinha que tocar justo aquela? A que eu dancei com Billy quando estávamos na Califórnia... Meu estômago se revirou. Talvez não fosse uma boa ideia ficar com Lucas... Ele era um garoto legal, mas não era ele que eu queria de verdade...
Casais começaram a se formar na pista de dança; imaginei como seria dançar com Billy de novo, ali, no meio de todo mundo, sem nos importarmos com as pessoas ao redor... Meu olhar, mais uma vez cruzou com o dele, mas foi rápido, ele desviou quase imediatamente. Tive certeza de que nós dois tivemos a mesma memória daquela música. Seria realmente incrível se pudéssemos ficar juntos e dançar, beijar e fazer tudo sem esconder, mas a realidade era que isso nunca ia acontecer.
– Max – ouvi Lucas chamar e virei para ele; parecia nervoso de novo, evitando meu olhar. – Oi. Legal aqui, né? – ele balançou a cabeça, sorrindo ansiosamente. – Você quer... Você quer... – quase fiquei com pena de vê-lo se enrolando todo para me chamar para dançar, mas era bom que fosse ele a tomar essa iniciativa. – Sei lá... Não sei... Só... Você e eu? – suas sobrancelhas se arquearam.
– Está me chamando para dançar, sombra? – zombei.
– Não, claro que não – sorri. – A não ser... Que você queira...
Foi minha vez de balançar a cabeça. Tudo bem, o coitado já passou vergonha o suficiente.
– Eu gosto do seu jeito. Vem cá – falei, puxando-o para a pista.
Coloquei as duas mãos nos ombros dele e ele, ainda meio sem graça, colocou as mãos na minha cintura.
– Sabe... Eu fiquei realmente preocupado quando você e seu irmão sumiram... – ele falou.
– Podemos não falar sobre isso agora? – mantive firme meu sorriso no rosto; Lucas era a chave para que eu deixasse Billy no meu passado.
– Tudo bem – ele também sorria – Quer falar sobre o que?
– Você está muito bonito hoje – nós balançávamos bem devagar pela pista, em meio aos outros casais. Will também estava com uma garota, o que era bem inédito.
– Você também está... Sabe... Está muito... Seu cabelo está diferente...
– Obrigada – no meio dos gaguejos dele, resolvi tomar a frase como um elogio; não entendia os garotos da minha idade, não era assim tão difícil falar com uma garota...
Em algum momento, depois de um tempo, Mike e, surpreendentemente, Eleven começaram a dançar juntos também. Eu não esperava que ela fosse aparecer no baile... E, ainda mais, usando um vestido e maquiagem; honestamente, estava linda.
Eu já estava me cansando de balançar de um lado para o outro, jogando conversas banais fora... Era agora ou nunca.
Com os olhos fixos nos de Lucas, tentando não pensar em Billy e na festa pós-baile, avancei e encostei meus lábios nos dele.
Instintivamente me lembrei de tudo que já fiz com Billy, o que ia muito além de um selinho inocente... Não podia fazer nada daquilo com Lucas; não ainda.
Ele pareceu um pouco surpreso com o meu gesto, assim que me afastei, mas não demorou para dar um sorriso radiante. Então, para completar, eu o abracei. O primeiro passo estava dado.
~Billy~
Tive uma sensação estranha, algo em mim tinha acabado de se partir. Dispensei, no mínimo, cinco garotas que me convidaram para dançar uma música ridiculamente lenta, mas observei sem disfarçar enquanto Max aceitava, de primeira, o convite de dança daquele Lucas Sinclair. E aquela música idiota... eu me lembrava perfeitamente bem dela.
Eu não sabia bem o que estava esperando, claro que não íamos mais ficar juntos, Max deixou isso bem claro... Mas também tinha dito que não tinha nada com o Lucas e agora ele estava ali, com as mãos nela; e ela sorria para ele, com o mesmo sorriso que já foi meu... Um dia fora eu deslizando as mãos pelo corpo dela, enquanto ela gemia totalmente fora de controle, ofegante no meu ouvido, nossas peles coladas, seu cheiro, seu gosto... E agora, ela estava ali. Inalcançável. Dançando a música que nós dançamos antes.
Não demorou para que os dois estivessem tão próximos que ela se sentiu tentada a beijá-lo. E foi, nesse exato momento, que algo mudou.
Eu, normalmente, iria até os dois, gritaria com ele e daria uma surra... Mas, ao invés disso, senti um aperto forte no peito, mais intenso do que os socos do meu pai, mais doloroso que qualquer briga em que já tivesse me metido. Meu coração foi batendo cada vez mais lentamente, e tudo ao redor parecia ter perdido a cor. Eu não queria gritar, socar e nem quebrar nada. Eu queria esquecer, sumir.
Não ia continuar assistindo aquela tortura; fui até o banheiro, que estava vazio, me olhei no espelho. Meus olhos estavam vermelhos, mas eu ainda não tinha usado nada... Foi então que percebi. Uma vontade bizarra se apossou de mim. Eu queria chorar, como se isso fosse melhorar, de algum modo, as coisas. Meu corpo tremia e o único pensamento que corria fugaz na minha mente era “Eu perdi a Max”. Ela já tinha falado isso na minha cara, mas eu não acreditei... Não até vê-la com outra pessoa, com Lucas Sinclair.
E não dava para negar, ele era melhor que eu. Não importava quantas vezes eu repetisse para mim mesmo, no final, a verdade era que eu era um puta problemático e Lucas não; Max foi esperta, ela percebeu isso... Era besteira acreditar que um dia ela daria uma chance para alguém como eu... Nunca.
Eu fiquei sem ar, com a pulsação acelerando e diminuindo num curto intervalo, olhos vermelhos e marejados, visão embaçada e tontura, pensamentos constantemente melancólicos; esses efeitos seriam típicos de alguma droga ilícita, da qual não conseguia me lembrar o nome, porque a só o que conseguia lembrar era no quanto eu a amava e como eu nunca poderia tê-la de novo.
Autor(a): nirvana666
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
~Max~ Eu tentei. Tentei mesmo. Mas já passava das três da manhã e Billy ainda estava com o som no último volume e eu ainda podia ouvir a barulheira de sei lá quantas pessoas bêbadas dentro da minha casa. – Ai, mas que inferno! – joguei o travesseiro no chão depois de horas enfiando a cabeça debaixo dos cober ...
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