Fanfics Brasil - Galpão Improvável

Fanfic: Improvável | Tema: Stranger Things


Capítulo: Galpão

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~Max~


O primeiro dia não foi um desastre, como eu pensei que seria; me apresentei na sala de aula, detestando estar de pé na frente de uma sala lotada. Mas pelo menos era uma chance de recomeçar; eu ainda não era conhecida como a irmã do pior aluno da escola – e do mais gato, pelo que as garotas diziam –, então ninguém veio me perturbar. Na Califórnia era diferente... Billy sempre mandava as poucas pessoas que conversavam comigo ficarem longe de mim. Eu não entendia o porquê. Às vezes parecia que ele sentia prazer em me ver infeliz.


Mas em Hawkins eu podia fazer diferente; podia fazer amigos – ou, ao menos, não fazer inimigos – logo no começo, não dar a ele a chance de azucrinar minha vida ali também.


Porém, quatro garotos não me deixaram em paz durante o primeiro dia. Assim que entrei na sala, o professor me apresentou como "Maxine" e eu o corrigi, dizendo que era só Max. Nesse momento, os quatro me encararam. Um deles tinha um cabelo ridículo, era alto e desengonçado e me olhava feio; o outro também tinha um cabelo de tigela, cara de mosca morta e olhos arregalados, como se estivesse o tempo inteiro assustado. Os outros dois me olhavam com um pouco de admiração, talvez? É, eles pareciam impressionados comigo. Um tinha cabelos enrolados e dentes tortos e o outro era negro e usava uma faixa na cabeça; esse último era o mais bonito dos quatro.


No decorrer das aulas, descobri seus nomes. Mike Wheeler, Will Byers, Dustin Henderson e Lucas Sinclair. Eu poderia considerá-los como amigos; quem sabe tentar me aproximar. Mas sabia que Billy se irritava ainda mais quando eu falava com meninos e sabia também que as pessoas olhavam com maus olhos garotas que andavam com meninos, então, não, eles não eram os candidatos ideais.


Mas não havia muitas opções naquela escola... As garotas pareciam riquinhas e mimadas; nenhuma delas sequer falou comigo ou se dispôs a me apresentar o lugar. Os professores faziam apresentações constrangedoras e as pessoas mais pareciam me julgar do que querer conversar; e dizem que cidade pequena é mais calorosa...


Tudo bem, eu poderia viver tranquilamente numa escola sem amigos. Já tinha vivido assim por anos. Mas aquele grupinho de quatro garotos realmente estava começando a me incomodar quando estavam me seguindo na hora do intervalo, enquanto eu andava de skate.


Até que eu perdi a paciência; escrevi num papel “parem de me espionar. esquisitos!” e o joguei no lixo, sabendo que os quatro patetas pegariam o recado. E, realmente, eles pegaram. Eu não tinha interesse em ter amigos com cara de nerd que não tinham coragem de se aproximar para ter uma conversa normal.


É, o primeiro dia não foi um desastre. Não fiz nenhum amigo, mas também não era como se esperasse uma festa de boas-vindas entrando assim no meio do período letivo, então tudo bem. Estava tudo dentro do esperado. Claro, eu ainda tinha um fiozinho de esperança de que teria alguma amizade até o final do semestre; queria que as coisas fossem minimamente melhores do que eram na Califórnia... Mas se não acontecesse, eu lidaria da melhor forma possível: ignorando.


O carro de Billy não estava no estacionamento da escola quando a aula acabou; revirei os olhos. Ele deve ter levado alguma garota para casa e desistindo de esperar por mim, embora eu tivesse me atrasado exatamente apenas dois minutos. Bem, talvez fosse até melhor que as pessoas não soubessem que morávamos juntos; sabe-se lá o que ele poderia ter aprontado já no primeiro dia...


Voltei de skate; era um caminho longo, mas pude refletir sobre o quanto aquela mudança poderia ser boa para mim. Uma cidade pequena, tranquila, nada demais... Tudo que eu precisava. Só precisava de um tempo pra sair de casa, ficar bem longe da minha mãe e do marido dela, me livrar deles... Depois viver a minha vida. Hawkins não parecia um inferno, como Billy gostava de dizer. Na verdade, eu via uma pequena chance ali; se ficasse na minha por tempo o suficiente, poderia passar da fase da escola e ter uma vida simples e normal.


Cheguei em casa e vi o Sr. Hargrove saindo pela porta do galpão, parecendo muito irritado; o carro estava na frente da casa. Eu não devia nem pensar em entrar naquele galpão, mas, instintivamente, quis ver o que o deixou tão irritado... Embora já tivesse uma ideia e não era nada boa.


Deixei o skate perto da porta e coloquei a cabeça para dentro; estava escuro, podia ver silhuetas de caixas e de várias coisas empilhadas, o cheiro da poeira era insuportável e era o bastante para deixar literalmente qualquer pessoa irritada. Mas, claro, não era aquilo que incomodava o Sr. Hargrove.


– Billy? – corri até ele; Billy estava estirado no chão, os olhos fechados. Cheguei mais perto, devagar, com medo de que ele me expulsasse a tapas dali; mas ele não se mexia.


Acendi a luz para ver melhor a cena. Era digna de um filme de terror; várias caixas de papelão estavam espalhadas pelo piso e Billy estava no meio delas, com sangue escorrendo da bochecha e marcas horríveis no pescoço, como se tivesse acabado de ser... estrangulado. Liguei os pontos.


Será que...? Não... O Sr. Hargrove não mataria o próprio filho... mataria? Abaixei ao lado de Billy, tremendo de desespero; nós não nos dávamos bem, mas também não queria que ele morresse... Constatei que ainda estava respirando. Dei um suspiro e corri o mais rápido que pude para dentro de casa para pegar uma toalha molhada.


Sentei ao lado dele, no chão, procurando de onde vinha aquele sangue; era de um corte na maçã do rosto. Encostei a toalha bem devagar, esperando que, se Billy acordasse, ele não ficasse com tanta raiva de mim. Afastei alguns fios dourados de seu cabelo, agora manchados de sangue, e continuei passando a toalha. Billy começou a tossir.


Engoli em seco e prendi a respiração, esperando que ele começasse a gritar comigo. Mas Billy simplesmente começou a chorar, respirando com dificuldade, sem me olhar nos olhos.


– Sabe o que eu fiz? – ele disse entre soluços, com a voz arrastada, como se ainda não estivesse totalmente consciente. – Eu só... Coloquei as caixas numa pilha só... E ele queria duas...


– Billy... – Sr. Hargrove era um idiota. Ele era um homem extremamente cruel e sem coração. Que tipo de pessoa fazia aquilo com o próprio filho por causa de caixas de papelão? Naquele momento, senti uma raiva descomunal. Queria que o Sr. Hargrove sentisse tudo em dobro, queria que ele fosse enforcado e jogado no chão. Billy não merecia passar por aquilo; ninguém merecia.


Limpei o que eu pude do sangue, enquanto ele sentava e encostava a cabeça na parede. Agora ele olhava diretamente para mim. Aqueles grandes olhos verdes, brilhando com lágrimas, conseguiam prender minha atenção, mesmo sem dizer uma palavra. A expressão dele era revoltante e assustadora, de um jeito que eu nunca tinha visto antes.


Era a primeira vez que eu o via logo depois de uma discussão com o pai... Já tinha visto marcas e hematomas frequentes, consequentes dessas brigas, mas, geralmente, no dia seguinte, não logo após elas acontecerem. Billy parecia... Só um garoto. Um garoto assustado, indefeso. Não parecia o babaca de sempre.


Calor que eu sabia que aqueles surtos eram extremamente injustos e que Billy com certeza não precisava passar por aquilo por causa de coisas tão idiotas, mas vê-lo ali, daquela maneira mudou alguma coisa. Eu nunca tinha parado para pensar como era, de verdade, ser uma vítima de violência de um pai autoritário e abusivo. Nunca tinha me perguntando quem cuidava daquelas feridas depois das brigas, nem como Billy se sentia com isso. Eu ficava angustiada e revoltada.


– O que você está fazendo, Max? – Billy praticamente sussurrou.


– Eu não sei – respondi sinceramente. Toquei o rosto dele, sentindo uma lágrima na minha mão.


– Por que está fazendo isso? – ele fechou os olhos.


– Não sei, Billy... – eu quase podia sentir a dor dele... Eu sentia o medo dele... Sabia que o Sr. Hargrove sempre fazia coisas daquele tipo e agora queria matá-lo para que ele nunca mais chegasse perto de Billy de novo, ou da minha mãe, ou de ninguém. Aquele homem era implacável, sem coração e eu o odiava.


Só ouvir os gritos e os golpes já era assustador, mas ver o Billy estirado no chão, sangrando, com o pescoço roxo e lágrimas escorrendo... Era de cortar o coração. Ao mesmo tempo que queria matar o Sr. Hargrove, também queria cuidar de Billy, dizer que tudo ficaria bem, que ele não tinha que se preocupar com mais nada nunca mais.


De repente ele agarrou meu pulso com força e me empurrou.


– Sai daqui, Maxine – agora, como num choque de realidade, ele parecia ter voltado a si. Voltado a ser um idiota.


 


~Billy~


Algum tempo antes meu pai me obrigou a sair da aula só para me levar para porra do galpão e tentar me matar simplesmente porque as merdas das caixas não estavam do jeito que ele queria.


Eu perdi a consciência por alguns poucos instantes e, assim que acordei, Max estava ao meu lado, passando uma toalha molhada pelo meu rosto e pelo meu pescoço, com um olhar preocupado, como se realmente se importasse. E, por um segundo, quando vi aqueles olhos azuis arregalados, ela não era mais a garota que eu tanto detestava, com quem eu tinha vontade de gritar, irritante e chata, uma criança mimada. Não. Agora Max era só uma pessoa, uma pessoa preocupada comigo, cuidando de mim. E isso era raro.


Por um milésimo de segundo eu pensei nela, não como minha irmã postiça, não como uma responsabilidade a mais ou um fardo; era só a Max. Simplesmente ela, ali comigo. E eu não sabia o motivo pelo qual ela estava fazendo aquilo... não depois dos anos que passei implicando com ela e descontando metade dos problemas em cima dela.


Senti o toque de sua mão no meu rosto; quente, carinhoso... E eu me permiti pronunciar palavras, mas não identifiquei bem o que eram; ela me respondeu, mas eu não ouvi. Naquele momento era muito difícil pensar em qualquer coisa que não fosse nela, com a mão no meu rosto e claramente preocupada.


Até fechar os olhos e voltar para a realidade.


Segurei seu pulso e a empurrei o mais forte que pude; eu estava vulnerável e ela não podia sequer cogitar que eu era fraco. Eu era o mais velho e Max tinha que me respeitar e me obedecer.


– Sai daqui, Maxine – falei firmemente; ela arregalou os olhos e correu para fora do galpão.


Cacete. Ainda precisava arrumar as caixas, que meu pai fez o favor de espalhar pelo lugar inteiro.


Inferno.


Levantei e dei um soco na parede.


E pensar que o dia não tinha começado tão ruim; eu já tinha conhecido muita gente ali, já tinha descoberto o tal do rei Steve de quem todos falavam; e os caras já diziam que eu seria o próximo rei, mesmo que precisasse da cabeça do antigo para isso. Já tinha visto as piranhas que eu comeria no primeiro mês, já tinha uma festa de Halloween, já estava indo bem... Até isso acontecer.


Eu odiava meu pai e odiava mais ainda o fato de nunca ter tido coragem para enfrentá-lo. Eu estava cansado, queria que aquilo parasse, queria que ele parasse e me deixasse em paz para sempre. Mas não ia acontecer enquanto eu não batesse de frente com ele e, todas as vezes em que tinha essa chance, eu congelava. Merda. Também me odiava por isso.


 


~Max~


– Billy, tudo bem? – perguntei no carro, quando Billy estava me levando ao fliperama, meia hora depois do acontecido no galpão; ele parecia bem, nenhum vestígio do garoto assustado que eu vi antes. Era o Billy babaca de sempre, batendo a porta do carro, reclamando de tudo...


– Tudo ótimo, Maxizinha – ele falou num tom arrogante; e, no entanto, não me convenceu de que estava tudo bem mesmo. Claro, como alguém poderia ficar bem depois do que tinha acontecido?


– Billy, o que aconteceu agora há pouco...


– Não é da sua conta, porra – ele interrompeu e começou a acelerar; será que algum dia ele dirigiria numa velocidade normal?


– Mas, Billy, ele não pode...


– Fica quieta – vi seus dedos agarrarem o volante com força; as mãos machucadas por possíveis socos que ele deu em alguém, eram recentes... Será que ainda eram por causa do cara no posto de gasolina? Não... pareciam muito mais recentes. Ele tinha arrumado briga na escola? Ou reagido ao pai? Não, o Sr. Hargrove não parecia fisicamente afetado quando o vi saindo.


O cabelo louro estava bagunçado, seus olhos estavam colados na rua a nossa frente e ele praticamente socou o botão do rádio, ligando a música num volume ensurdecedor. Típico. Billy não estava afim de conversar.


Eu não devia insistir no assunto, ele tinha razão, não era da minha conta. Mas algo me dizia que, no fundo, Billy não era aquele merda, e sim aquele menino chorando no galpão, com medo do pai, vulnerável, alguém que só precisava de ajuda. Então tomei coragem e abaixei o volume da música.


– Billy, você não pode deixar isso acontecer... Eu sei que é difícil, mas...


– E que porra você quer que eu faça, Maxine? – ele gritou batendo a mão no painel do carro. – Não dá para fugir! E você – ele olhou para mim, mas não tirou o pé do acelerador – não devia estar falando nada, você que tem a vidinha perfeita e ninguém nunca fala um “a” pra você, seu monte de merda!


– Isso não é verdade!


– Não, Max? E quando você faz merda, quantas vezes eles brigam com você, hein? Alguém te coloca de castigo? Alguém te dá um soco ou te arremessa pro outro lado do cômodo? Não? Porque para eles você é a merda de uma criança! Porque você virou a garotinha do papai!


– Não é culpa minha, Billy! – gritei de volta, sem me importar com mais nada. – E não, eu não sou garotinha nenhuma! Ele não é o meu pai! – e nunca ia ser. Meu pai de verdade era uma pessoa totalmente diferente, ele era atencioso e amável e nunca faria o que o Sr. Hargrove fazia. Eu não entendia a razão da minha mãe ter pedido o divórcio de um cara tão legal...


Senti as lágrimas começando a escorrer.


– Então não se mete mais – disse Billy, num tom um pouco mais baixo.


– Eu só queria ajudar... – falei, a voz falhando.


– Eu não pedi sua ajuda, merdinha.


– Mas...


– Vê se para de encher a porra do saco e continua sendo uma inútil como de costume – ele estava impossível; como alguém mudava de personalidade assim tão rápido?


– Dá próxima vez fica sangrando então! – foi a última coisa que eu disse; assim que desci do carro, ele acelerou.


Bufei e mostrei o dedo do meio, mesmo sabendo que Billy não olharia para trás. Agora eu estava irritada e chateada e sentia ainda mais falta do meu pai.


Entrei irritada no fliperama. Comecei a jogar algum videogame, nem estava prestando atenção; só conseguia pensar no quanto eu tentava ajudar meu irmão postiço problemático e o quanto ele era estúpido as vezes. Por que eu ainda me preocupava? Por que ainda queria o bem dele? Talvez se o Sr. Hargrove acabasse de vez com ele, faria um favor a sociedade.


Respirei fundo, tirando o pensando mórbido da cabeça. Billy tinha problemas por causa do pai, obviamente; o temperamento dele não era proposital, eu sabia que era uma coisa difícil de controlar. Se parasse para pensar, lá no fundo, eu não queria que nada de ruim acontecesse com ele. Só queria que ele ficasse bem. Sair de casa seria bom para nós dois.


 


~Billy~


Dei um sorriso assim que Max desceu do carro, batendo a porta e mostrando o dedo do meio. Tinha que admitir, ela me deixava realmente puto as vezes, mas vê-la daquele jeito, irritada, com as bochechas queimando em raiva... Isso não tinha preço.


Talvez eu não devesse ter ficado irritado com ela; Max, na verdade, de certa forma, por mais que eu odeie pensar assim, me ajudou. E eu não sei o motivo... Mesmo tendo milhões de razões para pisar no meu pescoço, ela estendeu a mão. Passo os dias tentando afastá-la de mim, deixando bem claro que eu a odeio e não quero bancar o irmão mais velho; mesmo assim, ela ainda faz esse tipo de coisa... Chega a dar pena. Mas tudo bem, não parece muito justo que eu fique assim tão bravo com ela.


Um dia eu vou embora, vou sair e talvez só nesse dia ela entenda que eu não quero nenhum laço afetivo; nem com ela, nem com ninguém. Porque, infelizmente, sei que sou uma versão do meu pai e as pessoas que se envolverem só vão se machucar. Me contento com relações casuais. E Maxine teria que aprender a ficar longe de mim, porque eu não estava disposto a ceder.



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Autor(a): nirvana666

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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~Max~ Perfeito, eu tinha sobrevivido a mais um dia de aula. As coisas não estavam exatamente ótimas, eu passava os intervalos sozinha, andando de skate e ouvindo música e não falava com ninguém, isso porque ninguém falava comigo também. Não era ruim, nada com que eu já não estivesse acostumada a lidar. ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • merophe Postado em 13/08/2022 - 19:52:52

    Boa sorte com os ADMS da plataforma!


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