Fanfic: Improvável | Tema: Stranger Things
~Max~
Tio Jack morava numa cidade parecida com Hawkins, talvez só um pouco maior. Era no interior de Ohio, uma típica cidade interiorana, repleta de fazendas e mato para todo lado e nenhum fliperama à vista. Apesar de ser maior que Hawkins, ainda parecia uma cidade parada no tempo; nada de shoppings ou cinemas... nada interessante.
Desde que minha mãe tinha se casado com o Sr. Hargrove, visitamos o tio Jack quatro ou cinco vezes. Ele era um homem totalmente diferente do irmão; era muito divertido, brincalhão, simpático e carinhoso com os filhos. Nunca vou entender como dois irmãos podem ter personalidades tão opostas... Que tipo de criação eles tiveram?
Jack não era de fato meu tio, mas ele me tratava bem quando nós o visitávamos, então eu gostava de considerá-lo da família. Ele tinha filhos, muitos filhos... Era daquelas pessoas do interior que, quanto mais filhos tivesse, mais mão de obra teria na fazenda. Eu achava meio estranho, mas não julgava; Jack era mais carinhoso com cada uma das crianças do que o Sr. Hargrove jamais fora com Billy. E duvido que faria o que meu pai fez comigo.
Apesar da fazenda de Jack ser um lugar tranquilo, eu não estava empolgada para aquela viagem; ficava cada vez mais tensa à medida que nos afastávamos de Hawkins na estrada. Billy também não parecia nada feliz, aliás, ele parecia tenso. Não trocamos uma palavra desde que entramos no carro.
Tentei não pensar muito sobre tudo o que acontecera, mas minha mente divagava conforme a paisagem lá fora mudava; pensei em Lucas. Posso ter exagerado um pouco ao terminar com ele e ter jogado um milk-shake nele... Lucas não tinha exatamente culpa por ser um garoto meio imaturo e bobo às vezes. Tinha que lembrar que ele era mais novo que eu, ainda estava em outra época da vida e que namorar com ele foi uma escolha minha. Não era tão ruim, nós até que nos dávamos bem, no geral.
Tudo bem, eu ia conversar com ele assim que voltássemos de viagem; Lucas gostava muito de mim, ele com certeza me perdoaria por perder a estreia e por todo o resto... Não que fosse mesmo culpa minha.
Merda, eu só tinha mencionado um parente numa conversa casual de jantar, não era culpa minha se o Sr. Hargrove decidiu ir ver o irmão por causa disso...
Eu também não entendia o porquê Billy tinha ficado tão bravo comigo... antes ele parecia conversar tranquilamente e agora estava de cara fechada de novo.
Claro, a raiva dele não tinha a ver só com aquela viagem. Billy ainda estava chateado por eu ter escolhido voltar para Hawkins... e por ter “terminado” o que quer que tivéssemos começado.
Tentei ser compreensiva e entender os pontos dele, mas ainda estava difícil; queria que ele visse o meu lado. Eu finalmente tinha amigos, tinha encontrado um grupo e, por mais que tivéssemos enfrentado coisas bizarras de dar calafrios, ainda assim, era divertido.
Mas talvez eu estivesse sendo meio egoísta também... Ainda assim, não achava que merecia todo aquele tratamento.
O pai de Billy era um babaca, isso era fato. Mas não obriguei ninguém a voltar comigo; Billy voltou porque quis, ele não tinha o direito de ficar assim tão irritado por uma escolha que eu fiz. Não se pode ter tudo.
Arrisquei um olhar. Billy estava olhando para o lado de fora da janela, parecia absorto em seus próprios pensamentos, como se nem se lembrasse que estávamos no mesmo carro.
Achei que era melhor assim. Era difícil, mas melhor. Dois desconhecidos que moravam juntos.
~Billy~
Eu não devia ter feito uma tatuagem antes de viajar. Tinha que deixar escondida sob as roupas porque, se meu pai sonhasse que eu tatuei algo, ele me mataria; mas Ohio era sempre calor e seria um saco ter que usar jaqueta o tempo inteiro.
Não queria mesmo ir nessa viagem... tudo parecia conspirar contra mim.
Eu não devia ficar tão puto; era só um final de semana. Ainda poderia fazer o teste segunda-feira, o curso ia começar, eu ia enterrar os pensamentos em outras coisas... Mas o fato de passar dois dias inteiros com a Max, sem ter pra onde fugir me deixava angustiado.
O terreno da fazenda era grande, é claro que eu poderia procurar algum lugar para enfiar a cara e não ter que olhar para ela, mas seria muito chato; era o tipo de lugar que não se tinha nada para fazer. Eu estava com raiva porque preferia fazer o teste para salva-vidas ou ir para algum bar ou alguma festa ao invés de ficar entre porcos, galinhas, vacas e cavalos.
Por outro lado, eu tinha uma boa chance de conversar melhor com a Max, longe da atmosfera tóxica de Hawkins e, principalmente, longe daquele namoradinho de merda dela. Harrington ainda me incomodava, sem a menor dúvida; odiava vê-lo com ela, mas ele não parecia ser exatamente um problema. Não depois de duas surras.
Lucas Sinclair. Esse sim era o problema. Um pirralho como adversário... era humilhante, mas fácil de encarar.
Detestava pensar nisso, mas Max ainda mexia comigo; conscientemente ou não. Eu tentava evitá-la a todo custo e achava até que isso me fazia bem... mas seria um final de semana longo, nós dois trancados na mesma casa e sem muita coisa para fazer... Eu queria.
Estava na cara que não iríamos nos reconciliar e ela parecia mais do que decidida a ficar em Hawkins; só que eu sabia como provocá-la. Seria só um fim de semana... só dois dias longe daquela maldita cidade, com meu pai distraído demais com o irmão dele... Quem sabe Max e eu poderíamos fazer de conta que tudo estava bem de novo? Eu sentia falta dela, mais do que pensava ser possível.
Ela parecia disposta a querer fazer as pazes comigo, mesmo que não do jeito que eu queria. Mesmo assim, uma recaída era melhor do que nada.
Olhei para ela. O sol estava começando a se por; o céu alaranjado refletia e intensificava seu cabelo ruivo espalhado numa camiseta azul. Seus olhos estavam fechados; Max parecia um anjo, serena, dormindo. E pensar que não muito tempo estávamos naquele mesmo carro, naquela mesma estrada, nos mudando para Hawkins.
Na época, ela era uma criança, só uma criança irritante. Agora era muito mais que isso... agora eu me perguntava como cheguei nesse ponto. Os sentimentos e os desejos tão confusos... queria conseguir odiá-la de verdade, ficar longe. Seria a melhor opção.
~Max~
Não sei em qual momento acabei adormecendo, mas aconteceu. E eu tive sonhos horríveis; há algumas semanas eu não dormia bem, ainda pensando naquelas criaturas medonhas com as quais Eleven lutava. As conspirações do governo, poderes sobrenaturais e portais para outras dimensões... isso me assustava.
E toda vez que eu fechava os olhos era aquilo que eu via. O assassinato a sangue frio de Rhys, o melhor amigo de Billy não era nada se comparado ao que aquelas coisas podiam fazer...
Lucas garantiu que o portal estava fechado, que aqueles demodogs não poderiam voltar. Mas e se voltassem? Eleven não era exatamente minha fã, o que eu ia fazer?
Parecia que agora a ficha finalmente estava caindo. Precisei de algumas semanas para processar e entender a gravidade de tudo que tinha acontecido e agora isso me assustava... podia até dizer que essa era a razão pela qual andava mais estressada, especialmente com Lucas.
Acordei assustada. Ainda estávamos na estrada.
As sombras lá fora pareciam formar silhuetas de demônios com dentes pontiagudos, prontos para devorar o carro. Me encolhi.
Eu gostava de Hawkins e não queria sair de lá... Mas saber o que se escondia nas profundezas da cidade não era nada fácil. E agora tudo parecia se intensificar, como se sair dali me fizesse sair de uma zona de segurança...
Pude ver a fazenda do tio Jack; à noite parecia uma construção mal assombrada. Não me surpreenderia se algum demodog pulasse dos arbustos.
O cheiro de esterco era mais intenso do que em Hawkins. Pelo menos uns três cachorros vieram nos receber assim que descemos do carro.
Tio Jack e tia Lisa apareceram com sorrisos calorosos. Tia Lisa estava grávida de novo e, em seus braços, havia um bebê que não devia ter mais de um ano de vida.
Outras crianças também apareceram na porta. Heidi era a “prima” mais próxima da minha idade; ela tinha quinze anos e, no geral, me tratava bem. Não éramos amigas, mas também não havia nenhum clima estranho.
– Como você cresceu, Maxine! – disse Heidi, me abraçando.
– É só Max – corrigi. Odiava quando usavam meu nome inteiro.
– Lembro que você era uma pimpolha da última vez que veio... queria que eu ensinasse a ordenhar uma vaca, lembra?
Dei um sorriso sem graça; claro que eu me lembrava. Eu devia ter uns doze anos na última vez. Heidi se afastou, sorrindo; ela tinha cabelos castanhos presos em duas tranças e usava um suspensório.
– Agora você já é uma mulher – ela continuou me constrangendo, analisando meu rosto.
Cruzei os braços, sem saber bem como reagir. Heidi não sabia ser sutil. Ela não demorou muito até correr para abraçar Billy, cantarolando com sotaque sulista. Billy a abraçou de volta.
Aquilo me incomodou um pouco. Ele não era uma pessoa carinhosa e, das outras vezes que viemos, ele fazia de tudo para ficar longe de Heidi e dos nossos primos mais novos... só ficava com o Theo, o mais velho. E agora recebia Heidi de braços abertos... Por que de repente essa simpatia com ela?
Jack abraçou o irmão, que não pareceu muito contente com o contato físico; Sr. Hargrove era o único que agora parecia de fato afastar a família.
Minha mãe e a tia Lisa se cumprimentaram e entraram, falando sobre as plantações e a melhor maneira de cozinhar uma batata. As outras crianças nos cumprimentaram rapidamente e voltaram a correr para dentro da casa.
– Billy, você traz as malas para dentro – disse o Sr. Hargrove com firmeza.
– Sim senhor – respondeu Billy em voz baixa.
Heidi me puxou para entrar, mas eu disse que ajudaria Billy. Ela assentiu.
– Não pedi sua ajuda – disse Billy, abrindo o porta-malas.
– Eu sei – respondi tentando puxar uma das malas; por que tanta coisa para um final de semana?
– Posso levar as coisas sozinho – ignorei, ainda puxando a alça da mala. Eu não achava justo Billy fazer o trabalho todo sozinho.
– Max – ele chamou. Não respondi; apenas continuei tentando erguer a mala. Eu definitivamente não conseguia entender porque minha mãe precisava de tanta coisa. – Me dá essa merda aqui.
Billy levantou a mala com uma mão só, sem fazer o menor esforço. E fez o mesmo com as outras, me olhando como se eu fosse uma inútil.
– Leva isso e isso lá para dentro – Billy me entregou a minha mochila e uma bolsa da minha mãe. – Eu levo o resto.
Quis questionar, mas não havia a menor chance de eu conseguir subir dois lances de escada com qualquer uma das outras malas.
Billy e eu subimos as escadas. Minha mãe nos esperava no corredor.
– Onde eu deixo isso, Susan? – Billy perguntou.
– Seu pai e eu vamos ficar nesse quarto. Você e a Max naquele.
– O que? – Billy e eu falamos ao mesmo tempo, abismados, encarando a porta de madeira para onde minha mãe havia apontado.
– Nós não vamos dormir juntos – disse Billy, incomodado.
– Posso ficar no quarto da Heidi – falei.
– Jack e Lisa estão com mais filhos dessa vez, tem muitas crianças nos quartos, não tem espaço. E estão com visitas também... mais crianças.
– Mas essa casa tem tipo uns mil quartos – falei, começando a me desesperar.
~Billy~
Eu não estava contando com isso. Da última vez que viemos, fiquei no quarto do Theo, Max no quarto da Heidi e meu pai e Susan em outro cômodo. Agora estavam com o dobro de filhos e eu é quem ia me foder.
Como é que eu ia passar uma noite inteira com a Max dormindo do meu lado? Só podia ser brincadeira.
Eu queria sim mexer com os sentimentos dela nessa viagem, mas dormir no mesmo quarto que ela geraria o efeito oposto. Não.
– Sinto muito. Posso tentar falar com o Neil de...
– Não – interrompi. – Não precisa.
Susan e eu olhamos para Max. Ela não parecia querer aceitar a situação, estava desconfortável e eu quis implorar para que uma vez na vida ela deixasse de lado esse gênio ruim e aceitasse aquilo sem questionar.
Falar com o meu pai seria pior. Preferia passar a noite com a Maxine dormindo sem poder chegar perto dela do que desafiar meu pai; ainda mais porque àquela altura, tinha certeza de que ele e o irmão já estariam começando a beber.
– Tudo bem – Max finalmente disse, com um suspiro. Suspirei também; não estava nem um pouco afim de testar meu pai naquela noite.
Levei as malas para os quartos. O do meu pai era maior, obviamente.
O que eu dividiria com a Max era pequeno, tinha uma cama de solteiro e um colchão no chão; estava longe de ser um quarto cinco estrelas e nem chegava aos pés dos lugares onde Max e eu já dormimos juntos, mas pelo menos não teríamos que dividir a cama.
– Eu fico no chão – disse Max, colocando a mochila ao lado do colchão. Revirei os olhos.
– Ainda tenho princípios, Maxizinha. Você pode dormir na cama – eu podia não ser a melhor companhia do mundo, mas ela pensava mesmo que eu era tão babaca a ponto de não deixá-la ficar na única cama do lugar?
Heidi veio nos chamar para o jantar. A família estava toda reunida; uma parte na mesa, a outra no sofá e alguns em pé. A irmã de Lisa também estava na casa com os filhos, o que significava uma matilha de crianças gritando e correndo pela casa.
Theo estava noivo. Ele ainda não tinha nem vinte anos e estava noivo; não quis ser grosseiro – especialmente porque meu pai estava do outro lado da cozinha, como se estivesse me vigiando –, então dei os parabéns a ele e à namorada, que aparentemente estava morando lá também. Porém achava bizarro. Talvez fosse normal para pessoas de cidade pequena... talvez ela estivesse grávida, não seria surpresa nenhuma. Me perguntei se Max teria o mesmo destino; morando em Hawkins, engravidando de um cara que não poderia dar um futuro além de uma cidadezinha de interior com cheiro de merda, casada aos dezenove e com uma penca de filhos no meio do mato.
A cena me deixava atordoado. Com certeza não era a vida que eu queria para mim. Eu iria embora de casa, iria embora de Hawkins assim que Max estivesse segura e longe do meu pai.
Pedi licença depois do jantar; a reunião familiar parecia que iria longe. Até Max estava socializando bem com Heidi e a namorada de Theo... e eu não aguentava mais. Tinha levado um maço de cigarros, só por precaução, só se ficasse muito entediado ou estressado...
Era só um, talvez dois cigarros. Ninguém veria, ninguém desconfiaria e eu poderia parar de fumar segunda-feira.
~Max~
Heidi, Clara – namorada de Theo – e eu ficamos conversando depois do jantar; elas falavam comigo como se eu fosse uma criança às vezes e aquilo estava começando a me incomodar. Elas não eram assim tão mais velhas que eu. Não demorou muito para que eu perdesse a paciência e, educadamente, me retirasse. Se tivesse um pouco de sorte, Billy já estaria dormindo e evitaríamos uma situação constrangedora.
Abri a porta com cuidado, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Tinha um abajur aceso no criado-mudo, a iluminação era fraca, mas era melhor do que o escuro absoluto. Billy não estava no colchão.
Tudo bem. Talvez ele tivesse fugido para algum lugar da cidade... eu não o culparia se fosse o caso. Eu mesma gostaria de ter fugido, se tivesse ideia de para onde ir.
Nossos primos podiam ser legais até certo ponto, porém a fazenda em si era um tédio.
Comecei a andar até a cama para pegar uma roupa na mochila e, de repente, a porta do banheiro abriu e Billy apareceu na minha frente; ele estava só com uma toalha enrolada na cintura, o cabelo pingando e um olhar indecifrável.
Ele deu dois passos na minha direção e eu senti a parede do quarto nas costas; não tinha como fugir. Um perfume doce me rodeou... o perfume dele. Aquilo me desestabilizou. De repente o quarto pareceu pequeno demais, quente demais para duas pessoas ocuparem...
Falhei miseravelmente na tentativa de não percorrer os olhos pelo corpo dele; não deixava de admirar e pensar em como parecia com um deus grego perfeitamente esculpido, como nos livros de história.
– Você fez uma tatuagem? – perguntei em voz baixa, ainda zonza pela proximidade quando vi o desenho de uma caveira no braço dele.
– Fiz – Billy respondeu, também em voz baixa.
– Se seu pai souber...
– Você não vai contar. Vai, Max? – senti o hálito dele na minha bochecha; não queria encará-lo. Me concentrei em seu escapulário, que repousava em seu peito.
– Não.
– O que foi? – sua voz baixa e arrastada me causava arrepios... era mais fácil controlar quando ele estava gritando. Billy deu mais um passo para frente; quase sentia o corpo dele encostado no meu.
– Nada – respondi com dificuldade.
– Você parece afetada... – os cachos loiros agora pingavam nos meus ombros; os lábios de Billy estavam a milímetros do meu pescoço.
– Não estou – quem eu queria enganar? Eu estava anestesiada, sem controle nenhum sobre qualquer coisa.
– Ainda quer que eu aja só como o seu irmão mais velho? – aquela voz... era tão diferente da que ele vinha usando comigo nos últimos dias... uma voz tão suave, quase como um gato ronronando.
– Billy... – ele colocou uma mão no meu pescoço e tocou minha bochecha com o polegar; eu devia estar vermelha como um pimentão, considerando que os dedos frios pareciam um alívio em contato com a minha pele queimando.
– Não devia falar meu nome assim. Posso acabar perdendo o controle... – ele afastou um pouco a cabeça, agora me olhava nos olhos. Respirei com dificuldade e me esforcei para dizer as próximas palavras.
– Billy, isso não está certo... – coloquei minha mão sob o seu pulso, mas sem a real intenção de tirá-la do meu pescoço.
– Ah, claro... porque agora você tem um namoradinho, não é? – engoli em seco; Lucas era um assunto meio sensível para Billy, perdia a paciência fácil quando falávamos sobre ele. Mas, tecnicamente, eu tinha terminado com Lucas, então não seria assim tão errado estar daquele jeito com Billy... seria? – Por que essa cara? Você e o caipira já terminaram?
– Não importa – agora Billy sorria e seus olhos pareciam brilhar com a notícia.
– O que aconteceu? – Billy perguntou, agora roçando os lábios suavemente na minha clavícula. – Ele não beija você do jeito que eu beijo? – senti meu corpo inteiro se arrepiar quando ele passou a língua do pescoço até a base da minha orelha. – Você não gosta desses moleques da sua idade, gosta?
– Devíamos parar – arfei, ofegante.
– E se eu não parar, Max? – fechei os olhos. Eu não tinha ideia do que poderia acontecer se ele não parasse.
Eu queria e ao mesmo tempo não queria continuar... Seu polegar deslizou pela minha boca, lentamente, enquanto ele beijava e mordiscava meu pescoço. Eu mal conseguia pensar.
Tinha decidido que o que quer que tivesse entre mim e o Billy era passado... mas não conseguia me afastar.
~Billy~
Eu tinha acabado de sair do banho quando Max apareceu no quarto; eu não a escutei entrar, mas foi a hora perfeita para fazer o que eu quisesse.
Mas eu não sabia qual era o meu limite. Incrível como Max não estava fazendo nada além de ficar parada e me deixar seduzi-la e mesmo assim eu estava louco.
Senti meu dedo em sua boca... quente e molhada... a língua dela deslizando sob o meu polegar... como eu queria sentir aquela língua na minha boca, no meu corpo, no meu pau... Aquela garota faria até um santo ter os pensamentos mais impuros e quando ela gemeu baixo... Tudo bem, eu tinha chegado no meu extremo. Mais um passo e o jogo viraria.
Me afastei lentamente.
– Mas sou um cavalheiro e vou respeitar o que você quer – falei. – Quer que eu pare? – já tinha conseguido exatamente o que eu queria, não precisava continuar.
– É melhor... – Max respondeu desnorteada, desviando os olhos dos meus, com o rosto e as orelhas vermelhos.
– Não sente mais nada por mim?
– Não – ela estava blefando. E eu tinha provas mais do que objetivas disso.
– Bom... então pode me soltar agora – eu duvidava que ela tinha notado que estava com as unhas cravadas na minha pele e que eu não tinha ido mais para frente; ela tinha se aproximado.
Max arregalou os olhos e, rapidamente, encolheu os braços; ela ficou ainda mais vermelha, se é que isso era possível. Era isso que eu queria... queria que ela ficasse perdida, em dúvida sobre o que estava sentindo e melhor ainda, pelo olhar dela, aquele namorinho com Lucas Sinclair tinha chegado ao fim. Se eu não tinha mais chances, ele também não teria.
Me afastei e comecei a tirar a toalha.
– O que está fazendo? – Max perguntou.
– Vou colocar uma roupa. A não ser que você prefira que eu fique sem... – ela tinha reações engraçadas.
– Não... não, tudo bem. Eu saio pra você se trocar... – ri.
– Fala sério. Jogue um dólar se vir algo inédito aqui.
Maxine estava definitivamente perdida; ela não sabia o que dizer, como agir, nem pra onde olhar. Era esse o meu objetivo e eu não podia estar mais feliz por tudo ter saído como eu queria.
Não era bem esse o meu plano a princípio, mas ela apareceu no momento certo. Justamente enquanto eu saía do banho... Não tinha hora melhor para encurralar Max e coloca-la contra a parede.
Até que os cigarros tinham valido a pena, no final das contas.
Acordei no meio da noite com Max desesperada, pedindo para que alguém a deixasse em paz. Mas não havia ninguém além de nós no quarto; ela estava tendo um pesadelo e não parecia nada bom... estava suada, ofegante e chorando.
Suspirei. Não dava para dormir daquele jeito.
Sentei ao lado dela na cama.
– Max – chamei. Ela continuava se debatendo e implorando para que algo a soltasse, as lágrimas escorrendo pelo travesseiro. – Max, acorda – toquei seu braço – é só um sonho...
Ela abriu os olhos, assustada, puxando o ar com dificuldade. Os olhos azuis marejados demoraram alguns instantes para focar nos meus, em meio à baixa luminosidade do quarto.
Max sentou na cama e jogou os braços ao meu redor, num abraço sufocante.
Eu não sabia o que fazer... só retribuí. Não a tinha acordado para conforta-la, só queria dormir em paz... mas ela parecia angustiada e com medo e eu não seria capaz de recusar um abraço agora.
Pousei uma das mãos na base de sua lombar e acariciei seu cabelo com a outra; esperei até que ela parasse de soluçar e sua respiração ficasse regular para perguntar.
– Com o que estava sonhando? – Max afastou só um pouco o rosto; seus olhos ainda brilhavam com lágrimas, o coração ainda estava disparado e ela ainda tremia um pouco.
– Demodogs – ela respondeu.
– Demo... o que? – nunca tinha ouvido falar naquela palavra.
– Demodogs – Max repetiu, claramente perturbada com aquilo. – São aquelas coisas que nos atacaram quando estávamos naquele buraco em Hawkins...
Bufei. Eu nem tinha mais pensado naquilo, tinha decidido esquecer... tantas coisas para ter pesadelos, até o que aconteceu na Califórnia, com o sequestro e o assassinato do Rhys, Max tinha que pensar nos problemas que Hawkins tinha causado?
– Eu disse que essa cidade não é boa – falei, colocando uma mecha do cabelo ruivo atrás de sua orelha; Max me olhou irritada.
– Você não... não é a... – ela parou, respirando fundo. – Esquece.
Max não ia me convencer que aquela merda de lugar tinha algum ponto positivo; aliás, aqueles pesadelos só reforçavam a minha teoria de que tínhamos que ficar longe de lá.
~Max~
Billy nunca ia entender. Nada daquilo tinha a ver com a cidade em si... ou talvez até tivesse, mas, de alguma forma, eu me sentia segura lá. Mesmo com pesadelos de vez em quando, parecia muito mais intenso e assustador em Ohio do que em Indiana. Billy não ia entender; como ele podia ficar tão tranquilo sabendo sobre os demodogs? Por que ele não tinha medo?
Era loucura e eu estava ficando paranoica; pensando bem, não tinha como ter certeza de que o portal estava fechado... e se Eleven não tivesse conseguido fechar?
Não. Lucas garantiu que ela era muito poderosa, eu sabia que tinha fechado o portal. Ou era nisso que eu queria acreditar.
Enxuguei os olhos. Já tinha tido pesadelos antes, raramente dormia uma noite inteira, mas dessa vez foi pior... parecia muito real. Eu estava apavorada.
E ver Billy quando abri os olhos fez com que eu me sentisse segura de novo; a presença dele me tranquilizava. Ainda me sentia culpada por isso, sabia que, de algum jeito, estava brincando com os sentimentos dele... mas vê-lo ali, na minha frente assim que a imagem de um daqueles demodogs sumiu fez minha mente espairecer.
Billy podia me deixar louca de vez em quando; ele me estressava ou me provocava e me fazia ficar totalmente perdida. Mas tinha me esquecido de que o abraço e a companhia dele podiam ser reconfortantes em momentos como esse; não tinha percebido o quanto sentia falta daquilo até aquela hora.
– Boa noite, então – ele falou levantando, mas eu segurei seu braço.
– Pode ficar aqui? – pedi. Billy arqueou uma sobrancelha; era difícil ler sua expressão no escuro.
– Estou no mesmo quarto que você, lembra?
– Mas... pode ficar aqui na cama comigo? – era constrangedor e eu me sentia estúpida pedindo isso. Escutei um suspiro.
– Achei que não quisesse mais nada comigo.
– Por favor, Billy – pedi de novo; a hipótese de voltar a ter aqueles pesadelos e não tê-lo por perto para me acordar me deixava assustada.
Billy pareceu meio relutante, mas acabou deitando ao meu lado; a cama era pequena, bem menor que a dele em Hawkins. Não daria para dormirmos sem encostar um no outro. E eu nem queria isso.
Pensei que se dane. Já estávamos naquela situação mesmo, não podia piorar; cheguei mais perto, até encostar a testa em seu peito e sentir sua respiração no topo da cabeça.
– Se sente melhor comigo aqui? – ele perguntou, me abraçando sutilmente.
– Sim – sussurrei.
Agora que o pânico passara eu percebi o quanto estava cansada; o perfume de Billy, os braços dele ao meu redor, a respiração calma e profunda... tudo aquilo me fazia ficar ainda mais sonolenta.
– Você é muito complicada – ouvi a voz distante de Billy sussurrar.
Inspirei mais uma vez, sentindo os dedos dele passando com suavidade na minha costela. Eu já estava longe demais para titubear ou questionar.
O resto da noite foi tranquilo, nenhum pesadelo, nenhum incômodo sequer. Nada. Era como se, finalmente, eu tivesse a chance de descansar sem ficar me perguntando se aquele maldito portal seria aberto de novo.
Autor(a): nirvana666
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
~Max~ Tinha sido um final de semana interessante. Billy e eu não conversamos muito, mas também não brigamos; ele dormiu comigo nas duas noites em que ficamos na fazenda e eu não tive mais nenhum pesadelo. Eu não sabia bem como agir perto dele, nem o que falar; as coisas pareciam voltar a ser como eram antes e aquilo não podia aconte ...
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