Fanfic: Improvável | Tema: Stranger Things
~Max~
Perfeito, eu tinha sobrevivido a mais um dia de aula. As coisas não estavam exatamente ótimas, eu passava os intervalos sozinha, andando de skate e ouvindo música e não falava com ninguém, isso porque ninguém falava comigo também. Não era ruim, nada com que eu já não estivesse acostumada a lidar.
Não estava com altas expectativas sobre Hawkins, não esperava que, de repente, de uma hora para outra, eu viraria a garota mais popular da escola e andasse rodeada de pessoas, como Billy.
Até porque eu não tinha os atributos que ele tinha... estava longe de ser bonita. Minhas roupas eram meio surradas, meu cabelo ruivo, por alguma razão, fazia as pessoas zombarem, me chamando de água de salsicha; e eu era branca demais. É, definitivamente estava longe do padrão de beleza e tinha total noção disso. Eu jamais seria como Billy na escola e me contentei com isso.
Estava tudo nos eixos; eu estava adiantada nas matérias, principalmente em matemática e ciências. Poderia fechar o ano letivo tranquilamente e sobreviver assim sem grandes problemas; não tinha ninguém para Billy implicar e mandar ficar longe de mim e, se tivesse um pouco de sorte, ninguém saberia que morávamos juntos.
Eu podia passar essa fase da vida.
Billy e eu não tínhamos conversado desde o fliperama, mas eu ainda pensava em como ele estava assustado naquele galpão. Ele agia feito um imbecil, me tratava mal, gritava comigo, insistia em me xingar e dizer que não queria minha ajuda, mas, naquele galpão eu sei o que vi. Sei o que ele sentiu; ele precisava, ele me queria por perto... Por que era assim tão difícil admitir? Por que Billy sempre precisava bancar o idiota que não precisava de ninguém?
Tinha que parar de pensar nisso. Ia acabar torrando meu cérebro sem chegar a resposta alguma.
Saí da sala de aula e um grupo de garotas mais velhas passou por mim, derrubando minha mochila; bufei e peguei alguns livros que tinham caído no chão. Era o preço de ser a novata e eu não ia arrumar briga com ninguém, ainda mais sozinha. Cinco contra uma não era nada justo.
Fui até o meu armário e peguei o skate; de repente, ouvi alguém pigarrear; ao meu lado estavam dois dos quatro garotos que estavam me encarando no dia anterior.
– Oi, Max, eu sou o Dustin – o de cabelos cacheados falou; é, eu já sabia o nome dele e sabia também que era o meu concorrente nos videogames do fliperama. – E esse é o...
– Lucas – o outro completou com um sorriso. Eu também já sabia disso; dos quatro, Lucas era quem parecia ser mais interessante, mas eu não estava esperando que eles realmente viessem falar comigo, estavam mais para stalkers silenciosos e nada discretos.
– É, eu sei. Minhas sombras – falei encarando os dois.
– Não... – Dustin disse sem graça.
– Na verdade... Não estávamos de olho em você... – eu os vi se enrolando para tentar negar. Típico.
– Não. Nós ficamos preocupados porque, sei lá, você é nova e tal...
– É... Para a sua segurança – literalmente qualquer outra pessoa nesse mundo saberia disfarçar melhor; até Billy, com toda aquela pose de marrento mentiria com mais classe.
– E tem... Um montão de valentões aqui... – jura? E onde estavam esses fiéis escudeiros há uns cinco minutos?
– Muitos valentões, isso aqui é perigoso – claro, mal sabiam que o pior valentão dali dormia no quarto ao lado do meu. E eu não tinha medo dele.
– Por isso estão usando mochilas de próton? – arqueei a sobrancelha, reconhecendo as fantasias dos “caça-fantasmas”. Que patetas.
– Ah, elas não funcionam... Mas... – Dustin começou a mexer em algo que estava em suas costas – Eu tenho uma armadilha – ele pegou uma caixa decorada – bem útil aqui. E, olha só, ela até abre e fecha. Olha, olha.
Ele acionou algo que fez a caixa abrir.
– Voialà! Chocante, né? – a empolgação daqueles dois com uma caixa de papelão abrindo manualmente era quase deprimente... Me recusei a responder. – Não? – Seu sorriso diminuiu – Está bem. Mas... Poxa, a gente conversou ontem e... Você é nova aqui, então acho que não deve ter nenhum amigo para pedir doce com você e você tem medo de valentões – tenho? – então a gente combinou que pode ir com a gente.
O convite parecia genuíno, embora bem mesquinho... Sério, tinham jeitos muito melhores de chamar alguém para pedir doces sem fazer insinuações idiotas.
– Ah eu posso? – perguntei sarcasticamente. Eles achavam que eram quem? Os Beatles?
– É! Nosso grupo é uma democracia e a maioria votou para você ir... – meu Deus, o que mais? Às quartas usavam rosa e não podiam vestir moletom às sextas? É, era o famoso grupo de nerds da escola; todas tinham um.
– Não sabia que era uma honra assim pedir doces com vocês – continuei com a ironia.
– Isso, sabemos onde pegar os doces maiores, achamos que você ia querer – eles não se tocaram que eu estava sendo irônica.
– Como vocês são presunçosos – os dois ficaram olhando para mim, sorrindo, sem entender, como bocós.
– É, realmente – Dustin concordou.– Então... Você vai? – Ele estava falando sério?
Revirei os olhos, fechando a porta do armário e dando as costas para os dois. Já estava enrolando demais, Billy ficaria irritado e eu não estava com vontade de enfrentar a ira dele.
– A gente te vê na calçada da Rua Maple às sete – continuei andando – Às sete horas em ponto!
É, eu não conseguiria amigos melhores... nem um Halloween melhor. Tinha que escolher entre ficar em casa e ver filmes de terror sozinha ou pedir doces com um clube de nerds pegajosos... Eu não estava numa boa posição para julgar ninguém...
~Billy~
Vi Max se aproximando do carro, com a cara fechada, como de costume; os cabelos ruivos balançando de acordo com seus passos. Precisava ser sincero, adorava o jeito dela; parecia comigo. Quase sempre estava irritava e era muito fácil tirá-la do sério... Eu amava fazer isso.
– Está atrasada – falei.
– É que eu tive que pegar o dever... – ela falou baixo. Mas eu queria que ela gritasse, queria vê-la no limite.
– Escuta aqui, eu não dou a mínima. Se você se atrasar de novo, vai de skate pra casa. Entendeu? – ela entrou no banco do passageiro; dei um último trago no cigarro e o apaguei, entrando também.
Max não respondeu; achei que ela ia soltar algum comentário sobre já ter voltado de skate antes e não se importado, mas não. Ela ficou quieta.
Peguei um dos caminhos mais longos para casa, gostava da liberdade de correr na estrada, como se não houvesse amanhã e, de brinde, deixar Max com medo. Se desse sorte, ela ainda reclamaria e me imploraria para ir mais devagar...
– Esse lugar aqui é uma merda – comecei.
– Não é tão ruim... – ela respondeu.
– Não? – olhei para Max; ela parecia estar falando sério. Era um bom começo de discussão. – Por que? Você já achou algum namorado aqui?
Aquela ideia me incomodava. E me incomodava muito... Por que era tão nauseante sequer imaginar a Max com alguém? Mas eu não conseguia pensar em outra razão para ela achar aquele lugar minimante interessante.
– Claro que não...
– Óbvio, ninguém pegaria uma garota como você. Não é? Sabe por que, Maxizinha? – ela não respondeu. –Você é ridícula. E a gente só está nessa bosta de lugar por sua causa...
– Por que isso seria minha culpa? – ela questionou. Contive um sorriso.
– Como se você não soubesse – acelerei.
– Billy, devagar – Max não parecia assustada por causa da velocidade, como de costume; ela olhava para frente, preocupada, com aqueles olhos azuis fixos em três bikes a alguns metros do carro. Achei um ponto fraco.
Três garotos. Então era por causa deles que ela achava aquele lugar legal? Três garotos? Não. Sem chance. Só por cima do meu cadáver.
– São seus novos amigos caipiras? – perguntei sentindo a raiva crescendo; Max rodeada de garotos? Eu não ia deixar nunca; sabia exatamente o que passava na mente deles e aquilo me dava ânsia. Ninguém ia chegar perto dela.
– Não, eu não conheço eles... – ela estava mentindo. A expressão assustada naqueles olhos provava o contrário.
– Então não vai ligar se eu atropelar eles, não é? – Eu revezava o olhar entre a estrada e Max; ela ficava mesmo mais... Magnética quando ficava assustada, era incrível apreciar aquela visão. Seu rosto vermelho, o olhar desesperado, sem saber o que eu ia de fato fazer. – Será que eu ganho mais pontos se bater em todos de uma vez? – Ri, pensando como se o carro fosse uma bola de boliche e os três apenas pinos.
– Billy, para. Não tem graça – olhei para ela; estava desesperada; continuei acelerando, batendo a mão no volante, com a batida acelerada da música. – Billy! Chega, para! Não tem graça – era quase uma melodia doce ouvi-la sem saber o que fazer ou como me parar.
Eu estava no controle, eu podia fazer o que quisesse. Max não tinha ideia do que eu era capaz, principalmente se tivesse que manter aqueles merdinhas longe dela.
Acelerei ainda mais. Até onde ela iria se quisesse me parar?
– Para! – ela gritou E eu pensava nela, naqueles cabelos ruivos balançando com a velocidade do vento nas janelas... – Billy, para! – de repente, Max agarrou o volante, me fazendo desviar o carro dos três moleques de bike.
Eu a encarei, um pouco surpreso; ela olhava para trás, preocupada, checando se os três tontos estavam bem. Claro que estavam; eu não ia atropelar eles de verdade. Ou ia.
Eu realmente não esperava que ela fosse ter coragem de tirar a direção das minhas mãos, mas estava impressionado; gostei daquilo.
– Eles não são seus amigos, Maxizinha – falei. – Você não tem amigos, sabe disso.
– Eu não tenho amigos, já sei... – ela murmurou baixo. E eu não ia permitir que ninguém, principalmente aqueles meninos em específico ficassem perto dela. Max podia ser sem graça na maior parte do tempo, mas eu, melhor que ninguém, sabia da capacidade dela de instigar pensamentos extremamente sujos até em alguém como eu, que não tinha de verdade interesse nela.
Mas o fato de saber que Max provocava esses pensamentos me deixava louco... como o cara no posto de gasolina, que a encarava como se ela fosse um brinquedo... Eu podia matá-lo por isso.
– Exatamente. Você não tem amigos. Você é só um pedaço de carne para eles, como urubus em volta de um cadáver. Prontos para te comer.
– Que nojo... – ela não entendia o que eu quis dizer com aquilo. Não era nojento, era bom... Mas é, seria nojento se fosse qualquer outra pessoa além de mim.
Merda, por que é que eu estava pensando nisso?
– Fica longe deles, entendeu, Max? – ela não continuou olhando para o lado de fora. – Não vou deixar que você seja como essas vadias do colegial.
~Max~
Billy tinha pirado de vez. Não que eu fosse amiga daqueles três garotos; eram os esquisitos que não tiravam os olhos de mim por algum motivo idiota, eram um grupinho de nerds presunçosos... Mas atropelar garotos andando de bicicleta era demais, era um crime sem volta e eu não podia deixar que Billy fizesse isso; ele podia ser preso. Além do mais, aqueles garotos tinham me convidado para pegar doces com eles naquela noite de Halloween... Talvez não do modo convencional, eles pareciam aqueles bocós da escola, que todo mundo zoava... Só eles estavam fantasiados, o que era bem ridículo.
Mesmo assim, tiveram a consideração de me chamar. Eu não dei uma resposta clara, mas eu sabia onde poderia encontrá-los. E seria muito melhor passar a noite pegando doces do que deitada na cama, olhando para o teto.
É, eu não ia deixar que Billy os matasse, ainda mais por um motivo idiota... ele achava mesmo que eu ia namorar com alguém? Tínhamos acabado de chegar em Hawkins, eu mal conhecia as pessoas da escola... Fora que eu tinha outras preocupações.
Assim que chegamos em casa, Billy se trancou no quarto e eu fui até o telefone fixo, que já estava funcionando.
Disquei o número que sabia de cor, esperando ansiosa.
Os toques eram longos e agudos e pareciam não passar nunca.
– “Você ligou para o Sam. Não posso atender no momento, deixe seu recado” – suspirei. Depois de um tempão, meu pai não tinha atendido; tudo bem, ele poderia estar no trabalho.
– Oi, pai – falei, meio incerta. Ele ainda não tinha respondido meus últimos recados, falando sobre a mudança. – Já estamos em Hawkins, deu tudo certo. A escola é... legal, eu acho – eu não sabia bem o que falar; nós não tínhamos nos despedido, eu nem sabia se ele estava ciente daquela mudança. – Hoje é Halloween e estava lembrando de quanto nós dois adoramos aquele filme do Michael Myers... É uma pena que esse ano não possamos assistir juntos – senti os olhos marejados. – Enfim, eu estou com saudades. Me liga quando puder, por favor.
Desliguei o telefone. Merda. Meu pai não costumava ficar tanto tempo assim sem falar comigo... Eu sentia falta dele, da voz dele, do abraço... Será que ele viria me visitar? Ou será que eu podia pegar um ônibus e ir vê-lo? Era bem melhor do que passar os dias com a minha mãe e o Sr. Hargrove. Hawkins não era ruim, mas eu preferia ter ficado na Califórnia morando com o meu pai... Talvez, sem o Billy por perto, eu pudesse fazer amigos na escola.
Ou, quem sabe, ir para uma escola nova...
~Billy~
Escutei Max falar no telefone. Ela tinha gravado um recado; que eu tenha contado, já era o quinto desde que descobrimos que íamos sair da Califórnia.
Eu tinha a leve impressão de que meu pai tinha algo a ver com o desaparecimento repentino de Sam Mayfield, o pai da Max; ele era um cara... consideravelmente legal. E meu pai o detestava por isso.
Não seria nenhuma surpresa se ele o tivesse ameaçado de morte para nunca mais falar com a Susan ou com a Max de novo. Eu não queria, mas acabava me sentindo mal com isso.
Ele fez a mesma coisa com a minha mãe. Eu passei muito tempo tentando ligar para ela, deixando milhares de recados e implorando para que ela voltasse e me levasse embora, mas nunca tive nenhum retorno. Max estava no mesmo caminho.
Talvez eu estivesse pegando pesado demais com ela. A mãe dela e o meu pai eram dois babacas, controladores. Mas Sam parecia cuidar bem dela, eu o via e, às vezes, até invejava a relação dos dois.
Mesmo assim, isso me irritava. Não conseguia deixar de acreditar que tínhamos saído da Califórnia simplesmente porque Sam Mayfield queria a guarda da filha e era uma ameaça ao casamento de merda de Susan com o meu pai.
Questões e mais questões... Antes, talvez, eu não me importaria que Max morasse com ele; era um bom pai e eu não teria que ser a babá do ano. Mas agora... Bom, agora eu meio que queria mantê-la por perto. Eu não sabia bem o motivo, quem sabe fosse só para esfregar na cara dela que nossas vidas estavam uma merda por culpa dela.
Mas, naquele momento, eu reconhecia a dor da saudade no tom de voz de Max. Eu ia deixá-la em paz, por pena. Sam Mayfield provavelmente não voltaria a ver a filha.
Autor(a): nirvana666
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
~Max~ Eu esperei bastante tempo; passei o resto do dia em casa, atenta a qualquer toque de telefone, mas nada aconteceu. Tudo bem, eu sabia que meu pai era um homem ocupado e trabalhava demais, mesmo que nunca tivéssemos ficado tanto tempo assim sem conversar... Minha mãe devia ter falado para ele que íamos nos mudar e ele queria dar um tempo para que ...
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