Fanfic: Improvável | Tema: Stranger Things
~Billy~
Eu não queria voltar para casa, mas ele queria que eu ficasse lá. Max não estava, o que foi um alívio, mas não amenizava muito a situação; ela podia voltar a qualquer momento.
Eu sabia qual era o plano. Ele esperava que Eleven fosse tentar nos rastrear, estava contando com isso para aprisioná-la e destruí-la.
Eu não me importava de verdade com o que aconteceria com ela, mal a conhecia. Porém uma coisa tinha ficado bem clara nos últimos dias; ele tinha medo da garota. Ela era muito poderosa e já o tinha derrotado antes... ele estava com medo, o que significava que Eleven era provavelmente a única que poderia pará-lo. A única que poderia manter Max segura.
Eu precisava dar um jeito de avisar a ela, de contar onde ficava o celeiro; aquela coisa se escondia lá e eu sabia que só assim seria possível acabar com tudo. Ainda não sabia bem o que e como faria, mas tinha decidido; eu precisava dar um jeito de falar com Eleven.
Eu passei muito tempo sentado na cama, encarando o nada enquanto esperava que ela fosse atrás de mim; no fundo, duvidava que isso fosse acontecer... A garota não parecia tão estúpida a ponto de cair numa armadilha tão óbvia, mas ela veio.
Ainda não podia vê-la, só senti-la. A presença dela... estava por perto, sabia que estava. Respirei fundo.
Senti sua mão tocar e agarrar a minha, de um jeito delicado e, ao mesmo tempo firme; o que é que ela estava fazendo? Isso não aconteceu da última vez...
– Billy – escutei um sussurro. – Você está me ouvindo? Eu quero ver... Eu quero ver o que aconteceu...
Respirei fundo várias vezes. Sabia o que precisava fazer e o quanto iria doer. Levantei os olhos na direção de onde vinha a voz e comecei a focalizar a visão; era um borrão meio colorido, começando a ficar nítido muito lentamente.
Ia doer em nós dois. Segurei seu braço com força, para impedir que ela saísse. Ela começou a se debater, tentar puxar o braço e gritar.
Eu entendi tudo. Eleven queria entrar na minha mente, ela queria ver onde ficava aquele lugar... era perfeito. Era um plano perfeito, que custaria a minha alma se ele descobrisse. Ia arriscar; Eleven tinha que saber onde era, tinha que tentar parar e impedir que Max ficasse em perigo. Eu precisava fazer aquilo.
Soltei seu braço, vendo-a girar para trás em meio a escuridão. De certa forma, eu a levei para um lugar, uma lembrança antiga.
Estávamos na praia de Malibu, eu devia ter uns dez anos. Naquele dia, meu pai tinha gritado com a minha mãe, gritado muito; eu tinha ficado assustado e ela me levou à praia, disse que ficaria tudo bem. Escolhi essa lembrança.
Escolhi me agarrar à minha mãe, enterrar tudo ali com ela, assim ele não saberia de quem deveria ir atrás. Uma mulher que largou a família e sumiu do mundo... uma mulher que eu amei. Era essa a sombra na qual eu precisava me fixar, era através daquilo que Eleven veria o que eu queria que ela visse.
Minha mãe era linda e estava particularmente bonita naquele dia; usava uma roupa branca, um chapéu e sandálias amarelas nas mãos... o cabelo voava solto com o vento e ela me olhava surfar. Ela sorria e acenava, aplaudindo enquanto eu voltava das ondas do mar, fazendo as gaivotas voarem.
Eu não me sentia feliz daquele jeito há muito tempo. Ela beijou minha testa e eu sorria; tinha esquecido da briga mais cedo.
Era um dia lindo... eu não estava sozinho, não estava com medo. Eu queria ficar mais, queria prolongar... Pedi para ficar mais dez minutos nas ondas e ela deixou.
– Mas se ficar mais, o papai vai ficar uma fera! – ela alertou. Senti um arrepio; eu sabia como meu pai podia ficar irritado, sabia que precisava obedecer.
Senti uma dor que há anos não sentia. Saudade. Sentia falta da minha mãe.
– Billy! Cuidado com a correnteza! – ela falou.
– Eu sei! – respondi.
Quando fui que tudo desmoronou? Eu não queria mais pensar nela. Já tinha anos que eu evitava pensar nela, evitava sentir essa dor nauseante... Mas era necessário. Eu precisava esconder qualquer sentimento naquela lembrança.
Enquanto ele pensasse que aquela era minha única fraqueza, Max estaria bem. Eu escondia o dia do acidente ali.
Eleven podia ver, diante de um dia ensolarado, a tempestade que aquela criatura começou a causar naquela noite, os raios vermelhos, os trovões, o céu escuro. Ela precisava ir atrás, era ali que ele se escondia.
~Max~
A espera era avassaladora e estava acabando comigo. Já tinha roído todas as unhas estava puxando a pele da boca quando El ficou ofegante, de repente.
– Tem algum problema! – disse Mike.
Nós todos nos entreolhamos enquanto Eleven respirava assustada, o sangue escorrendo no nariz, mas sem tirar a venda. Não sabíamos o que fazer... o que estava acontecendo com ela? Ela tinha achado o Billy? O que ele estava fazendo? Mordi a língua para ficar quieta, não queria piorar ainda mais a situação.
– El, tudo bem? – Mike perguntou quando ela parou. – Você está bem?
– Estou – ela respondeu. – Estou bem.
– O que está acontecendo?
– Eu estou... numa praia...
– Olha só – disse Lucas –, eu posso ser trouxa, mas, até onde eu sei, não tem nenhuma praia em Hawkins.
Disso eu tinha certeza desde que resolvemos nos mudar para lá... Billy fez questão de dizer que essa era a pior parte de sair da Califórnia.
– O que mais você está vendo? – perguntei. El levou um tempo para responder.
– Uma mulher. Ela é... bonita – claro... por que eu não me surpreendia com uma mulher bonita dentro da cabeça do Billy? – Eu... eu acho que ela está olhando para mim.
Era como se El estivesse observando a cena, mas vendada.
– E tem... um garoto. É o Billy...
Comecei a ligar os pontos. Aquela mulher devia ser a mãe do Billy... era uma lembrança de quando ele era mais novo e eu aposto que sabia qual era essa praia...
– É na Califórnia – falei. – É uma lembrança.
Por que El estava, especificamente, nessa lembrança? O que tinha de errado naquilo? Podia sentir que algo não estava bom... Billy não falava sobre a mãe, não iria deixar El ter acesso a uma lembrança assim...
– Acho que estou vendo – El falou. – A fonte...
~Billy~
Em algum ponto, as lembranças começaram a se misturar. Eu estava perdendo o controle... Eu não sabia se era ele ou se os meus sentimentos que estavam bagunçados... Tudo parecia voltar de uma vez, como uma bola de neve, cada vez maior e mais difícil de parar.
Meu pai me obrigando a jogar beisebol, gritando comigo e me segurando pelo braço; as brigas e o ciúme doentio do meu pai com a minha mãe... os berros dele soando pela casa em eco... o cheiro do álcool, os xingamentos... a tigela de cereais quebrando.
Minha mãe j ogou um prato nele, eu sabia que a resposta seria pior... tentei me colocar na frente dela, me joguei em cima do meu pai para que ele ficasse longe. Mas ele me empurrou. Naquela noite, eu acabei com cinco pontos na testa e ela com o rosto inchado e roxo, com a clavícula quebrada.
Ela foi embora pouco tempo depois... minha mãe me deixou com o pior ser humano que já pisou na terra. Eu gritava, chorava e implorava para que me levasse com ela, para que ela voltasse... mas eu estava sozinho.
Aquilo doía... doía tanto... eu só queria que parasse, só queria sentir qualquer outra coisa. Não era para Eleven ver nada daquilo, não era...
Eu já sabia como ia acabar com aquela dor; só tinha um jeito. Eu precisava sentir dor de outras maneiras, precisava estar no controle de tudo. Sim... foi nesse ponto que tudo desandou. Foi aí que eu virei um merda, como o meu pai.
Foi quando a Max entrou na minha vida. Meu pai conheceu outra mulher sei lá onde e ela tinha uma filha... uma menininha ruiva e sardenta, com cara fechada, que me olhava feio. Meu pai disse que era minha irmã. Não, ela não era minha irmã, nunca seria.
Eu não queria que fosse...
Ela me incomodou tanto por tantos anos, era um pé no saco... eu a odiava... Não, não odiava. Eu a amava. Amava de um jeito que nunca devia ter amado.
Ela sorria, os olhos brilhando quando fomos à Califórnia no ano passado. Eu estava feliz de novo, tinha ela comigo, eu não estava sozinho... Max me aceitou exatamente como eu era.
– Quero voltar para Hawkins – disse Max.
– Eu não vou voltar.
Mas eu não podia deixá-la sozinha... mais um aperto, como outra facada no meu peito. Mais uma vez alguém ia escolher ir embora.
– Acabei de dizer que amo você...
– E isso não muda nada!
Eu queria parar... aquelas memórias... ele não podia ter acesso a elas, não podia saber tudo que eu estava sentindo... mas se Eleven estava vendo, ele também veria. Era a minha última chance. Ela finalmente viu; os faróis altos do carro, o vidro quebrado, meus gritos de pavor naquele celeiro... Ela viu, ela sabia.
No meio da névoa, da tempestade e dos lampejos vermelhos, agora Eleven sabia exatamente onde ele se escondia e poderia parar. Seria o fim dele, seria o fim de tudo.
~Max~
– Acho que eu encontrei – disse El depois de um tempo. Eu parecia estar tendo um ataque cardíaco. – A fonte...
– Onde, El? Onde você está?
– Brimborn, Siderúrgica.
Jonathan saiu correndo para pegar um livro e começou a folhear agressivamente, procurando pelo endereço da siderúrgica junto com Nancy.
– Aqui, achei! – ele falou. – Estrada Cherry Oak, 6522.
Isso ficava razoavelmente perto de casa...
– É perto – disse Nancy.
– El, achamos – Mike gritou. – Sai daí... Sai!
~Billy~
Eu deixei que Eleven tivesse acesso a tudo, a todas as memórias, as lembranças mais dolorosas e importantes... a tudo que ele tinha construído, às pessoas que pegou e, principalmente, ao esconderijo. Agora era tarde demais; ele tinha achado nós dois, ele sabia de tudo. Ela tinha que ser rápida e mais esperta do que ele...
Voltei a segurar seu braço, olhando-a nos olhos com convicção.
– Você tem que manter ela segura – falei; a garota estava com medo, os olhos brilhando de desespero. – Você ouviu?
– Sim... – ela sussurrou.
– Promete que vai proteger a Max. Não deixa nada acontecer com ela – Eleven não respondeu, apenas me encarou, respirando rápido. – Promete! – falei mais alto, segurando mais forte seu braço. – Sei que também se importa com ela.
Eu tinha percebido isso na piscina, o jeito como ela se colocou na frente da Max quando... eu tentei atacá-la. Eleven era minha única esperança.
– Eu... vou tentar...
– Acaba com isso – implorei. – Acaba mesmo se tiver que me matar, mas dê um fim e leva a Max para bem longe...
Ela assentiu, com os olhos marejados. E eu não estava mais lá; ele tinha nos alcançado e ia por seu plano em ação.
– Mike! – Eleven começou a berrar, assustada, olhando ao redor e chorando.
– Ele não está ouvindo – uma voz metálica saiu da minha garganta; aquele não era mais eu. – Não devia ter me procurado.
Meu corpo foi na direção dela; era uma visão pavorosa.
– Porque agora eu vejo você – coloquei um cigarro num cinzeiro. – Agora todos vemos você.
Era como se agora aquela coisa pudesse convocar todas as pessoas que capturamos, chamando-as para encurralar Eleven. Aquilo tinha sido uma péssima ideia, ela nunca devia ter ido atrás de nós... Mas era o único jeito de saber a origem de tudo.
Eu sentia eles se aproximarem. Heather, a Sra. Holloway...
– Você nos deixou entrar – continuei. – E, agora, você vai ter que nos deixar ficar. Não está vendo? Esse tempo todo, nós estávamos montando... estávamos montando para você...
Ela chorava, em pânico. Eu estava feliz... não, ele estava feliz.
– Tanto trabalho, tanta dor... Tudo isso... por você – eu sabia que os outros estavam se reunindo na siderúrgica. – E agora é a hora... Hora de acabar. E nós vamos acabar com você. E, quando você se for, nós vamos acabar com os seus amigos.
– Não! – ela gritou, implorando.
– Depois, nós vamos acabar com todos – eu tentava chorar, também estava com medo também não queria que aquilo acontecesse... porque se ele quisesse matar os amigos de Eleven, isso incluiria a Max. Ela tinha que parar...
– Vai embora! – Eleven gritou, apontando as mãos para mim e me jogando para o outro lado da sala.
Agora ele estava na siderúrgica, se alimentando das pessoas que tínhamos levado, crescendo, ficando cada vez maior e mais forte.
– Isso é culpa sua – disse Max. Olhei para ela.
– Max, não fui eu... eu não fiz nada daquilo... Eu juro! – tentei me aproximar, mas ela se afastou de mim, com medo. – Eu não vou te machucar – assegurei.
– Vai sim... você sempre me machucou, faz isso o tempo inteiro.
Seus olhos azuis me encaravam acusatoriamente; por que ela falava daquele jeito?
– Max... – chamei. – Isso não é verdade... eu nunca machuquei você.
– Sim, machucou! – ela gritou. – Todas as vezes em que me tocou, que abusou de mim.
– Não foi desse jeito...
– É claro que foi! Como pôde fazer isso comigo, Billy? Eu era a sua irmãzinha!
– Nunca fomos irmãos, Max... Você sabe bem disso, você queria...
– Eu queria? Como pode culpar a vítima assim? – senti o ar começar a faltar nos pulmões.
– Você nunca pediu para parar, lembra? Você e eu...
– Eu precisava pedir para você parar? Eu nem entendia o que estava acontecendo, eu confiava em você...
– Não é verdade – balancei a cabeça. – Você me puxou na primeira vez, Max... nós dois queríamos, não fiz nada de errado.
Eu não entendia porque ela falava aquilo... Esse sempre foi o meu medo, que Max se arrependesse de tudo e me acusasse de manipulá-la para ficar comigo. Não era verdade... eu nunca faria nada assim.
– Por que acha que eu queria voltar para Hawkins? – ela chegou mais perto de mim e eu ajoelhei no chão, as lágrimas correndo sem controle pelo meu rosto; Max, porém, parecia sorrir. Um sorriso malicioso e cruel, que não combinava com ela. – Eu queria ficar longe de você!
– Não... – murmurei. Eu não queria acreditar que era esse o motivo... Max disse que era por causa dos amigos, da cidade...
Era como ter o peito aberto por uma foice. Eu já tinha revivido todas aquelas lembranças, tinha passado por toda aquela merda de novo e isso parecia ainda pior. Porque isso era no presente, não no passado.
– Eu preferia morar com o nojento do seu pai do que com você... e você veio atrás de mim. Eu te odeio, Billy! Você me destruiu!
– Max... – mas me dei conta. Aquela não podia ser a Max...
– E agora eu vou destruir você.
Não era ela. Era aquela coisa... Era ele manipulando meus pensamentos, me fazendo sofrer. Ele queria me destruir agora que eu o entreguei de bandeja para Eleven.
Suspirei. Não importava. Não importava porque agora eu sabia que Max estava a salvo; ela não estava ali, não estava me dizendo todas aquelas coisas, não pensava isso sobre mim.
Ele podia fazer o que quisesse comigo, jamais chegaria perto dela. Eleven não ia deixar, eu confiava.
~Max~
Eleven deu um grito estridente do nada e tirou a venda, ofegando, em choque.
– Você está bem? El! – El se jogou nos braços de Mike, que a abraçou, tentando consolá-la.
O resto de nós ficou perplexo, olhando a cena e tentando adivinhar o que tinha acontecido. O que poderia ter deixado Eleven tão assustada? Será que Billy fez ou falou algo?
Autor(a): nirvana666
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
~Max~ El levou um tempo para se acalmar e regularizar a respiração. Ela me chamou para ir até o banheiro com ela e eu fui, meio confusa; senti os olhos dos outros em nós quando fechei a porta. – El? Tudo bem? – perguntei meio preocupada, já pegando outra toalha molhada para enxugar o suor e o sangue do rosto dela. – Max ...
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