Fanfic: Improvável | Tema: Stranger Things
~Max~
Mike e eu chegamos até a praça de alimentação. Os fogos que Lucas tinha usado para atingir o Devorador de Mentes tinham acabado, as luzes coloridas estavam cessando.
Eleven estava deitada no chão, tentando se rastejar para trás e Billy estava em pé, na frente dela, enquanto o monstro gigante se preparava para atacar.
Eu não respirei. Billy segurou a língua da coisa, impedindo que atingisse a El... mas ele começou a enfiar os tentáculos em Billy, fazendo-o gritar, sangrar e, aos poucos, perder a força. O Devorador de Mentes o segurou no alto usando vários de seus tentáculos.
Eu observava a cena como se estivesse passando em câmera lenta, paralisada, perplexa demais sequer para respirar. Eu não sentia os músculos do meu corpo, sabia que estava tremendo, estava apavorada como nunca pensei em estar na vida... e não era porque tinha um monstro de dez metros de altura na minha frente... era porque Billy estava em perigo real. Ele não estava mais possuído pelo Devorador de Mentes, estava literalmente nas garras dele.
Eu não conseguia ver uma saída para ele... El não se mexia... por que ela não usava os poderes para salvar o Billy?
– Billy! – senti minha garganta arder quando gritei, mas não escutava nada; era como se o mundo tivesse entrado no mudo.
Aquela coisa atravessou a língua gosmenta e cheia de dentes direto no peito do Billy e o largou no chão, como um boneco de pano. Ele estava caído, coberto de sangue.
Não. Não, não, não.
O Devorador de Mentes começou a se contorcer descontroladamente e caiu no chão um segundo depois, mas eu já estava correndo até ele antes disso acontecer, sem me importar se ia ser atingida ou não. Não me importava com mais nada.
Me joguei no chão, ao lado do Billy, aos prantos, soluçando. Ele ainda respirava, com dificuldade, sangue saía de sua boca.
– Billy? – chamei numa voz fraca. – Billy... – coloquei minhas mãos sobre seus ombros; ele olhou para mim.
– Max... – sua voz era arrastada e falhava ainda mais do que a minha.
– Billy, eu também te amo... ouviu? Eu amo você – ele gemeu.
– Precisei... morrer – disse, tossindo –... para você me dizer isso...
– Não... não, Billy, você não vai morrer. Você vai ficar bem, ok? – as lágrimas pingavam no peito dele. – Nós dois vamos. A gente pode voltar para a Califórnia... eu vou com você, nós vamos recomeçar... Mas você precisa ficar bem...
– Max... – Billy mexeu o braço com dificuldade e colocou a mão sobre a minha bochecha. – Você... tem que sair... essa cidade vai ser sua ruína também...
Senti falta de ar.
– Nós dois vamos sair daqui, entendeu? Nós dois – coloquei minha mão sobre a dele e fechei os olhos. Era uma cena dolorosa demais para ser assistida. – Você pode me odiar se quiser, pode gritar comigo... não importa! Posso viver com o seu ódio, mas não sem você aqui...
– Você não entendeu... eu nunca odiaria você.
De repente, foi como se uma lembrança invadisse meus pensamentos. Eu podia ver claramente a imagem de Billy ensanguentado, ainda com algumas manchas escuras pelo corpo. Mas ele estava em pé e me puxou para um abraço.
Eu chorei ainda mais, sentindo sua mão no meu cabelo e a respiração no meu pescoço. Aquilo parecia tão real...
– Me desculpa, Maxizinha – ele disse em voz baixa, num sussurro quase inaudível.
Abri os olhos. Sua mão caiu do meu rosto e bateu no chão; como aquilo era possível? Como ele tinha me mostrado aquela imagem e agora...?
Agora ele não respirava mais, seus olhos estavam vidrados para cima. O sangue tinha parado de jorrar; nem uma tosse, nem um último suspiro... Billy tinha morrido e aquele pensamento me invadiu como um furacão.
– Billy! – gritei. – Billy! Por favor! – encostei a cabeça em seu peito, mas senti duas mãos me puxarem para longe dele.
Eu não tinha forças para lutar, estava completamente perdida. Meu peito ardia, como se tivesse pegando fogo, eu não respirava direito.
Era El. Eu estava deitada no colo dela, podia escutar sua voz, mas não distinguia as palavras. Billy tinha morrido... não tinha volta... ele não ia ficar bem. Nós nunca mais iríamos à praia juntos, nem faríamos nenhuma viagem de carro... ele não ia me deixar dirigir mais... não teria mais um beijo ou abraço... nem ia dormir mais tranquila ao lado dele...
Tudo tinha acabado. Não tinha mais volta.
~Billy~
Eu olhei nos olhos dela uma última vez. Max estava dizendo tudo o que eu mais quis ouvir por meses... era só aquilo que eu precisava, que ela dissesse que também me amava e que poderíamos ir embora e nunca mais olhar para trás.
Mas agora era tarde. Eu estava condenado e sabia, no momento em que aquela merda bateu no vidro do carro eu soube que não ia sobreviver.
Mas eu ia em paz, não estava com medo. Eu finalmente tinha a certeza de que Max me amava, ela se importava de verdade comigo e, se as coisas tivessem um rumo diferente, nós teríamos ficado juntos.
Toquei seu rosto, mesmo que cada milímetro de mim doesse, eu me esforcei. Uma parte daquela coisa ainda vivia em mim e tinha poderes. Eu podia usar aquilo só mais uma vez.
Nunca poderia abraçar a Max de novo fisicamente, mas podia fazer isso através da mente, como Eleven invadiu a minha. Eu tinha muitas coisas a dizer.
Queria pedir a ela que fosse embora de Hawkins, dizer para ficar longe do meu pai, pegar o dinheiro que eu juntava e começar uma nova vida em outro estado. Queria dizer que tudo ia ficar bem, que ela não tinha que se prender ao passado, para seguir em frente. Dizer que eu a amei como nunca tinha amado outra pessoa, que eu tentei tudo que podia, que eu lutei e que me arrependia por todas as vezes em que fui um babaca com ela.
Queria implorar para ela nunca mais voltar para Indiana. Mas não tive forças para dizer nada disso... a única coisa que pude fazer foi pedir desculpas. Max jamais saberia pelo que eu sentia muito, ela nunca ia saber a intensidade do que senti por ela e nem o que eu seria capaz para vê-la bem.
Eu estava feliz por escutar a voz dela pela última vez e ver aqueles olhos azuis brilhando... era uma bela última visão.
~Max~
Eu tinha perdido a noção de tempo. Os dias passavam meio vazios. Joyce Byers ficou responsável de falar com a minha mãe e o meu padrasto sobre o que aconteceu com Billy; eu não sabia o que ela tinha dito a eles.
Alguma coisa aconteceu comigo naquela noite, depois do Devorador de Mentes morrer. Era um borrão, eu não tinha certeza de muitas coisas... mas me lembrava de alguém me carregando para dentro de uma ambulância.
Aparelhos apitando, conectados a mim, paramédicos gritando... Eu não conseguia respirar, nem parar de chorar, era pavoroso. Mas não durou muito. Alguém injetou alguma coisa no meu braço e, de repente, tudo parou.
Eu parei. Não sentia mais nada. Eu via e ouvia todo mundo, às vezes respondia e raciocinava com clareza, mas não sentia nada.
Minha mãe tinha certeza de que tinha perdido os calmantes na viagem, mas eles estavam comigo. Era o único jeito que eu tinha achado de sobreviver.
Eu não falava sobre o Billy, era um assunto proibido. Tentava evitar pensar nele e os remédios ajudavam com isso. Era ruim, eu sabia, estava ficando um pouco dependente... mas toda vez que eu fechava os olhos, eu via Billy estirado no chão. Precisava daqueles remédios para dormir, para falar e comer... Precisava disso para sobreviver.
Eu tinha me tornado quase um zumbi e já sabia como roubar a farmácia àquela altura. Sabia que era um caminho perigoso, mas, se não fizesse isso, a dor era insuportável, me fazia querer morrer. Então eu ficava anestesiada, aérea e, dependendo do que e quanto tomasse, até podia dizer que estava feliz.
Lucas e eu meio que voltamos a ficar juntos, de alguma forma, mais como amigos do que como namorados. Eu não sei bem quando foi que tomei essa decisão, não conseguia me lembrar, mas tinha acontecido; uma parte fragmentada de mim acreditava que se eu me prendesse a uma rotina, ao que era habitual, poderia tentar ficar bem.
Eu não entendia como a Joyce podia viver tão bem... era a terceira pessoa que ela perdia. Primeiro o marido, depois o Bob, depois o Hopper... Como ela se mantinha tão forte? Comecei a me questionar se ela também não tomava alguns tipos de remédio. Era impossível se viver com aquela dor estando sóbria.
Eu ouvi e assimilei uma parte do que tinha acontecido naquela noite. Dustin... Suzie, a namorada que não era imaginária do Dustin... Hopper... base militar russa... portal...
Se tivessem fechado aquele portal um minuto antes, Billy estaria vivo. Se El tivesse usado seus poderes, ele ainda estaria vivo. Mas Eleven aparentemente não tinha mais poderes ou, de alguma forma, não conseguia mais usá-los. E a única pessoa que eu podia culpar pelo que aconteceu era a mim mesma; fui eu quem quis voltar para Hawkins, mesmo com Billy dizendo que essa cidade nos destruiria; nunca achei que ele fosse estar tão certo...
Eu não conseguia mais conversar direito com El; ela passava muito tempo com Mike e, toda vez que tentava se aproximar de mim ou falar sobre aquela noite, eu sorria e dizia que estava tudo bem... Fomos ao cinema algumas vezes, ela dormiu em casa algumas noites... mas nada era como antes. Eu não sentia mais nada. El também tinha perdido uma pessoa e eu estava tentando ser a amiga que ela precisava.
Will era a única pessoa com quem eu conversava de vez em quando, quando não estava chapada demais para entender o que acontecia ao meu redor... ele me ouvia e eu tentava escutá-lo... De alguma forma, era como se estivéssemos conectados. Ele era o único que não falava sobre o Billy, sobre o portal e o Devorador de Mentes e eu gostava disso. Gostava de, por alguns momentos, fingir que nada tinha acontecido.
Eu fui sobrevivendo assim por dias... talvez semanas, eu não me lembrava bem. Até ter um baque completo; não sabia o que tinha acontecido, só me lembrava da minha visão embaçada.
Sentia o chão gelado no meu rosto, meu corpo mole, minha respiração pesada... Escutei uma porta bater e fechei os olhos, acreditando que agora tinha acabado mesmo.
Mas um tempo depois, acordei de novo; senti alguma coisa na minha garganta e, no momento seguinte, comecei a vomitar dentro da privada. Alguém segurava meu cabelo.
Por um instante, voltei no tempo; me lembrei daquela noite em que bebi tequila e estava exatamente assim, vomitando no vaso enquanto ele segurava meu cabelo... Nunca desejei tanto voltar para um momento como desejava agora.
– Billy? – falei, numa voz fraca, enquanto vomitava de novo.
– Não... Sou eu, Max – eu reconhecia aquela voz... Ele limpou minha boca com um papel e me colocou sentada, com as costas apoiadas na parede fria do banheiro e, em seguida deu descarga.
Levei um tempo para focalizar a visão. Não que eu estivesse mal por ser ele, mas não era quem eu queria.
– Will... – ele foi até a pia, lavou as mãos e, depois, sentou ao meu lado, me encarando com preocupação. – O que foi isso? – minha voz ainda saía arrastada e rouca.
– Acho que você teve uma overdose.
– Como? – Will apontou para três frascos de calmantes no chão, alguns comprimidos espalhados pelo azulejo. Suspirei. – O que você fez?
– Fiz você vomitar. Meu pai teve isso uma vez e foi isso que minha mãe fez... deu certo. Mas ele precisou ir para o hospital depois.
– Não preciso de hospital – apoiei a cabeça no ombro dele; Will colocou a mão sobre a minha. – Como chegou aqui?
– Você me chamou, lembra? – fechei os olhos e balancei a cabeça; eu não me lembrava.
– Vai contar para o Lucas?
– Sabe que eu não faria isso. Mas estou preocupado, Max. Nunca conversamos sobre aquela noite, só que acho que devíamos. Você não está nada bem...
Resmunguei; minha cabeça ainda rodava e eu continuava enjoada, embora achasse que não tinha mais nada para vomitar.
– Sente falta dele, não sente? – instintivamente, deixei as lágrimas rolarem pelo meu rosto e deitei no colo dele.
– Todo dia – solucei. Will passou as mãos pelo meu cabelo e eu sentia o chão gelado e duro embaixo de mim; nada mais importava.
– Escuta, isso vai ser bem difícil... Mas já pensou em procurar ajuda? Talvez você...
– Não – interrompi. Eu o escutei respirar fundo, agora enxugando as minhas lágrimas.
– Tudo bem, eu entendo – ficamos assim por um tempo, em silêncio, ambos perdidos em pensamentos e eu continuava chorando.
– Promete que não vai dizer a ninguém o que aconteceu? – pedi, agora encolhida, ainda com a cabeça no colo dele.
– Prometo. Eu sei que não é a mesma coisa, mas... quando meu pai morreu, eu escrevi uma carta. E, às vezes, quando alguma coisa me deixa muito mal, repito esse processo. Me ajuda a organizar os pensamentos e entender algumas coisas... Talvez devesse tentar. Deve ser muito doloroso lidar com essa merda toda sozinha e não falar a respeito. Você precisa de uma válvula de escape.
As pílulas eram a minha válvula... eram a única coisa que me mantinham respirando até então. Mas assenti; quem sabe escrever uma carta não fosse uma ideia tão ruim.
– Pode ficar aqui mais um pouco? – pedi, os olhos fechados, sentindo o sono pesar.
– Posso – Will colocou a mão sobre o meu braço.
Joyce, Jonathan, Will e Eleven iam se mudar. Eles iriam embora de Hawkins. Eu também queria ir, mas não sabia para onde.
A verdade era que eu era uma grande covarde. Só teria coragem de largar tudo e começar uma nova vida se Billy estivesse comigo. Mas ele não estava.
Eu não estava pronta para ver o Will partir; ele tinha sido meu melhor amigo e companheiro nas últimas semanas e agora... agora ele ia embora, sem olhar para trás. Sorte a dele.
Particularmente naquele dia, eu tinha tomado uma quantidade excessiva de pílulas, assim podia fazer de conta que estava bem e feliz; o grupo tinha se reunido para ajudar na mudança dos Byers.
Lucas e eu cantávamos a música Never Ending Story, já que, segundo o que me lembrava de Lucas ter contado, Dustin e Suzie ficaram cantando essa música durante uma batalha ou algo assim. Não sei, meus pensamentos estavam bagunçados demais, eu podia estar errada porque aquilo não fazia sentido... por outro lado, nada mais fazia sentido. Mas eu continuei cantando, sorrindo, como se tivesse a vida perfeita.
Dustin nos encarava sério.
– Espera aí – falei. – A gente cantou direito? É “will unfold the clouds”?
– Isso – ele respondeu. – Mas estão estragando tudo. Por favor, parem.
– Vai, canta com a gente, Dustinzinho – Lucas implicou.
– Ah, vai, Dustinzinho, canta com a gente – repeti.
– Vocês são tão engraçados que deviam fazer comédia.
– Canta para a gente a sua versão?
– Não.
– Por favor, só um verso!
– Não. Não mesmo. É reservado para os ouvidos da Suzie, apenas para os ouvidos da Suzie.
Lucas e eu nos entreolhamos e voltamos a cantar. Dustin mostrou o dedo do meio.
Era engraçado como eu quase podia me ver em outro plano. Aquela não era mais eu, era uma versão falsa de mim; um outro eu criado exclusivamente para que as pessoas não passassem o dia me perguntando se eu estava bem.
Eu diria que estava conseguindo atuar muito bem. Até o momento, ninguém suspeitava do que eu estava, de fato, sentindo – ninguém além do Will. Nem mesmo a Eleven. E eu não podia culpá-la.
El estava ocupada demais sofrendo a própria perda e o luto para se dar conta de que eu entrava num abismo.
Minha vida estava desmoronando e eu estava ficando encurralada; a única coisa que podia fazer era continuar com aquela Max feliz, sarcástica e nerd que eles tanto gostavam.
Mas El e Will estavam indo embora e eu ia ficar sozinha. Sozinha de verdade. Acho que, durante a vida inteira, nunca tinha sentido aquele vazio me atingir de uma forma tão intensa. Mas eu precisava apoiar meus amigos. Eu precisava estar lá por eles.
– Você vai ficar bem? – Will me perguntou, com um olhar preocupado; tínhamos acabado de levar a última caixa para o carro e estávamos sozinhos no quarto dele. Forcei um sorriso.
– Eventualmente, sim – falei, sem acreditar nisso.
– Sabe que pode me ligar quando quiser... e escrever sempre – assenti.
– Obrigada. Por tudo. Você tem sido um amigo e tanto... – talvez essa tivesse sido a única verdade que falei nos últimos dias.
Will me deu um abraço apertado e afagou meu cabelo.
– Quero que vá embora de Hawkins assim que tiver a oportunidade. Essa cidade não merece você.
Nos afastamos e ele segurou meu rosto com as duas mãos, em seguida, beijou minha testa.
– Se cuida, Max. Tenta pegar leve naquelas coisas... Preciso da minha melhor amiga longe desse lugar daqui uns anos. Ainda vamos dividir uma casa e estudar na mesma universidade, certo? – dei um sorriso fraco; soava como um bom plano, embora eu duvidasse que fosse funcionar.
– Certo.
Abracei Eleven, como se fosse a última vez que iria vê-la. Disse que ia ficar tudo bem, que manteríamos contato e que eu a amava. Nós trocamos um olhar significativo e ela subiu no caminhão de mudança, chorando. Eu não derrubei uma lágrima, apenas me agarrei ao braço do Lucas, com a cabeça apoiada no ombro dele, assistindo como uma série de TV a minha vida ir se esvaindo aos poucos.
Autor(a): nirvana666
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
“E a vida vai ser boa e linda, mas não sem um coração partido. Com a morte, vem a paz, mas a dor é o preço de quem vive... como o amor, é assim que sabemos que estamos vivos.” ~ Elena Gilbert (The Vampire Diaries) Decidi seguir o conselho do Will, mas... Isso dói demais... e eu só ...
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