Fanfic: Improvável | Tema: Stranger Things
~Max~
Ao final da aula, Dustin tinha finalmente decidido mostrar Dart para o nosso professor de ciências.
– Esse foi o motivo para eu me atrasar – disse Dusitn, colocando a mochila de caça-fantasmas na mesa do Sr. Clarke, com um sorriso radiante.
– Que bacana! – disse o Sr. Clarke. – As portas funcionam? – contive um riso; era realmente isso que ele achava interessante?
– Sim, óbvio, mas não é a armadilha. É o que tem dentro. E isso pode mudar sua percepção do mundo... – Dustin enrolava demais.
– Agora sim estou interessado.
– Ok. Primeiro, vamos deixar claro que a descoberta é minha, não sua – revirei os olhos.
– Dustin, para com isso! Só mostra – disse Lucas.
– Tudo bem, eu só queria deixar claro...
– Dustin! – chamei.
– Claro. Certo, vamos.
Mas, de repente, Mike e Will entraram correndo na sala.
– Para! – gritou Mike, pegando a armadilha. – Me desculpa, Sr. Clarke, é uma pegadinha boba – ele agarrou o negócio como se a vida dependesse disso.
– O que está fazendo? – perguntou Dustin, perplexo.
– Desculpa – Mike murmurou ainda para o Sr. Clarke, depois olhou para nós. – Nós temos que ir. Agora. Agora mesmo!
E saiu correndo na direção oposta. Fomos atrás dele, sem entender nada.
Eles entraram no clube de Audiovisual de novo, mas dessa vez me deixaram trancada para o lado de fora e foi Mike quem fez questão de dizer que a minha presença não era bem-vinda ali.
Fiquei batendo na porta de uma maneira propositalmente irritante; não era justo me deixarem para fora, eu já sabia do Dart...
– Pessoal! Já posso entrar? – pedi.
– Não! – escutei Mike gritar com raiva.
Bati de novo na porta. Era um saco essa coisa de clube dos meninos. Eles me contaram do Dart e agora não queriam me explicar mais nada?
Sentei no chão, encostada na porta. Em algum momento eles teriam que sair. Eu escutava as vozes e os murmúrios e, eventualmente uns ruídos estranhos, mas não conseguia identificar o que estavam falando.
Suspirei. Eles não podiam me excluir assim. Olhei para a mochila e tive uma ideia.
Em mais de uma ocasião Billy já me deixou trancada para fora de casa e, com o tempo, acabei aprendendo a arrombar uma fechadura usando clipes ou grampos. Peguei um clipe do fichário e enfiei na fechadura do clube.
Mas, assim que consegui abrir a porta, escutei um barulho alto, vários grunhidos e uma coisa verde passou por mim, como na velocidade da luz e, no instante seguinte, Dustin caiu em cima de mim; Lucas caiu ao meu lado.
– Para onde ele foi? – Will perguntou, olhando para o corredor.
– O que era aquilo? – perguntei, empurrando Dustin de cima de mim e levantando do chão.
– O Dart! – Mike respondeu irritado.
– O que? – aquela coisa estava maior que o Dart, não parecia nada com ele.
– Você deixou ele fugir! – eu estava pronta para entrar numa discussão com aquele garoto idiota... Mas Dustin logo interrompeu, colocando o dedo no peito dele.
– Por que você atacou ele? – Mike desviou do Dustin e começou a andar pelo corredor.
– Anda!
– Não machuca ele! – Dustin gritou.
Estava começando a entender mais ou menos o que tinha acontecido. Aparentemente, o Dart teve uma espécie de evolução repentina, Mike estava achando isso meio perigoso e tentou atacar o bicho, mas ele fugiu no momento em que eu abri a porta.
Nós tivemos que iniciar uma busca – quase que coordenada – pelo Dart; os meninos usavam walkie talkies para se comunicar; eu não sabia bem como podia ajudar, então só ficava olhando pelo chão, procurando um bicho verde e gosmento.
Ressaca e uma busca por uma nova espécie eram duas coisas que não combinavam muito bem. Lucas parecia ótimo... claro, ele não tinha bebido nada. Steve devia já estar acostumado, então eu provavelmente era a única afetada. Mas também não tinha nada útil para fazer o resto do dia, considerando que eu já tinha perdido a carona com o Billy e que ele devia estar muito bravo por eu não ter avisado que não ia com ele. Seria melhor evitá-lo pelo maior tempo possível.
Eu estava no banheiro do ginásio, já que os garotos estavam no andar de baixo; achei que cobriria mais área se ficasse na parte de cima. Nem sinal do Dart.
De repente, Mike pulou atrás de mim, dando um grito, me apontando um... esfregão?
– O que é que você está fazendo? – perguntei confusa e meio assustada.
– O que você está fazendo? – ele perguntou num tom de acusação, mas recuou um passo – Por que está aqui?
– Eu estou procurando o Dart – obviamente... O que mais eu estaria fazendo? Afinal, de certa forma, a culpa era minha por ele ter escapado.
– Aqui é o banheiro dos meninos.
– E daí? – nem estávamos mais em horário de aula... Era válido procurar em qualquer lugar. Fora que duvidava que o Dart fosse se importar se o banheiro era feminino ou masculino.
– Você devia ir embora – Mike largou o esfregão no chão e saiu andando; mas eu já estava ficando de saco cheio de como ele me tratava e resolvi ir atrás. Sério, tínhamos que tirar essa história a limpo.
– Por que você me odeia tanto? – Mike sempre fazia questão de me excluir de tudo, me tratar com desprezo e me ignorar. Eu não entendia o motivo.
– Eu não te odeio – ele continuou andando rápido pelo ginásio. – Como eu vou te odiar? Eu nem te conheço.
– É, só que você não me quer no seu grupo... – qualquer um perceberia que Mike era o “líder” daquele grupinho e, aparentemente, os outros o seguiam cegamente e faziam tudo o que ele queria.
– Exato.
– Por que não? – insisti e ele parou, virando para mim.
– Porque você é irritante! – não era a primeira vez e provavelmente não seria a última que eu ouviria isso, mas, dessa vez, não me atingiu. Não como costumava atingir quando era Billy quem falava. – A gente não precisa de outro membro. Eu sou o paladino, o Will é o clérigo, o Dustin é o bardo, o Lucas é o ranger e a El é a maga – me perdi nessa história... A conta não batia.
– El? Quem é El?
– Alguém... – Mike suspirou e baixou a voz. – Ninguém.
– Alguém ou ninguém? – parecia um assunto delicado.
– Ela era do grupo muito tempo atrás. Mas se mudou, tá bom?
Mike virou de costas, como se não quisesse mais falar sobre. Mas agora minha curiosidade estava atiçada.
– Ela era maga? – aquilo estava estranho. Comecei a andar de skate pelo ginásio, atrás de Mike. – O que que ela fazia? Truque de mágica? – ele revirou os olhos e não respondeu. Parei na frente dele. – Ah, eu posso ser a zoomer.
Eu não era muito querida na minha escola antiga e as pessoas usavam esse apelido para me perturbar, mas ainda gostava dele e podia transformar em algo positivo. Era um grupinho seleto de nerds bobões, mas eu estava começando a gostar e querer fazer parte.
Dustin e Lucas, principalmente, eram legais. Às vezes.
– Esse negócio nem existe!
– Mas pode existir.
Mike parecia realmente decidido a não me aceitar. Eu não ia desistir. Comecei a andar de skate em círculos ao redor dele.
– Viu? Zoomer.
– Impressionante – ele revirou os olhos de novo; daqueles quatro, Mike era de longe o mais parecido comigo. Nós dois tínhamos uma personalidade forte, éramos teimosos e tínhamos senso de liderança aguçado. E o principal: não gostávamos um do outro.
– Qual é, você está impressionado – provoquei.
– Não vi nada especial. Só andou em círculos – sim, um bom truque para deixar o adversário cercado e tonto.
– Se é tão fácil, tente você.
– Não.
– Por que não? – arqueei a sobrancelha sorrindo.
– Não sei como.
– Então admite que é impressionante – continuei andando em volta dele.
– Acho que se eu praticasse, poderia fazer isso – claro, qualquer um poderia, mas a graça era provocar. – Está me deixando tonto – Mike já não conseguia seguir com os olhos onde eu estava. – Você é legal, mas já chega.
– Paro se me deixar entrar no grupo – sugeri.
– Fala sério...
– É uma pergunta simples. Estou no grupo?
Encarei-o esperando uma resposta... Quando, de repente, o skate pareceu ir na direção oposta à que eu estava... Eu andava de skate há anos; não era a melhor, mas nada daquele tipo nunca tinha acontecido...
Já tinha levado muitos tombos e tinha cicatrizes para provar, só que dessa vez foi diferente... eu estava fazendo coisas simples, não era nada arriscado, nada que me fizesse cometer um erro.
Caí de costas no chão.
– Nossa! Você está bem? – Mike se ajoelhou ao meu lado.
– É, estou. Eu acho – felizmente eu já estava acostumada com as quedas; Mike me deu a mão para me ajudar a levantar, grande avanço.
– O que houve? – também queria saber...
– Eu não sei... Parecia um ímã, sei lá... Puxando o meu skate. Eu sei que parece loucura – melhor deixar quieto.
Achava que Mike e eu já tínhamos dado um passo e não ia perder meu tempo explicando algo que soava quase sobrenatural.
Peguei meu skate enquanto Mike saía correndo do ginásio, como se tivesse visto um fantasma.
~Billy~
Levar garotas para casa e transar com elas no quarto nunca tinha sido um problema, mesmo que eu soubesse que Max estava no quarto ao lado, nunca tinha me importado com isso.
Mas agora era nisso que eu pensava... eu não tinha ideia de onde ela estava, nem com quem, nem a que horas chegaria. Max podia chegar a qualquer momento, me chamando de novo... e aquela distração não ia adiantar nada porque, mais uma vez, eu ia pensar nela enquanto estava com outra garota.
Acabei tendo que explicar para essa garota quem era a Max e porque estávamos esperando por ela na saída, ou seja, agora tinha que ser ainda mais cuidadoso para não dizer o nome dela... falar o nome da enteada do meu pai enquanto estava transando não ia soar nada bem.
– Billy... – ela gemeu. Isso também não estava ajudando.... escandalosa demais, barulhenta demais...
Ela agarrava as minhas costas como se eu fosse fugir dali, era muito incômodo.
Coloquei uma das minhas mãos sobre sua boca e, com a outra, segurei seus pulsos contra a cama. Ela continuava de olhos fechados, não parecendo se importar tanto com o que eu fazia.
Estava melhor. Muito melhor... Mas só estava melhor porque agora eu conseguia imaginar a Max no lugar dela com muito mais facilidade, o que era tudo que eu queria evitar... Mas era tão melhor quando eu pensava naqueles cabelos ruivos espalhados pelo travesseiro.
Era muito mais excitante lembrar das unhas dela nas minhas costas, da respiração ofegante, os olhos azuis confusos, procurando os meus... as pernas dela ao redor de mim e a voz dela me perguntando o que eu ia fazer...
Cacete, eu estava pirando... Max era a única garota que eu não podia ter e a única que eu desejava naquele momento. Aquilo era tudo que eu não queria... tinha levado aquela menina em casa para esquecer a Max, para focar em outra coisa que não fosse ela. E estava lá, de novo, fantasiando com ela... mordendo a língua para não chamar o nome dela...
~Max~
Will tinha comunicado pelo walkie talkie que o Dart estava em um dos banheiros do primeiro andar, perto da sala do Salerno.
Mike e eu encontramos com Lucas no meio do caminho e nós três corremos até o banheiro. Dustin estava lá, mas Will não.
– Cadê o Dart? – Mike perguntou.
– Eu não sei – Dustin respondeu. – Não está aqui.
– O que? – Mike era sem dúvidas quem parecia mais agitado com a situação.
– Perto da sala do Salerno, não é? – perguntei para confirmar que tinha ouvido certo. Mike olhava pelas cabines.
– É, vai ver o Will levou... – Dustin sugeriu.
– Cadê o Will? – Mike perguntou.
Nenhum de nós tinha ideia. Nós nos dividimos para procurar; agora Will e Dart tinham sumido... precisava comprar rastreadores para aquele grupo.
Dustin e eu saímos gritando por Will quando, de repente, uma mulher pálida, de cabelos castanhos cruzou com a gente.
– Dustin! – ela falou, bem agitada, ainda pior que o Mike.
– Tia Joyce? – perguntou Dustin, surpreso.
– O que está acontecendo? Cadê o Will? – ela não tinha percebido que era exatamente o que queríamos saber? Nós meio que estávamos gritando o nome dele pela escola...
Lucas entrou correndo no corredor.
– No gramado! – ele simplesmente disse ofegante e saiu correndo de novo; Joyce, Dustin e eu corremos atrás.
Will estava de pé no meio do gramado da escola, de olhos fechados... A visão era de dar calafrios, como se ele estivesse possuído ou começando a ter um ataque epilético, sei lá.
– Acho que ele está tendo outro surto – Mike, que estava ao lado dele, falou; será que tinha algo a ver com a história de ele ter se perdido na mata? Algum gatilho ou algo assim?
Joyce, que logo descobri ser a mãe de Will, tentava chamar o filho, segurando-o pelos ombros; ela estava mesmo desesperada... E eu não tinha ideia do que fazer, como agir diante daquela situação... Eu mal conhecia aquelas pessoas e todos pareciam desesperados demais.
Estávamos todos em volta de Will, num círculo; todos esperando alguma reação, ansiosos e aflitos... Mas Joyce gritava e nada acontecia, ele permanecia igual, tendo tremedeiras e ocasionalmente abrindo os olhos por alguns segundos; que merda era aquela?
Então, do nada, ele abriu os olhos de uma vez; arregalados.
Fiquei boquiaberta, sem ter ideia do que tinha acabado de acontecer.
Joyce guiou o filho para a frente da escola, levando-o embora; enquanto Lucas, Dustin, Mike e eu ficamos parados na entrada principal do colégio, encarando Will partir. Os três não pareciam tão perturbados quanto eu.
– Tá bom, aquilo me assustou legal – falei ainda chocada. – Não assustou vocês? – eles pareciam... habituados com aquilo...
– Dois surtos desses em dois dias – Lucas constatou, sem me responder. É, Will era meio esquisito mesmo... Na noite do Halloween ele também teve aquele ataque, mas eu não tinha presenciado.
– Está ficando pior – Mike concluiu.
– Será que é a Visão Verdadeira? – Lucas perguntou.
– Visão Verdadeira? – questionei. Eles estavam muito estranhos.
– Nada, não é nada – Lucas desconversou sob o olhar ameaçador de Mike. Nenhum deles me deu uma resposta clara e nem parecia disposto a me contar o que estava acontecendo.
E eu achando que Mike estava começando a me aceitar melhor. Bufei.
Fui para casa de skate; o sol já estava se pondo quando cheguei. Minha mãe chegou cerca de cinco minutos depois de mim, então Billy não teve muito tempo para me passar um sermão sobre eu ter atrasado e o quanto eu era inútil. Mas sabia que, em algum momento, a bronca viria. Tinha sido um longo dia, mal tive tempo para nada... Ressaca, bicho esquisito fugitivo – e ainda desaparecido –, garoto esquisito tendo uma crise esquisita... Resolvi que não estava com vontade de ficar pensando sobre o que tinha acontecido e nem o quanto estava estressada com Mike. Simplesmente deitei na cama e em pouco tempo apaguei.
Na manhã seguinte, Lucas, Mike e eu estávamos procurando Dart nas redondezas da escola. Eles ainda não estavam falando direito comigo, ninguém tinha me explicado nada ou comentado nada sobre o dia anterior. Lucas tinha certeza que Dart estava na caçamba de lixo, já que Dustin tinha dito que o encontrou no lixo.
Eu duvidava que o bicho ainda estivesse por ali... naquele ponto, já devia estar longe e nossa chance de ter descoberto uma nova espécie foi por água abaixo, mas não discuti.
– Isso é muito nojento... Precisa mesmo fazer isso? – comentei vendo Lucas revirar e atirar restos de comida e papéis de dentro da caçamba; ele realmente tinha entrado no lixo...
Quem, em sã consciência, entra numa caçamba de lixo de escola com uma probabilidade mínima de encontrar uma criatura ainda mais nojenta?
– O que está acontecendo? – Dustin chegou, observando a caçamba fazer barulho.
– O que você acha? – Mike indagou.– Estamos procurando o Dart.
Lucas jogou dois sacos de lixo rasgados a poucos centímetros de Dustin e pulou da caçamba.
– Ora, ora, ora – disse Lucas, com as mãos na cintura e encarando Dustin. – Olha quem finalmente decidiu aparecer. Depois que eu perdi quando tiramos na sorte – e que bom que foi ele que perdeu, porque eu nunca teria entrado naquela merda, nem se meu skate estivesse lá dentro. – Que conveniente – Lucas cruzou os braços.
– Você está fedendo – comentei me afastando dele; o cheiro estava insuportável.
– Oi, Max – Dustin não parava de me olhar, com um sorriso de orelha a orelha, como se eu fosse uma barra de chocolate.
– Oi – respondi meio sem graça.
– Cadê o Will? – Dustin perguntou.
– Ele já vem – Mike respondeu.
– Vai ficar parado aí? – Lucas disse, arremessando um pedaço de pau para Dustin. – Ou vai ajudar?
Nós usamos os pedaços de pau para fuçar nos sacos de lixo que Lucas tinha tirado dali de dentro; mas nem sinal daquele bicho, tudo que achamos foram algumas baratas.
E nem sinal do Will aparecer na aula também, apesar de Mike ter dito que ele viria. Eu não estava conseguindo acompanhar o que estava acontecendo.
~Billy~
Max não falou comigo. Ela nem olhou para mim. Nós nunca tivemos uma relação muito boa, mas também não era tão fria assim... Talvez ela tivesse mesmo se lembrado e agora estava me evitando. E eu não sabia como agir.
Achava que transar com uma garota aleatória da minha sala iria ajudar a clarear os pensamentos, mas eu não me sentia nada melhor. Na verdade, só pensava ainda mais em Max e naquele beijo...
As marcas ainda estavam nas minhas costas e no meu peito e iam levar um tempo para sair. Mas depois da última aula de educação física, nenhum idiota se atreveu a questionar quem tinha deixado as marcas.
Educação física de novo, basquete de novo; pelo menos uma coisa positiva naquela merda de colégio. Harrington era a única coisa que animava meu humor, eu adorava vê-lo se esforçando para pegar a bola, tentar passar por mim ou marcar uma cesta e falhando miseravelmente e era ainda melhor fazer de tudo para atrapalhar.
Eu ainda estava com raiva dele. Ainda o culpava pelo que aconteceu no Halloween. Max e eu só estávamos naquela situação porque ele deu bebida para ela.
– Beleza! – falei rindo quando consegui pegar a bola antes dele. – Olha só que legal, Rei Steve. Rei Steve, pessoal – provoquei. – Gostei, está jogando bem hoje – continuei batendo a bola na frente dele, olhando bem nos olhos, tentando provocar alguma reação; como eu adoraria dar um murro naquela cara lisa. Só precisava de uma desculpa, só uma...
– Aí, Billy, vê se cala a boca e joga – ri, as mãos coçando para voar na cara dele.
– Que é? Está com medo do treinador te botar na reserva comigo aqui?
Passei por ele, dando um encontrão proposital, com força e derrubando-o. Em seguida, fiz uma cesta. Steve Harrington nunca ia me vencer.
Ele ainda estava estirado no chão, como um boneco de pano molenga. Não sabia que era tão frouxo, pensava que o grande Rei Steve teria um pouco mais de coragem.
Estendi a mão para ele.
– Você está mexendo os pés – falei chegando mais perto. – Trava da próxima vez, aguenta o tranco – empurrei-o de volta para o chão com força, torcendo para que ele batesse a cabeça.
A aula passou rápido, logo estávamos no chuveiro do vestiário.
Parei ao lado do Harrington.
– Relaxa, Harrington – falei sentindo a água escorrer. – Hoje não é o seu dia, meu amigo.
– É, não é a sua semana – Tommy, um dos garotos da nossa sala entrou na conversa. – Você e a princesa terminam num dia e no outro ela está saindo com o irmão do esquisitão – Steve olhou para os lados, tentando disfarçar que não sabia do que Tommy falava; e eu só pude pensar que se ele estava brigado com a princesinha Wheeler... Por isso ele foi atrás da Max? Com tantas garotas do colegial... por que ela? – O que que é? Você não sabia? O Jonathan e a princesa mataram aula ontem e não apareceram... Mas deve ser só coincidência, não acha?
Tommy saiu rindo.
Em outros tempos, Steve Harrington e eu teríamos sido bons amigos; talvez se tivéssemos nos conhecido na Califórnia. Mas ele começou muito mal se aproximando de Max.
Nós desligamos o chuveiro quase ao mesmo tempo. Esperei até que o vestiário estivesse quase vazio e Harrington e eu éramos os últimos.
Ele parecia bem desconfortável com meu olhar. Era o que eu queria.
– Não acho que um cara como você tem problemas com garotas – falei. Harrington não respondeu; ele tentou passar por mim, mas coloquei a mão na sua frente, impedindo a passagem. – Você está num mar lotado de piranhas e pode escolher a que quiser... mas vai ficar longe da Max.
Ele suspirou, finalmente entendendo.
– Ah, ela te contou...
– É, contou.
– Não sei o que vocês dois têm, mas foi só um beijo, cara – estreitei os olhos.
– Beijo?
Então ele não só tinha dado bebida, mas tinha beijado ela? Agora eu estava no limite. Foi tão rápido e automático que mal percebi quando acertei o primeiro soco, no topo de sua cabeça; Harrington ficou desnorteado e eu aproveitei o momento para derrubá-lo e começar a arrastá-lo pelos cabelos.
Em segundos, entrei em uma das cabines do banheiro, abaixei ao lado de um dos vasos sanitários e enfiei a cabeça do famoso Rei Steve dentro dela. Eu o escutava tossir e tentar gritar, enquanto praticamente se afogava. Dei uma descarga e acertei mais um soco em sua costela; a única imagem que passava na minha mente era Max, altamente embriagada e Harrington se aproveitando dela porque a Nancy Wheeler tinha dado um fora nele.
O que ele pensava que a Max era? Quem ele pensava que era para chegar perto dela? Não foi só a bebida... Steve Harrington ficou com a Max bem debaixo do meu nariz. Ele só podia ter perdido a noção. Ele se debatia e tentava se livrar de mim, inutilmente. Eu era mais alto, mais forte e estava numa posição vantajosa.
A ideia dos dois juntos me dava calafrios e eu nem podia ficar com raiva da Max por causa disso. Que culpa ela poderia ter? Ela estava bêbada, ele se aproveitou de um momento de fraqueza e vulnerabilidade dela.
Não importava o quanto eu a detestasse, ela não ia ficar com mais ninguém. Só de pensar nela sozinha e bêbada com Steve Harrington, minhas estranhas se reviravam; ele merecia muito pior do que eu estava fazendo.
– Billy... Ei, Billy! Já chega – disse Tommy, que tinha voltado para o vestiário e agora olhava assustado enquanto eu pressionava o rosto metido do Harrington contra a água da privada.
Bufei. Eu não ia matá-lo de verdade. Ou ia. Mas agora tinha uma testemunha e eu não podia ir preso em flagrante. Mas Harrington estava marcado comigo.
Eu o puxei pelo cabelo, permitindo que ele respirasse e o soltei no chão mais uma vez. Ele estava todo molhado e com o nariz coberto de sangue.
Tommy se afastou, ainda com medo. Me aproximei do Steve de novo, que tossia desesperadamente e tentava recuperar o ar.
– Não pense nem por um segundo que eu não sou capaz de matar você se pensar em chegar perto dela de novo – ele me olhou. – Entendeu, Harrington?
– Entendi... – ele falou numa voz trêmula.
– Ótimo. Que bom que resolvemos essa questão.
~Max~
No almoço, Mike quis ligar para a casa do Will. Dustin, Lucas e eu ficamos sentados na escada, esperando.
Considerando a rapidez com que Mike voltou, ninguém tinha atendido.
– Vamos conversar. Clube Audiovisual, agora mesmo – Mike subiu as escadas; levantei para segui-los, mas ele me olhou com raiva. – Só membros do grupo – claramente eu não era parte do grupo.
– Qual é, Mike... – Dustin começou.
– Não! Isso não é negociável – Mike interrompeu; ele estava mesmo decidido a não me deixar participar do grupinho de nerds. Achei mesmo que depois da conversa que tivemos as coisas iam melhorar, mas nada mudou...
Lucas e Dustin pediram desculpas e seguiram Mike para dentro da escola. Aquilo não era uma “democracia”? Porque Lucas e Dustin eram a maioria e me queriam no grupo naquele momento... Mas ninguém me deixou entrar. De novo.
Honestamente, me senti mal. Por mais que eu tivesse aprendido a lidar bem com a rejeição, de vez em quando ainda doía. Eles não eram pessoas ideais, na verdade, eram bem esquisitos, mas eu estava começando a gostar do jeito meio bobo deles.
Pensei mesmo por um momento que poderíamos ser amigos, que eu finalmente me encaixaria em algum lugar... mas as coisas estavam ficando difíceis de novo e dessa vez Billy nem tinha se metido no meio para estragar. Acho que acabei fazendo isso por conta própria.
Então eu fiquei brava. Decidi que não se eles não me queriam no grupo idiota, eu também não queria mais fazer parte. Não ia ficar me humilhando e correndo atrás de ninguém.
Não falei com eles durante o resto da aula; no final, Lucas ainda teve a pachorra de vir falar comigo como se nada tivesse acontecido, com certeza querendo a minha ajuda para tentar encontrar aquele bicho esquisito do Dustin. Foi a gota d’água.
– Max? Aonde você vai? – ele continuou vindo atrás de mim enquanto eu saía da escola. – Qual é! A gente tem que procurar o Dart...
– Boa sorte para vocês – não parei de andar.
– Qual o seu problema?
– Qual o meu problema? Qual é o seu problema? – nossa, como eu queria matar aquele garoto. Ele era lerdo assim mesmo ou só estava se fazendo para me importunar?
– Eu não estou entendendo... – sério?
– Não! – virei para ele. – Eu não estou entendendo. Vocês agem como se quisessem ser amigos, mas me tratam feito lixo!
– Isso não é verdade.
– É verdade sim! – gritei. – Se escondem no clube Audiovisual e guardam segredo feito crianças do maternal. Eu pensei que vocês me quisessem no seu grupo – eu estava claramente enganada.
– A gente quer, mas é que...
– Mas é que o quê?
– Tem... Tem umas coisas que não podemos contar para você, ok? Para a sua segurança...
– Para a minha segurança? – estava me arrependendo cada vez mais de ter começado aquela conversa.
– Isso! – que papinho mais escroto.
– Por que eu sou uma garota?
– O que? Não!
– Guardavam segredos da El?
– Como é que você sabe da El?
– Guardavam?
– Era tudo diferente, pode acreditar, tá? Era... Era tudo diferente.
– Beleza. Quer saber? Esquece, tá bem? Eu não quero mais entrar para esse seu grupo idiota. Tô fora. Divirtam-se – virei de costas e continuei andando.
– Max! – ele chamou.
– E você ainda está fedendo! – gritei.
Autor(a): nirvana666
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
~Billy~ Eu estava encostado no carro, olhando de longe enquanto Max discutia com um garoto. Ela parecia bem irritada, gritava com ele, mas eu não sabia exatamente o que estava dizendo. Max nunca fica tão brava daquele jeito com outras pessoas além de mim, ela não costumava discutir. O que é que aquele garoto estava fazendo ou falando para ...
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