Fanfic: Lara (Long-Fic Levihan, Armin Arlert X OC) | Tema: Attack on Titan/Shingeki no Kyojin

O dia seguinte continuou tão monótono quanto o anterior, pelo menos isso era o que Lara pensava, enquanto estava sentada na mesa do refeitório, completamente sozinha, olhando para o teto. Já era quase final da tarde.

Todos os soldados estavam lá fora, encarando o maior perigo que conheciam, e Lara estava ali, arrancando as cutículas.

A falta de coisas para fazer estava a deixando inquieta, ansiosa e principalmente, irritada. Apesar de ser pequena e mal nutrida, Lara era uma criança, com toda a energia disponível em seu corpo para gastar. Ficar parada e quieta não é uma opção para crianças, mesmo sendo obrigadas a fazerem isso, por muitas vezes.

“Ora…”, pensou Lara, batendo os dedos na mesa. “O Comandante Erwin disse estar contando comigo na missão. Será que ele falou aquilo só para ser legal, ou ele realmente quer que eu ajude em algo? Ele parecia estar falando sério quando me disse aquilo… E se ele estiver esperando que eu ajude, mas estou aqui parada porque o Levi e a Hange não me deixam sair? Acho melhor obedecer o Comandante, afinal, ele manda mais do que aqueles dois. Porque, se ele me disse que conta comigo, quer dizer que é para eu fazer algo! Vai que, por eu ter ficado sem fazer nada, ele não me deixa se alistar na Tropa?! Isso, nunca!”

Determinada, Lara saiu correndo do refeitório e foi até uma sala onde vira os soldados pegarem os equipamentos DMT. Lara começou a fuçar os aparelhos, não entendendo absolutamente nada de como funcionavam. Quando estava na Floresta das Árvores Gigantes e encontrou aquela espada, a lâmina já estava encaixada e ela só precisou desrosquear o fio que a ligava ao restante do aparelho.

Emburrada, Lara sentou-se no chão, apoiando o queixo com as mãos. Olhou ao redor com um semblante triste e sua visão localizou algo. Em um canto da sala, haviam alguns aparelhos DMTs completamente montados. Com um salto, Lara foi naquela direção e começou a explorá-los. Percebeu que na verdade, eram aparelhos com algum defeito, como um fio estourado ou com a caixa que guardava as lâminas, quebrada.

Mas, para sua felicidade, haviam espadas já montadas, funcionando perfeitamente. Lara desrosqueou duas delas, libertando-as dos fios que as prendiam. No começo, pensou que não conseguiria carregá-las, porém, elas eram incrivelmente leves.

Lara pegou as espadas e saiu lentamente, espiando os corredores. Foi andando de maneira furtiva até a entrada principal do quartel. Haviam alguns soldados abastecendo as carroças mais à frente, mas todos estavam de costas para ela.

Fazendo o mínimo de barulho possível, Lara se esgueirou pelas paredes da parte de fora do quartel e saiu correndo em direção às ruas da cidade abandonada de Shiganshina.

♦♦♦

Hange andava a passos firmes pelo corredor, em direção ao quarto em que dormia com Lara. Quando estava para entrar pela porta, começou a dizer:

- E aí, Larinha? Vim pegar mais lâminas e decidi dar uma passadinha para ver como voc--

Hange parou no meio do quarto, abruptamente. Não havia ninguém ali.

- Lara? - chamou, olhando para os lados.

Hange começou a andar pelos corredores, chamando o nome da menina, mas nada de respostas. Foi até o refeitório e para algumas outras salas mais escondidas, que poderiam estar sendo exploradas por Lara.

Nada, também.

O coração de Hange começou a bater mais rápido e suas mãos começaram a suar. Correu em direção à entrada principal do Quartel, onde avistou Erwin e Levi chegarem.

- Ah! - exclamou - Graças a Deus vocês estão aqui!

- O que houve? - perguntou Erwin, que tinha sangue de Titã evaporando de sua capa verde.

- É a Lara! - respondeu Hange.

- O que tem a Lara? - perguntou Levi, aproximando-se de Hange, preocupado.

- Ela sumiu! - respondeu, com os olhos arregalados.

♦♦♦

Na cabeça de Lara, seu objetivo era bem simples: apesar de ter conseguido matar um Titã na floresta, essa não era sua especialidade. Por isso, pensou que daria o seu melhor para encontrar algo que fosse útil para as pessoas de dentro das muralhas, como roupas, ferramentas ou qualquer outra coisa.

Não negava estar morrendo de medo de andar por aquelas ruas abandonadas completamente sozinha, mas tentava mentalizar que, para ser uma soldado da Tropa de Exploração, precisaria enfrentar seus medos. De maneira alguma gostaria de encontrar um Titã, mas caso isso acontecesse, pelo menos teria as espadas, por isso decidiu sair com elas.

Felizmente, Lara não encontrou nenhum Titã enquanto andava com cautela pelas vielas e ruas da cidade. Todas as casas e lojas possuíam um ar sombrio. Parecia que a população, no desespero de evacuar a cidade, havia saqueado muitos comércios, deixando vidros quebrados e jogados por quase todas as ruas.

Por todas as lojas que Lara passou em frente, entrava e explorava para ver se encontrava algo, mas tudo estava praticamente vazio e as comidas, estragadas.

Os raios de sol do entardecer iluminavam os telhados das casas, quando Lara entrou em um armazém que ficava quase no final da rua em que caminhava. O local estava uma bagunça, com armários revirados e cadeiras quebradas. Ela se dirigiu atrás do balcão e percebeu que a caixa registradora estava aberta, completamente vazia.

Quando deu meia volta, percebeu algo debaixo de seus pés. Ali, no chão de madeira, havia uma pequena alça de ferro, bem discreta. Aquilo chamou sua atenção e ela se abaixou, puxando a alça, abrindo como se fosse uma espécie de alçapão. 

A portinhola abria-se para um buraco com cerca de 50cm de profundidade. Dentro, haviam diversos mini-barris, cada um com uma tampa. Lara levantou a tampa do primeiro mini-barril e estranhou o que viu ali.

Sal. O mini-barril estava cheio de sal grosso, até o topo. Lara achou aquilo interessante e instintivamente, colocou a mão dentro do mini-barril. Para sua surpresa, havia algo escondido debaixo das camadas de sal. Quando ela puxou a “tal coisa”, não acreditava no que via.

Era carne. E de excelente qualidade.

Por conta de todo o transtorno dos ataques dos Titãs Colossal e Encouraçado, a situação econômica de dentro das muralhas tornou-se um caos e praticamente tudo havia encarecido, especialmente as carnes. A própria Lara não se lembrava da última vez que comeu este alimento.

E ali, na sua frente, havia um tesouro escondido. Começou a mexer no interior dos outros mini-barris e viu que em todos eles, haviam muitos pedaços de carne, sendo todos conservados pelo sal.

Aquilo era bom demais para ser verdade. Alguém precisava saber desta informação imediatamente! Toda aquela carne iria sustentar muitas famílias.

Lara correu, dirigindo-se à porta de entrada do armazém, mas quando olhou para o que estava à sua frente, seu corpo inteiro congelou.

Um Titã a encarava.

Ele era um pouco maior do que a porta do armazém, tendo cerca de três metros e olhava fixamente para a menina, com um sorriso arrepiante. Sem pensar, Lara começou a andar para trás, lentamente. Sua visão se turvou e parecia estar em um sonho. 

Então, como se algo a chamasse dentro de si, balançou a cabeça, despertando do transe em que ficara. Segurou as duas espadas com firmeza nas mãos e encarou o Titã.

“Eu preciso fazer isso”, pensou, “Não posso decepcioná-los.”

Ela tremia muito e olhava rápido para os lados, pensando em algum plano que a ajudasse a acabar com aquele Titã, que já se aproximava lentamente. O armazém tinha um pé direito bem alto, o que permitia o Titã ficar de pé por completo.

Com um movimento súbito, o Titã impulsionou-se para a direção de Lara, com a boca escancarada, pronto para abocanhá-la. Como um raio, ela pulou para cima do balcão e agradeceu por todos aqueles anos de “treinamento” subindo nas árvores do orfanato.

O Titã ficou atordoado com a fuga da menina e a procurava, olhando para os lados. Rapidamente, Lara correu por cima do balcão e pulou até ficar atrás da criatura. Ela se lembrou de que na Floresta das Árvores Gigantes, havia cortado os tendões dos calcanhares do Titã, e percebeu que essa era uma boa tática para paralisar o inimigo.

Lara andou abaixada em direção a ele, com as espadas posicionadas. Respirou fundo e com um só golpe, agitou as duas espadas, cortando os pés do Titã. Ele caiu com um baque por cima de algumas mesas e cadeiras, completamente confuso.

Com um grito de fúria, Lara pulou em cima do Titã e desferiu um golpe preciso em sua nuca. Não demorou muito para que fumaça começasse a sair da criatura e ele começasse a evaporar.

Lara saiu de cima do Titã e começou a andar para trás, não acreditando no que acabara de fazer.

- E-Eu… - sussurrou, com os olhos arregalados - Eu consegui… Matei um Titã…

Lara tropeçou em alguns dos entulhos espalhados pelo chão do armazém. Quando se virou para sair pela porta, sentiu que bateu o rosto em algo, ou melhor, alguém.

Esse alguém era Hange.

- LARA! - gritou, pegando a menina pelos ombros, sacudindo-a - O que você está fazendo?! Por que você saiu do Quartel?! Eu e o Levi tínhamos te proibido de pisar aqui fora!

Lara estava sem reação. Olhava para Hange, que tinha um semblante de puro assombro e saíam lágrimas de seus olhos. De repente, Lara deu um grande sorriso e começou a rir de nervoso.

- O que foi?! - exclamou Hange, ainda a sacudindo - Por que está rindo?! Lara, fala comigo! Você está bem?!

- E-Eu… - gaguejou ela - Matei… Matei um Titã…

- Você o quê?! - exclamou Hange, olhando para os lados, à procura da tal criatura.

- Hange… - disse Levi, lentamente. A Líder virou-se em direção a ele, que estava parado na porta do armazém e com o dedo apontando para algo lá dentro. Ela balançou a cabeça, como se dissesse “O que foi?” e Levi a encarou com uma expressão de espanto.

- Tem… Um Titã morto aqui dentro - respondeu, atônito.

Hange levantou-se num pulo, em direção à porta do armazém, seguida por Erwin. Alguns soldados que os haviam acompanhado se entreolharam, confusos. As cabeças de Hange, Levi e Erwin espiaram para dentro do armazém e encararam o corpo de um Titã evaporando.

Levi e Hange se entreolharam, boquiabertos. Erwin virou-se para Lara, com um imenso sorriso no rosto.