Fanfic: Lara (Long-Fic Levihan, Armin Arlert X OC) | Tema: Attack on Titan/Shingeki no Kyojin
Levi cambaleava por entre as pedras daquele campo aberto.
Atrás de si, quatro enormes Titãs jaziam, mortos.
Sentiu uma dor aguda na garganta, com dificuldades para respirar.
Seu corpo inteiro estava coberto de sangue. Um pouco dele evaporava, mas Levi percebeu que a grande maioria continuava em seu corpo. Era sangue dele e provavelmente, do homem loiro que fugiu, que controlava o Titã Bestial.
Agora já estava bem longe do mar de cadáveres dos soldados que se sacrificaram. Ele estava chegando próximo à uma outra parte da muralha. Precisaria subi-la e ver o que faria em seguida.
Ofegante, tropeçava aqui e ali, e sentia um gosto horrível na boca.
Então, sem querer, esbarrou seu pé em uma pedra e caiu no chão, de barriga para cima, num baque surdo.
Ficou ali, deitado, de braços e pernas abertas, com seu peito subindo e descendo, em busca de um pouco de ar.
Levi sentiu uma imensa vontade de dormir. “Só um pouco…”, pensou. Estava exausto, física e mentalmente.
Então, num pensamento que durou menos de um segundo, disse a si mesmo, num sussurro, enquanto olhava para o céu:
- Eu quero a minha mãe…
Levi olhou cansado para algumas nuvens brancas que ainda restavam no céu. O sol já começava a se pôr e agora adquiria uma tonalidade alaranjada.
Ele piscou lentamente por algumas vezes. Agora, sua respiração se normalizou um pouco.
- Ah… - disse ele, olhando para os céus - O que eu não faria para poder passar só mais um dia com a senhora…
Levi sentiu as lágrimas começarem a correr pelas laterais de seu rosto e inconscientemente, agarrou a grama, arrancando-a do chão. Agora, ele chorava, com seu peito tremendo.
- Mãe… - disse ele, entre os soluços - Eu não consigo me lembrar do seu rosto…
Levi tentou enxugar as lágrimas com seu braço, mas acabou se sujando ainda mais. Começou a rir, enquanto chorava.
- Olhe só para mim… O soldado mais forte da humanidade… Chorando e pedindo pela mãe…
Uma brisa gelada passou pelo seu rosto, como se quisesse o confortar. Levi pressionou os lábios e os olhos.
- Mãe… - disse, ainda de olhos fechados - Eu matei meu melhor amigo… Acabei de mandá-lo para a morte… Não só ele, mas outras dezenas dos meus soldados… E foi tudo em vão... O que foi que eu fiz…?
“Não…”, pensou Levi. “Erwin não era somente meu melhor amigo… Era meu irmão… Meu irmão mais velho...”
Apesar das condições da época, foi Erwin quem ajudou Levi, Isabel e Farlan a saírem do subterrâneo. Era Erwin quem dava alguns conselhos para Levi, quando nem ao menos ele pedia. Era Erwin quem dava tapinhas em suas costas, depois que retornavam das missões e percebiam quantos soldados haviam morrido e ficado para trás.
Foi Erwin quem pediu para que Hange ensinasse Levi a ler e a escrever, porque, infelizmente, seu tio Kenny não teve a preocupação de ensiná-lo nos padrões escolares, então Levi subiu à superfície como um analfabeto, praticamente. O que Kenny lhe ensinou foi a sobreviver nas ruas do subterrâneo, o que envolvia mais o uso de facas, do que o uso de um lápis e um caderno.
E, agora que parou para pensar, foi Erwin quem uniu Lara, Hange e ele, naquele dia, em que decidiu que a menina iria entrar para a Tropa de Exploração e que teria Hange e Levi como seus tutores.
Se Levi hoje se considerava uma pessoa feliz por ter Hange e Lara em sua vida, uma grande parcela do crédito era de Erwin.
Foi Erwin que, quando percebeu que Levi estava péssimo por não conseguir assumir a paternidade de Lara, andou até ele e mandou que resolvesse logo este assunto, porque ninguém gostava de ver a “Família Feliz” ficando triste.
Erwin foi se tornando parte de sua família, que nem mesmo Levi percebeu que havia formado. Ele via como Lara o amava, tratando-o como se fosse seu tio. Por um momento, Levi sentiu uma dor em seu coração, por todas as vezes que teve aquele ciuminho bobo com Erwin e Lara, e desejou que pudesse ter feito diferente e sido mais maduro em relação a isso.
- Lara vai ficar destruída quando souber… - ele sussurrou, cerrando os dentes - E quando descobrir que eu tive grande parcela de culpa nisso?
Ele pensou em Hange, em como ela reagiria. Por um momento, se perguntou se ela deixaria de amá-lo por causa de sua decisão. Mas, depois chegou à conclusão de que não. Ela o entenderia, com certeza, pois vivia na mesma realidade que a sua há muito, muito tempo. Não sabia se ela tomaria a mesma decisão de Levi naquela hora, se estivesse em seu lugar, mas, ao menos, sabia que ela o compreenderia.
Ao ponderar isso, sentiu que amou Hange ainda mais.
Levi pegou um pedaço limpo de sua capa verde e passou em seu rosto, olhando para o céu novamente. Agora, algumas nuvens já adquiriam uma tonalidade laranja, também.
- Sabe, mãe... - Levi deu um sorriso triste para o céu - Eu conheci uma mulher - ele deu uma risadinha - Ela me deixa louco! Mas… Sou completamente apaixonado por ela… Aquela quatro-olhos...
Levi apoiou o braço na testa, respirando profundamente.
- Eu vou me casar com ela, sabia? Logo, logo…
Mais uma brisa suave passou pelo seu rosto. Ele sorriu.
- Ah… A senhora também tem uma neta… - Levi piscou lentamente, se lembrando de Lara - É a menina mais incrível que já conheci… Ela iria amar te conhecer… Vocês iriam se dar tão bem… Você iria a ensinar tantas coisas que eu não consegui...
Ele começou a observar o céu, atentamente.
- Fico me perguntando como seria minha vida, se você não tivesse partido tão cedo… - Levi fechou os olhos - Se a senhora estivesse viva, talvez eu nem tivesse me juntado à Tropa de Exploração… Eu teria te tirado daquela vida de prostituição e talvez, estaríamos vivendo uma vida tranquila em algum Distrito por aí… É claro, teríamos que ter saído do subterrâneo de alguma forma, mas… Com certeza, iria ser de um jeito bem diferente do que aconteceu…
Levi abriu os olhos, e soltou uma grande rajada de ar pela boca.
- Mas… Eu não teria conhecido Hange e Lara… Provavelmente, ela teria outro pai agora - ao falar isso, sentiu um grande aperto no peito - E Hange, bem… - ele não conseguiu terminar a frase.
- Acredite, mãe… Aquela quatro-olhos iria adotá-la com ou sem mim…
Levi pressionou os olhos, lembrando-se dos sentimentos horríveis que teve na época em que rejeitou Lara como sua filha e sentiu seu coração doer um pouco.
- Ah, mãe… - sussurrou - Como eu queria que estivesse viva!
Ele sentiu mais lágrimas saírem de seus olhos.
- Como eu queria que você estivesse aqui para compartilhar a vida que tenho hoje… Hange iria gostar tanto da senhora… Aposto que até iria te obrigar a participar dos experimentos malucos dela e da Lara…
Levi tossiu um pouco e limpou a boca.
- Imagine só - ele olhou para o céu, contemplativo - Eu me casaria com a Hange e quem sabe, em breve Lara não ganharia um irmãozinho, já pensou? - Levi não conseguiu segurar um riso - Tenho certeza de que a senhora iria ficar muito feliz…
Ele inspirou profundamente, se permitindo ficar ali, imaginando.
- E a Lara, então? Seria uma excelente irmã mais velha… Tão sábia que é aquela menina… Me ensinou tanta coisa, que jamais pensei que poderia aprender…
Por um breve momento, Levi imaginou Hange grávida e sem querer, deu um pequeno sorriso, mas, logo se desmanchou.
- Mas, para falar a verdade… - ele fechou os olhos, pressionando os lábios - Duvido que Hange um dia consiga engravidar… Já levou tanta pancada, que nem sei se seu corpo aguentaria uma gestação…
Levi passou a mão no rosto e soltou uma bufada de ar.
- Eu… Simplesmente não entendo como um cara como eu conseguiu ter essas duas mulheres tão incríveis em minha vida… Não consigo entender, mãe… Por que eu? Nunca fiz nada que merecesse isso… Não passo de um desgraçado...
Ele respirou fundo por alguns instantes e lentamente, levantou-se.
Começou a andar em direção à muralha, com a cabeça e seus ombros caídos.
Levi andou, totalmente sem forças. Mas, sentia como se algo o empurrasse por trás e, não soube dizer, mas jurou que ouviu alguém lhe sussurrar: “Vamos, um passo de cada vez…”
Ele sentia sua visão um pouco turva e as coisas pareciam girar ao seu redor.
Prendeu seu DMT na parede da muralha e subiu. Chegou ao topo e pôde finalmente contemplar a destruição que estava Shiganshina. Ajoelhou-se na beirada da muralha, olhando ao seu redor. Tudo o que conseguia enxergar era fumaça, poeira, destroços e sangue.
Desesperadamente, seu olhar percorreu para ver se encontrava algum movimento.
- Por favor… - sussurrou - Por favor… Que estejam vivas…
Então, levou um grande susto quando olhou para uma direção e os viu: o Titã Quadrúpede e o homem loiro. Eles estavam em cima de um telhado, ao lado do Titã Colossal, que estava caído e evaporando, conversando com o que parecia ser o Eren, em sua forma humana. Tinham mais duas pessoas com ele, mas não conseguiu identificar quem eram.
Levi levantou-se num súbito e encarou o homem loiro de cima da muralha. Como se notasse sua presença, o homem virou-se bruscamente e olhou para Levi, também.
O Capitão agora não possuía mais aquele olhar de fúria que demonstrara há pouco. Seu olhar agora, era o da mais completa insanidade. Era uma visão terrível para o homem loiro: um soldado, coberto de sangue, com fumaça evaporando ao seu redor, o encarava de olhos arregalados.
- Ei! - exclamou, perplexo - Como é possível?! Ele me perseguiu até aqui?!
Levi tinha sua boca e olhos escancarados e sentiu seu corpo inteiro formigar. Por um breve segundo, conseguiu raciocinar: “Essa é a minha chance! Vou cumprir meu juramento que fiz para Erwin!”
Então, se permitiu escorregar da muralha. O vento que vinha por baixo fazia sua capa e seus cabelos voarem, limpando aquela fumaça de sangue de Titã que evaporava dele.
Ele descia e descia, com seus pés raspando na parede da muralha. Então, prendeu seus ganchos e com maestria, voou rapidamente em direção a eles. Mas, antes que pudesse chegar ao local, o Titã Quadrúpede saiu correndo e pulando sobre os telhados, com o homem loiro preso na carga em que levava nas costas.
Levi pousou de maneira brusca no telhado onde estava Eren. Nem sequer prestou atenção nas outras duas pessoas que estavam com ele.
- Capitão! - exclamou Eren, surpreso com a repentina aparição.
- Meu gás acabou agora! - disse Levi, ofegante, virando-se para Eren - Estou indo atrás dele! Me dê todo seu gás e lâminas! - ele esticou a mão, como se suplicasse.
- Sim! - respondeu Eren, prontamente já desprendendo seu próprio aparelho DMT.
- Rápido! - exclamou Levi, aflito.
Então, ouviram um pequeno som. Era uma tosse ofegante. Vinha de alguém que estava atrás de Eren, que parou imediatamente de mexer em seu DMT e devagar, virou a cabeça para trás, com sua respiração entrecortada, atônito.
Levi franziu o cenho e estreitou os olhos para ver melhor o que estava acontecendo à sua volta. Então, finalmente percebeu que ao lado de Eren, estava Bertoldo, desmaiado, sem os braços e as pernas, soltando fumaça.
Teve muitas dificuldades para identificar quem era aquele ser que havia tossido atrás de Eren, mas, quando analisou melhor e finalmente conseguiu ver quem era, Levi sentiu seu coração dar uma imensa pontada e seu estômago embrulhar.
Atrás de Eren, havia um garoto, completamente queimado. Seu corpo inteiro estava da cor preta, como um carvão, sem nenhum pelo ou cabelo, como se tivesse acabado de sair de um forno, onde alguém o esquecera lá dentro por muito, muito tempo. A única coisa que havia ainda nele, eram suas calças e botas da Tropa de Exploração.
Este garoto era Armin.
“O que aconteceu com ele?!”, pensou Levi. “Isso tem cara de queimadura do vapor do Titã Colossal…”
Eren então engatinhou-se para perto de Armin, eufórico e começando a chorar. Colocou sua mão próxima ao nariz do amigo e sentiu um pouco de ar saindo. Não podia acreditar.
Armin ainda estava vivo.
Neste momento, Mikasa chegou ao telhado. Quando ela percebeu a cena à sua frente e notou que havia uma pessoa ali, completamente queimada e de que era Armin, ficou estarrecida. Por um momento, sentiu que não tinha mais o chão sob seus pés e lágrimas começaram a sair de seus olhos.
- Armin… - ela sussurrou, segurando seus cabelos.
Quando Levi percebeu que Mikasa estava ao seu lado, a chamou com a mão.
- Onde estão Hange e Lara?! Elas estão bem?!
Mikasa não lhe respondeu. Continuava a olhar fixamente para Armin, com total assombro. Por um segundo, Levi achou que tinha acontecido o pior e seu coração começou a bater descontroladamente, e seu corpo sentiu um intenso calafrio.
- Ei! - exclamou ele, começando a ficar irritado pelo silêncio da garota - Me responda! Hange e Lara, onde elas estão?!
Mikasa lentamente apontou para trás, ainda olhando para Armin.
- Lá… - sussurrou ela - Estão lá atrás com os outros e o Reiner…
Levi sentiu que um enorme peso saiu de suas costas e passou a mão no rosto, soltando ar, extremamente aliviado.
“Graças a Deus”, pensou. “Elas estão bem...” O alívio que sentiu foi tão grande, que seus membros amoleceram e seus braços penderam nas laterais do corpo. Mas, não se permitiu ficar totalmente tranquilo, até vê-las pessoalmente e se certificar de que estavam sãs e salvas, ao seu lado.
Estava tão absorto em seus pensamentos, que nem percebeu que Eren praticamente berrava ao seu lado, completamente fora de si, em total desespero.
- SIM!!! - gritou Eren, inclinado sobre o amigo queimado, chorando muito - Ele respirou! O Armin ainda está respirando!
Entre os gritos de Eren, podia-se ouvir uma respiração muito dificultosa saindo da boca de Armin.
- Aguente aí! - exclamou Eren - Continue respirando! - ele então virou-se bruscamente para Levi - Capitão! Rápido, me dê a seringa!
Ouvir as palavras de Eren, fez Levi perceber uma coisa.
Se desse aquela seringa para Armin, então, definitivamente, seu melhor amigo estaria morto para sempre. No fundo, bem lá no fundo, Levi ainda tinha esperanças de que Erwin estaria vivo e que, milagrosamente, iria aparecer ali, para poderem aplicar o soro da seringa nele.
Ficou ali, cabisbaixo, com o rosto coberto pela sombra de seus cabelos, mexendo em seu aparelho DMT, enquanto pensava nisso. Eren notou que o Capitão estava demorando mais do que o normal para lhe entregar a seringa, então, pegou Bertoldo pelo pescoço, como se fosse dar-lhe um mata-leão e gritou:
- Temos que transformar o Armin em Titã, para que ele possa devorar o Bertoldo! Por favor, me dê isso!!!
Levi os observava com olhos cansados e pegou a caixinha que guardava a seringa e a olhou, soltando um grunhido pela boca.
BUM!!!
Eren e Levi olharam para Mikasa e viram que ela havia disparado um sinalizador de fumaça vermelha, para avisar os outros sobre a situação em que estavam. Lentamente, Levi começou a entregar a caixinha na mão estendida de Eren. Então, algo aconteceu.
Um par de mãos apareceu no beiral do telhado.
Levi reconheceu aqueles cabelos ruivos que surgiram logo em seguida.
Era Floch.
Mas, ele não estava sozinho. Carregava alguém em suas costas, com muita dificuldade.
Erwin estava lá, preso e desmaiado nas costas daquele recruta.
Todos observaram aquela cena, perplexos, com Levi ainda estendendo a caixinha no ar, entre ele e Eren.
- Capitão Levi… - agonizou Floch, parecendo exausto - Finalmente consegui… O Comandante Erwin está em estado crítico! Seu abdômen está aberto e seus órgãos estão muito danificados. Não estou conseguindo parar o sangramento!
Levi não acreditava no que estava vendo.
- Eu pensei - continuou Floch - Que poderíamos ser capazes de dar a ele aquele soro de Titã! O que você acha?!
Silêncio total.
A única coisa que se ouvia, eram as tentativas de Armin respirar.
Dando um susto em Eren, Levi trouxe a caixinha de volta para si, pressionando-a contra o peito.
“Eu ainda posso salvá-lo…”, pensou.
Então, ocorreu-lhe um pensamento.
Em toda a sua vida, Levi tentou sobreviver. Mas, no fundo, ele era uma pessoa que queria ajudar as outras. Ele era um soldado da humanidade e seu juramento de lutar por ela fora real.
Levi realmente tinha boas intenções de lutar pelos outros.
Mas, em toda a sua vida, sempre saiu perdendo, principalmente as pessoas que amava.
Então, agora lhe surgiu uma oportunidade.
De, pela primeira vez em sua vida, sair ganhando.
Apesar de ainda estar aflito por não ver Hange e Lara pessoalmente neste momento, pelo menos já sabia que as duas estavam bem e, principalmente, vivas.
Se conseguisse salvar Erwin também, poderia voltar para casa com a sua família ainda completa, pois o soro, além de transformar a pessoa em Titã, curava qualquer ferimento.
Mas, ao mesmo tempo, Levi pensou em como isso poderia soar muito egoísta de sua parte. Então, ele fechou os olhos e respirou fundo.
- Capitão…? - chamou Eren, atônito e com lágrimas nos olhos.
Levi foi até Floch e o ajudou a subir no telhado, repousando Erwin nas telhas. Levi colocou a mão próximo ao nariz de seu amigo.
- Ele ainda está respirando… - disse, baixinho - Ele… Ainda está vivo...
Eren e Mikasa o observavam com assombro, pois já começavam a entender o que se passava na cabeça do Capitão. Devagar, Levi levantou-se.
- Darei o soro de Titã para o Erwin - disse, convicto.
Eren deu um salto, com uma expressão de extrema angústia e ficou muito próximo do rosto de Levi, que era mais baixo que ele. Levi não se intimidou nem um pouco. Seu rosto continuava muito coberto de sangue, o que o tornava ainda mais sombrio.
- Você iria dar o soro para o Armin - disse Eren, com sua voz embargada, mas que podia-se ouvir um tom de ira - Estava para me dar a caixa até agora há pouco…
Levi o observou de canto de olho, impassivo.
- Estou escolhendo a pessoa que pode salvar a humanidade - respondeu, mantendo-se firme.
Floch observava aquela cena com espanto e Mikasa sacou sua espada. Levi virou-se para olhá-la. Ela estava com os olhos arregalados, cheios de lágrimas.
- Vocês não têm a menor ideia do que estão querendo fazer, não é? - perguntou Levi - Vocês realmente querem deixar Erwin, o Comandante da Tropa de Exploração, simplesmente morrer?! Não temos tempo para isso. Saiam do meu caminho.
Ele deu um passo em direção a Erwin, mas Eren agarrou a caixinha, tentando tomá-la a força do Capitão. Os dois ficaram ali, cada um puxando a caixinha para o seu lado.
- Eren - disse Levi - Deixe os sentimentos de lado.
- Meus sentimentos?! - ameaçou Eren - Por que você hesitou em me dar a seringa agora há pouco?
- Eu estava pensando que o Erwin ainda poderia estar vivo - respondeu Levi, impassivo.
- Não havia como você saber que o Floch carregaria o Comandante em estado crítico até aqui - Eren tinha muita raiva em sua voz e lágrimas continuavam a sair de seus olhos.
- Sim, é verdade… - respondeu Levi - Mas agora que o Erwin está aqui, usarei isso nele.
- Capitão… Assim como você quer salvar o seu melhor amigo, eu também quero salvar o meu! - Eren deu um puxão na caixinha, mas logo teve sua visão completamente embaçada, porque neste momento, num ímpeto de furor, Levi lhe deu um soco tão forte na lateral de seu rosto, que todos os seus dentes do lado esquerdo saíram voando.
Levi só teve tempo de ouvir o grito de fúria de Mikasa, que literalmente voou em cima dele, derrubando-o no chão e tentando pressionar sua espada na garganta de Levi, com um olhar extremamente ameaçador, cheio de lágrimas.
Ele tentava segurar os braços daquela garota enfurecida, mas estava muito fraco. Sentia que a lâmina poderia começar a cortar sua pele a qualquer momento. Com a outra mão livre, Mikasa apertava o pulso da mão de Levi que segurava a caixinha.
- Ei! - gritou Floch, desesperado.
- Vocês deveriam entender perfeitamente bem que, sem o Erwin, a humanidade não tem qualquer chance contra os Titãs! - exclamou Levi, fazendo força para segurar os braços de Mikasa.
- Ele está certo! - disse Floch, aflito - Pare com essa loucura!
Mikasa lhe deu um olhar tão ameaçador, que Floch deu um passo para trás, se encolhendo.
Metade banguela e caído por sobre as telhas, Eren falava com dificuldade:
- É do Armin que a humanidade precisa…
- Eren! - berrou Mikasa, preocupada.
- Isso não é óbvio? - perguntou Eren, tentando se levantar - Só conseguimos fechar o portão do Distrito de Trost com a pedra que carreguei, descobrir que a Annie era a Titã Fêmea, e viajar em território Titã à noite, por causa das contribuições de Armin! Além de que ele também descobriu que Reiner poderia estar escondido dentro das muralhas e armou o plano para conseguirmos derrubar o Titã Colossal! Preste atenção, Capitão! A sua própria filha o escolheu como seu Oficial, seu braço direito!
Todos olhavam para Eren, perplexos.
- O Comandante Erwin e eu não podemos salvar a humanidade! - exclamou ele, chorando muito e cuspindo sangue pela boca - Mas, o Armin pode!!! Não é mesmo, Mikasa?!
Levi tentou se levantar, mas a garota o pressionou novamente contra o chão, o olhando ameaçadoramente.
- Me dê a seringa, por favor! - clamou Mikasa.
Levi dava o seu melhor para tentar forçá-la para cima, mas simplesmente não conseguia. Então, Floch se aproximou dos dois.
- O Comandante Erwin é o único que pode salvar a humanidade - disse, tentando manter a calma.
- CALE A BOCA! - gritou Mikasa.
- Não vou calar a boca! - respondeu ele - Parem de agir como se fossem os únicos que estão sofrendo! Você pode não saber… - Floch apontou para a muralha - Mas, não sobreviveu ninguém do outro lado. Todos se tornaram alvos e distrações para a chuva de pedras do Titã Bestial.
Mikasa e Eren o observavam, com os olhos arregalados.
- Eu tinha certeza que cada um de nós estava indo para a morte - continuou Floch - Mas, o Comandante Erwin foi o único que pensou o contrário… Mesmo naquela situação sombria, ele conseguiu bolar um plano para derrotar o Bestial e no fim, funcionou.
“Não, Floch…”, pensou Levi, com um grande peso em seu coração. “Não funcionou…”
- Fomos destruídos pelas pedras, como ele previu - continuou Floch - Tenho certeza de que a última coisa que a maioria dos recrutas sentiu foi puramente medo. Não acreditei quando acordei e percebi que havia sobrevivido. Comecei a andar pelos cadáveres, procurando se tinha mais alguém vivo e, quando encontrei o Comandante ainda respirando, pensei em matá-lo ali mesmo.
Levi arregalou os olhos. Eren e Mikasa ouviam Floch, abismados.
- Mas… - continuou Floch, cabisbaixo - Matá-lo seria muito fácil. Ele ainda precisava passar por mais esse inferno… Foi quando eu descobri… - Floch olhou para Levi - Olhando o senhor matar aqueles quatro Titãs que restaram, descobri que a única coisa que pode destruir os Titãs é um demônio!
Levi, Eren e Mikasa o olhavam, perplexos.
- E era meu dever trazer esse demônio de volta à vida! - exclamou Floch, levantando o tom de sua voz - Foi por essa razão que eu sobrevivi ao massacre do Bestial! Então, PARE DE INTERFERIR!
Floch voou para cima de Mikasa, que ergueu sua espada para defender-se. Levi rapidamente levantou seu corpo, tentando bloquear o golpe dela.
- NÃO FAÇA ISSO! - gritou Levi.
Então, alguém segurou Mikasa por trás.
Por um instante, Levi não sentiu o ar em seus pulmões.
Arregalou os olhos, inclinando seu corpo, encarando aquela pessoa à sua frente.
Era Hange.
Ela agarrava Mikasa com força, a impedindo de se mexer.
Como se estivesse dando seu último fôlego na vida, Levi exclamou:
- HANGE?!
Ela prendeu os braços de Mikasa e deu um pulo para trás, fazendo as duas caírem sentadas nas telhas, com um baque.
Levi olhou para as pessoas que pousaram no telhado, logo atrás de Hange.
Connie carregava Sasha desmaiada e Jean tinha um braço enfaixado. Os dois estavam boquiabertos, vendo a situação à sua frente.
Então, Levi encontrou um par de olhos azuis muito conhecidos.
Os de Lara.
Ela encarava seu pai. Suas expressões variavam entre assombro e felicidade de encontrá-lo vivo.
- Filha… - sussurrou Levi, ainda caído no chão.
Ele olhava de Hange para Lara, completamente sem saber o que fazer. Percebeu que Hange o olhava com um brilho nos olhos, ou melhor, no olho, pois reparou que havia uma faixa cobrindo seu olho esquerdo e Levi adquiriu uma expressão preocupada.
Percebeu que Hange fazia um esforço para lhe dar um sorriso, mas era tarde demais. Ela já havia entendido o que estava acontecendo ali, e agora, sua expressão era de total espanto.
- Não acredito nisso… - disse Hange, quase num sussurro, enquanto ainda segurava Mikasa. Ela sentiu uma imensa dor em seu coração e olhou para Levi com profunda tristeza, mas, ao mesmo tempo, sentiu seu coração pulsar mais forte ao ver que o homem que amava, estava vivo.
O que os três mais queriam neste momento, era poder se abraçarem. Queriam sentir o calor protetor do outro, e nunca mais se soltarem. Hange queria beijar Levi, e ele desejava o mesmo. Lara queria aninhar-se entre seus pais, envolta em seus braços. Mas, infelizmente, a situação em que estavam não os permitia tal luxo. Então, a única coisa que lhes restou foi cada um ficar parado em seu lugar, com lágrimas nos olhos. Seus corações pareciam estar interligados, batendo no mesmo ritmo acelerado, cheios de saudade e amargura.
Por ter ficado encarando seu pai por algum tempo, Lara demorou um pouco para perceber o que realmente acontecia ao seu redor. Olhou para Erwin, que tinha muito sangue na barriga e estava em um estado deplorável. Parecia à beira da morte. Sentiu seu coração começar a acelerar e seu corpo estremecer. Lara olhou para Bertoldo, ainda desmaiado e sem seus membros.
E então, ela o viu…
Uma pessoa estranhamente familiar estava deitada um pouco mais atrás de Levi, completamente queimada. Ela deu um passo à frente, franzindo o cenho, para poder ver melhor. Quando finalmente percebeu que aquela pessoa queimada se tratava de Armin, puxou um ar muito forte, cobrindo a boca com as mãos, de olhos arregalados.
Ela ficou olhando de Erwin para Armin, balançando a cabeça em negação.
- Não… - sussurrou, agora seu corpo inteiro tremia e sentia as lágrimas vindo - Não é possível... Não… Não…
Ela não entendia o que estava acontecendo. O ferimento de Erwin era mais fácil de se distinguir o motivo, mas, e Armin? Por que ele estava todo queimado? Então, ela ligou os pontos. Aquilo ali, com certeza, era uma queimadura de alguém que ficou muito tempo perto do vapor do Titã Colossal. E, realmente, mais tarde, foi descobrir que foi tudo parte de um plano, onde Eren fingiu estar inconsciente no chão e se enrijeceu, enquanto Armin distraía o Colossal. Então, no momento certo, Eren voou atrás da nuca do Bertoldo distraído e o arrancou de lá.
Lara não fazia ideia de que esse era o verdadeiro plano, e que isso iria custar que Armin fosse queimado vivo.
Lentamente, Levi ajoelhou-se. Abriu a caixinha e começou a preparar o soro, enquanto olhava para Erwin. De repente, Mikasa começou a berrar descontroladamente, se impulsionando para frente, tentando se desvencilhar dos braços de Hange.
- MIKASA! - exclamou Hange, fazendo muita força para segurá-la - Não podemos sobreviver sem o Erwin! Não podemos permitir que as esperanças de todos dentro das muralhas morram com ele!
Hange também compartilhava dos sentimentos de Levi. Apesar de ter ficado irada com Erwin por mandar sua filha em uma missão que quase fez a perder para sempre, Erwin era um de seus melhores amigos, também.
Assim como para Levi, Hange também considerava que Erwin era sua família. Ela depositava sua inteira confiança nele, como o Comandante da Tropa de Exploração e esperança da humanidade.
- Você pode dizer a mesma coisa sobre o Armin! - retorquiu Mikasa, chorando.
- Sim! - respondeu Hange, a olhando com profunda dor no coração - É verdade que o Armin é muito talentoso, mas, precisamos mais da experiência e do conhecimento do Erwin!
Então, Mikasa começou a apertar com muita força a mão de Hange, que soltou alguns grunhidos de dor. Levi ficou extremamente indignado com aquilo, mas, antes que pudesse fazer qualquer coisa, foi surpreendido.
Como um raio, Lara rapidamente correu, e com um golpe que provavelmente tinha aprendido com Mikasa, pegou a mão dela, fazendo-a se virar para Lara.
Pela primeira vez em sua vida, Mikasa se encolheu perante Lara.
Até mesmo os outros levaram um susto, pois Lara olhava para Mikasa com uma expressão de fúria jamais vista por ninguém. Estavam acostumados a ver uma Lara sorridente, compreensiva e apoiadora.
Mas, uma Lara furiosa, era a primeira vez.
- Não encoste um dedo em minha mãe, Mikasa - disse Lara, entredentes, em um tom baixo e ameaçador - Isso é uma ordem de sua superiora. Obedeça!
Com olhos arregalados, Mikasa lentamente foi relaxando seu corpo, repousando-o sobre Hange, que olhou para sua filha com uma expressão de agradecimento. Lara agachou-se ao lado de sua mãe.
Mikasa agora chorava no colo de Hange.
- Eu também tenho pessoas que quero trazer de volta… - disse Hange, com um pesar em sua voz - Infinitas delas… Pessoas que conheci desde que me juntei à Tropa…
Ela lembrou-se de Moblit.
- Mas, você entende, não é? Nem todos ficarão ao seu lado para sempre…
Lara apertou o ombro de sua mãe, pressionando seus olhos, também lembrando-se de Moblit, enquanto deixava cair algumas lágrimas pelo seu rosto. Hange entrelaçou seus braços em Mikasa, abraçando-a, enquanto se lembrava de inúmeros outros amigos perdidos, principalmente os de hoje, que pertenciam ao seu Esquadrão.
- Eu convivo com isso há muito tempo… - continuou Hange, com sua voz embargada - Mas, é algo muito difícil de se aceitar… Isso está consumindo tudo o que tenho para me manter sã.
Levi olhou para o chão, com seu queixo tremendo. Não precisou raciocinar muito para perceber que os que estavam ali, eram os únicos sobreviventes da intensa batalha que enfrentaram. Olhou de leve para Hange e Lara e percebeu que as duas choravam e, logo também percebeu que essas lágrimas eram para muitos amigos que se foram e, principalmente, para Moblit.
Em seu coração, sentiu uma profunda tristeza ao lembrar-se do Oficial de Hange, que, na ausência de Levi, era quem garantia que as duas não se matassem em suas experiências. Por um instante, agradeceu-o em pensamento por tudo o que havia feito por suas meninas.
- É doloroso… - disse Hange, quase num sussurro - É realmente, muito doloroso…
Todos ao redor agora estavam cabisbaixos, com lágrimas em seus olhos.
- Eu entendo… - continuou Hange, abraçando Mikasa, que agora a abraçava de volta, chorando - Mas, temos que seguir em frente.
Mikasa olhou para os céus, lembrando-se da sua época de infância que passou com Eren e Armin, e então, com um grande suspiro, baixou a cabeça e largou seus braços ao lado de seu corpo, em sinal de desistência.
Levi agora já estava com a seringa cheia de soro, mas, quando foi levantar-se para ir em direção a Erwin, sentiu alguém segurando seu pé.
Era Eren. Havia se arrastado até ali.
- Capitão... - começou a dizer, com a voz embargada pelo choro - Você sabe como é o Oceano? É um lago de água salgada que se estende até onde se pode ver, em todas as direções...
Levi o encarava.
- O Armin--
De repente, Floch agarrou os braços de Eren.
- Ei! - exclamou - Já chega disso!
Floch levantou Eren, o segurando e o arrastando para trás. Enquanto Eren era puxado, olhava para Levi, dizendo:
- Desde que nos conhecemos quando crianças, Armin me dizia que queria ver o Oceano algum dia, que está além dessas muralhas… - Levi o observava ser arrastado - Eu… - agora Eren chorava muito - Eu havia me esquecido desses sonhos que compartilhamos desde crianças… Eu queria matar todos os Titãs, para vingar a morte de minha mãe… Esse ódio era a única coisa que me alimentava… Mas - Eren virou-se bruscamente na direção de Armin, com Floch ainda o segurando com força - Ele não é assim! O Armin não se importa com brigas! Ele tem grandes sonhos!
Levi estava cabisbaixo, mas, não disse nada.
Então, Eren decidiu usar sua cartada final.
- Capitão! - exclamou tão alto, que deu um susto em todos - Era para a sua filha estar aqui, queimada e morrendo como ele!
Levi virou-se para Eren, transtornado. Hange e todos os outros também. Lara abriu a boca, totalmente perplexa, olhando de Eren para Armin.
- O quê…? - sussurrou Levi, sentindo um calafrio pelo corpo.
- Antes de executarmos o plano - respondeu Eren, com a voz tremendo - Ele me disse que Lara insistiu em vir com ele... Mas, Armin não permitiu! Pediu para que ela ficasse! - Eren então olhou profundamente nos olhos de Levi - Capitão… Se agora o senhor tem a sua filha inteira, sã e salva aí atrás do senhor… É GRAÇAS A ARMIN!!!
Levi ficou ali, completamente atônito. Devagar, virava-se para Lara.
Ela agora olhava para Armin com uma expressão de assombro.
Lara não sabia o que estava acontecendo consigo. Sentia sua cabeça girar, e seus pensamentos estavam nebulosos e uma verdadeira bagunça. Lentamente, chegou à conclusão de que Eren tinha razão. Era para ela estar ali, deitada ao lado de Armin, à beira da morte. Era para ela ter participado do plano.
Mas, Armin a disse antes de sair em direção ao Titã Colossal: “Fica”.
Ela então olhou de Armin para Erwin.
Pela primeira vez em sua vida, Lara sentiu seu coração dividido.
Lara amava o Comandante. Poxa vida, ele era o “Tio Erwin”! Era sua família, também!
Mas, e Armin?
Por que parecia que desde que decidiu torná-lo seu Oficial, sentiu que sua relação com ele parecia ter aumentado de uma forma tão rápida, que ela nem teve tempo de raciocinar?
Sempre tratou os seus subordinados de maneira igual, e tinha o mesmo sentimento por todos. Mas, por alguma razão que não conseguia explicar, talvez fosse devido a todas as circunstâncias em que passaram juntos no dia de hoje, Lara sentia que seu nível de proximidade com Armin aumentou em uma curva exponencial em pouquíssimo tempo.
Além de que, nas últimas horas, Lara começou a sentir e pensar certas coisas que nunca havia sentido ou pensado antes, e se pegava dando a desculpa de que deveria ser a adrenalina ou o calor do momento, consequência do que enfrentaram juntos.
Mas, por que a imagem dos olhos azuis de Armin não saíam de sua cabeça, no momento em que ele a abraçava para a consolar pela suposta perda de sua mãe?
Por que ainda ouvia as batidas do coração de Armin, quando estava chorando em seu peito?
Por que ainda sentia o calor de seu abraço e do seu leve balançar?
Por que, desde que Armin virou-se para olhá-la pela última vez, sentiu seu coração pulsar de uma maneira que nunca havia experimentado antes?
O que era isso que estava sentindo?
Lara não conseguia entender…
Porém, tinha Erwin.
Foi Erwin quem deu a oportunidade de Lara realizar seu sonho de entrar para a Tropa da Exploração, ainda dois anos antes do normal.
Foi Erwin quem decidiu que os tutores de Lara seriam Hange e Levi, fazendo-os se aproximar de tal maneira, que hoje eram mãe, pai e filha.
Foi Erwin quem ajudou a ensiná-la a pensar estrategicamente, enquanto jogavam xadrez todas as semanas.
Foi Erwin quem a roubava de seus pais, para poderem brincar quando tinha um tempinho livre.
Foi Erwin quem a dava bombons toda a semana, por causa de seus serviços como pombo-correio, apesar de seu pai ainda insistir que as taxas de juros estavam muito baixas.
Foi Erwin que a ajudava a dar pequenas indiretas sobre o relacionamento de Hange e Levi, e secretamente, ficavam bolando planos mirabolantes para unir os dois.
Foi Erwin quem se tornou um grande amigo e companheiro de Lara.
Ele havia virado parte de sua família.
Querendo ou não, tendo seus motivos ou não, Erwin tinha a salvo e impedido de voltar para aquela vida horrível no orfanato.
Lara devia sua vida para o Comandante.
Ela passou a mão em seu rosto e respirou fundo. Sentiu uma lágrima descer por seu rosto.
Então, uma coisa surgiu em sua mente.
- Espere… - disse ela, franzindo o cenho e olhando para o seu pai - E se nós dermos metade do soro para cada um deles? Não pode funcionar?!
Um brilho de esperança pareceu percorrer nos olhos de todos, exceto nos de Levi e Hange, que lentamente virou-se para sua filha, com um olhar triste.
- Infelizmente não, querida - disse - Você se lembra do que aconteceu com o pai da Historia? Ele tomou apenas algumas gotas do soro e se tornou aquele Titã gigantesco de cento e vinte metros, totalmente anormal. Se dermos somente meia dose para cada um, pode acontecer o grande risco de ambos Erwin e Armin se tornarem anormais, e então… - Hange pressionou os lábios e os olhos - Teríamos que matar os dois…
Lara olhava de um para o outro, aflita.
- Além de que, mesmo se os dois se tornassem Titãs normais, precisariam devorar o Reiner e o Bertoldo para voltarem a serem humanos. Mas… Não temos mais o Reiner conosco.
Mikasa virou-se bruscamente para Hange.
- Como assim?! - perguntou ela, atônita - Ele estava conosco agora há pouco! Nós o capturamos!
Levi olhava muito preocupado para Hange, que também o olhava, como se pedisse desculpas.
- Antes de virmos para cá - continuou Hange - Aquele Titã Quadrúpede apareceu lá atrás e pegou o Reiner de volta… Perdemos ele…
Levi baixou a cabeça, passando a mão no rosto. Mikasa e Eren também soltaram um suspiro de total decepção.
“Desgraçados…”, pensou Levi, sentindo a raiva crescer em seu peito.
- Sim… - confirmou Lara, cabisbaixa - Minha mãe quase foi morta novamente por aquele Quadrúpede - ela então virou-se para olhar para trás - Se não fosse o Jean tê-la empurrado, seria a segunda vez no dia em que eu teria ficado órfã de mãe…
Jean lhe deu um sorriso triste, mas, também com uma expressão de muita angústia.
Levi sentiu seu corpo inteiro tremer e lágrimas começaram a se formar em seus olhos.
“Agora já chega!”, pensou. Então, levantou-se num pulo, agarrando Bertoldo pela gola da camisa.
- Todos vocês, saiam daqui! - exclamou, irritado, enquanto segurava a seringa pronta em sua mão - Vou entregar o Bertoldo para Erwin devorar!
Lentamente, todos começaram a se levantar e se encaminhar para fora do telhado.
- Droga… Droga… - sussurrou Jean.
- Adeus, Armin… - disse Connie, deixando cair uma lágrima, saindo com Sasha em suas costas, acompanhado por Jean.
- Venha, Mikasa - disse Hange, ajudando-a a se levantar - Vamos…
Floch carregou Eren nos ombros, e saiu voando. Mikasa foi logo atrás.
Chorando, Eren estendeu sua mão para frente, querendo alcançar Armin. Logo o perdeu de vista.
Somente Hange e Lara ficaram, encarando Levi com lágrimas nos olhos.
Segurando Bertoldo em uma das mãos e a seringa na outra, ele as olhava com amargura.
Instintivamente, Lara abraçou sua mãe pela lateral.
Olhava de Erwin para Armin, com seu coração disparado e sentindo uma grande angústia.
Ah, como queria poder salvar Armin… Como queria olhar para aqueles olhos azuis só mais uma vez… Uma única vez…
Mas, ela era filha de Levi e Hange.
Assim como seus pais, sabia que Erwin deveria ser salvo.
Ele era a melhor escolha.
Com muita, muita dor no coração, ela e Hange viraram-se e voaram para sair do telhado.
Assim como Armin tinha feito antes de partir para combater o Titã Colossal, Lara olhou para trás, para vê-lo pela última vez.
“Adeus, meu Oficial…”, pensou, com uma lágrima escorrendo em sua bochecha. “Você foi um Líder melhor do que eu.”
Autor(a): NathaliaCroft
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Fiquei muito emocionada ao escrever este capítulo, por isso, gostaria de sugerir que lesse enquanto ouvisse a música "Constellations", de Amadea Music Productions (sei que já a sugeri antes, mas ela é uma das músicas mais emocionantes que já ouvi e combinou muito com o capítulo, enquanto o estava lendo para finalizá-lo) ...
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