Fanfics Brasil - Mágoas Lara (Long-Fic Levihan, Armin Arlert X OC)

Fanfic: Lara (Long-Fic Levihan, Armin Arlert X OC) | Tema: Attack on Titan/Shingeki no Kyojin


Capítulo: Mágoas

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Queridos leitores, a música para este capítulo se chama "Thunderclouds", de Amadea Music Productions (tem no YouTube e Spotify). Vou sinalizar quando vocês podem colocar play. Boa leitura e preparem os lencinhos 💔


♦♦♦


As estrelas já despontavam no céu quando Levi e Hange voltavam de sua desastrosa tentativa de fazer um bebê aquático. Quando chegaram ao acampamento, não encontraram Lara em lugar algum.


Observaram que Armin estava perto da fogueira, ao lado de Eren e Mikasa. Ele estava com o rosto enfiado entre os joelhos e, num rápido momento em que levantou a cabeça, puderam perceber que Armin estava secando uma lágrima, com os olhos inchados.


Na hora se entreolharam e chegaram à mesma conclusão: o plano de Lara havia dado muito, mas muito errado, mesmo!


Eles começaram a procurar por entre os soldados, mas ela simplesmente havia desaparecido. Hange começou a gritar por seu nome, chamando a atenção de todos, principalmente de Armin, que adquiriu uma expressão de preocupação. Levi aproximou-se dele.


- Onde está a Lara? - perguntou, com um olhar um tanto quanto ameaçador.


Armin arregalou os olhos, acuado.


- E-Eu não sei…


- Como não sabe?! - retorquiu Levi, ríspido. Armin se encolheu ainda mais, sentindo seu coração acelerar, com medo do Capitão e aflito por Lara.


Hange se aproximou e tentou acalmar seu marido, e gentilmente perguntou para Armin se ele a tinha visto nos últimos minutos. Cabisbaixo, Armin respondeu que não. Eren então apontou seu dedo para uma certa direção.


- Tem um porto mais à frente, ela pode estar lá.


Todos ao redor se entreolharam, se perguntando como ele sabia disso, mas aí se lembraram que Eren tinha acesso às memórias antigas dos Titãs. Então, Hange e Levi foram para o porto, acompanhados por Armin, Eren, Mikasa, Connie, Sasha, Jean e alguns outros soldados, para aproveitarem e explorarem o local. De início, Levi não quis deixar Armin os acompanhar, porque achou que seria pior, mas ele insistiu, parecendo realmente muito preocupado com o bem-estar de sua filha.


Não deu outra. Quando chegaram ao porto, encontraram Lara sentada em um dos deques, cabisbaixa, molhando os pés na água, enquanto segurava nas mãos a concha que Armin havia lhe dado.


Ela se assustou com a repentina comitiva que se aproximava. Hange e Levi tinham um ar preocupado e pensaram em lhe dar uma bronca por ter sumido sem avisar, mas, ao verem o estado tristonho da filha, acharam melhor conversar com ela depois.


De relance, Lara percebeu que Armin havia os acompanhado e que parecia muito aliviado por terem-na achado. Agora que ela foi encontrada, todos se permitiram explorar um pouco daquele porto.


Em determinado momento, Lara explorava uma das escadas que davam acesso ao grande paredão de concreto. Ela se surpreendeu ao ver Armin se aproximando, muito ansioso. No mesmo instante, sentiu seu coração acelerar e suas mãos suarem.


- C-Como você encontrou esse lugar? - perguntou ele, evitando seu olhar.


Lara sentiu uma certa raiva crescer em seu coração. Se perguntava em como Armin poderia ser tão ousado em vir falar com ela tão casualmente, após tudo o que havia lhe dito.


- Depois da nossa “conversinha”, comecei a andar por aí e acabei encontrando - respondeu Lara, torcendo o nariz - É um excelente lugar para afogar as mágoas. Você deveria experimentar.


Mal as palavras saíram de sua boca e ela se arrependeu de tê-las dito, pois Armin a olhou com tamanha tristeza, que Lara sentiu seu coração apertar. Cabisbaixo, ele assentiu com a cabeça e virou as costas, andando sem rumo por um dos deques.


Lara cobriu o rosto com as mãos, sentindo uma profunda angústia em seu peito. Um nós se formou em sua garganta e sentiu seus olhos arderem.


“Idiota”, xingou a si mesma. Pensou em ir até Armin pedir desculpas, mas o clima estava tão pesado entre eles, que pensou que poderia até mesmo piorar as coisas. Perdeu completamente a vontade de continuar explorando, e a única coisa que conseguiu fazer, foi pegar a concha e acariciá-la, com um olhar muito deprimido.


A volta para casa no dia seguinte foi bem desconfortável. Lara não havia dormido nada e estava com imensas olheiras. Para piorar, ainda tinha que cavalgar ao lado de Armin, que assim como ela, estava com um semblante péssimo. Em certa hora, lhe ocorreu um breve pensamento se não seria melhor fazer com que Armin fosse transferido como Oficial de outro Esquadrão, pois seria muito doloroso ter que continuar trabalhando com ele, ao ver o desastre que estava o seu relacionamento. Mas, ela chegou à conclusão de que aquele era um pensamento muito imaturo e infantil.


Durante o trajeto de volta, Lara teve muito tempo para pensar. Tentou se colocar no lugar de Armin, para tentar compreender suas motivações, mas, simplesmente não conseguia entender como alguém poderia se permitir sofrer desse jeito. 


Pensou que todos iriam morrer, um dia, mas nem por isso, deixavam de seguir suas vidas. Muito pelo contrário. Tentavam ser o mais feliz possível, ficando próximas das pessoas que amavam. 


Mesmo se Armin não tivesse a “maldição” de Titã, ele ainda correria o risco de morrer a qualquer momento, até mesmo mais cedo do que os doze anos de prazo, através de um Titã que poderia o engolir, ou até mesmo simplesmente escorregar e bater a cabeça.


Por acaso as pessoas deixavam de viver felizes porque têm a possibilidade de morrer ao levar um tombo ou qualquer outra coisa? Claro que não. Então, por que ele estava se privando de se permitir ser feliz?


Então, Lara chegou à conclusão de que no fundo, Armin era apenas uma pessoa que colocava os outros acima de si mesmo, o que era uma atitude muito nobre, mas, que se não fosse usada de maneira saudável, acabaria dando tudo de si, e nunca receberia nada. Além do fato de existirem aqueles que poderiam usar esse seu comportamento para benefício próprio.


Sentiu que, ao pensar nesta qualidade de Armin, o amou ainda mais.


Quando chegaram em casa, Lara foi direto tomar um banho e dormir, alegando que estava sem fome. Hange e Levi ficaram muito preocupados, pois queriam saber o que realmente havia acontecido naquela praia. Mas, acharam por bem ela descansar e esfriar a cabeça, e depois poderiam conversar.


O dia seguinte foi sábado, e Lara não apareceu para tomar o café da manhã com seus pais. Eles foram até seu quarto e bateram na porta. Quando entraram, viram Lara completamente enfiada debaixo das cobertas. Gentilmente, eles se sentaram na cama.


- Filha… - disse Hange, afagando a perna de Lara - Você quer conversar?


Silêncio. Hange olhou apreensiva para Levi. Então, lentamente, Lara saiu das cobertas, com os cabelos desgrenhados e a cara inchada, de tanto chorar de madrugada. Aquilo cortou o coração de seus pais.


- Me desculpem por não ter ido tomar café… - disse ela, cabisbaixa, enquanto passava o dedo no cobertor - Ainda estou sem fome…


- Não tem problema… - disse Levi, afagando carinhosamente seus cabelos.


Lara olhou para eles, com um sorriso triste. Então, contou tudo o que havia acontecido. Quando terminou, Hange tinha lágrimas nos olhos e até mesmo Levi estava com um semblante triste e arrependido por ter sido grosseiro com Armin.


- Sentimos muito, filha… - disse Hange, acariciando o rosto de Lara - Não imagino como deve estar sendo difícil para você… E para o Armin, então?! Coitado… Que coisa horrível lhe foi acontecer…


- Hange - disse Levi - Será que não tem mesmo algum meio de reverter isso? Você já viu algo sobre esta “maldição” nas suas pesquisas?


- Estou tão surpresa quanto você, amor - respondeu ela, pressionando os lábios - É a primeira vez que ouço falar deste “efeito colateral”. Eren nunca me contou nada. Porém… - Hange deu um sorriso encorajador - Vamos tentar encontrar uma solução, não é mesmo, filha?


Lara assentiu com a cabeça, devagarinho.


- Mas - disse Levi, franzindo o cenho - Também concordo que o Armin não está fazendo uma boa escolha. Ele não deveria se permitir sofrer assim.


Hange e Lara olharam para Levi, surpresas com aquele comentário. Por um breve instante, Lara até mesmo deu uma risadinha.


- O senhor falando essas coisas, pai?


Hange também riu gentilmente, apertando o joelho do marido. Levi fez uma careta, mas depois, baixou a cabeça.


- É porque eu sei como é isso… - respondeu, tímido - Já passei por uma situação parecida… Já fui teimoso e cabeça-dura, igual ele está sendo agora...


Ele olhou para Lara, sem jeito. Felizmente, ela pegou em sua mão e a apertou com carinho.


- Mas, você mudou de ideia, pai.


- Sim - respondeu ele, dando de ombros - Mas, a que custo? Quase perdemos você…


Lara baixou a cabeça, mas continuou segurando a mão do pai, compreensiva. Então, ela deu um grande suspiro.


- Vocês se importam se eu passar o fim de semana aqui, deitada? Não estou me sentindo disposta para nada…


Hange e Levi se entreolharam, ansiosos. Então, Hange apertou o braço de Lara, gentilmente.


- Pode sim, filha. Faça o que você quiser. Estaremos aqui, se precisar de nós.


Ela então levantou-se, chamando Levi para vir junto. Relutante, ele saiu do quarto, fechando a porta atrás de si e olhou para Hange.


- Amor, você acha mesmo certo deixar ela ficar neste estado? Não é melhor ela tentar sair da cama?


- Levi - Hange colocou a mão em seu ombro - O que a Lara precisa agora é literalmente colocar toda essa tristeza para fora… Ela precisa chorar o quanto tiver que chorar… Isso vai ajudá-la a passar melhor por essa fase.


Aos poucos, Levi foi concordando e para a surpresa de Hange, a informou que iria sair. Ela tentou perguntá-lo onde iria, mas, ele disse que seria rápido e que já voltava. Cerca de uns quarenta minutos depois, Levi chegou em casa com uma sacola nas mãos.


- O que é isso? - perguntou Hange, indo recebê-lo na porta.


- Chocolate - respondeu ele - Eu sei que ela gosta de comer quando está na TPM. Pensei que poderia fazê-la se sentir melhor.


Hange lhe deu um sorriso e se inclinou para dar um selinho no marido.


- Eu também trouxe para você - disse Levi, tirando uma caixinha de bombons da sacola.


Hange ficou feliz da vida, dizendo que depois iria recompensá-lo, nesta mesma madrugada, o que o deixou animadinho.


Lara ficou muito agradecida e emocionada com o repentino presente do pai, e prometeu que iria comer todos, enquanto já chorava em seu peito, com um bombom derretendo na boca.


Afogar as mágoas com os chocolates fez muito bem para Lara, exceto uma hora em que, enquanto comia um dos bombons, lembrou-se de quando fazia serviços de pombo-correio para Erwin, o que a fez também chorar de saudades pelo tio falecido.


Lara passou o final de semana praticamente trancada no quarto, chorando em sua cama, enquanto abraçava a concha que Armin havia lhe dado. Se perguntava se ele também estaria neste estado de sofrência ou se estaria lidando com a dor melhor que ela.


Mas, se ela pudesse o ver neste momento, veria que ele estava muito pior. Armin passou seu final de semana também enfiado debaixo das cobertas em seu quarto, chorando amargamente. Ele não tinha seus pais, para que o pudesse consolar, assim como não tinha nada que pertencia à Lara, para que pudesse ficar abraçado. Então, sua única saída foi ficar acariciando a própria bochecha em que a mão de Lara havia tocado, soluçando em tristeza.


No domingo de manhã, Lara fez o desenho de quando ela e seus pais foram à praia, e acabou descobrindo que desenhar era uma excelente terapia e forma para expressar suas emoções. O resultado foi um dos desenhos mais lindos que já havia feito, o que deixaria Moblit muito orgulhoso, fazendo Lara sentir um grande aperto em seu coração, ao se recordar de sua querida ‘avó’.


Hange e Levi ficaram muito surpresos com o desenho, que Lara acabou os dando de presente. Era a cena dos três, abraçados, enquanto olhavam o Oceano. Eles o penduraram em um armário, mas depois, acharam por bem retirá-lo, pois poderia despertar lembranças de Armin em sua filha, pelos eventos terem acontecido no mesmo dia. Por fim, acabaram colocando dentro do guarda-roupa e quem sabe, um dia, poderiam finalmente pendurar em algum lugar, quando Lara já estivesse se sentindo melhor.


Lara fez a besteira de tentar desenhar Armin, com o pôr do sol envolto em si, do jeito que ela havia o visto na praia, antes de conversarem. Mas, isso lhe rendeu pelo menos uns cinco rascunhos jogados fora, pois todos foram molhados pelas lágrimas que caiam no papel. Por fim, fez um grande esforço para conseguir concluir o desenho, só para depois também colocá-lo no fundo do guarda-roupa, dentro de uma caixa.


Apesar da dor que lhe causava, Lara não quis guardar a concha, deixando-a em sua mesa de cabeceira, tocando-a sempre que tinha oportunidade, pois, parecia que a cada toque, o amor de Armin a preenchia.


Levi e Hange se demonstraram excelentes pais, tentando ajudar na afogação de mágoas da filha. Levi lhe trazia chá com bolachas. Ficavam sempre em silêncio, porque não havia o que ser dito, e somente a companhia um do outro já era acalentador. Levi sentava com as costas na parede em que a cama era encostada e Lara deitava a cabeça em suas pernas, enquanto ele acariciava seus cabelos e ela soluçava, baixinho. Os dois ficavam contemplando a paisagem da janela à frente.


Hange também vinha e se deitava na cama de Lara, ela com a cara enfiada nos peitos da mãe, assim como fazia quando era criança. Hange acariciava suas costas e dava suaves beijos no topo de sua cabeça, enquanto Lara chorava e dizia: “Por quê, Armin?! Por quê?!”.


No domingo à noite, para agradar a filha, Levi fez seu prato favorito. Lara finalmente comeu com um apetite voraz, por ter ficado muito tempo somente com os bombons no estômago.


Depois disso, Lara se surpreendeu ao ver que Hange havia colocado os futons no gramado e os convidou para ficarem vendo as estrelas até a hora de dormir. Lara se aninhou entre os pais, enquanto eles a cobriam, pois estava uma noite fresca.


Os três ficaram ali, muito abraçados, observando o céu, as nuvens e as estrelas. Em determinado momento, os olhos de Lara começaram a ficar muito pesados, pois havia chorado mais um pouco, enquanto se lembrou de Armin ao olhar uma nuvem que se parecia muito com ele. Então, ela adormeceu e, pela primeira vez em muito tempo, Levi teve que levá-la no colo e colocá-la em sua cama, pois ficaram com muita dó de acordá-la. O coitado teve muitas dificuldades para subir as escadas da varanda com a filha nos braços, pois Lara já era grande e estava completamente molenga, e se não fosse pelo auxílio de Hange, os dois teriam rolado escada abaixo e talvez causado um pequeno acidente.


Foi muito difícil para Lara e Armin conseguirem voltar a trabalhar e conviver no mesmo ambiente, no início. O clima entre eles ainda era muito tenso e constrangedor, além dos dois sentirem muita tristeza toda vez que se viam. Mas, aos poucos, Lara percebeu que não adiantava nada tentar se manter fria com ele. Parecia que toda a vez que olhava para Armin, sentia uma imensa vontade de colocá-lo em um potinho e dizer que não precisaria se preocupar com mais nada, pois ela o protegeria para sempre.


A cada dia que passava, Lara sentia que seu amor por Armin aumentava mais. Um grande sentimento de compaixão foi crescendo dentro de si, e a única conclusão que chegou, era que tentaria deixar toda aquela situação dolorosa a mais leve possível. Apesar de não concordar com a decisão de Armin, Lara não conseguia evitar não sentir o sofrimento que ele sentia, então, achou por bem tentar pelo menos aliviar o seu fardo.


Ela se prometeu que nunca mais iria tratá-lo com desdém ou frieza e passou a sempre ser o mais gentil possível com ele, o que pareceu surtir pelo menos um pequeno efeito, pois, apesar de Armin ainda procurar evitá-la e conversar somente quando necessário, o clima entre os dois, aos poucos, foi se amenizando e Lara percebeu que a situação ficava bem menos dolorida para ele.


Numa determinada noite, enquanto Lara deitava abraçada com a concha antes de dormir, pensou em como Armin talvez pudesse gostar de ter algo dela para se recordar, ou pelo menos, diminuir seu sofrimento. Então, no dia seguinte, depois que voltou do trabalho, ficou acordada até tarde, fazendo um desenho dos dois na praia, olhando para o pôr do sol. Enquanto fazia o desenho, chorou novamente ao lembrar-se do triste momento (é claro, tomando o cuidado para não manchar o papel).


No dia seguinte, ela planejou colocar o desenho debaixo da porta do quarto de Armin, quando ele estivesse fora, dentro de um envelope. Antes de sair de seu laboratório para fazer isso, um pensamento veio à sua mente de que ela estava fazendo uma besteira, e que Armin poderia pensar que ela estaria se achando demais, por supor que ele queria ter algo para se lembrar dela. 


Porém, desde que teve a ideia, sentiu algo muito forte em seu coração de que deveria fazer isso. Tentou afastar o mau pensamento de sua mente, lembrando-se de que sua verdadeira intenção era apenas ajudar e até mesmo, demonstrar seu amor por Armin. Mas, por precaução, colocou um bilhete dentro do envelope, dizendo que, caso ele não quisesse o desenho, poderia jogar fora e pediu que a perdoasse pela intromissão.


No entanto, no dia seguinte, ao chegar em seu laboratório logo cedo, encontrou em sua escrivaninha uma pequena flor amarela e um papelzinho, com os seguintes dizeres:


“Obrigado por aliviar minha dor.


- Armin.”


Lara chorou, emocionada e feliz por ter o agradado, e quase molhou o papelzinho. Quando chegou em casa naquela noite, mostrou a flor e o recado dele para seus pais. Hange achou o gesto tão fofo, que disse a Levi que ele também deveria começar a deixar recadinhos na mesa de Hange. Ele revirou os olhos, estalando a língua, enquanto sua esposa ria. Lara guardou a flor e o recado na mesma caixa que havia guardado o outro desenho de Armin na praia.


► Play - “Thunderclouds”, de Amadea Music Productions


O tempo foi passando e Lara e Hange se esforçaram muito para poderem pesquisar sobre o efeito da “maldição de Titã”, e se também encontravam uma cura para este terrível problema. Na verdade, Lara deu tudo de si, ficando praticamente obcecada em achar uma solução, pois estava começando a ter pesadelos com Armin deitado em um caixão ou simplesmente morrendo em seus braços, fazendo-a acordar suada no meio da madrugada, com o coração disparado. 


Ela começou a faltar muito nos treinos e Levi tinha que buscá-la no laboratório por várias vezes. Chegou um determinado momento em que ela pediu que o pai a liberasse, dizendo que depois o ajudaria com o projeto do porão, para que eles pudessem ter uma sala de lutas apropriada e assim, compensaria suas faltas. Um pouco relutante, ele a autorizou, primeiro porque sabia que não iria adiantar de nada proibi-la, e segundo, porque também desejava que tudo se resolvesse e assim, sua filha poderia finalmente ficar feliz e em paz. 


Mas, a ausência de Lara era notada por todos nos treinos, principalmente por Armin, que, não sendo nada bobo, logo entendeu o motivo de Lara faltar tanto, para ficar trancada no laboratório. Ele percebeu como o semblante dela estava muito abatido e que provavelmente estava dormindo pouco. Ela não lhe pedia mais tantas tarefas, por estar muito ocupada em suas pesquisas. Todos os dias, Armin sentia a culpa corroer seu coração, por ser a causa de Lara estar naquele estado.


Hange também a ajudava quando tinha oportunidade, cerca de uma hora por dia na parte da manhã. Mas, como Comandante, ela simplesmente não tinha muito tempo durante a semana, entretanto, se dedicava muito nos finais de semana, com Lara a auxiliando no laboratório de casa. Até mesmo Levi tentou dar algumas ideias ou sugestões, mas nada que pudesse ajudar muito.


Em uma certa madrugada de insônia, Levi foi até a cozinha fazer chá, e para sua surpresa, encontrou Lara sentada no meio da sala, com dezenas de papéis e livros espalhados no chão, enquanto segurava seus cabelos com força, numa expressão de completo desespero.


- Eu não consigo! - sussurrava para si, o peito subindo e descendo - Por que eu não consigo?!


Levi rapidamente foi até ela, que quando percebeu o pai ali, não conseguiu mais segurar o choro em sua garganta e ficou deitada no peito dele, soluçando, enquanto dizia:


- Ele vai morrer, pai… Não vou conseguir salvar o Armin… Ele vai morrer!


Ao ver Lara naquele estado, o próprio Levi começou a sentir em seu coração o desespero da filha. Mas, a única coisa que podia fazer era balançar a garota, beijando o topo de sua cabeça e dizer que tudo iria ficar bem, mas, no fundo, ele não tinha tanta certeza disso.


Então, em uma manhã com uma chuva torrencial, Hange e Lara estavam no laboratório do Quartel, quebrando a cabeça. Lara tinha profundas olheiras e até mesmo Hange estava com um semblante de extremo cansaço.


Chegou num ponto em que as duas não tinham mais para onde ir. Sentada uma de frente da outra, Hange lentamente segurou na mão de Lara, dizendo:


- Filha… - ela tinha os olhos marejados - Sinto muito, mas… Não tem solução para isso… Já tentamos de tudo…


Com os olhos injetados de sangue, Lara balançava a cabeça em negação, sentindo as lágrimas também virem. Ela apoiou os cotovelos na mesa, agarrando os cabelos. 


Como se a situação não pudesse piorar mais, quem chegou no laboratório naquele momento?


Armin.


Ele bateu na porta aberta e Hange sinalizou que podia entrar, tentando disfarçar as próprias lágrimas. Um trovão muito alto ecoou lá fora.


- Com licença, Lara - disse ele, no típico tom suave e tímido - Preciso que você autorize que Sasha, Connie e Jean vão para o Distrito de Hermiha fazer a manutenção das carruagens que quebraram na semana pass--


Antes que ele pudesse terminar sua frase, Lara levantou-se num ímpeto, completamente descabelada e com os olhos arregalados, preenchidos por lágrimas. Armin levou tamanho susto, que deu um passo para trás. Por um breve momento, os dois se entreolharam e na hora, Armin sentiu como se alguém lhe tivesse dado um soco na boca do estômago, tamanha a aflição que invadiu seu coração.


Então, Lara simplesmente correu para fora. Armin olhou confuso, da porta para a Hange, que se levantou e foi até ele, com um olhar muito triste, mas gentil. Encarando o papel que trouxe na mão, Armin sentiu seu queixo tremer. Percebeu a presença de Hange ao seu lado.


- Querido… - disse ela, pressionando os lábios e colocando a mão em seu ombro, apertando-o - Sinto muito… Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance…


Armin não soube explicar, mas, Hange transmitiu tanto carinho naquele toque, que se permitiu soltar o lamento preso em sua garganta. Ele então começou a chorar, muito.


Rapidamente, Hange o entrelaçou em seus braços e, assim como fazia com Lara, começou a balançá-lo lentamente. Armin apertava as mangas do casaco dela, enquanto seus ombros sacudiam, à medida que seu choro aumentava. Hange sentiu tamanha compaixão pelo moço, que não conseguiu evitar beijar o topo de sua cabeça, acariciando suas costas. Agora, suas próprias lágrimas caíam em Armin.


Lara andava sem rumo pelos corredores, enquanto os trovões rugiam lá fora. Estava tudo meio vazio, com os soldados provavelmente se refugiando da chuva no refeitório ou em algumas salas. Ela cambaleava e sentia sua visão completamente turva.


Saiu por uma das portas e foi direto para um lugar que lhe trazia conforto: a árvore em que descansava com Levi. Mal pisou lá fora e já ficou encharcada pela chuva torrencial. Se alguém gritasse, ela não conseguiria escutar, tamanho era o volume alto das águas caindo dos céus.


Quando chegou na árvore, se apoiou no tronco e, sem mais forças em suas pernas, se ajoelhou no chão e começou a chorar. Sentia seu coração arder em desespero e imagens de Armin sem vida rondavam sua mente.


Então, olhou para o céu e do fundo da sua alma, soltou um grande clamor.


- NÃO ERA PARA VOCÊ VIR ME CONSOLAR?! - Lara tinha um olhar de fúria - O SENHOR NÃO TEM UM EXÉRCITO COM MILHARES DE ANJOS AÍ EM CIMA?! NÃO CONSEGUE ME MANDAR UM SEQUER PARA VIR AQUI?! ONDE ELES ESTÃO AGORA, HEIN?! ME RESPONDA!


Silêncio. Somente o barulho das águas era ouvido, e então, um forte trovão ecoou pelas nuvens.


Lara gritou muito alto, sentindo que a qualquer momento, seu coração pudesse explodir. Ela gritou e gritou, em profunda agonia. Se permitiu gritar cada vez mais, pois ninguém a iria ouvir com toda aquela tempestade. Altos soluços ecoavam de sua garganta e sentiu muita vontade de vomitar. 


Então, Lara percebeu algo cair sobre seus ombros e olhou para cima.


Levi estava ali, encharcado, colocando sua própria capa verde por cima da filha.


Ele se ajoelhou ao lado dela e a abraçou forte, segurando sua cabeça contra o peito, enquanto Lara agarrava seu colete e continuava a chorar. Ao vê-la naquele estado, Levi sentiu uma grande tristeza dentro de si e seu coração pareceu apertar. Um nó se formou em sua garganta. Então, sem que pudesse controlar, lágrimas começaram a sair de seus olhos.


Naquele momento, Levi se odiou, por estar se sentindo extremamente impotente, não podendo fazer nada pela filha, além de cobri-la com sua capa e abraçá-la. Mas, mal ele sabia que isso era tudo o que ela precisava agora.


Apesar da água fria que os molhava, Lara conseguiu sentir o calor do corpo do pai, e aos poucos, um acalento foi entrando em seu coração e todo o amor e cuidado de Levi foi a preenchendo. Ele a abraçava com força, afagando seus cabelos, como sempre fez e como sempre faria, quantas vezes fosse necessário.


Ali, Lara compreendeu.


Um anjo realmente tinha vindo consolá-la, e seu nome era Levi.



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Autor(a): NathaliaCroft

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