Fanfic: De um jeito diferente | Tema: Harry Potter

POV HERMIONE

O silêncio afundou em toda a sala, ninguém se atrevia a dizer nada diante do que Gui havia dito, e eu por alguns segundos esqueci a dor que sentia pelos cortes em meu corpo. Sim, eu sei que disse a Gina que estava tudo bem, mas aquilo estava doendo como o inferno. Eu não queria preocupar mais ninguém, Jorge precisava de mais atenção do que eu naquele momento.

Olhei para Harry que estava ao lado de Gina e sua expressão não era nada legal. Sua mandíbula contraída somada a sua “leve” tremulação em seus punhos fechados eram sinais mais do que certos de que sua raiva estava em um nível muito alto.

– Harry, controle-se – eu sussurrei para ele – Sei que é difícil, mas controle-se.

Vi sua expressão se suavizar um pouco, passando de raiva e ódio para cansado e triste. Naquele momento eu vi claramente o peso que aquele menino levava nas costas. E mais do que nunca eu tive certeza que iria ajudá-lo até o último momento. Ninguém merecia aquilo, muito menos um garoto de dezessete anos.

– Eu... – ele tentou falar – Eu preciso ficar sozinho um pouco. Com licença.

Harry saiu correndo escada acima sem dizer mais nada, deixando todos sem saber o que fazer.

– Eu vou atrás dele – Rony disse.

– Não – eu o impedi – Ele precisa ficar sozinho. Deixe-o absorver tudo, depois falamos com ele.

– Hermione tem razão – Gina disse para o irmão.

– Tudo bem – Rony suspirou derrotado.

– Precisamos achar o corpo – Lupin disse, atraindo toda a atenção para si.

– Acho um pouco difícil. Não sabemos onde ele caiu – Gui disse – Estava muito escuro.

– Mas não podemos deixá-lo lá. Olho-Tonto merece um enterro digno – Tonks disse com lágrimas descendo pelo rosto pálido enquanto o marido a aconchegava em seus braços.

– Acho que posso organizar uma patrulha de pessoas confiáveis do ministério para tentar achá-lo – Kingsley disse coçando, distraidamente, a barba rala.

– Eu vou junto – Lupin se ofereceu.

– Eu também – o Sr. Weasley falou.

– Pode contar comigo – Gui disse, sentando-se perto da noiva que soluçava baixinho.

– Ok, amanhã mesmo vamos procurá-lo, antes que os Comensais da Morte o achem – Kingsley disse – Tenho que ir organizar isso e ver o que está acontecendo no ministério. Obrigada pela hospitalidade, Molly.

A Sra. Weasley sorriu amavelmente e acompanhou o homem alto até a porta, e por fim desejando-lhe boa noite.

– E o que aconteceu com Mundungus? – Gina perguntou e todos pareceram se lembrar do homenzinho insolente e rabugento.

– Ele fugiu – Gui disse.

– Filho da p... – Rony começou a dizer.

– Ronald Weasley! – a Sra. Weasley chamou a atenção do meu amigo e eu teria rido de sua cara emburrada se a situação não fosse tão séria.

– Bem... Acho melhor irmos embora – disse Lupin – Tivemos muitas emoções por hoje, precisamos descansar. Obrigada Arthur, Molly.

Lupin antes de sair pela porta da frente com Tonks, parou em frente a mim, Rony e Gina e disse de um jeito para que só nós pudéssemos escutar.

– Tomem conta de Harry, não o deixem fazer nenhuma besteira – ele falou.

– Pode confiar em nós, professor Lupin. Ficaremos de olho nele – falei com um pequeno sorriso no canto dos lábios.

Ele retribuiu o sorriso e acenou minimamente antes de sair para a noite com Tonks ao seu lado.

– Bem Hagrid, você pode ficar se quiser. Amanhã podemos ir buscar sua moto. Tenho certeza que Harry vai adorar te ajudar a consertá-la – disse o Sr. Weasley.

– Obrigada Arthur, vou aceitar sua gentileza.

– Vamos, vou conjurar um colchão bem grande para você na outra sala.

Sr. Weasley ajudou o meio gigante a se locomover até a outra sala e a se instalar.

– Crianças, acho melhor todos irmos descansar. Foi um grande dia – disse a Sra. Weasley suspirando cansada – Vamos Jorge, eu vou fazer um curativo em você.

Fred e a Sra. Weasley ajudaram-no a se levantar e já iam subindo as escadas quando pararam bruscamente e a matriarca Weasley se virou para mim.

– O que aconteceu com você, Hermione? – ela perguntou horrorizada me olhando de cima a baixo, o que me deixou bem desconfortável.

– São só alguns cortes, Sra. Weasley, eu estou bem – eu disse, mas não pude deixar de fazer uma careta pela dor que senti quando me virei para encará-la.

– Não está não, ninguém sangra desse tanto e está tudo bem – disse ela – Gina, cuide dos cortes de Hermione. Você sabe como fazer.

– Tudo bem, mamãe – minha namorada assentiu.

– Nunca deixe de avisar quando estiver sentindo dor querida. Aqui é uma família, avisamos quando não estamos bem – a Sra. Weasley disse para mim antes de desaparecer pela escada lentamente.

– Bom, vou subir e ver como Harry está – disse Rony – Espero que meu quarto esteja inteiro. Os acessos de raiva dele podem ser bem destrutivos.

– Qualquer coisa me chame – eu disse – Se ele começar a surtar por se sentir culpado pelo que aconteceu com Moody...

– Tudo bem, até amanhã – falou Rony antes de subir de dois em dois degraus.

Encarei Gina que ainda olhava as escadas por onde o irmão desapareceu. Pigarreei para chamar sua atenção, o que acabou dando certo. Ela se virou para mim em uma expressão indecifrável e suspirou, deixando os ombros tensos caírem. Ficamos nos encaramos por uns bons longos segundos. Precisava admitir que ela ficava linda quando estava preocupada.

– Garotas, está tudo bem aí? – perguntou Gui me assustando completamente. Não me lembrava que ele ainda estava ali.

– Tudo bem – respondeu Gina ficando corada. Típico dos Weasley – Eu... Eu vou pegar os primeiros socorros na cozinha.

Gina saiu para a cozinha me deixando sozinha com Gui e Fleur. A francesa estava quase adormecida nos braços do noivo, mas ele continuava a me encarar com as sobrancelhas arqueadas. Segundos que pareceram horas, Gina finalmente voltou com uma enorme maleta em mãos.

– Você vai ficar ai Gui? – ela perguntou para o irmão.

– Só mais um pouco – ele disse com um pequeno sorriso.

– Okay, boa noite – disse ela dando um beijo na bochecha do irmão mais velho.

– Boa noite pequena – ele retribuiu – Boa noite Hermione.

– Boa noite.

Subimos as escadas lentamente, respeitando minhas dores. Ela abriu a porta do quarto, entrou e esperou eu passar para fechar a porta atrás de si.

– Hum... Acho que você vai ter que tirar sua camiseta – Gina disse corando – Quer dizer, para que eu possa ver os cortes e...

– Tudo bem Gina – eu sorri.

Eu tirei a blusa de frio cinza e depois a camiseta vermelho vinho que usamos para se passar por Harry, vagarosamente, tentando não tocar nos cortes que ardiam como o inferno. Gina me olhava atentamente sem nem ao menos piscar e eu sorri por dentro quando a vi engolir em seco. Deitei-me em sua cama e logo depois senti o colchão se afundar ao meu lado.

– Isso está horrível Mione – eu escutei a voz de Gina – Me admira você não estar gritando de dor.

– Nem está tão... AHHHHHHHHH! – eu gritei quando senti algo ser passado em um dos cortes maiores no meu abdômen – O que é isso? Está queimando.

– Bem... Eu não sei exatamente o que é. Mamãe é quem prepara essas poções curativas, mas sei que tem alguma coisa haver com saliva de Salamandra de Fogo, deve ser por isso que queima – Gina falou rapidamente. Ela estava claramente nervosa.

Ficamos em silêncio depois disso, apenas os meus resmungos e gemidos de dor soavam pelo quarto.

– Hermione – sua voz soou bem perto – Vou precisar que você levante o corpo um pouco para que eu possa passar essa faixa.

Sentei com dificuldade e a observei enrolar delicadamente a faixa em volta do meu abdômen. Tudo com uma enorme destreza e calma.

– Você leva jeito para isso – eu disse.

– Um pouco. Mamãe me ensinou tudo o que sei – ela respondeu ainda com os olhos presos no que estava fazendo – Estenda o braço direito.

A obedeci e observei ela enrolar outra faixa no meu antebraço.

– Me desculpe – ela sussurrou ainda sem me olhar.

– Pelo que?

– Por eu ter discutido com Rony. Você não gostou – ela respondeu finalmente me olhando.

– É, eu realmente não gostei. Você deu um ataque de ciúmes sem necessidade.

– Sem necessidade? Ele estava claramente dando uma de macho protetor pro seu lado. Eu não poderia assistir aquilo calada. Eu só... – e então ela parou de falar.

– Você o que Gina? – eu perguntei, incentivando-a a falar.

- Eu só tenho medo de te perder. Rony é apaixonado por você, sempre foi. Mas justamente agora ele resolveu perceber isso – ela falou tristemente e pela primeira vez eu vi Gina Weasley insegura com alguma coisa – Sei que demorei a perceber isso, mas eu realmente gosto de você, Hermione.

Encarei-a por vários segundos sem dizer nada, absorvendo tudo aquilo que eu acabara de ouvir. Finalmente despertei e me aproximei mais um pouco de Gina, beijando delicadamente seus lábios sem qualquer tipo de intenção de aprofundar.

– Você não vai me perder, okay? Sem a menor chance de isso acontecer ou esqueceu que eu sempre fui apaixonada por você? Rony é meu melhor amigo e só isso. Entendeu? – perguntei apenas para deixar claro o meu ponto.

Ela acenou minimamente, completamente envergonhada. Sorri com aquilo. Ela não podia ser mais linda. Continuamos sorrindo uma para a outra igual duas idiotas apaixonadas enquanto ela terminava de cuidar dos cortes em meu rosto.

– Pronto – ela disse enquanto guardava as coisas que tinha usado na maleta – Beba isso, vai fazer a dor diminuir.

Peguei o pequeno frasco que ela me dava e o bebi em um gole, fazendo uma careta quando me dei conta do gosto amargo.

– Isso é horrível.

– É, eu sei – ela disse rindo.

A vi andar de um lado para o outro arrumando as coisas e eu a seguia com o olhar sem me cansar.

– Você pode vestir uma blusa se quiser – ela disse em um fio de voz, de costas para mim.

– Você quer que eu vista? – eu perguntei maliciosamente.

– Não me provoque, Granger – ela falou virando-se para mim, suas mãos segurando a borda de sua escrivaninha com força.

– Eu não estou fazendo nada, Weasley. Só está um pouco quente por aqui, você não acha?

Gina me olhou de cima a baixo, umedecendo os lábios em claro estado de excitação e eu sorri com isso.

– Tudo bem Gina? – perguntei arqueando a sobrancelha – Você está ficando vermelha.

Depois disso ela corou mais ainda. Era totalmente adorável.

– Eu... Vou... Eu vou lá embaixo... Guardar isso – ela gaguejou.

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ela saiu correndo porta afora sem nem ao menos olhar para trás. Vesti um pijama com um pouco de dificuldade e depois me aconcheguei na cama de Gina, que era bem melhor do que a minha, e afundei meu rosto em seu travesseiro que era impregnado por seu cheiro.

POV GINA

Aquela garota estava querendo me matar? Eu não aguentaria ficar nem mais um segundo dentro daquele quarto sem fazer algum tipo de besteira e ela estava claramente me provocando.

Desci as escadas até a cozinha e acabei encontrando Gui que estava comendo alguns biscoitos com leite.

– Mamãe vai te matar por estar comendo os biscoitos do café da manhã. Ela fez especialmente para Harry, são os favoritos dele – eu disse enquanto guardava a maleta.

– Tenho certeza que ele não vai se importar. Harry é um bom garoto – ele respondeu com a boca cheia.

– Cadê Fleur?

– A levei para cama. Ela ficou muito abalada com tudo, principalmente por ver Moody morrer em sua frente – ele respondeu depois de engolir.

– Posso imaginar – eu disse enquanto enchia um copo com água.

– Como está Hermione? Os machucados pareciam sérios.

– Ela vai ficar bem, pelo menos não foi um feitiço das trevas, como o do Jorge. Ai sim seria um problema. Pelo que sei só um encantamento criado por Snape é que faria os cortes pararem de sangrar.

Ficamos nos encarando por alguns segundos, onde durante todo o tempo ele pareceu tentar ler alguma coisa em meus olhos. Enfim, ele resolveu quebrar o silêncio.

– Gina, você quer me contar alguma coisa?

– Eu... Eu não estou te entendendo – eu gaguejei.

– Sou seu irmão e melhor amigo, sabe que pode me contar qualquer coisa – ele disse com um pequeno sorriso simpático.

– Eu não...

– Okay, vou facilitar. Você está gostando de Hermione? – ele perguntou sem rodeios e isso me assustou.

Tentei negar diversas vezes, mas era Gui, um dos únicos em que eu confiava cegamente e naquele momento eu queria contar tudo a ele. Suspirei cansadamente antes de dizer:

– Sim, eu estou.

Ele abriu um largo sorriso antes de vir até mim e me abraçar.

– Isso é ótimo – ele disse alegremente – Minha irmãzinha está apaixonada.

– Você está feliz com isso? – perguntei morrendo de medo que ele se desse conta de que Hermione era uma garota e me rejeitasse.

– Claro, porque não estaria? Hermione é uma ótima garota – ele respondeu como se aquilo fosse óbvio.

– Mas você não tem problema com que ela seja, você sabe... Uma garota?

– Gina – ele me chamou, agora com a expressão muito séria – Você realmente gosta dela?

– Claro que sim.

– Então eu não vejo problema nenhum – Gui disse sorrindo – Você ainda é minha pequena Ginny e eu te amo.

Abracei-o mais uma vez, enterrando meu rosto em seu peito. Gui era o melhor irmão do mundo.

– Obrigada.

– Não precisa agradecer baixinha. Mas então... Ela já sabe?

– Nós estamos namorando já há alguns dias – eu respondi envergonhada.

– VOCÊS O QUE? – ele praticamente gritou.

– Fale mais baixo Guilherme.

– Você tem uma namorada e não me contou? Pensei que fossemos melhores amigos, Ginevra – ele disse em clara mágoa fingida.

– Me desculpe, mas tudo aconteceu tão rápido e você estava ocupado com a Fleur e o casamento que eu não...

– Hey – ele me cortou – Sei que vou me casar, mas ainda continuarei sendo o melhor irmão de todos, pode vir sempre conversar comigo, vou parar qualquer coisa que estiver fazendo para te escutar.

– Okay, desculpe.

– Agora me conte como tudo isso começou – ele pediu animado sentando comigo em sua frente. Ele apoiou o queixo sobre as mãos e me encarou como uma criança que esperava ansiosamente pelo começo de uma fantástica história.

Contei tudo a ele e principalmente como eu me sentia. Por fim ele suspirou todo emocionado e disse:

– Vocês formam um belo casal. Quando vão contar para a família?

– Você ficou louco? Não vamos contar a ninguém, pelo menos por enquanto.

– Mas papai e mamãe te apoiariam, tenho certeza disso. Lembra do primo Chester, nossos pais foram os únicos a apoiar o garoto no começo quando ele disse a todos que era gay no natal de 1991.

– O problema não são eles, pelo menos não a maior parte – eu disse – Hermione e eu não queremos magoar Harry e Rony.

– Ah entendo, isso é delicado. Rony vai demorar a entender, Harry nem tanto. Nosso irmão consegue ser um grande idiota quando quer, mas pode ficar tranquila, não vou dizer nada – ele disse com aquele sorriso que me fazia sentir protegida.

– Obrigada – eu disse retribuindo o sorriso – Acho melhor subir, Hermione vai achar que estou fugindo dela.

– Por quê? O que aconteceu? – Gui perguntou inocentemente.

– Você não vai querer saber, maninho – eu disse enigmamente, rindo da sua careta logo depois.

Fui até ele e beijei demoradamente sua bochecha antes de me despedir e subir para o meu quarto. Encontrei Hermione deitada em minha cama, ressonando tranquilamente. Peguei o meu pijama e fui até o banheiro me trocar, voltando rapidamente. Já estava pronta para me deitar na cama de armar quando a escutei me chamar.

– Deita aqui – ela sussurrou em uma voz totalmente rouca.

– Eu pensei que você estivesse dormindo – eu disse enquanto me aconchegava ao seu lado.

– Não, eu estava apenas te esperando. Você demorou – ela respondeu deitando a cabeça em meu peito enquanto eu a puxava para mais perto.

– Estava falando com Gui.

– Ele ainda estava acordado?

– Sim, atacando os biscoitos que mamãe fez pro Harry – eu disse e ela deu uma pequena risada.

– Mione – a chamei e ela resmungou algo que eu entendi como uma forma de dizer que estava escutando – Eu contei sobre nós para ele.

Hermione lentamente levantou a cabeça para poder me encarar, apoiando-a sobre o braço que não estava machucado.

– Você contou a Gui? – ela perguntou surpresa, mas não parecia estar com raiva.

– Não exatamente, ele que descobriu...

– Descobriu? Como? Nós não...

– Hey calma – eu disse quando ela começou a se desesperar – Gui me conhece melhor que qualquer um da minha família, não me surpreende que ele tenha notado.

– Mas como ele reagiu? Pediu que você terminasse comigo? Eu não quero causar nenhum proble...

– Ele não falou nada disso – eu a interrompi antes que ela começasse a pensar mais besteira – Gui nos apóia, acha que formamos um belo casal.

– É sério? Isso é ótimo.

– Sim – eu concordei sorrindo.

Hermione voltou a deitar a cabeça em meu peito e eu afundei meu rosto em seus cabelos com cheiro de morango. Era simplesmente o aroma mais incrível que eu já havia sentido em toda a minha vida.

– Fico feliz por você. Gui é um ótimo irmão – disse Hermione em meio a um bocejo.

– Sim – eu falei olhando para o teto enquanto acariciava seus cabelos – Ele é o melhor irmão do mundo.