Fanfics Brasil - Capítulo 10 - A Thousand Miles Deep In Your Soul Scarlet Dynasty - Klaroline

Fanfic: Scarlet Dynasty - Klaroline | Tema: The Vampire Diaries e The Originals


Capítulo: Capítulo 10 - A Thousand Miles Deep In Your Soul

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Klaus e Caroline


A volta para casa estava bem tensa e silenciosa. O carro preto de Elijah nos seguia a alguns metros de distância na estrada. Klaus dirigia forçando os motores e fazendo o velocímetro marcar o seu último ponto. Ele e Stefan já tiveram muitas diferenças no passado, mas eu sabia que no fundo Klaus possuía uma grande admiração e amizade por ele. Até onde me constava eles foram muito próximo nos anos vinte, quando Stefan estava vivendo uma fase negra na sua vida de vampiro. Tenho certeza de que, mesmo ele negando até o final, ele estava preocupado com Stefan e tentaria ajudá-lo. Além disso, havia o agravante Qetsiyah. Suspirei pesadamente. Não fazia sentido. Por que pegar a Cópia de Silas se eram das Cópias de Amara de que ela precisava? Então, lembrei do que Damon disse. A louca queria usar o cérebro de Stefan para localizar o ex-noivo. Eu estava tão agoniada que manter a boca fechada era uma tarefa impossível.


– Você disse para Elijah que sabe onde Katherine está. Onde? – Perguntei dividida entre a curiosidade e a necessidade de manter a minha mente ocupada para não surtar. Meu estômago estava se revirando de ansiedade.


– Exato, love. Mas, por hora vamos manter em segredo – Respondi para ela parcialmente. Não diria onde aquela vagabunda estava, por enquanto. Essa informação não poderia vazar até Elijah. Eu podia sentir a tensão em seu corpo. Caroline deveria estar em pânico por causa de Stefan. Mas, era incrível o seu auto controle diante da situação. Com a minha falta de resposta mais completa, ela prosseguiu.


– Não entendo. Ela sempre se vangloriou por conseguir se esconder de você – Disse a ele.


– Estupidez dela, se você quer saber – Ele me olhou de esguelha sorrindo orgulhoso de si mesmo – Você realmente acredita que alguém no mundo, até mesmo Katerina, pode se esconder de mim? Ela sempre foi muito arrogante. Esse sempre foi um dos seus maiores defeitos.


– Por que você simplesmente não a matou? – Perguntei surpresa com suas confissões.


– Pelos mesmos motivos que deixei Tyler ir embora sem matá-lo quando ele me obrigou a massacrar os meus híbridos – Eu sabia que tocar nesse assunto com ela era o mesmo que cutucar num ninho de cobras venenosas – O medo. Katerina passou séculos olhando para trás. Com pavor e fugindo a cada menção do meu nome. Nunca pode se estabilizar em lugar nenhum. E eu confesso que em algumas vezes eu deixei um rumor falso se espalhar apenas para vê-la em pânico e sair correndo por aí descabelada com medo de virar a esquina e me encontrar – Terminei soltando uma pequena risada sádica.


– Isso não me parece muito digno, Klaus – Eu falei com raiva. Lembrar o inferno que Tyler e eu passamos por causa dele não era nada bem-vindo no momento. Ele nada me respondeu. Apenas enrijeceu os músculos e focou na estrada – Mas, agora você irá até ela. Vai se revelar. Vai só assusta-la ou pretende cumprir a sua promessa de uma vez por todas? – Falei tentando manter a calma.


– Um dia eu vou matar Katerina – Falei isso sombriamente. Vendo que ela não gostou do meu deboche, meu sorriso murchou - Mas, de alguma forma, sempre achei melhor deixá-la viva. Pois, ela poderia me ser útil. O sangue mágico das Doppelgangers nunca deve ser ignorado. E as circunstâncias atuais provam que eu estava certo.


– Ela sempre fugiu pensando que você a procurava para matá-la – Ignorei os seus comentários. Quando eu começo a ver o seu lado bom, ele volta à tona com seu lado negro.


– Como eu disse: arrogante. Eu sou a criatura mais poderosa do universo. Minha existência não gira em torno de uma vadia metida a esperta – Falei com desprezo - É muito egocentrismo de Katerina Petrova pensar que eu estava vasculhando a Terra atrás dela, gastando meu tempo com ela, deixando de viver a minha vida só para persegui-la. Minha decisão do que fazer com ela, no final das contas, será de acordo com o que realmente significa esse triângulo de sangue. Não gastaria de graça energias atrás dela. Ela não significa nada para mim. Mas, já que vou precisar ir atrás dela, por que não juntar o útil ao agradável?


– Você está me dizendo que se for conveniente para nós que ela morra você vai matá-la? – Falei perplexa, olhando para ele sem acreditar na veracidade daquelas palavras insanas.


– Exatamente – Respondi com frieza – Qual a surpresa? Todos sabem da sentença de morte que dei a Katerina. E não entendo a sua indignação. Pensei que todos vocês detestassem ela. Até onde sei já tentaram matá-la inúmeras vezes.


Isso era verdade, eu não poderia negar. Joguei meus cabelos loiros para trás me ajeitando melhor no banco e respondi.


– Katherine pode ser uma manipuladora, o demônio em pessoa, mas matar alguém deliberadamente só por capricho nunca será algo com o que eu concorde - Terminei de falar cruzando os braços e virando a cara para a estrada, olhando pela janela ao meu lado.


– Não é por capricho, Caroline – Rosnei baixo para ela. Estava me controlando para não perder a paciência. Estava mesmo defendendo Katerina Petrova? – Ela enganou a mim e a Elijah. Ela manipulou tanto ele a ponto de fazê-lo me trair. E eu nunca vou perdoá-la por isso, não importa o que aconteça. Nada me fará poupar Katerina. Nada me fará mudar de ideia.


– Klaus, ela estava apenas se defendendo de você – Eu o encarei perplexa. Como ele era obtuso, inacreditável – Você queria acabar com a vida dela por algo egoísta, para ativar o seu lado lobisomem e se transformar em híbrido. O que você esperava que ela fizesse? Te desse a vida de bom grado? E Elijah estava apenas ajudando ela a fugir de você – Ao acabar de falar, minha voz estava um pouco alterada.


– Não estou entendendo por que você está tão brava comigo por querer matar Katerina Petrova. Ela matou você. E nenhum de seus amigos em Mystic Falls deixaria ela viver se estivessem diante da oportunidade de matá-la, principalmente se tiverem que salvar a própria pele – Indaguei indiretamente. Não fazia o menor sentido para mim a posição de Caroline, mas era petulantemente a cara dela se compadecer de gente que não merece.


– Talvez Stefan deixasse. Eu não sou fã e muito menos defensora dela. Embora eu goste e eu esteja bem melhor como vampira, ela não sabia que eu tinha sangue de vampiro no meu sistema. O plano dela era realmente me matar. Então, claro que ela fez de maldade, queria se vingar de Elena – Falei olhando para ele, abrandando a minha voz – Apenas penso que é loucura você odiar uma pessoa por ela tentar se defender do mal que você mesmo estava planejando contra ela.


– Eu não vou expor os meus motivos contra Katerina. Só digo que ninguém me engana e sai ileso – Respondi mal humorado.


– E você não precisa. Eu já os entendi – Falei olhando dura para ele.


– É mesmo? – Perguntei com deboche – E quais seriam, Caroline, dona da verdade absoluta?


– Você a odeia porque ela fez Elijah te trair. Receber uma traição do seu irmão mais próximo te feriu profundamente. Você detesta ser traído. E ter sido por uma pessoa que você ama foi pior ainda. Poderia ter sido qualquer pessoa do planeta no lugar dela a fazer isso. E você odiaria essa pessoa seja quem ela fosse, pelo simples fato de ter feito seu irmão virar as costas para você. Você odeia quando os seus irmãos não lambem o chão em que você pisa – Eu falei tudo sem pausa alguma. Jogando cada palavra na cara dele. Qualquer pessoa que não conhecesse bem Klaus acharia que ele é apenas um lunático querendo ferir Katherine. Mas, eu entendia a verdade por trás de toda a dor da traição disfarçada de vingança e de ódio. Ele nada me respondeu. Olhava a estrada fixamente e seus músculos estavam tão tensos que seus braços não se moviam no volante. Eu percebi o que tinha causado e resolvi tentar desfazer o efeito do veneno das minhas palavras, que eu sabia serem verdadeiras, mas eu não gostava mais de criticá-lo dessa forma.


– Não estou defendendo Katherine, Klaus. Ela causou muito sofrimento para os meus amigos. Eu mesma já senti vontade de matá-la, uma ou duas vezes, verdade seja dita – Respirei fundo antes de pronunciar o que vinha a seguir – Só que eu realmente acredito que haja um lado bom em você e eu me apego fortemente a isso. E quando você fala em matar, estripar e destruir cada ser vivo nesse mundo me faz sentir desconectada de você e eu não gosto disso – Eu fechei os olhos ao dizer isso. Nem eu mesma esperava por essa. Saiu tão naturalmente que eu não tive tempo de refrear a minha boca. Ele me olhou surpreso e depois voltou sua atenção para a estrada.


– Você se sente conectada comigo de alguma forma? – Suas palavras me inundaram de uma alegria que eu quase nunca me permitia sentir. Principalmente no que se tratava de Caroline. Embora a nossa conexão sempre esteve ali, escrachada aos sete ventos, Caroline nunca teve coragem de admitir – Mas, eu não sou bom - Como alguém incrível como ela pode se sentir tão conectada assim a mim?


– Não por completo – Respondi a verdade.


– E você gostaria que eu fosse melhor?


– Eu gostaria que você tentasse um pouco, pelo menos. Relutasse antes de derramar sangue. E não pelos outros, mas porque você sabe ser o correto.


– O que te faz acreditar que existe algo bom em mim?


– Porque eu já vi. Diversas vezes. Mesmo quando nem você mesmo notou que era algo digno. E isso é bom, se você quer saber, pois significa que foi algo natural do seu interior, que você não precisou sacrificar a sua verdadeira vontade, a de fazer o mal, e fez o bem porque quis fazer.


Suas palavras me imobilizaram e me silenciaram por completo. Em parte eu gostava de ouvi-las e saber que era isso o que Caroline pensava de mim. Em contra partida, isso me dava a sensação de impotência, de fraqueza. A bondade é uma fraqueza e eu não gosto de ser fraco. Estar vulnerável era uma tarefa para outros e não para mim. Esses sentimentos confundiam a minha mente e me deixavam atordoados. Eu queria ser essa pessoa que ela pensa que eu sou, mas também não queria ser. E nem sabia se eu era capaz de ser algum dia. Mas, apesar de tudo Caroline ainda está aqui, acreditando nas suas próprias e ilusórias palavras. Eu ia responder, perguntar exatamente o que ela achava que eu tinha feito de bom, mas minha garganta estava seca de emoção contida. Me dava medo de pedir um exemplo e ela cair em si que não foi uma atitude tão boa quanto pareceu aos seus olhos condescendentes. E mesmo não querendo sair da nossa bolha especial, era preciso. Olhei pra ela, que mirava fixamente a estrada à frente. Talvez estivesse tão perplexa como eu pelas descobertas.
A contra gosto, peguei o celular e disquei para Elijah, que eu conseguia ver pelo do retrovisor. Faltava pouco para chegarmos em casa e precisávamos de um plano de abordagem. Eu não sabia o que aquele idiota do Damon estava planejando para recuperar o irmão, mas certamente não era nada inteligente ou algo a se considerar.


– Brother, você vai comigo e com Caroline para à casa de Stefan – Ordenei, como era de costume - Mande Rebekah e Kol irem até a doppelgänger e a esconderem de Qetsiyah. Rebekah sabe o caminho para onde eles estão.


Fiquei perplexa. Ele iria mesmo confiar a vida de Elena nas mãos de Rebekah e, pior, nas mãos de Kol? Eles, no mínimo, iriam atormentá-la por pura diversão e maldade.


– Eu prefiro que Elijah fique com Elena – Falei e sabia que ele podia me ouvir do outro lado da chamada.


– E eu prefiro que Elijah vá conosco – Respondeu Klaus num sorriso arrogante e decidido.


– Klaus, você não percebe que não é uma boa ideia deixar Elena com aqueles dois? – Falei com a voz alterada, olhando para ele com indignação.


- Elijah está cotado para uma outra tarefa mais importante - Ele apenas disse isso e eu fiquei puta com ele.


– Então, logo em seguida, irei buscar nossa bela e querida Katerina. Você iria comigo, mas agora vai precisar ficar – Continuei a falar com meu irmão, fingindo não ouvir o bravejar de Caroline.


– Você não pode sair dando ordens assim, esperando que todos acatem sem pestanejar - Falei emburrada, certa de que Elijah me ouvia.


- E você ainda não me disse onde ela está, Niklaus – Meu irmão proferiu com certo rancor em sua voz e eu fingi não notar. Caroline de um lado indignada e Elijah reclamando no telefone. Era o paraíso.


– Você não vai adivinhar, brother. Fico me perguntando o que aquela vadia está fazendo nessa cidade. É muita coincidência. Ou talvez não seja, se tratando de Katerina.


– Que cidade, Niklaus? – Elijah já estava impaciente.


– Eu não direi a você, brother. Seu fraco por Katerina pode vir a colocar tudo a perder. Não te darei a chance de avisá-la. Só me dará mais trabalho.


– Não seja ridículo, Niklaus. Sua paranoia não tem fim.


– Não é paranoia. Você sabe disso melhor que qualquer outro. O passado me dá razão – Pude sentir o olhar de reprovação de Caroline me queimando, mas deixei passar – Estamos quase chegando, vamos logo descobrir o que essa bruxa do inferno está tramando – Desliguei o telefone e já estávamos de frente para a mansão Salvatore.


Caroline saiu do carro sem nem olhar para os lados e entrou na casa apressadamente, batendo a porta na minha cara. Ótimo, outra birra. Ela ficava tão fofinha quando se irritava comigo, embora me tirasse do sério também.
Antes de entrar, eu precisava de uma palavrinha com as bestas dos meus irmãos mais novos. Os três saíram do carro e Rebekah já vinha na toda com o seu gênio de pirralha mimada.


– Eu não vou ser babá daquela vadia da Elena, Nik.


– Você é descerebrada assim mesmo, sistah? Você não está em posição de exigir nada.


– Como é irônico o destino. Eu quero matar aquela vagabunda, mas para eu ter alguma chance de viver, preciso preservar a vida dela – Falou Kol com um sorriso sádico e sem humor. Eu revirei os olhos e fui direto ao assunto.


– Levem-na para a nossa casa do lago e não a deixem sair sob nenhuma circunstância. Qualquer sinal estranho, contatem a mim e Elijah.


– Nós não somos crianças. Sabemos nos virar sozinhos – Respondeu Rebekah com petulância.


– Não é o que parece. Mil anos não foram necessários para você conseguir fazer o seu cérebro funcionar, sistah. Deixou Mikael te apagar – Falei com um sorriso debochado e ela me encarou com raiva, mas calada.


– Eu realmente me importo com Stefan – Ela disse fingindo não ouvir minhas palavras – Mesmo ele sendo um traidor cachorrinho. Eu prefiro ficar.


– Já está decidido, Rebekah – Falei com impaciência.


– E por que é você quem decide? – Ela cruzou os braços indignada.


– Rebekah, cala a boca e faz o que eu estou mandando! – Falei quase gritando – Elijah não pode ir. Tenho outra missão para ele. E somente Kol não é uma boa ideia. Ele é mais tapado que você. É simplesmente pode arrancar a cabeça da doppelgänger num surto de raiva - Ela me olhou irritada, mas não tinha escolha. Sabiamente permaneceu calada.


– E quanto aos outros que estão com ela, Niklaus? – Perguntou Elijah.


– Ora, vamos nos livrar de todos eles, não é mesmo, irmão? – Falou Kol com brilho assassino nos olhos.


– Seria de grande utilidade, eu admito – Respondi com maldade e Elijah me censurou com o olhar – Mas, apenas levem a doppelgänger. Deixem os outros por lá – Eu sabia que matar os amigos de Caroline não seria uma jogada inteligente e muito menos digna diante de seus olhos. Eu pouparia aquelas vidas inúteis por causa dela, e apenas por isso – Vamos, brother – Acenei para Elijah, mas antes dele me seguir, se dirigiu a Kol e Rebekah.


– Nada de maltratarem Elena Gilbert. A tratem com respeito e dignidade – Eu revirei os olhos por causa dessas palavras. Típico de Elijah se compadecer pelos fracos e mal afortunados.


– Pode deixar, irmão. Prometemos a você – Kol respondeu e era notório em sua voz o quanto ele iria quebrar a sua promessa e o quanto iria gostar disso. Então, meus dois irmãos mais novos tomaram o seu rumo e eu entrei na mansão Salvatore com Elijah às minhas costas. Havia três pessoas de pé no meio da sala.


– Stefan? Pensei que você tivesse sido capturado pela bruxa má – Falei muito confuso e com desdém, mas alegre de ver o meu antigo amigo traidor e assassino parado na minha frente, de braços cruzados e com um sorriso irônico. Caminhei até junto dos três e parei bem de frente para ele. Seu olhar era frio demais para o Stefan que eu conhecia. Algo não se encaixava e minha mente deu um estalo ao mesmo tempo em que Damon respondeu.


– Não é Stefan – O Salvatore mais velho falou e eu senti um frio na espinha. Poucas vezes senti medo nesses séculos sem fim, mas Silas conseguiu me atingir de um jeito escabroso. Ainda estavam bem vivas na minha memória a dor e a loucura que ele me fez passar. E agora ele estava aqui bem diante de mim, com a sua verdadeira cara e forma. Era inacreditável presenciar essa aberração da natureza. Ele era Stefan em tudo e Stefan era ele, exceto no seu jeito de olhar, que estava mais para petrificar alguém, e com certeza, exceto na alma, pois Stefan conseguia ser anos-luz superior.


– Qual o motivo da honra de sua visita? – Perguntei com ironia – Passei dias com a Cura e a sua espera, mas você não deu às caras.


– Eu estava acompanhando os acontecimentos, sabe, com os meus poderes psíquicos – Ele apontou para a própria cabeça. Sua expressão era satírica demais, maldosa demais. Só vi Stefan com uma expressão semelhante quando ele estava com a sua humanidade desligada, nos anos vinte. Nem mesmo depois de décadas quando eu o forcei a desligar novamente, ele esboçou tal aparência. Seu amor pela inútil Doppelganger o fez lutar contra a minha intervenção e a não desligar por completo – Quando, de repente, tudo ficou escuro e eu soube de imediato que a louca da minha ex noiva estava agindo.


– Engraçado o jeito como você usa o termo "ex noiva" mesmo após dois mil anos – Falou Damon com deboche.


– Bom, a julgar pelos acontecimentos recentes, ela ainda não superou o nosso término – Ele respondeu com mais sarcasmo que Damon, algo que acreditava não ser possível.


– Você pode parar de enrolar e nos dizer por que ela levou Stefan? Pois se fosse apenas para te achar, você nem estaria aqui de conversinha fiada conosco – Eu já não aguentava mais olhar para ele, ver o rosto e o corpo do meu melhor amigo que havia sido sequestrado sem de fato ser ele de verdade. Desde que eu entrei na casa, o estava indagando incessantemente e ele não me respondia nada de concreto.


– Eu estava esperando o seu namorado e sua família esquisita entrarem na sala para eu falar uma vez só. Além disso, falar para eles é mais útil que falar para você, verdade seja dita. Os Originais, sobretudo Klaus, possuem um histórico mais abrangente que o seu, vampirinha – Ele terminou com um sorrisinho filho da puta que me fez ter vontade de dar um soco naquela cara copiada de Stefan.


– Então, agora você já pode dizer. Estamos aqui – Respondeu Elijah - Ele sorriu e começou a andar pela sala, olhando tudo em volta.


– Como vocês sabem, eu quero tomar a cura e morrer. Mas, se eu fizer isso sem a destruição do Outro Lado, ainda ficarei preso no mundo sobrenatural dos mortos, pois morrerei como bruxo. Eu achava que só completar o Triângulo dos massacres e baixar o véu seria necessário, mas é preciso destruir o Outro Lado definitivamente para eu passar direto. E não é o que a minha amada ex noiva quer que aconteça. Eu não fui até vocês em busca da Cura porque estava trabalhando para descobrir como acabar com o Outro Lado. E claro que seria muito útil se minha adorada ex nem soubesse onde estava a Cura. Eu não seria tonto de guarda-la comigo a deixando bem debaixo do nariz da louca. E a minha vantagem são os meus poderes mentais. Logo, se eu fosse Qetsiyah, derrubar as minhas vantagens seria a primeira coisa que eu faria e foi exatamente o que aquela demônia fez. Ela levou Stefan porque ele é a minha Cópia e através da mente dele ela pode ter acesso a minha. Então, ela fechou os meus poderes através dele, me bloqueou. Resumi bem?


– E como ela fez isso? – Eu perguntei quase num sussurro. Me aterrorizava só a ideia dos artifícios de que ela precisou para bloquear a mente de Silas. Imaginar Stefan sendo ferido e torturado fazia a minha alma gritar. Precisávamos pegá-lo de volta antes que aquela desgraçada matasse ele.


– Não sei. Apenas deduzi pela lógica que assim foi o que aconteceu. Só precisamos afastá-lo dela, para ela não ter mais acesso a minha mente – Ele respondeu balançando os ombros displicentemente e isso fez meu sangue ferver. Ele não se importava nem um pouco com a vida de Stefan. Ele era apenas um canal entre a sua inimiga e a sua mente, um canal que precisava ser desfeito.


– Você disse que estava trabalhando para descobrir como destruir o Outro Lado definitivamente. Isso inclui a minha adorável mãe? – Essa parte era a única que realmente me interessava além do que se tratava de Stefan. Eu queria resolver isso o quanto o antes, eliminar todo e qualquer risco de ver Caroline morrer de verdade. E suas palavras me fizeram lembrar de coisas que Esther me disse algumas horas atrás. Ela disse que estava trabalhando em silêncio em busca de informações sobre como destruir o Outro Lado e não teria como ela saber de todas aquelas coisas sobre os planos de Qetsiyah apenas por conta própria, já que os seus poderes foram rebaixados diante do que um dia já foram. Ela não era mais a poderosa bruxa que poderia destruir um Original, eu notei, ainda que batesse no peito e discursasse sobre seu poder. Os espíritos fizeram dela uma bruxa simples e comum e era por isso que ela estava se aliando a nós. Jamais acreditaria nas suas palavras sobre perdão e arrependimento. Ela era uma caçadora de recompensas. Ia sempre para o lado onde possuía mais vantagens. Fazia todo sentido que ela estivesse aliada a Silas e a seus poderes mentais. Isso daria a ela vantagens e uma visão bem completa e ampla de todos os acontecimentos. Ela era mais esperta e mais cobra do que eu imaginava.


– Exatamente, Klaus. Fico contente com a rapidez do seu raciocínio – Ele sorria com escárnio.


– Você tem trabalhado com a nossa mãe? – Elijah perguntou com incredulidade, mas eu nem tanto.
Ela parecia saber demais quando nos contou todos aqueles detalhes lá no armazém. Eu apenas queria recuperar Stefan. Vê-los naquela discussão estava me deixando agoniada.


– É tão difícil de acreditar, brother?


– Não muito, na realidade. Esther é uma serpente.


– Bravo, Elijah. Pela primeira vez ouço palavras sensatas saírem dessa sua boca impecável – Parabenizei meu querido irmão.


– Podemos, pelo amor de deus, focarmos em trazer Stefan de volta? – Falei sacudindo os braços e os cabelos agitadamente.


– E como você espera que façamos isso, Barbie? – Damon babaca falou.


– E por que parece que você não está dando a mínima para o seu irmão?


– Não fale besteira, blonde, só não sei por onde começar. Você sabe? – Damon me perguntou com sarcasmo e eu não tinha resposta. Ele me encarava com irritação misturada ao pânico. Dava para ver em seus olhos o quanto ele também estava perdido.


– Precisamos de uma bruxa, para começar. Ela pode usar a minha mente, tentar se conectar e encontrar a de Stefan.


– Só temos Esther. Bonnie perdeu seus poderes – Eu olhei para Klaus ao dizer isso. Eu sabia o quanto ele queria derrotar o pai e trazer Esther aqui significaria expô-la para Mikael, destruindo a sua vantagem. Ele me olhou de volta, mas nada expressou em negativa ao que eu disse, apenas acenou com a cabeça.


– Elijah, ligue para Finn e mande nossa querida mãe dar às caras aqui. Duvido que não tenha nos seguido de volta para Mystic Falls. Diga que é urgente. Finalmente ela vai ter a chance de se provar útil– Ordenei a meu irmão e ele assim o fez – Damon, meu amigo, precisamos te contar algumas pequenas coisas – Falei sorrindo falsamente. Ele me olhou confuso. Eu gostava de estar no poder, de vê-lo com aquela expressão demente diante de mim – Aparentemente, Qetsiyah planeja levantar o véu, forçar Silas a tomar a cura e depois matá-lo, para vê-lo queimando no inferno eternamente com ela, como em toda linda e épica história de amor – Dei um sorrisinho sarcástico – Descobrimos que ela precisa de três Doppelgangers, três Cópias de Amara, o amor verdadeiro de Silas, que Qetsiyah transformou em pedra, para completar o feitiço.


– Aonde você quer chegar, Klausito? – Damon me perguntou com os olhos fumegando de ansiedade e de medo. Ele sabia que nada de bom sairia da minha boca.


– Nós não queremos que os planos dessa bruxa maldita se concretizem, então eu mandei esconderem Elena, então não se preocupe, meu caro. Meus irmãos estão nesse momento a caminho dessa tarefa.


– Que irmãos? – Ele falou se aproximando de mim. Eu não dei um passo sequer.


– Rebekah e Kol. Não está vendo Elijah aqui? – Respondi impaciente.


– Você mandou as duas pessoas que já tentaram matar Elena diversas vezes, sendo que uma já obteve sucesso, para "protegê-la"? Qual parte da sua cabeça parou de funcionar? – Ele estava começando a se alterar – Onde ela está, Klaus?


– Por enquanto no mesmo lugar. Mas, logo não estará.


– E você vai me dizer agora para onde pretende levá-la.


– Por segurança, eu não direi – Ele já estava praticamente me encarando. Eu apenas sorria com desdém. Ele não podia contra mim. Ninguém podia.


– Por favor, pare, Damon – Caroline se pôs entre nós dois – Queremos as mesmas coisas, lembra? Estamos apenas escondendo Elena. Ela estará segura. Não é o ideal, mas não temos escolha.


– Desde quando você concorda com uma loucura dessas contra a sua amiga? Klaus já fez a sua cabeça e te bandeou para o lado negro, Barbie?


– Eu não concordo com quem estará guardando Elena, mas você consegue ver outra forma de não deixar a bruxa chegar nela? Elena estará com dois Originais, não existe força maior que essa contra Qetsiyah. E Elijah nunca deixaria que machucassem ela – Eu já estava completamente nervosa. O tempo estava correndo. Quanto mais demorassem, mais Stefan corria perigo.


– Exceto a minha força, love, não se esqueça – Falei sorrindo para ela suavemente. Ela me jogou seu típico olhar de mandona e de censura.


– Se algo acontecer a ela, Klaus, eu juro que você vai pagar por isso. Não importa que você seja um híbrido de mais de mil anos. Você vai pagar - Olhei para ele com desdém, enfatizando o "quero ver você tentar".


– Damon, eu dei ordens diretas a Kol e Rebekah para apenas mantê-la dentro da casa. Eles não precisam interagir com ela. Eles estarão numa ampla propriedade particular da nossa família. Ela estará segura lá. Apenas confie em mim – Elijah, com todo o seu jeito de diplomata, sabia como aliviar a tensão e já era expert em resolver os problemas criados pelos irmãos. Klaus, no entanto, parecia adorar arrumar encrenca. Como se não tivéssemos o suficiente.


- Confiar em você, tá bom - Damon cuspiu com raiva e pegou o seu telefone e eu deduzi que ele fosse ligar para Elena. Eu olhei para Klaus e ele observava Damon atentamente. Me aproximei dele e segurei em seu braço. Ele me olhou surpreso, desviando sua atenção do resto.


– Me desculpe. Não queria estragar as coisas para você – Falei para ele com sinceridade.


– Não entendi, love – Eu a olhei com curiosidade.


– Sobre trazer Esther aqui. Eu sei que não temos mais opções. Mas, eu sei que isso vai estragar os planos dela contra Mikael e vai ficar impossível de usar o elemento surpresa.


– Eu não ponderaria sobre isso mesmo se tivéssemos escolha, Caroline – Eu falei me aproximando bastante o meu rosto do dela – Não tem nada nesse mundo que eu não faria por você – Me atrevi mais um pouco e alisei o seu cabelo impecavelmente macio. E lá estávamos nós presos mais uma vez na nossa bolha. Eu sabia que havia pessoas a nossa volta, pessoas que poderiam usar as minhas palavras contra mim. Eu estava sendo tolo ao proferir aquilo em público, mas eu queria dizê-las mesmo assim. Isso me deixava feliz, poder falar isso para ela enquanto eu pudesse. E a sua expressão para mim era impagável e me fazia ter mais certeza e menos medo de me expor dessa forma. Ela sorria de maneira angelical, inocente e isso fazia o meu mundo parar. Era a mais pura e sincera verdade. Eu faria qualquer coisa por ela.


– Isso é verdade – Fui bruscamente arrancada dos meus devaneios pela voz de Silas. Ele caminhava até nós sorrindo sapecamente, sendo seguido pelos olhos de Elijah – Eu fui obrigado a acompanhar todo o drama e a sua hipocrisia, Caroline – Ele falava como se contasse uma história de livros, com a voz carregada de emoções forçadas – Todas aquelas mentiras para camuflar os seus verdadeiros desejos e sentimentos – Minhas entranhas congelaram. Merda. Tinha esquecido daquele dia na floresta, quando ele apareceu pra mim na forma de Klaus. Ele sabia de tudo, dos meus segredos mais profundos, e estava prestes e me entregar. Eu me defendi da maneira que eu sabia fazer melhor, mentindo.


– Eu não sei do que você está falando. Perdeu o juízo?


– Mais mentiras. Inacreditável. A sua cara de pau é admirável. Quase faz parecer verdade – Filho da puta. Ele abriu os braços e os sacudia enquanto falava. Ele estava se divertindo – Então, me deixe refrescar a sua mente jovem de vampira e muito esquecida. Lembra daquele dia em que eu te abordei aqui mesmo na entrada dessa casa? – Ele perguntou cinicamente, apontando o indicador para a porta. Eu apenas o olhava bem séria, esperando pela merda que viria a seguir – Eu ainda não estava como "eu". Eu estava na forma de quem você mais desejava encontrar naquele dia. Mais do que até mesmo o seu namorado foragido. Eu era Klaus – Ele sussurrou de um jeito teatral. Eu pude sentir instantaneamente a reação corporal de Klaus. Ele olhou surpreso de Silas para mim. Se eu não agisse, meus segredos obscuros seriam expostos de maneira ridícula – E nós tivemos uma conversa um tanto interessante, se me recordo bem.


– Sim, um pouco antes de você enfiar uma estaca no meu peito no meio da floresta. Muito interessante. Você queria informações sobre a Cura e estava apenas me atormentando. Nada de mais.


– Nada de mais? Seriously? – Ele falou tentando imitar a minha voz, a fazendo parecer mais aguda e estridente do que realmente era. Eu revirei os olhos e cruzei os braços – Me deixe, mais uma vez, te fazer lembrar – E assim ele voltou a encenar cinematograficamente – O meu eu lírico Klaus disse a você: "Eu não consigo seguir em frente ou parar de pensar em você. Eu até tentei, juro. Depois de tanta rejeição, o mais sensato a fazer seria seguir, desistir de você. Mas, só no que consigo pensar é que queria você ao meu lado. Não acredito totalmente que não sinta nada por mim, porque às vezes você me passa a ideia de se importar comigo. Mas, também não me atrevo a pensar que seja mais que isso. Só queria que você me desse uma chance de provar que tudo o que afirmo é verdade. Eu me importo com você, de verdade. Posso te dar tudo o que almeja. O mundo é gigante e você pode tê-lo aos seus pés. Basta apenas aceitar a minha proposta e ir comigo embora daqui. Não aguento mais esse lugar, mas também não gostaria de ir sem você" Que ultrajante, você pensou. E mais ainda, por que ele está indo embora daqui? Te pareceu estranho. E que decepção você sentiu ao imaginá-lo bem longe de você, sem mais ninguém para te rodear, amaciando o seu ego narcisista.


Meu sangue estava quente e meu rosto queimando. Eu podia sentir a intensidade com que tanto Klaus tanto Elijah me olhavam. Pois, eles sabiam perfeitamente o significado de Silas aparecer para mim na forma de Klaus e me dizer aquelas palavras. Significava que eu queria ouvir aquilo, que eu desejava aquilo.


– E sua reação, como sempre, foi de negação. Não para Klaus, mas para você mesma. Deve ser tenebroso lutar com seu alter ego - Ele sorria lunaticamente - Mas, agora vem a minha parte favorita – Eu disse: "Estou pensando em partir. Não sei o que ainda estou fazendo aqui rodeando essas pessoinhas insignificantes. Mas, parece sem sentido e tedioso demais ir sem você. Venha comigo, Caroline". E você se desviou das minhas mãos e eu perguntei: "Do que você tem medo?" – Ele encenava, como se fosse uma peça de teatro – "De você, eu tenho medo de você", essa foi a sua resposta melodramática. Surpreendentemente sincera. O que eu traduziria para "Eu tenho medo do jeito que você me faz sentir, do grande poder que você tem sobre minhas emoções". E eu respondi: "Não seria mais correto dizer que tem medo de si própria, dos seus desejos mais sombrios?".


– Está fazendo suposições – Eu falei entre dentes, com uma vontade louca de rasgar o pescoço dele.


– Como eu posso estar fazendo suposições se posso ler os seus pensamentos mais profundos? - Ele disse com um brilho maldoso nos olhos - Não existe nenhuma suposição aqui. Sinto muito ser tão invasivo, mas é pra isso que serve ser capaz de ler as mentes alheias. Se não posso ter vantagens com isso, de que adianta tal habilidade?


- Isso é pessoal demais para você expor dessa forma, Silas - Klaus rebateu, embora eu tenha notado certa agitação em seu semblante. Ele desviou a atenção de mim e focou em Klaus.


- E quanto a você, Niklaus? Seu verdadeiro nome, certo? Bem brega, verdade seja dita - Ele se aproximou de Klaus - Já que estamos nessa vibe de contarmos a verdade. Quer explicar para a loirinha o que você fez em Alexandria? As suas pequenas indiscrições e tendências psicopatas sempre no caminho de conseguir o que mais quer no momento. Que tal contar  o que você estava aprontando enquanto ela estava agonizando em direção à morte. Aposto que ela vai adorar. Afinal, ela gosta de quem você é, não importa o que você faça - Caroline me olhava com a testa franzida e indagadora. Silas não precisava invadir mentes para envenena-las - Você sabe que ela é do tipo que cuida até de quem não merece. Exatamente por isso você chamou por ela no dia que eu atormentava a sua mente. Você contava com a benevolência e a compaixão dela por você. Era o que você desejava, que ela tivesse algum afeto por você. No fundo, mesmo com todas as suas inseguranças, você se apega fortemente ao caráter dela, pois sabe que será isso, no final das contas, o que te fará ser perdoado. Mas, cuidado, Niklaus - Pronunciou meu nome em tom de piada - você pode se exceder na confiança e cruzar uma linha que nem a piedosa Caroline será capaz de perdoar. Então, não vai querer contar a ela sobre o seu passeio divertido em Alexandria - Avancei nele na velocidade vampírica e apertei seu pescoço. Mas, em segundos ele dominou a minha força, através da minha mente. Me obrigou a me afastar dele com facilidade, numa espécie de compulsão aprimorada, e foi impossível para eu brigar contra. Elijah tentou me ajudar e também atacou Silas, mas foi igualmente neutralizado. Parecíamos duas marionetes controladas por ele, congelados no ar.


- Silas! Pare com isso! - Caroline gritou - Se Qetsiyah está te bloqueando, como está fazendo isso?


- Minha querida, até mesmo nos meus piores momentos ainda sou o mais poderoso aqui. Nunca se esqueça disso. Ela está me segurando para eu não ser capaz de enfrentá-la, mas ainda posso lidar com uns simples Originais.


- Você já fez o suficiente para se provar. Entendemos. E ninguém se importa com as suas manipulações. Você ganha o que fazendo isso? - Caroline se colocou entre nós. Eu quis gritar para que ela recuasse. Olhei em volta, na esperança de que o idiota Salvatore pudesse alerta-lá. Mas, Damon sentou no sofá e assistia tudo sorrindo alegremente. Um grande filho da puta.


- Informação é poder. E a sua coragem é admirável, loirinha. Só por isso eu vou te contar mais. Um presente meu. Saber o que o outro pensa é uma dádiva. Ou uma maldição, pensando melhor. Imagina o caos que seria o mundo se as pessoas pudessem ler as mentes umas das outras. Acho que teriam mais guerras. Mesmo assim, vale a pena saber determinados segredos - Ele se aproximou dela e eu tentei, inutilmente, alcançá-lo. Ele bloqueava meus comandos por inteiro. Não conseguia me mexer e nem falar. Só ficava parado no lugar onde ele me ordenava. Me senti ridiculamente inferior - Eu apareci para o seu namoradinho psicopata, no dia que você o ajudou a vasculhar nas entranhas dele se havia alguma farpa da Estaca de Carvalho Branco. Eu apareci com a sua cara prepotente, para ser mais exato, porque era você quem ele mais desejava ver naquele dia, naquele momento tão torturante. Você representa segurança e paz para o vampirão mais mortal do planeta. Não é incrível? Sua sina, Caroline. É poético. Eu sou um cara romântico, sei reconhecer um bom clássico - Ele riu antes de continuar - Ele sabia que receberia a sua ajuda, pois ele te conhece bem. Você jamais se recusa a ajudar um cão ferido. Mas, não foi só por isso que ele te chamou. A verdade é que Niklaus confia em você mais do que nos próprios irmãos e nutre uma paixão tão patética por você que nem ele entende. Eu só digo uma coisa, meu caro - Ele veio até mim, se afastando de Caroline e isso foi um certo alívio - Não é crime amar o que você não pode explicar. Não precisa de uma resposta lógica para tudo. Você é tão quadrado nisso. Sempre se policiando para não cruzar a linha do amor. Deixa eu te contar um segredo, cara: você já cruzou essa linha há muito tempo. Só espero que dê tudo certo para vocês. O amor é tão inconstante, com tantas traições. Veja o meu caso. Eu era noivo de uma e amava outra. Taquei o zaralho na minha noiva para conseguir quem eu queria e olha no que deu. Uma vingança de dois mil anos de duração. Não dá para namorar um maluco rancoroso, senão acaba como eu, pagando o pato pelo resto da eternidade. E você tem cara de ser essa pessoa, Klaus, que guarda o ódio para sempre. Tomara que nada disso aconteça com vocês também. Mas, eu posso ver, posso ler que há mais profundidade em vocês do que na maioria dos falsos amores que já analisei pelo mundo afora e isso me faz ter certa fé que vocês vão durar. Não sei se vai durar o tal do Sempre e Para Sempre, o mantra tosco dos Originais, mas vão durar um tempinho. Então, só por isso eu não vou te entregar hoje, Niklaus - Ele falava o meu nome com desdém e deboche Na hora certa a loirinha vai saber de tudo. Eu acho que no fundo ela sabe bem o que você faz por aí, só finge que não vê. Você terá escolhas a fazer, Caroline.


- Já basta. Estamos perdendo tempo. Precisamos chegar até Stefan, Silas. É do seu interesse, não é? - Eu estava desesperada para sair daquela sessão de psicologia às avessas.


- Mas, eu não acabei ainda. Tem tanta coisa para contar. Mas, ok, teremos tempo. A minha ex noiva é mais importante no momento. Nunca pensei que eu diria isso daquela lunática - Sendo assim, ele liberou Klaus e Elijah. Os dois se entreolharam apreensivos e percebi que Klaus iria recomeçar a briga - Mas, só mais uma coisa - Silas ia recomeçar a sessão de tortura.


Mas, eu não podia aguentar nem mais um minuto disso. Não com Klaus respirando o mesmo ar que o meu e Elijah rondando feito um urubu perto de carniça. Eu não poderia fazer nada para calar a boca de Silas, mas eu também não precisava ficar perto para ouvir. Deixei a sala sem olhar para os lados e fui freneticamente em direção ao porão, em busca de sangue para beber. Era isso ou uma garrafa de tequila. Klaus me seguiu e eu quis gritar para que ele desse meia volta, que voltasse para lá ouvir as calúnias de Silas, mas fiquei calada. Apenas me concentrei no sangue, tentando ao máximo fazer as palavras de Silas e seu jeito debochado sobre meus sentimentos apagarem da minha mente. Ele ganhava o quê me ridicularizando dessa forma? Sem olhar para Klaus, pensei nas palavras maldosas de Silas sobre ele. Também foi exposto sem cerimônias e parecia haver muito mais a ser esclarecido. Era verdade ou Silas só queria me manipular?


Caroline estava possessa, nitidamente. Eu a segui até o porão da casa. Lugar que funcionava, na maioria das vezes, como o calabouço dos irmãos Salvatore. Ela sabia da minha presença, mas preferiu ignorar. Eu apenas não poderia deixar as palavras de Silas passarem vazias. Saber que ela se sentia daquela forma me refrescava e me queimava ao mesmo tempo. Era alucinante saber que era o medo que a impedia de ficar comigo e não a inexistência da vontade. Quanto a tudo o que ele disse sobre mim, que se dane. Eu já estava exposto há muito tempo para ela e não me envergonhava disso. Pelo menos com ela eu precisava ser sincero. Mas, não tanto. Me dava medo que ela soubesse das minhas transgressões na outra cidade. Foi meu maior erro dos últimos tempos e me amedrontava o preço que eu pagaria por isso, começando pela morte de Caroline. Ela abriu o freezer com violência e sacou uma bolsa de sangue sem sequer olhar na minha cara uma única vez e isso já estava me deixando agoniado, me irritando.


– Você pode olhar para mim, Caroline? – Falei controlando o meu mau humor.


– Não – Eu estava de costas para ele, me acovardando por completo. Eu sabia que se encarasse aqueles olhos verdes e aquela boca carnuda e vermelha seria o meu fim.


– Olhe para mim, Caroline – Ordenei sem cerimônias – Converse, fale comigo. Vai negar qualquer explicação?


- Falando em explicações...O que você fez em Alexandria? - Me voltei repentinamente para ele. Essa questão me distraiu um pouco do quanto ele me afetava - Por que Silas fez questão de trazer exatamente isso à tona?


- Ele só estava apontando um dos meus inúmeros erros. Especialmente o que te fez morrer - Fiquei tenso, mas tentei disfarçar.


- E que erro seria esse? Quero saber.


- Não, você não vai querer saber, te garanto. Eu só posso dizer que me arrependo. Se pudesse voltar no tempo, teria feito tudo diferente.


- Tudo o que, Klaus? - Ela se fechou para mim completamente, eu podia ver.


- Para começar, eu não teria deixado a cidade. Não teria deixado você - Ela me olhava emburrada, de braços cruzados e testa franzida. Eu sabia que não escaparia dessa confissão por muito tempo. Mas, agora não era o ideal para falar disso. Ela me odiaria e todo o progresso que fiz com ela seria jogado no ralo - E você também deveria me dizer umas coisas.


– Falar mais o que? – Me voltei para o freezer. Era a minha vez de ficar na defensiva. Eu sabia exatamente a que ele se referia. Eu apenas era covarde demais para enfrentá-lo. Meu estômago estava se revirando, me impedindo de tomar o sangue.


– O que Silas disse. Quero ouvir tudo aquilo de você, não dele – Falei me aproximando lentamente dela para mãos assusta-la e afastá-la ainda mais, mas estava desesperado para ouvir qualquer confirmação.


– Acho que você já ouviu o bastante.


– Então é verdade o que ele disse?


– O que exatamente você quer saber? Porque ele falou muita coisa – Perdi a paciência e joguei a bolsa de sangue de volta para o freezer com mais violência do que eu pretendia. Me voltei para ele com voracidade e exasperação .


– Eu quero que você confesse a verdade para mim. Apenas seja honesta.


– Que verdade? Você só está dando voltas – Eu que estava me enrolando até o pescoço. A mentira já deveria estar em chamas nos meus olhos, me fazendo bancar a ridícula dando voltas no óbvio, sem conseguir fugir.


– Se você for honesta com você e comigo nunca mais precisará se esconder por trás de você mesma – Eu já estava a centímetros dela. Podia sentir o seu hálito quente e ver as sardinhas minúsculas no dorso do seu nariz – Você nunca mais terá que olhar nos meus olhos e esconder a nossa conexão com hostilidade e repulsa. Nunca mais detestará o seu próprio lado negro, que te faz se importar comigo, apesar de tudo o que eu já fiz.


– Eu não sei o que eu quero. Dar umas voltas com você de carro perseguindo uma aventura não me faz mudar de ideia sobre você – Totalmente mentira – Eu estou construindo uma vida para mim. Tenho planos e um futuro, coisas as quais eu quero e nenhuma dessas coisas envolve você, nenhuma delas. E você fica aí, querendo fazer parte da minha vida a qualquer custo – Parcialmente verdade. O problema é que elas de fato não o envolviam e eu não sei exatamente quando isso começou a mudar, mas agora era estranho pensar na minha existência sem a dele me rodeando.


– Eu entendo – Suas palavras me feriram. Não fazia sentido. Era o oposto do que eu esperava ouvir depois de tudo nos últimos dias. Ou ela estava mentindo. Mas, Caroline me deixava inseguro demais para saber quando ela só estava se esquivando ou se realmente me detestava - As últimas horas de parceria que passamos juntos foi delírio meu, então?


– Não, não entende. Porque sim, eu me odeio pela verdade. Porque sim, eu escondo com hostilidade a nossa conexão – Foda-se. Eu ia falar tudo de uma vez.


– E qual é a dificuldade em ser verdadeira comigo? – Parecia surreal estar ouvindo aquelas palavras saírem da boca de Caroline.


– Qual é? Você não prestou atenção nas suas atitudes nos últimos meses? Eu não sei o que fazer quando se trata de você – Minha voz já estava bastante alterada. Eu estava agitada, sacudindo os braços e o cabelo, começando a suar frio – Eu tenho meus princípios e ideais que são contrários aos seus. Você me faz questionar tudo e ir de encontro a mim mesma. Hoje eu já não sei mais em que posição eu estou. Não sei mais a diferença entre o que é certo e o que é fácil. Você confunde totalmente a minha cabeça.


– Qual é a verdade, Caroline? Do que você tem tanto medo exatamente? – Suas palavras causavam reboliço total no meu interior, trazendo á tona aquilo que eu já desconfiava ser a verdade por trás de toda aquela encenação. Hoje eu obteria uma resposta dela. Aproveitaria que ela estava suscetível a responder as questões que estavam escondidas no fundo da sua alma. Ou que tenha sido forçada a ser suscetível, mas era um oportunidade sem igual.


– Eu tenho medo de mim, do que eu quero.


– E o que realmente você quer? – Eu não me aguentava de tanta ansiedade e expectativa por sua resposta. Me aproximei mais dela, quase ficando com meu nariz no seu.


– Eu quero ser livre, fazer tudo o que eu quiser sem medo de ser julgada ou condenada. O problema é que parte do que eu quero é totalmente condenável – Eu estava me afogando, afundando cada vez mais. Logo não haveria mais volta.


– Qual parte? – Eu sabia a resposta, mas queria ouvir dela, alto e claro. Sem sugestões, apenas direto. Eu segurei o seu rosto com as minhas duas mãos e ela não se afastou – Diga para mim.


– A parte em que eu quero aceitar a sua proposta sem olhar para trás. Conhecer você melhor sem ficar me martirizando por isso. Aceitar ficar com você – Pronto. Falei. Me afundei totalmente na merda.


– E por que é tão difícil aceitar de uma vez? – Eu perguntei quase sussurrando, com o coração batendo tão forte que fazia meu peito doer. A emoção por sua confissão me deixava num estado de torpor incomparável. Mas, controlei minhas emoções o máximo que pude, para não assusta-la – Esqueça todo o resto. Seja livre. Eu posso fazer o mesmo por você. Estou disposto a concessões se me der uma chance.


– Você não entende? Pra eu fazer isso eu precisaria dar às costas para tudo o que um dia já conheci ser a verdade e ser o certo. E isso me deixa perdida. Serei desertada, meus amigos vão me odiar. E eu estou acostumada a saber exatamente onde estou e para onde vou – Me desvencilhei do seu toque que me deixava em chamas e caminhei para a saída quando ele me segurou pelo braço e nao me deixou sair.


– Então, você está dizendo que também quer ficar comigo, mas tem medo do que isso possa significar para os seus propósitos de vida? Tem medo de ser odiada por gostar do vilão - Ela nada falou, apenas me olhou intensamente, mas eu podia ver a verdade em seus olhos e a resposta era sim. Ela engoliu em seco, mantendo seus olhos pregados nos meus - Você não vai mudar por minha causa. Não é esse tipo de pessoa. Eu mesmo não permitiria você ser diferente. Perder a sua essência seria o mesmo que perder você e isso eu não quero jamais. Não tenha medo, Caroline. O mundo real não é tão fácil e taxativo como esse que vive na sua mente. Ele não é preto ou branco. Tudo depende do contexto e do ponto de vista. Pegue a chance e venha descobrir. Pode ser uma aventura muito melhor do que imagina. *Na caverna em que você teme entrar jaz o tesouro que busca*.


– Eu não sei o que fazer, não sei nem por onde começar. Você e eu...tão fora do esperado – Ele se aproximou de mim, fazendo seu corpo ficar encostado no meu. A essa altura já tinha baixado totalmente a minha guarda, qualquer muro que um dia havia posto entre nós já não estava mais presente. O corpo dele junto ao meu fazia a minha mente ficar mais nebulosa do que já estava, me impedindo de pensar racionalmente. Eu queria chutar o balde de uma vez e fazer o que me desse vontade. Abaixei os olhos até sua boca vermelha e como quis lambê-la. Passei a língua nos meus lábios secos, sedentos de vontade de provar aquela perfeição. Klaus se encostou mais em mim, pousando suas mãos na minha cintura, me puxando para mais perto. Meu coração acelerou e meu sangue esquentou. Senti um arrepio gostoso na pele ao roçar minhas pernas na dele. Ele mirou a minha boca, mas não se mexeu na minha direção. E por que? Segurei a barra da camisa dele para dar um incentivo e parece que surtiu efeito, pois senti a sua ereção me pressionar. Mordi os lábios por antecipação e o tesão tomou conta de mim. A vontade era de enfiar a mão por dentro da sua calça e senti-lo. Mas, trepar no porão do melhor amigo vizinho e sequestrado não era a melhor das ideias. Mas, seu corpo esbelto era tão perfeito. Sua respiração ofegante e densa perto de mim só piorava o clima quente que se apoderava do meu corpo. Eu queria mais...


– Apenas siga os seus instintos e me deixe mostrar a você. Algo simples. Sem pressão. Não se preocupe com o resto - Ele com aquele sotaque britânico de matar perto do meu ouvido já era demais.


– O que isso tudo significa? - Engoli em seco, tentando disfarçar meus desejos lascivos.


– Significa que nós vamos tentar. Que você vai tentar. Eu garanto que você não vai se arrepender.


– Eu penso que é exatamente o que vai acontecer.


– Não diga isso - Eu queria mais intimidade com ela, mais privacidade. O que era impossível no porão de uma casa cheia de vampiros - Mais tarde, depois de eu voltar, vá até a minha casa e resolveremos a sós com mais detalhes as nossas questões. Conversaremos e você verá que não é preciso tanto receio. Faremos ser simples. Apenas abra a mente para me conhecer melhor. Eu sei que pelo menos isso você quer. O resto a gente vê - Cheguei mais perto do seu rosto, quase roçando meus lábios nos dela. Para a minha tortura, ela segurou ousadamente minha blusa na barra. Pude sentir suas delicadas e frias mãos na minha pele. Seu toque me deixou excitado imediatamente, me fazendo arfar. Era incrível o poder que ela tinha sobre mim, até mesmo sobre meu corpo. A última coisa que eu queria era ficar com tesão no meio da casa dos outros. Mas, com um toque desses, era impossível me conter. E era impossível não aproveitar um momento novo e magnífico como esse. Caroline nunca me deixou chegar tão perto, muito menos me deu abertura para dar vazão aos meu desejos mais impuros com ela. Eu precisava ficar sempre me policiando para não ser levado pela luxúria quando ela se aproximava o bastante. Não sei se ela percebia, mas eu entrava em combustão quando ela girava aqueles cabelos de forma petulante e sexy. Ou quando fazia uma cara linda de emburrada. Estava quase jogando pro alto meu controle. Dar o primeiro passo seria arriscado, ela poderia me rejeitar, mas estava tão difícil aguentar. Beijá-la era o que mais queria no momento, pois imaginei isso tantas vezes. Estava prestes a engolir a covardia quando ouvi gente chegando na casa. Soltei o ar com raiva - Eu vejo que temos mais companhia e precisamos dar atenção ao que é mais urgente no momento. E nossa conversa não deve ser aqui - Disse a contra gosto com a voz meio rouca ao ouvir Esther na casa. Mesmo assim demorei um pouco para me afastar dela. Ao fazê-lo, me senti estranhamente vazio, como se a nossa conexão física preenchesse a minha alma.


Aparentemente Finn não veio com a maldita da minha mãe e isso me alegrava. Amaldiçoei essa mulher mentalmente. Esther tinha o dom de fuder com a minha vida, não importa como - Vamos - Estendi a mão para que Caroline segurasse. Ela relutou por alguns segundos, mas cedeu.


Pestanejei antes de pegar a sua mão, pois ele quebrou o contato tão abruptamente que só fiquei ali parada, desejando mais. Precisei me esforçar para me recompor. Aquele não era o dia e nem o momento para escorregar de vez na desgraça.


Eu estava brincando com o fogo. O problema é que eu estava gostando. Era quentinho e aconchegante. E temia que também fosse gostar de me queimar. Eu faria o que quisesse dessa vez, sem pestanejar. O medo sempre me seguiria, mas não me alcançaria. Segurar a mão de Klaus poderia parecer um gesto simplório e inocente, mas ia muito além disso. Significava que eu estava aceitando ficar com ele, era o símbolo da minha assinatura do contrato. E, honestamente, eu estava ansiosa para pôr em prática os termos de uso. Levei algum tempo para me recuperar da aproximação dele. Veio tão rápido quanto acabou. Só senti frustração pelo tesão que se apoderou de mim, mas que não pôde ser aproveitado apropriadamente.


Chegamos à sala e nos deparamos com uma Esther de braços cruzados e de cara feia. Damon estava ao lado dela claramente exasperado e Silas estava esparramado no sofá totalmente relaxado. Elijah nos olhava indiscretamente, disfarçando muito mal a sua felicidade. Revirei os olhos. Ele ouviu tudo, intrometido.


– Eu não consegui falar com Elena. Eu sugiro que vocês dois liguem para seus irmãos agora e chequem o que está acontecendo - Damon falou apontado para Klaus e Elijah.


– Muito bem. Ainda não houve tempo de chegarem até ela. Vamos dar um tempo e, então, eu ligo para a sua amada, ok? - Patético essa fissuração na doppelganger.


– Você tentou o celular dos outros? - Elena não deixaria de atender Damon sob nenhuma circunstância natural.


– Sim, Barbie. Você pensa que eu sou idiota?


– Sim, na verdade - Respondi mal criada. Ele me deu a língua em resposta e eu revirei os olhos. Infantil - E embora eu esteja tão aflita quanto você, me parece que está mais interessando em saber como está Elena do que no bem estar do seu único irmão.


- Não fale besteira, Caroline. O que mais eu posso...- Antes de ele terminar, Esther falou.


– Então, Niklaus. Por que eu estou aqui? - Minha querida mãe se manifestou como o capeta que era ela interrompendo Damon, para o meu contentamento - Por que você me trouxe aqui?


– Pensei que você fosse a bruxa com as respostas aqui, mãe.


– Não brinque comigo, Niklaus - Ela me olhou séria e eu retribuí com um sorriso irônico.


– Precisamos de um feitiço de localização. Qetsiyah pegou Stefan e está travando a mente de Silas através da dele. Precisamos recuperá-lo. Só estamos seguindo as suas ordens, empacar todos os planos da bruxa - Elijah respondeu e parecia ansioso. Eu estava pirando. Depois falaria com Elena e pediria desculpas a ela.


– Incrível como os interesses mudam, não é mesmo? Até alguns dias atrás vocês estavam determinados a me parar. Agora se aliam a mim. Eu gosto de como o universo é poético - Silas comentou irritantemente. Eu queria arrancar os olhos dele. Ainda me pinicava o fato dele ter me exposto daquela forma. A parte boa é que surtiu efeito, eu deveria admitir.


– Vamos voltar ao que interessa, por favor? - reclamou Damon - Qual o seu plano, bruxa? Como você pretende fazer?


– Se é pela mente que ele está sendo canalizado, será pela mente que traçaremos um caminho até a localização de Stefan Salvatore.


– Infelizmente não poderei ficar para ver o show. Vou precisar contar com o seu apoio, brother – Caminhei até Elijah e coloquei a mão no seu ombro - Vou precisar que você vá com eles e ajude a trazer Stefan de volta. Meu plano era levar você comigo, mas sabemos que eles vão precisar da ajuda de um de nós aqui. Não são capazes de enfrentar a bruxinha sem um Original por perto - Ele acenou em concordância e também colocou a mão no meu ombro.


- Se eu não posso contra ela, vocês menos ainda - Silas disse.


- Você não deveria estar achando tanta graça nisso. Se perdermos, você vai rodar, imbecil - Ele apenas levantou as mãos.


- Não se estresse, loirinha. O segredo é nunca perder o controle. Você sabe bem. É a mestra nisso...Ou não é mais? - Revirei os olhos. Me virei para Klaus.


– Aonde você vai? - Perguntei agitada. Não queria que ele saísse e me abandonasse agora. Me acostumei com a sua presença e o seu apoio. Demorei alguns segundos para lembrar que compromisso era esse que ele tinha. Ele iria atrás de Katherine. E não era algo que poderia ser adiado, eu sabia. Quanto antes trouxéssemos ela, melhor seria. Não poderíamos dar margem a Qetsiyah chegar na nossa frente.


– Buscar um velho amigo para participar da brincadeira conosco. Eu não estaria sendo justo e um bom amigo se o deixasse de fora da diversão - Ele falou com sarcasmo e eu não me segurei e soltei uma risada abafada - Mãe, minha amada, não me desaponte mais uma vez e faça seu trabalho direito. Tente não fazer merda. Sei que vai ser difícil pra você, mas se esforce. Para o seu próprio bem - A olhei com puro desprezo e ela apenas sorriu falsamente - Venha comigo um instante, Caroline - Eu a chamei apontando para o lado de fora da casa e ela me seguiu. Caminhamos até ao lado da minha caminhonete preta até que paramos um de frente para o outro.


– Tenha cuidado, Caroline. Não sabemos do que mais Qetsiyah é capaz. Eu não iria e deixaria você sozinha novamente se não fosse estritamente necessário ir atrás daquela vagabunda. E mais uma vez eu saio da cidade quando você precisa - Bufei consternado. Era como se o universo estivesse de sacanagem comigo. Quando finalmente consigo algo de Caroline, era obrigado a deixá-la.


– Por que é você quem deve ir? Por que não manda Elijah?


– Só eu sei a localização precisa de Katerina. Se não for eu a ir, ela pode conseguir vantagem e escapar. Além disso, eu temo sobre a fraqueza de meu irmão por ela. Ele pode tentar poupá-la mais uma vez - Ela parecia decepcionada, mas convencida - Não vou demorar. Ela está um pouco longe, mas eu consigo voltar hoje mesmo. Ainda está bem cedo.


– Onde ela está? - Fiquei curiosa. Ele não revelou o paradeiro dela uma vez sequer.


– Eu conto quando voltar. Agora vá lá pra dentro e fique perto de Elijah.


– Sei me cuidar, Klaus. Não sou mais criança - cruzei os braços bufando com impaciência.


– E deve ter sido por saber se cuidar que você morreu - Taquei na cara dela. Não queria, mas foi preciso. A sua cara de emburrada era impagável. Confesso, eu gostava. Ela contraía o dorso do nariz de forma fofinha, deixando em evidência suas sardas discretas.


Eu segurei seu rosto com as minhas duas mãos e beijei o topo da sua testa carinhosamente. Ela fechou os olhos e eu fiquei ali, parado, inconformado por ter que deixá-la sozinha mais uma vez, com um buraco no peito por ter que me separar dela. Depois de tudo o que conversamos, era uma tortura adiar mais contato com ela. E algo estava errado, o mau agouro zumbia no meu ouvido. Eu não sabia exatamente o que, mas meu coração estava apertado pelo mau pressentimento e eu a arrastaria comigo se pudesse, mas eu sabia que ela jamais deixaria o amigo e a mãe para trás. Então, nem me atrevi a convidá-la. Ela não disse nada, mas conseguia ver a preocupação em seu olhar.


– Quando eu voltar, vamos fazer aquilo que combinamos, ok? Vamos conversar mais abertamente. Estou ansioso para isso - Ela concordou e deu um sorriso deslumbrante. E eu estava feliz demais para mensurar. Mais do que eu jamais estive em muito tempo. Ela estava finalmente admitindo seus sentimentos e desejos, algo que eu sonhava há meses. Em poucas horas eu estaria de volta e iríamos nos ajustar, da nossa forma conturbada e desajustada mesmo. Eu a soltei e entrei no carro. Pelo retrovisor acompanhei a sua forma entrar na casa. De coração espremido e ansioso, fitei cada detalhe dela, como se eu quisesse memoriza-los para sempre. Espantei essa ideia. Em breve você a verá, não precisa se desesperar. Eu não pude falar pessoalmente com Elijah devido ao número significativo de testemunhas, mas eu precisava pedir que ele ficasse de olho nela até que eu voltasse. Já estava virando um hábito pedir esse favor a Elijah e ele aceitava de bom grado, sem fazer muitas perguntas. Isso me aliviava, pois não estava pronto para confessar meus sentimentos vergonhosamente humanos. Peguei direção para o aeroporto mais próximo, Ronald Reagan Washington, que ficava a cerca de uma hora de Mystic Falls. Mais uma vez essa cidadezinha se provando inútil. Até para chegar num aeroporto era um sacrifício.


Minha velha amiga não fazia ideia do que a esperava, de que visita receberia. Eu mal podia esperar para presenciar a reação de Katerina ao me ver parado bem diante da sua cara de vagabunda mal comida. Com essa ideia, dirigi feliz até meu destino.


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Caroline


Eu observei Klaus partir com bastante relutância. Eu queria que ele ficasse, que não saísse da minha vista. No que se tratava de proteção nada eu poderia fazer por ele, mas eu gostaria de ter a chance de poder fazer. Ao menos gostaria que ele não se sentisse sozinho no meio de tanta confusão. Ser o mais poderoso do mundo podia muito em seus efeitos, mas também era solitário. Como Silas disse, Klaus confiava em mim e isso era um feito e tanto para ele. Seria ótimo se ele pudesse se sentir mais rodeado de pessoas amigas e não ser consumido pela paranoia da traição. Talvez um dia ele encontrasse alguém a altura que pudesse compartilhar todas as suas artimanhas e emaranhados de confusão. E estranhamente me peguei desejando me candidatar à posição. Fiquei pensando no que viria a seguir quando ele chegasse. Sorri sapeca, iríamos continuar a brincadeira ou mais o que? Klaus era uma caixinha de surpresas. Com mais o que ele me surpreenderia depois de vestidos, joias e desenhos lindos? Eu gostava de ser agraciada por ele, de receber atenção até nos mínimos detalhes e nisso ele era mestre. Então, estava ansiosa para as próximas e criativas investidas dele. E apesar de me alegrar com a perspectiva de uma nova fase, onde eu seria mais aberta com ele, sentia um aperto no coração, ao olhar seu carro se afastar de mim. Eu queria ir com ele. Se não fosse o perigo em que Stefan se encontrava, além de precisar cuidar da minha mãe, eu teria ido com ele sem muitos arrependimentos. Seria a nossa parceria, unidos contra os nossos inimigos. As horas que passei com ele até Richmond me fizeram ter um gostinho de como seria viver aventuras ao seu lado e eu gostei. Além de ser a nossa chance de ficarmos sozinhos, com privacidade para falarmos abertamente sem olhos curiosos ou raivosos sobre nós. Quando seu carro virou a esquina e sumiu, constatei: Eu estava ferrada. Desejava que ele não saísse das minhas vistas ou ansiava para receber mais atenção dele. Não queria ficar longe e percebi que esse era o princípio do meu fim. Era inevitável agora, pois queria ficar com ele e sentia que aconteceria mais cerdo ou mais. Quanto mais eu fugia, mas era jogada na sua direção.


Me encostei da parede da casa e fiquei pensando quando o veria de novo, se seria mesmo dali algumas horas, pois estava desesperançada quanto a isso. O caos no seguia e o jogo virava a cada minuto. Torcia para que o universo agisse ao nosso favor pelo menos uma vez.


E o que ele estava pensando de todas as minhas confissões? Estava se vangloriando de ter conseguido que a mocinha irredutível sucumbisse de vez aos seus charmes? Era o desafio que o atraiu tanto, de maneira a deixá-lo transtornado por não consegui-lo? Existem poucas coisas no mundo que o Híbrido Original não seria capaz de conseguir e até uns minutos atras eu fazia parte desse seleto grupo. Meus pensamentos se voltaram para aquele dia em que comecei a perceber o efeito que ele exercia sobre mim.


Ouvi seus passos apressados me seguindo, enquanto um carro derrapava e atrapalhava a sua perseguição obsessiva por mim. Mas, isso não bastou para fazê-lo desistir. Internamente, eu estava adorando. Vê-lo trás de mim daquele jeito, correndo ao meu alcance, enquanto era quase atropelado. Seria engraçado se ele tivesse sido atingido pelo carro.


- Caroline! - Me chamou bem alto. Me virei enquanto caminhava. Sua expressão era impagável, pois em seus lindos olhos verdes e fantasiosos brilhavam a animação por estar ali naquela nossa pequena interação.


- Você está falando sério? Se toca - Alfinetei, mas ele só pareceu mais disposto a me enfrentar, como se a minha rejeição fosse um incentivo. Me virei, andando para longe dele, para longe da sua sedução certeira.


- Não fiquei irritada, amor. Tivemos uma pequena briga. Eu já superei - Ele ofegava atrás de mim.


- Ah, eu não - Falei meio manhosa, jogando para saber até onde ele seria capaz de ir.


- Como posso me redimir? - Ele questionou com sinceridade na voz. Me voltei para ele e aquele sorrisinho cínico estampava em seu rosto bonito. Automaticamente fiquei na defensiva.


- Você e suas joias caras e seus desenhos românticos podem me deixar em paz - Por um instante, ele pareceu magoado, mas não largou o osso.


- Ah, vamos lá. Dê uma chance, Caroline - Revirei os olhos, rindo sem vontade. Ele se sentou no banco da praça, me abrindo espaço para me sentar ao lado dele - Converse comigo. Vamos lá, venha me conhecer! Eu te desafio - Ele esperou pela minha resposta, enquanto esboçava um sorrisinho que conseguia ser safado e fofinho ao mesmo tempo, com suas lindas convinhas com a única finalidade de tornar a minha vida mais difícil.


Inspirei fundo, extremamente dividida entre meus impulsos e desejos e a voz da razão. Por fim, me decidi, vencida pela sua insistência.


- Ótimo - Me sentei no banco de malgrado, emburrada demais comigo mesma por ele conseguir o que queria.


E ele continuou lá, me encarando intensamente, sem dizer nada, apenas analisando meu rosto. Mas, isso já era o bastante para me deixar constrangida. Eu podia sentir a radiação do seu corpo próximo ao meu se apoderando das minhas forças, derrubando minhas defesas contra ele.


- Então, do que você quer falar?


- Quero falar de você - sua resposta foi automática. Ele abaixou a cabeça, rindo sem graça, suas covinhas lhe dando um ar de garoto tímido. Bufei incrédula, também sorrindo meio sem jeito - Sobre suas esperanças, seus sonhos, sobre tudo o que você quer na vida - Ele voltou a me encarar com a expressão pidona, mas me dominando de um jeito incompreensível.


- Só para deixar claro, sou muito esperta para ser deduzida por você - Falei sorrindo pra ele, enquanto ele me jogava todo seu charme, com o braço esticado no banco. Percebi que ele estava ligeiramente com o tronco inclinado na minha direção, o mais perto que eu o deixava estar. Senti o ar denso, totalmente envolvida pela sua áurea dominadora.


- Eu sei. É por isso que eu gosto de você - Sua resposta me deu um calafrio gostoso na espinha e nossos olhos se perderam um no outro, enquanto eu viajava em pensamentos indiscretos. O quão bom e perigoso seria chegar mais perto dele, perto daquela boca vermelha e carnuda?


Bem, ele ainda não conseguiu ficar comigo de verdade. Nossa conversa de hoje foi bem pela tangente, eram só os primeiros passos, mas que passos. Ele pareceu realmente perplexo com as minhas confissões, embora desconfiasse que nossa conexão fosse real. Mas, eu estava secretamente torcendo para seu interesse por mim ser mais que mera atração. E depois de todas as atitudes de seus irmãos, especialmente de Elijah, era difícil continuar com a faixada de puro flerte.


Olhei triste para o céu, com medo do futuro, me sentindo perdida.
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🎵 🎵🎵


In these eyes, more than words, more than anything that I've spoken
As the skies turn to gray my heart's just about to crack open
So the story goes
There's something you should know
Before I walk away and I blow the ending
(Nesses olhos, mais do que em palavras, mais do que em qualquer coisa que eu falei
À medida que o céu fica cinza, meu coração fica prestes a se rachar
Então, a história continua
Há algo que você deveria saber
Antes que eu me vá embora e estrague o final)


I never want to be without you
Oh no, here I go now you know
What I feel about you, there's no running
I must've been wrong to doubt you
Oh no, there I go, no control
And I'm falling, so now you know
(Eu nunca quero ficar sem você
Oh, não, aqui vou eu, agora você sabe
O que eu sinto por você, Não há como escapar
Eu devo estar errada em duvidar de você
Oh, não, aqui vou eu, sem controle
E estou caindo por você. Então, agora você sabe)


Feel so light, craving oxygen, all this dream's left me empty
Will you run, can you handle it?
'Cause I need you to tell me
Maybe this seems bold, but I'm hoping you'll stay for the happy ending
(Me sinto tão leve, ansiando por oxigênio, todos esses sonhos me deixaram vazia
Você vai fugir? Consegue lidar com isso?
Porque eu preciso que me diga
Talvez isso pareça ousado, mas tenho esperanças que você fique para o final feliz)


I never want to be without you
Oh no, here I go now you know
What I feel about you, there's no running
I must've been wrong to doubt you
Oh no, there I go, no control
And I'm falling, so now you know
(Eu nunca quero ficar sem você
Oh, não, aqui vou eu, agora você sabe
O que eu sinto por você, Não há como escapar
Eu devo estar errada em duvidar de você
Oh, não, aqui vou eu, sem controle
E estou caindo por você. Então, agora você sabe)


No I won't look back when I tell you
What I think about you
No I won't look back when I tell you what I think about you
So the story goes
You already know, so don't be a fool and go spoil the ending
(Não, eu não vou olhar para trás quando eu te disser o que penso sobre você
Não, eu não vou olhar para trás quando eu te disser o que penso sobre você
Então, a história continua
Você já sabe, então não seja um tolo e vá estragar o final


I never want to be without you
Oh no, here I go now you know
What I feel about you, there's no running
I must've been wrong to doubt you
Oh no, there I go, no control
And I'm falling, so now you know
(Eu nunca quero ficar sem você
Oh, não, aqui vou eu, agora você sabe
O que eu sinto por você, Não há como escapar
Eu devo estar errada em duvidar de você
Oh, não, aqui vou eu, sem controle
E estou caindo por você. Então, agora você sabe)


Now you know Hillary Duff
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Respirando fundo, criei coragem para enfrentar os integrantes daquela casa. Precisava chegar logo até Stefan.
Quando entrei na mansão, Esther já estava trabalhando no seu feitiço. Silas estava ajoelhado no tapete do centro da sala e ela estava proferindo palavras desconhecidas. Damon e Elijah observavam atentamente enquanto Silas se debatia e sangrava pelo nariz e Esther tremia intensamente. As janelas começaram a se chocalhar e alguns copos de vidro em cima da mesa de centro se quebraram. Percebi que um mapa estava jogado no chão diante de Silas e o sangue que escorria do seu nariz se movia pelo papel como se tivesse pernas e uma direção traçada. De repente tudo voltou ao normal e ficou silencioso. O sangue delimitou um espaço no mapa através de um círculo.


– Está feito – Ela falou se levantando meio desordenada e cambaleante enquanto Silas recobrava a consciência. Ser a bruxa Original tinha lá suas vantagens – Eles estão no condado de McLean, nos arredores de Stream Valley Park – Meu coração deu cambalhotas, desejando fortemente que Stefan estivesse bem. Olhei no mapa no meu celular e McLean ficava a pouco mais de uma hora daqui. Incrível como existiam várias regiões perto e eu nem fiz questão de visitá-las até hoje.


– Vamos, então – Falou Damon.


– Precisam de mim para mais alguma coisa? – Esther perguntou olhando para Elijah, nitidamente sem vontade alguma de ajudar.


– Você vem conosco, obviamente – Ele respondeu para ela.


– Vejo que meus planos de permanecer nas sombras se esvaíram – Ela reclamou – Eu possuía boas chances de derrotar Mikael. Vocês estragaram tudo.


– Um problema de cada vez, mãe – Ele respondeu sem paciência quando seu telefone tocou. Eu fui até Damon, precisava falar com ele sobre algo que também me preocupava e me desfocava às vezes.


– Quando eu estava fora, pedi a Stefan que protegesse a minha mãe, mas ...


– Relaxe, Barbie. Não se esqueça de que Liz é minha amiga. Eu a tenho vigiado também – Ele falou - Ela está na delegacia, bem longe dos nossos problemas. Não faz ideia do que está acontecendo por aqui.


– Ótimo. Mas, ainda assim ela não está segura.


– Nenhum de nós está. Vamos logo atrás da bruxa louca antes que ela mate meu irmão.


– Não diga isso – Me arrepiei com a ideia – E obrigada, Damon – Falei à contragosto. Ele apenas fez gesto de continência e sorriu.


– Vamos – Disse Silas – Estou ansioso para reencontrar a minha doce Qetsiyah.


– Você vai também? – Perguntei surpresa. Pensei que ele estivesse correndo da ex noiva.


– Mas é claro. Eu não perderia essa chance por nada – Ele respondeu com tom satírico


- Estamos fazendo de tudo para tirá-la da sua rota e você vai correndo para os braços dela? Nem pensar - Amor doentio.


– Ela não pode fazer nada contra mim, loirinha, não por enquanto. Não realizou o feitiço


– Silas, você sabe que é uma péssima ideia. Qual o sentido de se esconder dela esse tempo todo se vai se prostrar deliberadamente bem na sua cara?


- Loirinha, você não tem ideia do que é finalmente olhar na cara de alguém como ela, que é obcecado por você e tem feito da sua vida um inferno e poder explanar todas as suas frustrações sem correr o risco de perder a cabeça. Espero isso há séculos. Além disso, gostaria de ver a cara dela. Ainda mexo com aquele coraçãozinho de pedra, à lá Medusa, tenho certeza. Se eu pedir com jeitinho, ela vai ceder aos meus encantos e talvez desista de me matar – Revirei os olhos. Homem era babaca por definição. Não importando a idade ou a que grupo sobrenatural pertencia.


Elijah entrou sala olhando Silas com raiva.


- Você não vai, Silas. Teremos um problema grande aqui se você tentar. Esther e eu vamos interferir nos seus planinhos imprudentes de um jeito ou de outro. Não estamos de brincadeira. Você até pode fazer uns truques comigo, mas consegue com ela? - Cruzei os braços sorrindo debochada para Silas. Ele apenas assobiou e se jogou no sofá.


- Boa sorte com a minha noiva, então. Vai precisar.


Saímos da casa e Elijah me chamou para ir com ele no carro. Eu não me importei, apenas aceitei o convite. Para o meu desgosto, Esther nos acompanhou enquanto Damon foi sozinho. Eu ignorei por completo a presença dela e me sentei ao lado de Elijah, ansiosa para chegarmos à McLean. Ele sorria de maneira categórica e calma, transpassando uma paz que só ele era capaz de fazer. Olhei no meu relógio de pulso e passava das oito da manhã. O dia seria longo, pelo visto. Pegamos a estrada Great Falls, que nos daria acesso direto a McLean, de acordo com o mapa. Após algum tempo passávamos pela placa de acesso à cidade, pegando a estrada Lewinsville, e seguíamos em direção a Stream Valley Park. Chegamos ao local do mapa delimitado pelo sangue de Silas. Era um ambiente domiciliar totalmente campestre, com enormes e belas casas espalhadas por entre as muitas árvores e flores silvestres coloridas, emoldurando uma vasta floresta que se misturava entre as casas. Era como se as estradas tivessem cortando a floresta bem ao meio e as casas tivessem crescido junto das árvores, se misturando graciosa e charmosamente a elas. Suas fachadas eram bem cuidadas e seus gramados eram caprichosamente lisos. Notoriamente era um local reservado para famílias ricas, um condomínio florestal particular. Não se parecia em nada com algum lugar que uma bruxa escolheria para esconder o seu prisioneiro. Descemos dos carros e Esther nos indicou umas das impecáveis casas e nos entreolhamos receosos. Não sabíamos o que estava por vir ou se ao menos era o local certo. Caminhamos até a porta da frente e Elijah a abriu. Ela estava destrancada e tivemos a visão do seu belo interior. Piso de madeira escura, lustrosamente encerado, nos dando acesso ao hall de entrada, com uma enorme escada curva de pedra. Fiz menção de entrar, mas Elijah me impediu. Então, lembrei que éramos vampiros e não podíamos entrar sem convite. Só Esther podia entrar. Ela se movimentou e começou a checar a casa, enquanto esperávamos do lado de fora. Levou alguns poucos minutos para que ela trouxesse a dona, uma mulher de meia idade muito bonita, vestindo roupas caras, e a fizesse nos convidar para entrar. Ela apenas disse:


– Entrem. Ele está lá em cima. Aquela mulher se trancou com ele no quarto e depois de algumas horas simplesmente foi embora. Disse que vocês viriam buscá-lo, que era para eu esperar e que não tocasse nele – Ela parecia assustada, mas com o olhar vidrado – Ela me ameaçou. Disse para não chamar a polícia – Ela já esperava por nós. Estava um passo a frente. No que mais ela estaria em vantagem em relação a nós? Damon e eu corremos para o andar de cima até que encontramos Stefan em um dos quartos, sentado e amarrado numa cadeira, com as mãos presas para trás e a cabeça caída sobre o peito. Vê-lo assim partiu o meu coração. Ele parecia destruído. Eu corri até ele e tentei arrancar as cordas, mas me queimei fortemente. Elas estavam cheias de verbena. Damon também tentou, mas falhou. Até que Elijah apareceu e conseguiu vencer as cordas sem dificuldade. Damon o pegou no colo e o jogou por cima dos ombros. Descemos novamente e a dona da casa pareceu aliviada por estarmos indo embora. Antes de deixarmos a casa, Elijah a compeliu para se esquecer de tudo, então, saímos.


– Ela estava enfeitiçada, assim como a casa – Disse Esther – Senão, ela teria ido à polícia. Qetsiyah fez alguma coisa para que ela "cooperasse". Enquanto vocês estavam lá em cima, eu quebrei os feitiços. Um deles impediam vampiros de sair da casa. Deve ter sido assim que ela prendeu Stefan. Além de, claro, ele estar devidamente imobilizado.


Ouvi aquilo calada. Qetsiyah parecia conhecer os nossos movimentos, saber exatamente o que faríamos e eu não estava gostando nada disso. Ela apenas largou Stefan aqui depois de concluir o seu trabalho, tendo certeza de que o acharíamos e viríamos buscá-lo. Mas, por que fazer num local bem distante de Mystic Falls? Era uma armadilha, apenas para ela ter vantagem sobre nós a distância ou havia algo mais nessa jogada? Ela nos queria fora de Mystic Falls, constatei alarmada. Não estava disposta a intromissão nos seus planos e nós estávamos jogando cada etapa do jogo dela, nos levando na direção que queria. Ela era muito esperta para o nosso bem. E, como se lesse meus pensamentos, Damon falou baixo para mim:


– Foi muito fácil, você não acha, Barbie? – Ele disse sério olhando ao redor, como se esperasse sermos atacados a qualquer momento – Eu esperava arrancar algumas cabeças ou alguns corações, alguma emoção. Você sabe, o de sempre – Não respondi nada. Ele estava certo. Foi muito fácil.


Damon deitou Stefan no banco de trás do carro e foi para o volante e eu já ia segui-lo quando Elijah mudou a minha direção sutilmente e me levou com ele. Isso foi esquisito. Até mesmo para ele.


– Ainda não acabamos. Quando chegarmos a Mystic Falls, precisaremos descobrir como quebrar tudo o que essa mulher fez. Eu esperava encontrá-la cara a cara hoje. Estou desapontado – Elijah se pronunciou, enquanto passava o olho no perímetro.


– Vamos logo sair daqui – Ouvi Damon reclamar ao longe – Não quero ter a chance de encontrar a bruxa louca - E, sendo assim, todos tratamos de partir de McLean.


Elijah estava sereno e às vezes eu o pegava no flagra me observando pelo espelho retrovisor. Eu não sabia o que ele pretendia, mas já estava me irritando. Resolvi quebrar o silencio e essa situação constrangedora.


- Elijah, acho que ela trouxe Stefan para longe com o propósito de nos afastar de Mystic Falls. Se fosse só para bloquear Silas, ela poderia ter feito o feitiço lá mesmo.


- Concordo - Olhei pra ele, parecia preocupado - Estamos cegos no jogo dela. Está nos vencendo. Seja o que estiver planejando nesse momento, está tendo êxito - Ele olhou pra mãe através do retrovisor - Deve ter mais alguma coisa que possamos fazer, não é? Não há como localizá-la, Esther?


- E pra quê, para ela te transformar em cinzas só com o olhar? O mais útil é fazer o que eu mandei, esconder as Doppelgangers. Se ela não consegui-las, virá até nós exigindo a mercadoria e até lá teremos algum tempo para nos prepararmos contra ela. Temos que ganhar tempo.


Suspirei emburrada, encarando a mulher através do espelho. Será mesmo que Esther não sabia de mais nada ou estava guardando a cartada final só para ela? Klaus não está errado em desconfiar dessa mulher. Ficaria de olho nela. Já estava bem a par do que ela era capaz e isso me fez ter curiosidade de saber mais sobre o seu passado com os filhos, me lembrando da tarefa que deixei para escanteio, mas que era crucial para entender a minha relação conturbada com Klaus.


– Eu preciso de um favor um tanto estranho de você, Elijah – Falei olhando para ele, ignorando o reflexo dos olhos curiosos de Esther.


– Pode me pedir o que quiser, você sabe – Ele respondeu gentilmente.


– Quando chegarmos em casa, gostaria de um tempo privado com você – Minha língua estava coçando para eu dizer o que era, mas não revelaria com Esther bem atrás de nós com os ouvidos totalmente ligados no que dizíamos. Eu olhei para ela através do espelho e ela me encarava com a expressão cínica. Talvez pensasse que eu estava querendo Elijah. E não deu outra.


– Pensei que fosse Niklaus, Caroline, não Elijah – Bruxa desgraçada. Eu devolvi um olhar de ódio pra ela pelo espelho – Ele sai da cidade por algumas horas e você já está atrás do irmão? Não posso te culpar. Elijah também não fica atrás na beleza. Meus filhos eram os mais admirados no condado onde vivíamos. Isso deu um problema...


– Chega, mãe – Ele falou com raiva.


– Esses dois tem um histórico em querer a mesma mulher – Ela ignorou o seu alerta e prosseguiu com as palavras venenosas. Enruguei a esta confusa – Foi assim com Tátia. E pensei que seria assim com Katerina. Mas, a segunda foi apenas por Elijah. Niklaus não queria.


– Isso é história antiga, Esther. Não há porque trazer à tona, agora isso não faz mais diferença – Ele respondeu alarmado.


- Me admira que não faça mais diferença levando em consideração o estrago que essa historinha causou. Eu lembro disso na carne - Ela soltou uma risadinha abafada.


Fiquei calada. Não daria a ela o prazer de me ver fervendo de raiva. Saber da existência de outra mulher na vida de Klaus, alvo de seu interesse me fazia ficar incomodada. A atenção dele tinha que ser para mim, porque tem sido assim desde o nosso primeiro encontro naquela cidade. E esse sentimento me atingiu em cheio pela surpresa de senti-lo. Mas, dane-se. Quem não gosta de receber toda essa atenção?


Passei o resto da viagem olhando pela janela, ignorando os outros dois no carro. Algumas vezes eu ainda via de relance Elijah me observar, mas ele não se atrevia a dizer nada. Bom para ele. Continuei vidrada na janela, admirando a beleza do caminho. Quando chegamos na nossa cidade, pedi a Elijah que fosse comigo até à casa de Stefan e depois saíssemos para conversar. Eu apenas queria checar meu amigo antes de sair, ver se estava bem. Entramos na mansão e eu segui Damon, que levou o seu irmão para o seu quarto, o deitando em sua cama. Ele estava desacordado, totalmente inanimado. Sua respiração estava estável, pelo menos, e sua expressão como a de alguém que só estivesse dormindo, mas ele não movia um músculo. Agora só restava esperar que ele acordasse, pois Esther disse não saber como reverter a situação. Essa bruxa estava mais inútil do que eu esperava. Só servia para abrir a boca e falar merda. Alisei carinhosamente os cabelos de Stefan, peguei sua mão e a beijei. Sentei ao seu lado na cama e esperei alguns minutos, na esperança de que algo acontecesse. Mas, nada veio. Então, decidi fazer logo o que eu pretendia. Eu precisava ver.


Eu disse a Damon que não demoraria e saí da casa com Elijah. Esther também foi embora, seja lá para onde for. Desde que não nos seguisse, já estava bom. Silas ficou atormentando Damon. Eu não sei o que ele pretendia. Estar ali era estar exposto à Qetsiyah. Eu quis dar mais um sermão nele, mas sabia ser igual a dar murro am ponta de faca. E deixá-lo infernizando Damon seria uma pequena vingança pessoal.


– Aonde você quer ir? – Elijah perguntou.


– Podemos ir para a sua casa? – Falei meio tímida – Nós vamos precisar de privacidade – Ele me olhou confuso, mas assentiu. Entramos mais uma vez no seu carro e em poucos minutos estávamos na sua mansão. A casa estava estritamente calma e silenciosa. Eu caminhei até a sala de star confortavelmente, como se a casa fosse minha e me sentei em um dos sofás de couro preto, de frente para a lareira, que crepitava seu fogo laranja, aquecendo e proporcionando uma luz agradável ao ambiente. Ele me ofereceu bebida e eu neguei com a cabeça. Ele se serviu de uma dose e sentou ao meu lado, esperando que eu dissesse algo e assim o fiz.


– Você me disse, naquele dia em que minha mãe estava aqui, que nem sempre Klaus foi o que ele é hoje – Ele assentiu e eu continuei – E quero que você me mostre. Que me faça entrar na sua mente e que me leve para essa época. Eu quero ver. Eu imagino que isso seja possível. Se você entrou na minha mente, eu acredito que posso entrar na sua, se você permitir – Ele me olhou muito surpreso, parado com o copo no meio do caminho até seu rosto, mas logo em seguida sorriu largamente. Eu podia ver o brilho em seus olhos. Ele estava animado com o meu pedido.


– É sempre possível invadir a mente de um vampiro, desde que ele esteja vulnerável ou permita espontaneamente – Ele disse sorrindo.


- Então, não teremos problemas. Ou teremos? Esse pedido é algum inconveniente pra você? Não precisa atende-lo se for te deixar desconfortável. Não quero ser invasiva, mas sinto que é necessário para eu entender certas coisas - Disse meio sem graça, pois sabia ser um pedido e tanto. De repente, me bateu uma vergonha enorme e não consegui olhar direto em seus olhos.


- Não se preocupe. Me deixa feliz que esteja disposta a tanto. Poucas pessoas se atrevem a enxergar mais que "apenas monstros" em nós - O olhei de relance - Espero que encontre as respostas que busca.


– Tudo bem, então. Vamos começar – Falei ansiosamente. Eu estava me contorcendo de curiosidade.


– Antes, me permita perguntar por que você quer fazer isso – Ele disse tomando um gole do seu whisky.


– Acho que você já sabe, Elijah. Eu sei que você ouviu a nossa conversa hoje – Respondi num tom de "não seja fingido". Ele acenou afirmativamente.


– Então, você precisa disso para aceitar?


– Eu preciso disso para sentir menos medo e menos culpa. Porque, no meu interior, eu já aceitei – Fui totalmente honesta comigo e com ele. E isso era libertador. Klaus estava certo. Ele sorriu em resposta e deixou o copo em cima de mesinha de centro.


– Muito bem, então. Deite-se – Prontamente obedeci e ele se aproximou de mim, colocando uma de suas mãos na minha cabeça – Relaxe a mente. Você vai sentir um pouco de sonolência logo antes de começar. Você será uma mera expectadora dos acontecimentos. Obviamente, nada do que você diga ou faça irá resultar em alguma diferença. O que vou te mostrar são lembranças e eu não posso mudar os fatos – Enruguei a testa. É claro que eu já sabia disso. Por que ele estava dizendo o óbvio? – A partir do ponto na história em que eu te deixar, nada poderei fazer ou mudar. Você terá que se guiar sozinha, pois são memórias, não algo inventado por mim para que eu possa te lavar onde eu quiser ou criar o cenário que eu quiser. O máximo que poderei fazer é trocar de lembrança ou te arrancar dela. Você sentirá tudo, como se realmente fizesse parte do espaço e do tempo, mas não fará. Será como um filme diante dos seus olhos, como se você estive nele em cena, mas não pudesse ser vista ou ouvida. Será tudo muito real. Estou dizendo tudo isso porque em alguns momentos você irá querer interferir, mas não poderá. E ficará inconformada com isso. Guarde minhas palavras – Depois dessa, como eu poderia relaxar. Comecei a ficar agitada e ele percebeu.


– Assim você vai demorar para entrar, Caroline - Ele disse se recostando no sofá, também tentando relaxar.


– Você não ajudou muito também – Reclamei bufando – Vou tentar de novo – Ele acenou e esperou, colocando também a outra mão obre a minha cabeça. Aos poucos eu fui ficando com sono, assim como ele disse, com o corpo mole e os pensamentos disformes e nebulosos. Até que o cenário dos meus pensamentos foi mudando radicalmente, com borrões coloridos se misturando uns nos outros. Senti meu corpo flutuar e depois receber um solavanco. Então, tudo ficou apagado e senti minha mente ser transportada para as profundezas da escuridão de um sono sem sonhos.


Mystic Falls 1008 D.C.


Acordei no chão no meio do mato, com uma luz forte batendo nos meus olhos, me cegando. Depois de conseguir me ajustar à claridade, deu pra enxergar melhor. O campo era bonito e com muitas árvores e flores silvestres. Fiquei desorientada por alguns segundos até lembrar onde eu me encontrava e o que estava fazendo ali. Tentei caçar na minha memória se alguma vez tinha ouvido onde a família Original vivia enquanto humana e me lembrei de que nasceram e moraram em Mystic Falls, no que um dia foi um vilarejo bem povoado, mas depois fugiram para do Sul da Inglaterra. O campo era vasto e bem aberto e eu não sabia que direção tomar. Muito obrigada, Elijah. Pensei mal-humorada. Me deixou no meio do nada. Comecei a caminhar sem rumo certo embaixo daquele Sol escaldante quando ouvi o som de cavalos cavalgando rapidamente atrás de mim. Tentei correr na velocidade vampírica para me esconder e senti meus pés lentos. Por alguma razão dos infernos eu só conseguia correr na velocidade humana. Bufei de raiva. Então, me lembrei de que não podiam me ver e olhei para trás. Levei um choque quando o fiz. Sobre os cavalos estavam Klaus e Elijah, gargalhando alegremente e se atacando de brincadeira com suas espadas. Os dois possuíam cabelos na altura dos ombros e não deveriam passar dos vinte e cinco anos. Trajavam roupas bem medievais, com coletes e botas até os joelhos. Suas expressões suaves e felizes não se pareciam em nada com esses vampiros sérios e amedrontadores de hoje. Me atrevi e me aproximei deles. Queria ver bem de perto. A brincadeira continuava e eles riam como se nada mais no mundo importasse. Num golpe de maestria Klaus jogou Elijah no chão e correu atrás dele preocupado. Mas, o irmão não fraquejou e revidou. Suas espadas batiam umas nas outras fazendo barulho de metal triturado até que numa rajada forte Klaus arremessou longe a espada do irmão. Ele gargalhava gostosamente enquanto jogava a cabeça para trás e isso me deixou em êxtase. Era incrível vê-lo dessa forma. Tão genuinamente leve e feliz. Ele se jogou no chão ao lado do irmão, os dois rindo muito ofegantes.


- Nem em mil anos você seria capaz de me vencer, Elijah - Klaus falava ofegante.


- Nunca saberemos. Mas, em alguns anos talvez eu consiga - Ele sorria alegre - E quando ficarmos velhos, só haverá lembranças. A força acabará - Elijah respondia enquanto brigava para manter o ar nos pulmões.


- Se tivermos essa sorte. Prometa que faremos isso até mesmo na velhice.


- Niklaus, na velhice não vamos conseguir nem subir no cavalo.


- Não precisa ser em cima do cavalo.


– Nosso pai nos queimaria vivos se nos visse assim – Elijah falou – Ele condena luta por diversão. Acha que é apenas para a sobrevivência.


– Ele condena qualquer forma de felicidade, se me permite observar – Klaus respondeu com a expressão nublada, bem diferente da sua alegre de alguns segundos atrás.


– Eu não entendo o seu caráter. Juro que tento, mas não consigo – Elijah disse virando o corpo para o irmão.


– E quem conseguiria, brother? Não há explicação para o injustificável – Klaus falou se levantando - Vamos logo antes que escureça, senão vamos perder o jantar. Nossa mãe odeia que cheguemos atrasados ou sentemos sujos à mesa.


– Que tal uma corrida para ver quem chega primeiro? – Elijah disse se erguendo rápido, empurrando Klaus para o chão, enquanto corria para o seu cavalo. Klaus caiu gargalhando e depois montou no seu cavalo às pressas, tentando alcançar o irmão. Os dois dispararam na minha frente, xingando e gritando um com o outro. Eu não pude deixar de soltar uma risada alegre com a visão. Comecei a correr atrás deles quando tudo ficou escuro e eu fui jogada para uma outra cena. Ainda desorientada pela mudança brusca, observei o que se passava.


Era noite e três crianças, duas loiras e uma de cabelo castanho escuro, brincavam em volta de uma enorme fogueira, rindo e assando comida nela. Dois adolescentes os observavam e conversavam ao mesmo tempo. Reconheci um dos jovens, pois ele se parecia muito com o Elijah. Quanto ao outro eu não tinha certeza, mas deveria ser Finn, o mais velho de todos. Avistei mais atentamente as crianças e sorri com doçura. Certamente eram Klaus, Rebekah e Kol. Foquei meus olhos em um deles e me aproximei. Klaus era lindo. Parecia um anjo com aqueles cabelos lisos e dourados e aqueles olhos intensamente verdes. Ele servia carne gentilmente para os irmãos e às vezes distribuía beijos nas bochechas rosadas de Rebekah. Eu me sentei ao lado dele e fiquei alguns segundos o observando. Ele não deveria ter mais de dez anos. Kol se levantou e começou a correr.


– Vamos brincar de se esconder nas árvores? Há tempos não subo nelas – Ele falou puxando um do braços de Klaus. Ele e Rebekah se levantaram e começaram a correr em direção à floresta escura quando Elijah interviu.


– Vocês voltem agora para cá – Ele correu atrás dos irmãos arrastando Rebekah e Kol – Finn, não fique parado, pegue Niklaus – Ele reclamou mal humorado. O outro irmão revirou os olhos e tentou agarrar Klaus, mas ele se desviava rindo da lerdeza do irmão. Elijah não e conteve e começou a rir e a se juntar na brincadeira. Senti uma imensa vontade de me juntar a eles e me divertir daquela forma tão inocente, mas eu não podia. Eles ficaram assim por um tempo até que uma figura de cara amarrotada apareceu e todos pararam e se calaram instantaneamente.


– Vocês não sabem que devem voltar antes de anoitecer? O que deu em você, Elijah, para permitir essa palhaçada? – Um Mikael na casa dos trinta anos falava com raiva e caminhou até o segundo mais velho. Não era Finn o mais velho? Por que ele cobrava de Elijah?


– Desculpe, meu pai. As crianças insistiram em ficar e não vi razão para lhes negar um pouco de diversão – Ele respondeu de cabeça baixa, olhando para o chão, nitidamente com medo.


– Não viu razão? Minhas ordens não são razão o suficiente para você? – Ele perguntou puxando Elijah pelo cabelo, o arrastando e meu sangue ferveu com aquilo – Anda! Todos para casa agora. Hoje é dia deles. A Lua está completa no céu. São cegos, por acaso, não viram isso? Vocês não sabem que quando isso acontece os lobos atacam quando escurece? Perderam o juízo? – Aquilo me surpreendeu. Mesmo com crueldade, ele parecia temeroso pela vida dos filhos. Ele soltou Elijah e as três crianças correram para o irmão. Quando Klaus passou, ele o pegou pelo braço e eu fiquei alerta. A versão infantil de Klaus o olhava com firmeza para uma criança, mas não totalmente sem medo. Ele apenas olhou o filho nos olhos por alguns segundos, com muito ódio, e depois o soltou com brutalidade. Todos eles deixaram o local e eu os segui. Caminharam alguns minutos até uma cabana larga, que eu julguei ser sua casa, e entraram. Eu não sabia até onde eu podia interagir com o cenário, então aproveitei enquanto a porta estava aberta para me esgueirar para dentro.


Não era um local luxuoso, mas também não era muito pobre. Era espaçoso e com muitos móveis nitidamente feitos à mão. Esther servia os pratos postos à mesa e sorriu gentilmente quando viu sua família entrar. Ela não se parecia com essa mulher maliciosa que eu havia conhecido. Ela era mais jovem e muito bonita. Possuía até um certo brilho vivaz nos seus olhos verdes. Os mesmos de Klaus, percebi. Todos entraram em silêncio e se sentaram à mesa. Me sentei em uma cadeira sobrando, de frente para Klaus. Ele olhava o prato com tristeza, e remexia o talher sem ânimo ou vontade alguma de comer.


– Nós damos muito duro para conseguir essa comida, Niklaus – Falou Mikael – Seria útil se você não a desperdiçasse – Ele olhou duro para o pai. Mesmo criança, ele já era forte.


– Não estamos com muita fome, pai – Respondeu Rebekah – Comemos cordeiro assado lá na floresta.


– E por que não trouxeram o animal para a sua mãe cozinhar? – Ele falou com raiva – Sabe que nem sempre conseguimos caça o suficiente.


– Não era um cordeiro muito grande, pai – Falou Elijah – Por isso eu os deixei assar.


– Quem pegou o animal? – Mikael perguntou.


– Niklaus – Respondeu Rebekah orgulhosa e inocente. Ele pareceu surpreso.


– Aonde esse moleque inútil aprendeu a caçar? – Ele falou olhando com desprezo para Klaus. Ele o encarou com firmeza.


– Ele não é inútil, pai – Falou Elijah – Ele tem melhorado a cada dia.


– Você o tem ensinado a usar arco e flecha? Mesmo pelas minhas costas – Elijah acenou em afirmativa com receio, com medo da reação de Mikael – Você sempre encorajando as idiotices dele, não é mesmo? – Ele falou com ódio – Vamos ver se ele realmente serve para alguma coisa – Ele levantou da mesa e pegou Klaus pelo braço com violência. Todos correram atrás dele. Rebekah começou a gritar e a chorar. Kol se arrastou até um canto e enterrou a cabeça entre os joelhos, escondendo os soluços. Esther tentava impedir, mas era fraca demais contra Mikeal. Finn foi até Kol e o pegou no colo o levando para um outro cômodo da cabana, tentando fazê-lo parar de chorar. Elijah puxava Klaus das mãos do pai, mas ele o empurrava a cada tentativa falha do segundo filho. Ele arrastou Klaus pelos cabelos até uma árvore e o jogou ali e foi até um lado da cabana, voltando com um objeto na mão. Rebekah correu até o irmão e se sentou ao seu lado, alisando seus cabelos. Elijah tentou levar o irmão de volta para a cabana, mas Mikael empurrou ele e Rebekah.


– Está pensando que é quem para me desobedecer, moleque? - Mikael vociferou contra Elijah - Agora, vamos ver os seus talentos, garoto – Ele estendeu um arco e flecha para Klaus e o obrigou a se levantar – Quero que você atire naquela árvore, bem onde está aquela parte escura marcada.


– Mikael, pare com isso. Volte para dentro antes que você chame atenção dos lobos – Esther falou com a voz esganiçada cheia de pânico – Não é necessário fazer isso agora. Só cozinharam uma caça irrelevante para nós. Não tem importância – Ele apenas a ignorou por completo e continuou.


– Anda, garoto! – Ele pegou Klaus pelo pescoço – Atire no alvo da árvore! – Klaus estava aterrorizado, mas não chorava. Ele pegou o arco e atirou, mas errou por muito. Suas mãos tremiam demasiadamente. Mikael não esperou mais e lhe deu um tapa forte no rosto, o fazendo cair no chão contra as pedras. Ele é só uma criança! Gritei, me atirando contra Mikael. Foi como agarrar fumaça. Passei direto pelo seu corpo como se passasse apenas pelo vento – Você não é homem o suficiente para segurar uma arma dessas. Se não sabe caçar, então não é nada além de um fardo. Você está ficando mais patético a cada dia – Mesmo do chão, ele se atreveu a responder ao pai.


– Eu não sou patético – Ele falou arfando, sem ar - E você nunca me ensinou nada!


– Não me responda! - Mikael se enraiveceu ainda mais e lhe deu um chute no estômago, fazendo Klaus urrar de dor.


– Pai, pare! – Elijah tentou interferiu, mas Mikael praguejou de volta.


– Não se meta, Elijah, ou você será o próximo. O garoto precisa ficar forte - Ele se acovardou diante do pai e deu alguns passos para trás. Rebekah soluçava compulsivamente - E você, deve se arrepender por passar por cima das minhas ordens. Eu disse que te ensinaria a caçar e ninguém mais! Eu sou o mais experiente aqui. Não vai virar um guerreiro aprendendo truques baratos com seus irmãos igualmente desleixados.


– Me desculpe, pai – Klaus falava entre gemidos e soluços.


– É uma pena que desculpas tristes não nos alimentam. E é tudo o que você sabe fazer – Ele falou entre dentes e deu um chute nas costas de Klaus. Eu quis chorar diante naquela cena e rasgar a garganta daquele monstro com as minhas unhas.


– Pare, Mikeal! Ele é só uma criança! Não pensou no que estava fazendo – Esther berrou e correu até ele, tentando impedi-lo de mais crueldade, mas ele a jogou no chão com raiva. Ela caiu de bruço, gritando de dor, colocando a mão na barriga. E só agora pude notar a saliência em seu ventre. Ela estava grávida.


– Hoje você vai dormir no celeiro, sozinho, para aprender a me respeitar e aprender a virar um homem – Ele apontou o indicador para Klaus.


– Não precisa fazer isso, pai! Os lobos! – Elijah falou com a voz alterada.


– Cala a boca! Você é o culpado. Quer ir para o celeiro também? – Ele berrou para o filho. Elijah abaixou a cabeça, se afastando - Foi o que pensei. Todos para dentro, agora, anda! – Ele puxou todos para a casa e deixou Klaus jogado ali ao lado da árvore, chorando e soluçando. Rebekah se debateu e gritou dizendo que não deixaria o irmão sozinho. Mas, foi em vão a sua atitude. O pai a puxou para dentro pelos cabelos. Elijah parou uns segundos na porta antes de entrar, claramente consternado e sofrendo por ter de deixar o irmão jogado no chão feito um animal.


E eu fiquei ali do lado de fora da cabana, horrorizada, ao lado daquele pobre garotinho que se debulhava em lágrimas. Eu queria confortá-lo, mas não podia. Sem perceber, algumas lágrimas brotaram dos meus olhos e escorreram pelas minhas bochechas. Não saberia dizer se aquelas minhas lágrimas eram reais ou não, mas os sentimentos de pesar e de raiva eram bem vivos. Eu fiquei sentada ao lado dele até ele se levantar e ir até o celeiro. Eu o segui e entrei no local. Era um lugar bagunçado e fedorento, cheio de feno, ração, moscas, fezes de animais e alguns cavalos. Ele buscou um cantinho para deitar e se espremeu quieto. Depois de muito tempo ele pegou no sono. Fiquei imaginando por que Elijah não me tirava logo dali, mas também não queria abandonar aquela criança inocente e amedrontada. Ouvi um barulho vindo da porta e uma sombra pequena nas paredes de madeira. Logo distingui uma cabeça loira e um corpo pequenino andando na nossa direção. Era Rebekah. Ela trazia uma espécie de lençol e um jarro, provavelmente com água. Fiquei observando aquele pequeno ser e ela parecia um anjo, tão inocente quanto o irmão. E os seus gritos de desespero pelo sofrimento do irmão vieram à tona na minha lembrança. Ela o amava muito, mesmo desde pequenos. E sua devoção era nítida até os dias atuais, mesmo quando Klaus fazia de tudo para afastá-la. Ela se deitou ao lado dele e começou a alisar os cabelos lisos do irmão. Ele acordou se sobressaltando, mas logo se recuperou ao reconhecê-la.


– O que você faz aqui, Rebekah? Nosso pai ficará muito bravo se descobrir que você veio.


– Esperei que todos se deitassem, ele não me viu. Eu nunca te deixaria sozinho, Nik.


– Eu também nunca te abandonaria, não importa o que aconteça. Vai estar aqui comigo - Ele tocou no próprio peito - Sempre e para Sempre – Ela sorriu para ele e o abraçou. Os dois se reuniram debaixo da coberta e juntos foram levados pelo sono.


O cenário começou a mudar e soube que Elijah estava me transportando para outra parte da sua história. As imagens a minha volta começaram a girar feito um borrão e de repente parou no meio de um festival. Crianças corriam pelos arredores, adultos riam e bebiam enquanto conversavam. Estava de dia mais uma vez, parecia mais o fim de uma tarde, prestes ao Sol se pôr. Rapidamente avistei a família Original e lá estavam eles, em sua maioria se divertindo e aproveitando a festa. Não mais eram crianças. Todos os filhos agora pareciam estar deixando a adolescência, ainda muito jovens. Como sempre, Elijah, Rebekah e Klaus estavam próximos, dançando e brincando entre si. Kol estava flertando com várias moças e Finn estava sério, de cara amarrotada. Não parecia gostar do festa. Esther estava sentada ao lado do marido, que parecia entediado, num canto perto de outras famílias e havia um garotinho, de no máximo uns oito anos, sentado ao seu colo. Certamente Henrik, o filho caçula. Ele era uma cópia minúscula de Elijah. Ele sorria alegremente enquanto batia palmas para a música tocada e ela o acompanhava sorrindo, até parecendo verdadeiramente feliz.


Foquei meus olhos na versão jovem de Klaus. Ele dançava e por vezes falava aos ouvidos de Rebekah e Elijah, arrancando risadinhas dos dois. Algumas vezes piscava discretamente para uma mulher oferecida ou outra e eu revirei os olhos com tamanha forma rudimentar era viver naquela época. Uma realmente muito bonita se aproximou dele jogando os cabelos extremamente logos e ruivos na sua cara de idiota e se virou fazendo charme, como qualquer vadia fingida faria. Ele, como qualquer filho da puta safado, caiu na armadilha e correu atrás, lhe oferecendo uma flor. Sua atitude de idiota foi apenas interrompida por uma senhora que havia tropeçado numa pedra e caído ao seu lado. Ele prontamente a ajudou a se levantar e ofereceu o seu copo de bebida. Ela aceitou de bom grado, sorrindo gentilmente e partiu cambaleando. Provavelmente estava bêbada com aquela cevada medieval. A vadia ruiva mais uma vez se aproximou quando Rebekah correu até ele e o puxou sem cerimônias. Ele a olhou confuso e com impaciência.


– Mas, que inferno, Rebekah. Você não pode me deixar em paz um minuto? Estou tentando me casar. Não quero ser desprovido de afeto que nem você e Elijah são ao tentarem desesperadamente arranjar casamento sem sucesso. Deveriam estar fazendo o mesmo que eu: vão socializar. Kol parece ter entendido bem o que fazer – Ele falou acenando em direção à vagabunda. Elijah ria descontroladamente.


– Ela é uma prostituta, Nik! – Eu sabia! – Como você pode ser tão ingênuo e não saber diferenciar uma boa moça de uma meretriz das tavernas? – Ele pareceu confuso e verdadeiramente surpreso. Eu sorri. Ele realmente era ingênuo demais. Ele apenas olhou para a irmã com os olhos baixos e não falou nada – Quero ver o que Mikael faria com você se gerasse filhos bastardos de mulheres das tavernas.


– Você também não é nenhuma santa, sistah – Ele revidou – Já te vi sorrindo bestamente para esses inúteis que se acham cavaleiros de verdade.


– Sorrir não é pecado algum – Ela respondeu petulante.


– Do sorriso para a barra do vestido é bem rápido, sistah – Ele falou implicante e ela tentou atacá-lo com um tapa, mas ele impediu que sua mão pequena e delicada chegasse ao seu rosto com maestria e facilidade e a rodopiou, lhe dando um abraço de costas. Ela riu brincalhona e, então, ele a soltou. Elijah bateu em seu ombro num gesto de camaradagem quando um homem gordo e barbudo subiu num palanque rudimentar de madeira, para fazer um anúncio.


– Agora será o nosso grande show – O homem disse estendendo alto os dois braços gorduchos - Onde voluntários se alistam para uma pequena batalha amigável, com direito a prêmios como porcos, sacos de trigo, leite e até mesmo cavalos. Quem gostaria de tentar o desafio? – Elijah e Klaus se entreolharam e sorriram confiantes. Eu já sabia o que eles fariam a seguir. Eles dois e mais cinco homens levantaram suas mãos. Os seus oponentes eram fortes e seus músculos eram de quem estavam sempre envolvidos em alguma batalha. Mas, isso não pareceu intimidar os dois irmãos aventureiros de forma alguma. Olhei a minha volta tentando buscar nas expressões algum sinal de advertência ou mesmo de perigo. Mas, só o que vi foram sorrisos e palmas. Aquele evento deveria ser alguma espécie de tradição, afinal de contas. E, obviamente, eles sobreviveram para contar a história.


Aleatoriamente o comandante foi formando as duplas de combatentes. Suas lutas foram progressivas, demoradas e difíceis com cada um de seus antagonistas, mas estavam conseguindo vencer até Elijah se deparar com um homem em forma de muro. Ele era forte e muito veloz, mas seu oponente era o dobro de seu tamanho. Elijah caiu muito depois de uma longa e árdua briga, mas saiu sorrindo como se tivesse sido uma vitória. E de fato até foi. Ficar todo aquele tempo com um homem daquele tamanho era bastante admirável.


Por fim, só restaram Klaus e esse brutamonte e apenas um desses seria o vencedor. Eu não me contive e torci fazendo tanto barulho quanto qualquer um naquele lugar, como se eu realmente estivesse ali. Me surpreendi com a minha selvageria. Era fácil se enturmar. Klaus balançava a sua espada com tanta agilidade e facilidade que me impressionava. Não era à toa que Elijah havia me dito que ele era um guerreiro. Poucas vezes ele havia sido acertado. O homem carregava apenas um machado pequeno e era muito lento devido ao seu peso. Seu verdadeiro trunfo era a sua força, mas de nada ela serviria se ele não conseguisse alcançar Klaus. Após muitos desvios e alguns golpes muito bem planejados, Klaus conseguiu arrancar o machadado da mão do homem e fazê-lo cair com uma espadada na perna. E assim ele foi declarado vencedor. Eu fiquei ali, rindo e batendo palmas como o resto da aldeia, parabenizando e felicitando o grande guerreiro. Foi preciso um grande esforço e ajuda dos irmãos ele conseguir se livrar das atenções exageradas e do alvoroço a sua volta. Ele sorria largamente, abrindo os braços em agradecimento.


Klaus recebeu o seu prêmio com muita alegria e orgulhoso de si por ter vencido a todos os seus oponentes. Por alguns instantes seus olhos verdes e radiantes bateram nos olhos frios e cinzentos de Mikael fazendo seu sorriso fraquejar por um momento. Ele abaixou a cabeça e girou seu corpo, bloqueando a visão do olhar de desprezo do pai. Pelo menos dessa vez ele não estava infernizando Klaus, pensei. Talvez não fosse louco de agredir os filhos na frente de todo mundo. Todo valentão tem seu quê de covardia. Dessa vez Mikael não poderia chamá-lo de moleque inútil, não após Klaus ganhar inúmeras iguarias para a sua família. Os quatro irmãos vieram ajudá-lo a levar a mercadoria para casa e um homem de aparência miserável apareceu implorando por um pouco de leite. Sem pensar duas vezes, Klaus lhe entregou um jarro completamente cheio. O homem o agradeceu beijando a sua mão e saiu sorrindo emocionado. Rebekah beijou Klaus na bochecha e alisou seus cabelos num gesto de aprovação. Era um tanto paradoxal comparar o jeito como viviam com essa nova vida no século XXI, cercada de hostilidade entre os irmãos.


Caminharam até em casa, comigo os seguindo feito um fantasma, levando os suprimentos e aos poucos foram guardando toda a carga no seu interior. Klaus estava levando o último cavalo para dentro do celeiro quando ouviu a voz de um de seus irmãos.


– Ainda falta um saco de trigo! – Gritou Kol da cabana - Ficou ao lado da amoreira.


– Vou pegar! – Klaus respondeu e saiu do celeiro. Andou alguns metros para o lado da cabana e tinha acabado de agarrar o grande saco marrom de trigo quando uma mulher se aproximou dele.


– Nada mal para um prêmio de circuito, não é mesmo? – Ela falou sorrindo, o fazendo levar um susto e derrubar o saco. Ele se virou e sorriu genuinamente para ela.


Minha boca caiu quando reparei na sua forma física. Seu rosto era de uma gêmea perfeita de Elena. Era uma das primeiras doppelgangers de Amara. Tátia.


 



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Autor(a): anajadde

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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