Fanfics Brasil - Capítulo 7 - Love Makes You Contradict Yourself Scarlet Dynasty - Klaroline

Fanfic: Scarlet Dynasty - Klaroline | Tema: The Vampire Diaries e The Originals


Capítulo: Capítulo 7 - Love Makes You Contradict Yourself

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Klaus


Eu abri os olhos repentinamente, o que foi um erro, porque a claridade que vinha das altas janelas me cegou por alguns instantes. Eu perdi a noção do tempo; não fazia ideia de quantas horas tinha dormido, mas, ter conseguido essa folga foi revigorante. Olhei no meu relógio de pulso e vi que já passava do meio-dia. Eu tinha uma lista infinita de problemas para resolver e metade deles eu não fazia ideia de como. O que significava que estávamos muitos fodidos, tendo em vista que em termos de quantidade de acúmulo de informação por tempo e por inteligência, ninguém sabia tanto quanto eu. Iria para casa conversar com Elijah e tentaríamos entender algumas questões antes de tomarmos alguma providência. Porque era fato que nada podíamos fazer até que Silas aparecesse. Provavelmente meu irmão já foi embora há muito tempo e estava ansioso para discutirmos logo esse assunto, eu conhecia ele muito bem pra saber disso. E ter fugido para outra cidade por algum período me serviu de nada temporariamente e agora era hora de agir. O quarto estava quieto e único som que perturbava esse silêncio era o ronronar das nossas respirações; minha e da Caroline. Ela ainda dormia tranquilamente com a cabeça encostada em cima do meu peito. Eu notei que ela estava com um dos braços em volta da minha cintura e soltei um sorrisinho abafado diante dessa visão. Só mesmo o choque da morte que faria Caroline agir assim. Ela jamais me permitiria chegar perto dela dessa forma no seu estado natural. Ela deveria mesmo estar muito fragilizada e esse pensamento me atormentou. Eu queria que ela me retribuísse afeto por livre e espontânea vontade e não porque estava perdida na sua montanha russa de emoções. Esses devaneios me deixaram ferido e a minha vontade foi de ir embora e largar ela ali sozinha, mas eu não consegui. Só o que eu fiz foi ficar admirando aquele rosto que pra mim era lindo enquanto ela dormia feito um anjo. Eu percebi que ela possuía umas sardinhas ao redor do dorso do nariz e senti vontade de beijá-lo. Mas não o fiz. Se ela acordasse e visse o que eu estava fazendo ela ficaria uma fera. E ter uma Caroline de boca fechada, quietinha e sem o seu radar de julgamento ligado era um paraíso. Eu não sabia ao certo o que fazer com relação a ela, como eu faria para adaptá-la a minha vida quando, enfim, ela me aceitasse. Porque sim, ela faria isso um dia. Ela iria perceber que o mundo estava esperando por ela, e nesse dia eu estaria pronto para mostrar o que havia de melhor nele. Mas, só o que eu sabia é que queria ela e não como eu faria isso funcionar. Fiz carinho suavemente nos seus cabelos por alguns instantes antes de decidir quando ir embora.
Eu não queria sair dali, pois sabia que no momento em que eu pisasse para fora do quarto, a mágica do meu tempo com ela acabaria. Sem contar com as desgraças que esperavam por mim do lado de fora do conforto do seu abraço. Inspirei fundo tentando ganhar coragem de deixá-la. Ajustei a minha super audição para saber o que se passava no resto da casa e só o que havia eram algumas conversas entediantes daqueles idiotas. Diante da situação em que estávamos, sem poder prever quando e onde seria o próximo ataque, não poderíamos nos dar ao luxo de descansar. Estávamos na merda total, minha família e Caroline, digo. Com o resto eu não me importava. A qualquer momento Mikael poderia aparecer na minha frente para tentar, pela milésima vez, me destruir ou Esther com mais de um de seus planos de bruxa louca. Suspirei pesadamente. E tinha a questão da morte da Caroline. Com esse pensamento eu comecei a me levantar cuidadosamente, me certificando de não acordá-la. Eu precisava encontrar alguma coisa para reverter a merda que eu deixei acontecer. Ajeitei bem devagar a sua cabeça no travesseiro, alisei a sua bochecha carinhosamente e dei um beijo na sua testa. Para a minha sorte ela não acordou. Fiquei zelando seu sono enquanto reunia forças para deixar meu pequeno paraíso para trás. Com uma última olhada no seu semblante tranquilo, deixei o quarto silenciosamente. Um dia teríamos o nosso próprio espaço, onde ela dormiria ao meu lado sem nenhum arrependimento ou amarras, e eu não precisaria fugir da sua presença com medo de ser rejeitado. Pelo menos era isso que eu esperava fortemente.
Caminhei com pressa pelo corredor em direção à porta de entrada no andar de baixo. Quando cheguei na sala vi que Stefan e Damon conversavam sentados em um dos sofás e eu pretendia ignorá-los, apenas passar direto sem nem olhar para aquelas caras de pamonha deles.


- Klaus! – Chamou Stefan pelo meu nome. Eu revirei os olhos e inspirei irritado. O que essas merdinhas queriam agora? – Aonde vai com tanta pressa, amigo? Venha conosco fazer um brinde ao caos – Ele terminou com uma expressão que misturava sarcasmo e petulância.


- Para nenhum lugar que seja da sua conta, eu presumo – Respondi no mesmo tom.


- Já que você resolveu usar a nossa casa de motel, parece que qualquer barreira entre nós caiu de vez. Então, não precisa sair correndo. Pelo menos não antes de nos pagar. Eu cobro caro - Falou aquele infeliz do irmão mais velho dele. Peguei o abajur perto de mim e joguei na direção de Damon. Enquanto ele se desviava do objeto e se levantava do sofá rindo que nem uma mula, continuou - Sabe, Klausito, Não estamos convictos de que o seu irmão vá cumprir a parte dele no trato – Ele falou com um sorrisinho irritante naquela cara de idiota dele – Elena nem sempre pensa direito, e o Tefinho sempre dá moral pra ela fazer merda – Ele disse jogando um olhar carrancudo para o irmão – Ela nunca deveria ter entregue a Cura para vocês e estou aqui para reivindicar a nossa posse. Ou ao menos o direito de tomar decisões sobre ela.


- Bem, como eu disse naquele dia, não era exatamente uma escolha de vocês – Eu disse sorrindo presunçosamente e ele revirou os olhos.


- O que realmente queremos dizer, Klaus – Dessa vez Stefan falou sério – É que não queremos ficar no escuro nessa história toda. Temos o direito de participar dos planos. Vocês não são exatamente os seres mais confiáveis do mundo. Vão nos aplicar algum golpe – Ele disse.


- E o que te faz pensar que você está em posição de exigir alguma coisa aqui, hein, Rippah? – Eu disse me aproximando deles ameaçadoramente. Eu não era conhecido pela minha paciência infinita. Ninguém me dava ordens.


- A Cura era nossa, caso você não se lembre – Disse Damon num tom muito abusado para o meu gosto.


- A Cura não era de ninguém. Se fosse para ser de alguém especificamente seria do próprio Silas – Eu falei com humor pela idiotice desses dois. Por que eu ainda estava aqui discutindo com eles? – Porque, até onde eu sei na história, a bruxa Qetsiyah a fez para ele.


- E até onde eu lembro você era contra a entregar a Cura para ele – Disse Damon.


- Até quando pudéssemos evitar que ele abrisse os portões do inferno aqui na Terra. Mas, olha só onde e como estamos agora – Eu sorri debochadamente.


- Klaus – Falou Stefan calmamente – Só queremos fazer parte dos planos. Porque queremos garantir a sobrevivência dos nossos amigos, apenas isso. Nós ajudamos vocês, vocês nos ajudam e todos saem ganhando.


- E eu não dou a mínima para que seus amigos sobrevivam. E muito menos preciso da sua ajuda inútil – Falei sorrindo sadicamente.


- Ah, pelo menos para um de nossos amigos nós sabemos que você "dá a mínima" para que sobreviva – Damon disse, apontando para cima e coçando o queixo de maneira sugestiva e maliciosa. Eu desviei o olhar quando ele disse isso e quis tacar alguma outra coisa nele, e dessa fez mais fatal, para calar aquela boca maldita, mas apenas fingi que não entendi e ignorei.


- Eu sugiro que você pare de falar antes que eu te obrigue. Não me interessam os seus delírios, apenas não se metam num assunto que não é de vocês – E dizendo isso eu dei às costas e saí daquela casa. Não ficaria gastando tempo e saliva com gente que não faz diferença nenhuma nesse mundo.


Se eles estavam pensando que iriam me manipular usando a situação da Caroline estavam muito enganados. É claro que eu queria que ela vivesse, mas não me deixaria passar por fraco na frente de ninguém por causa disso. Eu sempre soube que dar abertura para esses sentimentos me invadirem iria me foder. O amor é uma fraqueza. Lembro bem de todas as vezes em que eu pronunciei essas palavras incisivamente. Todas foram de minha total convicção e eu tinha certeza de que não seria estúpido de cair nessa armadilha novamente. Estar sentindo atração por alguém não é amar. Eu jamais me rebaixaria a esse nível outra vez. Me importava muito com ela, mas amar já é demais...
Não cheguei a esse ponto de amar, não mesmo.
Repassei mentalmente todas as minhas atitudes, argumentando para mim mesmo que todas eram provenientes de uma paixonite desenfreada e nada mais.


Entrei no meu carro e dei partida com destino a minha casa. Enquanto dirigia apenas com uma das minhas mãos, tamborilavam freneticamente os dedos da outra mão no volante, absorto nos meus pensamentos.
Mikael não tinha como me matar, não sem armas contra mim. A única coisa que podia me destruir estava bem guardada e ninguém, exceto eu, sabia onde estava. O máximo que ele poderia fazer seria me atormentar. Esther seguia praticamente o mesmo caminho, a diferença é que ela é uma bruxa, e essas pestes sempre tinham um truque escondido. Não existiam criaturas mais traiçoeiras que bruxas e meu desprezo por elas estava acima da média. Mas, no fim das contas nunca importou o que eles tentaram contra mim. Sempre perderam, eu sempre ganhei. E não vai ser diferente dessa vez, nada mudou. Eu continuo sendo o mesmo superior, imbatível, e indestrutível Klaus, onde nada me atinge ou me aflige, sem qualquer tipo de fraqueza. Instantaneamente meus pensamentos foram para Caroline, mas os espantei de imediato. Ela não era uma fraqueza, e muito menos estava no radar dos meus pais.


Em poucos minutos eu estava passando pelo portão principal e estacionando em frente à porta de entrada. Cheguei no saguão principal e peguei o corredor para a sala de estar. Estava tudo muito silencioso e isso era um efeito raro quando todos os meus irmãos barulhentos e insuportáveis estavam em casa. Só o que eu consegui distinguir foi o som de uma respiração vindo da sala e uns ruídos vindo do andar de cima. Quando adentrei nela encontrei Elijah sentado no sofá, com o olhar distante e perdido.


Brother – Exclamei sorrindo e ele virou seu rosto para mim retribuindo o gesto.


- Estava me perguntando quando você retornaria, Niklaus – Ele falou enquanto se levantava e fechava os botões do seu terno azul marinho quase preto. Seus insubstituíveis e ridículos ternos, que o faziam ficar com uma cara entediante de diplomata – Temos assuntos muito importantes para tratar, não se lembra?


- Eu estava ocupado, mas agora sou todo seu, brother. Aproveite – Disse com sarcasmo enquanto caminhava até o bar e me servia de whisky. Estava cada mais recorrente a ingestão diária de álcool.


- Falando nisso; como está a senhorita Forbes? – Ele perguntou tentando parecer indiferente e até casual, mas mesmo eu estando de costas, eu podia ver nitidamente o sorrisinho alegre mal disfarçado naquela cara sonhadora e patética dele. Eu já tinha percebido o que ele pretendia, antes mesmo dele sequer começar. Eu apenas fingi não notar nada e me virei respondendo simplesmente:


- "Morta". Bem, você sabe, morta-viva – Despejei todo o meu desprezo naquela palavra, na esperança de que a farsa pudesse funcionar e me livrar da conversa sentimental que Elijah estava tentando travar comigo. Mas, eu sabia que com Elijah não poderia brincar de gato e rato. Ele nunca larga o osso. Ele inclinou a cabeça para um lado e estreitou os olhos, nitidamente me avaliando e eu me senti desconfortável com essa invasão toda na minha privacidade.


- Niklaus, de todas as suas "qualidades", fingir não é a melhor delas – Ele me olhava me dando um sorrisinho torto. Eu não respondi nada. Sabia que qualquer coisa que eu dissesse estaria correndo um risco bem grande de me entregar de vez - Caso você tenha esquecido, a mãe da moça se encontra instalada aqui. Mais cedo ou mais tarde teremos que falar sobre esse seu incomum interesse no bem estar dessa humana que nada tem a ver com a nossa família. No mínimo você deve entender a minha curiosidade – Caramba, verdade, Liz estava na minha casa. Ele disse, ainda com a mesma expressão, mas sem mais me pressionar.


- Ela ainda está desacordada? – Ele balançou a cabeça em afirmativa - Esses humanos são muito fracos mesmo – Eu disse com deboche enquanto tomava um gole da minha bebida favorita. Realmente eu não sentia nem um pouco de desejo de voltar a ser humano novamente.


- O que você pretende fazer com ela? – Ele me perguntou desconfiado.


- Nada – Encolhi os ombros com indiferença.


- Nada? Pensei que tivesse trazido ela aqui para protegê-la. Obrigou Rebekah a trazê-la para não fazer nada no fim das contas? – Ele disse confuso.


- Era a minha pretensão escondê-la aqui. Mas, não posso obrigá-la a ficar. Você não testemunhou o gênio ruim da filha o suficiente? – Eu falei com desdém – Logo ela estará aqui gritando na minha casa, me roubando o pouco de paz que eu ainda tenho, exigindo levar a mãe embora – Eu disse isso com tom de admiração, quase com devoção, sem conseguir conter o sorriso e me arrependi no instante seguinte. Isso não passou direto pelos sensores de Elijah sem ser notificado.


- Você respeita a vontade dela. Isso é um milagre. Nunca respeita ninguém, só faz o que te interessa. E parece conhecer a moça muito bem – Ele disse isso retomando o mesmo tom e esse assunto em que eu não estava nem um pouco ansioso de participar. Lancei um olhar frio para ele e dei às costas novamente, para impedir que lesse meus olhos, mesmo assim senti seu olhar me queimando. Eu odiava me sentir exposto e vulnerável, não permitiria que Elijah chegasse mais fundo nessa história.


- Podemos voltar ao que realmente interessa? – Falei com tom sátiro, voltando a olhar para ele – falar da vida patética e entediante dos humanos não é um dos meus assuntos favoritos – Eu disse isso com toda a indiferença que pude reunir, tentando desesperadamente desviar a mente de Elijah para longe de qualquer coisa que pudesse ser referente à Caroline.


- Pra começar, como já discutimos antes, precisamos encontrar Silas primeiro – Ele deu início à conversa, me deixando mais aliviado – Mas, não parece que ele queira nos contatar. Porque, senão, a essa altura, ele já estaria aqui conosco.


- Ele vai aparecer, brother, quando for conveniente para ele – Eu disse – E confesso que estou muito curioso para ver a verdadeira face dessa aberração da natureza – Eu disse com sarcasmo – Sempre soube que tinha algo de especial em Stefan Salvatore. Agora, vejam só como a mãe natureza é singular – Falei isso dando uma pequena risadinha de deboche. Elijah apenas me olhava sério, certamente me criticando em seus pensamentos.


- Eu ouvi sua conversa com Caroline - O olhei feio pela intromissão. Eu nunca tinha privacidade com ele por perto - Stefan é uma doppelgänger. Estou admirado. Mas, o que você quer dizer? Que devemos esperar a boa vontade dele aparecer para começarmos a investigar uma solução para os nossos problemas? – Ele falou num tom meio incrédulo – Não temos tempo para isso, Niklaus. As coisas já estão acontecendo. Devemos agir imediatamente.


- E você acha que eu não sei disso? – Disse sério e já meio puto – Silas não será encontrado se ele não quiser. Não tem nada que possamos fazer até ele decidir mostrar a cara – Ele balançava a cabeça em negativa, mas para ele mesmo. Porque eu via em seus olhos a compreensão e concordância sobre as minhas palavras. Eu também não estava nada feliz com as condições, mas era certo que não tínhamos como encontrar Silas. Estávamos apostando muito alto, dependendo de coisas que tinham todas as chances de dar errado. E com esses pensamentos, perguntei – Onde está Kol?


- Também gostaria de saber – Ele respondeu enquanto se sentava novamente no sofá.


- Elijah, Kol tem o dom de fuder com a gente. Ele deve ser mantido sob vigilância – Eu falei com aspereza. Se meu irmão mais novo se metesse no meu caminho, então, o seu destino já era mais do que conhecido. Adaga. Caixão.


- Já falei com ele e acredito que ele irá ponderar as suas ações, confie em mim – Ele falou me olhando com firmeza. Quando se tratava de Kol, confiança era o último sentimento que eu tinha. E se dependesse da moleza de Elijah para cuidar dele, todos nós estaríamos fudidos.


- Pelo o que eu ouço, Rebekah está lá em cima com a humana. Não sei qual o interesse dela em ajudar – Eu disse cuspindo veneno. Elijah me confirmou com um aceno – Aquela lá só pensa em idiotices e o seu cérebro é mais esfarelado do que as areias das praias da Grécia – Eu falei isso sorrindo, sabendo que ela podia me ouvir. Confesso que implicar com a minha little sistah era um passatempo divertido.


- Então, é isso? Sentamos e esperamos? – Ele falou revirando os olhos por causa das minhas palavras infantis – Não seria mais sensato vermos opções, buscarmos alguma bruxa que possa nos ajudar?


- Nenhuma bruxa vai nos ajudar. Elas vão é tentar nos matar – Eu disse rindo da cara dele – Você sabe muito bem que as bruxas nos odeiam. É claro que elas também devem saber que não podem nada contra nós. Mas, também não virão ao nosso favor. Você é muito babaca às vezes, Elijah.


- Niklaus, a impressão que eu tenho é que você não está fazendo nenhum esforço a mais para resolver os nossos problemas – ele disse sério – Ou não está dando a mínima importância e crédito para a gravidade da situação.


- Você só pode estar de sacanagem com a minha cara – Bati o copo no apoio da lareira. Começava a me alterar. Era um completo absurdo ele falar uma coisa dessas. Sempre foi óbvia a falta de fé e confiança que meus irmãos tinham em mim, mas isso era passar da conta – Você não tem prestado atenção nas últimas horas? Ou estava com a cabeça vidrada demais nas suas fantasias para notar alguma coisa?


- Só estou dizendo que existem muitas bruxas espalhadas por aí que conhecemos – Ele disse – Obviamente não tão poderosas quanto as Bennet, mas que podem nos servir.


- E é exatamente o que eu estou dizendo. Elas não vão nos servir, Elijah. Bruxas não servem a vampiros. E eu não peço favores a ninguém – Acrescentei já com um pouco de raiva. Se ele estava esperando que eu iria rodar o mundo atrás dessas bruxas traiçoeiras e pedir por ajuda ele estava muito enganado. Mas, eu precisava delas, precisava por Caroline. A essa altura, eu faria qualquer para salvá-la. Voltei a beber, virando parte do conteúdo de uma vez. Minha garganta queimou prazerosamente.


- Ah, então o problema é esse. O seu orgulho não tem limites, Niklaus – Ele falou enquanto abria os dois braços com indignação - Não estamos em posição de ficarmos em cima de pedestais. Não fazemos ideia do que está por vir. Não sabemos de nada que diz respeito ao Outro Lado – Ele se levantou e se aproximou de mim pronto pra falar mais alguma coisa, abusadamente arrancando a bebida da minha mão, mas eu o interrompi, pegando ela de volta.


- E você acha que essas mulas charlatãs sabem de alguma coisa? – Eu falei com tom de ironia e com certo desespero, pois realmente acreditava que ninguém mais no mundo tinha conhecimento sobre esse assunto tão específico e perigoso.– Quem criou o Outro Lado foi Qetsiyah. Ela e Silas são os únicos que podem nos esclarecer o mistério. Talvez nem Silas saiba. Ele não viu as artimanhas dela chegando e depois ficou trancado por dois mil anos.


- Niklaus, você não tem como saber disso. Não pode afirmar que outras bruxas não saibam de nada – Ele continuou insistindo nessa estupidez.


- Mas, é claro que eu posso, brother, porque é mais do que evidente  – eu falei pasmo com a sua burrice – Além disso, vamos supor que mais alguém saiba. Você sabe por onde começar, sabe a quem deve procurar ou vai caçar cada bruxa no mundo inteiro e perguntar para cada uma delas se conhecem a história? E se, numa sorte exorbitante, você encontrar alguma coisa, o que garante que é verdadeiro ? – Eu disse rindo da cara dele – Por Deus, Elijah, se é que ele existe, não fantasie – Eu terminei olhando bem pra ele. Sua expressão havia suavizado os seus delírios recentes, mas eu conhecia o meu irmão. O delírio nunca iria embora por completo - Acredite, irmão, estou tanto quanto ou mais decepcionado com a realidade como você.


- Só sei que estamos ferrados. E isso tudo é graças a você, Nik – A minha little sistah entrou na sala com toda a sua arrogância e batendo os saltos contra o assoalho de madeira de carvalho liso e impecavelmente encerado na qual eu pagava muito bem meus empregados para mantê-lo.


- Graças a mim? Que tenho eu a ver com a história patética de romance entre Silas e a sua noiva maluca? – Eu disse rindo - E, diga-se de passagem, com um toque dramático digno de Shakespeare – Minha querida irmã riu de volta e sentou em uma das poltronas.


- Eu sei que você não tem nada a ver. É que geralmente a desgraça do mundo é culpa sua. Falei apenas por hábito mesmo – Ela disse sorrindo para mim e eu não pude deixar de retribuir o gesto. Elijah sorria também. Esse era um momento raro na nossa família. Os insultos eram clara demonstração de afeto.


- Eu concordo com vocês dois. Não podemos ficar parados, mas também não temos nenhuma dica de por onde começar – Ela falou séria olhando para nós. Eu iria responder quando ouvimos o som de um carro chegando. Nos entreolhamos curiosos. Por um momento depositei minhas esperanças de que fosse Caroline vindo reivindicar a posse da mãe. Mas, quando a campainha tocou e meu irmão foi atender a porta, pude ouvir a voz de dois visitantes nada bem-vindos. Elijah voltou à sala trazendo os dois idiotas que antes eu já havia mandado não se meterem nos nossos assuntos.


- Klausito – falou o filho da puta do Damon – Não vamos aceitar um não como resposta – Eu olhei para ele com puro ódio e descrença. Era muita audácia terem vindo até a minha casa para me desaforar. Caminhei em direção aos dois irmãos Salvatore ameaçadoramente. Stefan apenas me olhava sério, enquanto segurava o braço do irmão. Eu sorri. Que viesse para cima de mim. Estava por um triz para arrancar a cabeça de Damon Salvatore.


- O que eu disse a vocês nunca foi uma proposta, em que vocês tinham a opção a de aceitar ou não – Respondi em tom de ameaça.


- Do que eles estão falando, Niklaus? – Indagou Elijah. Não respondi, apenas ignorei a pergunta dele e continuei encarando os dois.


- O seu irmão está dificultando a nossa vida, como sempre – disse Stefan – Nós queremos participar das atividades extracurriculares, mas ele está nos excluindo do grupo de estudos – Ele falou com sarcasmo e isso me deixou mais puto.


- E por que isso se todos nós concordamos em cooperar? – Meu irmão chato do caralho disse olhando para mim. Eu não iria ceder – Todos sairemos ganhando se trabalharmos juntos.


- Foi o que dissemos, mas ele não gosta de amiguinhos novos. Ele é antissocial – Falou Damon com deboche e a minha vontade era de jogá-lo longe para fora da minha casa ou de queimar a cara dele na lareira. Sorri com esse pensamento feliz.


- O que essas mulas teriam a acrescentar, Elijah? – Eu disse com raiva – Só o que passa na cabeça deles é quem vai ficar com a Doppelganger. Os seus interesses são tendenciosos – Eu sorri ao ver as expressões irritadas deles. Eu tinha tocado na ferida.


- E os seus interesses são muito nobres, eu imagino – disse Stefan – Está cooperando apenas pela paz mundial – Eu apenas sorri com desdém. Eu não precisava fingir meus interesses. Todos sabiam quem eu era.


- Isso é verdade. Só pensam o que podem fazer para salvar aquela bunda covarde e sem graça da Elena – Falou Rebekah com desprezo. Bravo, little sistah. Sorri para ela orgulhoso.


- Não precisa ficar com ciúme, Original barbie, nós nunca te negamos nada. Você também já provou do nosso suco – Disse damon com tom satírico e Rebekah lançou um olhar que misturava raiva, nojo e vergonha. Que? Ela pegou os dois Salvatore? Agora sim eles estavam condenados à morte. Nenhum peguete de Rebekah sobreviveu para contar a história. Seus dias estavam contados a partir de...agora.


- Já chega – Interviu Elijah aparentemente já ficando estressado – Não tem motivos para eles não ajudarem, Niklaus – Ele falou me olhando e eu retribuí na mesma intensidade. Só podia ser brincadeira – Será de muita ajuda. Obrigada a vocês dois – Isso já era demais. Agradecimento? Eu o olhei pasmo e a minha vontade foi de chutar a bunda dele.


- Você é idiota, brother? – Eu disse entredentes, com raiva – O que te faz pensar que eles estão do nosso lado, que não vão dar um jeito de manter os amigos deles aqui e mandar toda a nossa família para o quinto dos infernos do Outro Lado se tiverem a chance? O que eles mais querem nessa vida é ver Mystic Falls isenta de Originais.


- Não tem razão para eles nos traírem dessa forma – Disse o estúpido – todos estamos no mesmo barco. Eles sabem que um passo fora da linha e estão mortos. Eu vou garantir isso - Meu querido irmão sorriu amigavelmente enquanto ameaçava os dois.


- E o que te faz achar que é você quem decide aqui, quem dá as ordens ? – falei dando dois passos na sua direção.


- A Cua está sob o meu poder, Niklaus – Ele respondeu simplesmente e eu o odiei por esse golpe baixo. Ele conseguia ser o pior.


- Talvez não por muito tempo, Elijah. Eu posso pegar de você facilmente. Como você se atreve a tentar me comandar? – Eu disse em tom de ameaça e ele me encarou com dureza. Deu um sorrisinho presunçoso que me irritou à beça. Ele achava mesmo que podia me desafiar.


- Ah, para com isso, Nik – Rebekah se aproximou de Elijah, ficando do lado dele, como sempre – Estamos tentando um acordo. Por que você tem sempre que dificultar as coisas? Eu não sei por que ainda espero algo bom de você e fico surpresa com as suas atitudes – Essa alfinetada me deixou mais puto do que eu já estava e faltava muito pouco para eu estar arrancando o coração de alguém. Apenas suspirei e encarei cada um deles com ódio, engolindo o resto da minha bebida. Ultimamente, era só isso o que eu fazia, encher a cara - Eu também não confio nesses dois, mas podemos chegar a um denominador comum. Aliás, eles não terão a audácia de conspirar contra os Originais bem debaixo dos nossos narizes. O preço a pagar será alto demais. Eu mesma serei a responsável por matar cada um deles se ousarem contra nós, Elijah não vai ter nem tempo de reagir. Vou começar pela Doppelganger - Rebekah terminou ameaçando eles com o olhar.


- Façam o que você quiserem, seus imbecis – Eu disse puto – Mas, quando a nossa família ficar em perigo, lembrem-se de que a culpa foi sua.


- A nossa família  está em perigo, Niklaus – Ele e sua burrice me responderam. Lidar com esses desmiolados era exigir demais da minha paciência. Ser o mais inteligente tem suas desvantagens. Ninguém consegue te acompanhar.


- Eu sei por onde começar e Klaus também sabe. Não sei por quê não disse nada – Falou Stefan e eu o olhei com uma sincera curiosidade. O que essa besta queria dizer? Qualquer milagre era bem vindo.


- Por onde? – perguntou Elijah.


- Pela biblioteca do professor Shane – Respondeu Stefan e eu ri. E ri alto. Gargalhei por alguns segundos, me curvando um pouco. Todos me olharam como se eu fosse louco. E eu era mesmo. Ou talvez fosse só o álcool surtindo efeito.


- Vocês realmente acham que aquele palhaço sabia de alguma coisa a respeito disso? Esperam encontrar respostas de um ritual milenar dentro de uma biblioteca banal? Faz-me rir – Eu disse enquanto tentava me recompor do meu surto.


- E por que você parece tão certo de que ele não sabia? – Falou Damon - Ele planejou tudo por meses. Estava sempre um passo largo a nossa frente.


- Céus, a doppelganger comeu o cérebro de vocês? – Alfinetei com deboche – Aquele pateta foi apenas um soldado nas mãos de Silas. Ele só sabia o que Silas passou para ele, como completar os massacres e derrubar o véu. Eu estaria disposto a apostar a minha estaca de carvalho branco se vocês descobrirem algo mais que o professor soubesse – Eu terminei com uma risadinha sádica. E eles ainda assim queriam acreditar nessa baboseira.


- Não custa nada tentar. O que nos resta? – Disse Elijah e eu revirei os olhos – Vamos até lá agora, então. Rebekah, permaneça na casa vigiando Liz Forbes.


- O que? Eu virei babá agora? – Ela disse indignada.


- Precisamos que alguém fique com ela, ora. E esse alguém vai ser você, já que não vai ter utilidade nenhuma fora isso - Falei largando o copo de whisky na beirada da lareira.


- E por que tem que ser eu?


- Não há ninguém mais indicado aqui para não ir conosco do que você – Eu disse com um sorrisinho desdenhoso.


- Eu não vou ficar de babá dessa mulher só porque você quer comer a filha dela – Ela disse me encarando com raiva. Eu olhei feio para ela diante desse comentário petulante e mais do que inconveniente na frente de todo mundo. Evitei ao máximo olhar ao redor da sala, especialmente em direção a Elijah – Por que vocês não mandam a própria Caroline vir tomar conta da mãe ou a chata da Elena ?


- Não dá, não, Original barbie – Disse Damon com tom de deboche – Quando saímos de casa, a barbie Forbes estava apagada. E Elena está nesse momento com Alaric transportando o resto do povo para a casa do lago.


- Achamos que lá os outros ficarão mais seguros – Falou Stefan.


- E deixaram a amiga de vocês dormindo lá sozinha? – Eu perguntei puto pelo o que tinham feito – Ótimos amigos. Perderam a noção das coisas? Por que não levaram ela junto?


- Não, Klausito – Respondeu Damon com deboche – A amiga chatinha do Stefan ficou com ela. Não precisa soltar vapor pelos ouvidos – Filho da puta, esse Damon.


- Não levamos porque sabemos que no minuto em que ela abrir os olhos virá atrás da mãe. Levá-la para longe só iria complicar as coisas para ela – Disse Stefan. Eu sabia que ele e Caroline eram bem chegados e, do jeito burro dele, ele achava que estaria cuidando dela. Essa informação não me tranquilizou nem um pouco. Ela ficou sozinha naquela casa com uma vampira que eu não conhecia. E eram apenas elas duas. Alvos fáceis. Será que esses dois idiotas e o resto da trupe do circo não viam isso? - Pelo menos aquelas pestes ficarão fora do nosso caminho e não vão atrapalhar – Eu disse essa verdade sem cerimônias. Mas, ainda assim me preocupava o fato de Caroline estar solta por aí sem vigília. Eu arrumaria uma desculpa para ir até ela.


- Então, já que estamos entendidos, vamos logo. Não temos tempo a perder – Falou Elijah e assim que ele terminou ouvi mais uma vez barulho de carro chegando e estacionando. Eu sorri. Dessa vez era ela com certeza.


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Caroline


Eu acordei num despertar violento. Abri os olhos de supetão me debatendo e me sobressaltando da cama como se esperasse que alguém fosse me atacar a qualquer momento. Estava num pesadelo, onde era amarrada e torturada por figuras assustadoras de lobos. Mas, quando eu via de longe Klaus vindo na minha direção me salvar, gritando meu nome, alguém enfiou uma estaca no meu peito, me fazendo arfar de dor. Fiquei ainda alguns segundos olhando ao redor do quarto de maneira exasperada, com a respiração um tanto ofegante. Só aos poucos que fui me acalmando, conforme as lembranças de algumas horas atrás passavam rapidamente pela minha cabeça confusa e eu constatava tudo agora não ter passado de um sonho ruim. Eu estava faminta, estava sem beber uma única gota de sangue e nem comia nada já fazia algum tempo. Mas, eu tinha que checar primeiro a minha mãe e isso me fez lembrar de onde ela estava. Com esse pensamento saí do quarto apressada sem nem me preocupar com mais nada. Eu não a vi desde quando fomos abordados na minha casa por aqueles híbridos infelizes e saber que ela estava na casa do Klaus não me deixava tão tranquila assim. Eu precisava saber, ver com meus próprios olhos se ela estava realmente bem como ele disse que estava. Fui até o quarto onde estava o meu "outro" corpo ver se tentava encontrar as chaves do meu carro. Ao chegar lá notei que eles cobriram o corpo com um lençol e isso me aliviou. Não queria me olhar daquele jeito novamente. Olhei ao redor e para a minha sorte todas as minhas coisas estavam em uma das mesas de cabeceira ao lado da cama. Peguei tudo e retornei ao corredor. Quando estava descendo as escadas fui parada por Lexi. Ela sorria para mim amigavelmente.


- Você está bem, Caroline? – Ela me olhava com cautela, como se eu fosse uma enferma de câncer em fase terminal.


- Sim, sim – Respondi apenas – Onde estão os outros? – Só agora eu tinha notado o quanto a casa estava silenciosa.


- Elena e Alaric levaram Matt, Jeremy e Bonnie para a casa do lago, para ficarem mais protegidos. Stefan e Damon estão resolvendo assuntos burocráticos na casa dos Originais – Ela disse animada, do jeitinho dela de sempre. Só ela para parecer feliz no meio de um apocalipse. Eu acenei em concordância e voltei a andar em direção à porta principal.


- Você está indo até lá agora? – Ela perguntou meio séria.


- Sim. Tenho que ver a minha mãe – Ela me olhou preocupada e balançou a cabeça em negativa.


- Não acho que seja uma boa ideia você sair, Caroline. Os híbridos e as bruxas ainda estão por aí. Podem estar te caçando. Você pode ligar para os Originais, insistir para trazerem sua mãe. Aproveite que Stefan e Damon estão lá – Ela disse em alerta.


- Por hora não tem nada que possamos fazer que seja realmente uma boa ideia. E Klaus não vai deixar ninguém tirá-la de lá. Só eu - E dito isso eu saí da casa. Caminhei bem depressa em direção ao meu carro, olhando freneticamente para os lados em busca de algum movimento estranho. Entrei no veículo apressadamente e arranquei com o carro fazendo os pneus cantarem. Dirigi com muita pressa, o máximo que meu carro podia aguentar. E isso me fez chegar na mansão do Klaus em pouquíssimos minutos. Passei direto pelos portões e parei bem em frente à porta principal. Saí do carro e caminhei quase correndo até a casa e entrei nela, sem nem ao menos bater na porta. A educação não era o foco da minha preocupação hoje. Passei pelo saguão deserto e peguei o corredor enquanto aprimorava a minha audição para saber onde a minha mãe estava. Se fosse necessário eu sairia dali com ela sem me dar o trabalho de pedir permissão aos donos da casa para vasculhá-la. Mas, ao que parecia isso não seria preciso, pois os encontrei na sala de star, junto de Stefan e Damon. Todos me olhavam nada surpresos, como se já me esperassem aparecer por ali. Talvez fosse porque me ouviram chegar ou talvez porque sabiam que eu iria atrás da minha mãe cedo ou tarde. Procurei pelos olhos daquele que me prometeu a segurança dela. Ele me olhava com um pequeno irritante sorriso torto naqueles lábios carnudos e vermelhos. Seus olhos verdes me encaravam intensamente, me proporcionando leves calafrios no corpo, mas ignorei tudo. Não estava com humor para flertar com ele agora.


- Klaus. Onde ela está? – Perguntei sem cerimônias, sem nem ao menos me preocupar com protocolos de boa educação social. Minha voz estava meio esganiçada e duas oitavas acima. Caminhei até ele até ficar bem próxima, esperando por uma resposta.


- Lá em cima, love. No meu quarto – Ele respondeu suavemente e eu acenei com a cabeça. Saí da sala batida sem olhar para os outros e fui em busca do local não sem antes ouvir Damon falar.


- Hum. Ela sabe onde é o seu quarto, Klausito? Pois pra mim pareceu que ela conhece muito bem.


Babaca. Não podia ver a cara dele, mas conseguia imaginar perfeitamente. Não gastei nem mais um minuto pensando nisso e foquei totalmente na minha tarefa. Subi as escadas e mais uma vez apurei meus sentidos para descobrir onde ela se encontrava. Em poucos segundos pude descobrir a sua localização. Se tratava do último aposento do corredor, uma porta dupla branca e bem alta, toda trabalhada em vidro fosco que impossibilitavam de ver algo através dele. Pus a mão na maçaneta de metal dourado muito polido e a abri. Para o fim da minha agonia ela estava ali, dormindo tranquilamente, como se nada a tivesse atingido. Olhei para o seu ombro e ele parecia perfeitamente curado. Provavelmente algum de meus amigos a fez beber sangue de vampiro. Minha mãe odiava beber sangue de vampiro. A possibilidade de virar uma parasita assassina a repudiava em alto grau. Sentei na cama e passei a mão pelos seus cabelos loiros. Ela era a única família que eu tinha e me doía saber que eu a envolvi nos atributos do vampirismo. Agora que eu podia checar com meus próprios olhos que ela estava bem, me sentia mais calma, mais esperançosa. Minha mente deu uma trégua e uma relaxada, abrindo uma brecha para eu focar em outras coisas mais leves como o ambiente ao meu redor. Me lembrei que Klaus disse que esse quarto era dele e isso me surpreendeu. Numa casa tão grande era de se imaginar que tivessem vários quartos de hóspedes e que ele não precisaria levá-la para o quarto dele. Uma decisão aleatória e inocente ou um plano secreto e maligno de me obrigar e ver o seu quarto? Avaliei o local por alguns segundos e notei que era de muito bom gosto, um gosto caro e clássico. Bem a cara do Klaus. Amplas janelas de vidro, que davam a visão para um lindo e enorme jardim, eram emolduradas por cortinas brancas, finas e leves. A janela do meio, que pegava toda a altura da parede e que tinha o trabalho talhado da madeira idêntico ao da porta, possuía um assento largo embutido. Uma lareira bem extensa de mármore branco, com um fogo quentinho crepitando no seu interior, ficava na parede perpendicular à da janela e possuía um quadro de moldura dourada na parte superior. Duas poltronas de couro preto, uma mesinha de centro de madeira escura, tal como o piso, e um tapete felpudo bege descasavam em frente à lareira. No outro canto da lareira, havia também uma porta alta e branca igual a da entrada do aposento. No centro do quarto, paralela às janelas e de frente para a lareira, se encontrava a cama, que era larga e macia, decorada por uma colcha bege bem grossa de lancaster e travesseiros de plumas cobertos por fronhas de cetim também bege. Em cada lado da cama havia uma mesinha de cabeceira de madeira escura com um grande abajur de metal. E na parede em frente à cama havia uma grande televisão embutida acima da lareira e uma estante de vidro ao lado com alguns objetos decorativos e um telefone sem fio. E nas paredes possuíam alguns quadros muito fantásticos, alguns dos quais eu desconfiava que o próprio Klaus pintou, pois lembrava o seu estilo de desenho. Eu sabia bem pois muitas vezes ele me obrigou a olhar as suas obras. A beleza estonteante do quarto me encantou. Era de se imaginar que o quarto do dono da casa seria tão bonito quanto o resto dela. Mas, aquele aposento era o mais belo que eu já tinha visto naquela mansão. Tinha uma beleza a mais e isso seriamente me surpreendeu. Não fazia muito sentido aquele quarto de realiza ser da posse de um animal bem longe da delicadeza que era o Klaus. Mas, sabe, quando ele esquecia a violência, conseguia me passar essa suavidade e ser equiparado à sofisticação desse quarto. Meus devaneios foram interrompidos justamente pela chegada daquela criatura. Ele entrou no quarto em silêncio, me olhando profundamente e por alguns instantes eu fiquei presa naquele olhar intenso. O verde brilhava de forma enigmática. Ele era um perigo para mim, em todos os sentidos.


- Ela está perfeitamente bem, love, como você pode ver – Ele disse com a voz um tanto baixa, provavelmente para não acordá-la – Não tem nada com que se preocupar.


- Não estou mais preocupada – Respondi simplesmente. Tentando recolocar a barreira entre nós, aquela que deixei cair algumas horas atrás. Isso não passou despercebido para ele. Eu estava muito vulnerável e sozinha. O afeto dele caiu como uma luva, mas eu não poderia deixar acontecer de novo. O problema é que eu gostei de cada minuto perto dele daquele jeito. Só de lembrar do seu cheiro, do seu toque, eu ficava acesa. Olhei instantaneamente para aquela boca perfeita e desviei o olhar. NãoCaroline!


Klaus e Caroline


- Fico feliz em saber – Eu disse para ela me esforçando para que  soubesse que era verdade, além de esconder que a frieza dela me feria. Eu estava realmente feliz em ver a humana bem, porque isso significava que Caroline também ficaria bem – Você gostaria de algo para comer? Deve estar faminta. Não come faz várias horas – Ela estava com os cabelos charmosamente meio bagunçados e meio pálida, certamente pela falta de sangue. Mas, eu não ofereceria sangue diretamente, ela poderia se ofender. Principalmente porque a minha fonte de alimentação era diferente da dela.


- Sim, obrigada. Pode ser qualquer coisa, embora eu prefira uma bolsa de sangue – Eu respondi com alívio e alegria. Aquela oferta vinha em muito boa hora.


- Posso mandar providenciar, pois você deve saber que prefiro a refeição da fonte – Eu disse sorrindo sadicamente e me arrependi no instante seguinte. Ela me olhou com uma mistura de nojo e indignação, o que não eram os sentimentos que eu gostaria que ela direcionasse a mim.


- Se não tiver não tem problema – Eu respondi um tanto áspera – Eu pego alguma quando eu voltar para a casa do Stefan.


- Ah, isso não vai ser necessário – Eu levei um pequeno susto com a aparição de repente daquela voz. Elijah entrou no quarto e sorria para mim com gentileza. Klaus apenas olhou para ele com surpresa e raiva ao mesmo tempo. Doido – Embora Niklaus não possua, eu tenho um pequeno estoque de bolsas de sangue guardado no porão.


- Ah, mas, é claro que você tem – Eu respondi com sarcasmo para o meu irmão mais velho – Como um verdadeiro rei da chatice é claro que você tem – Ele apenas me olhou com o rosto impassível e retornou para Caroline.


- Vou até lá buscar para você e volto em breve – Elijah me disse com muita sutileza – E também mandarei trazer comida humana, para você e sua mãe – Ele sorriu ao dizer e isso e saiu do quarto, dando uma olhada demorada e significativa para Klaus. Me pareceu um alerta silencioso. Esses dois não param nunca de se desentenderem e a culpa era sempre do Klaus, é claro. Ele me olhava sério e isso já estava me deixando desconfortável. Resolvi falar alguma coisa para cortar aquela tensão. Tagarelar quando estava nervosa era uma especialidade minha.


- O seu quarto é muito bonito – Argh, Seriously. Eu tinha que falar logo isso.


- Você gostou? Pode ser seu também se você quiser. A casa inteira – Eu respondi para ela com muita diversão. Ver a cara de incrédula dela era impagável. Confesso que dizia isso só para perturba-la, pois tinha seu charme. Mas, a minha proposta era real.


- Não, obrigada. Eu gosto mais da minha. Tem mais amor – Eu falei para esse abusado lhe enviando o meu melhor olhar de desprezo.


- Você teria gostado de viver na época dar alguns dos móveis daqui. Século XVIII, para ser mais exato – Eu disse, ignorando a alfinetada – A mobília e os tecidos eram impecáveis e bem trabalhados. As mulheres eram bem arrumadas e muito bem educadas – Eu falei um tanto nostálgico, me lembrando de algumas coisas interessantes que vivi naquela época.


- Não sei se eu iria gostar do espartilho. E nem da falta de liberdade das mulheres. Deve ser por isso que elas eram muito educadas. Não podiam falar o que pensavam – Eu respondi sorrindo, me esquecendo totalmente de manter a barreira erguida. Eu gostava de vê-lo falar dos seus gostos particulares, das coisas que ele já vivenciou em todos os seus séculos de vida. Era um dos poucos momentos em que ele virava outra pessoa. Deixava de ser o Klaus assassino e se tornava o Klaus culto, suave e até mesmo humanizado. E era tão sexy quando ele sorria viajando nas suas lembranças de aristocrata.


- Eu também duvido disso, mas, era o espartilho que deixava as jovens com aquelas curvas incríveis. E a liberdade, eu sei que você se faria ouvida de um jeito ou de outro. Sempre tem aquela figura notável que chega para quebrar os paradigmas  sociais e eu consigo enxerga-la em você perfeitamente – Eu disse a provocando. Ela me olhou e revirou os olhos, balançando a cabeça em sinal de censura, mas continuava sorrindo. Então, meus pensamentos foram desviados para outra coisa – Você ficará aqui com a sua mãe por algum tempo? A essa altura, já deve ter notado que está sem opções – Perguntei sem disfarçar nem um pouco o quanto que eu queria que ela dissesse sim.


- Não, claro que não. Que absurdo. Vou ficar até ela acordar e depois vou levá-la para casa – Respondi como se aquilo fosse muito óbvio e a pergunta dele idiota demais.


- Você perdeu a noção do perigo, foi isso? – Eu falei com aspereza e ela me olhou carrancuda.


- Eu não vou ficar hospedada na sua casa se é o que você está sugerindo. Você não percebe o quão sem noção é esse pedido? Nós não temos essa...intimidade. E imagine o que Tyler pensaria ou faria – Disse a ele no seu mesmo tom e o olhei com firmeza. Me levantei, para não falar tão perto da minha mãe, e me aproximei dele lentamente - Às vezes você não se toca.


- Pode ser. Mas, eu poderia te hipnotizar para você ficar – Falei para ela com um sorrisinho torto divertido e ela me olhou feio.


- Poderia, mas, não vai. Eu te desafio a tentar – Disse sem nenhuma delicadeza. Ela cruzou os braços e me encarou de perto. Adorava quando ela fazia isso. Seus olhos entravam em chamas todas às vezes que ela brigava comigo e era lindo de vê-los.


- O que te faz pensar que eu não faria isso? – Perguntei um pouco irritado, me aproximando mais dela. Ela estava duvidando da minha força, do meu poder. Meu coração palpitou mais freneticamente só com a sua proximidade. Sua testa estava enrugada, numa clara indignação. Eu sorri, pois adorava aquela cara de irritada que fazia. Era bonitinha e fofa. Que vontade que me deu de puxa-la pra mim.


- Você não faria isso comigo. Porque eu jamais te perdoaria. Você mesmo me disse ontem que a hipnose é uma especial de agressão – Respondi para ele com simplicidade. Eu não sei quando fiquei confiante assim em relação a ele, mas eu sabia que ele jamais faria algo assim para mim. Ele pestanejou um pouco, um tanto chateado. Passou a língua nos lábios e automaticamente desviei minha atenção para eles. Aquele desenho perfeito me deu vontade de tocá-los só para constatar se eram tão macios quanto eu pensava. E seu rosto contraído me fez lembrar de ontem, da sensação de paz e de conforto que senti ao estar envolvida por ele. Era estranho, mas ele me passava uma certeza de seus sentimentos que acabavam com qualquer insegurança que eu pudesse sentir.


Isso me pegou de surpresa, num golpe forte e imprevisível não vi isso chegando. Eu estava mais irritado por saber que ela tinha perfeita certeza de que eu não faria isso com ela. Isso significava que, de alguma forma, era ela quem tinha poder sobre mim. Ficamos nos encarando durante alguns segundos, num embate silencioso, até sermos interrompidos por Elijah, que voltava ao quarto trazendo duas bolsas de sangue para ela. Revirei os olhos. Ele não poderia ser mais intrometido e inconveniente.


- Aqui – Ele disse entregando para ela – Já mandei alguns empregados ficarem à disposição de vocês duas.


- Obrigada, Elijah – Eu disse sorrindo para ele enquanto pegava o sangue e olhei novamente para Klaus. Ele estava sério e impassível. Eu não soube distinguir os seus pensamentos. Ele olhou carrancudo para o irmão e saiu do quarto batendo a porta. Isso fez a minha mãe se remexer um pouco na cama, mas, não chegou a acordar. Elijah olhou para e porta e depois para mim, com um pequeno sorriso não muito bem disfarçado que eu não entendi por quê.


- Bem, penso que Niklaus tem razão. Vocês deveriam ficar – Ele falou me olhando gentilmente.


- Você sempre ouve as conversas dos outros? Não é a primeira vez que você escuta minha conversa com seu irmão atrás da porta – Perguntei, não queria ser grossa com alguém que estava sendo tão gentil comigo, mas não pude evitar a pergunta. Ele nada respondeu, apenas me olhou se desculpando em silêncio.


- Se você não quer, não podemos te obrigar, logicamente – Ele falou e eu acenei com a cabeça em concordância. Lógico – Mas, faça porque você quer, não porque você apenas quer contrariar Niklaus. Me pareceu que você gosta de desafiá-lo. Você contraria ele de propósito – Fiquei de boca aberta com esse comentário absurdo dele.


- Não quero ficar porque quero contrariá-lo. Não vou ficar porque não acho nem um pouco sensato e bom eu ficar na casa dele. Que ideia mirabolante – Respondi com aspereza - Todas às vezes que der merda na cidade eu vou correr pra cá? E por que? Nem tenho tanta intimidade com a sua família assim.


- E por que você pensa assim? – Argh. Elijah era meio impossível - Você e Niklaus parecem um pouco...entrosados. Não são amigos? Tudo bem que andaram discutindo, mas parece mais complicado que isso...


- Você não tem prestado muita atenção nos últimos meses do seu irmão em Mystic Falls? Ele é um sádico louco e violento. Não quero ficar no castelo de sadismo do Drácula – Tentei desviar um pouco das suas desconfianças. Falei o que eu estava realmente pensando, embora me senti um pouco culpada pelo o que eu disse. Elijah não merecia a minha grosseria. E Klaus não tem sido tão ruim ultimamente. Ele até melhorou um pouco, isso eu tinha que admitir. Pelo menos comigo ele não cruzava certos limites. Ele me olhou com tristeza e suspirou pesadamente, aparentando estar um pouco cansado. Ele se aproximou mais de mim e disse:


- Niklaus nem sempre foi assim – Ele disse enquanto passava uma das mãos pelo queixo, distraidamente – Antes do vampirismo nos atingir, Niklaus era um dos homens mais honrados e gentis que eu já havia conhecido. Eu admirava de uma forma que beirava à devoção – Eu olhava fixamente em seus olhos escuros e via verdade neles, mas, também muita agonia. Não consigo nem imaginar como deve ser existir por mais de mil anos e se esquecer de quem um dia você já foi, da sua essência – Ele era muito apegado a cada um dos irmãos, mas me atrevo a dizer que ele possuía os seus favoritos. E um deles era o nosso irmão caçula, Henrik. O menino o amava muito e o sentimento era recíproco – Ele dizia e gesticulava com as mãos, algumas vezes parecendo perdido no tempo, com o olhar bem longe, a mente há mil anos de distância daqui, embora estivesse falando do mesmo lugar – Niklaus fazia tudo pelo garoto. Não havia nada que Rik pedisse que ele não estivesse de prontidão para fazer. E foi dessa forma que aconteceu uma das piores tragédias da nossa família – Ele possuía dor nos olhos e me compadeci desse homem, que era bem diferente dos outros irmãos – Niklaus era aventureiro como qualquer outro jovem e nem sempre as suas atividades eram sensatas, porém nunca foram de cunho maligno. Pois, como eu disse, ele era um homem bom. Numa noite ele foi assistir a um clã de lobisomens se transformarem. Meu irmão passou a ter uma fissuração por esse povo que eu não entendia. Até discutíamos sobre isso. Só depois da sua primeira transformação que tudo fez sentido. Mas, enfim, Rik pediu que o levasse junto numa dessas escapadas perigosas. É claro, você deve imaginar, que ele fez a vontade do irmão. A princípio, não permitiu a presença de Rik, mas depois deixou o garoto ficar e isso foi fatal. Infelizmente houve um acidente e Rik foi morto por um dos lobisomens do grupo. Na época ele era apenas uma criança inocente – Não pude evitar o choque e a tristeza que essas palavras me causavam. Nunca soube de nada disso – Bem, é de se esperar o peso da culpa que sobrecaiu nos ombros de Niklaus. Ele nunca se perdoou pelo o que aconteceu, passou anos se culpando depressivamente pelo o que houve com o irmão. E me atrevo a dizer que esse fantasma ainda assombra seus pensamentos, ele apenas não deixa transparecer. Até hoje acredito que ele gosta de se punir. Um auto flagelo que o faz ir em direções autodestrutivas. Ele acha que não merece ser feliz, eu vejo – Eu não disse nada diante dessas revelações. E nem havia o que dizer. Nada mudaria aquela história de desgraça. Apenas fiquei olhando para Elijah, imaginando a dor que eles sentiram, especialmente Klaus e eu percebi o quanto aquela criatura foi ferida e respondeu ferindo os outros.


- Eu sinto muito – Ele sorriu para mim gentilmente de forma agradecida - O que houve depois? – Perguntei, muito curiosa para saber mais sobre o passado dele, sobre a vida humana e pura, bem longe dos seus pecados provenientes do vampirismo. Klaus às vezes me dava alguns deslumbres desse homem e em todas elas me senti mais conectada a ele. Por isso, me peguei desejando conhecer mais dele para que eu encontrasse desculpas para justificar meus desejos estranhos.


- Ah, tentamos seguir em frente da maneira que sabíamos, o que não deu muito certo, como você deve ter notado. Nosso pai reagiu da pior forma possível e obrigou nossa mãe a fazer um feitiço especial, nos tornando imortais. E assim começou o vampirismo como você o conhece – Ele falou isso dando um meio sorriso triste. Eu apenas não insisti mais nesse assunto. Não queria fazê-lo lembrar de mais coisas dessa história horrível – Bem, como nossas idades são próximas, você deve imaginar que crescemos muito unidos. Nós dois fazíamos tudo juntos. Cavalgando, caçando, explorando o território da aldeia, guerrilhando e flertando com as moças das campinas – Ele riu divertido e eu sorri – Estávamos sempre grudados e éramos confidentes um do outro. Penso que o único páreo para nós dois era Niklaus e Rebekah – Ele sorriu carinhosamente ao dizer isso – Ele era gentil e amável com a irmã. Tão atencioso e carinhoso com ela como era com Rik e ela o idolatrava. O seguia para onde ele fosse, o tomava como referência. E isso era um fator universal naquela aldeia. Niklaus era bem visto pelo seu bom caráter, honra e como um grande guerreiro. Seu manejo com espadas e cavalos eram impressionantes e Rebekah ficava tão encantada com ele como qualquer outro naquele vilarejo. Bem, ela também era sua favorita. Ele bem demonstrava o seu favoritismo por ela de muitas formas. Ela estava sempre do lado dele, em qualquer circunstância. Muitas vezes ela enfrentou o nosso pai para ir ao favor de Niklaus, mesmo quando eu me acovardava e deixava meu irmão sucumbir diante da cólera de Mikael. Nem sempre eu tinha coragem de defender o meu irmão, ficava com medo de nosso pai e recuava, deixava ele sofrer. Mas, ela não. Ela muitas vezes livrou Niklaus de surras terríveis que ele receberia injustamente e, em alguns casos, apanhava junto dele – Eu ouvia aquela história como se ela fosse surreal, como se não pertencesse àquelas pessoas que eu conhecia hoje. Pois não havia nenhuma semelhança entre o caráter das personagens e essas criaturas que chegaram na minha vida. Parecia o conto de outros seres – Mikael sempre desconfiou da infidelidade da nossa mãe e de que Niklaus não era filho dele. E por causa disso ele descontava toda a sua raiva e frustração em cima do meu irmão. Não havia um minuto em que ele não estivesse atormentando Niklaus. Algumas vezes de maneira cruel. Ele desprezou e torturou o próprio "filho" inúmeras vezes e, como eu disse, nem sempre eu tive coragem de intervir e protegê-lo. Mas, Rebekah teve. E isso contribuiu diretamente para Niklaus e Rebekah ficarem muito unidos também, tal como nós dois. E a nossa mãe, que supostamente deveria nos proteger, permitia que tudo acontecesse apenas para encobrir as suas indiscrições. Ou talvez tivesse medo de ser morta pelo marido – Eu o olhava com pena. Se de fato aquilo era verdade, eu estava certa ao desconfiar de que Klaus era daquele jeito porque foi ferido. Antes eu não sabia como, quando ou por quem, só desconfiava, pois muitas vezes a sua dor era transmitida através de códigos, como suas pinturas. Mas, agora tudo fazia sentido - Deve imaginar que Finn ignorava por completo a existência dos problemas da nossa família, talvez por medo, e Kol era novo, louco e imaturo demais para perceber ou se importar com certas coisas. Algumas vezes ele esteve do nosso lado, era próximo de nós, mas, não foi sempre que ele nos apoiou. Por ser o mais novo, ele não sabia direito como lidar com nosso pai e se escondia quando as coisas se complicavam.  Mas, sabe, não o culpo. Os infortúnios da vida aproximaram demais nós três. Isso, é claro, foi antes da nossa mãe ter nos transformado.


- Eu não fazia ideia de nada disso. Nunca soube de muitas coisas que aconteceram com vocês – E nem haveria como. Era muita informação acumulada. Informações essas que foram abafadas no meio de tanta desgraça envolvendo a chegada dessa família quebrada. Mas, saber disso me fez ficar em xeque. Esse Klaus era totalmente diferente do que eu conheci hoje. Não. Isso não era bem verdade, eu tinha que assumir. Algumas vezes ele possuía o deslumbre desse Klaus honrado e carinhoso, eu podia ver, eu sabia disso. E ele transmitia isso pra mim, me fazia sentir esse lado dele com muito cumplicidade e transparência. Só não queria admitir para mim mesma, porque fazer isso significaria quebrar o muro entre nós que eu fiz tanta força para construir. Um muro que me protegia de mim mesma, dos meus próprios desejos sombrios. Eu sabia que se abrisse meu coração para decifrar Klaus e deixasse-o entrar, poderia ser um caminho sem volta.


- E nem poderia, Caroline. Você não deixa Niklaus nem falar – Elijah me jogou isso na cara e eu quis ficar irritada. Mas, não pude. Ele estava certo. Mas, também ele não podia me culpar por isso. E nem era direito dele se meter num assunto alheio.


- Por mais sofrida que tenha sido a vida do seu irmão, você não pode negar que isso em nada justifica o comportamento monstruoso dele – Respondi calmamente, me esforçando para não usar o meu costumeiro tom acusador - Não da pra usar a desculpa do bastardo maltratado para sempre. Uma hora seu irmão vai precisar enfrentar seus fantasmas e as consequências dos seus atos. Passar a mão na cabeça dele não o fará melhor, apenas dará mais espaço para ele ser cruel.


- Isso é verdade, sei disso. Só estou dizendo que não existe somente a parte cruel, também existe uma parte boa, pois esse era o seu ímpeto original. Niklaus não possuía um traço sequer de maldade quando era humano. Eu mesmo era mais dissimulado que ele. Tenho muita fé que o meu verdadeiro irmão não sumiu para sempre. Que existe alguma parte dele ainda viva – Ele falava com confiança e ternura que me amoleceu um pouco. Ou talvez tenha sido tudo o que ele me disse que fez baixar a guarda – E para uma pessoa conhecer a outra, ela precisa dar abertura para que isso seja possível – Ele me olhava de maneira penetrante e isso, somado às suas últimas palavras, me fizeram perceber o que estava óbvio, estampado na cara dele e eu não notei. Ele já descobriu sobre os supostos sentimentos do irmão por mim e isso me incomodou um pouco. Ele me contou tudo isso porque realmente quis compartilhar ou estava tentando me manipular, tentando me fazer ser mais flexível com o irmão? Eu não queria pensar que o honrado Elijah seria capaz de um golpe sujo como esse, mas havia essa possibilidade. Ele ainda era um Original com as mesmas tendências sociopatas que os outros. Eu iria perguntar quando ouvi um barulho ao meu lado e notei que a minha mãe estava se mexendo e prestes a voltar à consciência.


- Bem, vou dar privacidade a vocês. Não quero ser inconveniente – Ele falou e eu quis responder que ele já havia sido inconveniente demais. Mas, me calei. Porque sabia que essa vontade era apenas fruto da minha raiva. Eu sabia que tratá-lo dessa forma seria, no mínimo, injusto. Ele me olhou de maneira gentil, acenou com a cabeça e saiu do quarto. Então, voltei a minha atenção para a minha mãe. Enquanto ela continuava se remexendo e acordando devagar, minha mente divagou um pouco para as últimas palavras dele.


Eu sabia que algumas vezes fui muito dura com Klaus. E não era para menos, ninguém poderia dizer que eu não estava na minha razão. Mas, ter feito essas descobertas me fez ponderar sobre algumas ações minhas e olhar as coisas sob novas perspectivas. Talvez existisse mesmo uma parte boa naquele coração gelado, afinal de contas. E eu não poderia renegar e fingir que nada aconteceu até agora. Não seria justo eu virar o rosto para o outro lado e ignorar todas as coisas boas que ele havia dito e feito por mim. E, sendo honesta comigo mesma, indo lá no fundo e abrindo as portas para deixar todos os sentimentos de que eu tinha medo que escapassem, era um fato absoluto que eu me sentia atraída por ele. Me sentia tentada em deixá-lo se aproximar de mim e ver quais seriam as consequências disso. Queria conhecer mais as suas outras faces, adentrar mais nas suas camadas escondidas. Queria dar a ele a chance de provar seu valor e mostrar o que ele tinha de bom e de melhor. Porque eu também tinha a mesma fé que Elijah. Também acreditava que havia uma parte bondosa e humana nele. Em várias ocasiões eu havia me surpreendido pensando em esquecer todas as coisas ruins que ele já fez, em perdoá-lo e começar do zero.


Qualquer um que é capaz de amar é capaz de ser salvo.


Essa conclusão ainda retumbava na minha mente, pois fui absolutamente sincera naquele dia. Não pronunciei essa otimistas palavras apenas para manipula-lo a me salvar. Eu já tinha notado algumas tendências mais brandas e altruístas dele e queria que ele soubesse que eu estava prestando atenção. E, claro, ele também me analisava de perto, pois parecia ter lido com maestria minhas tão bem escondias más intenções em relação a ele. Às vezes me jogava umas verdades na cara e umas indiretas difíceis de desviar com sagacidade. Ele sabia fazer uma leitura de mim tão plena e legítima que me assustava.  Naquele dia na clareira, antes de eu matar terrivelmente doze bruxas, ele me alfinetou mais uma vez, só que mais profundamente. E eu devolvi do jeito que eu sabia fazer de melhor, me fechando e desviando do assunto acusando ele de algum crime mesmo que indiretamente.


Então, você nunca achou atraente quando se trata de alguém que é capaz de fazer coisas terríveis, mas por alguma razão se importa apenas com você? - Ele parou de andar e se virou me encarando com intensidade.


- Eu senti uma vez quando pensei que valia à pena - Devolvi a alfinetada. Ele me olhou com surpresa e um pouco mexido - Mas, acontece que algumas pessoas não podem ser consertadas - Ele pareceu decepcionado - Pessoas que fazem coisas terríveis são apenas pessoas terríveis - Me senti presa ao seu olhar, até que ele quebrou nosso contato.


E logo em seguida eu fiz uma coisa terrível apenas para salvar minha amiga. Mas, eu não era uma pessoa terrível. Então, a partir daquele dia eu parei de julga-lo com tanta veemência. Me controlei mais e abri mais espaço para ele. Aquele dia foi um divisor de águas na nossa relação passivo-agressiva, pois percebi que nem tudo era preto ou branco. Será que seria tão inconsequente dar mais brecha aos meus conflituosos sentimentos?


Mas, todas às vezes que eu pensava nisso eu me lembrava do passado, de todas as vidas que ele destruiu. E havia Tyler. Como eu poderia jogar tudo isso para o ar, como se não fosse nada, e mergulhar num relacionamento com um serial killer que tinha a alma podre de pecados por pagar? Eu não poderia simplesmente ignorar os meus sentidos, os meus princípios só porque eu desejava esse louco problemático. Porque só agora eu tinha coragem de pensar abertamente, não falar. Falar não mesmo. Que eu desejava ele e adorava o jeito como ele me tratava. Gostava de ter a minha penugem amaciada, como Silas, na forma do Klaus, uma vez disse e acertou em cheio. Mas, não apenas gostava de ser apreciada, eu gostava de ser apreciada por ele. Me sentia tremendamente especial ser tão cortejada pelo híbrido original extremamente difícil de agradar. E eu sentia muita curiosidade e vontade de saber como seria dar vazão a todos esses sentimentos. Eu sentia vergonha em admitir, mas, o meu coração havia sim sido atraído pelas trevas. Nunca tinha deixado a minha covardia de lado para ser franca comigo mesma porque eu tinha medo. Não medo dele. Mas, de mim mesma. Eu era a rainha do auto-controle, mas quando se tratava de Klaus, eu caía em contradição o tempo todo. Ele me arrastava para os seus devaneios e se eu não tomasse muito cuidado, iria escorregar na desgraça facilmente. Porque eu também queria ele. Também desejava me entregar completamente ao fogo consumidor do inferno e ficar com o diabo. E Dentro de uma concepção racional do nosso contexto de vida, esse desejo era insano. Mas, era o meu desejo.


 



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Autor(a): anajadde

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

Prévia do próximo capítulo

  Caroline Eu estava completamente absorta em meus pensamentos que tinha esquecido da presença da minha mãe. Ela praguejou uma tosse rápida e isso me fez sobressaltar. Imediatamente direcionei a minha total atenção para ela, me esforçando em varrer para longe da minha cabeça todos os meus pensamentos inapropriados e s ...


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