Fanfics Brasil - Capítulo 8 - Broken Hearts Scarlet Dynasty - Klaroline

Fanfic: Scarlet Dynasty - Klaroline | Tema: The Vampire Diaries e The Originals


Capítulo: Capítulo 8 - Broken Hearts

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Caroline


Eu estava completamente absorta em meus pensamentos que tinha esquecido da presença da minha mãe. Ela praguejou uma tosse rápida e isso me fez sobressaltar. Imediatamente direcionei a minha total atenção para ela, me esforçando em varrer para longe da minha cabeça todos os meus pensamentos inapropriados e sujos. Eu voltaria a lidar com eles mais cedo ou mais tarde, desejando muito que fosse bem mais tarde. Respirei fundo e cansada enquanto esperava ansiosamente que ela abrisse os olhos e assim ela o fez. Passei a mão sobre os seus cabelos enquanto ela lutava para adaptar a sua visão à luz forte que vinha de uma das janelas. Me levantei rápido para fechar as cortinas e me dirigi de volta até à cama. Ainda um pouco confusa e lenta, ela finalmente parecia estar recobrando a consciência. Ela olhou ao redor do quarto até que pousou seus olhos sobre mim abrindo um pequeno sorriso fraco e eu prontamente retribuí.


– Oi, mãe - Eu disse com a voz baixa e suave, um pouco emocionada de vê-la. Só Deus sabe o medo que senti de perdê-la. Eu não saberia como seguir em frente sem ela na minha vida. Eu tinha plena consciência de que ela não duraria para sempre, mas eu preferia não pensar nisso e fingir que nada iria mudar. Talvez pudesse até convencê-la de virar vampira, numa improvável possibilidade.


– Oi, minha filha. Como você está? Você está curada? - Ela me perguntou já começando a ficar agitada, arqueando ou pouco o tronco numa nítida tentativa falha de se levantar. Eu rapidamente coloquei as minhas mãos em seus ombros e a forcei voltar a deitar.


– Eu estou perfeitamente bem, não se preocupe - Falei sorrindo carinhosamente para ela, a fim de despreocupá-la. Achei melhor deixar de fora a "historinha" da minha adorada morte, pelo menos por enquanto.


– Sei bem disso - Ela disse e mesmo com a voz embargada, deu para notar a ironia contida nela - A última vez que eu te vi você estava cheia de buracos no corpo com veneno de lobisomem, praticamente morta - Eu engoli em seco. Ela não fazia ideia do quão próximo da realidade suas palavras chegaram.


– Besteira, mãe. Estou pronta para outra – Falei dando uma pequena gargalhada falsa e pondo o meu melhor sorriso no rosto. Ainda poderíamos virar esse jogo e a pouparia de preocupações desnecessárias – Klaus me deu o sangue dele e ficou tudo bem comigo – Menti na mais perfeita cara de pau. Eu deveria ser atriz e deixar pra lá a ideia de fazer jornalismo – E Elena te deu sangue de vampiro. Assim você ficou com o ombro totalmente curado.


– Hum – Ela grunhiu ainda meio desconfiada e a contragosto – E por que eu sinto como se a minha cabeça tivesse sido arrancada e posta de volta no meu corpo? – Ela perguntou enquanto colocava as duas mãos em volta da têmpora e fechava os olhos os apertando com força.


– Também te deram sedativo, deve ser isso – Eu disse – Aparentemente sedativo e sangue de vampiro não fazem uma boa combinação. Vou anotar essa – Falei rindo com sinceridade e ela sorriu de volta abrindo os olhos e me dando um olhar divertido de censura. Então, ela parou de sorrir e girou seus olhos avaliando e local.


– Sedativo, por que?


- Acho que o trauma do ataque já é razão o suficiente, não? - Tentei desconversar. Ela pareceu engolir a desculpa. O motivo real era seu surto ao me ver morrendo.


- Onde estamos, Caroline? Não parece com a casa de Stefan. Não é tão escuro... – Ela perguntou enquanto continuava a fitar o ambiente. Eu apenas me preparei para responder, porque com certeza ela ficaria no mínimo surpresa com a reposta. Senão, até chocada. Klaus não era bem o favorito da vizinhança.


– Na casa dele, do Klaus – Eu respondi meio amuada, com a voz baixa, mas tentando fazer a nossa estadia naquela casa o mais natural possível. No que, obviamente, eu iria falhar com maestria. E eu estava certa. Ela me olhou com choque e balançou a cabeça em negativa, como se não entendesse ou não quisesse acreditar.


– E o que, pelos sete infernos, nós estamos fazendo na casa desse homem, Caroline? Você perdeu o juízo? – Ela disse calma, porém com a voz transbordando acusação e desapontamento.


- Me trouxeram aqui para esperar Klaus chegar e me curar e você veio atrás gritando. Não se lembra de nada? Até te apagarem, claro.


- Hum, realmente não me lembro. Pensei que fomos para casa dos Salvatore.


- E fomos, mas depois tudo mudou. E estamos tendo sérios problemas com o mundo sobrenatural, mãe – Eu falei um pouco afetada com as suas palavras – Você ficar aqui por algumas horas foi a melhor forma que eu achei para te proteger - Eu não diria que a brilhante ideia foi do Klaus - Klaus e Elijah estão nos ajudando. Até Rebekah ficou aqui enquanto você dormia. Não é tão horrível quanto parece – Eu falei isso com o intuito de que ela visse que eles não eram tão loucos assim, que eles estavam nos fazendo muitos favores.


– Ficar na casa desses assassinos foi a sua melhor ideia? – Ela disse incrédula – Por Deus, Caroline! Você já se esqueceu de tudo? – Ela me perguntou com a voz e a expressão pasma, enquanto se levantava da cama. Eu tentei impedir, mas ela se desviou. Não me atrevi a fazer mais nada, porque ela estava meio certa, mas só meio. Mas, então, ela sentou de repente na cama, com as mãos na cabeça e de olhos fechados.


– Elijah não tem nada a ver com o que Klaus e os outros fizeram aos nossos amigos. Ele está tentando nos ajudar bastante – Eu disse já um pouco com raiva.


– Eu não pedi a ajuda de nenhum desses Originais – Ela se levantou devagar, se segurando em qualquer coisa para não cair. Fui até ela para ajudá-la a se mover – E que problemas são esses com o mundo sobrenatural? – Ela perguntou se virando para mim e me olhando séria.


– Bonnie não conseguiu pôr o véu no lugar e todos os sobrenaturais mortos estão no mesmo plano dos vivos. As pessoas que nos atacaram estão nesse meio. E ainda tem Silas – Eu disse bufando e ela arregalou os olhos, abrindo a boca em choque – Você deve imaginar o quanto isso afeta Mystic Falls – Ela balançou a cabeça em afirmativa e sentou na cama ou terá vez, talvez deixando de lado por alguns instantes as suas diferenças com a família Original.


– Eu não pretendia ser ingrata, apenas não consigo esquecer certas coisas. Jenna, Carol... – Ela disse e eu apenas fiquei quieta e sentei ao seu lado.


– Eu também não consigo, mas, por enquanto, as coisas estão ruins e eu vou aceitar a ajuda deles, talvez não tão radical quanto te deixar aqui, mas em alguma coisas eles vão servir – Ela me olhou e suspirou. Certamente ponderando sobre o que é fácil e o que é certo.


– Por que exatamente Elijah quer te ajudar? – Ela perguntou curiosa – Por que ele? Vocês são amigos ou algo assim e eu não sabia? – Ela falou com malícia e eu entendi o que ela insinuava. Eca!


– O que? Não! Argh, seriously! – Eu respondi sacudindo a cabeça em exasperação, horrorizada com essa sua ideia mirabolante – Não somos nem perto de amigos. Klaus mandou ele nos ajudar – Menti outra vez. Melhor isso do que deixar algum dúvida na sua cabecinha delirante quanto a Elijah. Minhas palavras fizeram sua cara mudar rapidamente de expressão. Ela não era a líder do fã club de Klaus e isso era muito nítido.


– Eu sei como as coisas fincionam. Ele faz algo pra mim e eu tenho que fazer algo em troca. É como fazer pacto com o diabo – Ela falou séria.


– Não é bem assim, mãe. Eles não querem nada – Eu disse tentando fazê-la entender – Eles estão tão fodidos quanto nós – Ela me deu uma breve olhada feia pelo meu palavreado, mas eu não me importaria com isso agora.


– Bem, eu quero ir para casa. Vamos logo – Ela disse isso se levantando novamente da cama, enquanto pegava as suas coisas que estavam sobre a mesinha de cabeceira. Notei que ela ficou pálida, com uma cara de enjoo.


– Você não quer nem comer ou tomar banho primeiro? – Eu perguntei me levantando também.


– É melhor não. Estou com pressa. Fora de cogitação eu usufruir de serviços de quarto desse lugar, né , Caroline. E quero verificar as coisas na delegacia – Ela me disse sem me olhar, porque, certamente, ela já sabia qual seria a minha cara diante desse absurdo. Eu cruzei os braços e falei:


– Você vai fazer o que? Não entendeu nenhuma palavra do que eu disse? – Eu falei já um pouco exasperada. Minha mãe era maluca.


– Se as coisas estão em tanta desordem, a polícia deve fazer algo. No mínimo precisam de mais gente para ajudar – Ela falou como se aquilo fosse óbvio e eu muito burra por não saber.


– E o que você espera que a polícia vá fazer contra um bando de vampiros, lobisomens e bruxas? – Eu falei pasma.


– Caroline, eu sou parte do grupo que deveria proteger essa cidade, parte do Conselho. Não vou ficar deitada recebendo comida na cama enquanto ela é destruída – Ela disse se virando para mim e com firmeza na voz, me mostrando que não iria mudar de ideia. Mas, eu era a rainha da teimosia.


- Pelo menos você deveria esperar alguns dias para se recuperar completamente - Respondi incrédula.


- Um dos poucos artifícios que prestam do sangue vampírico. Te deixa nova em folha em poucas horas, você sabe - Quando eu ia reabrir a boca para rebater, a porta se abriu.


Elijah mais uma vez aparecia sem ser chamado. Como ele é cansativo e sufocante às vezes. Já estava até vendo ele vir com mais um de seus sermões e conselhos sobre a vida. Gostaria que ele entendesse que ficar me rodeando como um urubu em volta de carniça em nada me faria mudar de ideia. Nada do que ele dissesse me convenceria do contrário. Pronto. Coloquei o muro de volta. Argh, minha cabeça estava uma montanha russa!


– Vim para checar se a sua hospedagem está de seu agrado, Senhora Forbes – Ele falou com esse seu jeito formal e isso me fez revirar os olhos. Que brega. Como ele era velho de espírito. Esse pensamento, um trocadilho mais que perfeito, me fez soltar uma risadinha abafada e os dois olharam para mim. Ele sorria para mim de maneira gentil e curiosa e minha mãe me olhava como se eu fosse louca. Enfim ela desviou os olhos de mim e olhou para ele.


– Obrigada pela gentileza, mas já estamos de saída.


– Assim tão de repente, tão cedo? Não está do seu agrado? – Ele falou gesticulando, assim como um dono ou gerente, que não entendia por que queríamos ir embora tão cedo do seu mais luxuoso e perfeito hotel.


– Eu já acordei. Não tenho mais nada a fazer aqui. Mas, obrigada – Ela colocou a bolsa no seu ombro, apertou a mão dele e saiu.


Ele ainda me olhava um tanto decepcionado e eu sabia bem por quê. Cheguei perto dele e acenei amistosamente. Em pouco tempo ganhei um certo respeito por ele e vi nele uma pessoa realmente muito boa, que merecia ser feliz, longe dos emaranhados criminosos dos irmãos. Eu não fui totalmente sincera com a minha mãe. Claro que ele eu não viramos os best friends forever, mas aquilo já era alguma coisa.


– Muito obrigada mesmo, Elijah, por tudo – Eu sorri gentil e agradecidamente para ele.


– Você tem certeza disso, Caroline? - Ele perguntou e eu acenei afirmativamente - Se precisar, pode me chamar. Ajudarei da forma que eu puder - Ele suspirou fundo e sorriu de volta. Com um último aceno para ele, também deixei o quarto. Peguei o corredor e depois as escadas para o andar de baixo. Imaginei que ela estaria me esperando do lado de fora e assim o foi. Quando cheguei no jardim de entrada, achei minha mãe falando com Stefan e Damon perto do chafariz que se encontrava no centro do local. Não demorei muito e avistei Klaus a alguns metros de distância, de braços cruzados e encostado na sua caminhonete preta, alternando seus olhares entre minha mãe e eu. Nossos olhares se prenderam por alguns segundos. Foi inevitável. E aquela onda elétrica passou pelo meu corpo mais uma vez. Seus olhos me atraiam feito ímã. Infeliz! Covardemente, desviei meus olhos para longe dele e fui me juntar até os outros três, ignorando meu corpo um pouco tremeluzente. Nesse meio tempo Elijah também apareceu e se juntou ao grupo. Somente ele, esse louco, ficou lá parado e não se aproximou.


– Como você está, hein, Liz? – Perguntou Damon. Ele gostava da minha mãe de verdade e eu sabia que ele também a protegeria se fosse necessário. Mas, era com muito esforço que eu aturava ele perto de mim.


– Bem, obrigada – Ela respondeu o abraçando e depois Stefan. Então, ela olhou para o Klaus e eles se encararam por um breve período. Eu apenas olhava de um para o outro, travada, morrendo de medo que se atacassem verbalmente. Não queria que ela odiasse ele. Ela se moveu e caminhou na sua direção. Ele apenas a olhava sério, sem desviar os olhos um segundo sequer, mas com a expressão indagadora. Então, ela acenou fria e brevemente num gestão de paz e ele a retribuiu dando um pequeno sorriso torto. Sem nem ao menos ter percebido que eu estava prendendo a respiração, finalmente a soltei. Não sabia bem por que eu agia dessa forma, com apreensão sobre o que poderia acontecer entre aqueles dois. Mas, eu não podia negar que foi um alívio vê-la agir daquela forma educada e não criar confusão com ele. Ela começou a caminhar de volta ao meu encontro e eu fiquei parada ali, com os pés plantados no chão, não conseguia me mover. Só fiquei observando ele de longe. Eu queria ir até ele e agradecer pessoalmente, mas não consegui. Apenas ficamos, mais uma vez, com os olhos presos um no outro até que ele cansou de esperar, eu presumo, e entrou no carro dando partida, quebrando a nossa ligação. Eu pisquei um bocado de vezes para recobrar um ar fresco na cabeça e vi Elijah também entrar no seu carro e sair com ele.


– Eu vou com vocês até a minha casa. Damon vai com eles e depois eu os encontro na biblioteca do Shane – Stefan falou enquanto colocava uma das mãos em meu ombro e depois olhava para a minha mãe. Nós duas acenamos para ele e o seguimos até o seu carro. Damon foi para o dele e eu fiquei me perguntando por que não vieram juntos no mesmo carro. Fizemos a viagem em silêncio. A distância era curta, mas as circunstâncias a fazia parecer longa e a estrada, sombria demais. Diversas vezes eu peguei Stefan olhando pelo retrovisor e pelas janelas, um pouco apreensivo. Quando chegamos na sua casa, minha mãe disse que precisava de um banho e foi para o andar de cima. Stefan e eu nos entreolhamos, com medo de que ela fosse parar no quarto errado e encontrasse meu corpo dissecado, totalmente sem vida. Então, ele pigarreou e chamou por ela:


– Eh, Liz, no meu quarto está sem água, cano quebrado – Stefan falou – No momento, o melhor chuveiro da casa está no quarto do Damon. Lexi sabe onde é, ela te leva até lá - Ela sorriu e voltou para o seu trajeto até desaparecer da nossa vista.


Nesse meio tempo Lexi veio da direção da cozinha e nos cumprimentou animada, aparentemente ouviu o chamado indireto. Então, subiu as escadas.


– É melhor darmos um jeito naquilo – Eu disse meio alterada – Se eu continuar "viva" não sei se vou voltar para aquele corpo mesmo – Ele acenou em concordância e esperamos um tempo antes de subirmos, em prol de esperar que ela já estivesse no banho e não nos ouvisse.


– Lexi, se Liz aparecer antes de voltarmos, distraia ela, por favor – Stefan falou para a amiga, sabendo que ela ouviria.


Em silêncio e cuidadosamente fomos até o quarto e pegamos o corpo. Ele ainda estava envolto por um lençol branco e eu fiquei grata por isso. Não queria ver o meu corpo fossilizado. Saímos de lá silenciosamente e decidimos enterrá-lo na floresta próximo à casa. Stefan foi até o porão buscar duas pás e voltou em segundos. No caminho não dissemos absolutamente nada, talvez fosse o clima de morte e o fato de estarmos carregando o meu próprio corpo que fosse a causa do nosso silêncio. Andávamos numa velocidade mais rápido que o normal, quase que numa vampírica, para que pudéssemos enterrar o corpo e voltarmos antes que minha mãe desse por falta da gente. Decidimos deixá-lo ali, perto da tumba onde eu comemorei o meu aniversário de dezoito anos. Piadinha irônica, só acho. Fiquei pensando em por que de estarmos tratando meu corpo com tanto descaso. Eu merecia um funeral de verdade, com banquete e tudo. Mas, talvez fosse por acharmos que eu não estava realmente morta. Ninguém estava sendo capaz de aceitar a realidade mascarada no meio da esperança. Pegamos as pás e começamos a cavar. Então, tentei lembrar das últimas horas, resgatar na minha cabeça como foi essa desgraça da minha morte. Queria reconstituir meus passos para ter algo a ocupar a minha mente e não me desesperar por estar enterrando meu corpo.


- Foi terrível, não foi? - Stefan me olhou - Lembro de estar gritando muito. Coitada da minha mãe - Stefan continuou cavando em silêncio até que comentou:


– Você consegue se lembrar de mais alguma coisa de quando estava alucinando? – Ele me perguntou isso talvez só por curiosidade ou talvez tivesse algo por trás dessa pergunta.


– Absolutamente nada – Respondi com sinceridade. Porque não era mentira, depois das mordidas foi como um apagão até eu aparecer na minha casa.


– As coisas ficaram bastante tumultuadas enquanto você estava desacordada – Ele falou um pouco ofegante pelo esforço.


– Como assim?– Eu perguntei olhando para ele, curiosa.


– Você não se perguntou nenhuma vez o que Elijah estava fazendo na minha casa quando você apareceu lá? – Ele continuou. E a minha mente deu um estalo. Era verdade, eu esqueci de pensar nisso novamente. De fato eu havia me perguntando o que ele estava fazendo lá. Porque, até então, os nossos assuntos com ele já estavam resolvidos. E a presença de Klaus era justificável, por causa do seu sangue poder me curar. Porém, eu já estava morta quando ele chegou. Então, por que ele continuou lá? Argh, claro que eu sabia a resposta, a quem eu queria enganar. Mas, quanto a Elijah eu não sabia dizer.


– Na verdade sim, mas, deixei pra lá – Respondi à sua pergunta – Por que ele voltou? – Perguntei muito curiosa.


– Ele voltou por você – Suas palavras me chocaram e me fizeram ficar de boca aberta. Parei instantaneamente cavar – Eu não consegui falar com o Klaus, então liguei para ele. E prontamente ele apareceu na minha porta, poucos minutos depois – Eu não falei nada por alguns instantes, tentando raciocinar e encontrar algo que fizesse sentido.


– E no que a presença dele ajudaria? Ele não tinha o sangue do Klaus para me dar – Eu falei tentando conter a emoção, porque eu estava comovida por ele se importar comigo.


– Não tinha mesmo, mas tentou buscar algum em casa, na esperança de que houvesse algum que Klaus tivesse guardado – Ele disse enquanto arregaçava as mangas que o estavam atrapalhando de cavar.


– Klaus não teria guardado sangue lá. Ele gostar de tripudiar - Falei sem humor - Mas, se ele não conseguiu encontrar, não havia nada que ele pudesse fazer por mim – Eu disse voltando ao trabalho.


– É aí que você se engana – Ele falou enquanto pulava dentro do túmulo cavado para aprofundar mais o buraco – Eu também achei a presença dele inútil, à princípio. Kol também foi lá pra casa e foi ele quem conseguiu rastrear o carro de Klaus – Eu quase cuspi minhas tripas depois dessa. Kol? Elijah até vai, mas, Kol?


– E o que esse patife estava fazendo lá? – Eu perguntei absolutamente espantada.


– Não sei se havia segundas intenções, mas por incrível e estranho que pareça, ele também estava ajudando – Ele voltou à superfície e pegou o meu corpo. Eu nem me mexi para ajudá-lo, estava com o segundo corpo e a mente paralisados diante de tanta informação – Então, ele foi até onde Klaus estava e o trouxe com ele, mas aí já era tarde. Mas, pelo menos você não sofreu tanto alucinando – Ele disse colocando meu corpo dentro da sepultura. Ver essa cena era angustiante, eu merecia mais que isso, mas por hora resolvi ignorá-lá.


– Como assim? – Perguntei um tanto bêbada com as suas palavras.


– Enquanto você alucinava, Elijah esteve com você, acalmando seus pensamentos – Isso era demais para mim. Demais.


– Por que ele faria isso? – Eu perguntei com a voz muito baixa de tão sem fôlego que eu estava. Talvez se Stefan não fosse vampiro, ele não conseguiria me ouvir. Mas, eu não precisava de uma reposta dele, precisava? Eu já sabia qual era.


– Ah, se você quer saber a minha opinião – Ele falou enquanto jogava terra por cima da minha versão morta – Ele fez tudo isso porque descobriu que Klaus tem sentimentos por você. Mas, pensei que você deduziria isso sozinha – Ele disse me olhando um tanto divertido e eu quis jogá-lo naquele buraco também. Quem sabe se um pouco de terra na sua cabeça não o fizesse voltar à razão.


Saber de tudo isso, saber que quase todos os parentes vivos, senão todos, do Klaus já sabiam dessa história sem pé nem cabeça tornava tudo muito real. Mais real do que nunca havia sido. Como se tornasse tudo concreto e deixasse de ser utópico. Como se oficializasse e sacramentasse os seus sentimentos por mim. E eu simplesmente não sabia onde meus sentimentos se encaixavam nessa história toda. Era confuso demais. Eu sabia o que eu queria. Admiti isso para mim mesma algumas horas atrás. Mas, daí a ter coragem e fazer era outra história. E eu ainda não confiava nele plenamente ou tinha a mesma fé que Elijah, de que um dia ele pudesse voltar a ser o mesmo Klaus de mil anos atrás. Ficar presa apenas à esperança de ter alguém de volta era muito cruel. Eu não faria isso comigo mesma. Porém, esses fatos me tocaram mais do que deveriam. Se Elijah e até Kol estavam se esforçando pra me ajudar só em nome desses supostos sentimentos do irmão por mim era porque eles estavam levando isso muito a sério. Fiquei assustada. Os flertes e as insinuações até que eram divertidos, mas agora atingiram outro nível. Senti vontade de sair correndo para bem longe de Mystic Falls, pois meus instintos gritavam "perigo" em alto e bom som na minha cabeça.


– Vamos acabar logo com isso e voltar antes que minha mãe perceba algo – Ele acenou em concordância e eu voltei a ajudá-lo a cavar. Meus movimentos eram puramente mecânicos e reflexivos, pois a minha mente estava vagando para bem longe daquela floresta, daquela sepultura. Seja por quais foram os seus motivos, eu estava grata a Elijah, e até mesmo a Kol. Mas, era difícil acreditar que suas intenções eram puramente nobres. Especialmente se tratando de Kol. Mas, a quem eu queria enganar? Só a mim mesma, porque o resto não caía mais na mentira do puro flerte.
Terminamos alguns minutos depois e voltamos na nossa velocidade vampírica, deixando meu corpo ressecado e sem vida para trás. Chegamos à casa e minha mãe estava sorrindo e conversando com Lexi na sala de estar, segurando suas coisas e nitidamente pronta para ir embora, o que não me agradou nem um pouco.


– Ah, finalmente chegaram – Falou Lexi – Espero que pelo menos o nosso estoque esteja cheio de sangue agora, né – Ela disse piscando para nós e a compreensão veio.


– Ah, sim – Disse Stefan sorrindo – Teremos sangue por bastante tempo, caso precisemos ficar trancados aqui.


– E foram buscar esse sangue aonde para estarem tão sujos e cansados? - Stefan e eu nos entreolhamos, até que eu fui mais rápida em dizer


- Temos um depósito escondido na encosta da floresta. Achamos mais discreto. Também temos um arsenal de armas sobrenaturais - Ela me olhou, me avaliando, colocando em ação seus instintos de detetive. Eu vi em seus olhos que ela não acreditou totalmente em mim, mas resolveu não insistir.


- Bem, vou indo, se está tudo realmente bem aqui, meus serviços são necessários em outro lugar – Minha mãe falou e eu protestei.


– Mãe, sério, fica aqui. Não é seguro lá em casa – Eu disse me aproximando dela – O que aconteceu não é argumento suficientemente forte para você?


– Meu amor, eu vou ajudar na delegacia. E quando eu quiser sair de lá, venho para cá, eu prometo – Ela me respondeu enquanto alisava meu rosto e meus cabelos – Não vou demorar tanto. E quem se importa com o bem estar de uma humana insignificante?


– Doze híbridos se importaram. Argh, seriously – Falei jogando a cabeça para trás – Conheço bem você. É claro que você vai demorar. E deixa de besteira, não fala essas coisas - Ela me olhou carinhosamente e me deu um beijo na testa.


– Até mais – Ela disse e saiu da casa.


– Bem, eu gostaria de ficar, mas o plano era eu ir depois que ela acordasse – Lexi falou enquanto também ia até a porta de entrada.


– Ir aonde? – Eu perguntei confusa.


– Para a casa do lago. Só tem Elena de vampira na casa – Respondeu Stefan – Precisam de mais apoio - Eu acenei em compreensão. Então, ela abraçou Stefan, depois a mim e saiu da casa.


– Não estou reconhecendo Elena. Ela jamais iria para lá e não ficaria aqui para tentar ajudar – Eu falei cansada, indo me sentar em uma das poltronas.


– Ela não queria ir. E Jeremy disse que se Elena ficasse, ele também iria ficar – Disse Stefan – Então, ela foi para obrigá-lo a aceitar a ir – Balancei a cabeça.


– Antes de ir, Matt falou alguma coisa se Tyler o respondeu? – Eu perguntei esperançosa e ele balançou a cabeça negativamente esmagando minhas ilusões.


– Eu tenho que ir e encontrar com eles na biblioteca do Shane. Você vem? – Stefan falou e eu neguei com a cabeça.


– Vou passar em casa e pegar algumas roupas. Se der tempo eu te encontro lá – Ele concordou, levantamos e saímos juntos da casa. Eu estava mesmo era com medo de enfrentar Klaus. Ainda mais sob a vigilância de Elijah. Não era mais capaz de responder por meus atos.


– Qualquer coisa, me chame imediatamente, você entendeu? Separar o grupo não é a melhor opção agora. Você poderia pegar as suas coisas depois – Stefan falou enquanto abria a porta do seu carro e eu ia em direção ao meu. Não falei nada, apenas concordei em silêncio e entrei no meu carro.


A verdade é que eu realmente queria ajudar no mistério, ajudar a solucionar os nossos problemas que me envolviam diretamente. E eu sempre fui uma garota bastante curiosa e produtiva. Num dia normal eu não deixaria uma coisa dessas passar longe das minhas mãos. Mas, depois de toda aquela informação recebida num curto intervalo de tempo, eu tinha ficado covarde. Estava sem coragem para dividir o mesmo ambiente que Klaus e Elijah. Não queria encarar nenhum dos dois por enquanto, muito menos ao mesmo tempo. Queria fugir um pouco por algum período, refrescar a mente para que eu pudesse pensar com clareza sem a presença impactante e imponente de Klaus anuviando meu julgamento.


Cheguei em casa e fui até o quarto da minha mãe. Eu seria esperta, não daria a ela a chance de me enrolar. Peguei uma de suas malas e joguei todos os seus pertences mais importantes. Ela ficaria uma fera, mas eu estava certa. Depois fui até o meu quarto e fiz o mesmo com as minhas coisas. Desci com as duas malas e as deixei no hall de entrada, para quando eu saísse. Fui até a sala e sentei no sofá, pegando o meu celular e discando para Tyler. Não sei quanto tempo eu fiquei ali tentando alguma sorte. Em todas as vezes o telefone chamava e ele nunca atendia, até que caía na caixa postal. Quando chamou a primeira vez eu saltei de alegria, porque lembro bem que ele disse que nas montanhas dos Apalaches nunca havia sinal de celular. E o fato do telefone chamar talvez indicasse que ele não estava mais lá. Talvez até estivesse voltando para casa. Mas, então, nas milhões de chamadas que eu fiz ele não atendeu em nenhuma e isso me quebrou por dentro. Estava ficando cansativo esperar. Agora ele podia voltar para casa. E qualquer pessoa no lugar dele já estaria a caminho. Não havia mais motivos para ele ficar longe ou esperar para voltar. Eu suspirei pesadamente e fui até a geladeira me servir de algo para comer, comida de humano. Achei uma lasanha congelada e coloquei no micro-ondas. Enquanto comia, pensava em tudo o que eu tinha para fazer e minha cabeça doía só de pensar. Mas, a primeira coisa que eu faria era falar com Elijah. Eu precisava agradecê-lo pessoalmente. E também a Klaus, eu não podia negar. Ele também se importou comigo. Precisava enfrentar a covardia e encará-los. E lá no fundo eu queria estar na companhia dele de novo. Fugindo dele eu só estava fugindo de mim mesma. Mas, era difícil aceitar isso. Aceitar que eu gostava da presença dele.
Terminei de comer e vi no relógio da cozinha que eu já estava ali há mais de duas horas. Não havia me dado conta de como o tempo passou. Deixei a louça na pia e fui até o hall pegar as malas. Estava indo até o carro quando o meu celular tocou me fazendo sobressaltar. Deixei as malas cairem pelo susto e rapidamente peguei meu telefone para atender. Ao ler o nome no visor, meu coração explodiu.


– Caroline – Ah, Deus. Eu não podia acreditar.


– Tyler! – Eu falei meio chorosa, mal contendo a minha emoção na voz.


– Como você está? – Ele falava calmamente, não sei como ele conseguia. Eu estava uma pilha.


– Estou ótima. E você? Onde você está? Quando é que você vai voltar? Já está por perto? Falou com o Matt? Viu os nossos recados para você? – Eu perguntava super afobada, atropelando as palavras.


– Hey, calma. Respira, Care – Ele falou soltando uma risadinha e eu ri junto – Não sei se é uma boa ideia eu te falar onde estou.


– Eu já falei e Matt deve ter dito também – Eu respondi já nervosa – Klaus não quer mais se vingar de você. Está livre, já pode voltar.


– E eu me pergunto porque ele concederia isso a mim – Ele falava rispidamente, exalando um pouco de raiva - Quais são os seus reais motivos por trás de seu grande ato de misericórdia. O que você ofereceu a ele em troca? Da outra vez você teve que ir num encontro com ele em troca do híbrido e não gostei – Eu demorei para responder, porque tanto eu quanto ele sabíamos a resposta.


– Nada! Que absurdo. Ele fez por que quis. E o passado não interessa mais. O que importa é que você pode voltar - Eu falei ofegante.


– Ele deve estar querendo armar uma cilada pra mim. Me fazer voltar e me matar assim que eu puser os pés em Mystic Falls - Eu não achava isso em hipótese alguma.


– Ele poderia ir atrás de você. Não foi porque não estava tão interessado assim em te perseguir.


- E nós dois sabemos o porquê. Ele faz de tudo para te agradar. Mais uma tentativa ridícula dele de te conquistar. Isso me deixa tão puto. É de propósito, só pode. Ele te persegue para me azucrinar - Ele falou azedo. Resolvi ignorar.


- Não sou um joguete entre vocês - Me irritou um pouco - Me diz onde você está - Ele demorou uns segundos antes de responder.


– Estou em Washington D.C. – Ele respondeu ainda meio carrancudo.


– Ah! Então você está bem perto. Se pegar a estrada logo chega aqui ainda hoje – Eu falei super animada, não acreditando que aquilo estava de fato acontecendo.


– Care, eu não vou voltar agora – Ele falou sério e dessa vez calmo.


– Como assim? Porque você não voltaria para casa, para a sua família? – Eu perguntei incrédula.


– Que família? – Ele disse entredentes – Klaus se certificou de que eu não tivesse mais nenhuma – Eu engoli em seco diante de suas palavras, não sabia o que responder que pudesse fazer algum afeito positivo.


– Não é bem assim, você ainda tem a mim, ao Matt, a todos que amam você – Eu falei com o coração pesado, porque nada que eu dissesse ou fizesse seria capaz de reverter aquela situação, nenhum de nós poderia substituir a sua mãe.


– Quem mais nessa porra de Mystic Falls se importa comigo? Eu não vou conseguir ficar na mesma cidade que ele, Caroline – Ele disse raivoso – Não pacificamente. O dia que eu voltar será para dar um fim nesse filho da puta. Guarde as minhas palavras.


– Não inventa moda, Tyler – Eu falei em aviso, apreensiva – Na última vez que você tentou destruí-lo acabou mal para todos, inclusive para a sua mãe. Agora que estamos na paz, melhor deixar quieto.


– Você não pode esperar que eu esqueça, pode? Quer mesmo que eu siga em frente como se nada tivesse acontecido? Isso não é possível, Caroline. Você faria o mesmo se ele matasse a sua mãe? – Ele respondeu com petulância – Não insista, eu não vou voltar agora e de um jeito ou de outro Klaus vai pagar caro.


– Eu tenho certeza de que Matt contou tudo para você – Eu falei com lágrimas nos olhos – Eu preciso que você volte. A única alegria que eu posso ter no momento é se você voltar.


– Ele falou, sim. Eu liguei por causa disso. Queria saber como você está. Eu sinto muito pelo o que houve, Care – Ele respondeu tristonho, com sinceridade - Mais uma vez a desgraça que ele causou se estendendo a quem não tem nada a ver com história.


– Eu não sei quanto tempo isso vai durar. Até quando eu vou ficar aqui – Dessa vez eu já não conseguia mais conter as minhas lágrimas – Talvez não encontremos uma solução e o único jeito seja fechar as barreiras e colocar o véu. E, então, eu irei embora para sempre – Eu fiz uma pausa para respirar com essa verdade. Pude notar que ele também chorava do outro lado da linha – Então, por favor, volte. Por mim, só para me ver feliz nesse tempo que me resta. Você não prefere passar esses últimos momentos comigo?


– Care, você não percebe que o único motivo por eu poder voltar é porque Klaus permitiu? – Ele falou com desgosto – Como você espera que eu possa viver dessa forma?


– Eu estou te pedindo para deixar isso de lado e voltar por mim. Pode ser temporário, já que não sabemos se eu vou sobreviver. Então, não estou pedindo que você perdoe ele e dê às costas aos seus ideais, só estou implorando que esteja aqui por mim – Minha cabeça doía e meu coração batia forte de exasperação – Me ame mais do que você odeia ele! – Tyler ficou alguns segundos em silêncio e só o que eu pude distinguir era que ele ainda chorava, tanto quanto eu.


– Eu não posso fazer isso, Care. É mais forte que eu – Ele respondeu de maneira definitiva e isso fez o meu sangue ferver.


– Eu não vou ter essa conversa novamente com você! - Eu falei já perdendo um pouco da minha paciência - Eu simplesmente não posso ficar aqui, sentar e ficar esperando você voltar.


– Eu também não quero que você faça isso – Ele respondeu com tristeza.


– Então fique, seja o amor da minha vida. Passe por cima disso, mostre que você é melhor que ele – Eu disse com a voz embargada pelo choro – Vou dizer a mesma coisa que você me disse quando estava ligado à ele: depois de tudo o que passamos, não me dê às costas agora. Nós deveríamos ser aquele casal que no fim permanece unido, custe o que custar.


– Eu sinto muito, Care. É muito mais grave do que apenas eu decidir que vou aguenta-lo. É demais pra mim. Eu e ele não podemos coabitar depois do que ele fez – Ele respondeu e eu pude notar o peso daquelas palavras, o que aquilo significava.


– Não! Não! Não se atreva a se afastar de mim novamente! – Dessa vez toda a minha paciência tinha ido embora, eu já estava praticamente gritando – Eu juro para você, Tyler, que se você não me disser que estará aqui até amanhã, nós estamos acabados! – Eu não chorava mais. A raiva era grande demais e tomou todo o lugar da tristeza – Ok? Não mais surpresas, não mais desculpas ou chances. Estaremos acabados – Eu esperei silenciosamente por uma resposta, mas ela nunca veio. Voltei a chorar, colocando a mão na boca para abafar o som. Eu também podia escutar a sua respiração ofegante até que ele desligou o telefone.


Eu não podia acreditar que ele fez isso comigo. Eu fiquei aqui, lutando por ele, pela sua liberdade, esperando a cada segundo que um dia ele fosse voltar. Eu não sabia descrever o tamanho da decepção que sentia nesse momento, porque eu também esperava que ele fosse lutar por mim. Que o seu ódio pelo Klaus não seria nada comparado ao seu amor por mim, ao seu desejo de estar do meu lado e me manter viva. Era como se eu possuísse uma doença terminal e não soubesse se encontraria uma cura ou quantos dias eu ainda tinha de vida. E esperava que ele entendesse isso e viesse ficar comigo enquanto podíamos. Ele não poderia engolir a presença de Klaus só por esse período? Por mim? Mas, ele escolheu seu ódio pelo Klaus e isso também me fez odiá-lo por um breve momento. Mais uma vez ele estava destruindo a vida de alguém, e dessa vez era a minha. Me sentei no chão e encostei no carro, fechando os olhos e tentando me acalmar. Depois de algum tempo, e eu não sabia quanto, meu celular tocou novamente e meu coração deu um pulo de esperança. Até que li no visor que a ligação era de Stefan.


– Caroline. Você está bem? Está demorando – Ele falou preocupado.


– Eu apenas parei para descansar um pouco, só isso – Menti tentando disfarçar a minha voz chorosa. Óbvio que ele não caiu nessa.


– Sei bem. Volta logo, ok? Antes que eu tenha que ir te buscar – Ele disse carinhosamente.


– Já estou indo. Não precisa exercer seu lado controlador agora, Stefan – Respondi e desliguei o telefone sem deixá-lo dizer mais nada, enquanto me levantava e colocava as malas dentro do carro. Entrei nele e dei partida.


Minha cabeça ainda doía um pouco e eu não queria pensar mais naquilo. Se ele não queria voltar, não havia nada que eu pudesse fazer. Não iria até Washington vasculhar a cidade por alguém que claramente não queria ser encontrado. E ficar chorando pelos cantos não me traria de volta à vida. Talvez eu fosse uma egoísta, de estar pensando só na minha morte e não levando em consideração os sentimentos dele. Mas, é difícil ter empatia quando se está afundada na merda. Cheguei na casa dos Salvatore e saí do carro para pegar as malas, não sem antes passar os olhos rapidamente pelo território, em busca de algum movimento estranho. Quando entrei, Stefan estava de pé próximo á fogueira e Damon estava largado no sofá, de cara feia.


– Alguma novidade? – Eu perguntei deixando as malas próximo ao sofá em que ele estava.


– Nada – Ele me respondeu com o seu costumeiro tom de deboche – Parece que o Drácula estava certo. Shane não possuía nenhuma informação que fosse além do triângulo dos massacres. Reviramos tudo – Ele me olhou em consternação, revirando os olhos. Desviei minha atenção para Stefan e ele apenas sacudiu os ombros.


– Ainda existem muitas coisas que podemos fazer – Disse Stefan. Não sei se ele queria nos convencer ou si mesmo. Mas, antes que eu pudesse responder, ouvi um grito de dor vindo do porão e me assustei.


– Calma, Barbie – Falou Damon em resposta à minha reação – É apenas Vaugh. Estamos mantendo ele preso aqui por enquanto, pode ser que ele seja útil. Vou lá ver do que o nosso hóspede de honra está precisando – E com a cara mais cínica ele se levantou e foi em direção ao corredor.


– Você deixa Damon torturá-lo? – Eu perguntei enojada.


– Não estamos torturando ele, apenas o prendemos para que ele não nos cause mais problemas – Stefan respondeu enquanto se sentava e eu concordei num aceno – E você, está melhor?


– Sim, obrigada. Preciso sair agora para fazer umas coisas – Ele fez uma expressão confusa e entes que ele pudesse questionar, eu me virei e saí da casa.


Eu iria até Elijah falar com ele, eu precisava fazer isso. Se Klaus estivesse lá, eu inventaria uma desculpa para afastar Elijah dele. Mas, eu também queria ver Klaus, conseguir algum apoio moral depois de tanta falta de dignidade. Mais uma vez, ao sair da casa, varri o ambiente com os meus olhos, em busca de algum inimigo, e mais uma vez nada encontrei. Já estava praticamente noite e isso era uma vantagem para que nos atacassem. Peguei meu carro e não demorei muito para chegar naquela bela e luxuosa mansão. Qualquer pessoa que não conhecesse a origem dos proprietários se perguntaria porque que numa casa tão grande e rica não havia um segurança sequer na entrada ou pelo perímetro, por onde qualquer um pudesse passar. Como se um ladrão fosse sobreviver ao entrar naquela casa do terror. Estacionei bem de frente para a porta principal de entrada e mais uma vez não bati na porta e apenas entrei. Eu estava começando a me acostumar a passar um tempo naquela casa, por mais estranho que isso fosse. O saguão de entrada estava deserto, fantasmagoricamente silencioso e o barulho que meus saltos da bota faziam ao irem de encontro com o piso de mármore branco ecoavam sinistramente por todo aposento. Apurei minha audição a fim de ter uma dica de onde Elijah poderia estar e estanquei quando ouvi uma agitação muito estranha e uma conversa assustadora.


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Klaus


Nossa ida àquela biblioteca ridícula daquele palhaço não ajudou em nada, como eu havia previsto. Um dia os outros aprenderiam que não se pode me contestar. Eu apenas fui porque sabia que seria impagável a cara de taxo dos três ao descobrirem que seu plano era um fiasco total. Lógico que eu não estava feliz com isso, era preferível que eu estivesse errado e encontrássemos algo, mas fazer o que se eu estava sempre certo e eles errados. E falando de gente errada nesse universo, queria saber onde estava Rebekah. Ela sumiu depois que Caroline chegou e eu não fazia a menor ideia de onde aquela meretriz tinha se metido. Ficar vagando sozinha numa Mystic Falls em colapso não era o ideal. Mas, inteligência e prudência nunca foram o forte da minha little sistah. Peguei meu telefone para discar seu número. Ele chamou um bilhão de vezes e ela não atendeu nenhuma. Fedelha birrenta e teimosa. Aposto que estava ignorando as minhas chamadas enquanto se agarrava com o quarterback como se não houvesse o amanhã. Disquei novamente e dessa vez foi para Elijah. Ele me disse que ligou para Kol e que ele não atendeu, porém com Finn as coisas foram diferentes, o que me surpreendeu bastante. Ele atendeu ao meu irmão e pediu que Elijah fosse encontrar com ele. Não gostei nem um pouco da ideia. O que ele tinha a dizer ao meu segundo irmão mais velho que não pudesse ser na nossa casa ou que eu não pudesse ouvir? Depois de uma longa discussão, eu aceitei, a contra gosto, que ele fosse encontrar aquele filho da puta do Finn sozinho. Com alguns toques depois, meu querido irmão atendeu.


– Por que está demorando tanto, Elijah? – Eu perguntei entredentes e pude ouvir meu irmão inspirando em prol da paciência.


– Finn ainda não chegou. Mas, ele me ligou dizendo que estava a caminho – Ele respondeu e eu não gostei da resposta. Meus instintos me diziam que tinha alguma coisa muito podre nessa história.


– Descubra o que esse retardado quer e volte logo. Não se esqueça de que estamos com problemas até o pescoço para considerarmos alguma coisa que esse puto fala ou faz – Eu falei e não dei tempo para que ele respondesse. Desliguei o telefone sem hesitar e fui em busca de Whisky. Encher a cara era a opção mais viável e útil do momento. Depois de horas andando em círculos, em busca de respostas que não existiam, me senti preso dentro da minha incapacidade de salvar Caroline. Eu não poderia desistir, isso nunca. Mas, enquanto cada um dos meus irmãos estava num canto diferente, tirei uns minutos para pensar nos meus próximos passos, mas nada me ocorria estando de cabeça quente e cheia. Portanto, me vi sendo levado naturalmente até aonde talvez conseguisse ideias novas para solucionar meus problemas. Estava no meu ateliê de pintura, o meu lugar favorito da casa. Estava tentando encontrar alguma inspiração ou criar algo que pudesse expressar o que eu estava sentindo no momento e talvez, assim, ter um insight. Porque essa era a forma mais sincera, genuína e completa em que eu conseguia me expressar. A pintura era um dos raríssimos momentos em que eu conseguia me desprender do mundo e ganhar um pouco de paz interior. Respirei fundo enquanto me servia de uma dose bem generosa de Bourbon e pensava no que estaria se passando na cabeça de Finn até que uma voz muito conhecida interrompeu os meus pensamentos.


– Sempre muito temperamental, não é mesmo, meu filho? – Eu ouvi aquela voz com puro terror e deixei o copo e a garrafa de vidro caírem no chão, se desfazendo em mil pedacinhos e derramando Whisky para todo o lado, representando o mau agouro que surgia. Eu engoli em seco e tomei coragem para me virar e encarar a cena que eu encontraria. Por fim o fiz e me deparei com Mikael, sorrindo para mim sadicamente. Ele segurava despretensiosamente uma estaca qualquer de madeira. Ele estava ali para me matar. Ao menos estava ali para me torturar. Por sorte, a única coisa capaz de me destruir estava bem escondida naquele exato momento.


– Veio me fazer uma visita, Father? Desculpe se não preparei um banquete para você - Perguntei com a voz ácida - Estava imaginado quando que você daria as caras.


– Um pai gosta de ver como vai a sua prole – Ele me respondeu de maneira cínica enquanto continuava a brincar com a estaca.


– Um pai de verdade, talvez – Eu sabia que provocá-lo não era a escolha mais sensata, mas eu não deixaria que ele me humilhasse novamente.


– Não ponha a teste a minha benevolência, Niklaus – Ele respondeu deixando de lado a sua expressão cínica e dando lugar a uma mais sombria – Ainda o melhor pai do mundo não iria querer você como filho. Não pode me culpar.


– Você não sabe nada sobre uma boa paternidade. Não penso que está numa boa posição para tirar conclusões – Ele me deu um sorriso debochado em resposta e isso ferveu o meu sangue.


– Esse assunto sempre será muito delicado para você, não é mesmo? – Ele disse dando um passo na minha direção – O seu rancor por mim só porque eu desprezei o meu filho bastardo. Eu não era obrigado a te amar.


– Ah, desprezo é eufemismo. Eu diria torturou – Eu falei cuspindo ódio – Você se acha melhor que eu, mas na verdade não é. Fez coisas muito piores, destruiu a nossa família e a transformou nisso o que ela é hoje. Você e Esther. E nos odeia pela sua própria criação.


– Não seja, hipócrita, garoto – Ele disse, curvando um pouco o pescoço – Não venha culpar os outros pela aberração em que você se tornou. Colocar a culpa nos pais é o clássico em terapias. Sempre covarde, sempre escondendo as suas falhas por trás dos outros, se escondendo por trás dos seus brinquedos, mas no fundo um garotinho frágil e medroso.


– Então eu copiei isso de você – Eu já estava puto e ferido com as suas palavras – Tal pai, tal filho – Ele ainda mantinha um sorriso arrogante na cara e eu sabia porque. Minha única vantagem no momento era a minha força, que era superior a de qualquer criatura nesse planeta. Mas, ainda que eu conseguisse derrotá-lo por um tempo, ele voltaria. Pelo menos até que fechássemos a barreira.


– Meu maior erro foi ter permitido você viver tanto tempo – Ele falou – Eu deveria ter dado um jeito em você naquela época. Não permitir que essa abominação que você se tornou viesse a se concretizar e durar tanto. Eu deveria ter te matado logo na sua juventude, onde deu as primeiras demonstrações do maldito que viria a ser.


– O padrasto que mata o seu filho bastardo, fruto da traição de uma puta de uma bruxa com um lobisomem das clareiras – Eu respondi cinicamente – daria uma boa fofoca na aldeia. O que te deixaria colérico, a opinião alheia. Você não suportaria cair em desgraça pública frente àqueles imbecis que chamava de guerreiros. Mas, dessa vez sou eu quem vai acabar com você.


– Para quê, hein, Niklaus? – Ele disse expressando incredulidade – Para viver para sempre, sem ninguém ao seu lado? – Ele falou com deboche – Ninguém mais se importa com você, garoto!– Ele disse elevando um pouco a voz – Quem você tem além daqueles cuja lealdade você forçou, ahn? – Ele terminou com um sorriso vencedor e venenoso – Ninguém – Ele sussurrou – Ninguém.


– Quando eu destruir você, vou me certificar de que nunca tenha sentido uma dor tão excruciante – Eu falei com lágrimas de ódio presas nos meus olhos. Suas palavras me cortaram feito navalhas, porque elas eram de cunho verdadeiro. Ele sabia como me abalar. Esse filho da puta iria se foder muito feio. Era só uma questão de quando.


– O grande lobo mau – Ele falou dando uma pequena risadinha – Você nunca vai mudar mesmo. Já é tarde demais para você.


– Durante a sua vida inteira você me subestimou. Sempre achou que eu não conseguiria lutar contra você – Eu respondi dando um passo em direção a ele, controlando os meus impulsos de arrancar a sua cabeça – E até hoje pensa que não tenho coragem de finalizar o trabalho. Então, se quisesse me matar, o já teria feito. Mas, você se esquece de semanas atrás, quando te transformei em cinzas. Aquela foi a prova de que você não é invencível quanto gosta de parecer e que me assusta mais.


– Será? Não existe mais nada que te assuste? Pense bem, sempre há inúmeras formas de destruir alguém. Mas, hoje cheguei à conclusão de que a morte é misericórdia para você. É muito pouco se comparado ao que você realmente merece – Ele falou com tom ácido – Eu também errei ao querer te matar naquela vez, aqui em Mystic Falls, mas só agora percebi. Você merece sofrer. Merece pagar por cada vida que você tirou e por cada sofrimento que você infligiu durante toda a sua existência. Eu vou me certificar de que assim seja. Só depois de passar cada minuto dos seus próximos mil anos agonizando no sofrimento que você estará pronto para morrer.


– Você está contando com a sorte, father, para os seus planinhos de merda de vingança contra mim – Eu sorri triunfante – A qualquer momento todos vocês podem voltar para o inferno de onde vieram.


– Eu duvido muito disso, Niklaus. E em breve você vai descobrir por quê – Ele me respondeu apontando a estaca na direção do meu peito – Eu observei você durante todo esse tempo, coisa que eu não pude fazer enquanto estava trancado naquele caixão podre em que você me colocou – Eu o lhei com puro desprezo – Dessa vez tive essa vantagem. Sei exatamente o que eu devo fazer para transformar a sua vida num inferno, de maneira que você vai me implorar para morrer. E esse será um dia de grande festa para o mundo, com direito a virar feriado.


– Eu odeio você – Respondi alterando a minha voz.


– Está parecendo uma criança birrenta e mimada falando assim. Mas, eu sei que me repudia, porque é recíproco. Mas, no fundo acho que você se odeia mais – Ele sorriu desgraçadamente – Bem, eu tenho que ir – Ele me deu as costas e saiu andando e, então, parou de repente – Ah, já ia me esquecendo. Eu não queria intervenções na nossa reunião de família, então, eu retirei Rebekah e Kol de cena por alguns instantes – Suas palavras me socaram em cheio. O que esse maldito fez com os meus irmãos? Não pensei duas vezes e voei no pescoço dele, o jogando por cima de minhas várias sofisticadas telas de pintura que estavam apoiadas em seus cavaletes, derrubando tinta e quebrando várias placas. Imprensei o bastardo contra a parede, com cada poro do meu corpo exalando ódio.


– O que você fez com Rebekah, ahn, e com Kol? Diga, seu miserável! – Eu gritei com o rosto bem próximo ao dele, eu podia sentir o ar que saia da sua boca e de suas narinas – Onde eles estão?! – Eu perguntei gritando e numa reação de reflexo ele revidou e tomou a minha posição, me prendendo contra a aparede.


– Seu impulso, Niklaus, é e sempre será a única coisa que te impede de ser realmente grande – Ele disse com um sorriso debochado - Você acha que eu machucaria Rebekah? Ou mesmo Kol? – Ele cuspia suas palavras na minha cara – Nem todos são como você, Niklaus, que é capaz de machucar e arruinar a própria família. Você é realmente um serzinho abominável – Aquilo foi como combustível para a minha ira, fiquei cego de ódio e só o que eu queria era matar esse filho da puta. Alcancei um de meus pincéis e enfiei no pescoço dele. Ele gritou de dor e se afastou de mim com a mão na ferida enquanto eu quebrava uma tela e roubava a sua base que era feita de madeira. Estava prestes a enfiar a estaca improvisada no coração dele quando ele enfiou a estaca na direção das minhas costelas, raspando no meu coração. Eu caí no chão instantaneamente, com a visão turva e sem fôlego, tentando, em vão, desesperadamente buscar por algum ar. Aquela estaca surtiu um efeito inesperadamente pontente para uma mera estaca. Isso me alarmou. Ele retirou a estaca e se preparou para me atacar novamente quando ele foi arremessado para o outro lado do ateliê por um vulto com velocidade sobre-humana. Eu estava fraco e meio cego de dor, mas pude distinguir sem problemas a quem pertencia o vulto. Dividido entre a felicidade e o medo, não consegui alertar Caroline para fugir para bem longe. Ela só podia estar maluca enfrentando Mikael daquele jeito. Ele a olhou com espanto e raiva, mas, rapidamente mudou de expressão quando a fitou por alguns instantes. E eu não soube decifrar qual era. Para a minha total surpresa, ele se levantou, ajeitou o seu terno preto e ficou parado olhando para nós dois. Ele apenas sorriu de maneira falsamente amigável, como se nada tivesse acontecido. Caroline continuava na defensiva, com o rosto vermelho, o cabelo bagunçado, os olhos arregalados fixos em Mikael, a boca entreaberta e com a respiração acelerada, pronta para se defender caso fosse preciso. Seus olhos estavam escuros e suas presas amostra. Era raro eu ver Caroline perder o controle desse jeito, mas era um deleite assistir tamanho potencial.


Klaus e Caroline


Nossa, que homem terrível. Eu pensava que ninguém no mundo poderia superar a loucura ou a crueldade de Klaus, mas esse Mikael superou toda e qualquer expectativa de pessoa abominável nesse mundo. Porque era ele quem era desprezível, não Klaus. Ouvir-lo dizer aquelas coisas me irritou profundamente. Não sei como deve ter sido para essa família conviver com esse sádico. Ele não podia punir Klaus pelos infortúnios da mãe ou odiá-lo por ser filho de outro. Que desse uma represália na adúltera da esposa, mas não culpasse a criança pelas suas frustrações particulares.


– Caroline Forbes, eu não esperava conhecê-la pessoalmente hoje. Muito menos sob tais circunstâncias – Ele sabia seu nome. Ele falou com os olhos presos nela e meus instintos gritaram na minha cabeça me mandando entrar no meio deles e criar uma barreira de proteção para ela. Eu me levantei com dificuldade, com a ferida da estaca ainda bem aberta e com vários cortes pelo corpo, formados pelo meu impacto com os estilhaços de vidro que eu quebrei alguns minutos antes.


– Eu não estou muito certa de que iria gostar de conhecer você, fosse hoje ou em qualquer outro dia, sob qualquer circunstância – Eu respondi com petulância a esse homem maluco, com os meus sentidos totalmente apurados em busca de algum movimento estranho. Mesmo em desvantagem, ele não sairia daqui sem uma baita porrada.


– Eu tenho certeza de que você vai mudar de ideia quando me conhecer melhor e vai ficar do lado certo – Ele disse isso desviando os olhos para Klaus e se aproximando de mim. Ele parou de caminhar quando Klaus se postou diante dele, o impedindo de dar mais algum passo na minha direção. Ele sorriu debochadamente para o filho e desviou o seu caminho de nós, indo para a saída do ateliê. Antes de sair ele falou:


– Rebekah está naquela tumba que era uma prisão de vampiros no meio da floresta e Kol está onde você, de maneira doentia, costumava trancar toda a sua família – E, dando uma última olhada em cada um de nós dois, ele deixou o local.


Eu demorei um pouco antes de me virar e olhar para Caroline. Estava envergonhado demais para conseguir encará-la. Poucos segundos depois ela colocou a mão no meu ombro e chamou meu nome. Então, eu finalmente dei meia volta e a olhei, mas não demorei muito com os olhos abertos. Eu os apertei com muita força, a fim de evitar as ridículas lágrimas, mas foi inútil. Eu caí de joelhos com as mãos cobrindo o rosto, deixando as lágrimas caírem. Minha vida e a da minha família estaria detonada a partir de hoje se eu não desse um jeito nisso. Mesmo com os olhos fechados eu pude sentir Caroline se abaixando e nivelando a sua altura à minha e para a minha surpresa ela me abraçou. Me abraçou forte. E eu me agarrei naquele abraço, necessitando dele mais do que nunca. Eu enterrei o meu rosto no seu pescoço e chorei como uma criança, como há muito não chorava. Ela fazia carinho no meu cabelo e em um de meus braços. Ficamos um tempo ali até que eu me acalmasse e pudesse me recompor. Eu não queria sair dali, interromper o nosso contato. Caroline nunca antes foi afetuosa comigo dessa maneira e eu não queria perder isso, nunca mais. Minha pele relembrou a nossa aproximação na casa de Stefan e desejei voltar no tempo, para aquele quarto onde fui brevemente feliz e tive esperança sobre um dia ter os sentimentos retribuídos. Olhei pra ela muito próximo de seu rosto, tentando compreender seu gesto. Ela não se afastou, apenas me encarava de volta, parecia ter pena de mim. Eu não gostava disso, que sentissem pena, especialmente ela. Mas, estava muito preso ao seu olhar para conseguir me mexer. Até que ela sacudiu meus ombros me fazendo sair do estado de torpor e lembrar dos meus irmãos. Só Deus sabe o que aquele filho da puta tinha feito com eles e eu não tinha tempo a perder, eles poderiam estar em perigo. Eu me afastei dela lentamente, para não assustá-la e me levantei. Ela ainda me olhava com piedade e isso me incomodou. Não queria a piedade dela. Peguei meu celular e disquei para Elijah.


Klaus estava atormentado e desorientado. Eu nunca o tinha visto dessa forma, tão frágil, tão...humano. Elijah tinha razão, ele ainda continuava lá. Vi em seus olhos o quão perdido estava. E eu fiquei bastante curiosa para saber o que diabos realmente tinha acontecido há mil anos. Saber como foi a vida de Klaus naquela época, sendo o filho bastardo de um maníaco e de uma safada que permitia que o próprio filho fosse maltratado apenas para não ter a sua vida de adúltera exposta. Eu queria ver com os meus próprios olhos o que tinha acontecido, conhecer pessoalmente esse Klaus que Elijah jurava não ser nem de perto a sombra do mesmo de hoje, saber a verdade sem o filtro e julgamento dos outros. Quanto uma alma ou um coração pode ser danificado, quebrado por causa da rejeição de um pai ou de uma mãe ao ponto de virar a alma de um sociopata? Minha história não se comparava a dele, mas eu bem sei, mesmo que só um pouco, o que é ser ferida pela rejeição de um pai. Eu queria conhecer mais essa história e sabia o que fazer para conseguir.


– Elijah! – Eu falei ofegante quando o meu irmão mais velho atendeu – Eu preciso que você saia daí agora e vá para aquele armazém onde eu costumava esconder os caixões da nossa família - Tive que ser direto, mas me incomodou que Caroline ouvisse isso.


– E eu posso saber por que essa loucura agora? – Meu irmão falava calmamente do outro lado da linha – Em breve eu estarei a caminho de casa. Finn não apareceu ainda.


– Foi uma armadilha, seu imbecil! – Eu gritei com raiva – Esse traidor filho de uma puta só queria te tirar de casa


– E por que ele faria isso, Niklaus? Não comece com os seus delírios – Esse puto respondeu como se entendesse o que falava.


– Mikael esteve aqui! – Eu gritei para que ele entendesse todas as letras – E prendeu Rebekah e Kol, para também não estarem aqui. Eu acredito que ele mandou Finn te abordar – Eu falei sem mais gritar, mas ainda com muita raiva desse idiota – Penso que ele viu que não seria tão fácil te prender como ele fez com os outros e mandou esse desgraçado te distrair – Ele não respondeu nada, com certeza por causa do espanto – Então, só me obedeça, porra, e me encontre lá – Sendo assim, desliguei o telefone, sem dar a ele chance de responder. Não esperei nem mais um segundo e fui para a saída. Fiz isso sem olhar para ela. Era demais pra mim ver em seus olhos o arrependimento e a repulsa.


– Klaus, espera! – Eu gritei para ele indignada. Como ele se atrevia a pretender me deixar ali parada? Eu apressei os passos e o segui.


– O que você está fazendo, Caroline? - Eu parei de caminhar e olhei fixamente para ela, bem próximo de seu rosto - Vá para casa e não saia de lá. Quer saber, eu mesmo te levo. Vamos.


– Ora, seriously? Eu vou com você! Depois dessa vai me deixar por aí como se nada tivesse acontecido? – Eu respondi agitada, enquanto revirava os olhos e cruzava os braços num gesto de petulância, como se fosse óbvia a reposta.


– Não é uma boa hora para me fazer companhia. Caso de família bem pesado.


- Já entendi isso, obrigada. A propósito, eu lembro de estar bem presente agora em um dos seus casos de família. Não é mais nenhuma novidade para mim. Ouvi a conversa. Desculpe a intromissão, mas... - Insisti. Ele não iria me afastar agora - Acho que precisa de companhia, sim.


- Obrigado, Caroline - Segurei sua mão, da mesma forma quando ela me salvou de Silas - Significou muito pra mim.


- Me agradeça me deixando ir. Nada mais justo - Não soltei a mão. O calor dele era bom demais.


- E se eu não quiser que você vá? - Falei quase sussurrando.


- Você não quer? - Fiquei magoada.


- Pode ser perigoso, Caroline. Ainda não entendeu o nível com que meus pais jogam?


- Eu confio em você, vai me manter segura. E eu vou ficar muito irritada com você se me negar essa - Cruzei os braços petulantemente.


- Bem, então, fazer o que – Falei e voltei a pegar o meu caminho. Dividido entre adorar a companhia dela, mas temeroso pelo o que poderíamos encontrar pela frente, não tive escolha a não ser ceder. Era difícil discutir com ela. Muito pentelha. E eu não tinha tempo para perder com discussões e muito menos queria quebrar essa conexão inédita.


Depois de tudo o que eu vi, nem sonhando que ele me largaria para trás. Estava perigosamente curiosa para saber mais das tretas internas. Eu queria ver o que viria a seguir. As confusões e os maus tratos que presenciei ainda pouco serviram como um ímã, me levando na direção de Klaus. Queria conhecê-lo cada vez mais, desvendar o homem por trás do Híbrido Original. Olhei pra ele enquanto andava ao seu lado. Seu rosto estava contraído de apreensão e parecia suar frio. Nessas horas que se notava a importância que os irmãos tinham, mesmo quando ele jurava ódio eterno a eles.


Caminhamos apressadamente e em silêncio até o meu carro. Não estava de bom humor e não havia nada que eu quisesse dizer. Na verdade havia, muita coisa aliás, mas eu deixaria para depois. Entramos no veículo e continuamos assim por um breve tempo, é claro, porque Caroline não é do tipo que fica de boca fechada.


– Rebekah deve estar puta da vida e te xingando – Ela falou sorrindo, tentando amenizar a situação, mas era impossível. Ela me olhou emburrada pela minha falta de resposta e bufou bem forte. Então, não resisti e falei:


– Praticamente já conheceu a minha família inteira, então. Só falta a minha adorável mãe. Ela é tão doce e amorosa – Eu falei com sarcasmo e ela soltou uma risada alegre e isso me contagiava.


– Eu passo - Respondi. Deus me livre conhecer aquela bruxa louca – Eu a conheci de longe, naquele baile que ela organizou logo depois que saiu do caixão – Eu falei com o mesmo tom que o dele - Acho que ela tentou te matar lá, não foi?


– Foi. Mas, não a conheceu pessoalmente – Eu brinquei – O interessante seria um jantar de família, com tudo o que tem direito. Assim apertaríamos os nossos laços.


– É, eu iria adorar mesmo estar num jantar com a sua mãe e com seu pai. Mais adorável ainda com os dois ao mesmo tempo. Nós três, Rebekah, Esther e eu poderíamos sentar num canto e discutir sobre como é finalizar o ensino médio sendo popular enquanto Mikael, você e seus irmãos discutissem sobre as melhores marcas whisky – Eu respondi sapeca e ele soltou uma gargalhada alta. E eu fiquei feliz por ele parecer mais leve.


– Iria ser muito divertido, eu te garanto – Eu falei e ela me olhou torto, censurando.


– Definições diferentes de diversão. Você tem algum primo vampiro, lobisomem, híbrido ou sei lá mais o que? – Eu perguntei com ironia, é claro.


– Não. Todos mortos – Respondi sorrindo para ela, com a minha atenção dividida entre a estrada e seu belo rosto.


– Matou todos eles? – Falei merda e percebi na expressão dele que se alterou instantaneamente.


– Eu jamais mataria alguém da minha própria família, Caroline – Respondi sério, sem humor algum. Isso era meia verdade. Mil anos atrás eu tinha matado a minha mãe. Mas, ela mereceu.


– Eu sei, estava apenas fazendo piada. Desculpe – Me apressei em dizer, não querendo piorar a coisas – Eu sei que você não faria isso.


– Você sabe? – Eu perguntei surpreso com essa afirmação dela.


– Claro que sei. Você não é tão ruim assim quanto quer parecer. Gosta de manter a reputação intacta. Só não entendo por quê isso é tão crucial – Respondi olhando para a estrada e percebendo que já estávamos chegando no local onde Mikael prendeu Rebekah.


- A reputação ajuda a manter a ordem.


- Essa é a desculpa? - Continuava a olhar pela janela, sem coragem de encara-lo.


– Não importa. Nesse momento, não estou preocupado com isso. Só quero ser sincero com você - Ela me olhou de esguelha - Mais uma vez, obrigado, Caroline. Por me ajudar. Sempre tive a impressão de que você me jogaria na rede de Mikael para me matar se tivesse a chance. Hoje provou ser uma amiga leal. Serei eternamente grato – Eu virei a cabeça na sua direção. Ela me olhava profundamente e sorriu de maneira radiante e terna, me fazendo sentir tranquilo e confortado. Era muito melhor ter alguém pra dividir os infortúnios da vida do que carregar todo o peso sozinho.


– Não foi nada. É isso o que as pessoas fazem quando se importam umas com as outras, se ajudam – Eu continuei a fitá-lo e sorri de volta. E ali estava aquele Klaus; genuíno e humano. Percebi que seu rosto se iluminou diante da minha declaração e foi gratificante, até mesmo prazeroso saber que ele ficou feliz só por causa das minhas palavras, por causa de mim. E isso me sentir um desejo de fazer mais coisas para proporcionar a ele outros momentos como esse. Momentos de alegria e de paz, não de violência e de desprezo. Eu quis tocar no seu rosto num gesto de demonstração que eu estava ali por ele, porque queria ver o seu bem e não o seu mal. Não mais. Mas, me contive, não era uma boa ideia fazer isso agora.


– Então, você se importa comigo? – Eu perguntei com a garganta seca, desejando avidamente que ela não mudasse de ideia, que só estivesse com pena de mim ou brincando com a minha cara. Porque ouvir essas coisas de Caroline era algo realmente muito grande, muito forte, pois ela era difícil de agradar ou de ser dobrada. Mas, ela era sincera, generosa demais para me dar falsas esperanças. E essa poderia ser a brecha que eu estava esperando, uma oportunidade de me aproximar mais dela e de fazê-la querer ficar comigo.


– Não me obrigue a repetir. Por hoje já está de bom tamanho para você. Já ganhou muito de mim – Eu falei sorrindo para ele.


– E eu espero ganhar bem mais. Amanhã é outro dia – Ela me olhou com desafio e eu sorri sapeca. Então, estacionei e saímos do carro indo em busca da besta da minha irmã.


 



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Autor(a): anajadde

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