Fanfic: O Guardião | Tema: ( AyA )
Christopher falou por algumas horas, mudando de um assunto para outro: suas lembranças da mãe, o que pensou ao entrar no quarto de hospital, como se sentiu ao descobrir, na manhã seguinte, que havia segurado a mão dela pela última vez. Anahi lhe ofereceu uma cerveja e, com o passar da noite e sem parecer se dar conta disso, ele bebera três. De vez em quando parava e olhava para a sala, com uma expressão confusa, como se tivesse se esquecido do que ia dizer. Em outros momentos falava como se tivesse tomado café em excesso, atropelando as palavras. Durante todo esse tempo, Anahi o ouviu. Às vezes fazia uma pergunta que lhe parecia apropriada, mas só. Mais de uma vez viu lágrimas nos olhos dele, mas sempre que elas surgiam Christopher fechava bem os olhos para contê-las.
Os ponteiros do relógio no console da lareira marcaram meia-noite, depois uma, duas horas. Àquela altura a cerveja e o esgotamento emocional já haviam surtido efeito. Christopher começara a se repetir e a falar com a voz arrastada.
Quando Anahi foi à cozinha buscar um copo de água, notou que ele fechou os olhos. Estava encolhido em um canto do sofá, com a cabeça apoiada na almofada do encosto e a boca aberta, respirando num ritmo constante.
Segurando o copo de água, ela parou, pensando: Ah, que ótimo! O que eu faço agora?
Quis acordá-lo, mas não achava que Christopher estivesse sóbrio o suficiente para dirigir. Não se sentia à vontade deixando-o ficar, mas ele já estava dormindo e, se o acordasse, poderia querer falar mais. Apesar de sua disposição de ouvi-lo, ela estava exausta.
Anahi: Christopher? (sussurrou) Está acordado?
Nada.
Um momento depois tentou novamente, e mais uma vez nada aconteceu.
Poderia gritar ou cutucá-lo para que acordasse, mas, pesando as opções, achou que não valeria a pena.
Por fim concluiu que aquilo não era muito importante, pois ele já estava fora
da sua vida. Apagou as luzes, deixou Christopher onde estava, foi para o quarto e trancou a porta. Singer estava na cama. Levantou a cabeça, observando-a vestir seu pijama.
Anahi: É só esta noite (explicou Anahi, como se tentasse se convencer de que estava fazendo a coisa certa) Não mudei de ideia. Só estou cansada, sabe?
Ao acordar, depois de olhar para o relógio, Anahi gemeu e virou para o lado, tentando evitar o dia. Sentia-se lerda, como se estivesse de ressaca.
Arrastou-se para fora da cama, abriu a porta do quarto e espiou para fora. Parecia que Christopher ainda estava dormindo. Anahi tomou um banho e se vestiu para ir trabalhar. Não queria que ele a visse de pijama. Quando entrou na sala,com Singer andando cautelosamente ao seu lado, Christopher estava sentado no sofá, esfregando o rosto. Suas chaves estavam em cima da carteira na mesa à sua frente.
Christopher: Ah, oi (disse ele, parecendo constrangido) Acho que apaguei, não foi? Desculpe-me por isso.
Anahi: Foi um longo dia – disse ela.
Christopher: Foi mesmo ( Ele se levantou e parou por um instante para pegar suas coisas. Um breve sorriso surgiu em seu rosto) Obrigado por me deixar ficar durante a noite. Fico grato por isso.
Anahi: Não precisa agradecer. Você vai ficar bem?
Chistopher: Acho que terei que ficar. A vida continua, não é? (A camisa dele estava amassada e ele a alisou com as mãos) Mais uma vez peço desculpas pelo modo como agi ontem. Não sei o que deu em mim.
Os cabelos de Anahi ainda não estavam totalmente secos e ela sentiu uma gota de água se infiltrar pelo tecido de sua blusa.
Anahi: Não faz mal. Sei que isso deve parecer inesperado, mas... ( Ele balançou a cabeça).
Christopher: Tudo bem. Não precisa explicar. Eu entendo. Alfonso parece ser um homem bom (Anahi hesitou).
Anahi: Ele é (disse por fim) Obrigada.
Christopher: Quero que você seja feliz. Foi isso que sempre quis. Você é uma ótima pessoa e merece. Especialmente depois de ter me ouvido tanto na noite passada. Não sabe como isso foi importante para mim. Sem mágoas?
Anahi: Sem mágoas.
Christopher: Ainda amigos?
Anahi: É claro.
Christopher: Obrigado.
Viu as imagens, parando de vez em quando para olhar para Anahi. Ela parecia feliz naquele fim de semana, como se soubesse que sua vida mudaria para melhor. Era adorável. Estudando suas feições, não encontrou nada que explicasse o que acontecera na noite anterior.
Christopher balançou a cabeça. Não se ressentiria do erro de Anahi. Uma pessoa capaz de passar da raiva para a empatia tão facilmente quanto ela era um tesouro, e tinha sorte de tê-la encontrado.
Agora ele sabia bastante sobre Anahi Barenson. Sua mãe era uma alcoólatra, com preferência por vodca, que morava em um trailer caindo aos pedaços nos arredores de Daytona. O pai morava em Minnesota com outra mulher e sobrevivia com uma pensão por invalidez em decorrência de um acidente de trabalho na construção civil. Os pais dela estavam casados havia dois anos quando ele deixou a cidade de repente. Anahi já tinha 3 anos na época. Seis
homens diferentes moraram com ela e a mãe durante vários períodos, sendo o mais curto de um mês e o mais longo, dois anos. Elas haviam se mudado meia dúzia de vezes, sempre de uma espelunca para outra.
Anahi trocara de escola todos os anos até o ensino médio. Aos 14, teve o primeiro namorado, que jogava futebol e basquete, e eles tiraram uma foto juntos para o anuário. Atuou em papéis secundários em duas peças na escola.
Saiu antes de se formar e desapareceu por alguns meses até chegar a Swansboro.
Christopher não tinha a menor ideia do que Rodrigo fizera para atraí-la para um lugar como aquele. Casamento feliz, marido sem graça. Um cara legal, mas sem graça.
Christopher também obtivera informações sobre Alfonso com um habitante local. Impressionante o que se pode descobrir apenas pagando uma bebida num bar.
Alfonso estava apaixonado por Anahi, mas disso ele já sabia. Não sabia era do fim de seu relacionamento anterior e a infidelidade de Sarah o intrigara. Lembrou-se de ter balançando a cabeça pensando nas oportunidades que se apresentavam.
Christopher também soube que Alfonso tinha sido padrinho de casamento de Anahi, e o relacionamento entre os dois começou a fazer sentido para ele. Alfonso era um elo confortável, um elo com o passado dela com Rodrigo. Entendia o desejo de Anahi de se apegar a isso e afastar tudo o que pudesse lhe tirar o que tivera.
Mas esse era um desejo nascido do medo, medo de acabar como sua mãe, medo de perder tudo pelo qual tanto se esforçara, medo do desconhecido. Não era de admirar que Singer dormisse no quarto com ela. Ele também suspeitava que Anahi tivesse trancado a porta.
"Muito cautelosa", pensou. Provavelmente ela fazia isso desde criança, considerando os homens que sua mãe levava para casa. Mas não tinha mais motivos para viver assim. Não mais. Ela podia seguir em frente, como ele seguira. Afinal de contas, a infância dos dois não tinha sido muito diferente. A bebida. As surras. A cozinha infestada de baratas. O cheiro de mofo e a parede de gesso apodrecendo. A água de poço que saía da torneira e fazia seu estômago doer. Sua única fuga eram as fotografias nos livros de Ansel Adams, que pareciam sussurrar sobre lugares melhores. Ele havia descoberto os livros na biblioteca da escola e passara longas horas estudando as imagens, perdendo-se nas paisagens incrivelmente belas. A mãe notara seu interesse e, embora o Natal costumasse ser uma decepção, de algum modo convencera o pai a gastar dinheiro em uma pequena câmera e dois rolos de filmes, quando Christopher tinha 10 anos. Essa tinha sido a única vez em sua vida que ele se lembrava de ter chorado de felicidade.
Christopher passou horas tirando fotos de objetos na casa ou de pássaros no quintal. Tirou-as ao anoitecer e ao amanhecer, porque gostava da luz nessas horas; tornou-se perito em se mover em silêncio, obtendo closes que pareciam impossíveis. Quando um rolo de filme acabava, ele corria para dentro e implorava ao pai que o revelasse. Quando as fotos ficavam prontas, olhava para elas em sua cama, tentando descobrir o que fizera certo ou errado.
No início o pai pareceu se divertir com seu interesse e chegou a dar uma olhada nos primeiros rolos. Então começaram os comentários. “Ah, outro pássaro”, dizia sarcasticamente. “Puxa, aqui está outro.” Por fim começou a lamentar o dinheiro gasto no novo hobby do filho. “Você está jogando dinheiro fora”, reclamava, mas em vez de sugerir que Christopher fizesse alguns biscates no bairro para pagar as revelações, decidiu lhe dar uma lição.
Naquela noite ele havia bebido de novo e Christopher e a mãe estavam tentando ficar fora de seu caminho, fazendo o possível para não serem notados. Quando o garoto se sentou à cozinha, ouviu o pai xingando enquanto assistia a um jogo de futebol na TV. Havia apostado em seu time favorito os Patriots,mas perdera,e Christopher percebeu sua raiva quando ele veio pelo corredor. Um segundo depois entrou na cozinha com a câmera e a pôs sobre a mesa. Na outra mão segurava um martelo. Certificando-se de que tinha a atenção do filho, esmagou a câmera com um único golpe. "Trabalho a semana inteira para ganhar a vida e tudo o que você faz é jogar dinheiro fora. Agora esse problema acabou!"
E depois o choro da mãe, quando eles finalmente ficaram sozinhos. "O que vai ser de nós sem ele?" soluçava, sacudindo-o pelos ombros. "Como isso pôde acontecer?"
O pai estivera bebendo no O’Brian, um bar sujo em Boston, não muito longe de casa. Segundo as pessoas no bar, ele jogara uma partida de bilhar e perdera. Depois se sentara ao balcão pelo resto da noite, bebendo uísque e cerveja.
Tinha sido despedido da fábrica dois meses antes e passava a maior parte das noites ali, furioso e buscando compaixão e consolo na companhia de alcoólatras.
Naquela época, Vernon batia nele e na mãe com frequência,na noite anterior tinha sido particularmente violento.
Ele saiu do bar um pouco depois das dez horas, parou na loja da esquina para comprar um maço de cigarros e passou de carro pelas casas do bairro operário em que morava. Um vizinho que passeava com seu cão o viu chegando em casa. A garagem estava aberta e Vernon entrou com o carro naquele espaço pequeno. Havia caixas empilhadas ao longo das duas paredes.
Era aí que começava a especulação. Os altos níveis de monóxido de carbono não deixavam dúvida de que ele havia fechado a porta da garagem. Mas o médico legista se perguntou: por que ele não desligou o motor primeiro? E por que voltou para dentro do carro depois de fechar a porta da garagem? Parecia um caso de suicídio, embora seus amigos de bar insistissem em que não havia a menor chance. Disseram que ele era batalhador, não alguém que desistia facilmente. Não teria se matado.
Dois dias depois policiais voltaram à casa, fazendo muitas perguntas e procurando respostas. A mãe se lastimara, sem dizer coisa com coisa. O filho de 10 anos se limitara a olhá-los fixamente. Àquela altura, os machucados nos rostos de ambos tinham começado a ficar amarelados, dando-lhes uma aparência fantasmagórica. Os policiais foram embora sem descobrir nada.
No final, consideraram que foi um acidente provocado por embriaguez. Uma dúzia de pessoas foi ao enterro. A mãe estava vestida de preto e chorava segurando um lenço branco, com Christopher a seu lado. Três pessoas disseram palavras gentis sobre um homem passando por uma fase de má sorte, mas em outras ocasiões um bom ser humano e provedor, marido e pai amoroso.
O filho representou bem o seu papel. Manteve os olhos abaixados e em alguns momentos levou o dedo ao rosto como se enxugasse uma lágrima. Passou um dos braços ao redor da mãe, balançou tristemente a cabeça e agradeceu ao receber condolências. Contudo, no dia seguinte, quando a multidão se fora, voltou à sepultura e ficou em pé na frente da terra revolvida.
Então cuspiu nela... Na câmara escura, Christopher prendeu uma das fotos na parede, lembrando que o passado projeta longas sombras. "É fácil se confundir", pensou. Sabia que Anahi não podia evitá-lo e a entendia. Perdoou-a pelo que fizera. Olhou para a foto dela. Como poderia não perdoá-la?
Anahi se levantou, ofereceu o jornal a um casal na mesa ao lado, jogou seu copo vazio no lixo e começou a andar em direção ao salão. A oficina já estava aberta havia uma hora e, como ainda tinha alguns minutos antes de chegar ao trabalho, pensou: "por que não?" Ele ainda não deve estar muito ocupado. Além disso, queria se certificar de que o que havia sentido na noite anterior não era fruto da sua imaginação.
Não pretendia dizer a Alfonso que Christopher tinha passado a noite na casa dela. Por mais que tentasse, não conseguia pensar num modo de lhe contar que não parecesse suspeito, especialmente em vista do que acontecera com Sarah. Ele ficaria desconfiado, criando uma sombra permanente de dúvida e mágoa. De qualquer maneira, aquilo não era importante, afinal estava terminado.
Anahi atravessou a rua, com Singer trotando à sua frente. Quando passou pelos carros que esperavam por conserto, Alfonso já vinha em sua direção, parecendo que tinha acabado de ganhar na loteria.
(Anahi riu).
Autor(a): machadobrunaa
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Quando saiu do salão, no fim do dia, Anahi ainda pensava em seu almoço com Emma. Na verdade, pensava em muitas coisas, principalmente em Rodrigo. É claro que essa não tinha sido a intenção de Emma, nem a própria Anahi sabia dizer por que se sentia daquela maneira, mas ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 52
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leandroportinon Postado em 25/02/2023 - 01:32:43
dá andamento nessa tbm pfvr
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leandroportinon Postado em 25/02/2023 - 01:32:26
pq sumiu dessa fic aqui?
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leandroportinon Postado em 25/02/2023 - 01:32:12
postaaaaaaaaaaa mais pfvr
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leandroportinon Postado em 25/02/2023 - 01:31:57
Pelo amor de deus não abandona a fic não. Estou muito ansioso
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leandroportinon Postado em 22/01/2023 - 01:42:36
Voltaaaaaaa pfvr
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leandroportinon Postado em 22/01/2023 - 01:42:22
'-' não vai mais postar? sumiu daqui
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leandroportinon Postado em 15/01/2023 - 23:38:43
Quero saber a continuação!
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leandroportinon Postado em 15/01/2023 - 23:38:22
voltaaaaaaa
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leandroportinon Postado em 12/01/2023 - 15:02:14
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leandroportinon Postado em 12/01/2023 - 15:01:56
Estou muito nervoso, ansioso pra saber o que vai acontecer.