Logo depois da meia-noite, Anahi e Christopher estavam na varanda da casa dela. Rãs e grilos cantavam, uma leve brisa agitava as folhas e Singer até parecia aceitar Christopher melhor. Embora estivesse com a cara enfiada por entre as cortinas observando-os cuidadosamente, não emitira nenhum som.
Anahi: Obrigada por esta noite.
Christopher: Não há de quê. Eu me diverti muito.
Anahi: Mesmo no Clipper?
Christopher: Se você se divertiu, fico feliz por termos ido.
Anahi: Não é o tipo de lugar de que você gosta, é? (ele deu de ombros).
Christopher: Para ser sincero, acho que eu preferiria algo um pouco mais íntimo. Para ficarmos a sós.
Anahi: Nós ficamos a sós.
Christopher: Não o tempo todo (Anahi o olhou com uma expressão intrigada).
Anahi: Está falando de quando nos sentamos um pouco com meus amigos? Acha que fiz isso porque não estava me divertindo?
Christopher: Eu não sabia bem o que pensar. Às vezes as mulheres usam isso como uma espécie de fuga, quando o encontro não está indo bem. Como se dissessem: “Socorro! Me salvem!”
(Anahi sorriu).
Anahi: Ah, não foi nada disso. Era com eles que eu devia jantar esta noite e, quando os vi, quis cumprimentá-los. (Christopher olhou para a luz da varanda e depois para Anahi).
Christopher: Sei que fiquei um pouco calado com seus amigos. Sinto muito. Parece que nunca sei o que dizer.
Anahi: Você se saiu bem. Tenho certeza de que gostaram de você.
Christopher: Acho que Alfonso não gostou muito.
Anahi: Alfonso?
Christopher: Ele estava nos observando (Embora Anahi não tivesse notado, deu-se conta de que devia ter esperado por algo desse tipo).
Anahi: Alfonso e eu nos conhecemos há anos. Ele se preocupa comigo. (Christopher pareceu refletir sobre isso. Finalmente um pequeno sorriso iluminou seu rosto).
Christopher: Certo.
Por um longo momento, nenhum dos dois disse nada. Então Christopher foi na direção dela. Dessa vez, apesar de esperar o beijo e até o desejar ,ou pelo menos achar que o desejava, Anahi não pôde negar o alívio que sentiu quando, um minuto depois, Christopher se virou para ir embora. "Não é preciso ter pressa, pensou. Se isso for certo, eu saberei".
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Henry: Lá vai ele. Na mesma hora.
Era terça-feira de manhã, alguns dias depois da noite no Clipper. Henry estava bebendo refrigerante e observando Christopher andar em direção ao salão. Carregava uma caixa pequena, um presente, mas não era por isso que Henry estava curioso. Quando eles se encontraram no sábado, Henry dissera a ele onde trabalhava, portanto, esperava que ele ao menos olhasse na direção da oficina. Na véspera, Henry chegara até a acenar para ele, mas ele não o vira, ou fingira não ver. Continuou olhando para a frente e passou direto. Como hoje. Ao ouvir seu irmão, Alfonso saiu de debaixo do capô de um carro, pegou um pano preso em seu cinto e começou a limpar as mãos.
Alfonso: Deve ser bom ser consultor. Esse cara nunca tem que trabalhar?
Henry: Não se aborreça agora. Você esgotou sua cota na semana passada. Além disso, é melhor que ele a visite no trabalho do que em casa, não é? (Um olhar disse a Henry que Alfonso não havia pensado nisso. Então, quase imediatamente, o rosto de Alfonso se mostrou surpreso).
Alfonso: Ele está levando um presente?
Henry: Sim.
Alfonso: Qual é a ocasião especial?
Henry: Talvez ele queira impressioná-la (Alfonso limpou as mãos de novo).
Alfonso: Bem, nesse caso, talvez eu deva levar um presente para ela mais tarde.
Henry: É assim que se fala (disse dando um tapinha nas costas do irmão) Era exatamente isso que eu queria de você. Um pouco menos de lamúrias e um pouco mais de ação. Nós, os Herrera, sempre fomos homens dispostos a enfrentar todas as situações.
Alfonso: Obrigado, Henry.
Henry: Mas, antes que você entre no salão cheio de disposição, deixe-me lhe dar um conselho.
Alfonso: É claro.
Henry: Esqueça o presente.
Alfonso: Mas você disse...
Henry: Isso é coisa dele. Não vai funcionar com você.
Alfonso: Mas...
Henry: Acredite em mim. Você pareceria desesperado.
Alfonso: Eu estou desesperado.
Henry: Pode até estar (concordou Henry) Mas não pode deixá-la saber disso. Ela o achará patético.
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Anahi: Christopher... (disse, olhando para a caixa de joia aberta em sua mão. Dentro dela havia um medalhão em forma de coração pendurado numa corrente de ouro) É lindo!
Eles estavam do lado de fora do salão, sem saber que Alfonso e Henry os observavam do outro lado da rua e Mabel e Singer espiavam pela janela.
Anahi: Mas... por quê? Quero dizer, qual é a ocasião?
Christopher: Nenhuma. Eu só o vi e, bem... gostei dele. Pensei em você e achei que deveria ser seu.
Anahi olhou para o medalhão. Sem dúvida tinha sido caro, portanto representava expectativas. Como se lesse sua mente, Christopher ergueu as mãos.
Christopher: Por favor, quero que o aceite. Pense nele como um presente de aniversário.
Anahi: Meu aniversário é só em agosto.
Christopher: Então estou um pouco adiantado (Ele fez uma pausa) Por favor. Ainda assim...
Anahi: É lindo, mas eu não deveria aceitar.
Christopher: É só um medalhão, não um anel de noivado.
Anahi: Obrigada (murmurou ela, enfim cedendo,mas sentindo-se incomodada)
Christopher: Experimente ( disse apontando para a jóia. Anahi abriu o fecho e pôs a corrente no pescoço).
Anahi: Como ficou?
Christopher olhou para o medalhão com um sorriso estranho, como se estivesse pensando em outra coisa, e manteve os olhos nele ao responder:
Christopher: Perfeito. Bem como eu me lembro dele.
Anahi: Lembra?
Christopher: Na joalheria. Mas fica ainda melhor em você.
Anahi: Ah. Você não devia ter feito isso.
Christopher: Você está errada. Fiz exatamente o que devia fazer (Anahi pôs uma das mãos no quadril).
Anahi: Você está me mimando, sabia? As pessoas não costumam me comprar presentes sem motivo algum.
Christopher: Então foi bom eu ter feito isso. Acha mesmo que sempre precisa haver um motivo? Nunca viu nada que achou perfeito para outra pessoa e comprou?
Anahi: É claro que sim. Mas não dessa maneira. E não quero que você pense que espero que faça essas coisas, porque não espero.
Christopher: Sei que não. E é justamente por isso que gosto de fazer. Todos precisam de uma surpresa de vez em quando (Ele fez uma pausa) Então, quer fazer alguma coisa na sexta à noite?
Anahi: Achei que você fosse viajar para a reunião.
Christopher: Eu ia. Mas ela foi cancelada. Ou melhor, minha participação nela foi cancelada. Estarei livre durante todo o fim de semana.
Anahi: O que você tem em mente?
Christopher: Algo muito especial. Mas gostaria que fosse uma surpresa ( Anahi não respondeu de imediato e, como se percebesse sua hesitação,ele pegou a mão dela) Você vai adorar. Acredite em mim. Mas vai ter que acordar um pouco mais cedo. Vou buscá-la por volta das quatro horas.
Anahi: Por que tão cedo?
Christopher: Demora um pouco para chegar aonde vamos. Você acha que consegue? (Ela sorriu).
Anahi: Vou ter que mudar um pouco o meu horário, mas acho que consigo. Devo usar algo elegante ou casual?
Aquele era um jeito educado de perguntar se deveria fazer uma mala. Se ele dissesse que ela deveria levar os dois tipos de roupa, significaria que passariam o fim de semana fora. Anahi ainda não conseguia imaginar-se fazendo isso.
Christopher: Se isso a ajudar, usarei terno e gravata (Parecia um encontro de verdade).
Anahi: Acho que vou precisar fazer umas compras (disse por fim).
Christopher: Tenho certeza de que você ficará linda, não importa o que vestir. Ele a beijou de novo e, quando finalmente foi embora, Anahi passou os dedos pelo medalhão. A joia se abriu com um clique e ela viu que estava certa ao presumir que havia espaço para pequenas fotos dentro dela. Ficou surpresa ao ver que Christopher já gravara as iniciais dela, uma de cada lado.
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Henry: Isso não parece bom, maninho (admitiu) Não importa o que Emma disse na outra noite, isso não parece bom.
Alfonso: Obrigado pela informação, Einstein (resmungou).
Henry: Deixe-me lhe dar um conselho.
Alfonso: Outro? (Henry assentiu, como se dissesse que não precisava lhe agradecer).
Henry: Antes de mais nada você precisa de um plano.
Alfonso: Que tipo de plano?
Henry: Não sei. Mas no seu lugar eu elaboraria um bom...
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Mabel: È lindo (olhando para o medalhão) Acho que ele está mesmo apaixonado por você. Isso deve ter custado uma pequena fortuna (Ela apontou para o medalhão) Posso?
Anahi: É claro (disse inclinando-se para a frente,Mabel o pegou e examinou).
Mabel: Definitivamente não é de nenhuma das joalherias da cidade. Parece feito à mão.
Anahi: Você acha?
Mabel: Tenho certeza. Além disso, você aprendeu algo importante sobre Christopher Franklin.
Anahi: O quê?
Mabel: Ele tem bom gosto (Mabel soltou o medalhão e Anahi o sentiu bater suavemente em seu peito. Olhou de novo para ele).
Anahi: Agora tenho que encontrar duas fotos para pôr aí (Mabel piscou).
Mabel: Ah, querida, não se preocupe. Eu ficaria muito feliz em lhe dar uma foto minha para levar com você. Na verdade, seria uma honra (Anahi riu).
Anahi: Obrigada. Você foi a primeira pessoa em quem pensei, sabia?
Mabel: Tenho certeza disso. Então, vai pôr uma foto de Singer? (À menção de seu nome, o cão olhou para cima. Ele ficara ao lado da dona desde que Anahi voltara para o salão e ela acariciou suas costas).
Anahi: Eu teria que me afastar uns cem metros para tirar uma foto deste grandalhão que coubesse aí dentro.
Mabel: É verdade. Mas afinal de contas, o que está acontecendo com ele? Singer anda muito grudado em você o ultimamente.
Anahi: Não tenho a menor ideia. Mas você tem razão. Ele está me deixando louca. Tropeço nele sempre que me viro.
Mabel: Como ele fica com Christopher? Quero dizer, em casa.
Anahi: Como aqui. Encarando. Pelo menos não rosna mais como na primeira vez.
Singer deu um ganido que pareceu baixo demais para vir dele. "Pare de reclamar, parecia dizer. Nós dois sabemos que você me ama não importa como eu aja".
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Um plano, pensou Alfonso, preciso de um plano. Ele esfregou o queixo, sem perceber que o estava sujando de graxa. Henry tinha razão, pensou. Dessa vez o irmão dissera algo importante e que fazia sentido. Ele definitivamente precisava de um plano. Mas logo se deu conta de que era muito mais fácil falar do que elaborar um. Nunca fora um grande planejador. As coisas simplesmente aconteciam e ele seguia a corrente, como uma rolha sobre as ondas. Em geral isso não era ruim. Na maioria das vezes ele era feliz e se sentia bem em relação a si mesmo, embora aquela coisa toda de artista e músico ainda não tivesse dado certo. Mas agora a aposta era um pouco mais alta. Os dados haviam sido lançados e era o momento de pôr as cartas na mesa. Apostar ou desistir. A partida estava difícil, mas era hora de continuar. Era hora de rolar os dados. De “simplesmente agir”. Ainda que todos esses clichês parecessem apropriados, Alfonso ainda não sabia o que fazer. Um plano. O problema era que ele não sabia por onde começar. No passado, tinha sido o cara legal, o amigo, aquele com quem Anahi sempre pudera contar. O homem que consertava o carro dela e brincava com Singer, que passou os primeiros dois anos após a morte de Rodrigo amparando-a enquanto ela chorava. Nada disso parecera adiantar; só levara aos primeiros encontros com Christopher. Então, numa reviravolta na última semana, ele a evitara. Não havia falado com Anahi, telefonado para a casa dela ou passado por lá para dizer oi. E qual fora o resultado? Anahi também não havia telefonado ou lhe feito uma visita e, no fim das contas, com base no que ele acabara de ver na rua, tudo isso levara a um terceiro encontro com Christopher.
O que ele deveria fazer? Não poderia simplesmente ir lá e convidá-la para sair. Ela provavelmente sairia com Christopher e, nesse caso, o que Alfonso diria? Ah, você tem um compromisso no sábado? E na sexta-feira? Ou talvez na semana que vem? Então que tal tomarmos um café da manhã juntos? Isso o faria parecer desesperado, o que Henry dissera que ele precisava evitar a todo custo... Um plano. Alfonso balançou a cabeça. A pior parte disso tudo era que, com ou sem plano, ele estava só. Sim, a situação com Christopher era a pior possível, mas nos últimos anos Alfonso se acostumara a falar com Anahi pelo menos uma vez por dia. Às vezes mais.Ficaria arrasado se Anahi e Christopher ficassem juntos.Mas,se acontecesse,paciência. Com o passar do tempo, talvez conseguisse aceitar algo assim.
O que não podia suportar era a possibilidade de sentir o que sentira na última semana. Não tinha sido apenas frustração, medo ou ciúme. Também não fora depressão. Mais do que tudo, ele sentia saudade de Anahi. Sentia falta de conversar com ela, de ver seu sorriso, ouvir sua risada. De observar o modo como no final da tarde, quando o sol estava na posição certa, seus olhos pareciam mudar de cor, de verde para turquesa. De ouvir sua respiração rápida quando ela estava no fim de uma história engraçada. Até do modo como ela às vezes lhe dava socos no braço. Talvez devesse apenas ir lá mais tarde e conversar com ela, como sempre fez, como se nada tivesse mudado entre eles. Talvez devesse lhe dizer que estava feliz por ela ter se divertido na noite passada, como Mabel, Henry ou Emma diriam.
"Não", pensou, mudando de ideia de repente. Não irei tão longe. Não há motivo para me precipitar. Darei um passo de cada vez. Mas irei falar com ela. Ele sabia que esse não era um grande plano, mas foi o único em que conseguiu pensar...
Continua...