Fanfics Brasil - Não serei vencido por um arrogante cadeado! A bússola negra

Fanfic: A bússola negra | Tema: Harry Potter, Jeverus, Romance


Capítulo: Não serei vencido por um arrogante cadeado!

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Balançando novamente o pesado cadeado, o ódio não era o bastante para quebrar a peça. Machucados lhe contemplavam várias partes da pele, em decorrência da quantidade de vezes que havia se espremido entre os ferros da grade, sem sucesso.


Uma vez, até precisou prender a respiração e ganhar força para voltar, pois tinha emperrado.


“INFERNO!”.


Novamente, chutava o portão.


Uma.


Três.


Diversas vezes seguida.


Teimando, desistir não era uma opção.


Ele iria conseguir.


Até por que... ELE NÃO DEVERIA ESTÁ ALI.


Esquecido, sujo, machucado, como um... Um contrabandista qualquer. Ou pior, pelas tralhas que usava, seria facilmente enxotado pelo estado de mendicância. Rindo da infelicidade, a situação se tornava ainda mais engraçada quando ele recordava que era um príncipe.


James Potter.


O garoto que as quentes estrelas predestinaram ao sucesso desde a concepção. Ouro, fogo, riquezas, carinho, não importava. Até mesmo tinha um dragão de estimação. Sempre teve os mais supérfluos caprichos atendidos antes mesmo do desejar. Logo, se ele queria sair daquele deplorável alçapão, aquele cadeado não poderia lhe dizer “não”. Jamais uma pessoa tivera audácia daquele pedaço bosta de objeto.


Por isto, outra vez, James o esmurrava.


Respirando fundo numa falha busca de calma, pegou um pedaço da fuligem sobre o solo de madeira, e forçou a abertura.


Um giro.


A fina vareta quebrava sem nem alcançar a engrenagem.


Vibrando em pura raiva, nunca estivera mais infeliz.


Por quê?


POR QUÊ?


Voltando a sentar no chão, enterrava os dedos entre os cabelos. Tremendo, não podia se render ao desespero por mais que quisesse chorar. E ele queria MUITO chorar. Estava faminto, sedento, colérico, dolorido, e, para piorar, aquela situação era a porcaria de um TERRÍVEL ENGANO.


O planejado?


Invadir o navio em silêncio e fazer uma surpresa para o capitão daquela embarcação, o qual era o seu melhor amigo de infância. Todavia, surpreendido, foi apreendido e arremessado naquela cela fétida, sem informações, esperança, só esquecido como um lixo abominável.


E, agora... A única “visita” nem mesmo acreditava em suas palavras. Talvez, pela indiferença demonstrada, James desconfiava que a lúgubre figura nem pudesse escutá-lo.


Será que ele estava morto?


ELE NÃO PODIA MORRER.


SEU PAI O MATARIA. Se bem que, aquela altura, ele deveria muito querer matá-lo. 


Mas, aliás, não existiam histórias sobre fantasmas presos.


Ele seria o primeiro?


Seria alguma espécie de punição por passar cola de sapato no cabelo da prima?


Na época, ele tinha apenas quatorze anos.


E, atrapalhando o desespero do maltratado rapaz, junto ao sobrevoar das primeiras gaivotas, as dobradiças rangiam.


A pesada porta empurrada.


Três degraus até o depósito.


Cinco passos até a cela.


O prisioneiro memorizava de olhos fechados, ainda que fosse difícil acompanhar passos tão leves. E, mantendo a cabeça recostada aos ferros, permanecia imóvel, fingindo não se importar com o visitante. Todavia, não podia conviver com aquela dúvida acerca de sua morte.


Por isto, aguardou que as botas parassem.


Recordava que dois segundos era o tempo para que a bandeja de metal tilintasse contra a madeira. Assim, num reflexo, agarrou o algoz pelo punho, puxando aquele braço entre as grades para perto de si.


Bom... Pelo menos, conseguia tocá-lo.


Então, não estava morto, certo?


Deste modo, colocando em prática a segunda parte do plano, ameaçava entredentes:


- Tire-me daqui ou vou matá-lo!


Respirando boquiaberto pelo susto, o capturado demorou para processar. O hálito daquele indigente fedia e ele não duvidava do que o confinado monstro fosse capaz de fazer. A mão formigava e, pela força aplicada, faltaria pouco para que o braço viesse quebrar. Dissimulando o desespero crescente, deu outro passo afrente, observando as mãos criminosas com certo desdém:


- Mas você nem tem uma arma.


- Será muito fácil... – James pausou, arrependendo-se em seguida. Precisava se manter firme. Já estivera em muitas guerras e não podia demonstrar humanidade perante o inimigo. Percebendo-o mais perto, se quisesse, poderia... Não! Afrouxando um pouco o pulso, embora não o soltasse, ele não era assim. Contudo, queria muito sair dali. Deste modo, sugeriu hesitante. – Que.. Quebrar o seu pescoço.


- Certamente, será. – O homem repetiu um tanto confuso, mantendo o rosto baixo e acobertado pelos negros cabelos compridos, na altura do pescoço. Agachando-se até a alimentação diária, pegava a faca e, transpassando entre as grades, sugeria. – Contudo, suponho que cortá-lo seja mais fácil.


Franzindo o cenho, o prisioneiro não acreditou. O maluco só poderia está blefando, contudo, ele não retrocedeu quando entregou a arma. Inclusive, utilizou a mão livre para tatear o pescoço, e, encontrando os batimentos cardíacos, explicou:


- Aqui. – A voz falhou, enquanto o corpo gélido tremulava. Esforçando-se para demonstrar coragem, incerto sobre as informações. – Eu li que existe uma veia que... Eu vi numa taverna, uma vez...


- Não seria mais fácil você só destrancar o cadeado? Eu te ajudo a sair daqui.


Cabisbaixo, o pirata meneou a cabeça em negativo, acrescentando num murmúrio:


- Não existe como sair daqui.


- Confie em mim. Por favor, poderia confiar em mim?


- Confiar? - Repetiu amargo pela nostalgia. Fitando-o com certa descrença, o riso anasalado. – Devo confiar num prisioneiro que até mesmo hesita em me matar?


E, a escuridão naqueles olhos...


Buscando forçar um sorriso em resposta, James nem conseguia formar palavras, pois a negritude daquele olhar o desarmava.


A contida voz, gestos temerosos e discretos, sobrancelhas unidas e o piscar sem esperança... Aquele algoz sufocava um indescritível desespero. O rum, as mulheres, nenhuma história de pirata jamais havia atribuído tamanha tristeza a um de seus marujos.


O que acontecia naquela embarcação?


Sirius saberia ou estaria tão abafada como sua permanecia naquela cela?


Mais do que nunca, James só queria quebrar o cadeado e... Por que se sentia assim? Recompondo-se, não recordava de nenhuma promessa antiga. Como também, aquilo não parecia predestinação. De qualquer modo, ele só não conseguia escapar daqueles olhos pesados como um buraco absorvendo, involuntariamente, todo o universo.


Observando o nariz, formato dos lábios vacilantes e a pele maltratada, certamente, diante dele, jamais estaria outro nobre para que eles pudessem ter compartilhado uma dança, e, muito menos, o mesmo salão.


Então, por quê? Por que se sentia assim? E, para piorar, aquela não era a primeira vez que o encontrava, pois, o desamparo que o acometia parecia muito familiar.


Instigado pelas dúvidas, questionou:


- E, como se chama?


- Não importa.


Pensativo, o príncipe nunca havia escutado aquela voz gelada.


Contudo, o conhecia.


Ou estaria o confundindo?


Não. Ele tinha uma boa memória. Assim, puxando o pulso outra vez, rodopiou, encontrando cinco pontos se interligando num torto retângulo. Uma antiga tatuagem. O símbolo grosseiro remetendo uma peculiar constelação. Talvez, fosse tradição entre piratas tatuarem mapas na própria pele, mas...


Aquilo era diferente.


Ele já havia visto aquele braço emoldurado em... tinta fresca em... Alguma exposição? Não... Era algo mais privado. A empolgação com que o artista repetia o nome enquanto pincelava. Teria sido deus, e ele um dos seus anjos escutando os planos para aquela criatura de deprimidos olhos chamada...


- Severus, não é?


Impactado, os olhos arregalados em horror por escutar aquele nome não o permitia dizer que era mentira. Puxando o pulso, baixou a manga da encardida camisa, pressionando o “segredo” contra o peito. Fazia anos que não era chamado assim. Então, como... Aliás quem estaria...?


Percebendo-o assustado, o prisioneiro continuou:


- Severus, pode me dar à chave do cadeado?


Nenhuma resposta.


- Você prefere morrer do que me ajudar a fugir?


Baixando o rosto, pensativo, o jovem pirata refletia submerso nas complicações que os pontos em seu pulso poderiam lhe trazer. Se, ao menos, tivesse coragem para decapitar aquela parte de si que havia ficado, tão soterrada no passado. Atrapalhando-se para formar palavras, interpôs:


- Como... Como sabe o meu nome?


- Eu não sei... Só... – Pondo-se firme. – Você não me respondeu, Severus. Prefere mesmo...


- RANHOSO! – Uma embrutecida voz rangia no alto convés. – ONDE ESTÁ VOCÊ, INFELIZ? 


Dando um passo pra trás, o misterioso rapaz se apressava. Recolhendo alguns sacos de feijão, colocava-os no ombro esquerdo, tendo dificuldade em equilibrar pelo receio que o acometia.


Segurando os ferros, vagamente irritado, James continuava:


Se não tem a chave, algo para que eu possa quebrar este cadeado.


- Desista. – Severus aconselhou, pesaroso. - Não existe como sair daqui.


- Eu vou te provar que conseguimos sair daqui. – Estendendo-lhe a mão, o prisioneiro insistia. - Agora, só me der à chave ou qualquer porcaria... – Percebendo os passos deslizar para distante, - SEVERUS!


E, novamente, estava ali: Acompanhado somente pela inabalada solidão.


Decepcionado, seria o golpe recebido quando chegou que deixou aquela lembrança tão turva? Refletindo, lembrava o nome do pai, onde havia escondido moedas de ouro e até os olhos vazios de um tio encontrado morto numa ilha após perder tudo para o jogo.


Ainda assim, Severus parecia mais antigo.


Fitando os próprios pés, notou a esquecida comida (um pouco sacudida pelo atentado), mas ali: álcool duvidoso, três uvas e metade de um pão. Arremessando a enferrujada faca junto a estes, aquele ferro até poderia ser o ideal para forçar o arrogante cadeado, todavia... Rendendo-se a desconfortável palha daquele navio, o príncipe optava por esperar pelo próximo café da manhã.


Até porque, agora, aparentava impensado fugir em alto mar. Pela primeira vez, desde capturado, ponderava que poderia apenas ser mais espancado e retornar ao mesmo lugar. E, outra vez, estaria barrado por aquele estúpido e desprezível cadeado. 


Assim...


Precisava de mais informações e forçar para destruir o vitorioso sorriso advindo do enferrujado pedaço de metal. Por isto, seria sensato esperar pelo próximo amanhecer quando as gaivotas permitiriam que a escuridão daqueles entretecidos olhos soturnos voltasse a encontrar os seus.


Severus... 


Severus ainda lhe daria aquela chave.


E, os dois... Logo, logo, eles escapariam dali.



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Autor(a): sirukyps

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

Prévia do próximo capítulo

- Severus... – James comemorava ao escutar o primeiro leve pisar na escadaria. Decepcionado consigo, por mais que houvesse revirado toda a mente, inclusive feito um enfileirado de palha acerca de cada ano de vida, não recordava. Ainda assim, ao contrário da refeição servida e após repetir durante toda uma noite, ele julgava que ...



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