Fanfics Brasil - Vamos vendê-lo aos tubarões A bússola negra

Fanfic: A bússola negra | Tema: Harry Potter, Jeverus, Romance


Capítulo: Vamos vendê-lo aos tubarões

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Severus... – James comemorava ao escutar o primeiro leve pisar na escadaria.


Decepcionado consigo, por mais que houvesse revirado toda a mente, inclusive feito um enfileirado de palha acerca de cada ano de vida, não recordava. Ainda assim, ao contrário da refeição servida e após repetir durante toda uma noite, ele julgava que aquele nome era doce. Talvez, por isto, embora desconhecesse a origem, houvesse o guardado.


Pondo-se de pé, repousava os antebraços na barra das grades, aguardando o distinto rapaz aproximar.


Este, receoso, nem mesmo respondeu o animado “bom dia”, chegando a baixar o rosto quando questionado sobre a noite. Depositando a bandeja a uma distância segura, empurrava-o com a ponta da bota, temendo encostar o corpo a cela.


Estreitando os olhos perante a hipocrisia, James alfinetava:


- Achei que quisesse morrer, Severus. – Fechando o punho, fingia ira. – Tanto que passei a noite treinando sobre como fazer de modo mais rápido...


Limitando-se a um vago concordar, o pirata logo recolhia uma prancheta repleta por musgos e começava a anotar informações. Um a um, conferia cada um dos barris naquele improvisado deposito.


Sentando a palha, após pegar o indigesto pão e observá-lo por um par de segundos, o prisioneiro continuava:


- Você trocaria este pão pela minha liberdade? – Mediante o silêncio, a melhorada proposta. – Eu posso te dar até TODA a minha refeição. Ouro, talvez... – Ignorado, deferiu uma mordida no alimento. Como esperado, uma grande porcaria. Queria muito vomitar, mas a fome o impedia. Assim, na quarta mordida, angustiava-se. – Só queria saber por que me mantém aqui... Preso, maltratado... Como um contrabandista miserável.


O mínimo riso anasalado não foi baixo o bastante para os atentos ouvidos. E, abdicando a lógica, James somente almejava que aquela sinfonia orquestrada por pérolas angelicais pudesse se repetir. Franzindo o cenho para dissimular a vontade de retribuir o singelo gesto, tornava-se mais miserável ao criticar:


- Espero que esteja se divertindo com a minha desgraça, Severus.


- Só... – Ponderou, logo desistindo.


Meneando a cabeça em positivo, concordava com a voz interna que o melhor era somente permanecer nos escritos.


No entanto...


Espreitando de esguelha o companheiro de sofrimento, até compreendia aquela solidão.


As repetitivas e irritantes ondas socando a flutuante madeira.


O enjoado cheiro do sal.


Já havia estado ali.


Inúmeras vezes.


Tantas que nem questionava as motivações quando arremessado, como também, era indiferente ao que o futuro poderia lhe reservar. Infelizmente, até aquele lamentável dia, nunca a liberdade proporcionada pela morte.


Hesitando quanto às anotações, o receio lhe formava uma enferrujada argola maltratando o punho esquerdo. Coçando a mão, um tanto nervoso, puxava as compridas mangas da surrada camisa, desesperado por esquecer a lamentável condição.


De qualquer forma, não perderia nada se respondesse algumas perguntas daquela amaldiçoada alma. Quem sabe, algum dia, também não teria as inquietações respondidas. Assim, esperou alguns segundos até ter certeza que não os atrapalhariam. Educando a voz, informou:


- Não faz sentido prender contrabandista em navios piratas. – Indicando os barris e sacos empilhados, completava. – Neste compartimento, guardamos suprimentos. O que precisamos para comer e, os demais, vender.


Mastigando o pedaço de pão, o nó na garganta formado pelo horror quase não o permitia engolir. Fitando as três uvas na amassada bandeja, e logo o quanto os seus dedos estavam finos. Deferindo outra mordida, qual sabor ele teria? Horrorizado, não processava o triste fim:


- Nunca achei que fosse terminar devorado.


- Não! – Severus devolveu a estranheza e, naturalmente... – Só vamos vendê-lo no próximo porto.


- Vender? – James devolveu descrente, logo gargalhando. Aquilo só poderia ser uma piada. Divertindo-se, repetia prepotente. - Vocês vão me vender? Tipo, eu? Numa praça como...


Assentindo lentamente em positivo, os semicerrados olhos não o compreendiam a motivação para que aquela ideia fosse absurda. Curioso, caminhou a uma distância segura da grade. Levando uma mão ao próprio queixo, analisava a mercadoria como seria feito em alguns dias:


- Músculos rígidos, dentes resistentes. – Fitando o âmbar por trás das redondas armações, lamentava sem emoção. – Perderemos algumas moedas por conta da sua visão imperfeita, mas... – Erguendo a sobrancelha, reproduzia o conhecido sermão. – O objetivo é se livrar do desnecessário. Lucro é sorte.


- E será numa praça como... – James continuava debochando. Finalmente, tinha conseguido a atenção daquela criatura e era assustador como a negritude daquele olhar o desarmava. Desconcertado, o riso perdia a motivação, levando-o a completar meio desorientado. - Acho... Acho que vocês vão conseguir uns três esfregões.


- Esfregões? – Devolveu e o canto dos finos lábios curvaram num breve riso. Baixando o olhar, pensativo. – Seria um preço bem baixo, mas o capitão... – A seriedade pendia a tristeza. Empurrando a prancheta contra o peito, advertia. – O capitão é bom negociando.


- Bom? – Depois de todos aqueles dias, James não sabia se acreditava. Por mais que conhecesse o melhor amigo por anos, as coisas naquele navio pareciam estranhas. Talvez, não fosse o mesmo Sirius e... Percebendo o algoz cabisbaixo, brincou. – Então, se ele estivesse em meu lugar, ele já teria o convencido a soltá-lo?


- Não sei... – Apertando as extremidades da prancheta com a ponta dos dedos, Severus se esforçava em conter o nervosismo, ainda assim... – Talvez... Talvez, ele não hesitasse em quebrar o meu pescoço. Ou... – Fitando o rapaz, confessava. – Eu não sei. Eu só... Não gosto de nobres. O modo como eles fazem as regras e...


- Então, tornou-se um pirata para matar nobres?


- Não... – Riu baixinho. - Se fosse por isto, eu não estaria em um navio comandado por um.


- Não acho que nobres sejam tão ruins. Eles fazem caridade no natal.


- Deixam as migalhas da mesa cair, depois de tomar todo o nosso jantar durante todo o ano. Confiscos pela igreja e pela nobreza... – Suspirando fundo, divagava. – Se bem que, estes são os problemas dos homens livres.


- Somos livres!


- Pedindo-me a chave do cadeado? – Severus devolveu maldoso. - Francamente, senhor prisioneiro.


- James. - Interpôs rápido. – James Potter. – Levantando o indicador, negociava. - E, se você me der a chave do cadeado, eu te apresento a liberdade longe daqui.


- Não me faça ri.


- Garanto que este não é o meu objetivo. – Percebendo-o em silêncio, o astuto refém continuou devagar. – Só acho que você conseguiria muito ouro se fosse um pouco mais simpático. Talvez, até pudesse conquistar o coração de um nobre e... E não teria presentes somente no Natal.


- O calor desta cela está o fazendo delirar.


- É sério! – James continuou. - E... E ele até poderia matá-lo se você o rejeitasse.


- Esta é a sua história? – Severus perguntou curioso. Percebendo o erguer de sobrancelha, o pequeno riso pela ironia tomava conta do pálido rosto. – Não acredito que foi capturado enquanto fugia do seu piedoso nobre?


E, observando-o, o prisioneiro percebia que em nenhum local do seu cérebro havia vestígios daquele sorriso presunçoso e mais irritante que a luz solar. Seria somente a sua conquista? Talvez, somente ele tivesse o segredo para desbloquear aquela ínfima curva naquele jovem pirata abatido. E, assim como o sol, o brilho daqueles pequenos dentes o aquecia. Poderia ser loucura, mas, semelhante as plantas, supunha necessitar de mais daquele elixir para viver.


Deste modo, discretamente admirado, divagou:


- E, por mais que não seja meu objetivo, lembrar do seu sorriso deixa esta desagradável viagem mais leve. – Percebendo o unir das sobrancelhas apreensivo, o rapaz corrigiu. – Pois... Quer dizer... Sinto a viagem mais leve, pois... – Recompondo o fingido mal humor. - Quando lembro que uma criatura tão grotesca como você ainda consegue sorrir, tenho certeza que existisse esperança no mundo. 


- Perderemos mais alguns esfregões na venda por você não está bem da cabeça. 


- E como você define “está bem”? – Devolveu e observando a reflexão, arriscou. – Aliás, o quão louco eu preciso ficar para que você me compre, Severus?


Comprar pessoas? ”. O algoz piscou sem, inicialmente, entender. Logo, o horror lhe tomava a face num nojo indescritível. De onde o maluco vinha para que a desumana proposta fosse feita semelhante a um pedido de café? A única explicação plausível seria alta febre.


E, fitando-o angustiado, a testa parecia úmida e Severus fechou o punho, domando a vontade de lhe conferir a temperatura e, talvez, fazer um chá. Embora desconhecidos, ele não gostava de perder pessoas. Presenciá-los imóvel na madeira fria era uma constante recordação. Em breve, todos que amava, estariam daquela forma. Aliás, até ele. Só... Baixando o rosto, a boca articulou para falar algo que não saiu. Ele não deveria ter compaixão pela emblemática figura que, certamente, nem mesmo chegaria ao porto.  


Assim, ele se afastou.


Deveria ter se passado muito tempo...


Ele arranjaria problemas se permanecesse ali.


Espera! Por que raios pensava numa desculpa?


Apressando o passo, Severus recolhia os suprimentos diários, quase fugindo.


ESPERE! – James gritou confuso, voltando a segurar as barras de ferro.


Por que aquela não havia sido uma boa proposta? Por que ele o olhava assim? Aliás, tinha tantas perguntas motivadas por uma crescente curiosidade. Especialmente, de onde o conhecia e como havia parado ali?  


E...


Suspirando fundo, batia a testa contra os ferros, esperando que as perguntas estúpidas fossem sepultadas. Refletindo sobre assuntos que poderia reconquistar a frágil atenção, continuou:


- Severus, você sabe que eu não vou valer nada se estiver morto. - A voz entristecia no insistente chamado. - Severus...


Engolindo a saliva com dificuldade, o algoz baixava o olhar. Talvez, o homem fosse só um tolo aventureiro que ainda não havia sido atacado pelas infelicidades do mundo. Compadecendo-se pelo baixo resmungar, explicava: 


- O capitão.... - O receio angustiado. - ...é muito bom negociando. – Sem desviar o olhar das caixas, contabilizava os centavos obtidos da falante criatura junto as demais mercadorias. - Tanto que hoje, parte do nosso dinheiro vem da venda de corpos para estudo, até mesmo de alguns marujos... – Após um longo suspiro desanimado, segredou melancólico já caminhando para as escadas. - Confesso certa falta de quando apenas alimentávamos os tubarões.


Perplexo, um nó se formava na garganta do prisioneiro, impossibilitando a saliva de descer. Retrocedendo um passo, as alternativas eram: comida de peixe, trocado por esfregões ou material para estudo?


Por Merlin! De modo algum, Sirius permitiria...


Se bem que, fazia dias que ele estava trancafiado naquela cômica situação e... Poderia estar no lugar errado, fétido, machucado, mas, esboçando o melhor sorriso, não permitir aquele misterioso filho da puta o desestabilizar.


Até porque...


Atirando o corpo para frente, projetava a sarcástica despedida:


- Estarei pensando em suas tentadoras propostas, Severus. – Sem resposta do homem já quase na superfície, ele prosseguia a brincadeira. – Prometo que estarei o aguardando bem aqui, amanhã. Não me decepcione e venha no mesmo horário, pois sou um importante homem ocupado e estarei reservando alguns dos meus preciosos minutos para você.


O silêncio interposto pelas ondas do mar.


E, por mais algumas horas, seria somente ele, a palha e a solidão.


Todavia, agora... Rindo sozinho, gostava da certeza que aquele excêntrico pirata de olhos tristes, voltaria nos dias seguintes.



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Autor(a): sirukyps

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