Fanfic: A Dama de Vermelho (Vondy) | Tema: RBD

De cima do palco, a moça assistiu o sargento vigiar a entrada, enquanto os outros dois se aproximaram dela, em passos lentos, um impulso súbito de correr para fora do estabelecimento a dominou. Em meio a seus pensamentos angustiantes, ela percebeu sua pulsação acelerar, respirava com dificuldade. Encurralada pelas recordações amargas, seu fôlego era uma presa capturada, aprisionado na garganta, sufocando as palavras e silenciando os gritos.

― A senhorita Carmen, onde está? ― Uckermann fixou os olhos na mulher misteriosa, porém ela permaneceu imóvel, incapaz de se mover ou reagir. ― Catarina? ― ele a chamou preocupado. ― Aconteceu alguma coisa?

Em resposta, balançou a cabeça, reunindo forças para romper seus demônios interiores. Com a voz trêmula, murmurou:

― Ela precisou ficar na coxia*. ― A dama de vermelho pigarrou, sentindo a boca seca e logo depois apontou para a parte de trás do palco. ― Pode ser que a encontrem no nosso camarim.

Christopher assentiu, cochichando algo para o Monteiro antes de subir ao palco.

― Fizeram algo para a senhorita? ― Ele examinou-a minuciosamente, em busca de qualquer sinal de um ferimento.

― Não, eu estou bem ― ela pronunciou recuperando o controle de suas ações. ― Foi… apenas um susto.

― Tem certeza? ― o rapaz perguntou não muito convencido. A moça acenou, concordando. ― Certo, eu preciso acompanhar o xerife. ― Ele segurou na mão dela, tocou seus lábios na pele macia, depositando um beijo carinhoso de despedida.

Um pouco acanhada, ela sorriu e o seguiu com os olhos até o homem desaparecer de sua vista. Algumas dançarinas a encararam sugestivas, mas uma em especial parecia incomodada, irritada pela cena que presenciara. Cansadas e abaladas pelo ocorrido, elas deixaram o palco e dirigiram-se para perto do bar. Umas garotas abanavam seus leques para aliviar a tensão, outras decidiram pedir água para o funcionário encarregado das bebidas.

― Por que eles estão atrás da Carmen? E por qual razão não nos liberaram logo? Nós iremos depor na delegacia de novo? ― Uma das dançarinas indagou afoita para as colegas após beber o seu líquido.

― Não faço ideia ― A mulher misteriosa retrucou levantando os ombros.

― Não mesmo? ― A jovem incomodada pela sua cena com o investigador comentou. ― Estava tão íntima do bonitão.

Em resposta à provocação dela, a dama de vermelho somente revirou os olhos, mostrando seu desdém. Julieta possuía os cabelos longos pretos que caíam em cascata sobre seus ombros, além de uma estatura mediana. Continha uma beleza fascinante, porém a imaturidade a tornava um tanto infantil. As duas eram completamente opostas, embora compartilhassem a maioridade, os vinte um anos.

― Será que vieram pelo assassinato do senhor Nogueira? ― uma outra moça questionou.

― É bem possível que seja por isso, o que mais poderia ser? ― Carlota respondeu.

― Mas a Carmen? ― A mulher misteriosa franziu a testa ao mesmo tempo em que mencionou. ― Não faz sentido, ela não o mataria.

― E por que não? O xerife desconfiou de todas nós, Catarina. ― Carlota contestou a colega.

― É verdade! Eu não arriscaria colocar a minha mão no fogo por ninguém ― disse Julieta, lançando um olhar acusatório para a dançarina, responsável pelo seu descontentamento. ― E se pararmos para pensar a respeito, ela teria motivos. Afinal, eles estavam em um relacionamento.

Após as palavras dela, algumas garotas se encararam surpresas pela revelação. Uma apreensão carregada de perplexidade pairava no ar. Inacreditável! Irritada com a jovem entojada, e pelas demais também, a dama de vermelho sentiu a necessidade de defender a coitada. Em um tom de voz firme, replicou:

― Vocês vão acusá-la sem provas? Não creio nisso, conviveram com a Carmen esse tempo todo, deveriam dar um voto de confiança ao invés de julgá-la assim.

― Quem você pensa que é, Catarina? Você não tem moral para falar conosco desse jeito, aliás… Quem é você? ― A moça empinou o nariz, chegou mais perto da colega de dança, cravando os olhos nela, analisando-a da cabeça aos pés com as sobrancelhas arqueadas.

― Moral? Logo você, Julieta? ― A mulher misteriosa riu divertida. ― Você que se envolve com homens casados e ainda possui a audácia de criticar a minha conduta? Não interessa quem eu sou.

― E você que anda se encontrando com o investigador. ― Ela apertou os punhos, uma raiva estampada no rosto.

― Pelo menos ele é solteiro. ― A dama de vermelho refletiu nisso por um segundo, será que era mesmo? ― Isso tudo são ciúmes? Por que não aproveita para convidá-lo para sair? ― Enraivecida pelo rumo da conversa, ela bufou. ― Basta desse assunto! Não tenho tempo para suas bobagens, há questões mais importantes no momento.

― Garota, você está me deixando à beira da insanidade. ― Julieta apertou as mãos com mais força.

Um grito desesperado reverberou pelo salão, interrompendo a acalorada discussão entre as duas.

― NÃO! ― Carmen esbravejou novamente. ― O meu filho não pode ir preso! ― mencionou exasperada. ― Por favor, senhor, não o leve.

― Senhorita, estou só cumprindo a lei ― o xerife disse segurando o menino pelo braço para conduzi-lo para fora do palco.

― Mas ele é apenas um garotinho ― Sua voz embargou. ― Como uma criança é capaz de cometer tamanha atrocidade? ― Monteiro fingiu não ouvir e continuou a caminhar ao lado do menino.

― Por favor, senhorita, não complique mais as coisas. Já explicamos que possuímos provas contra o seu filho.

― Não, não pode ser… O meu Israel não. ― Ela começou a soluçar, as lágrimas fluíram sem cessar.

Em seguida, o senhor Uckermann apareceu para conter a Carmen, estendeu o braço na tentativa de acalmá-la, para que ela também não interferisse no trabalho do xerife, já que o homem guiava o garoto para a saída.

― Está vendo, Catarina? O menino assassinou o senhor Nogueira. Quem menos esperávamos. ― A mulher do nariz empinado voltou a implicar com ela.

― Mas que pessoa imaginaria algo assim? ― a moça respondeu incrédula.

Julieta abriu a boca para retrucá-la, porém a dama de vermelho foi mais rápida.

― Quer saber? Não quero mais perder um segundo discutindo com você. ― Acenou com a mão, deixando a dançarina sem ação.

Ela caminhou para perto do investigador que oferecia um acalento para a Carmen, cujo rosto refletia toda a sua angústia.

― Senhorita Catarina, conseguiria trazer uma água? ― Christopher solicitou quando avistou a mulher misteriosa. ― Ela aparenta estar em estado de choque.

― Sim, sem problemas. ― A moça virou-se na direção do bar, mas em seguida retornou. ― Senhor Uckermann, gostaria de saber se teremos que permanecer aqui por mais tempo.

― Não, não será preciso. Pedirei ao Acácio para liberar vocês.

Ela confirmou em um gesto de cabeça e se preparou para buscar a água para a Carmen. No entanto, antes que pudesse dar o primeiro passo, sentiu uma mão tocar suavemente seu braço.

― Ah… Senhorita? ― O investigador pronunciou próximo dela, quase sussurrando.

― Pois não? ― A dama de vermelho mal foi capaz de articular as palavras, impactada pela aproximação deles.

Aquela maldita colônia! Pensou no mesmo instante em que apertava um lábio no outro, assim era complicado não se envolver cada vez mais com ele. Além do seu charme natural, a índole cortês do rapaz atraía sua atenção. Seu coração atencioso a enfeitiçou. Ao observá-lo coçar a testa preocupado, dissipou suas considerações, mantendo-se em alerta.

― Amanhã será necessário que a senhorita passe na delegacia para depor. O seu testemunho é muito importante para comprovar que o Israel é culpado. ― A moça piscou algumas vezes, processando a informação.

Ela não simpatizou muito com a notícia, outra vez na delegacia? Não queria voltar naquele lugar.

― Catarina, querida, resolvi seguir o seu conselho. ― A garota entojada se meteu entre os dois. ― Prazer, senhor Uckermann, eu sou a Julieta. ― Ela estendeu a mão.

― Encantado, senhorita Julieta. ― Christopher beijou a mão dela. ― E qual seria o conselho? ― Curioso, ele alternou o olhar entre as duas jovens.

― A Catarina disse que eu deveria convidá-lo para jantar, o senhor é solteiro, não é mesmo? ― Ela sorriu para o homem e logo depois encarou a mulher.

― Acho que estou começando a entender. ― O investigador espiou a dama de vermelho ao seu lado, respondendo sem muito interesse. ― Sim, sou solteiro.

― Com licença, preciso buscar um cálice de água ― a moça declarou depressa, um pouco enfurecida.

Ela andou até o bar em um conflito interno, influenciada por suas ações. Havia praticamente oferecido o rapaz de presente para Julieta, esperando que isso pudesse afastá-lo dela. Entretanto, a interação entre os dois causou uma sensação estranha, não desejava vê-lo distante. Mesmo que isso fosse complicado. Assim que a mulher misteriosa pegou a água com o homem que servia as bebidas, sentiu uma pontada de ciúmes surgir em seu peito ao presenciar uma conversa animada entre o senhor Uckermann e a garota. Seus olhos percorreram os gestos, como também as risadas compartilhadas, ela experimentou um anseio latente de estar no lugar da outra que parecia bem desinibida, tão à vontade por ser cortejada. Por mais que tentasse, ficaria ligada às recordações amargas do seu passado, junto das feridas que ele deixou. Limpando uma lágrima com o dorso da mão, a dama de vermelho se recompôs, visto que o sargento Acácio acabava de chamar a atenção das pessoas.

― Silêncio, pessoal, só um momento ― anunciou em voz alta para que todos ouvissem. ― Estão liberados. ― E após o breve pronunciamento, o sargento dirigiu-se pelo corredor na direção da sala do novo proprietário do Burlesque.

Ingerindo o líquido do cálice para acalmar os ânimos, a moça reparou na dançarina entojada que caminhava até o bar e no mesmo instante em que se aproximou tinha um sorriso provocador nos lábios.

― Finalmente! Minha noite está só começando, desfrutarei de um ótimo jantar com o investigador bonitão ― Julieta sussurrou no ouvido da moça.

― Pois, faça bom aproveito ― a mulher misteriosa retrucou de volta.

― Bem que você poderia disponibilizar alguns conselhos, cara colega. Já que a companhia dele era frequente na sua cama.

― Creio que você não necessita de nenhum, irá se sair muito bem por conta própria, cara colega ― a dama de vermelho replicou em um tom tão implicante quanto o dela.

― Mas e um conselho para depois do jantar? Você bem sabe as preferências do bonitão ― a garota declarou debochada.

― Caramba, Julieta, isso tudo é desespero? Você deve ter bastante experiência visto que se encontra com homens casados. ― A moça fez uma careta sarcástica.

― Você é uma invejosa! ― A dançarina gritou.

― Por acaso eu disse para você não se envolver? ― A mulher misteriosa cruzou os braços, não compreendo a reação dela. Aliás, pelo contrário, ela havia o deixado livre.

Preocupadas pela tensão crescente, as outras garotas vieram para perto das duas, conscientes de que o rumo da conversa parecia hostil. Antecipando uma possível briga, elas se preparam para intervir e apartar qualquer conflito.

― Não, mas ele não quis sair comigo ― Julieta pronunciou com raiva. ― Como uma pessoa pode se interessar por outra que é tão misteriosa? Ninguém conhece nada sobre você. ― Bufou frustrada.

― Agora a culpa é minha? ― A dama de vermelho soltou uma risada nervosa.

― Ele está cego por você... ― A dançarina estava inconformada. ― Você não entende, não é? Nós nunca teremos uma chance com qualquer homem recém-chegado na cidade. A culpa é toda sua.

― Caramba! Realmente isso faz muito sentido ― mencionou ironicamente a mulher misteriosa, o que só aumentou a irritação de Julieta. ― Você enlouqueceu, com certeza. ― Balançou a cabeça em um gesto negativo.

O atrito entre as duas se intensificava a cada momento, tornando a atmosfera ainda mais pesada. Por isso, a moça decidiu respirar fundo e acreditou ser melhor ir embora, evitando um confronto maior. Ela afastou-se do grupo em passos firmes, no sentido da saída. No entanto, a garota do nariz empinado a seguiu, determinada a não permitir que o assunto encerrasse.

― Não está esquecendo de nada, Catarina? O investigador ainda não partiu, vocês não possuem um encontro marcado? ― A dama de vermelho parou de andar no mesmo segundo e encarou a falsa moralista.

― Por que não vai para o raio que a parta? O que eu faço da minha vida não é da sua conta. ― Julieta olhou fulminantemente para ela.

A moça pensou que a discussão havia chegado ao fim, pois a garota apenas a mirava enfurecida. Entretanto, ela logo notou um furacão de cabelos pretos vindo para cima de si. Julieta tinha um brilho diferente no olhar, imersa em uma crueldade sombria e fazia algum tempo que a mulher misteriosa desconhecia essa expressão. De repente, sentiu-se transportada para um labirinto de recordações amargas, outra vez naquela noite, onde cada movimento a levava mais fundo em seu próprio passado. As memórias projetadas em câmera lenta, arrastavam-na para um abismo angustiante. Revivendo as cenas de sua impotência. Presa em um pesadelo no qual mãos indesejadas exploravam partes que deveriam ser intocáveis. Arrancando sua inocência como as pétalas de uma flor frágil. Aguardou o instante em que seus gritos desesperados ecoariam pelo ambiente, mas ao invés disso, reparou que sua mente lhe pregava uma peça, era somente sua imaginação. Ao retornar para o presente, Julieta já estava quase acertando uma bofetada no meio do seu rosto, se não fosse pelo sargento Acácio e o senhor Uckermann que interferiram, teria ganhado um tabefe em cheio. Então, novamente uma confusão se instalou no Burlesque.

* A coxia no teatro é chamada também de bastidores, um lugar dentro da caixa teatral, mas fora de cena, em que o elenco aguarda para entrar no palco. Tudo que acontece por trás das câmeras, palco, cenário, todo trabalho que é feito antes e depois de alguma apresentação. 

Eita, Giovana! Hoje tivemos muitas emoções :o Alguém desconfiava do menino? Eu tô igual a Dul, quem imaginaria? E falando nela... Meu coração até aperta :( já sofreu demais e ainda mais essa Julieta? Ninguém merece!!! 

Ps: Tenho recadinhos amores, primeiro queria dizer que faltam 4 capítulos para a fanfic terminar nós chegamos no capítulo 10, eu andei me empolgando no meio do caminho e aumentou o número kkk

E segundo, essa semana não vou conseguir postar outro dia. Então, nos vemos semana que vem, ok? Beeijos ;*