Fanfic: A Dama de Vermelho (Vondy) | Tema: RBD

Insatisfeita por não atingir uma bofetada na mulher misteriosa, Julieta se debateu com raiva nos braços do sargento.


― O que está acontecendo aqui? Vocês duas pretendem discutir isso na delegacia? ― Acácio indagou, enquanto tentava conter a dançarina.

― Não! Por mim, não ― a dama de vermelho respondeu rapidamente, não queria outro problema com a justiça logo agora. O investigador observou curioso a reação da dama de vermelho à sua frente, aliás, desde o momento em que entrou no estabelecimento ela continha um olhar diferente.

― Julieta? ― Christopher questionou a garota.

― Não será preciso, mas um dia você vai pagar por isso, Catarina ― afirmou a moça carrancuda. Sem conseguir deter sua frustração, proferiu com rancor: ― Sua insolente!

― Insolente é você. ― A mulher misteriosa levantou um dedo em sinal de reprovação. ― Eu já lhe disse, o que eu faço da minha vida não é da sua conta. ― Alterada começou a andar em direção da garota, porém foi impedida pelo senhor Uckermann.

― Já chega! As duas, imediatamente para a delegacia! ― ordenou o sargento Acácio que suspirou impaciente.

A dama de vermelho praguejou, levando as mãos à testa, balançou a cabeça em descrença. Perdeu todas as estribeiras por causa da falsa moralista e agora com certeza estaria em maus lençóis. Na delegacia, seus documentos seriam registrados, tornando difícil esconder o segredo. Dessa vez não teria tempo para fugir, porém, pelo menos não enfrentaria outra despedida inevitável.

― Um momento, sargento ― Christopher comentou após perceber a aflição da moça. ― Creio que não será necessário. Acompanharei a senhorita Catarina até a pousada, e o senhor poderia fazer o mesmo com a Julieta.

― Muito conveniente ― resmungou a dançarina, demonstrando seu descontentamento.

A mulher misteriosa revirou os olhos, cansada com toda a discussão sem sentido por parte da outra. Ela, então, caminhou para fora do Burlesque, carregando consigo as recordações amargas, ainda frescas em sua mente. Percorreu a rua, sentindo seu coração acelerar, quase saltava pela boca. No mesmo instante, reparou na presença do investigador atrás de si e na hora que seus olhos se encontraram, ele declarou:

― Prometo que ficarei calado o trajeto inteiro.

A dama de vermelho concordou com um aceno, reconhecendo que às vezes o senhor Uckermann parecia entendê-la melhor do que ela mesma. E, realmente, sua única vontade no momento era de continuar em silêncio, afastando-se de toda aquela confusão. Não gostaria de mais um aborrecimento, já havia encarado o suficiente para um dia. Além da prisão de Israel, do chefe enfadonho, do tumulto dos clientes e da Julieta, ainda tinha, para piorar, aquelas lembranças dolorosas que voltaram à tona. As imagens eram tão nítidas que se assemelhavam a uma água cristalina.

― Eu sei que prometi que não falaria nada, mas a senhorita possui uma feição estranha no rosto ― o homem desabafou, observando-a atento.

― Ah, o senhor e sua perspicácia... Eu sabia que não duraria muito ― ela cochichou com um sorriso torto. ― Alguns dias deveriam ser apagados da memória. ― A moça tentou evitar o assunto, seus pensamentos ainda estavam atordoados.

Porém sua explicação provocou o efeito contrário, o rapaz enrugou a testa intrigado.

― O que aconteceu de verdade lá?

A mulher misteriosa parou de andar e fixou seus olhos no rosto de Christopher.

― Ao que o senhor se refere? ― Ela o analisou, um medo repentino a atingiu.

Ele diminuiu os passos, a poucos metros do destino deles, já era possível avistar o estabelecimento de madeira. Reparou na postura defensiva dela, os ombros tensos, além dos braços que acabara de cruzar.

― Oras, entre a senhorita e a Julieta ― o investigador achou melhor abordar a questão de uma outra forma.

― O senhor quer a verdade? ― A dama de vermelho levantou o queixo, endireitando-se. ― A garota está morrendo de ciúmes porque o senhor não quis sair com ela. ― Em seguida, retornou a caminhar. ― Na minha opinião, se eu fosse o senhor, daria uma chance para a coitada. Convide-a para jantar.

― Então, quer dizer que isso tudo foi causado por ciúmes? ― Christopher voltou a acompanhá-la. ― Mas não acredito que seja só esse o motivo, pois eu vi o semblante da senhorita, aterrorizada no palco e depois a dor, não era de quem iria levar um bofetão. ― Ele segurou o braço dela, em um movimento gentil, impedindo-a de continuar. ― Catarina, até quando você vai guardar isso? Para sempre?

― O senhor e essa mania de tentar me salvar, eu não preciso que faça isso ― ela retrucou exasperada, sentiu o sangue ferver em suas veias, definitivamente hoje não seria um bom dia.

Acostumada a combater suas batalhas sozinha, considerava a ideia de alguém se importar com seus sentimentos algo errado. A moça suspirou irritada, estava farta das aporrinhações dele. Desde de manhã, aquela conversa sincera e acolhedora só a angustiou ainda mais. Não merecia seu apreço.

― Será que o senhor poderia atender um pedido? ― ela prosseguiu a falar e o homem balançou a cabeça, afirmando. ― Por favor, não me acompanhe até a pousada. Necessito de um tempo sozinha.

A mulher se desvencilhou das mãos dele, enquanto o investigador procurava pelas palavras. E, sem esperar por qualquer objeção, ela seguiu para o estabelecimento.

― Inacreditável! O senhor não sabe cumprir nada. ― Assim que colocou os pés na varanda de madeira, a dama de vermelho virou-se para atrás, pois havia notado a presença dele.

― A senhorita não me deixou completar o pensamento. Se tivesse feito isso, compreenderia a minha explicação.

― E qual seria essa explicação? ― perguntou ela por educação.

― Aqui é o único lugar na cidade que serve café da manhã, almoço e janta. ― Apontou Christopher para o armazém. ― Não sou o responsável pelo fato da pousada ficar na parte de cima. ― A moça fechou os olhos com força, ele possuía toda razão.

Ela ameaçou abrir a boca, porém a senhora Valdez apareceu repentinamente em seu campo de visão, comunicando para os dois sem delongas:

― Estamos com um pequeno problema no salão, uma infestação terrível de ratos! ― A mulher parecia preocupada. ― Salvamos um pouco de comida, caso queiram jantar, posso solicitar para servirem no seu quarto, Catarina.

― Não será necessário, senhora ― Uckermann respondeu sem hesitação.

― Não, por favor. Pode mandar servir no quarto. ― A dama de vermelho sentiu-se um pouco mal por tratar o homem daquela forma. Ao falar, desviou o olhar para ele como se pedisse desculpas.

O investigador acenou com a cabeça em concordância e logo depois, os dois subiram as escadas que levava ao aposento dela. Um completo silêncio predominou o ambiente no momento em que entraram. Quando a comida chegou, eles não foram capazes de romper o vazio sonoro. Após o jantar, um desconforto envolveu a moça, o clima tácito a incomodou. Segurou o cálice de vinho entre os dedos, buscando um conforto na bebida que se espalhava pela sua boca. Cada gole parecia uma tentativa de dissipar os acontecimentos recentes.

― Acredito que esteja na minha hora ― disse o homem ingerindo o resto do seu líquido. ― Irei deixá-la sozinha, como combinado.

Enquanto o vinho descia por sua garganta, ela decidiu retomar o assunto da parte da manhã.

― Às vezes o senhor me enlouquece com as suas declarações. ― A mulher misteriosa confessou, um misto de surpresa e um leve susto pela sua franqueza.

― Perdoe-me, não foi minha intenção chateá-la. ― Christopher mencionou com sinceridade, percebeu que ela estava aberta para um diálogo. ― Gostaria muito de poder ajudá-la, porém não depende só de mim. A senhorita precisa desejar isso.

A moça ponderou por um instante, considerando as palavras dele. Constatou que o rapaz realmente possuía razão, mas será que conseguiria superar seus medos e inseguranças?

― Eu... ― Inspirou o ar como se procurasse a coragem em cada fôlego, e o investigador aguardou esperançoso de que ela revelaria seus segredos. ― Não posso. ― A dama de vermelho levantou-se depressa, notando que se lhe contasse a verdade, tudo se transformaria em realidade.

O efeito do álcool desapareceu aos poucos, deixando-a cautelosa. Toda sua coragem evaporou.

― Não precisa ter medo, confie em mim. ― O investigador foi ao encontro dela.

Talvez o problema fosse justamente esse, por ele transmitir o amparo que a moça suplicou tanto em suas noites angustiantes. Uckermann segurou uma de suas mãos, entrelaçando seus dedos nos dela.

― Como seguirei em frente? ― ela perguntou em um sussurro, sua vulnerabilidade transparecendo. ― Não faço a mínima ideia.

― Quem sabe se a senhorita contar o que aconteceu isso a liberte.

A mulher ergueu o olhar para encará-lo, tentou formular um esclarecimento, porém falhou em sua missão. Em vez disso, apenas uma lágrima escorreu pela sua bochecha. Observando a tristeza no rosto dela, ele estendeu sua mão, enxugou-a com um gesto suave.

― Penso que seja melhor não nos vermos mais ― a dama de vermelho disse ao se afastar dele, esquivando de outro contato. Acreditou que agir dessa forma a protegeria, não queria mais sofrer com esse incidente.

― Certo... ― O investigador pareceu desconcertado. ― Bem, se é isso que a senhorita deseja, não é necessário se preocupar. Amanhã, logo depois dos depoimentos, eu viajarei.

Surpreendida pela resposta dele, a moça estagnou os pés no piso de madeira. A notícia de sua partida repentina mexeu com suas emoções. Lutava para entender seus sentimentos conflitantes, por um lado sentia uma estranha melancolia, uma saudade antecipada. E, pelo outro, reconhecia que talvez essa separação fosse precisa para buscar a própria paz. Em silêncio, eles se examinaram meticulosamente, naquele momento uma compreensão mútua surgiu entre os dois, esse seria o último encontro.

Enquanto a mulher misteriosa absorvia a descoberta, o homem dirigiu-se até o cabideiro para apanhar seu casaco e o chapéu que estavam pendurados. Assim que reparou que ele partiria, ela sentiu uma vontade súbita de chamá-lo, chegando a dar dois passos em sua direção, entretanto recuou no instante seguinte. Contudo, eles quase se esbarraram, visto que Christopher também havia retornado. A moça então aproximou-se devagar, encostou sua testa na dele, suspirando abatida. Logo depois, enlaçou sua mão nos cabelos do rapaz, tocando seus lábios nos dele em uma carícia delicada. O investigador correspondeu o beijo, incapaz de resistir ao magnetismo que os unia, alimentando a chama ardente entre eles. Entregaram-se à paixão avassaladora, sem uma preocupação com o amanhã, pois tudo o que restava naquele momento era a despedida.

I got my own set of scars to hide | Eu tenho meu próprio conjunto de cicatrizes para esconder

I got my ow imperfections | Eu tenho minhas próprias imperfeições

I can't hold your heart when I'm fixing mine | Eu não posso segurar seu coração quando estou consertando o meu

(Imperfections - Celine Dion) 

Eita que agora deu ruim aqui, o Ucker tá indo embooora!! Aninha faça a sua aposta, acha que ele vai partir mesmo da cidade? Ou será que a Dul vai mudar de ideia?