Fanfic: Outono em Abril | Tema: Stray Kids

Lee Know

Quando saímos para almoçar na companhia do Ateez e do BTOB, parei em meio à refeição para repassar em minha cabeça os últimos momentos que havia vivido desde aquela manhã.

Ter me exposto para Hyunjin e desligado o telefone na cara dele talvez fosse a situação mais desconfortável que eu havia passado naquele dia, competindo par a par com a minha cara deslavada em me comportar naturalmente perto de Han, como se eu não tivesse me dedicado a noite anterior inteira a tentar arrancar alguns gemidos de Hwang.

E o pior de tudo é que havia sido fácil até demais levar adiante o cotidiano com Jisung. Enquanto eu estava sofrendo de tensão por ter praticamente me declarado para outro homem, mascarei toda a minha inquietação, tentando brincar e deixar meu verdadeiro parceiro tranquilo para a filmagem que precisava realizar.

Eu estava me sentindo péssimo por agir de forma prejudicial com as duas pessoas por quem eu tinha mais carinho.

E para completar o combo de arrependimentos do dia, preocupei-me com o que eu havia dado a entender para Yongbok quando solicitei que ele não partisse o coração de Hyunjin, pois, na hora, não pensei que ele poderia interpretar aquilo como um pedido para que parasse de ver Changbin e voltasse a investir no lance com Hwang. E agora eu teria que descobrir na prática como que ele havia recebido as minhas palavras ambíguas.

- Jagi - Han falou baixinho ao meu ouvido durante o almoço, para não chamar atenção -, em que você está pensando? Seu olhar está longe.

- Eu estava pensando que preciso pegar as minhas chaves com Hyunjin - falei aleatoriamente.

- Não tem pressa, os outros abrem a porta para você, vamos voltar todos juntos mesmo.

Assenti com a cabeça e me servi com mais Tteokbokki. 

- Hyunjin está bem? Vocês tem passado mais tempo juntos ultimamente.

Han já tinha percebido, mas isso ainda não era um problema. No entanto, eu não queria começar mais uma conversa sobre esse assunto.

- Ele segue bem chateado por causa do afastamento, isso só vai mudar mesmo quando toda essa situação se resolver.

- Eu nem imagino o que ele esteja sentindo, Stray Kids é o centro das nossas vidas há anos. Com toda a agenda do Kingdom, está cada vez mais difícil de passar tempo com ele, mesmo morando na mesma casa.

- É por isso que eu tenho feito um esforço.

- Você é um bom amigo.

Concedi um sorriso consternado para Han e voltei meus olhos para o meu prato mais uma vez. A culpa se alastrava dentro de mim, ainda mais levando em consideração que a minha maior vontade era ligar para Hyunjin e tentar acertar as coisas, que haviam ficado extremamente esquisitas com a ligação. Mas como que eu ia arrumar aquilo? O que eu falaria para ele? Que era verdade e eu estava apaixonado por cada momento que passava ao seu lado ou que eu estava brincando e não tinha real intenção de falar aquelas coisas?

Eu tinha que parar de pensar em meio à tanta gente me rodeando, Hannie já tinha percebido minha distração e eu não queria mais ter que explicar o meu comportamento anormal com balelas.

Meu desejo era que aquele dia pudesse chegar ao fim logo e que, até lá, eu conseguisse raciocinar algo decente para me explicar para Hyunjin. Ele não tentara retornar minha ligação em momento algum, nem ao menos enviara uma mensagem, então imaginei que eu pudesse tê-lo aborrecido.

E eu mesmo não queria resolver isso por mensagem, preferia vê-lo.

Tentei ter outras conversas triviais no restaurante, mas nada me prendia a ponto de se tornar uma distração boa o suficiente para que eu me desligasse das minhas preocupações. Ainda assim, me mantive ativo e alegre, porque nem Han nem ninguém mais merecia que eu descarregasse minhas frustrações ao evidenciar um humor abalado.

O irônico é que isso só me fez pensar mais ainda em Hwang, afinal, já fazia dois meses que ele estava vivendo essa vida social artificial, disponibilizando uma versão agradável de si próprio perto dos outros e guardando sozinho toda a sua aflição.

Tivemos outras gravações para o Mnet no decorrer da tarde e a sensação era de que aquele dia não acabava nunca.

Quando era cerca de quatro horas, decidi perguntar se alguém do grupo tinha falado com Hyunjin no decorrer do dia, mas os últimos a entrarem em contato com ele, comentaram terem trocado mensagens antes do meio-dia. Se eu quisesse saber sobre Hwang, teria que entrar em contato com ele por conta própria.

Às cinco horas, escrevi diversos inícios de mensagens, mas apaguei todos eles e desisti de enviar, guardando de vez meu celular no bolso para não ter que me sentir mais frustrado do que já estava.

Finalmente o relógio bateu seis horas e alguns de nós foram liberados antes, passei um tempo com Hannie e Changbin no camarim da emissora, jogando assunto fora, até que deixei a sala para pegar meu celular mais uma vez e conferir se havia alguma notificação. Não tinha nada de novo na tela além do sinal de que a minha bateria estava se esgotando rapidamente e eu não teria como tomar nenhuma providência se não corresse para fazer algo.

Minhas opções eram: gastar a bateria enviando mensagens que eu não sabia quando ou se seriam respondidas, ou pedir um carro por aplicativo e tentar encontrar com Hyunjin na JYPE, se eu tivesse sorte...

Não pensei duas vezes.

***

Hyunjin

Eu consegui dormir um pouco depois que Lee Know saiu de casa, mas acabei não me prendendo à cama por muito tempo, pois sentia algo diferente naquele dia.

Quando acordei pela segunda vez, estava agitado e precisava colocar essa inspiração para fora de alguma forma, mas para que pudesse criar algo, precisava voltar para casa antes. Então tirei as roupas que Lee Know havia me emprestado e deixei elas dobradas sobre a sua escrivaninha. Me vesti com o look do dia anterior e entrei na cozinha para bisbilhotar o que poderia afanar para comer.

Fiquei com preguiça fazer café, porque não queria ter que esperar ele coar, então abri a geladeira e peguei um dos potes de pudim da prateleira de Minho e parti da casa lírica logo após comer.

Caminhei no sol e fiquei feliz, porque parecia que até o clima estava positivo, mas talvez eu estivesse nessa vibe pelos motivos errados.

Estava sentindo a euforia de um sentimento novo, que era a reciprocidade. Apesar de ter passado a noite toda sem saber como reagir às investidas de Lee Know, tudo que a gente dividiu naquele momento foi mais que suficiente para deixar claro que a atração era mútua, e, por mais que ele fosse comprometido com alguém, esse sentimento era tão lisonjeiro, que eu não tinha como ficar triste em descobri-lo.

A culpa, obviamente, já estava batendo desde o primeiro instante e tinha sido por isso que eu não conseguira acompanhar o ritmo acelerado de Minho a me tocar. Talvez para ele, a reciprocidade tenha sido apenas emocional, porque em questão física eu deixei a desejar.

O único porém dessa sensação de satisfação era pensar em Han e em como eu gostava da amizade dele. Nós já tínhamos tido desentendimentos durante a nossa época de trainees e nos resolvemos tão bem quanto a isso, que a nossa relação só fortaleceu dali pra frente. Se eu  cedesse aos meus desejos mais íntimos, poderia colocar tudo isso a perder.

Então não havia muito o que se pensar sobre essa situação, era um caso fadado a morrer desde o início e era por esse mesmo motivo que nada se concretizara de fato na noite anterior. Mas só a alusão já tinha servido de estímulo para que eu me reconectasse com uma parte de mim que havia sido perdida durante o hiato.

Depois que me ajeitei em casa, percebi que aquela era a primeira vez  em meses que eu ia para a JYPE para criar ao invés de apenas praticar as músicas de sempre.

Tomei um café no lounge e bookei uma sala para utilizar. Em meu primeiro momento nela, fiquei pesquisando canções no Spotify, para que eu pudesse criar uma performance de dança original em cima de alguma. Levei um tempo me decidindo, mas isso até que me distraiu de forma agradável.

Depois que me alonguei que por fim comecei a criar passos novos, colocando o celular em modo de gravação para que eu não deixasse para trás nada do que a minha criatividade estava me proporcionando.

Às onze e meia, resolvi fazer uma pausa no rooftop, e levei minha mochila com o sketchbook de sempre. Tentaria esboçar algo para colorir com aquarela quando voltasse para casa.

Passando uns minutos, recebi uma ligação de Lee Know, perguntando sobre o meu dia e me contando um pouco do seu. Sentei com os pés por cima do banco que eu estava, perto das plantas, ocupando toda sua extensão, para poder atendê-lo confortável.

Não foi uma ligação longa e talvez essa tenha sido a questão.

Brinquei em certo momento, dizendo que Lee Know correria o risco de se apaixonar por Park Seonghwa, uma vez que ele era considerado o membro Visual do Ateez e, na sequência disso, Minho parecia ter se perdido nas palavras, dando a entender que não poderia se apaixonar por outro Visual que não fosse como eu.

Eu fiquei confuso com o que ele havia dito e tentei tirar dele a resposta do jeito mais estúpido possível, então talvez eu tenha merecido quando Lee Know desligou a ligação na minha cara.

O pior é que eu não sabia exatamente o que tinha se passado na cabeça dele naquela hora, se tinha ficado bravo ou se estava embaraçado demais para continuar falando. Mas como eu sabia que o seu dia seria cheio de gravações, eu não quis lhe dar mais dor de cabeça, e esperei para ver se ele entraria em contato comigo para esclarecermos tudo.

Só que Lee Know ficou offline por por muitas horas, e aquilo me fez imaginar se ele não tinha mais pensado em mim durante o dia, como eu o havia mantido na cabeça quase em tempo integral.

Apesar de sentir incerteza quanto ao que estava se passando, ainda tentei aproveitar o meu tempo, voltei a coreografar até as cinco horas e meia, retornando para casa às seis.

Passara uma hora que eu estava em meu quarto e percebi o celular tocando. Coloquei os pincéis de aquarela de lado e apertei no botão verde tão rápido, que atendi a ligação antes mesmo de ver o nome de quem estava me requisitando.

- Lee Know? - perguntei esperançoso.

"Já falaram com você?", a voz de Han Jisung respondeu em um tom surpreso do outro lado da linha.

- Não entendi...

"Você também está procurando  ele?"

- Não sei do que você está falando, o que está acontecendo?

"Lee Know sumiu, estamos procurando por ele há uma hora, não o encontramos em lugar algum."

- Mas quem esteve com ele por último?

"Eu e Changbin, só que depois que ele saiu de perto da gente, simplesmente sumiu sem deixar rastros."

- Ele não atende o celular? - eu estava começando a ficar preocupado.

"Não, cai direto na caixa postal."

Suspirei tão fundo de nervosismo, que provavelmente até Han foi capaz de escutar.

"Minho falou hoje sobre pegar a chave do apartamento dele com você, ele não tentou te contatar para isso?"

- Infelizmente não - lamentei.

"Ele não parecia muito bem durante o almoço, estou preocupado. Já liguei para outros amigos e para a mãe dele, mas não deu em nada."

- Estou tentando pensar em algo aqui também... - respondi, sem saber muito bem o que falar.

Se Lee Know não estava bem durante o horário indicado por Han, eu poderia ser o culpado disso, mas não conseguia imaginar o que ele poderia ter feito para sumir tão repentinamente. 

- Eu não quero ser pessimista, Han, mas você já tentou ligar para hospitais por perto?

"Não queria recorrer a isso, porque não quero acreditar que ele possa ter sofrido um acidente, por isso estou ligando para você. Vocês se aproximaram muito nos últimos tempos, não tem ideia de onde ele possa ter ido?"

- Meu único palpite seria a JYPE, mesmo que ele não tivesse um motivo para passar na empresa hoje. Ele sabia que eu estava lá mais cedo, então se ele queria a chave do apartamento, talvez tenha ido me procurar? É a única coisa em que consigo pensar.

"Você consegue nos encontrar lá?"

- Sim. Já vou sair de casa.

"Provavelmente você chegará antes."

- Eu vou fazendo uma varredura assim que chegar, e se não encontrar ele, nos reunimos para ir atrás juntos.

"Certo! Obrigado, Hyunjin."

- Vamos mantendo contato.

Botei meu celular no bolso, coloquei um tênis no pé e chamei um carro para me buscar.

Minhas pernas estavam inquietas durante a viagem até o local e eu não conseguia me concentrar direito. Não queria pensar que algo ruim poderia ter acontecido a ele, mas era quase impossível de não imaginar alguns cenários. Isso explicava por que motivo eu não havia nem por um segundo vacilado em minhas emoções ao falar com Han, a culpa que eu sentia relacionada a ele simplesmente fora esquecida em meio ao caos de informações.

Assim que cheguei na JYPE, questionei na recepção se Lee Know tinha passado por lá, mas aparentemente seu nome não tinha sido informado para as recepcionistas da noite. Desesperado, ainda que pudesse ser uma ideia tosca, indaguei se alguém havia perguntado por mim, mas as moças disseram que não fazia nem meia hora que o turno delas havia iniciado, então não teriam conhecimento disso, caso se alguém tivesse me procurado antes daquele horário.

Agradeci e parti para uma busca cega, começando pelo andar em que costumávamos praticar. Visitei cada sala que estava aberta e bati nas demais fechadas para perguntar para os usuários sobre o paradeiro de Minho.

Mas todo o meu trabalho estava sendo inútil e ainda tinha treze andares para investigar. Foi aí que tive um insight, o terraço.