Fanfic: Outono em Abril | Tema: Stray Kids

Hyunjin

Nos encontramos com os garotos na mesa de jantar, até mesmo Kim Seungmin apareceu um pouco atrasado, mas a tempo de comer. Confesso que aquela reunião me fez bem, porque longe do Stray Kids como ocupação profissional, o que me restava era me agarrar a cada momento que poderia usufruir da companhia de meus amigos como uma família.

- Você está com uma cara esquisita - observou Seungmin, encarando Lee Know.

Minho ergueu uma sobrancelha só, sem entender do que ele falava e, aparentemente, o outro não tinha medo nenhum da represália que poderia viver nas mãos de Lee Know. Kim Seungmin vivia perigosamente.

- Sua boca e a sua pele ao redor dela estão muito vermelhas, parece que você beijou alguém - continuou.

- Ah, é disso que você está falando? Eu estava beijando Hyunjin - brincou Lee Know, porém fingindo total seriedade. - Não é, Hyunjin-ah?

Ele virou o rosto para mim e sorriu com desdém.

- Até parece! - exclamei. - Eu hein, credo!

- Por que você sempre me rejeita!? - gritou Minho de forma extremamente dramática e fechou um punho como se fosse bater no meu braço.

Fechei os olhos e me encolhi todo no mesmo lugar e só abri de novo quando percebi que ele havia desistido do golpe.

Lee Know e I.N estavam rindo, então a minha encenação havia sido bem sucedida. Ao passar os olhos pela mesa, encontrei com o olhar de Felix, que também estava prestando atenção na gente, mas ele apenas sorriu para mim. Resolvi devolver o sorriso também para não levantar suspeitas.

Quando terminamos de jantar, Lee Know e Seungmin ficaram encarregados da louça, já que não tinham ajudado com a preparação da refeição. I.N voltou ao próprio quarto e como eu fiquei de bobeira no sofá, então Felix veio me fazer companhia, sentando-se ao meu lado.

- Eu sinto como se fizesse muito tempo que não paramos para conversar - disse ele. - Como você está?

- Até que estou bem e você? O Kingdom ainda está exigindo muito?

- Agora que o programa já começou a ir ao ar, estamos um pouco mais tranquilos, porque sabemos que logo vai chegar ao final das gravações.

- Já está no ar? Lee Know nem me falou!

- É bem recente. 

- É melhor assim mesmo, ele deve ter tentado me poupar, porque o primeiro episódio ainda tem a minha participação né...

Felix apoiou a mão no próprio rosto, pensando no que eu havia dito.

- É verdade - comentou apenas.

Eu sorri com melancolia e ele mudou de assunto.

- Jamais imaginei vocês dois andando juntos - disse Felix. - Vocês não eram próximos quando morávamos todos na mesma casa, na verdade, era como se vocês se repelissem, e agora estão sempre um na casa do outro.

- A vida nos surpreende né.

- Eu sinto sua falta - confessou aleatoriamente.

Eu não tinha ideia se os meus olhos haviam denunciado surpresa ou não, mas tive que ficar em silêncio, pois percebi que o sentimento já não era mais mútuo para mim. Eu não conseguiria dizer o mesmo, porque Minho preencheu todo o espaço que Felix tinha em minha vida antes, tanto como melhor amigo quanto como romance - e o maior plus era que ele não apenas era recíproco romanticamente, como também fazia questão de me conceder a sua companhia em momentos difíceis para mim. Lee Know nunca estava lá só pelas horas boas, ele estava lá para o que fosse preciso.

Felix ainda me olhava, então tentei raciocinar algo rápido para falar.

- Devíamos fazer algo juntos novamente, podemos sair uma hora dessas para dar uma volta ou podemos jogar algo aqui dentro mesmo. O que você estiver afim.

- Eu estava pensando - disse ele -, já que você está aqui... se não quer dormir no meu quarto hoje.

- Eu... - aquilo tinha me pegado totalmente desprevenido.

- Não estou sugerindo nada além disso - explicou-se. - Se você quiser jogar Uno, podemos jogar. Se quiser só conversar, viramos a noite conversando. É um convite singelo.

Felix tocou a minha mão com a sua e eu fiquei um pouco confuso, mas era difícil não acreditar na sua palavra, assim como era bem difícil dizer não para um rosto tão angelical como aquele. 

- É que eu vim aqui para fazer companhia pro Lee Know.

- Tudo bem - disse ele, parecendo um pouco decepcionado. - O convite permanece se você não quiser dormir nessa barraca de novo.

- Ele contou que eu dormi aí?

Felix concordou com a cabeça.

- Obrigado pelo convite, eu vou ter isso em mente - falei por fim.

Felix sorriu e soltou a minha mão quando se levantou para sair, com isso, meus olhos se ergueram junto com ele e eu notei Minho encostado à entrada da cozinha segurando um pano de prato entre os braços cruzados e olhando fixamente na minha direção. Quando Yongbok sumiu de vista, Lee Know ergueu o rosto para mim em um movimento rápido, como quem questionava o que tinha rolado ali. Em resposta, eu apenas sorri e dei de ombros.

Logo depois, Seungmin deixou a cozinha, por já ter terminado de lavar a louça e Lee Know permaneceu para acabar de secá-la, então resolvi companhia para ele.

- O que o Yongbok queria?

- Felix me ofereceu que eu dormisse no quarto dele.

- E o que você disse?

- Que vim aqui para passar um tempo com você.

- Boa resposta - disse ele com um sorriso pretensioso no canto da boca.

- Você contou ao Felix que eu dormi na barraca aquele dia?

- Na real, eu contei para todo mundo quando o assunto surgiu, afinal, como que eu ia explicar esse troço no meio da sala? - Minho riu.

- Já que ela ainda está montada, eu posso dormir nela de novo... - sugeri, enquanto assistia ele guardar a louça.

- Por quê? Você não quer dormir comigo? Você sabe que ninguém vai nos incomodar aqui ou pensar algo disso.

- O problema é justamente esse, que eu queria que pensassem - admiti, desabafando algo que estava me corrompendo havia algum tempo -, digo... não agora, mas um dia. E não assim também, eu queria que fosse certo - senti que minhas palavras estavam se enrolando umas nas outras e eu não estava conseguindo soar claro como gostaria, apenas parecia nervoso. - Você me entende?

Lee Know largou o pano de prato sobre a pia e se aproximou de mim, acariciando o meu rosto com a mão gelada.

- Eu entendo e sinto muito não poder oferecer nada disso agora. Mas é por isso que você preferiria dormir longe? Porque está com receio sobre o futuro?

- É que se eu dormir na sala, quem sabe... eu vou me reacostumando com a ideia.

- Com que ideia? - Lee Know franziu a testa, apoiando uma mão sobre a pia.

Fiquei em silêncio por mais tempo do que esperava, tentando achar palavras que não soassem tão pessimistas.

- Hyunjin - Minho me chamou, desistindo de esperar pela minha resposta -, eu não vou deixar você dormir sozinho. Eu não me importo qual é o raciocínio que a sua cabeça criou para você pensar nisso, mas não vou deixar. Agora, pode ir tomar banho e depois ir direto para o meu quarto e me esperar bonitinho lá. Eu tenho que fazer umas ligações e depois te encontro. Pegue a roupa que quiser do meu armário.

Fiquei parado onde estava, meio perplexo com a firmeza dele.

- Vai -  Lee Know mandou, com um sorriso insistente.

Meio atônito, fiz o que ele pediu e voltei para o seu quarto. Escolhi um conjunto de roupas que pudesse utilizar como pijama e fui até o banheiro em seguida. Durante o banho, não consegui desligar meus pensamentos, era um momento muito propício para refletir. 

O meu pé atrás com o caso que estávamos tendo, acabava sabotando a continuidade do nosso ritmo de euforia e isso era culpa minha toda vez, pois Lee Know sempre se mostrava mais positivo que eu. No entanto, eu estava errado em me manter cético? Quer dizer, a pessoa que seguia imersa em incertezas era eu. Lee Know estava em um contexto quase cômodo, tinha duas pessoas que o amavam rondando seu espaço e podia escolher com quem passar o tempo, além de manter suas funções com o Stray Kids. 

Saí do banho já vestido e indo em direção ao quarto, com a mesma linha de reflexão na cabeça. Eu não tinha mais ligação profissional com o grupo por conta das polêmicas e estava praticamente namorando alguém que já tinha uma pessoa especial na vida, ou seja, eu era a segunda opção - sendo ainda mais direto, eu não passava de um amante. Nunca quis ver dessa forma, mas era impossível não fazer essa distinção de título.

Eu queria viver coisas boas e Lee Know me proporcionava isso, mas a longo prazo, quais seriam as consequências de embarcar nessa aventura?

Quando Felix me convidou para dormir em seu quarto, eu não pensei em aceitar, mas lembrei de como era mais simples quando só nos escondíamos para nos beijar porque achávamos divertido e não porque precisávamos de fato encobrir o que estávamos vivendo.

Fora isso, de tempos em tempos, Han Jisung sempre voltaria a pairar na minha mente. Eu tentava ocultá-lo da minha memória para poder aproveitar a companhia de Minho, pensando que a vida é uma só e que eu deveria apreciar os poucos momentos alegres, sem olhar para trás. Mas a culpa não era tão fácil de ser afastada e esse sentimento sempre retornava a mim.

Lee Know demorou mais do que eu esperava para voltar ao quarto, mas como ele havia dito que precisava fazer ligações no plural, imaginei que aquilo fazia sentido.

- Para quem você estava ligando? - perguntei quando ele reapareceu de cabelos molhados, pois aparentemente também havia tomado banho.

- Bang Chan e Jisung. Bom, para Han, eu apenas liguei para desejar boa noite e dizer que nos encontrávamos amanhã de manhã na emissora. Chan que foi mais demorado de lidar mesmo, mas falei conforme havíamos planejado. Ele não ficou feliz em saber que eu não encerrei tudo de uma vez e inventei esse lance de uma última despedida, mas aceitou, já que isso definiria mesmo a última vez.

- Quem sabe é melhor eu voltar pra casa, para garantir - falei, fitando o teto ao invés dele.

Lee Know se aproximou, deitando-se ao meu lado.

- Hwang, o que está havendo? Você está se sentindo mal perto de mim? Você sabe que quando eu "mando" em você, é de brincadeira né? Você pode se opor a tudo o que eu digo se quiser.

- Eu sei - suspirei e virei na cama para olhar para ele. - Eu amo passar meu tempo com você, mas esse é o problema, você tem sido o centro da minha vida agora que estou nesse limbo. O que eu vou fazer se te perder?

- Eu não vou te deixar.

- Uma hora você vai ter que abandonar alguém, não dá para viver uma vida dupla para sempre.

Minho respirou fundo.

- Eu adoraria te segurar aqui à força, porque não tem coisa melhor que deitar numa cama e te abraçar, mas se você quiser ir embora por estar se sentindo desconfortável com a minha companhia, eu não vou te prender. 

Eu sabia que se eu fosse embora, me sentiria ainda pior sozinho, pois ele era minha fonte de felicidade no momento.

- Eu não quero ir embora - falei.

Lee Know sorriu e me deu um beijo.

- Fico feliz em saber disso - disse ele.

***

Lee Know

Acordei na manhã seguinte com o meu braço ainda envolvendo a cintura de Hyunjin, que dormia tranquilamente. Apertei um pouquinho mais o seu corpo e beijei o seu pescoço por trás. Era surpreendente que a nossa conchinha fosse tão confortável, uma vez que ele era a pessoa mais alta, mas eu era quem geralmente ficava a cargo da posição protetora. Eu sabia que ele tinha razão, assim como Bang Chan também tinha em dar um ultimato, uma hora eu ia ter que escolher, e era durante esses momentos com Hwang que meu coração batia todo para o lado dele.

Mas Hyunjin estava certo quando falou que eu andava negligenciando minha relação com Han, obviamente meu sentimento só balançaria por Hwang se eu nem ao menos me envolvia mais com meu namorado. Todavia, eu tinha decidido apenas me deixar levar pelo que estivesse com vontade de fazer, ao invés de embarcar em convenções sociais para manter uma imagem.

Éramos opostos completos, Hyunjin se baseava na razão para suas questões emocionais e eu me decidia puramente baseado no impulso e ação. Ele gostava de arte e urbanismo, eu gostava de trilhas e natureza. Esses nossos dois mundos ainda não haviam colidido por completo por falta de oportunidade, mas eu não tinha ideia de como essa junção funcionaria, justamente porque eu não costumava pensar muito antes de agir.

Senti o cheiro do meu shampoo nos cabelos de Hwang e sorri, eu gostava de saber que até mesmo assim minha marca acabava refletindo nele.

Levantei para me arrumar antes que meu despertador humano de voz grave aparecesse batendo na porta e exigindo que eu saísse. Como estavam se tornando frequentes as visitas noturnas de Hyunjin, pensei se não deveria fazer uma cópia da chave para ele, para que não precisasse mais ter esse revezamento toda vez. Han já tinha uma chave do nosso apartamento, então não achei que seria uma ideia tão absurda.

- Hwang - sussurrei, voltando para a cama para falar com ele -, você quer uma carona para casa ou prefere dormir mais?

- Dormir - respondeu Hyunjin, com a voz engraçada.

- Tudo bem, vou deixar a minha chave em cima da escrivaninha, tá bom?

- Okay...

Larguei a chave onde havia dito e voltei rapidinho para a cama mais uma vez, abraçando ele por trás com carinho e selando seu pescoço com meus lábios.

- Tenho que ir.

- Tá bom, te amo - respondeu Hwang de forma meio robótica, denunciando totalmente o seu sono.

Me deu vontade de rir, mas achei fofo.

- Te amo também - respondi baixinho, sem saber se ele tinha escutado ou retornado ao seu estado onírico.

Peguei o carro com Jeongin como companhia e logo chegamos na CJ ENM para nos encontrar com os outros. A diária de gravações seguiu e foi cansativa, porque era ensaio atrás de ensaio para a nossa penúltima apresentação do programa. Fizemos uma pausa por volta das quatro da tarde e eu sentei no sofá que tinha em um dos cantos do nosso camarim, para poder descansar. 

Han se aproximou, sentando-se ao meu lado e subindo as pernas para cima das minhas coxas.

- Ouch, Hannie! - reclamei, empurrando as pernas dele para o lado e fazendo com que seus pés tocassem o chão novamente. - Essa coreografia está exigindo demais das minhas coxas e eu vou usar jeans na apresentação, então, com licença - falei e coloquei as minhas pernas sobre as dele ao invés.

Jisung simulou um carinho superficial sobre a minha calça, não querendo me machucar.

- Você está estressado? - perguntou.

- Um pouco - admiti -, Jeongin está com dificuldade para lembrar a sequência de passos, mas eu sei que ele vai pegar o jeito. É só que acaba sendo cansativo depois de tantas repetições.

- Eu entendo.

Tirei minhas pernas de cima dele e sentei direito ao seu lado, descansando a minha cabeça sobre o seu ombro, o moletom que ele estava usando era macio e parecia perfeito para isso.

Changbin apareceu do lado de fora da porta e quando foi entrar no camarim, seu pé direito escorregou no chão por algum motivo e ele teve que se agarrar na maçaneta para não cair. Sem conseguir se conter, e provavelmente nem tentando, Han desatou a rir alto, batendo com a mão no sofá, de tanta graça que achou naquela cena. Seo Changbin praguejou, mas isso fez com que Jisung risse mais ainda.

Aquela reação foi tão contagiante, que me fez lembrar dos motivos pelos quais eu amava Hannie. Segurei a sua mão e entrelacei meus dedos nos dele, sorrindo com a sua alegria iminente.

Han parou de rir e olhou para mim.

- Eu senti falta disso, sabia? - confessou.

- Eu sei - falei. - Eu também.

Aquilo não era uma mentira, o que eu e Han tínhamos não era substituído pela minha relação com Hyunjin, nossas convivências eram totalmente diferentes e o que cada um me proporcionava era único.

- Vem - levantei do sofá e ofereci a minha mão a ele -, vamos sair um pouco daqui.

Han se pós de pé e foi me seguindo pelo corredor.

- Aonde estamos indo? - perguntou enquanto andávamos.

- Bem aqui - falei, indicando a porta do banheiro privativo -, entre logo antes que alguém nos note nas câmeras.

Empurrei ele para dentro e fechei a porta atrás de nós, trancando.

Han riu.

- Com certeza viram a gente - falou.

- Ah, ninguém vai ligar, tem mil desculpas para isso e já se espalhou nas premiações que os membros do Stray Kids sempre vão ao banheiro juntos. Por bem ou por mal, já estamos falados.

Antes que ele abrisse a boca para argumentar novamente, encostei Jisung contra a pia e o beijei. Hyunjin havia dito que eu devia manter as aparências, então resolvi fazer a minha parte.

No entanto, por mais que eu tivesse plena consciência do meu amor por Hannie, eu não esperava sentir o que senti naquele momento, pois ultimamente andava tão envolvido pela presença de Hwang, que presumi que não conseguiria ter mais nenhuma empolgação ao beijar Han, mas eu não poderia estar mais enganado.

Ele estava tão afoito em me ter em seus braços novamente, que aquilo despertou um entusiasmo inesperado em mim.

Han despiu a minha jaqueta de meus braços e deixou que ela caísse ao chão, logo em seguida, eu o ergui, agarrando-o pelas coxas e posicionando ele sentado sobre a pia de mármore. Pressionei meu corpo contra o dele, retomando seus lábios mais intensamente.

Não deu muito tempo e Han desceu dali, parando novamente em pé em frente a mim e me empurrou com tudo para trás, pressionando meu corpo contra a parede de azulejos e começando a beijar meu pescoço.

- Eu queria poder tirar a sua roupa agora - disse ele em um tom baixo ao meu ouvido -, mas não temos tempo suficiente para isso.

Senti minha pele se arrepiando e a libido a crescer com apenas a menção do desejo dele. Puxei seu rosto para beijá-lo outra vez, esfregando meu corpo ao seu e sentindo que estávamos no mesmo ponto de excitação.

- Então precisamos parar - observei -, porque desse jeito não vamos nem conseguir sair daqui decentemente.

Nos desencostamos e olhamos um para o outro com cara de riso.

Minha respiração fraca entregava o quanto eu estava tentado por Han, mas minha mente perguntava o que isso dizia de mim com relação ao que eu sentia por Hyunjin.

Nas duas horas restantes, focamos no treino, mas ficamos implicando e provocando um ao outro, sempre que tínhamos um pouco de abertura para isso. Estava sendo divertido e era como se resgatasse uma sensação leve em mim, com a qual eu não tinha mais contato. Hannie era fácil, ele poderia ser extremamente talentoso, mas ele tinha uma personalidade muito simples e descomplicada, dava para falar qualquer coisa com ele sem temer a sua reação. Eu não precisava pensar perto dele, era só chegar e viver, e isso era um grande bônus.

Não que Hyunjin fosse uma pessoa muito difícil, mas com certeza era menos acessível e levava um tempo para adquirir a sua confiança, por isso que nosso contato só se estreitou recentemente, após quatro anos de convivência. E, levando em consideração o momento delicado que ele estava vivendo, Hwang era um poço de incertezas e ansiedade. Eu tinha que ser forte por nós dois para que ele seguisse firme, mas eu não me importava em fazer isso pelo seu bem.

***

Hyunjin

Eu estava em meu quarto quando escutei a barulheira com que os garotos chegaram em casa, pareciam estar se divertindo com algo, então fui de encontro às suas vozes. Todos eles tinham vindo ao nosso apartamento como primeira parada, então pressenti que aquilo significava que jantaríamos juntos.

Han gargalhava sem parar, segurando-se em Lee Know para não despencar de vez a rir no chão.

- O que está havendo? - perguntei curioso.

- I.N tem um crush na recepcionista da CJ ENM - disse Han e desatou em risadas tudo outra vez, sem conseguir continuar a falar.

Jeongin revirou os olhos, ligeiramente incomodado.

- E qual é a graça nisso? - perguntei, quase partindo em defesa do doce I.N.

- Ele foi pedir o telefone da moça - explicou Changbin - e ela passou o número da recepção da emissora.

Han soltou uma risada ainda mais estridente ao ouvir Changbin relatar a situação.

Fui até Jeongin e passei a mão sobre o seu cabelo.

- Oh, I.N-ah, você tem muito a aprender ainda... - falei.

Ele balançou a cabeça de um lado a outro, mas finalmente sorriu, conformado em ter sido motivo de piada.

- Meu rosto está doendo de tanto rir - disse Han, olhando para Lee Know.

- Eu sei, você exagera às vezes - falou Minho, achando graça. - Agora chega, okay? Ou o seu rosto vai estragar - pediu ele e depois passou a mão por trás da cabeça de Han, para segurá-la enquanto dava um beijo em sua testa.

Naquela hora, eu desejei não ter visto aquilo, mas os meus olhos já estavam acostumados a fitar Lee Know em meio ao restante do Stray Kids agora.

- Ei, ei, ei - censurou Bang Chan -, nada de demonstrações de afeto antes do jantar - brincou ele e seus olhos se decaíram em mim logo em seguida.

Forcei um sorriso meia-lua na sua direção, tentando soar pleno para disfarçar, e pensei se era por conta da sua presença que Minho estava agindo com mais carinho ao redor de Han.

Entretanto, o tempo foi se passando e durante o jantar - e mesmo após ele - senti que eu havia pressuposto errado. Lee Know não estava sendo complacente com Han apenas para se manter por dentro das expectativas de Chan, ele estava curtindo o momento, e eu me perguntei como pude ser tão tolo de achar que por minha causa, a sua relação com Han poderia mudar.

Eu queria que Minho pensasse em mim quando estivéssemos longe e ansiasse por me ver novamente, mas eu me esquecia que não era a sua única fonte de afeto. 

Todos foram em direção à sala de estar e eu aproveitei para ir à cozinha para buscar um copo de água. Quando voltei, parei encostado à porta dela e reparei em Han sentado no chão com as costas contra o sofá, enquanto Lee Know estava sentado entre as suas pernas e com as costas recostadas no peito dele. Aquela cena fez com que eu me revirasse por dentro e o pior de tudo é que eu não poderia demonstrar absolutamente nada da minha inquietação, pois havíamos combinado em fingir que havíamos nos desconectado.

Eu estava quase desistindo de ficar ali entre todos, pensando em me retirar para o meu próprio quarto, quando Felix se levantou do sofá, roubando todas atenções.

- Seungmin e eu estávamos falando sobre ir embora, precisamos dormir um pouco. I.N, você vem também?

Aparentemente ele não questionou sobre Lee Know porque já estava subentendido que ele passaria a noite com Han, o que irrompeu em mais uma pontada de dor no meu peito. Eu sabia que era burrice desejar o contrário, mas o meu ciúme estava falando muito mais alto do que eu jamais pensara que faria e eu não estava sabendo como lidar com aquilo.

- Eu vou sim - disse Jeongin, levantando-se do chão.

- Ótimo - disse Felix. - Boa noite, pessoal.

Os outros dois garotos também desejaram boa noite e foi quando Felix se virou para sair que eu segurei uma ponta da manga de sua blusa.

- Eu posso ir com vocês? - perguntei.

- Claro - respondeu ele, parecendo meio confuso com o meu pedido repentino -, vou chamar um segundo carro pra gente.

- Obrigado. Boa noite, galera - virei-me com uma reverência, despedindo-me do restante.

Quando ergui o meu rosto novamente, notei os olhos duros e perplexos de Minho, encarando profundamente os meus.

- Ah - lembrei-me de uma única coisa antes de partir -, aqui está sua chave, Lee Know - tirei o chaveiro do bolso e o depositei sobre o braço do sofá. - Obrigado.

A expressão séria e desconfortável no seu rosto foi o último vislumbre que tive dele por um tempo.