Fanfic: Outono em Abril | Tema: Stray Kids

Hyunjin

Com nossos corações ansiosos, finalmente chegou o mês de Fevereiro e, com ele, o início de uma nova saga emocionante em nossas vidas como idols. O programa "Kingdom: Legendary War" tinha a proposta de fazer um campeonato de performances entre vários grupos de K-Pop, então logo estaríamos revendo alguns amigos que já havíamos feito e conhecendo muita gente nova também com o começo das gravações.

Isso era bem empolgante, mas o que mais mexia conosco era a possibilidade de criar grandes sets de apresentações e mostrar para todos do que éramos capazes. Entre os participantes, não éramos o grupo mais recente a ter se formado, então pelo menos tínhamos esse trunfo nas mãos, se é que isso serviria de alguma coisa para captar o respeito e admiração dos mais novos.

Eu havia trocado contato com alguns dos garotos do SF9 e estava contente por não chegar totalmente alheio aos competidores do programa. Changbin parecia o mais empolgado no Stray Kids, pois sua amizade com Jung Wooyoung, do grupo Ateez, já datava de tempos e essa era uma oportunidade ainda maior para fortalecerem esse vínculo.

Estávamos mantendo uma rotina pesada de treinos e práticas para a performance inicial do Kingdom, porque desejávamos uma primeira impressão impactante. Nossos ensaios no palco principal foram árduos e muito difíceis de sincronizar. Alguns dos membros se machucaram brevemente e isso fazia com que a tensão aumentasse ao nosso redor. Estávamos nervosos em acertar os passos e o timing, mas quando a disciplina implicava em ver um colega fisicamente debilitado, isso nos desnorteava.

Felix, que costumava ser a pessoa que mais se importava em consolar e confortar o próximo, havia invertido esse papel, pois seus erros constantes o estavam tirando do sério. Eu tentava estar presente para ele o máximo que conseguia, mas não tinha como desacelerar os ensaios e eu precisava cuidar das minhas marcações também.

- Você sabe que não é culpa sua - repeti para ele enquanto estávamos em pausa para nos hidratarmos.

- É sim, eu não estou acertando. Já passou da quarta tentativa. Eu estou atrapalhando o andamento do show.

- É uma performance difícil, a sua parte é realmente complexa.

- Vocês não estão errando.

- Claro que estamos.

Yongbok revirou os olhos marejados, com um sorriso consternado no rosto.

- Okay, vocês erram, mas em coisas menores.

- Claro, porque, repito, as nossas marcações não tem o nível de dificuldade da sua.

- Han está machucado por minha culpa.

- Han teve uma indisposição, mas ele está bem. E não é por sua culpa, é por causa da dificuldade da execução dessa apresentação.

Ele fechou os olhos e esfregou a mão na testa algumas vezes, então pousei minha mão em seu ombro para que ele focasse sua atenção em mim mais uma vez.

- Estamos mais nervosos porque tem muitos olhos nesse programa, não são apenas Stays, que relevariam qualquer escorregada que fizéssemos em um show. E isso vai continuar acontecendo até o final do Kingdom, então respira fundo e tenta de novo, é nossa única opção.

- Você tem razão - disse Felix, mas por mais que concordasse com o meu apoio moral, suas lágrimas não se contiveram de escorrer. Ele já havia segurado as mesmas por muito tempo durante a conversa.

Passei os dedos por seu rosto, limpando.

- Você precisa chorar mais? - perguntei com calma.

Felix balançou a cabeça negativamente, mas não emitiu nenhuma palavra.

- Tudo bem, então podemos voltar.

Trabalhamos muito duro para conseguir entregar o nosso esforço com perfeição e fomos muito bem recompensados por isso, afinal, Stray Kids saiu na frente logo de cara, pois conseguimos ficar no topo das classificações da primeira rodada, e isso era obviamente um motivo de comemoração para todos os membros. No entanto, para mim foi um pouco diferente.

Enquanto ensaiávamos e dávamos o nosso melhor nas gravações, algumas notícias começaram a circular na mídia, partindo de uma denúncia de alguém que dizia ter me conhecido durante o colegial e alegando que eu havia sido praticante de bullying durante o ensino médio. 

De início, não dei muita atenção para isso, esse tipo de boato surgia o tempo todo e geralmente acabavam sendo tão inofensivos e infundados, que facilmente acabavam sendo abafados pelo fandom, que levantava nossa bandeira e defendia nossas honras. Porém, a enxurrada de matérias e relatos falsos começou a tomar uma proporção cada vez mais alarmante, a ponto de que eu fui convocado por nosso empresário para uma reunião com a direção da empresa, em que decidiríamos como proceder a partir dali.

Os garotos repararam durante os últimos treinos da performance que eu estava começando a ser afetado pela propagação dos rumores, mas eles não faziam ideia de que essa reunião era o motivo maior do meu desalento. Entretanto, eu não queria tirar as cabeças deles do devido lugar, já tinham preocupações demais com fazer um grande espetáculo e eu desejava que fôssemos bem sucedidos.

Um balde de água fria foi o que senti no momento em que a ouvi que decisão final para toda aquela repercussão seria o meu afastamento do grupo e, consequentemente, do Kingdom também. Eu não estava sendo expulso, não era uma deliberação definitiva, era apenas uma solução temporária enquanto o caso fosse investigado e a minha inocência pudesse enfim ser comprovada.

Eu entendia perfeitamente que não havia outra saída além desse hiato forçado, a JYPE era um empreendimento muito grande e se a minha imagem estava manchada por hora, automaticamente a reputação da organização também estaria se meu rosto seguisse atrelado a ela até que toda a verdade viesse à tona.

No dia seguinte à performance de Miroh no Kingdom, nosso empresário e eu chamamos os membros para uma conversa na sala de prática e comunicamos juntos sobre o meu afastamento. Eles estavam todos sentados no chão enquanto falávamos de pé e reagiram com alguma surpresa logo de início, mas seguraram as pontas por conta da presença do nosso agente.

Bang Chan era o único que permaneceu 100% quieto porque havia participado da tomada de decisão junto conosco. Ele não era a favor do que estava acontecendo, mas como líder do grupo, tinha que estar ciente de tudo que ocorria.

- Você já sabia disso, hyung? - perguntou Han, após ter sobrado apenas Stray Kids naquela enorme sala.

- Sim - Chan disse e se levantou do chão, andando poucos passos para chegar ao meu lado e colocando uma mão sobre o meu ombro. - É temporário, Hyunjin logo estará de volta.

- Só não a tempo de seguir no Kingdom - completei pesaroso.

- Mas você vai voltar para a casa dos seus pais? - questionou Changbin.

Balancei a cabeça negativamente, porém quem respondeu foi Chan mais uma vez.

- Hyunjin não vai a lugar algum, nada mudou. Ele continua sendo parte do Stray Kids e continuamos morando juntos. Isso é apenas uma medida drástica momentânea.

- Menos mal - suspirou Lee Know. - Eu sou bom professor de dança, mas nas minhas pausas só temos você para dar sequência nos passos, Hyunjinnie - gabou-se.

- E eu? - perguntou Felix de sobressalto.

- Er... você dá pro gasto às vezes - respondeu Minho com um sorriso sarcástico nos lábios.

Felix revirou os olhos, mas riu da provocação.

Eu andei em sentido de meia-lua até parar nas costas de Jeongin, sentando atrás dele e apertando seus ombros com as minhas mãos.

- Eu vou deixar com você, I.N-ah, o encargo de preencher o meu lugar no DanceRacha.

- Nã-nã-não... - respondeu I.N, meio atrapalhado nas palavras. - Eu não sei se consigo.

- Você vai ir bem e os meninos vão precisar desse adendo.

- Está certo... - disse ele.

Eu havia recostado minha cabeça no seu ombro, mas não esperava que Jeongin olhasse na direção do meu rosto.

- Eu sinto muito - comentou com a voz baixa e suave, porém audível para todos na sala.

E ali foi a hora em que eu desabei. Não que eu já não tivesse chorado muitas vezes durante todo o processo de incertezas e calúnias, mas até então havia feito isso sozinho em meu quarto e esperado meu rosto desinchar antes de me deparar de frente com outras pessoas. Essa era a primeira vez que eu deixava as lágrimas escorrerem em público e eu nem ao menos estava certo de que queria fazer isso, apenas não havia conseguido me controlar.

I.N não tinha presumido que eu pudesse desmoronar ali, então ele riu de nervoso e acariciou minha cabeça, dizendo que tudo ia ficar bem, mas não deu muitos segundos e todos os membros já haviam acolhido a nós dois em um abraço grupal, que durou algum tempo.

Eles eram a minha família e por mais que eu tivesse certeza de jamais ter praticado nenhuma injúria contra outra pessoa na minha vida, estava sentindo um forte temor de que algo pudesse tirá-los de mim, de que o meu caminho pegasse um desvio injusto e meu futuro com o Stray Kids encerrasse ali.

Por mais que eu não quisesse acreditar nessa hipótese, ela não era absurda, eu já havia visto esse infortúnio ocorrer com outros idols que se provaram inocentes com o tempo e nunca mais retomaram o estrelato depois daquilo. Não era pela perda fama que eu me preocupava, afinal, a fama era só um fruto, mas o que fazia meu coração doer era pensar em nunca mais trabalhar com aquilo que eu tanto amava e, pior ainda, não poder ver os outros membros novamente.

Era cedo demais para ser tão pessimista, mas era impossível não refletir em cima de todos os cenários.

Março estava a caminho era o mês da abertura das cerejeiras, em breve várias ruas da cidade estariam alegres e coloridas no tom primaveril de cor-de-rosa. Em contradição, o sentimento dentro de mim parecia ter pintado o filtro dos meus olhos em tungsténio, porque a partir dali passei a enxergar a vida em tons frios de tristeza e receio.