Fanfic: Outono em Abril | Tema: Stray Kids

Hyunjin

Eu não queria ter que passar a noite na mesma casa que o casal Minsung e ficar me questionando sobre o que estaria acontecendo no quarto deles, ou até mesmo correr o risco de escutar algo que me faria mal, então a fuga para a casa lírica havia sido a melhor saída que me aparecera naquele momento.

- Chegamos, finalmente! - exclamou Felix após abrir a porta do apartamento.

- Finalmente! - repetiu Jeongin.

- A gente poderia ter vindo andando, vocês sabem que teria sido mais rápido, né? - falei.

- Você está louco? - perguntou I.N -, nós nos matamos nos ensaios e ainda teríamos que subir uma lomba até aqui? O carro deu mais voltas do que precisava, mas foi necessário.

- Eu só quero a minha cama - disse Seungmin. - Boa noite, pessoal.

Ele e I.N foram em direção aos quartos, Felix se virou para trancar a porta e eu entrei na barraca que Lee Know não tinha desmontado até então, ligando as luzes com que ele decorara o interior dela.

Yongbok soltou uma risada ao se virar e perceber onde eu estava.

- Você não vai dormir aí - informou-me. - Se não quiser dormir no meu quarto, pelo menos durma no do Lee Know, para descansar em uma cama decente. Ele obviamente não vai se importar.

- Não quero dormir no quarto dele - resmunguei.

Notando que eu não ia sair de onde estava, ele se abaixou e sentou no chão em frente à porta da barraca para falar comigo.

- Vocês brigaram? É por isso que você não quis ficar lá?

- Não brigamos, eu só resolvi aceitar o seu convite de última hora mesmo.

Felix cerrou um pouco os olhos, decidindo se acreditava em mim ou não.

Apertei a minha bochecha com o dedo indicador e fiz um beicinho, fechando os olhos por um segundo. O garoto não se conteve e riu.

- Certo, para você estar fazendo aegyo, imagino que esteja bem... - falou.

- Agora vai apagar a luz e fica aqui conversando comigo - ordenei.

- Mas você não vai dormir aí, okay?

- Okay.

Yongbok se levantou e enquanto ele caminhava até o interruptor, eu alcancei algumas almofadas do sofá para a barraca. Felix enfim apagou a luz da sala, deixando apenas a iluminação da lona prevalecer no cômodo.

- Deite com a cabeça aqui - falei, indicando a almofada que tinha colocado sobre o meu colo.

Felix sorriu para mim e fez como ordenado.

- Sabe que, por um momento - disse ele enquanto eu mexia em seus cabelos -, eu cheguei a achar que você e Lee Know estavam juntos? Quer dizer, realmente ficando.

- Ah, é? - perguntei, fazendo-me de desentendido. - Quando foi isso?

- Quando vi vocês dormindo juntos aqui na sala.

Parei de afastar sua franja para trás repentinamente.

- Você viu? - questionei, inclinando mais minha cabeça para olhar em seus olhos.

- Sim, aí fiquei com isso na mente, mas Lee Know me disse que nada tinha acontecido.

Assenti com a cabeça para demonstrar entendimento.

- Ele não me falou que você tinha aparecido aqui naquela manhã - comentei.

- Oh... talvez eu não devesse ter falado então - disse Felix -, ele pode ficar bravo. Lee Know não tem o melhor dos temperamentos, naquele dia foi difícil de conversar com ele.

- Por quê?

- Ele estava incomodado comigo, primeiro porque eu duvidei do tipo de relação que vocês tinham, depois porque ele se tornou muito protetor para com você. Exigiu que eu não te machucasse.

- Você não tem como me machucar - afirmei, enrolando uma mecha do cabelo dele com o meu dedo. - Isso já passou.

Tinha sido um pouco decepcionante saber que Minho escondia coisas de mim, assim como tinha segurado por um tempo a história sobre Bang Chan ter nos descoberto. Mas por outro lado, poder dizer a Felix que ele não interferia mais nas minhas emoções tinha um quê de gratificante.

- Não? - rebateu Felix.

Movi minha cabeça negativamente.

- Você já se apaixonou por outra outra pessoa então? - perguntou.

- Você está me perguntando isso porque já sabia que eu gostava de você antes?

- Você deixava bem claro.

Ergui minhas sobrancelhas, surpreso em estar ouvindo aquilo.

- E por que nunca me questionou sobre isso ou deu um fim no que tínhamos?

- Porque eu curtia ficar com você, eu não conseguia ser totalmente recíproco como você queria, mas dava o que eu podia. Imaginei que se não fosse o suficiente, você mesmo se afastaria, e eu estava certo.

Fiquei sem saber como responder àquilo.

- Você está diferente agora, bom... pelo menos é o que parece para mim. É porque você conheceu alguém novo? - Yongbok seguiu com seu questionário.

- Não, não conheci ninguém novo - não era uma mentira. - Mas e você? Como foi a sua vida amorosa pós Hwang Hyunjin? - brinquei.

- Não muito movimentada.

- Mas então teve alguém, não é? Lee Know me mostrou o vídeo do ensaio com Jung Wooyoung, você parecia... bem entrosado com ele.

- Eu não poderia ficar com Wooyoung.

- Por que não? Ele é muito bonito.

- Ele é o melhor amigo do Changbin.

- E qual é o problema que tem nisso? - questionei e um segundo depois a ficha acabou caindo. - Oh...

Felix estampou um sorriso consternado no rosto.

- Não deu certo, não é mesmo? - perguntei, deixando implícito que era sobre a relação deles.

- Não... - confessou Yongbok.

- Também né, Changbin é mais hedonista que você, o que esperava?

O garoto apenas estendeu o mesmo sorriso melancólico nos lábios.

- Eu não sou muito esperto - falou.

- Eu sei, você que deveria ser o líder da Baboracha, segundo o Lee Know.

- Ele disse isso? - Felix indagou surpreso.

Eu dei risada.

- Não. Não exatamente.

Felix riu também.

- Sempre foi ele? - perguntei.

- De quem você está falando? Lee Know?

- Changbin. Sempre foi por causa dele que você nunca se abriu para mim?

- Você está diferente mesmo - comentou Yongbok.

- E você está fugindo do assunto.

- Eu não posso comentar sobre isso com você - disse.

- Por que não? Nós ainda somos amigos, não somos?

- Somos, mas nunca fomos apenas isso e eu ainda gosto de você, então é estranho falar sobre outros rolos que tive nesse meio tempo.

- Você sempre teve amizade por mim, mas nunca "gostou" de mim. De onde está tirando isso? - falei rindo.

- Eu sempre gostei de você, não era do jeito que você queria na época, mas eu jamais teria ficado com você se não sentisse algo além de atração. Você achou que a gente transava por que motivo?

- Não é óbvio? Porque eu sou lindo!

Yongbok riu novamente.

- Você de fato é - concordou. - Mas eu gosto de você porque você sempre foi amável comigo. 

Felix levantou a cabeça do meu colo e se sentou de frente para mim.

- Você vibra com as minhas conquistas - continuou ele -, você curte qualquer presente bobo que eu te compro, você come a comida que eu faço até mesmo quando está ruim, só porque os outros debocharam dela.

- Pelos seus olhos, eu pareço incrível.

- Você é.

- Então por que me deixou ir?

- Porque eu sou o novo líder da Baboracha? - zoou ele, com expressão de riso no rosto.

Eu ri alto mais uma vez.

- Estou falando sério... - retruquei.

Quando eu menos esperava, Yongbok puxou meu colarinho e posicionou seus lábios próximos aos meus, porém sem engatar em um beijo. Eu não estava mais apaixonado por ele, mas isso não me impedia de me sentir atraído.

- Você tem três segundos para decidir o que fazer - avisou ele, sem largar a minha camisa e sem se mover nenhum milímetro, eu conseguia até mesmo sentir a sua respiração nos meus lábios. - Três... 

Meu coração disparou um pouco, não como antigamente, mas acelerou por conta da surpresa e do ultimato.

- Dois...

Eu realmente não sabia o que fazer, imaginava que Lee Know e Han estariam curtindo um tempo juntos nessa hora e eu estava prestes a declinar a única pessoa que queria ficar comigo no momento. Mas eu deveria ficar com Felix apenas por consolação? Ele merecia mais que isso? Eu merecia mais que isso?

- Um.

Não me movi, fiquei paralisado naquela dúvida, ainda sem saber o que seria o melhor para mim.

- Você não se decidiu - constatou Felix.

Eu apenas soltei um pouco a respiração, nervoso.

- Mas você também não fugiu - disse ele. - Então eu vou me decidir por você.

Por algum motivo, fechei os olhos e quase prendi a minha respiração, mas para meu espanto, senti o ar passar pelo meu rosto e abri as pálpebras para ver Yongbok levantando de súbito e ficando em pé na minha frente.

- Vamos para o quarto - disse ele, com um sorriso largo no rosto.

Revirei os olhos e sorri em retorno, apagando as lâmpadas de estrelas e seguindo Felix até o seu quarto.

Entrar ali depois de tanto tempo me deu uma sensação de déjà vu, ainda mais ao ver o garoto andar até o guarda-roupas para escolher o que vestir.

Apaguei a luz enquanto ele estava de costas e Felix se virou para me olhar, com confusão nos olhos.

- Por que você fez isso?

- Não quero te ver trocando de roupa - falei. - Parece estranho agora.

- Não precisamos trocar de roupa se você não quiser, podemos deitar como estamos. Mas provavelmente é melhor pelo menos tirar o jeans, porque não é confortável para dormir.

Apontei para a cama.

- Deita aí e tira embaixo do cobertor - exigi.

Felix riu.

- Tudo bem - falou e se encaminhou para baixo das cobertas, no lado direito da cama.

Sentei meio sem jeito do lado esquerdo e quando ouvi o som da calça de Felix sendo largada no chão, deitei na cama, porém por cima da coberta e sem despir nenhuma parte das minhas roupas.

- Hyunjin - chamou-me ele e eu virei de lado na cama, dando de frente com seu rosto a me encarar. - Você não tinha dito que não gostava mais de mim?

- Não. Eu disse que você não podia mais me machucar porque não estou mais apaixonado, mas não falei nada sobre não gostar de você.

- Tá bom então, eu vou contar até três de novo - disse ele com um sorriso divertido no rosto.

- Você está me zoando! - exclamei, sem conter o meu riso, e levei as duas mãos até seu peito para empurrá-lo.

Felix riu junto comigo, mas manobrou o meu movimento, segurando os meus dois braços com as suas próprias mãos. No entanto, ao invés de me repelir para trás, ele me puxou na sua direção e finalmente me beijou, sem questionar mais nada antes.

Nos três primeiros segundos do beijo, eu fiquei de olhos abertos, sem saber se queria que aquilo tivesse acontecido, mas no restante do tempo, cedi e retribuí o ato. 

Não tinha mudado nada no seu jeito de beijar, seguia tão bom quanto era anteriormente.

Felix envolveu minhas costas com as mãos e me puxou mais para perto, então relaxei os braços que eu mantinha em frente ao seu corpo e subi eles até o seu pescoço. Ficamos por um bom tempo assim, até que as mãos de Yongbok deslizaram para dentro da minha camisa, tocando brevemente a pele das minhas costas, e, com isso, eu baixei meus braços do seu pescoço e parei o beijo.

- Me desculpe - falei -, mas eu não posso passar disso.

Havia surpresa nos olhos dele quando me fitou.

- Você realmente está apaixonado por alguém - observou.

Eu sorri em resposta, mas tinha certeza de que tinha me saído mal sucedido e que meu sorriso só conseguia demonstrar tristeza.

- É o Lee Know, não é? - perguntou ele.

Eu estava muito afetado por todos os meus pensamentos naquele momento e fiquei em silêncio, pensando se admitia ou não. O erro foi ter prolongado essa quietude por muito tempo, porque isso acabou simplesmente respondendo por mim.

- Está tão na cara assim? - questionei.

- Eu te disse que você não sabe esconder o que sente.

- Ele diz a mesma coisa.

- Então ele sabe que você gosta dele?

- Não foi isso que eu quis dizer - tentei dar a volta naquela pergunta, porque eu poderia assumir os meus sentimentos, mas não poderia expor Minho e arriscar deixá-lo em uma situação que comprometesse o seu namoro -, ele diz que eu sempre deixo claro quando acho algo insatisfatório.

- Sim, é verdade, suas caras de desgosto são ótimas.

Eu teria rido disso, mas estava me sentindo muito desconfortável com aquela conversa.

- Agora faz sentido você ter pedido para vir com a gente.

Assenti com a cabeça.

- Você vai se afastar dele? Porque eu imagino que seja difícil permanecer por perto sabendo que não tem chance de dar em nada...

- Eu não dou sorte, não é mesmo? - falei ironicamente, indicando que ele também já se encaixara no meu padrão de escolha impossível.

- I'm sorry... - respondeu Yongbok em inglês.

Felix ainda mantinha seus braços ao redor da minha cintura e me puxou mais para perto novamente, abraçando-me com carinho.

- No que eu puder ajudar, você pode contar comigo - disse, apoiando seu rosto sobre o meu ombro.

- Obrigado...

Suspirei fundo e tentei aproveitar aquele abraço.