Fanfic: Outono em Abril | Tema: Stray Kids

Hyunjin

A primeira semana não foi tão difícil de levar, por mais que eu não participasse das gravações do Kingdom e também não estivesse inserido nas danças que o grupo precisava praticar, isso não me impedia de acompanhar os ensaios deles na JYPE e até mesmo ajudar a coreografar e auxiliar os membros no que fosse preciso para melhorarem. Eu conseguia me divertir dançando junto, mesmo que com uma certa distância para não comprometer os lugares e passos que cada um deveria fazer na próxima performance.

O restante da nossa rotina seguia imutável também. Sempre que eles eram dispensados das filmagens, jantávamos juntos e os garotos me colocavam por dentro de tudo que estava rolando por lá. Obviamente batia uma pontada de remorso por não poder estar vivendo o mesmo que eles, mas eu tentava me apegar ao fato de que pelo menos ainda permanecia junto dos meus amigos.

- Lee Dawon perguntou sobre você hoje - comentou Minho na quinta-feira, parando de braços cruzados, encostado no balcão da cozinha enquanto eu lavava a louça do jantar.

- É mesmo?

- Encontramos com o SF9 uns minutos antes de gravarmos a nossa parte na sala de conferência.

- Ele estava bem?

- Ele é bem apessoado.

Eu dei risada.

- Não estava perguntando sobre a aparência dele.

Lee Know fechou os olhos por um segundo e me cedeu um sorrisinho irônico.

- Eu sei - disse ele.

- E o que você falou a meu respeito?

O garoto pestanejou um pouco antes de responder, parecia estar tentando escolher as palavras. Eu, sinceramente, estava esperando que ele falasse mais alguma gracinha sarcástica.

- Falei que você fazia falta - respondeu por fim.

Fiquei com vontade de rir.

- Você falou isso mesmo?

- Eu não brinco em serviço, não com pessoas que ainda não conheço.

Eu ainda estava com vontade de rir, apesar de ter achado gentis as palavras que ele escolhera para não me magoar.

- O que foi? - questionou, percebendo que eu continuava o fitando ao invés de seguir lavando a louça.

- Sabe como eu sei que você está falando a verdade? - perguntei.

- Como?

- Suas orelhas estão em chamas.

Minho fez uma cara de reprovação e levou as mãos a esconder as orelhas, antes de me informar que estava de partida para o próprio apartamento.

- Essa porta batendo foi o Lee Know? - questionou Han, entrando na cozinha logo depois.

- Quem mais seria? 

- É a cara dele mesmo, sai sem se despedir de mim, como se eu fosse qualquer pessoa assistindo as lives que ele faz.

Dei risada mais uma vez.

- Você não ia passar lá na casa lírica ainda hoje?

- Na casa "o quê"? - perguntou Han, estreitando as sobrancelhas, mas com os lábios despontando para um sorriso.

- Na casa deles, foi isso o que quis dizer.

- Você disse "lírica".

Revirei os olhos.

- Casa do rap - falei apontando para o chão. - Casa lírica - apontei para a janela, supondo que era naquela direção que a segunda moradia ficava, apesar de nunca ter parado para entender em que orientação nosso apartamento estava em relação à rua.

- Felix é rapper - argumentou Han.

- Eu denominei pela maioria.

Jisung ergueu as sobrancelhas, com um olhar sorridente.

- Eu até que gostei.

- Não espalha.

- Não posso prometer isso. Mas bom, estou de saída. Vou à "casa lírica".

- Você volta hoje?

- Não, mas podemos nos ver amanhã.

Acenei positivamente com a cabeça e observei até Han sair.

Suspirei fundo enquanto secava parte da louça que estava no escorredor, pensando em como o tempo longe do restante do grupo estava começando a me deixar mais carente de alguma forma. Por mais que ainda convivêssemos diariamente, agora existia um gap entre os horários em que conseguia vê-los. Estava tentando ser produtivo sozinho, continuava praticando com frequência para não perder o ritmo quando voltasse a participar das dinâmicas do Stray Kids, mas a cada dia ia me sentindo mais solitário.

Eu tentava não transparecer, mantinha um humor acalorado em nossas conversas, não queria ser um peso para eles, mas a solidão estava começando a se incidir mais sobre mim.

Ver Han indo passar uma noite na casa de Lee Know, me fez sentir falta de quando pernoitava na companhia de Felix. Desde as duas semanas anteriores ao início do Kingdom que havíamos deixado de lado esse tipo de contato e isso se deu porque estávamos focados em apresentar um show 100% sem falhas no programa, então nada mais entrara no caminho desse objetivo. Porém, agora eu não possuía nenhum empecilho profissional para me privar dessa saudade, mas Yongbok ainda tinha.

A segunda sexta-feira de Março chegou e eu senti logo ao acordar que aquele seria um dia perdido, e estava certo, pois eu não conseguia ter concentração no decorrer da tarde e acabei cometendo diversos erros dançando sozinho. Parecia que a falta de perspectiva sobre o meu futuro estava empacando ainda mais o meu presente.

Deitei exausto sobre o chão da sala de dança que era reservada para nós, sem me importar por ter deixado a porta aberta, uma vez que por ser o final da semana, aquele andar acabava não sendo tão frequentado pelos grupos que praticaram durante o restante dos dias comerciais.

O chão vibrou por um instante com passos pesados que se aproximavam, virei o rosto na direção de onde vinha o som e encarei Lee Know me olhando de cima com uma sobrancelha erguida.

- O que você está fazendo? - perguntou.

- Descansando.

Ele se sentou no chão ao lado do meu corpo, com as palmas das mãos apoiadas para trás no assoalho.

- Os outros estão chegando daqui a pouco - informou.

- Bom - respondi apenas, sem tomar nota de que poderia estar soando esquisito.

Lee Know umedeceu os lábios enquanto seus olhos piscavam um pouco, assimilando algo para dizer.

- Você quer companhia? - perguntou.

- Você já está aqui.

- Eu quis dizer deitando no chão! - esbravejou ele como um tsundere e deu um tapa aleatório na minha perna.

- Ai!

- Vai pra lá! - ordenou, empurrando a lateral da minha cintura com as duas mãos.

- Por que eu tenho que ir pro lado? A sala está completamente vazia, deita aí mesmo.

- Eu quero o seu lugar, você já esquentou o chão.

Revirei os olhos e balancei a cabeça em reprovação, mas cedi o espaço que ele tanto queria. Minho se deitou ao meu lado e ambos ficamos encarando o teto.

- Nossa, seu corpo deve estar realmente quente, Hyunjinnie... - disse ele em um tom malicioso.

- É, vai brincando hyung... é só o Han pisar aqui que em um segundo essa gracinha já se transfere para ele.

Lee Know mudou de posição, deitando-se de lado, com o rosto virado para mim. Olhei de canto para ele quando percebi essa alteração. Seus olhos estavam muito abertos, aparentando a clássica expressão de psicopata que ele gostava de ostentar.

- E o que acontece se ele não vier?

Segurei o riso.

- Ele já está chegando, você disse.

- Eu poderia estar mentindo - os olhos de Lee Know se arregalaram novamente.

Empurrei seu peito com a minha mão esquerda, como se pudesse repeli-lo de perto de mim, mas recolhi a mão na mesma hora quando vi seu semblante mudar para uma expressão mais séria.

- Desculpe - pedi instintivamente.

Lee Know sorriu, desfazendo a carranca ofendida que ele havia fingido e se levantou do chão na sequência disso, oferecendo a mão para que eu fizesse o mesmo.

- Se o Han não aparecer - insinuou ele -, eu tenho chance? - perguntou, erguendo as duas sobrancelhas em um movimento rápido e sugestivo.

Bufei, segurando uma risada, mas não respondi, pois não tinha necessidade de dar corda nas provocações vazias dele. Então apenas estendi minha mão para aceitar a que ele estava disponibilizando.

Minho me puxou com tanta força do chão - ato friamente calculado pelo mesmo para fazer graça -, que quando levantei de fato, quase acabei tombando sobre o seu corpo, ele teve que firmar bem os pés no chão para que nós dois não caíssemos. 

Assustado, olhei da minha altura elevada para ele e no mesmo momento vi um sorriso sádico surgir nos seus lábios e sua cabeça se movimentar rapidamente como quem sugere algo. 

- Hum... - a voz de Han ressoou da porta da sala -, posso saber o que está rolando por aqui? - perguntou em tom zombeteiro, ele e os outros garotos estavam entrando na sala.

- Hyunjin estava prestes a dizer que me quer, não é mesmo?- respondeu Lee Know, enquanto eu dava uns passos para trás, me afastando do seu corpo.

- No seu sonho - retruquei.

- Ele jamais te diria isso - falou Changbin com convicção -, Hyunjin já está comigo - brincou ele, batendo com a mão direita no próprio peito.

Dei risada alto.

Lee Know revirou os olhos para nós, mas dava para sentir que ainda era em tom de piada.

Olhei para Felix naquele momento, ele já estava habituado a ver boa parte dos membros flertando comigo por zoeira, mas como fazia tempo que não tínhamos mais nenhum tipo de envolvimento romântico, tentei captar se aquela cena despertaria alguma reação por parte dele, por mais bobo que tivesse sido todo o teatro.

No entanto, Felix estava sorridente quando captou meu olhar, talvez nem ao menos tivesse prestado atenção em nada daquilo, tinha uma vibe sonhadora e um pouco dispersa.

- Seu dia foi bom? - perguntei, uma vez que nossos olhos continuavam focados um no outro.

- Foi sim, foi divertido - respondeu, ainda com a mesma expressão.

- Fico feliz. 

Yongbok caminhou em minha direção e me deu um abraço rápido como cumprimento.

- Como você está? - perguntou.

- Estou bem, estou bem.

Seus olhos encararam os meus por um parcela de tempo maior do que eu esperava, tentando analisar meu estado de espírito. 

Quebrei o nosso contato visual por um instante para olhar ao redor e tomar nota do que os outros estavam fazendo, mas ninguém parecia estar prestando atenção em nós dois. Quando voltei a fitar Felix, tive certeza de que ele não tinha desviado o olhar preocupado de mim nem por um segundo.

- Estou bem - repeti.

- Alguma novidade sobre a situação?

Balancei a cabeça negativamente.

- Depois que foi emitida a nota do meu afastamento na mídia, nada mais foi comentado pela diretoria até então.

- Você tem acompanhado as notícias?

- Não... por quê? O que tem elas?

Felix sorriu, balançando a cabeça de um lado para o outro em reação ao meu jeito de falar desesperado.

- Nada, eu só ia dizer para você não se incomodar em ir atrás dessas coisas, a Internet costuma ser muito tóxica.

Suspirei em alívio, não sabia como receberia mais más notícias se aquele fosse o caso.

- Eu prefiro me manter no limbo online até tudo isso acabar - admiti.

- Faz bem - disse ele e apertou duas vezes a lateral do meu braço como um afago.

Acompanhei o ensaio deles para a próxima competição e conversei com cada um nas pausas que faziam para descansar, aproveitando para saber das fofocas que rolavam no Kingdom. Quando finalmente encerramos por ali, nos despedimos em frente à sede da empresa e cada grupo seguiu seu caminho rumo à própria casa.

Retornando ao meu quarto, resolvi que dormiria cedo porque durante o sono era o momento em que, na maioria das vezes, eu conseguia me desligar de todos os pensamentos desagradáveis que passavam pela minha mente durante o dia - isso se eu tivesse a sorte do meu subconsciente não sonhar com a vida real. Tentei adormecer, mas nem com isso eu conseguia obter sucesso, meu cérebro estava ativo demais.

Revirei-me na cama de um lado para o outro até que meu celular tocou e quase me fez pular de espanto.

Era apenas uma mensagem em chat privado, mas foi suficiente para me dar um pingo de esperança de que, afinal, aquele dia não havia sido de todo um desperdício.

Lee Felix: Hey, você não quer vir aqui?