Fanfic: Outono em Abril | Tema: Stray Kids

Hyunjin

- Hyunjinnie, é hora de acordar...

- O quê? - perguntei sonolento, abrindo os olhos devagar para me defrontar com uma imagem que não era exatamente o que eu esperava.

Ali estava eu, deitado sobre a cama que não havia sido meu destino principal e encarando alguém que também não era a pessoa que eu tinha ido visitar.

Lee Know preenchia todo o meu campo de visão, uma vez que o seu rosto estava bem próximo e ele se apoiava com uma mão de cada lado do meu travesseiro, para poder me olhar de cima.

- É hora do café da manhã - disse ele, ainda me encurralando com a sua presença.

Tentei empurrar seu peito com as mãos, sem sucesso, porque eu ainda estava com sono e ele era mais pesado do que eu imaginara.

- Sai... - reclamei.

- Como assim "sai"? Eu te deixo dormir na minha cama e você não me dá nem um beijo de bom dia!? - exclamou Minho, fechando a mão direita em punho e golpeando o lado esquerdo do meu travesseiro em uma imitação de fúria.

- Você está convivendo demais com o Han para estar me pedindo beijo a essa hora.

Lee Know riu, do jeito cômico que ele fazia quando achava graça de si mesmo, soltando um pequeno "ah" no final da risada, que era tão característico que me fez rir também.

Ele liberou o tronco do meu corpo de sua prisão e eu sentei sobre a cama, decidindo o que ia fazer a partir dali.

Minha ideia inicial não era ter adormecido no seu quarto, isso foi um desvio de percurso. O plano original seria ter voltado para o quarto de Felix e deitado ao lado dele, para que, na manhã seguinte, nem ao menos suspeitasse que eu tinha me sentido mal e deixado sua companhia.

Eu não tinha noção de que horas eram, mas me questionei se ainda daria tempo de colocar essa ideia em prática e mascarar para Yongbok o meu desconforto noturno. Ele provavelmente nem lembrava mais das últimas coisas que havia me falado, então seria a saída perfeita.

Levantei da cama praticamente no mesmo segundo em que Lee Know voltou a se deitar sobre ela.

- Você já vai? - ele virou com o corpo de lado para poder me olhar.

- Sim - respondi, não queria contar para ele que ainda ia tentar colocar o meu plano em ação, não depois de todas as conversas que havíamos tido sobre como eu devia me importar menos com o Felix.

- Não vai ficar para o café da manhã? 

Balancei negativamente minha cabeça e o assisti apertar os lábios e assentir conformado.

Saí pela porta do quarto de Minho e logo em seguida fechei ela atrás de mim, achando que estava com sorte por me deparar com o corredor totalmente vazio, até que a porta do banheiro se abriu e eu gelei por completo.

Felix saíra por ela, o que deixava óbvio que ele já tinha acordado sem a minha presença e, para piorar, eu aparentava claramente estar saindo do quarto de Lee Know, podendo dar a entender que teria preferido passar a noite ali.

- Bom dia - disse ele, com a voz mais grave que o normal, como costumava ser quando acordava.

- Bom dia - respondi de volta, fazendo uma breve reverência com a cabeça, totalmente desconcertado, sem saber como lidar com aquela situação.

- Você dormiu bem? - perguntou Yongbok, sem esboçar nenhuma expressão específica no rosto.

- Sim e você? - Caminhei até ele para não precisarmos conversar a uma distância muito grande.

- Eu dormi muito bem - disse Felix e me concedeu o seu primeiro sorriso do dia.

Talvez isso significasse que ele não sabia que eu tinha dormido em outro lugar, talvez só tivesse suposto que eu acordara mais cedo e havia ido falar com Lee Know por alguns minutos.

- Há quanto tempo você está acordado? - perguntou Yongbok.

Era agora a hora que eu precisava decidir se mentia ou não? Não podia dizer que tinha acordado agora, pois como ele provavelmente havia levantado quase ao mesmo tempo que eu, isso faria soar que eu não pernoitara no seu quarto. Mas se eu mentisse que tinha acordado há mais tempo e, por azar, ele tivesse acordado ainda antes do meu horário inventado, ia dar no mesmo.

Resolvi optar por uma explicação vaga.

- Não faz muito tempo - assim a definição ia depender da noção de tempo de cada um.

- Você teve insônia, não foi? - questionou, me pegando de surpresa.

- Sim - confessei, sem saber se estava conseguindo esconder minha insegurança em ter aquela conversa.

Felix tocou com uma mão em meu ombro.

- Lee Know é boa companhia de madrugada, que bom que ele acolheu você.

Esbocei um sorriso fraco em resposta àquilo, Felix sorriu de volta de forma leve e logo em seguida entrou no próprio quarto, me deixando para trás no corredor.

Atônito, fiquei parado no mesmo lugar, tentando processar o que tinha acontecido. Yongbok tinha sacado que eu não dormira em seu quarto, mas não parecia ter se incomodado de fato com isso, inclusive soara genuinamente grato que eu pudera ter uma companhia durante meu tempo afastado de sua cama.

Ele não estava mantendo as aparências, realmente não havia um mísero pingo de incômodo ou ciúmes por eu ter dormido em outro lugar. É claro que Lee Know era seu amigo e Felix sabia que éramos apenas amigos também, mas se a situação tivesse sido invertida, eu provavelmente estaria me sentindo ofendido por ter sido trocado no meio da noite e era isso que me quebrava.

Fiquei com os olhos baixos, ainda um pouco descrente que essa era a única reação que eu teria dele. Talvez devesse estar ainda mais sentido por Felix nem ao menos ter perguntado qual era o motivo da minha insônia, no entanto, eu imaginava que ele devia atribuir a causa toda em cima do hiato que eu estava sendo obrigado a viver.

- Sexo comigo é só um plus - afirmei para mim mesmo. 

- É o quê? - a voz I.N surgiu no meio do silêncio.

Olhei para o lado e avistei o garoto parado na soleira da porta do próprio quarto, segurando uma escova de dentes.

- Nada - respondi, tentando me recompor automaticamente e sorrir para ele. - Bom dia Innie, você está bem?

- Estou sim e você?

Assenti positivamente com a cabeça, poupando ele da verdade.

- Eu estou indo embora agora, mas podemos jantar juntos depois se você tiver tempo.

- Seria bom.

I.N saiu do quarto e se fechou no banheiro e eu decidi me despedir de Felix antes de ir embora de vez. Bati na porta  e esperei que ele mesmo abrisse.

- Oi - disse Felix, cedendo espaço para que eu entrasse.

- Eu só vim me despedir, preciso voltar para casa.

- Tudo bem, hoje de noite temos gravação, então vamos estar ensaiando durante a tarde na JYPE, se você quiser aparecer para acompanhar.

Pela primeira vez, ele me fez sentir como se eu fosse alheio ao grupo, como se eu fosse apenas um convidado que tinha a possibilidade de assistir o Stray Kids praticando para a próxima performance.

- Você me quer lá? - perguntei incerto.

- É óbvio que eu quero - disse Felix, fazendo uma cara de confusão por um instante e, de repente, me abraçando como sinal de consolação.

Sem estar esperando por aquilo, fiquei imóvel, mas seus braços não desceram dos meus ombros, então apenas enlacei sua cintura e cedi ao abraço também.

Era isso, não importava a tensão ou o desconforto que a minha afeição por Felix me fizesse sentir com relação ao seu distanciamento romântico, bastava um abraço caloroso e eu sabia que ainda assim seria capaz de dizer que o amava.

Talvez suas escolhas de palavras, ou até mesmo a ausência delas, me machucasse algumas vezes, mas tudo era recompensado com seu carinho e eu entendia que no meu coração ele sempre poderia ter o lugar de melhor amigo, assim como eu poderia ter no dele. Mas infelizmente estávamos em momentos diferentes no que dizia respeito a sentimentos amorosos.

Felix gostava de aproveitar o tempo comigo fisicamente, mas já estava claro que não passava apenas de uma atividade divertida e de que não havia envolvimento emocional nela por parte dele, como tinha para mim.

Não era nem dez horas da manhã e eu desci a ladeira com meu coração extremamente apertado. Lee Know estava certo, eu deveria abrir mão de investir em alguém que não correspondia à mesma emoção que eu tinha. Mas era tão difícil, uma vez que a pessoa se colocava sempre disponível para todos os tipos de afetos físicos.

Se eu fosse sincero com Felix e me declarasse, possivelmente ele mesmo encerraria o nosso contato amoroso e pediria para mantermos apenas a amizade, em prol de não me dar falsas esperanças. Mas eu não estava pronto para passar por esse choque de realidade, então o que acabei decidindo é que apenas não ocasionaria aberturas para que flertássemos nos próximos tempos, porque eu sabia que toda vez que ele quisesse, eu jamais diria não, e estava na hora de me afastar dessas possibilidades que não evoluíam para lugar algum.

Tinha que aceitar que meu amor romântico sempre seria rejeitado.

Voltei para casa apenas para tomar um banho, finalmente descobrindo o horror que estava o estado do meu cabelo. Se Minho não estivesse brincando quanto a querer um beijo meu pela manhã, eu julgaria que ele era um louco por ser capaz de sentir qualquer atração por mim naquele momento. E pensar que ele ainda havia dito que eu era o mais bonito do grupo, o que restava para os outros então?

Quando finalmente me pus decente, saí direto rumo à empresa, resolvi tomar café na Soul Cup e depois arranjar algum espaço em que pudesse praticar por algum tempo, distraindo minha mente de tantos pensamentos inconvenientes.

Quando bateu meio dia, a Im Nayeon apareceu na sala em que eu estava, informando que tinha solicitado a mesma para o Twice, mas afirmando que não tinha problema se eu ainda quisesse utilizá-la durante o horário de almoço, porque ela e as garotas só iriam deixar seus pertences ali e sair para comer no refeitório do prédio.

Recusei gentilmente, porém cumprimentei as meninas antes de deixar a sala de vez.

Eu precisava almoçar, mas não tinha em mente aonde ir para isso. O restante do grupo provavelmente estava lidando com agenda e se organizando para os compromissos do dia que tivessem a ver com o Kingdom, se é que já não estavam almoçando com os membros dos outros grupos em algum lugar. Era horrível assumir até para mim mesmo, mas eu estava com inveja de estar perdendo essa oportunidade.

Peguei minha mochila e entrei no elevador do prédio sem realmente ter um andar em mente.

Fiquei observando os números enquanto a porta ainda estava aberta e resolvi apertar no de maior valor, o décimo quarto andar.

O andar em si não me atraía, porque eu sabia que o último piso era onde ficavam as salas de diretores e investidores dele, então eu apenas saí do elevador e logo virei à direita, abrindo a porta corta-fogo que dava para a escada de incêndio.

Subi os degraus até finalmente chegar no terraço do edifício. Era agradável ali, havia ambientação com plantas e até alguns bancos para sentar. Eu tinha dado sorte de não esbarrar com ninguém naquele horário, pois a maioria dos idols e staffs provavelmente estavam na cantina ou saíram para almoçar fora.

Me apoiei na mureta de vidro e fiquei observando os outros prédios da cidade enquanto o vento soprava na direção certeira para não bagunçar os meus cabelos. Tinha que me controlar para minha mente não vagar para os últimos momentos que eu vivera na casa lírica e devia admitir que escolhera o pior lugar para ir se não queria refletir sobre nada.

Depois de um tempo, meu celular tocou dentro da mochila e eu demorei um pouco até encontrá-lo, porque não havia sido um toque contínuo, o que significava que tinha recebido mensagem.

Logo que desbloqueei a tela, já consegui ver a notificação.

Lee Minho: Onde você está?

Respondi para ele logo em seguida.

Hwang Hyunjin: Estou na JYPE.

Lee Minho: Em qual andar?

Hwang Hyunjin: No rooftop.

Lee Minho: Credo. Desce no hall.

Hwang Hyunjin: LOL

Voltei para dentro do prédio e peguei o elevador.

Enquanto eu estava descendo, Lee Know mandou mais uma mensagem.

Lee Minho: Isso significa que você está descendo ou não?

Não respondi, pois já estava quase no primeiro andar.

Quando cheguei, dei logo de cara com Lee Know aguardando em frente ao elevador mesmo, ele estava de boné para trás e com uma mochila nas costas.

- Onde estão os outros? - perguntei.

- Sou apenas eu.

- Okay.

- O que você quer almoçar?

- Estou por você.

Resolvi não questionar sobre o grupo outra vez, estava começando a ficar cada vez mais difícil de encarar que eu não poderia mais estar envolvido em nenhuma atividade do Stray Kids e isso finalmente começara a corromper minha autoestima.

Minho tampouco tocou em qualquer assunto relacionado a isso no almoço. Apesar da sua personalidade geralmente explosiva, parecia que ele estava se esforçando em ter a delicadeza de pisar em ovos perto de mim e isso não era apenas um alívio, era também reconfortante.