Fanfic: Outono em Abril | Tema: Stray Kids

Lee Know

Almoçar com Hyunjin havia sido a parte mais agradável do meu dia, até mesmo Han sabia disso, pois no restante da tarde, todo o grupo estava tão concentrado em atingir a excelência durante o ensaio, que nenhum bom humor se segurou até o final da performance do Kingdom.

Hyunjin assistiu à primeira hora da nossa prática assim que retornamos do restaurante, mas depois ele se despediu, nos desejando sorte e sem dar maiores explicações sobre onde iria, ficando M.I.A até o momento em que retornamos todos para o apartamento do 3Racha, lá por volta da meia noite.

E mesmo que tenhamos nos esforçado pra caramba para entregar o cover de BTOB e mostrar que também éramos capazes de interpretar músicas mais dramáticas e emotivas, nossa classificação despencou do segundo lugar ao quinto, pois em comparação com os outros grupos, provavelmente pecamos em mais pontos por conta do nosso nervosismo.

Não ficamos em último lugar, mas ainda assim era uma derrota muita grande e teríamos que trabalhar ainda mais duro para recuperar a chance de subir no pódio na próxima competição.

Chegamos todos juntos na casa, com as piores caras possíveis, mas tentando não culpar ninguém ou puxar um membro mais para baixo. O resultado era em conjunto e agora o que precisávamos fazer era apoiar uns aos outros para resgatar o ânimo para os próximos dias.

Hyunjin já estava sentado no sofá em frente à televisão quando aparecemos com mantimentos para o jantar e acredito que vê-lo totalmente alheio ao que tinha acontecido, trouxe uma espécie de conforto para o grupo, pois ele até poderia ficar triste por nós, mas não estenderia o assunto, por não ter muito o que comentar sobre.

Obviamente colocamos Hwang a par do ocorrido, mas após o jantar, tentamos encerrar o papo sobre o Kingdom e apenas nos distrair assistindo variedades na televisão.

O tópico só foi retomado quando Changbin descobriu I.N chorando sozinho, sentado à mesa de jantar na cozinha. Então todos corremos a seu encontro porque não queríamos que ele precisasse passar por isso.

- Foi culpa minha - disse Jeongin, após uma sucessão de perguntas dos membros sobre o que estava acontecendo -, foi por minha causa que o nosso ranking caiu.

- Não foi culpa sua, I.N - afirmou Bang Chan -, todos nós devemos ter cometido algum erro e era uma performance difícil de entregar.

- Eu errei o tom - continuou o garoto, com os pequenos olhos já bastante vermelhos de tanto chorar -, desafinei e estraguei tudo.

- Você não desafinou, I.N-ah! - retruquei. - Cantar deitado não é a mesma coisa que gravar o áudio de pé, todos nós somos cientes disso. Você apenas não conseguiu chegar no timbre certo daquela posição.

- E está tudo bem - disse Han -, a gente melhora na próxima, é só um jogo afinal de contas.

Olhei para Hyunjin enquanto os rapazes continuavam a proferir palavras de consolo, ele havia se postado atrás das costas de Jeongin e passava os dedos acariciando cabelos dele em silêncio.

Devia estar sendo difícil para Hwang também, afinal, ele não tinha como estar por dentro dos pormenores da apresentação para ajudar a provar para I.N que ele não havia cometido um deslize tão grave.

Após estancar as lágrimas, convencemos Jeongin a se juntar a nós em frente à televisão, para passarmos o tempo sem ter mais que reviver aquilo tudo.

Hyunjin deitou no sofá de um jeito engraçado para não ocupar espaço e os outros poderem se sentar também. Ele estava na última almofada da esquerda, com o tronco deitado sobre ela e as pernas pendendo por cima do braço do sofá para a lateral fora dele. Como seu corpo era muito comprido, ainda assim, ele teve que descansar sua cabeça sobre o colo de Seo Changbin, para poder de fato continuar deitado ali sem comprometer os restantes assentos.

Este outro obviamente devia se sentir triunfante que o integrante mais sexy do grupo tinha escolhido suas pernas como travesseiro, o sorriso no seu rosto não o deixava mentir, mas toda vez que ele tentava tocar no cabelo de Hyunjin, o mesmo afastava sua mão como se aquilo fosse um incômodo - o que de fato devia ser, pois Changbin claramente estava tentando irritar Hyunjin por deboche, como quem quer chamar atenção.

Depois de muito estapear as mãos do colega como se fossem moscas, Hwang deixou pender a própria mão do sofá para baixo, bem do lado de onde eu me encontrava, pois Han e eu estávamos sentados no chão, encostados contra o móvel. Segurei as pontas dos seus dedos compridos com a minha mão esquerda, sem olhar para trás para tomar nota da sua reação. A mão dele deu uma leve estremecida assim que a toquei, pois não esperava por isso, mas Hyunjin não a removeu do lugar e deixou que os meus dedos brincassem com os seus até que os entrelaçássemos de vez.

A sensação de não ser rejeitado como Changbin, era boa, apesar daquele gesto não passar de uma ação singela e trivial. Olhei para trás por poucos segundos e Hyunjin me fitou com um sorriso meia-lua nos lábios, que durou muito pouco porque a voz de Han surgiu tão estridente ao meu lado, que, espantado, larguei de súbito a mão de Hyunjin e acabei o assustando com esse gesto brusco.

- Jagiya! - exclamou Han. - Eu já vou para o quarto, você vem?

- Não precisava gritar no meu ouvido! - reclamei. - Eu ainda escuto bem, sabia!?

Han cutucou a minha barriga com um dedo.

- Não briga comigo - pediu, simulando uma voz doce. - O dia já foi bastante difícil.

- Está bem, está bem. Vamos para o quarto.

Desejei boa noite a todos e tentei não cruzar os olhos com Hyunjin naquele momento, eu estava constrangido por ter soltado a mão dele e talvez isso ter dado a entender que eu sentia culpa no cartório por tê-la segurado antes, quando na verdade não tinha nada de mais naquele ato - pelo menos era assim que eu queria pensar.

Han e eu entramos em seu quarto e ele rapidamente foi tirando o casaco, jogando no chão e se atirando na cama, de barriga para cima.

- Estou oficialmente exausto - anunciou.

Sentei na beirada da sua cama enquanto desamarrava meus sapatos e aproveitei para tirar os tênis dele também, pois Jisung nem ao menos tinha se prestado a fazer isso antes de deitar.

- Obrigado, Jagi - disse ele com os olhos no teto. - Você é o melhor.

- Eu sei - deixei cair o segundo tênis de Han no chão e subi na cama, diretamente sobre o seu corpo estirado.

Minha cabeça foi logo de encontro ao seu pescoço e meu lábios beijaram a sua pele sem dó nenhum, ao mesmo tempo em que pressionava minhas pernas contra as suas.

- Minho - chamou Jisung com a voz séria, após um breve ofego. - Minho...

Ignorei meu nome sendo invocado e continuei beijando o seu pescoço.

- Lee Know! - insistiu Han, com um tom indisposto.

- Aff, o que é agora!? - levantei o tronco de meu corpo sobre o seu, sentando com um joelho dobrado para cada lado do seu quadril.

- Eu preciso de um banho - explicou ele sorrindo e levando as mãos a segurar minhas coxas -, depois a gente faz isso.

- Para se sujar todo de novo?

Jisung riu.

- O que deu em você? Era para você estar podre de cansado também.

- É assim que eu libero o estresse - falei, dando de ombros.

- Depois do banho, okay?

Revirei os olhos.

- Por favor? - perguntei, com a cara mais sarcástica que eu conseguia fazer.

- Você nem ao menos se presta a fingir direito que está me pedindo por sexo com educação - disse Han entre riso.

Eu ri também, porque sabia que era uma tentativa frustrada.

- Posso tomar banho com você então? - perguntei.

- Nem pensar! Da última vez, tive que me matar para inventar uma mentira pro Bang Chan do porquê que o vidro do box estava rachado. Eu não vou correr o risco de você quebrar outro por me convencer a transar no chuveiro.

- A gente só vai tomar banho.

- Lee Know - disse Han, fechando a cara e estreitando os olhos -, quando que a gente só tomou banho? Cite uma única vez que isso aconteceu e eu te deixo me acompanhar.

Levei meu dedo ao queixo tentando pensar, mas Jisung nem me deu tempo suficiente para isso, ele me derrubou para o lado na cama e se levantou rapidamente, antes que eu tentasse coagi-lo mais uma vez.

- Eu volto logo - falou.

Bufei e ele saiu pela porta, rindo da minha revolta.

Respirei fundo, esperando um tempo para poder sair do quarto também, porém sem evidenciar fisicamente o que poderia ter rolado ali.

- Aff, Han! - reclamei sozinho.

Quando minha inquietação finalmente diminuiu, peguei nossos pares de sapatos e levei até a lavanderia do apartamento. Não éramos nem para ter entrado na sala sem tê-los tirado antes, mas como o grupo todo estava com a cabeça abarrotada de coisas, poucos foram os membros que se ativeram a essa regra nessa fatídica vez.

No retorno para o quarto, esbarrei com Hyunjin no corredor.

- Você ainda está aqui - constatei.

- Eu moro aqui - disse ele, franzindo as sobrancelhas.

Por um momento, foi como se o meu cérebro estivesse embaralhado.

Minha garganta arranhou uma risada.

- É verdade - falei. - Eu tinha me esquecido.

- Você está bem? - perguntou, sem tirar os olhos dos meus, o que poderia ser um problema porque, com a minha cabeça na lua, acabei me distraindo algumas vezes ao reparar o formato atraente dos lábios dele e Hyunjin poderia ter notado esses desvios do meu olhar.

Eu queria dizer que era melhor ele ir para o quarto dele de uma vez, mas não podia evidenciar que o motivo era eu estar perdendo as estribeiras com o que estava sentindo naquela hora. Era um mix de emoções, pois minha agitação já tinha começado quando eu havia segurado sua mão no sofá, então combinei isso com meu desejo negado por Han no quarto, e agora me deparava com a figura etérea de Hwang novamente - que mais parecia um elfo do que um ser humano -, bem quando meus nervos estavam à flor da pele.

Era inegável que Hyunjin era um homem muito bonito, provavelmente a maioria dos membros teria aproveitado a chance de ficar com ele se alguma das cantadas por zoeira tivessem funcionado e Hwang desse essa abertura. Yongbok havia sido o único premiado e não soubera aproveitar a fundo a oportunidade que a vida lhe proporcionara - um cara de sorte, que não era merecedor.

- Onde você passou o resto do dia? - mudei bruscamente de assunto, sem responder à pergunta dele, para ver se conseguia colocar minha cabeça e hormônios em seus devidos lugares.

- No terraço, desenhando no meu sketchbook, e depois vim direto para casa.

Desisti.

- Hyunjin, vai para o seu quarto - ordenei.

- Por quê?

- Está difícil ficar aqui falando com você, a sua beleza é muito ofuscante. Me faz esse favor - pressionei as palmas das minhas mãos contra o seu peito e comecei a empurrá-lo para trás.

Hyunjin riu, cedendo a alguns passos.

- Eu não estou brincando - falei. E por mais que fosse verdade, ainda assim soava como qualquer um dos nossos costumeiros flertes de deboche, coisa que acabou ajudando a amenizar a situação para o meu lado.

- Okay, okay - disse Hyunjin, ainda com ar de riso no rosto. - Estou indo. Boa noite!

Apenas forcei um sorriso cínico na sua direção e assisti ele entrar no próprio quarto e fechar a porta.

- Ele tinha razão, afinal. Eu preciso de uma jaula - admiti sozinho.

Não devia enxergá-lo daquela forma, eu me importava com a amizade de Hyunjin genuinamente. Claro que não era a primeira vez que isso me ocorria, pois na noite anterior já tinha sido um pouco difícil controlar os instintos do meu corpo ao estar tão próximo a ele - e nem era sobre me segurar para não agarrá-lo, porque eu tinha plena consciência de que isso não podia acontecer, o problema era me forçar a limitar o que eu sentia para que meu corpo não evidenciasse nada - uma tarefa extremamente difícil.

O que ajudava é que Hyunjin jamais levava a sério as frases de duplo sentido e nunca dava corda para qualquer tipo de paquera. Eu não queria estragar nossa amizade o deixando desconfortável com algum comentário, então ficava grato por ele sempre levar tudo na brincadeira.

Talvez fosse cansativo esse assédio de vez em quando, pois havia pelo menos três membros que geralmente tiravam ele para alvo, eu e Han estávamos inclusos nessa contagem, o terceiro era Changbin. Provavelmente esse era também o motivo pelo qual Hyunjin havia se apaixonado por Yongbok, pois ele não fazia esse tipo de piada, então ganhou seu coração na delicadeza e simpatia.

Entrei no quarto de Jisung novamente e fiquei deitado sobre a cama, ainda refletindo essas questões. Só perdi o fio do pensamento quando Han finalmente voltou do banho, usando somente um roupão.

- Nem pense que vai vestir o seu pijama agora - avisei e corri para apagar a luz.