Fanfic: Outono em Abril | Tema: Stray Kids

Hyunjin

Estava muito óbvio que eu não sabia mais lidar com a sensação de ter um crush novo em alguém, porque eu nem ao menos mascarava a confusão sobre o que fazer em um momento daqueles. O engraçado é que a situação deveria ser menos constrangedora justamente porque Lee Know aparentemente sentia a mesma coisa. Logo, devíamos ter alguma espécie de conforto por aquele contexto não ser uma via de mão única, mas, ao invés de rirmos e seguirmos em frente com a vida, ignorando a tentação, acabamos parando feito duas estátuas em meio à uma indecisão cuja sentença já sabíamos que era negativa.

"E agora?", ele tinha perguntado e eu só tinha uma possível resposta para quebrar aquele clima de tensão.

- Agora devemos beber - falei e tentei sorrir para amenizar os nossos estados de ânimo.

Lee Know soltou uma risada baixa, que soava como um alívio.

- Acho que é exatamente disso que eu preciso.

Entramos em uma loja de conveniência para comprar bebidas e, de bônus, conseguimos sair de lá rindo mais do que esperávamos, pois o dono do local pediu para Minho comprovar a maioridade dele e provavelmente não exigiu o mesmo de mim por conta da minha altura.

- Ser alto tem suas vantagens mesmo - comentou Lee Know, após termos sentado no meio-fio de uma rua vazia para finalmente bebermos em paz.

- Você não é baixo - observei.

- Óbvio que não sou, só tenho menos de dois metros de altura!

Revirei os olhos.

- Você sabe que foi fofo o que você fez hoje, mas foi loucura. Certo? - perguntei e, pelo jeito, peguei ele de surpresa. - Você não costuma ser tão espontâneo assim.

Minho bebeu um gole de soju antes de me responder e eu imaginei se suas orelhas estavam vermelhas por baixo dos cabelos.

- Eu fiquei muito frustrado por não termos conversado durante o ensaio - admitiu Lee Know, com a expressão séria e o maxilar quase travado, como quando ele comentava algo fora da sua zona de conforto.

- Pelo menos nós temos todo tempo do mundo agora - falei.

- Temos até às oito horas da manhã, de acordo com a minha agenda.

- Pelo menos "eu" tenho todo o tempo do mundo agora - repeti a frase, corrigindo o sujeito dela e estampando um sorriso consternado nos meus lábios.

- Sinceramente, Hyunjin, eu espero que isso acabe logo. É realmente muito estranho não ter você nos sets.

- Nem me fale... eu não aguento mais! - exclamei. - O meu contrato ainda está em vigor durante esse afastamento e é por isso que eu ainda sou bem-vindo na empresa, mas tudo isso parece estar se prolongando tanto, que já não sei qual vai ser a resolução final.

- Nada de notícias novas?

- Nadinha.

Eu estava muito aliviado que havíamos conseguido transitar do status anterior para uma conversa totalmente amigável e sem receios. Lee Know sempre me provocara na brincadeira, mas eu nunca olhara para ele com outros olhos, até mais recentemente, e eu atribuía essa novidade à carência e tristeza que se estenderam ao meu redor desde o meu afastamento do Stray Kids.

- Sabe o que eu mais sinto falta? - questionou Minho.

- Da minha participação nas danças?

- Isso também, coordenar sete pessoas tem sido confuso, uma vez que já estávamos acostumados com a dinâmica de oito. Mas, na verdade, eu estava falando sobre a sua voz. Desde que tudo mudou, eu nunca mais te ouvi cantar.

- Eu realmente nunca mais cantei - admiti e senti meu lábio inferior tremer.

- Ah, não... - o rosto de Lee Know se transformou quase em uma careta desconfortável.

- O que foi?

- Você está fazendo aquela carinha engraçada... 

Eu não tinha parado para pensar naquilo que ele dissera antes, mas Minho tinha razão, cantar era o que eu mais amava fazer na vida, além de dançar, e eu nunca mais tinha conseguido nem ao menos cantarolar sozinho, qualquer música que fosse. 

Finalmente entendi que a expressão que eu fazia que o afligia, era a minha cara pré-choro, pois senti meus olhos encherem de lágrimas na sequência.

Assim que eu levei minhas mãos ao rosto para desatar em prantos, Lee Know me envolveu em seus braços com muita agilidade, conduzindo minha cabeça até o seu peito e passando a mãos sobre o meu cabelo.

- Foi mal, Hyunjinnie, eu não devia ter tocado nesse assunto.

Continuei chorando alto, com a minha cabeça descansando confortavelmente no seu casaco almofadado, enquanto seus braços continuavam me abraçando de forma protetora.

- Sabe - falei e depois comecei a rir aleatoriamente. - Desculpa, a minha voz está soando ridícula agora...

Lee Know riu apenas com a sua respiração.

- O que eu ia dizer - voltei a falar e me desfiz calmamente do abraço dele para poder olhar em seus olhos - é que para mim é até mesmo difícil escutar Stray Kids agora - limpei as lágrimas, esfregando meu rosto com as mãos. - Eu utilizo as nossas músicas nas minhas práticas de dança quando estou sozinho, mas me dói ouvi-las porque me faz temer a possibilidade de que eu não possa mais voltar.

Um sorriso leve apareceu nos lábios de Minho e ele afastou parte da minha franja que estava caindo sobre meu rosto úmido, colocando para trás da minha orelha.

- Não existe essa possibilidade - afirmou e baixou a mão que ajeitara meu cabelo.

- Você não tem como ter certeza.

- Tenho sim - declarou com convicção. - Você quer ouvir meus argumentos?

Balancei a cabeça positivamente.

- Okay, primeiro, já comprovei que você não é capaz de fazer bullying, inúmeras vezes inclusive. Não tem pessoa que fuja mais de mim do que você.

- Aff - bufei e cedi um sorriso cínico ao mesmo tempo.

- Segundo, você acha que não brigaríamos por você? Nós temos várias armas guardadas dos MVs passados, invadiremos a JYPE se alguém bancar o engraçadinho e quiser te tirar de nós.

- As armas eram falsas - contestei.

- Psiiiit - Lee Know fez sinal de silêncio, encostando o indicador sobre os meus lábios -, se as armas te ouvirem, elas vão ficar tristes!

Soltei uma risada alta.

- Você já quebrou meu terceiro argumento, então vou parar por aqui - informou ele.

- O que era o terceiro?

- Eu ia dizer que você consegue ser o Visual do grupo até mesmo com a cara amassada por chorar, seu rosto é o nosso ganha-pão. Mas você não está mais chorando agora né.

- Você preferia que eu estivesse?

Minho moveu a cabeça negativamente e parecia satisfeito consigo mesmo por ter conseguido me fazer rir.

- Acho que devemos voltar ou vai ficar muito tarde para mim - disse ele, levantando do chão e me oferecendo a mão para fazer o mesmo, como já havia virado uma espécie de hábito.

- Posso dormir na sua casa? - perguntei.

Lee Know parecia surpreso mais uma vez, era fácil de identificar porque seus olhos aumentavam de tamanho toda vez que ele ouvia algo inesperado. No entanto, não demorou nem dois segundos para me dar uma resposta.

- É claro, sem problemas.

Pedimos um carro e voltamos juntos para o seu apartamento e dos garotos.

Quando chegamos, a casa toda já estava com as luzes apagadas e não havia nenhum outro membro nos cômodos comuns. Acompanhei Lee Know até o quarto dele e pedi uma toalha emprestada, pois precisava mesmo tomar um banho depois daquele rolê. Ele me entregou a toalha junto com uma calça de moletom e uma camiseta emprestadas do seu armário, ambas na cor preta.

Me fechei no banheiro e deixei a água escorrer, sentindo alívio por vários motivos, mas os principais eram certamente por ter tido a liberdade de desabafar coisas que eu guardava há muito tempo e também por não precisar voltar para casa sozinho. Meu quarto já havia virado sinônimo de solidão.

Não sei quanto tempo permaneci embaixo do chuveiro, mas depois de me vestir, descobri que provavelmente foi um pouco mais do que o normal, pois voltei ao quarto de Minho para perguntar como seria a dinâmica de dormir lá e ele me arrastou para o corredor, falando rápido.

- Eu imaginei que você não ia querer dormir no meu quarto e eu não sei mais em que pé anda sua relação com o Yongbok, então supus que também não ia pedir para dormir lá. Aí eu fiz isso aqui.

Entramos na sala de estar, que ainda estava com as luzes apagadas, mas não estava totalmente escura, porque bem no meio dela, na distância entre o sofá e a televisão, se encontrava uma barraca de camping cor de areia, cujo interior brilhava com as luzes em formato de estrelas que Lee Know havia removido do seu quarto e pendurado no teto de lona.

- Quanto tempo eu levei no banho? - perguntei abismado.

- Essa aí não é difícil de montar, na verdade ela quase se monta sozinha, difícil é guardar de volta na bolsa de carregá-la. Eu tenho duas, mas a outra era muito grande e mais complexa, então essa vai ter que servir.

- Você até já colocou saco de dormir dentro - exclamei em um tom baixo para não acordar o resto da casa, correndo para me apoderar do espaço e entrando dentro da barraca.

Lee Know riu, pois provavelmente eu parecia uma criança.

- Boa noite, Hyunjin - disse ele.

- Não, não. Eu não vim dormir aqui para ficar sozinho - protestei.

- Você não está sozinho, Kim Seungmin vai dormir aí com você.

Com medo do que ele queria dizer com aquilo, olhei de um lado a outro da barraca e encontrei o Skzoo do PuppyM perto do saco de dormir azul marinho.

- Muito engraçado! - falei com sarcasmo. - Por um momento achei que fosse uma ameaça real...

Lee Know sorriu de forma convencida.

- Boa noite - repetiu ele.

- Ei! - protestei outra vez. - Eu estava falando sério.

- Eu não acho que seja uma boa ideia - ao falar, Lee Know tinha um sorriso no rosto, que eu não conseguia traduzir se era incômodo ou não.

- Só me faça companhia até eu pegar no sono.

- Tudo bem - cedeu ele, apesar do seu ar não ser nem um pouco amável.

- Yay! - vibrei com a voz mais fina e me movi para o lado para dar espaço a ele.

- Sem aegyo - exigiu.

Fechei a cara, fazendo beicinho para reivindicar meu direito de fazer aegyo apenas com a intenção de irritá-lo.

Lee Know riu e movimentou a cabeça de um lado para o outro como se me censurasse.

Ele se sentou dentro da barraca, quase na beirada do saco de dormir, bem próximo à lona de tecido que servia como parede. Me estendi ao seu lado, deitando a cabeça sobre o seu colo.

- Sobre o que você quer conversar? - perguntou ele, passando os dedos pelos meus cabelos molhados.

- Qualquer coisa.

- Então porque não me conta sobre como andam as coisas com o Yongbok?

- Ah, nós somos muito amigos, então nos falamos com bastante frequência.

- É só isso?

Virei meu rosto para cima para poder fitar o dele.

- É o que tem por enquanto.

- Mas se ele te tentasse de novo, você iria?

Apertei meus lábios um contra o outro, pensando.

- Não precisa responder - adicionou Lee Know, e eu sabia que isso significava que ele achava que só o fato de eu ter parado para pensar, já indicava que a resposta era sim. - O que eu vou fazer com você, Hyunjinnie? - falou em um tom levemente debochado. - Você não aprende...

Apenas dei um sorriso frustrado.

- Agora levanta um pouco - pediu ele e eu obedeci, retirando minha cabeça do seu colo e voltando a me sentar ao seu lado. - Nossa, que alívio!

- Minha cabeça não é tão pesada assim!

Lee Know deu risada com a minha indignação.

- Eu malhei perna hoje cedo, então estou sensível aí.

- É melhor você deitar e esticar elas então.

- Eu montei esse espaço para uma pessoa só.

- Deita logo! 

Minho se ajeitou, finalmente cumprindo uma ordem que partia de mim.

- Mas e voc... - ele ia perguntar e desistiu na metade do caminho, quando percebeu que eu já estava me deitando.

Para me ceder um pouco de espaço sobre o saco de dormir, ele virou com o corpo de lado, ficando com seu rosto na minha direção e eu fiz o mesmo, acabando cara a cara com ele e observando seus olhos bem de perto.

- Isso é estranho? - perguntei, achando graça da situação.

A boca de Lee Know parecia presa em uma expressão de quem segurava o riso e tentava manter a compostura.

- É estranho sim - disse ele com um sorriso involuntário.

Estávamos tão próximos, que eu conseguia sentir a sua respiração.

- Melhor mudar então - falei e não esperei sua reação, apenas me virei de costas para que nossos rostos não precisassem mais ficar se encarando timidamente.