Fanfics Brasil - Prólogo / Cap. 1 - O Portal de Águas Turvas Nárnia - O Rei Feiticeiro [+16]

Fanfic: Nárnia - O Rei Feiticeiro [+16] | Tema: Nárnia


Capítulo: Prólogo / Cap. 1 - O Portal de Águas Turvas

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NÁRNIA – Prólogo


 


Regresso


Quando as crianças, que já há muito haviam se tornado adultos, regressaram para Finchlay, Inglaterra, a Sra. Pevensie os recebeu de braços saudosos e sorriso choroso, mas radiante. Ela beijou a todos e, com euforia quase infantil, levou-os para casa querendo ouvir todas as aventuras que tiveram na propriedade do Prof. Kirke. Contudo, para seu espanto, e talvez desalento, as crianças estavam contemplativas, com as mentes e palavras fugidias, e certa sobriedade nos olhos, característica dos adultos e precoces. Ela imaginou que, - afinal era uma guerra - mesmo em uma região erma e pacata como aquela, os ecos de dor e sofrimento haviam soprado seu hálito nos corações de seus filhos e nublado a miragem brilhante do lugar.


Lúcia ainda sorria gentilmente, enroscada nos braços da mãe, apesar de um incerto incômodo não permitir se ajustar tão bem ali quanto antes. Susana parecia uma dama, altiva e de semblante sério, nada lembrando a timidez doce que outrora escudara seus gestos. Pedro parecia o mesmo; sempre fora mais maduro e responsável, contudo, havia algo de mais distinto em seu olhar e uma confiança inata em suas maneiras. Mas quem mais lhe parecia diferente era Edmundo. Recebera o beijo e abraço da mãe sem se acabrunhar, e ainda sorria para ela. Teve a impressão de lhe terem entregado a criança errada, pois por mais que desejasse aquela reação, sabia que aquilo não era do feitio dele. Ela, entretanto, nada demonstrou e apenas lhe devolveu o sorriso morno.


Entraram na velha casa de infância, ainda de pé, a despeito dos bombardeiros. As janelas haviam sido trocadas, bem como alguns carpetes, móveis e as cortinas. O cheiro de um pouco de mofo misturado com o de couro envelhecido dizia que a casa ficara fechada a maior parte do tempo. Carecia de reformas, mas tudo aconteceria aos poucos. A mãe devia ter se ocupado bastante para fugir da solidão, passando muito do seu tempo livre com as amigas que a mantinham entretida, afastando assim as lembranças, suportando a ausência dos filhos.


Cortinas afastadas, janelas abertas, e a luz e o ar da primavera puderam arejar o recinto e trazer nova promessa de esperança aos seus moradores. Promessas de um futuro melhor.


— A casa ainda vive, e nós com ela! — sorriu a mulher às crianças. — Deixem as malas no quarto, lá em cima. Vou preparar uns sanduíches bem gostosos.  — E saiu à cozinha.


Pedro e Edmundo entraram no quarto que pertencia a eles. Enquanto o mais velho desfazia a mala, o mais novo permaneceu sentado em sua velha cama a mirar o vazio ainda entorpecido pela troca de ambiente. O cheiro aromático do chá sendo misturado lá embaixo fez abrir um tímido sorriso no rosto de Pedro.


— Pensei que nunca mais sentiria esse cheiro.


— É — respondeu Edmundo com a voz lânguida. — Da próxima vez a gente leva uns pacotes de chá.


Pedro riu.


— Ah, claro! Até lá, podemos andar sempre com um saquinho de especiarias no bolso — disse zombeteiro.


— É, pode ser — respondeu sem prestar atenção.


— Ed — chamou conciso, e só continuou depois que o irmão ergueu os olhos. — Nós estamos aqui, agora. Não podemos ficar sonhando com o dia em que voltaremos pra Nárnia, se é que voltaremos...


— É claro que voltaremos! Bem... algum dia, eu acho...


— Tá bem, tá bem! Eu só...


Edmundo se levantou e desceu as escadas a passos pesados. Susana entrou seguida pela irmã.


— O que deu nele?


— Parece que ele ainda não se conformou. Ainda está triste por ter voltado.


— Todos estamos, mas isso não é motivo pra ele voltar a se comportar como criança.


— Eu entendo ele... — falou Lúcia. — Eu também achei que ainda poderíamos voltar enquanto estávamos na mansão do professor, mas não voltamos.


— É, eu sei — Pedro largou a mala por desfazer e desceram todos.


Juntos, reunidos à mesa de jantar, saborearam pães, queijos e bolo. Também havia chá e leite, geleia e biscoitos; um verdadeiro banquete de reis e rainhas. Comeram com gosto e a refeição os animou a contar algumas histórias sobre a mansão, o professor Kirke e a histérica Dona Marta, mas nada sobre Nárnia.


Era estranho, pois apesar de ter se passado décadas, lembravam como se fosse ontem a vidraça quebrada por Edmundo, as brincadeiras de esconder e a perseguição da governanta. Risadas encheram a cozinha de alegria, e mesmo o irmão caçula, meio rabugento ao lado, pôde relaxar e rir um pouco com sua velha família, para o deleite da senhora sua mãe.


Pesadelos


Edmundo apareceu e a segurou, puxando-a para baixo, amarrandomoscas, mas elas sempre fugiam levando alguma coisa nos bolsos rasg


Edmundo estava de volta à Nárnia. Sentado em seu trono de mármore branco, onde se via esculpidos em baixo relevo o rosto do leão e o símbolo da balança na cabeceira de pedra, ele aguardava um dos inúmeros súditos parados no amplo salão de colunas.


— E para a próxima audiência com o estimado Rei — bradou o fauno da Guarda bem ao lado dele —, se apresenta a famigerada Rainha da Neve, Jadis, também conhecida como a Feiticeira Branca.


O sorriso do jovem rei esmoreceu quando viu diante de si, trajando um longo vestido branco, a figura pálida de uma bela mulher de olhar frio e expressão austera. Ela segurava um cajado pontudo de gelo na mão.


— Você? — gaguejou Edmundo olhando para os lados, para seus irmãos que apenas sorriam e acenavam a todos, indiferentes daquela presença maligna. — O que está fazendo aqui? Você morreu! Guardas! — Mas eles apenas sorriam e ignoravam sua aflição. Vestido com roupas de seda e linho, não tinha à mão nenhuma arma ou espada. Nenhum deles tinha.


— Você me deve algo, Rei Edmundo — falou ela em seu tom mordaz. — E agora vim tomar o que é meu por direito.


— Não tenho nada pra lhe dar. Saia daqui agora! É uma ordem!


Jadis se lançou para a frente em um salto de raposa, e antes que Edmundo tivesse qualquer reação, ela estava sobre ele, uma sombra pálida, e o bastão atravessado em seu abdômen. Ele estava aterrorizado demais para gritar, e apenas olhava para suas mãos manchadas de sangue. Mirou a face dela quase encostando na sua.


— Agora estamos quites, meu doce rei.



Ele cuspiu um pouco de sangue e assim que ela arrancou o bastão de seu corpo, Edmundo acordou num solavanco. Gritou tão alto que Pedro literalmente deu um pulo da cama, pondo-se de pé em uma postura de luta.


— O que foi? — bradou ele, ofegante, acendendo a luz do quarto. — Edmundo? — O garoto estava sentado na cama, tremendo dos pés à cabeça, mirando o nada com os olhos arregalados, agarrado às cobertas. — Ed?


Nesse momento, Helena e as filhas entraram para o quarto.


— O que houve? — Helena quis saber, aflita pelo susto do grito.


— Calma, mamãe — Pedro se sentou ao lado do irmão —, foi só um pesadelo. Eu quase caí da cama de susto. — E se forçou a rir da situação.


— Está tudo bem, Edmundo? — Sua mãe passou a mão no rosto dele e ele assentiu com a cabeça. — Tudo bem, foi só um sonho, já acabou. Voltem pra cama, todos vocês. Amanhã tenho que acordar cedo para a entrevista de emprego. — E beijou o filho mais novo. — Tente dormir, meu querido.


Ela saiu, assim como Susana e Lúcia, que trocaram olhares cúmplices com Pedro. Assim que fecharam a porta, o irmão mais velho parou de simular um semblante amistoso e encarou o irmão, preocupado.


— Ed, sonhou com a bruxa de novo? — Edmundo apenas cobriu o rosto com a mão e soluçou, tentando em vão não chorar na frente do irmão. — Ela está morta, Ed, não pode te machucar mais.


— Ela não tá morta... — disse por fim. — Só não está aqui.


Pedro suspirou.


— Ed, achei que já tivesse superado isso...


— Sei que não acredita em mim, mas eu sei, eu sinto!


— Não é que eu não acredite, mas de qualquer jeito ela não pode fazer nada contra você se não permitir. Está tudo na sua cabeça. Além do mais, estou aqui pra te proteger, por isso pare de se preocupar e volte a dormir, está bem? — Edmundo limpou o rosto e concordou com o irmão. Deitou-se e se cobriu enquanto ele apagava a luz e se deitava também. — Boa noite, Ed.


— Boa noite.


 Porém, Edmundo não conseguiu dormir naquela noite... e nem em muitas outras.


 


FIM DO PRÓLOGO


 


 Capítulo 1 - O Portal de Águas Turvas


 Alguns anos depois...


Quando Edmundo chegou em casa, se deparou com uma amistosa algaravia. Lúcia e Susana festejavam com risos e abraços a volta de Pedro do serviço militar. Lúcia abriu um largo sorriso.


— Olha quem voltou, Edmundo!


Pedro andou até o garoto cuja expressão era um misto de alegria e frustração.



— Não vai dar um abraço no seu irmão?


— Claro... — E o abraçou com força. — Eu só não esperava que já estaria de volta. A guerra já acabou?


— Quase, mas fui dispensado mais cedo já que fraturei o ombro. — Foi aí que Edmundo percebeu o braço inclinado sobre a tipoia por debaixo do casaco. — Já estou melhor, nem precisava da tipoia.


— Que bom! Fico feliz que está bem — comentou sem muito ânimo, e antes que alguém notasse sua indisposição, falou esquivamente rápido. — Vou até a padaria comprar alguma coisa, afinal deve estar com fome!


— Estou mesmo. — E lhe sorriu arrastado pelas irmãs que queriam saber sobre suas aventuras.


Edmundo se virou e correu pelas ruas recobertas de neve. Comprou algumas coisas e já voltava com o embrulho de papel em mãos, entretido com seus pensamentos, quando já dentro do jardim de sua casa, meteu os pés em uma grande poça d’água.


— Ah, droga! — Afundou até os joelhos e colocou o embrulho ao lado para se apoiar e sair. — Mas que buraco é esse? Ai, um rato me mordeu! — Ao tentar sair, porém, afundou ainda mais, até o peito. — O que é isso? Esse buraco não pode ser tão fundo!


Tentou sair, mas no momento em que tomou impulso, algo o puxou de volta. Viu, atônito, uma mão escura e cadavérica agarrar seu braço; e mais outras puxando seu casaco. Nessa hora, o pânico tomou conta dele, pois aquilo, bem o sabia, era magia sombria.


— Pedro! — gritou à toda. — Pedro, socorro! Susana! Lúcia! Alguém me ajuda! — Quanto mais se debatia, mais era puxado para baixo. Viu Pedro sair assustado pela porta de entrada e seus olhares se cruzaram com temor. — Pedro, me ajuda!



Subitamente, uma mão agarrou seu cabelo e o puxou para trás. Pedro correu e se jogou na neve, esticando a mão para pegar a de Edmundo. Contudo, assim que Edmundo mergulhou na poça, e Pedro tocou nos dedos dele, a mão de seu irmão desapareceu na água. Lúcia e Susana haviam corrido até eles, e viram, pálidas, Pedro cavando a neve do jardim.


— O Edmundo... me ajudem a cavar! Ele afundou nessa poça, deve ter um buraco...


Mas por mais que cavassem, só encontravam terra e lama.


— Pra onde o Edmundo foi? — bradou Lúcia.


Pedro se virou, ofegante e pálido.


— Ele foi levado... Acho que está em Nárnia!


— Mas isso é impossível! — falou Susana. — Não deveríamos mais voltar, foi o que o Aslam disse!


— Não sei se isso foi obra do Aslam, Susana... — respondeu Pedro com um mau pressentimento.


 *****


Enquanto isso, Edmundo caía em águas escuras e profundas, perdendo sua consciência. Acordou bruscamente emergindo de uma piscina rasa, atordoado e alarmado. Sentiu mãos fortes o arrastarem até uma chapa de madeira, onde foi agrilhoado nos pulsos e tornozelos.


— Quem são vocês? O que estão fazendo? Por que estão me aprisionando?


Viu então que eram criaturas narnianas, porém de aparência grotesca e maligna. Havia um Minotauro usando um tapa-olhos, uma criatura parte abutre, parte humana, e uma mulher de armadura, com a pele escamosa e olhar dourado; da cintura para baixo tinha uma grande cauda de serpente. Ela parecia estar no comando, e lhe falou com a voz sibilante.


— Bem-vindo, Sua Majestade, Rei Edmundo! Finalmente nos conhecemos. Eu sou Styr, líder dos Narnianos da Floresta Escura, e você é meu convidado de honra.


— Convidado pra quê?


— Para o ritual de nossa rainha, a Feiticeira Branca! O seu sangue a trará para nós.


— Só por cima do meu cadáver! — berrou Edmundo tentando se livrar dos grilhões, mas sem sucesso.


— Pode se debater à vontade. Ninguém sabe que está aqui, e seus irmãos não conseguirão atravessar o véu. Está sozinho, Filho de Adão! — E virou-se para os outros. — Vamos, temos que preparar o Salão da Serpente, sem demora.


— Não! Não podem fazer isso!


Todos deixaram o aposento, e Styr se virou para uma última olhadela.


— Esta noite a sua utilidade terminará, bem como a sua vida. — Fechou a pesada porta de madeira atrás de si com um mórbido riso.


Edmundo tentou de todas as maneiras escorregar suas mãos e pés das algemas, mas estavam por demais tensionadas, e percebeu ser impossível escapar.


— Aslam, por favor, me ajuda! Não consigo sozinho... — Assim que sua respiração se acalmou um pouco, percebeu um ruído vindo dos caibros de madeira acima dele. Era um rato, tão grande quanto Ripchip, ainda que não trajasse nenhuma vestimenta ou arma; a criaturinha tão pouco parecia falar. — Você me entende? Pode me ajudar, por favor?


O rato desceu, timidamente, com o focinho inquieto a balançar seus bigodes. Ele saltou até a prancha de madeira e, com as patinhas, removeu o ferrolho que prendia o grilhão da mão direita. Rapidamente, Edmundo se libertou das outras algemas e agradeceu ao pequeno rato, que apenas fugiu de volta para sua toca.


— Obrigado, senhor roedor!


Andou até a porta e parou para ouvir. Vozes torpes vinham do corredor; dois brutamontes se aproximavam para entrar no estreito porão. Assim que a abriram, pararam surpresos ao ver o cômodo vazio.


— Para onde o menino foi, diabos?


— Estou aqui! — Edmundo havia subido até os caibros e saltou, derrubando-os de cara no chão. Pegou a espada de um deles, uma longa cimitarra, e saiu correndo, depois de trancar a porta por fora.


Seguiu o corredor e subiu furtivamente pela estreita escadaria de pedra. O portal dava para o pátio de um castelo de pedras escurecidas pelo tempo, já em ruínas. Todavia, cavalos, carroças e cavaletes de armas estavam espalhados junto a uma pequena tropa de criaturas vorazes. Lutar com todos estava fora de questão, por isso, Edmundo se esgueirou pelas caixas e barris até chegar próximo ao cocho dos cavalos.



Nesse momento, os brutamontes que havia derrubado irromperam para o pátio aos berros.


— O menino escapou! Fechem os portões, ele não pode sair do castelo!


Sem pensar duas vezes, Edmundo saltou para uma carroça e pulou na sela de um grande cavalo negro.


— Ali está ele! — gritaram. — Peguem-no! Não o deixem fugir, mas não o matem! Precisamos dele vivo!


Com um brado, o rapaz forçou a montaria a atravessar pelos guardas à galope, atropelando alguns pelo caminho e golpeando outros com a espada. As grades estavam sendo abaixadas, mas o cavalo era veloz e eles conseguiram cruzar o portão com a ponta da lança passando a centímetros de suas cabeças.


Depois da ponte de madeira, um homem jovem, de mãos reptilianas e manto de escamas, arremessou uma faca que atingiu em cheio as costas de Edmundo. Mesmo com a lâmina cravada, ele continuou gritando para a montaria, que desembestou pela densa e obscura floresta de pinheiros.


O de manto escamoso apenas sorriu; suas feições levemente serpentinas.


— Chamem os lobos! Hora de caçar um rei narniano.


Edmundo cavalgou por horas sem parar, à despeito da dor. Sabia que se removesse a lâmina, o sangue invadiria seu pulmão. E ao cair da noite, avistou luzes vindas de uma cidade de porte médio, murada por estacas de madeira e pedras. Guaritas indicavam que alguma Guarda fazia a proteção do lugar.


— Tenho que chegar... até a cidade... — Sua visão começou a nublar e ele ardia em febre. Pouco antes de se aproximar da guarita, seu corpo tombou gentilmente sobre o dorso do cavalo; foi perdendo os sentidos. — Alguém me ajuda... — Conseguiu balbuciar ao ouvir vozes próximas. Desmaiou logo em seguida.


 Fim do Capítulo 1


 



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Autor(a): callyzah

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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Ao abrir os olhos, Edmundo viu o interior de um chalé, feito de madeira e alvenaria. Era quente e aconchegante, ainda que um pouco pequena. Lembrava a casa do Sr. Tumnus. Tentou se levantar, mas estava fraco, e seu corpo, dolorido. Ouviu uma voz grave vinda do fundo da sala. — Não se levante! — Era uma voz severa, mas melodiosa. Ouviu batidas de ...



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