Fanfics Brasil - Cap. 10 - Queda Nárnia - O Rei Feiticeiro [+16]

Fanfic: Nárnia - O Rei Feiticeiro [+16] | Tema: Nárnia


Capítulo: Cap. 10 - Queda

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Naquela noite, Edmundo teve febre e um sono agitado, povoado de guerras e batalhas das quais não havia participado; pareciam ser memórias de uma outra pessoa. Acordou sobressaltado e ofegante, ainda que fraco demais para sair da cama. Um médico o havia examinado, mas como não havia ferimentos, lhe receitou chás medicinais para a suposta gripe.


Entretanto, Pedro sabia que aquilo não era uma gripe, nem nenhuma dor de barriga.


— Feitiço. Só pode ser — falou para Cáspian num sussurro. — Vou até o Castelo de Gelo, fique atento.


— Tem certeza de que é uma boa ideia? Ir até lá sozinho?


— Não se preocupe, sei o que estou fazendo.


Assim, o Grande Rei cavalgou até o Castelo, exigindo ser recebido sem demora pela Feiticeira Branca. Apesar dos protestos dos vigias dos portões, Jadis apareceu na entrada do saguão, com uma expressão indecifrável.


— Deixem-no entrar. — Ela levou o rapaz até uma antecâmara reservada com duas poltronas, mas ele não quis se sentar.



— Não vou demorar. Vim por causa do anel que deu ao meu irmão. Não sei que feitiçaria colocou nele, mas desde que eu o tirei...


— Você o tirou? — O tom dela foi um tanto cínico e zombeteiro. — Eu já deveria imaginar que vocês conseguiriam tal façanha. Era tão óbvio que segui vocês até o Castelo do Abismo. Pensei ter chegado a tempo de evitar o pior, mas parece que me enganei.


— O que era aquele “Coração da Alma”, afinal? E por que o Edmundo está doente?


— Doente não, meu querido; despertando!


— Despertando? Mas se era um feitiço de dominação...


— Um grosseiro erro de interpretação, eu diria! O Coração da Alma mantém a essência de uma pessoa salva de qualquer influência externa, inclusive de outros feitiços. É uma joia de proteção.


— E por que daria uma joia como essa ao meu irmão? Você nem se importa com ele. Tudo isso não passa de uma encenação para manipular a minha família.


— Pedro, Pedro... — O olhar dela se tornou incandescente como uma estrela fria. — O anel não o dominava, mas o protegia da influência sombria da minha magia. Afinal, quando ele me deu essa semente de vida que germina dentro de mim, eu tive que ceder a ele algo tão importante quanto. A única coisa que eu tinha para dar era o meu poder! Não uma porção qualquer, mas a essência mágica que vem da minha alma. Entretanto, nós sabemos que a minha alma não é assim tão... pura!


— O que está dizendo?


— Aslam deu a vocês um poder que pode ser doado livremente através de suas ações, já o meu poder é inerente à minha personalidade. Quando transferi minha magia ao seu irmão, as minhas ambições, sentimentos, e até minha crueldade, tudo isso também foi transferido para ele. Como eu não intentava ter um oponente à minha altura, dei-lhe o anel, para que conservasse sua essência digna e benevolente. Bem, isso até que você, Pedro, destruísse o anel, pois essa era a única forma de removê-lo. E agora, o que acontecerá quando o meu ódio e rancor corromper o nobre coração do Rei de Nárnia?


— Não! Isso é... Isso é um estratagema pra nos jogar um contra o outro novamente.


— Pare de se enganar. Você sabe que o que digo é verdade.


— Desfaça! — Ele sacou a espada. — Desfaça a magia agora mesmo!


— Ora, é muito simples! Atravesse a lâmina bem aqui, onde a semente está, e tudo irá voltar ao normal. — Pedro baixou a espada sabendo que não poderia fazer aquilo. Guardou sua lâmina pensando em algum outro jeito.


— Isso é impossível... Não posso matar um inocente, nem mesmo pelo Edmundo. Como o enfeitiçou dessa maneira? Acha que irá corromper a magia de Aslam com esse ardil? Quem está se enganando aqui é você!


— Tem razão! Pode ser que o Edmundo consiga subjugar a sombra que está dentro dele. Contudo, como isso nunca foi feito antes, não posso ter certeza do resultado até que se revele. Eu o induzi a um pacto de sangue. Provei do sangue dele quando voltei a este mundo, e lhe ofereci uma taça de licor com algumas gotas do meu enquanto estava cativo e indefeso.


— Então ele nem sabia o que estava acontecendo...


— Claro que não! Seu irmão é um tolo ingênuo e se deixou ser levado pelo poder que o envolveu intensamente. Mas entenda que no fundo, isso foi o que ele sempre desejou, ainda que tivesse medo; e essa foi a rachadura por onde o meu feitiço conseguiu penetrar.


— O Edmundo mudou! Ele não é mais uma criança assustada, é o Rei de Nárnia!


— Ah, por favor, pare com essa fábula; como se isso fosse justificar as ações dele. E não justifica nem as suas!


— Do que está falando?


— Podemos ser sinceros um com o outro, Rei Pedro? — Sempre que Jadis pronunciava seu título, Pedro podia sentir o desdém na voz dela. — Você estava sempre tão ocupado com o reino que não prestou muita atenção nos sinais.


— Sinais? Que sinais?


— Eu observei silenciosamente enquanto Edmundo seguia as suas ordens e desejos, tentando se redimir da culpa de ter feito Aslam sofrer pelas minhas mãos. Ele tentou subjugar todas as limitações que pensava impedi-lo de ser tão grande quanto você. Então um a um, ele venceu seus medos. Aprendeu o meu estilo de luta, com espadas gêmeas, porque eu o derrotei no campo de batalha. Deixou a mente atenta e o espírito alerta para nunca mais cair em armadilhas como a que você quase sucumbiu na batalha de Telmar. Manteve-se humilde e leal, mesmo quando foi tentado pelo mal no Peregrino da Alvorada, e por fim, decidiu que dar a própria vida seria um sacrifício válido, já que sabia que nunca teria o que secretamente almejava. Reinar sozinho, provar seu próprio valor, ser melhor que você e todos os outros.


Pedro recapitulava tudo o que se lembrava, e tudo o que havia escutado das irmãs e do primo.


— Sei que Edmundo permaneceu incólume ao mal que tentou dissuadi-lo de sua nobreza. Ele não queria se sacrificar, ele tinha a convicção de que derrotaria a serpente marinha e salvaria a todos.


— Ou, ele apenas não queria mais viver na sombra de Cáspian, assim como vivera na sua. Edmundo é Rei de coisa alguma. Nunca reconhecido para governar por si só, e tão moralmente enjaulado que deveria se diminuir ante qualquer um, mesmo que mais inferior...


— Isso é mentira!


— E por isso, ainda duvida que ele aceitou de mim o que lhe foi negado por todos vocês? Veja esse castelo! Era apenas um bloco de gelo, mas agora, cada peça de tapeçaria, cada mobília, foi colocada aqui por ele. As regras foram refeitas de acordo com a vontade dele. Você não viu ou não quis perceber quando o Senhor das Feras atravessou a cidade, montado no terrível Lobo Branco, Mestre do Povo Sombrio que o obedece, e da Bruxa que se submete aos desejos dele? O Rei Feiticeiro, poderoso em sua glória, terrível em sua ira!


— Já chega! Não vou deixar isso acontecer...


— Pobre Pedro, tão ofuscado por si mesmo que nem percebeu a sombra que se esgueirou sobre o coração do próprio irmão.


— Tem que haver outro jeito! Aslam saberá o que fazer.


— Boa sorte com isso. Agora se me dá licença, preciso repousar. — E ela deixou o aposento sem nenhuma cerimônia. — Sabe onde fica a saída.


Perturbado, Pedro saiu do castelo e se dirigiu de volta ao Forte. Porém, no meio da floresta, parou a montaria e desmontou. Chamou pelo Grande Leão várias vezes, porém não houve resposta. Voltou para a cidadela com o semblante visivelmente abatido. Não teve coragem de entrar no quarto e encarar seu irmão caçula, por isso se sentou à mesa da sala de reuniões, perdido em seus pensamentos.



“Eu nunca o tratei como igual? Mas ele é meu irmão caçula e me preocupo com ele. Ou apenas nunca acreditei que ele era realmente capaz?”


Memórias atropelaram sua percepção e o encontro no lago veio à tona.


“...como assumiu quando traiu sua família e obrigou Aslam a se sacrificar por você?


— Como ousa me tratar como criança?


— Você me deve satisfação porque sou seu irmão mais velho, e o Grande Rei!”


— Aslam, o que eu faço? — Adormeceu sobre a mesa circular.


 **********


Na manhã seguinte, foi acordado por Cáspian.


— Pedro? Passou a noite toda aí na mesa?


Pedro coçou os olhos inchados e pesados. Suspirou, se recostando na poltrona.


— Cáspian, é pior do que eu imaginava. Eles fizeram um pacto de sangue, mas o Ed não sabe. — O rapaz contou sobre a magia de Jadis e seu elaborado plano. — Queria que a Susana estivesse aqui. Ela poderia me ajudar a enxergar alguma saída porque já não estou vendo mais nenhuma.


— Eu ainda tenho a Trompa, só pra constar.


— É que... A Susana está um pouco mudada. Não sei se ela iria querer vir para Nárnia.


— E por que ela não viria? É o irmão dela!


— É complicado. Teremos que resolver essa situação nós mesmos.


— Bem, o pacto é uma troca, certo? E se o Edmundo abrisse mão desse poder?


— E se isso prejudicasse o bebê?


— A Feiticeira enlouqueceria de raiva.


— E começaria uma guerra.


— E te mataria com certeza!


— Com certeza.


— Bom dia! — Lúcia se juntou a eles.


— O Ed ainda está dormindo? — perguntou Pedro.


— Está. Sobre o que conversavam?


Cáspian acenou a cabeça para Pedro, que compartilhou as informações com a irmã caçula. Lúcia parecia aflita.


— Um pacto? Mas e agora? Como se quebra isso? E também, nós temos que contar pro Edmundo!


— Concordo — declarou Cáspian. — Acho que devemos contar pro Edmundo.


— Contar o que? — O próprio acabava de entrar na sala com a aparência de uma noite mal dormida. Sentou-se sonolento. — E o café da manhã?


Lúcia percebeu os olhares aflitos deles e tomou a iniciativa.


— Eu estava pensando em irmos para o seu castelo, Ed.


— É claro, sem problema. Quando quiserem. — E sorriu.


Cáspian e Pedro cruzaram olhares, mas concordaram com a decisão de Lúcia. Após o dejejum, partiram para o Castelo de Gelo.


 


Fim do Capítulo 10



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Autor(a): callyzah

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

Prévia do próximo capítulo

O céu estava nublado e começava a nevar novamente. Pedro queria fazer compras no mercado de rua da cidade, afinal ficariam por tempo indeterminado. — A Lúcia precisa de outra muda de roupas e fitas para o cabelo, não é? A garota meneou a cabeça e sorriu. Edmundo terminava de abotoar a vestimenta de peles. — Tudo bem, v ...


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